COLUNA DO TIMM

 


 

Editorial Cultural FM Torres RS – 19.03. 24

Diminuiu número de pessoas com fome ano passado 

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13 milhões de brasileiros deixaram de passar fome em 2023 ... YouTube · Rádio BandNews FM- https://www.youtube.com/watch?v=jU3bDo6VHIw  

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Brasil, uma economia forte desde tempos coloniais, uma sociedade injusta mas que resiste, uma democracia difícil e fugidia. Não obstante, cresceu e se multiplicou. Comparado ao México, por ocasião do “Descobrimento”, que já detinha uma civilização com cerca de 20 milhões de habitantes originários, o Brasil, extrapolou o que poderiam ser previsões daquela época: Hoje somos 213 milhões de habitantes falando uma língua comum, sob um Estado unificado com instituições que começam a dar sinal de resiliência aos golpes tutelares, uma das dez maiores economias do mundo, na qual se destaca a potência do agro, a suficiência energética, e uma indústria capaz de produzir e exportar aviões, produto de excelência no mercado mundial. De certa maneira, pois, demos certo mas como aquele homem ilustrado que não frequentou a escola: tropeça na bagunça do método e nas lacunas de formação. O Brasil 

O Fome Zero é um programa do Governo Federal, que visa o direito de alimentação da população brasileira. É uma maneira de garantir cidadania às populações vulneráveis à fome. No Brasil, existem mais de 10 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, o que significa que nem o acesso a alimentação é saudável.

INSTITUTO FOME ZERO

MANIFESTO DE FUNDAÇÃO DO INSTITUTO FOME ZERO

Durante todo o século passado a sociedade brasileira se acostumou a conviver com a fome como um fenômeno natural e a intervenção dos governos acontecia sempre de forma pontual ou emergencial, quando a situação chegava a níveis críticos. Iniciativas de políticas públicas foram desencadeadas sob inspiração do Dr. Josué de Castro – professor, pesquisador e ativista brasileiro contra a fome – que presidiu o Conselho Executivo da FAO de 1952 a 1956. Também devemos muito aos avanços decorrentes da mobilização das forças sociais em busca da justiça e do respeito aos direitos humanos, como nos ensinou a campanha contra a fome comandada por Herbert de Souza, o Betinho, entre outros tantos. Todavia, em um país com elevada pobreza e desigualdade social, como o Brasil, o combate à fome não pode ser episódico, deve ser permanente.

Na esfera da produção de conhecimento, as universidades, as instituições de ensino e pesquisa e capacitação profissional formaram milhões de cientistas que disseminaram tecnologias para o combate à fome e treinaram profissionais que foram a campo, identificaram carências e propuseram soluções imediatas para o flagelo da fome.

No campo das instituições, a Constituição Federal de 1988, nos deu o aparato jurídico promovendo o direito à vida. Conquistamos também a saúde universal gratuita, a seguridade social, a alimentação escolar para crianças e jovens e a aposentadoria integral para importantes categorias de trabalhadores.

Na arena internacional, a proximidade da chegada do século XXI levou os países a estabelecerem um mapa de rota para equacionar o problema da insegurança alimentar que estava afetando 1 em cada 6 habitantes do planeta. Como resultado desse esforço, os 185 países participantes da Cúpula Mundial da Alimentação assinaram a Declaração de Roma em 1996 e se comprometeram com metas de redução dos níveis de insegurança alimentar. O Brasil, que tinha um contingente de quase 16 milhões habitantes em situação de subnutrição (10% da população brasileira) representando a quantidade mais expressiva entre todos os países da América Latina (FAO – SOFI, 2000), foi participante ativo dessa reunião.

No entanto, diante do imobilismo do governo federal em atacar de frente o problema da fome, o Instituto Cidadania reuniu um grupo de quase 100 pesquisadores e estudiosos do tema da alimentação para uma avaliação e elaboração de propostas no ano 2000. Resgatou-se os princípios básicos do 1º PNSA (Política Nacional de Segurança Alimentar) coordenado pelo Agrônomo José Gomes da Silva e partiu-se do diagnóstico de que o contingente de pessoas em insegurança alimentar no Brasil era muito maior do que os dados da FAO apontavam. Estimava-se, com base nos critérios de renda disponível para a alimentação, que 44 milhões de pessoas, ou 27,8% da população, estariam em situação de vulnerabilidade (a partir dos dados do Censo Demográfico IBGE 2000). O resultado foi o Projeto Fome Zero – Uma Proposta de Política de Segurança Alimentar para o Brasil – apresentado ao Congresso Nacional em outubro de 2001. O projeto colocava sobre a mesa um conjunto de mais de 30 programas, muitos deles já existentes em nível local e outros reformulados e inovadores, para erradicar a fome, muito além da proposta de reduzí-la pela metade até 2015, como era o compromisso da Declaração de Roma e dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) da ONU.

Com a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, que levou para o governo federal o conhecimento acumulado anteriormente com a elaboração técnica e com experiências locais, esses programas começaram a ser implementados e perseguiu-se incansavelmente e de forma massiva a proposta de erradicação da fome. Com isso, os resultados começaram a aparecer imediatamente e, menos de 10 anos depois o Brasil já estava fora do Mapa Mundial da Fome, segundo reconhecimento de especialistas e relatórios dos principais organismos internacionais, entre eles a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) da ONU.

O sucesso do Projeto Fome Zero ultrapassou as fronteiras nacionais e serviu de inspiração para iniciativas similares em vários outros países da África, Ásia e América Latina. Mais ainda, o Brasil mostrou ao mundo que era possível erradicar a fome no prazo de uma geração e ajudou a redefinir as metas mundiais a respeito, de modo que a meta Fome Zero passou a ser referência para o segundo dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU adotado em 2015.

Infelizmente, a situação de alívio no que diz respeito à SAN – Segurança Alimentar e Nutricional – brasileira começou a ser revertida em meados da década passada. A mudança abrupta do governo federal em 2016, a crise econômica e a volta da orientação neoliberal impactaram diretamente na gestão da Política de SAN com o desmantelamento de programas, redução de participação da sociedade civil, extinção do CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional –, corte de gastos e recursos destinados à proteção social e ao combate à fome.

Dados da aplicação da EBIA – Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – levantados juntamente com a POF – Pesquisa de Orçamentos Familiares – do IBGE 2017-18 demonstram que a Insegurança Alimentar atingia quase 85 milhões de brasileiros, cifras maiores que aquelas observadas em 2004 em termos absolutos e níveis equivalentes em termos relativos (40 % da população em 2004 contra 41% da população em 2017-18). A insegurança alimentar grave, situação equivalente à fome do ponto de vista nutricional, já em 2018 atingia mais de 10 milhões de pessoas ou quase 5% da população.

Nesse contexto de retrocesso da segurança alimentar e nutricional, o Instituto Fome Zero está sendo criado por um grupo de ativistas, estudiosos e pesquisadores que participou na elaboração do Projeto Fome Zero, há exatamente 20 anos, e acompanhou de perto a jornada que logrou erradicar a fome no Brasil.

Esse é um momento de reflexão para o qual convidamos toda a sociedade brasileira a participar. Com a marca permanente da pandemia de Covid-19, o atual quadro de esgarçamento social somente deverá se agravar e soluções paliativas não colocarão o país de volta na trajetória da segurança alimentar e nutricional. Mais além de renovar esforços e a mobilização já feita, o Brasil precisa discutir novas ideias e novas propostas para o combate à fome, bem como garantir o Direito Humano à Alimentação Adequada.

Nesse contexto, a defesa, manutenção e ampliação do Programa Bolsa Família, a retomada de programas consagrados, como o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA –, o reforço e incremento de iniciativas fundamentais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE – com compras da agricultura familiar e o reestabelecimento do mecanismo de diálogos com a sociedade civil são temas que precisam estar de volta à pauta. Políticas públicas relacionadas à contenção da obesidade, que já atinge um quinto da população brasileira, também devem ser igualmente tratadas com absoluta prioridade, com base em evidências científicas sólidas e na valorização da alimentação saudável.

Para tanto, queremos nos somar à mobilização de milhões de pessoas que continuam lutando para que os objetivos do Fome Zero e suas conquistas sejam preservadas, valorizadas e renovadas.

São Paulo, 16 de outubro de 2020, Dia Mundial da Alimentação

 


 

Editorial Cultural FM Torres RS – 18.03. 24

O paraíso gaúcho que quer deslanchar como destino turístico

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Ernani Campelo, especial para o JC*- https://www.jornaldocomercio.com/cadernos/empresas-e-negocios/2024/03/1146117-o-paraiso-gaucho-que-quer-deslanchar-como-destino-turistico.html

Em mais uma temporada de verão, os holofotes do turismo no Estado se voltaram para o Litoral Norte e as concorridas praias de Torres, Capão Canoa, Xangri-lá, Tramandaí e Cidreira. São centenas de milhares de gaúchos que dividem um lugar ao sol nestes municípios. Não muito distante dali, há um cenário de encantos e belezas, entre a lagoa dos Patos e o mar, com águas cristalinas, parque nacional, berçário de aves, faróis e muita história. Apesar dos atrativos, com uma estrutura modesta, a região engatinha como destino turístico.

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Enquanto as principais cidades praianas do Litoral Norte gaúcho superlotam no verão, perto dali há um lindo pedaço de terra, entre a lagoa dos Patos e o mar, com águas cristalinas, parque nacional, berçário de aves, faróis e muita história. É o Litoral Médio do Rio Grande do Sul, uma península que separa a lagoa dos Patos do oceano Atlântico, localizada nos municípios de Mostardas e Tavares, onde estão situados verdadeiros paraísos como as lagoas de Bacupari, com suas dunas intocadas, praias lacustres e marítimas e o incrível Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Com estradas e acessos totalmente asfaltados e fácil deslocamento, as cidades de Mostardas e Tavares ficam distantes 201 e 228 quilômetros de Porto Alegre, respectivamente.

A região compõe a Bacia Hidrográfica do Litoral Médio, localizada na Região Hidrográfica das Bacias Litorâneas, com área de 6.113 km² e população estimada de 81.986 habitantes (2020), sendo 56.850 habitantes em áreas urbanas e 25.135 habitantes em áreas rurais.

O litoral gaúcho tem 638 quilômetros de extensão e é dividido em Litoral Norte, de Torres ao balneário de Dunas Altas, com 140 quilômetros de extensão; litoral médio, até a barra de São José do Norte, com 273 quilômetros; e Litoral Sul, com 225 quilômetros, entre a praia do Cassino e Chuí. Por tanto, apenas 140 quilômetros de orla estão localizados no badalado Litoral Norte gaúcho, enquanto que o Litoral Médio é uma faixa de terra pontilhada de dunas, lagoas e charcos que dificultam o acesso de pessoas e veículos às praias, tornando a região um trecho com pontos ainda intocados.

Paraíso das aves, com cisnes, flamingos e garças, o Parque Nacional Lagoa do Peixe está localizado em uma extensa planície costeira arenosa e tem uma paisagem composta por mata de restinga, banhados, campos de dunas, lagoas de água doce e praias banhadas pelo Oceano Atlântico. Baixas temperaturas e hábitos reprodutivos empurram, todos os anos, milhares de aves em longas jornadas entre o Norte e o Sul do planeta. Nesta viagem, uma das paradas é o Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Localizado nos dois municípios, está debruçado em uma faixa com mais de cem quilômetros de areia, alagados e matas, entre o oceano Atlântico e a gigante lagoa dos Patos, sendo uma área protegida federal com 36.721 hectares e um dos melhores pontos nacionais para a observação de aves como o rosado flamingo.

O local é conhecido como o paraíso das aves migratórias e anualmente, em outubro ou novembro, recebe o Festival Brasileiro de Aves Migratórias. Com 15 edições realizadas, o evento atrai interessados no turismo ecológico e no avistamento de aves, movimentando a região em alguns dias da primavera. Na área do parque, já foram catalogadas 275 espécies de pássaros, sendo 35 migratórias.

Apesar da denominação, a Lagoa do Peixe é uma laguna, por causa da comunicação com o mar. É relativamente rasa, com 60 centímetros de profundidade em média. Possui 35 quilômetros de comprimento e dois quilômetros de largura, sendo formada por uma sucessão de pequenas lagoas interligadas, caracterizando, assim, um reservatório natural de água salobra.

A lagoa é também um berçário para o desenvolvimento de espécies marinhas, entre eles encontram-se camarão-rosa, caranguejos, tainha e linguado, além de atrair variadas espécies de aves em virtude de sua água salobra e farta em alimentação. Capivaras, lontras e jacarés também habitam a área do parque, que foi criado em 1986 e, conforme dados da administração do ICMBio no local, conta atualmente com cerca de seis mil visitantes de fora da região por ano, sendo um local para o turismo ecológico, de contemplação e para fotografar o meio ambiente e as aves.

Os atrativos naturais desse território, no entanto, não ficam restritos ao Parque Nacional da Lagoa do Peixe. O turista que busca a região saindo de Porto Alegre percorre a rodovia RS-040 até a cidade de Capivari do Sul, onde dobra a direita para seguir, no rumo Sul, pela BR-101.

Ao percorrer 40 quilômetros chega-se a Bacupari, povoado perto do mar que multiplica sua população no verão graças à beleza de suas três lagoas de águas quentes e transparentes e de suas dunas extensas e desertas, formando um cenário deslumbrante e incomum na geografia gaúcha.

Faróis históricos, praias marítimas e lacustres completam o deslumbrante rol de atrativas belezas da região. Datados de 1849 e 1861, respectivamente, os faróis Capão da Marca, em Tavares, e Cristóvão Pereira, em Mostardas, ambos às margens da exuberante Lagoa dos Patos, são os mais antigos do Estado do Rio Grande do Sul. Há ainda, à beira-mar, o icônico Farol da Solidão e o Farol Mostardas, localizado na área municipal de Tavares.

Estradas vicinais de terra, trilhas, dunas, caminhos à beira-mar ou pela areia da costa da Lagoa dos Patos fazem a alegria dos turistas aventureiras que buscam a região. Cenários com extensos e verdejantes campos completam um visual bucólico de rara beleza em que a paz não é interrompida, muitas vezes, nem pelo trilhar de smartphones, pois há extensas áreas sem sinal de internet ou telefone móvel na região. Com tantas belezas, o Litoral Médio do Rio Grande do Sul tem enorme potencial turístico a ser desenvolvido. Um manancial de possibilidades e desafios para empreendedores, profissionais do setor e gestores públicos.

Especialistas apontam caminhos para o desenvolvimento turístico da região

 

Aves migratórias vêm do Hemisfério Norte para se beneficiar da riqueza da Lagoa do Peixe, mas a maioria dos gaúchos ainda não conhece essa região

ROBERTO FUKUDA/DIVULGAÇÃO/CIDADES

As belezas, atrações e o potencial turístico da região são pontos convergentes para especialistas na área do turismo. Marcelo Fonseca, professor titular da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos e Coordenador do Instituto de Pesquisa de Mercado (IPM-Unisinos), coordenou o projeto "Posicionamento e estratégias para o turismo na Costa Doce Gaúcha", financiado pelo Sebrae-RS em 2019. Ele destaca que considera um fenômeno interessante o fato de a região não deslanchar como polo turístico. "As aves migratórias vêm do Hemisfério Norte para se beneficiar da riqueza da Lagoa do Peixe, mas a maioria dos gaúchos não conhece essa região", afirma Fonseca.

"Se o ecossistema natural é extremamente rico, o mesmo ainda não pode ser dito sobre o ecossistema turístico. Apesar de haver algumas iniciativas importantes (e ambientalmente responsáveis, o que é crucial para essa região), essas são dispersas, sem integração ou complementaridade. Uma região não desenvolve seu turismo apenas pela existência de rotas/roteiros, mas sim pela construção de um ecossistema pensado na perspectiva da experiência completa para o turista", explica Marcelo.

Jussara Argoud, gestora de projetos da agência Regional Sul do SebeW, concorda com Fonseca em relação à necessidade de um maior sincronismo nas ações turísticas da região. "O turismo é desenvolvido pela inciativa privada e o poder público deve apoiar e orientar nas políticas públicas para um crescimento coordenado do turismo na região. Acredito que em Tavares precisa haver uma maior união dos empresários e de todos os atores locais para o desenvolvimento do turismo na cidade, que tem tudo para se desenvolver turisticamente, pois tem o parque nacional, as praias de mar e de lagoa com uma distância de menos de 20 km entre elas e uma beleza natural incrível", pondera Jussara.

"O destino Tavares é um grande destino de observação de aves do Brasil, com um roteiro criado há duas décadas que incrementou e sedimentou isso. Mas a região ainda tem um enorme potencial turístico para ser desenvolvido", acrescenta a gestora do Sebrae, que atua também em vários projetos de incremento turístico em outros municípios da Costa Doce do Estado.

O Festival Brasileiro de Aves Migratórias, evento anual que já soma 15 edições, acontece sempre na primavera atraindo turistas para a contemplação do show dos pássaros. O evento movimenta a região e na edição de 2022, durante quatro dias de novembro, atraiu mil participantes, incluindo pesquisadores do Uruguai, da Argentina e de outros cinco estados brasileiros. No entanto, a edição de 2023, que seria realizada em outubro, teve de ser cancelada em virtude de contaminações de animais marinhos com influenza aviária em áreas próximas ao Parque Nacional, onde é realizado o evento.

O economista, consultor na área do turismo e ex-diretor de turismo do Estado Abdon Barretto Filho entende que o investimento em um robusto calendário de eventos pode ser uma solução para o crescimento turístico da região. Ele destaca a realização anual do Festival Brasileiro de Aves Migratórias e que "o projeto do turismo de observação de aves desenvolvido há 20 anos foi um avanço e gerou a criação do festival anual, mas o problema é a falta de continuidade de projetos e programas". "É preciso ter planejamento e gestão para o desenvolvimento contínuo da região", acrescenta Barretto.

"Em 2003, começamos um trabalho com empreendedores locais e com a prefeitura", lembra Jussara. "É uma região com belezas incríveis e um lugar ainda pouco explorado, mas que já tem um roteiro definido e que vem sendo feito por uma agência receptiva local", pondera, ao destacar que o Sebrae, em parceria com a prefeitura de Tavares, desenvolveu coletivamente um plano municipal de turismo em 2022. "O crescimento vem com investimentos em infraestrutura, sinalização e educação para o turismo, mostrando o potencial de trabalho para as novas gerações permaneceram na região", acrescenta Jussara.

Fonseca aponta um caminho demonstrado pelo trabalho realizado em 2019 pelo Instituto de Pesquisa de Mercado (IPM) da Unisinos, que identifica as evidentes potencialidades da região e propõe o posicionamento estratégico para consolidar a sua identidade territorial. Conforme o estudo, as oportunidades estão relacionadas ao desenvolvimento de um turismo que valoriza características únicas, autênticas e distintivas da região, como sua biodiversidade, a cultura entre-mares (mar de fora e mar de dentro) e os horizontes sem-fim (estética que caracteriza aquela área do RS).

"É justamente essa definição de posicionamento, construída de forma colaborativa, que deve orientar o desenvolvimento da oferta turística de forma a produzir e reproduzir o posicionamento e a identidade territorial. Isso passa, claro, pela qualificação da estrutura (de hospedagem, gastronomia, acesso e serviços aos turistas) e pelo desenvolvimento sustentável dos atrativos, pensados na perspectiva do turista em busca de experiências autênticas de contemplação e imersão na natureza", complementa Fonseca.

Empreendedores atestam crescimento no movimento turístico nos últimos anos.

 


 

Editorial Cultural FM Torres RS – 13.03.24


A violência no Brasil
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W.Waack: Segurança pública é preocupação central do brasileiro - www.youtube.com ›
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A violência explícita, seja no mundo, sobretudo com a emergência de graves conflitos armados na Ucrânia e em Gaza, seja com o relevo do narcotráfico em escala internacional, com sua sequela de crimes, seja no Brasil, com seus quase milhão de apenados em Escolas do Crime controlados por organizações criminosas, vem preocupando crescentemente a sociedade. Estaríamos às bordas de um colapso civilizacional? Sob esta violência visível, viceja, ainda a barbárie da miséria de grande parte da humanidade, onde a insegurança e a fome forçam a saída de milhares de imigrantes favelizados em países da África, América Central e Caribe e Asia, em busca de sobrevivência mais digna na Europa Ocidental e Estados Unidos. Neste país, a questão migratória está no centro da disputa eleitoral entre Biden, democrata, que insiste em “não demonizar os imigrantes” e Trump, republicano, que promete fechar a fronteira com o México se reeleito. Assistimos, nestes dias, a explosão de violência no Haiti, um país de cerca de 10 milhões de pessoas assolado por terremotos, pobreza estrutura e ação de gangues armadas, que hoje controlam o país, a maior delas, atuante na capital sob o controle de um traficante recém liberado da prisão nos Estados Unidos e que é candidato a Presidente do país. Já avisou que não aceita qualquer transição pacífica interna, nem intervenção internacional. Lá vive-se a realidade descrita teoricamente por um dos grandes teóricos do Estado Moderno, que o comparou ao monstro Leviatã, J. Hobbes: a guerra de todos contra todos. O Estado sumiu, ficou apenas a violência com um índice recorde de mortes de 40 pessoas por 100.000. No Brasil, a questão da violência, quer explícita nas ruas, a que se soma um tipo de intervenção policial igualmente violenta, vista, nestes últimos dias, na ação da PM de São Paulo no litoral, produzindo 60 mortes, seja na violência implícita da injusta distribuição de ativos e renda também preocupa. Sobre este último aspecto é alvissareira a notícia de que 13 milhões de brasileiros teria escapado do mapa de fome no ano passado, mercê da retomada dos Programas Sociais sob o Governo Lula III. Mas o cenário estrutural de pobreza e violência ainda preocupa. O Monitor da Violência divulgou ontem Relatório que mostra terem os assassinatos caído 4% no ano passado, frente ao ano anterior. No dia internacional da mulher, semana passado, tomamos ciência que uma mulher é assassinada a cada seis horas no país. Um barbarismo! Sobre este cenário a extrema direita, cujos modelos mais assustadores são El Salvador e Filipinas, onde seus respectivos presidentes adotam políticas sumárias de extermínio de supostos criminosos e ganham popularidade, aos quais parece se aliar o atual Governador de São Paulo, propõe a política de mano dura contra o crime, enquanto a esquerda propugna pelo combate aos fatores geradores do crime, através de Políticas de Combate à Pobreza e respeito aos Direitos Humanos. Não há, portanto, consensos universais no combate à violência e enquanto isso dissemina-se a insegurança.
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Monitor da Violência: assassinatos caem 4% no Brasil em 2023, mostra edição final do levantamento periódico
Foram 39,5 mil mortes violentas em 2023, contra 41,1 mil em 2022. Índice nacional criado em 2017 pelo g1 em parceria com o FBSP e o NEV-USP chega ao fim após cumprir objetivo de aumentar a transparência na divulgação de dados sobre segurança pública. Monitor seguirá com outras iniciativas.
Por Marina Pinhoni, Gustavo Petró — g1- https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2024/03/12/monitor-da-violencia-2023.ghtml
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Assassinatos caem 4% no Brasil
O número de assassinatos no Brasil caiu 4% em 2023 na comparação com 2022, mostra a edição final do levantamento periódico realizado pelo Monitor da Violência.
O levantamento contabiliza as vítimas de homicídios dolosos (incluindo feminicídios), latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais seguidas de morte. Mortes decorrentes de violência policial não entram na conta.
A queda é a terceira consecutiva e, novamente, a menor da série histórica (iniciada em 2007) do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), parceiro do g1 no Monitor.

A redução foi disseminada: a maioria (21) das unidades da federação registrou menos assassinatos em 2023 do que em 2022. Cinco (Amapá, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Maranhão) tiveram alta e uma (Ceará), estabilidade (leia mais abaixo).
O índice de assassinatos por 100 mil habitantes do país – indicador usado internacionalmente para medir a violência – também caiu, passando de 20,3 em 2022, para 19,4 em 2023. O número foi calculado com base na população brasileira de 2022, e pode mudar quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar as estimativas oficiais de população para 2023.
Apesar da melhora, o país ainda tem um dos maiores índices mundiais de homicídios (em 2021, tínhamos a maior do mundo, segundo um estudo da Organização das Nações Unidas divulgado em 2023), e grandes desafios regionais no combate à violência – há mais unidades da federação (19) com índices piores que a média brasileira do que melhores (8).
Após a publicação da reportagem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, que comandou o Ministério da Justiça em 2023, comentou os dados:
"O SUSP [sistema único de segurança pública, criado por lei em 2018] é o caminho: operações integradas, inteligência, uso eficiente e proporcional da força. O país não precisa de novos 'planos' de papel, nem de medidas demagógicas oriundas do 'Direito Penal do Terror'."
Levantamento periódico é encerrado
O levantamento periódico dos assassinatos é um dos projetos do Monitor da Violência, criado em 2017 pelo g1 em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP).
Naquela época, o governo federal não tinha uma ferramenta que permitisse à sociedade – jornalistas, pesquisadores, gestores públicos e demais cidadãos – acompanhar, de forma atualizada, os dados sobre homicídios do país. O único levantamento nacional era o do FSBP, divulgado no segundo semestre de cada ano.
A divulgação dos dados pelos estados também não era padronizada, e não havia uma frequência definida.
A partir da parceria, as centenas de jornalistas do g1 espalhados pelo país passaram a levantar junto aos estados dados sobre as mortes violentas ocorridas mês a mês, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e das assessorias de imprensa dos governos.
Esse trabalho contribuiu para aumentar a transparência e a precisão das informações sobre segurança pública divulgadas no Brasil e, em 2024, o governo federal passou a publicar os dados de crimes violentos em um painel interativo com informações de todos os estados.
Os dados do governo federal, embora usem uma metodologia diferente da do Monitor (por incluir, por exemplo, mortes suspeitas e encontro de corpos e ossadas, que podem não ser homicídios), apontam para um cenário semelhante, de redução de 4% nas mortes violentas em 2023.
Esse aumento na transparência levou o g1 e os parceiros a decidirem encerrar o levantamento periódico das mortes violentas.
"O Monitor da Violência teve e tem um papel estratégico para a discussão de vários temas sensíveis da agenda da segurança pública, a exemplo dos dados sobre redução e esclarecimento de homicídios, letalidade e vitimização policial, sistema prisional, violência contra mulheres, entre outros. Afinal, a experiência internacional revela que é a partir da ação intensa de disseminação de informações fidedignas e qualificadas que políticas públicas são provocadas e gestores se mobilizam", afirmam Renato Sérgio de Lima e Samira Bueno, diretores do FBSP.
A decisão não significa o fim do Monitor da Violência – apenas do levantamento periódico de assassinatos, diante de um cenário em que dados nacionais e atualizados sobre esses crimes estejam disponíveis para a população.
A parceria seguirá em outras iniciativas, como tem acontecido desde 2017. Nesse período, entre outras coisas, o Monitor da Violência realizou reportagens sobre
Solução de investigações de homicídios;
Letalidade policial e mortes de policiais militares;
Feminicídios;
Roubos de carro no Estado de SP;
Impacto da decisão do STF que permitiu a substituição da prisão preventiva por domiciliar de grávidas e mulheres com filhos pequenos;
Propostas para a segurança pública de candidatos à Presidência da República.
Em 2023, Brasil teve 1.648 mortes a menos que em 2022
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Monitor da Violência: Mais polícia nas ruas não significa menos violência, diz pesquisador
Em 2023, o Brasil registrou 39.492 homicídios dolosos (com intenção de matar), feminicídios, latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais seguidas de mortes, o que representa média de mais de 108 vítimas por dia. Em 2022, o total havia sido de 41.135 mortes violentas, ou 113 por dia.
A queda foi puxada pelos estados de São Paulo, Pará e Bahia – que, juntos, respondem por 53% das 1.648 mortes a menos registradas em 2023 – mas foi disseminada pelo país. Das 27 unidades da federação, 21 tiveram queda nos assassinatos (veja no infográfico abaixo).
Com 6,7 mortes por 100 mil habitantes em 2023, São Paulo segue com menor índice do país, e registrou recuo em relação ao 7,1 registrados em 2022 (veja todos os índices no infográfico ao final desta reportagem). A Bahia, apesar da queda, tem o 5º maior índice, com 34,3 (o índice nacional é de 19,4).
Já as maiores quedas percentuais aconteceram nos estados de Sergipe (22,6%), Tocantins (19,8%) e Rondônia (14,5%) – todos têm índices de mortes por 100 mil habitantes superiores ao nacional.
O Rio de Janeiro teve o maior peso entre os 5 estados que tiveram alta – das 654 mortes a mais nesse grupo, 35% (233) aconteceram em terras fluminenses – e o aumento absoluto de 7,4% das mortes representa a inversão de uma tendência de cinco anos de queda no estado (leia mais aqui).
O segundo maior peso é o de Pernambuco, que teve 183 mortes a mais em 2023 em relação a 2022 (28% das mortes a mais no grupo que teve alta). O estado, que abriga menos de 5% da população brasileira, respondeu por 9% das mortes violentas ocorridas em todo o país em 2023.
O Amapá teve a maior alta percentual – com 110 mortes a mais, os homicídios no estado saltaram 49,5% em 2023. Assim como acontece com Pernambuco, a fatia do estado no total de assassinatos do país é maior (0,8%) que sua representatividade na população total (0,4%). Os dois estados ostentam os piores índices de mortes por 100 mil habitantes do país, com 45,3 e 38,8, respectivamente.
Bruno Paes Manso, pesquisador do NEV-USP, destaca que a presença de mais polícia na rua não ajuda, necessariamente, a diminuir a violência. Tanto Amapá como Rio de janeiro têm mais policiais militares por habitante do que a média nacional, que é de 2 por habitante.
"Muitas vezes, pode ser inversa: mais polícia, mais violência. O Amapá, por exemplo, estado que registra proporcionalmente o maior efetivo policial do Brasil (4,2 policiais militares para cada mil habitantes), lidera o ranking dos homicídios brasileiros (45,2 mortes por 100 mil). Santa Catarina fica no extremo oposto: tem o menor efetivo policial do Brasil (1,3 PMs por mil habitantes) e a segunda menor taxa nacional de homicídios (7,9 por 100 mil)", diz o pesquisador.

Participaram desta publicação:
*Gustavo Petró e Gabriel Croquer (g1); Geisy Negreiros (g1 AC), Cau Rodrigues (g1 AL), Josi Paixão e Rafael Aleixo (g1 AP), Daniel Landazuri (g1 AM), Joao Souza (g1 BA), André Teixeira e Ranniery Melo (g1 CE), Walder Galvão (g1 DF), Vitor Ferri (g1 ES), Vitor Santana, Michel Gomes e Gabriela Macêdo (g1 GO), Rafaelle Fróes (g1 MA), Débora Ricalde, Gabrielle Tavares e José Câmara (g1 MS), Pedro Mathias (g1 MT), Rafaela Mansur (g1 MG), Taymã Carneiro (g1 PA), Dani Fechine (g1 PB), Caio Budel (g1 PR), Bruno Marinho e Pedro Alves (g1 PE), Maria Romero (g1 PI), Henrique Coelho (g1 Rio), Fernanda Zauli (g1 RN), Janaína Lopes (g1 RS), Jonatas Boni (g1 RO), Samantha Rufino e Valéria Oliveira (g1 RR), John Pacheco e Caroline Borges (g1 SC), Carlos Henrique Dias (g1 SP), Joelma Gonçalves (g1 SE), Vilma Nascimento, Patrício Reis e Stefani Cavalvante (g1 TO).

 


 

Editorial Cultural FM Torres RS – 05 de março de 2024


Você pode ajudar assinando essa petição? Contra a Censura à Literatura de Jeferson Tenório - https://chng.it/Fp4KngTW
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Queimar Livros Nunca Mais!
Vencedor do Prêmio Jabuti, em 2021, o Livro “O Avesso da Pele”, do autor Jeferson Tenório, primeiro patrono negro da Feira do Livro de Porto Alegre, traz elementos fundamentais para o debate sobre o racismo estrutural no Brasil. Após a leitura de trechos descontextualizados por uma diretora de uma escola de ensino médio da cidade de Santa Cruz do Sul – RS o livro foi censurado. O que eles não sabiam era que o livro foi aprovado para compor a lista de materiais disponíveis para escolas após edital feito pelo governo anterior, bem como sua compra pelo MEC. A distribuição, exclusiva para o ensino médio, feita ainda no ano passado, ocorreu após o pedido da escola para que o livro fizesse parte de seu plano pedagógico. Censura à arte e à cultura e queima de livros são procedimentos próprios de sistemas políticos retrógrados que não se coadunam com a liberdade de expressão perseguida pela democracia vigente no Brasil. Devem ser condenadas.
Anexo
10 Razões para ler O avesso da pele nas escolas, sim! #QueimarLivrosNuncaMais
2 de março de 2024 por www.listasliterarias.com
Não é de hoje que a literatura é vista por sua capacidade de por em debate questões cruciais à sociedade, tanto para gerar reflexões ou para causar incômodo àqueles que escondem-se sob o manto da hipocrisia ou das falsas moralidades. Parece o caso da direção da Escola Ernesto Alves de Santa Cruz do Sul que por meio de um vídeo descontextualizado e desconsiderando o conjunto da obra o Avesso da Pele, de Jeferson Tenório utilizou as redes para pretensamente devolver a obra ao MEC. O vídeo é demonstração absoluta do retrocesso social que vivemos nos tempos de hoje. Mais assustador é que provavelmente os que apoiam ou concordam com tal visão são os mesmos que bajulam um certo cara aí, talquei, que a cada 10 palavras que fala, dois terços é palavrão e o restante é idiotice. Isso sem falar de que o orgulho dessa gente é p mesmo que disse "pintar um clima" para uma criança e suas recorrentes metáforas enamoradas. Mas o dito cujo não é o ponto aqui, mas sim o grave problema presente no vídeo, principalmente por vir de alguém de que espera-se intelecto suficiente para compreender tais questões e fazer jus e pertencimento ao campo da educação. É uma falência danada quando uma pessoa abdica da razão e dos compromissos com a educação e consequentemente com a leitura e a literatura seja tão rasa em nome de manter-se fiel a uma bolha de ignorância, hipocrisia e falsos moralismos. Por isso, nesse post selecionamos 10 razões para ler O avesso da pele nas escolas, sim!
1 - Antes de mais nada, precisamos contextualizar a partir do próprio vídeo. Como a própria pessoa declara, a obra trata-se de um exemplar destinado à leitura de estudantes do Ensino Médio. Ensino Médio. Sim, nessa etapa da formação imagina-se um leitor com capacidade para leituras complexas, inclusive que adentrem às questões mais íntimas e profundas da existência humana. Não há de modo algum de se falar inadequação, como na sequência deste post demonstraremos com mais argumentos. A senhora simplesmente retira uma parte da obra - diga-se que parece até mesmo haver prazer em sua narração pautada pela busca do efeito - sem sequer analisar ao conjunto e ao que se propõe Jeferson Tenório em O avesso da pele;
2 - Dito isso, e penso que nenhum professor de literatura dentro da razão e do bom senso dirá que há inadequação da obra à etapa sugerida, é preciso destacar que O avesso da pele não só e feito com esmero estético e profundidade que o torna uma das principais narrativas contemporâneas, como sua recepção pela crítica e pelos leitores (os de verdade, com capacidade de interpretação e letramento literário) tem sido excelente, inclusive recebendo o prestigiado Prêmio Jabuti;
3 - Mas esses são elementos alheios à obra, e muitas das qualidades e relevâncias da leitura de O avesso da pele o dissemos também na resenha da obra aqui no Blog. O livro aborda com uma sensibilidade incrível a problemática do racismo estrutural presente na sociedade brasileira. Não estaria aí o incômodo com tal leitura por parte dessa diretora? A escolha do trecho a reclamar, como bem sabemos nos estudos da linguagem, não é aleatória. Nesse caso, pode ao mesmo temo serviço como apito para cachorros - acho que podemos atualizar termo para berrante para gado -, como denunciar o que de fato gerou estranhamento e incômodo à leitora em questão (nesse sentido os formalistas russos confirmariam mais uma vez o sucesso literário de Tenório). O absurdo para ela, certamente está no cerne das relações étnico-raciais desse país carregado de preconceitos e na verdade, em alguma maneira a teatralização de sua narração inconformada é também mais um sucesso do livro;
4 - Além disso, tratemos aqui um pouco mais sobre o recurso recorrente dos canalhas e hipócritas que sacam sempre do card da linguagem o do vocabulário chulo para atacar este ou aquele trabalho. Basta algo incomodar aos falsos moralistas e hipócritas e lá vem aquele papinho que este ou aquele texto fere a moral e os bons costumes, que violenta a boa educação. Que visitem a casa de carvalho. Como professora, tal pessoa deveria ter a obrigação de compreender a linguagem ali utilizada e a coerência que carrega para com todo o enredo e a temática da obra. Desconsiderar isso é pura má-fé e desejo infindável de lacrar para as bolhas das pretensas famílias de bem que não resistem aos escrutínios da realidade - mesmo que essa realidade muitas vezes permaneça muito tempo às sombras;
5 - Aliás, quanto ao pretenso grande incômodo desta pessoa, a linguagem chula, seus palavrões e suas indecências, como professor de literatura pergunto-me, essa pessoa já leu alguma coisa na vida? Conhece os clássicos da literatura brasileira que habitam nossas bibliotecas? Sei que o que falo aqui carrega seus perigos, essa gente adora queimar livros, mas creio que ser importante traçarmos aqui algumas comparações para demonstrar o disparate criminoso dessa publicação. Por acaso essa escola vai retirar de sua biblioteca obras como O cortiço? Vai banir Grande sertão: veredas por certas linguagens que Rosa utiliza? Vai banir das estantes até mesmo Iracema, afinal, não seria indecente o termo "virgem dos lábios de mel"? Vão proibir Macunaíma de "Brincar", outra grande leitura recomendada para o ensino médio? O ateneu, Rubem Fonseca, prezada direção, não sobrará um...
6 - E ainda no campo do vocabulário, a escola realmente está preocupada com o vocabulário ou o incômodo é outro? Fontes ligadas ao Listas Literárias comentaram, por exemplo, quem eventos da escola se ouviram funks cuja letra continha vocabulário problemático. E não nos entendam mal, não criminalizamos aqui o gênero, há exemplos horríveis de canções tradicionalistas gaúchas que por exemplo, comparam uma mulher às éguas. Baitaca, ídolo pop de "O fundo da Grota" é o mesmo que canta "Aventuras do Tico Loco". Na música sertaneja, então, o que não falta é música apóloga ao feminicídio. Há funks capazes de alertar, de abrir para reflexão, músicas de outros gêneros também, como, por exemplo, um bom rap dos Racionais. Entretanto, nossas fontes indicam que não se trata desse tipo de música, mas sim de porcaria alienante e objetificadora, que a mesma direção que ataca uma das principais obras literatura nacional contemporânea, se mostra leniente e festiva;
7 - A partir desses dois últimos argumentos, creio, a questão mostra-se ainda mais problemática. Não tem como não vir à cabeça o questionamento: teria a cor do autor e o tema abordado pela obra influenciado a indignação da direção da escola? Afinal, certamente há na biblioteca da escola outras obras com palavrões e cenas que precisam abordar a questão sexual. Na verdade, o Naturalismo é um dos momentos literários a ser estudando no Ensino Médio, e não há obra naturalista sem essa abordagem. Ou a escola não trabalha literatura? Desconheço uma biblioteca que não tenha Jorge Amado, Rubem Fonseca, para ficar por aí, antes que esses falsos moralistas queiram queimar mais livros. Mais uma vez: O que realmente incomodou?
8 - Para além disso, essa turma realmente convive com adolescentes? Desafio qualquer pessoa a desmentir que as tais e incômodas palavras sejam desconhecidas do vocabulário dos jovens estudantes de Ensino Médio. Em que mundo vocês vivem? Até mesmo respondo, no mesmo que o nosso. Só a máscara da hipocrisia sustenta essa histeria com a referida passagem. Vivemos numa época que necessitamos cada vez mais de obras que proponham e alcançam algum grau de reflexão e que efetivamente proporcionem não apenas o letramento literário, mas também o letramento racial, pois precisamos e muito aprender e compreender as raízes estruturantes dessa abjeta chaga que é o racismo;
9 - Gostaria de finalizar justamente dessa forma, trazendo razões elementares e fundamentais de por que a leitura de Jeferson Tenório é mais que necessária nas escolas. Sua abordagem é lúcida, por vezes, até desesperançosa, diante ao estado das coisas. Sua narrativa reflete o quão profundo está enraizado o problema e o desfecho do romance é exemplar nisso. Além disso, ele passa longe de querer nos entregar soluções fáceis, e problematiza a questão sem que a narrativa torne-se mero panfleto. Demonstra no decorrer do romance que o problema é complexo e cujos caminhos ainda precisam ser tratados. Talvez a parte de desencanto que há na narrativa se justifique ainda mais com a reação acima exposta;
10 - E para finalizar, mais absurdo ainda é que talvez a voz que denuncia tenha no máximo passado o olho perdidamente por alguns palavrões que talvez lhe viessem a calhar na suma vontade de lacrar abjetamente em busca de sucesso em sua bolha ignóbil de obscurantismo e má-fé. Se realmente tivesse lido - ou ainda entendido as múltiplas possibilidades de leitura e interpretação - a obra em seu todo, talvez observasse que uma outra frente de discussão extremamente relevante presente na obra: a educação e o contexto desafiador do momento com alunos cada vez menos interessados. Impossível a um bom professor não ver-se também no protagonista do romance, também professor. Um professor que entende dos nossos desafios diários que estão longe de ser um palavrão aqui e acolá. Se tal pessoa tivesse capacidade para tal leitura, desprendida de convicções que não passam de névoa e combustível da alienação que tomou parte do país, perceberia ainda no livro, também um aliado de nós, professores. O magistério, a docência em suas questões mais desafiadoras está abordada no livro e não apenas merecem nosso respeito, como podem alertar a professores e alunos os poderes maléficos do desencanto. E não é difícil se desencantar, especialmente no poço sem fundo que estamos entrando e parece que não está fácil de sair.
‏Source www.listasliterarias.com


ARQUIVOS DA COLUNA PAULO TIMM

                                                                       

  Coluna Paulo Timm

 

 

 

 Editorial Cultural FM Torres RS Fevereiro 2024

 Editorial Cultural FM Torres RS Janeiro 2024


 Editorial Cultural FM Torres RS Dezembro 2023


 Editorial Cultural FM Torres Novembro 2023


Editorial Cultural FM Outubro 2023

 

 


 Editorial Cultural FM Torres RS – 29 setembro

ELIS & TOM

Paulo Timm – Publ.A FOLHA, Torres 29 setembro

“Elis & Tom” é um disco lançado em 1974 por Antonio Carlos Jobim e Elis Regina, pela gravadora Polygram, entre 22 de fevereiro e 9 de março daquele ano, no MGM Studios, de Los Angeles, EU. Tom já morava nos Estados Unidos e fazia um sucesso extraordinário, embora um pouco deslocado das paradas musicais no Brasil, depois do sucesso da Bossa Nova na década anterior. Em vários sentidos,, 1974, que elegeria 18 senadores da Oposição, como resposta à primeira crise do petróleo no anto anterior e que elevou o preço do barril de US$ 2,5 para US $ 13, assustando a classe média auto-centrada, anunciava um Brasil que começava a viver uma transição. Foram ficando para trás os “Anos de Chumbo”, abrindo-se, com a posse do General Geisel, um novo ciclo que culminará na Constituição de 1988. Elis já era uma cantora consagrada, de grande estilo, sem carreira internacional e mergulhada numa fase difícil no meio artístico, depois que aceitou marcar presença numa Olimpíada Militar. Oriunda do Rio Grande do Sul ela havia frequentado, no Auditório da Rádio Farroupilha. o “Clube do Guri”. (Fui testemunha, mas me penitencio de não guardá-la na memória; fascinado por rádio, eu frequentava os programas de auditório das rádios Farroupilha, Itaí e Gaúcha nas manhãs de domingo). Tom e Elis já se conheciam mas não se cultivavam. Tom, marcado pelo economicismo da Bossa Nova, não combinava muito bem com o estilo performático de Lis. Diziam as más línguas que ele achava a gauchinha apimentada ainda com cheiro de churrasco... Adveio, porém, a ideia do empresário dela de juntá-la ao Maestro para um novo disco, um relançamento. Elis, aliás, chegou a ser testada como sucessora de Celi Campelo, nossa primeira roqueira, mas não deu certo. Do encontro, enfim, de Tom e Elis, resultou o álbum excepcional, de grande alcance e destinado a se converter numa relíquia da música popular brasileira. Uma peça musical de qualidade inquestionável, fadado à imortalidade, mais além da Bossa Nova, ecoando até hoje como uma prece num momento em que o mundo se despedia do sonho da década anterior e se iniciava numa era de espetáculos estrondosos. Um verdadeiro “Feitio de Oração”...

-“O sonho acabou”, sentenciou John Lennon, em 1970. Seria assassinado dez anos depois. Em 1973 o pérfido General Pinochet comanda o mais cruel golpe na castigada América Latina e soterra a experiência pioneira de Salvador Allende, no Chile, de construir o socialismo com Paz e Amor. Mas na América! América!, um novo estilo de vida emergia na Califórnia, nas pegadas de Woodstock, onde eles se encontram. Um encontro com obstáculos, mas de gênios fadados a se concertaram na procura da perfeição de tons, subtons e arranjos geniais. Saiu o álbum. Sucesso absoluto em vários países. O Brasil no mundo. Mas ninguém sabia, até pouco tempo, que tudo isso fora filmado, com imagens também memoráveis.. Agora, as filmagens se convertem no magnifico filme, dirigido por Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay, com o mesmo nome do álbum para o deleite, tanto dos mais velhos que vivenciaram aquela épica, com dos jovens atuais e futuros que poderão conhecer de perto estes dois personagens históricos da nossa música.

“ELIS E TOM, SÓ TINHA DE SER COM VOCÊ

O filme mostra os bastidores e todos os dramas e tensões que cercaram as gravações a ponto de o projeto quase ser interrompido. No fim, no entanto, a força da música se sobrepõe e conduz Elis Regina, Tom Jobim e um grupo de jovens músicos talentosos a uma obra-prima. Na produção, o espectador é levado numa viagem no tempo, participando de momentos de conflito e também de pura alegria, revelando momentos íntimos do processo criativo e das personalidades extraordinárias desses artistas. A obra é também um emocionante reencontro do diretor com os artistas e o material filmado há quase cinco décadas.”

 Assisti ontem ao filme, no Centro Cultural Mario Quintana, POA, e entre suspiros e furtivas lágrimas revivi um tempo em que, no vigor dos 30 anos iniciava minha vida profissional em Brasília, cheio de ilusões e amores. Recomendo. Não percam. Oportunidade única para se voltar a sonhar...


 Editorial Cultural FM Torres RS 28 de setembro 23

Haverá um conflito institucional entre Judiciário e Poder Legislativo?

Em meio à seca no Amazonas, calores extremos em várias cidades do sudeste e centro-oeste e fortes inundações no sul do país e até festejos pela posse, hoje, do Ministro Barroso como Presidente do STF, com a presença artística de Maria Betânia, as duas casas do Congresso Nacional se levantam contra o Poder Judiciário. Na Câmara, ontem, um grupo minoritário de deputados da Oposição obstruiu a pauta em protesto contra o ativismo do Supremo. Esta ação não deverá progredir, eis que o Governo tem franca maioria naquela Casa graças ao apoio do Centrão ao Governo Lula III, mas indica uma inquietação parlamentar diante do Judiciário. No Senado, geralmente mais sereno, tanto pela sua composição interna como pela personalidade de seu Presidente, mineiro, a inquietação está indo mais além. Ontem, a casa aprovou a toque de caixa, passando em 24 horas pela Comissão de Constituição e Justiça, regime de urgência e votação em plenário, projeto do MARCO TEMPORAL que não só exclui direito á demarcação de terras indígenas que não estivessem ocupadas em 1988, como introduz uma estranha clausula de prioridade á soberania nacional sobre direitos dos povos originários, como se eles não fossem parte da Nação. Dias antes, o líder da Oposição já havia conseguido aprovar a realização de um plebiscito para definir a questão do direito ao aborto. Ora, tudo isso confronta, sim, com recentes decisões do Supremo e traz à tona uma dúvida sobre a decisão final sobre temas controversos. Diz a teoria e prática constitucionalista, sobretudo quando Barroso será o Presidente do Supremo –ele que coloca na sua Agenda temas como combate à pobreza, dentre outros mais afeitos ao campo das Políticas Públicas sob responsabilidade do Executivo, que o Supremo é o PODER QUE ERRA QUE POR ÚLTIMO, com direito à palavra final em caso de contencioso sobre questões envolvendo a interpretação da Constituição. O Projeto do Marco Temporal aprovado pelo Senado ainda deverá passar pela Câmara, onde será aprovado com facilidade até chegar à sanção presidencial. Tudo indica que Lula o vetará, correndo o risco de ter o veto derrubado pelo Congresso, com o que o assunto, suscitado por algum dos Partidos da base governista ou ONG em defesa dos índios, acabará sob o crivo do Supremo. Aí, certamente, como esta corte já tem posicionamento sobre a matéria, cairá por inconstitucional. Isso posto, restabelecer-se-á a normalidade nas relações do Congresso com o Judiciário ou novos embates entrarão em cena? Quem viver, verá. Oxalá, em algum momento se restabeleça o princípio de harmonia e independência entre os Poderes da República, sob o acicate da autocontenção de cada um deles. Sem isso, a democracia sucumbe e a paz entre os homens cede lugar á guerra de todos contra todos, na qual os mais fortes são sempre os vencedores.

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 Editorial Cultural FM Torres RS 27 de setembro 23

Em busca da definição de responsabilidades sobre as inundações no Estado 

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Agora eu entendi por que tem gente que quer que o Rio Guaíba seja lago e não um rio. luizmuller-agora-eu-entendi-por-que-tem-gente-que-quer-que-o-rio-guaiba-seja-lago-e-nao-um-rio 

Prefeitura de Bento Gonçalves questiona operadora de barragem se comportas foram abertas antes da inundação. A Procuradoria de Bento Gonçalves enviou perguntas à Companhia Hidrelétrica CERAN em busca de informações sobre a enchente que afetou a região e a possível abertura de comportas pela companhia. Terra.com.br>>Prefeitura-de-Bento Goncalves-questiona-operadora-de-barragem-se-comportas-foram-abertas-antes-da-inundacao 

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Os sucessivos temporais sobre o Rio Grande do Sul que resultaram na inundação de várias cidades da Bacia do Taquari, com perdas de vidas e materiais vultosas, continua repercutindo junto a autoridades e especialistas no Estado. A primeira versão do Governador Leite de que não havia previsão de tanta chuva foi desmentida por várias instituições. A versão da abertura irresponsável de comportas das pequenas barragens na região, levantada pelo Jornalista Alexandre Garcia, também foi desmentida porque simplesmente inexistem comportas nestas barragens, apenas taipas de sustentação. 

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Barragens no Vale do Taquari (RS) não têm comportas que poderiam controlar o fluxo de água; enchente foi causada por ciclone

São falsos os posts que alegam que as barragens do Rio Taquari, que cruza a região mais afetada pelas enchentes dos dias 4 e 5 de setembro no Rio Grande do Sul, se romperam ou tiveram suas comportas abertas. As estruturas sequer têm comportas capazes de controlar o fluxo de água e, segundo a empresa que administra as hidrelétricas, elas se mantiveram íntegras durante a passagem do ciclone extratropical que atingiu a região. Autoridades estaduais, federais e meteorologistas afirmam que o grande volume de água que alagou as cidades do Vale do Taquari foi causado por eventos climáticos naturais

https://www.plural.jor.br/noticias/vizinhanca/barragens-no-vale-do-taquari-rs-nao-tem-comportas-que-poderiam-controlar-o-fluxo-de-agua-enchente-foi-causada-por-ciclone/

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Aparentemente, foram várias as causas das enchentes do Taquari e sobre todas elas se faz necessária maior investigação.

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Combinação de diferentes fatores causou cheia no Vale do Taquari, dizem especialistas

Soma da chuva com questões como aquecimento global, fenômeno El Niño, aumento das temperaturas no oceano e na Amazônia, relevo e solo da região são alguns elementos citados por pesquisadores

https://gauchazh.clicrbs.com.br/ambiente/noticia/2023/09/combinacao-de-diferentes-fatores-causou-cheia-no-vale-do-taquari-dizem-especialistas-clmb9zadf0050011sl0l134gk.html 

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Agora, a AGAPAN vem a público manifestar sua posição crítica quanto aos retrocessos na legislação ambiental. Tudo indica, enfim, que o assunto das origens e responsabilidades sobre as inundações no Taquari ainda não se esgotou. Uma CPI na Assembleia Legislativa poderia, enfim, esclarecer melhor a questão.

Leia a íntegra da carta aberta ao governador e aos deputados do Rio Grande do Sul:

Agapan publica carta aberta sobre retrocessos na legislação ambiental; leia a íntegra

A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) publicou na segunda-feira, 25, uma carta aberta ao governador Eduardo Leite e aos deputados e deputadas do Rio Grande do Sul sobre os retrocessos na legislação ambiental no estado. https://red.org.br/noticia/agapan-publica-carta-aberta-sobre-retrocessos-na-legislacao-ambiental-leia-a-integra/ 

Diante das tragédias ocorridas no Estado, continuarão insistindo em retrocessos ambientais?

No dia 22 de agosto, em artigo publicado no Jornal do Comércio, sob o título de “O gargalo do licenciamento ambiental”, um deputado do partido Republicanos, que atualmente preside a Comissão de Economia da Assembleia Legislativa, acusa o licenciamento ambiental de causar prejuízos à economia do Estado e insinua que quem defende o meio ambiente seria pertencente a um segmento que quer manter a sociedade na idade da pedra.

O deputado é autor de projetos de lei em tramitação da Assembleia Legislativa que propõem alterações na legislação ambiental, causando retrocessos na proteção. Em síntese, para o presidente da Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo da Assembleia Legislativa, o meio ambiente preservado é um entrave ao desenvolvimento.

Cabe a pergunta a todos deputados e deputadas: o pensamento desse senhor seria uma voz destoante ou representa a da maioria dos parlamentares? A sociedade gaúcha precisa saber. Afinal, os rumos do Estado passam pela Assembleia Legislativa e as tragédias ambientais estão aí, causando mortes e danos à vida da população. Embora alguns não percebam ou ainda prefiram dar de ombros, as crescentes tragédias já demonstram ser resultados da intensificação da atual crise climática, reforçadas por ações deletérias de alguns setores da sociedade.

A Agapan considera como muito graves os reiterados ataques do deputado à legislação e às estruturas de proteção ao meio ambiente, sintetizados no conteúdo dos seus projetos de lei, no artigo e em manifestações. Assim, viemos a público colocar algumas questões para reflexão dos representantes da população no Legislativo e da sociedade gaúcha, assim como aos eleitores, que definem quem continuará nestes cargos públicos.

Para início de diálogo, é importante todos terem consciência que o que está em debate diz respeito a nós, enquanto sociedade, e isso tem severas consequências. Por coincidência, neste período, o Rio Grande do Sul, lamentavelmente, passa por uma imensa tragédia ambiental. Falamos no desastre que impactou fortemente o Vale do Taquari, principalmente os municípios de Muçum e Roca Sales, entre outros, causando dezenas de mortes, destruição das cidades, bem como perdas econômicas e culturais. Uma verdadeira tragédia anunciada. Também é importante lembrar que, há poucas semanas, houve outro evento, o ciclone extratropical que impactou a região do litoral gaúcho, com perdas econômicas na produção e na vida das famílias que ali residem. O Rio Grande do Sul passou por quatro estiagens nos últimos anos, sendo uma delas a maior em sete décadas.

Há pelo menos 30 anos, deste a conferência do Rio de Janeiro, realizada em 1992, que colocou as mudanças climáticas na pauta mundial, a Ciência tem apontado, com inúmeros estudos, que os potenciais impactos no mundo decorrentes das mudanças climáticas cresceriam em intensidade e frequência caso não se alterasse o modelo de economia predominante. No entanto, desde muito antes, enquanto entidade pioneira no Brasil, estamos buscando ecologizar a nossa sociedade, tarefa árdua da qual nunca abrimos mão e jamais desistiremos, ainda que os comandos dos governos e dos parlamentos se modifiquem. Infelizmente, os rumos apontam que tem sido para pior.

Atualmente, todas as mídias do mundo mostram, todos os dias, que a mudança do clima já é uma realidade. Negar a emergência climática se torna até vexatório, indício de alienação a respeito da realidade ou má fé com interesses escusos.

Em conjunto com outras entidades ambientalistas, e sempre com base científica, temos alertado para os prejuízos que as alterações na legislação ambiental e na precarização na gestão ambiental provocam para a sociedade. Desde o debate do Código Florestal (em 2012), passando pelo desastre da gestão irresponsável do ex-ministro Ricardo Salles (governo Bolsonaro, 2019-2022) no âmbito nacional, ainda lutamos contra a permissão criminosa do desmatamento da Amazônia e do Cerrado, entre outros biomas. Aqui no Estado, nos opomos às mudanças do Código Estadual de Meio Ambiente, patrocinada pelo governador Eduardo Leite, alertamos para a devastação dos biomas Pampa e Mata Atlântica e a irresponsabilidade do governo na gestão das águas. Nossos cursos d’água estão impactados, poluídos e desprotegidos por pressões comerciais e orientações equivocadas aos nossos pequenos e médios produtores rurais.

No mesmo sentido, alertamos para a necessidade de abandonar as fontes fósseis de energia. Defendemos banir o uso do carvão – por meio da participação ativa no Comitê de Combate à Megamineração no Rio Grande – e acelerar a transição energética para fontes renováveis, com o incentivo a processos de instalações que respeitem o meio ambiente em sua totalidade, o que inclui a fauna, a flora e as comunidades tradicionais. A Agapan, há 52 anos, coloca esses temas na pauta do Estado, que é precursor do ambientalismo, bem como do Brasil e do mundo, através de suas participações nos mais variados fóruns, conselhos e coletivos de meio ambiente.

As alterações nas legislações e visão como a apresentada no artigo e ações do deputado são motivadas por pressões de setores econômicos e pensamentos egoístas e retrógrados que somente pensam em lucros e vantagens imediatistas, mas que transferem o ônus e as consequências para toda a população, que posteriormente paga a conta, inclusive com vidas, incluindo as futuras gerações, para quem pouco ou nada restará a não ser lutar para sobreviver em meio a eventos extremos. Posturas negacionistas, irresponsáveis e lesivas à proteção ambiental prejudicam a sociedade porque comprometem o futuro, a qualidade de vida e mesmo a segurança das populações, expondo as pessoas a riscos e tragédias.

O Governo do Estado do Rio Grande do Sul e a Assembleia Legislativa devem assumir a realidade da emergência climática e construir um pacto para não permitir mais retrocessos ambientais. Além disso, devem assumir o compromisso de tomar a frente em vultuosas campanhas e investimentos em recuperação de vegetação nativa, na proteção das áreas de preservação permanente, energias renováveis e sistemas de produção com uma economia industrial, comercial e agrícola de baixa emissão de carbono e em bases sustentáveis. Sem um novo modelo social, com base na sabedoria do pensamento ecológico, não há futuro.

Diante dessas considerações, solicitamos que:

Os seguintes Projetos de Lei sejam RETIRADOS de tramitação na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul por se caracterizarem por retrocessos ambientais: PL 218/2023; PL 268/2023; PL 151/2023; PL 204/2023; PL 433/2021; PL 97/2018.

Os temas Mudanças Climáticas e Transição Energética sejam colocados como prioridade da pauta da Assembleia Legislativa e do Governo Estadual.

Não se admitam mais projetos que reduzam cobertura de vegetação nativa, e que, por outro lado, se amplie as unidades de conservação no Estado.

A legislação dos recursos hídricos seja totalmente implementada, impedindo que a água seja domínio de setores econômicos (sejam produtores rurais, energia ou indústria), garantindo-a como bem público de uso de todos, com prioridades e gestão sustentável.

Os instrumentos de gestão ambiental como Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) e outros instrumentos de gestão ambiental sejam implementados e aperfeiçoados para que a produção não destrua mais o meio ambiente, com garantia de participação plena da sociedade e dos movimentos socioambientais interessados na proteção da vida natural.

A Secretaria de Meio Ambiente volte a ter órgão independente da Infraestrutura, por ser inaceitável que o órgão central da gestão ambiental esteja subordinado a quem estimula projetos de mineração e infraestrutura, que sabidamente são impactantes para o ambiente natural. Essa junção é lesiva à gestão ambiental e deve ser revertida.

A Casa do Povo se abra à participação e ao debate público, atuando decisivamente para a proteção do meio ambiente. As decisões da Assembleia Legislativa têm impactos na vida da população e podem ser as responsáveis por tragédias.

Estamos consternados e solidários com as famílias que foram diretamente impactadas pelas recentes enchentes. No entanto, resta saber quem de fato em nosso Estado assumirá compromissos verdadeiros para que tragédias ambientais assim não se repitam.

A sociedade gaúcha espera do governador Eduardo Leite um pedido de desculpas sinceras por ter tomado decisões tão erradas na gestão ambiental, e que daqui em diante haja de forma diferente, que ouça os alertas da Ciência, em especial dos especialistas em Meteorologia e Clima. Nós, ambientalistas, que sempre nos dedicamos voluntariamente no RS para ajudar a preparar um futuro melhor para todos, continuamos dispostos a colaborar. Entendemos que o Estado deveria perceber e valorizar a trajetória que construímos, reconhecida internacionalmente, e abra espaço para somarmos em prol de nossa sociedade.

ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE PROTEÇÃO AO AMBIENTE NATURAL – AGAPANA Vida Sempre em Primeiro Lugar Desde 1971


 Editorial Cultural FM Torres RS 25 de setembro 23

O VOTO DE ROSA WEBER PELA JUSTIÇA REPRODUTIVA

A constatação de que o grande número de abortos no Brasil é feito por mulheres pobres e negras, maior parte delas muito jovens, inclusive meninas de 12 a 14 anos, fez a Ministra Rosa Weber, do STF, votar pela descriminalização deste procedimento quando realizado até 12 semanas do feto. Introduziu a Ministra um conceito de Justiça Reprodutiva com vista à salvaguarda destas mulheres. Abaixo o voto dela:

 

Ministra Rosa Weber vota pela descriminalização do aborto até 12 semanas de gestação

portal.stf.jus-noticias=VER NOTÍCIA . - 22/09/2023 

 

A ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), votou pela descriminalização da interrupção voluntária da gravidez (aborto), nas primeiras 12 semanas de gestação. Ela é a relatora da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, que começou a ser julgada na madrugada de hoje (22), em sessão virtual. O julgamento foi suspenso por pedido de destaque do ministro Luís Roberto Barroso, e, com isso, prosseguirá em sessão presencial do Plenário, em data a ser definida.

A discussão sobre a descriminalização do aborto foi provocada no STF pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), autor da ação, e chegou a ser objeto de audiência pública em 2018 convocada pela ministra Rosa Weber. O objetivo era debater o tema com especialistas e representantes de entidades governamentais e da sociedade civil.

Extrema delicadeza

Em voto de 129 páginas, a ministra considera que os artigos 124 e 126 do Código Penal não estão de acordo com a atual Constituição Federal. Na sua avaliação, é desproporcional atribuir pena de detenção de um a quatro anos para a gestante, caso provoque o aborto por conta própria ou autorize alguém a fazê-lo, e também para a pessoa que ajudar ou realizar o procedimento.

A ministra ressalta que o debate jurídico sobre aborto é “sensível e de extrema delicadeza”, pois suscita “convicções de ordem moral, ética, religiosa e jurídica”. Apesar dessas conotações discursivas, porém, Rosa Weber considera que a criminalização do aborto voluntário, com sanção penal à mulher e ao profissional da medicina, “versa questão de direitos, do direito à vida e sua correlação com o direito à saúde e os direitos das mulheres”.

Início da vida

Um dos pontos destacados pela ministra é que a falta de consenso sobre o momento do início da vida é fato notório, tanto na ciência quanto no campo da filosofia, da religião e da ética. Para Rosa Weber, o argumento do direito à vida desde a concepção como fundamento para a proibição total da interrupção da gestação, como defendem alguns setores, “não encontra suporte jurídico no desenho constitucional brasileiro”.

Ela lembra que a discussão sobre direito à vida e suas formas de proteção não é nova no Supremo: ela esteve presente tanto no julgamento da Lei de Biossegurança (ADI 3510), sobre o uso de embriões humanos para pesquisas com células-tronco, quanto no da interrupção da gravidez de feto anencéfalo (ADPF 54). Nesse julgamento também foi debatida a liberdade reprodutiva e a autonomia da mulher na tomada de decisões.

Direitos reprodutivos

O Estado, portanto, segundo a ministra, tem legítimo interesse (e deveres) na proteção da vida humana configurada no embrião e no nascituro conforme a legislação civil, por exemplo. Todavia, essa proteção encontra limites no Estado constitucional, e a tutela desse bem não pode inviabilizar, a priori, o exercício de outros direitos fundamentais também protegidos pela legislação nacional e tratados internacionais de direitos humanos, incluindo-se os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.

Saúde pública

A ministra destacou que, em diferentes países onde o aborto foi descriminalizado, houve redução do número de procedimentos, associada à ampliação do uso de métodos contraceptivos. Após citar vários dados e casos julgados em outros países, ela concluiu que há uma tendência contemporânea do constitucionalismo internacional de considerar o problema da saúde sexual e reprodutiva das mulheres como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. A principal nota é a interdependência dos direitos - à liberdade e à vida digna em toda sua plenitude, física, mental, psicológica e social.

Proporcionalidade

“O aborto não se trata de decisão fácil, que pode ser classificada como leviana ou derivada da inadequação social da conduta da mulher”, afirmou a ministra. Para ela, a discussão normativa, diante de valores constitucionais em conflito, não deve violar o princípio constitucional da proporcionalidade, ao punir com prisão a prática do aborto. Essa medida, a seu ver, é “irracional sob a ótica da política criminal, ineficaz do ponto de vista da prática social e inconstitucional da perspectiva jurídica”.

Autodeterminação

Segundo Rosa Weber, após oito décadas de vigência da norma no Código Penal (1940), é hora de colocar a mulher “como sujeito e titular de direito”, e não como uma cidadã de segunda classe, que não pode se expressar sobre sua liberdade e autonomia.

“Não tivemos como participar ativamente da deliberação sobre questão que nos é particular, que diz respeito ao fato comum da vida reprodutiva da mulher, mais que isso, que fala sobre o aspecto nuclear da conformação da sua autodeterminação, que é o projeto da maternidade e sua conciliação com todos as outras dimensões do projeto de vida digna”, ressaltou a ministra.

Rosa Weber lembrou que, na época da edição da lei, a maternidade e os cuidados domésticos compunham o projeto de vida da mulher. “Qualquer escolha fora desse padrão era inaceitável, e o estigma social, certeiro”. Por outro lado, a criminalização do aborto visava tutelar de forma digna a vida humana, mas não produziu os efeitos pretendidos.

Diálogo institucional

A relatora destacou que, apesar da competência do Congresso Nacional para legislar sobre o tema, o Poder Judiciário é obrigado, constitucionalmente, a enfrentar qualquer questão jurídica a ele apresentada sobre lesão ou ameaça a direitos seja da maioria ou das minorias. “Na democracia, os direitos das minorias são resguardados, pela Constituição, contra prejuízos que a elas possam ser causados pela vontade da maioria. No Brasil, essa tarefa cabe ao Supremo Tribunal Federal”, frisou.

Ela explicou que não cabe ao STF elaborar políticas públicas relacionadas à justiça reprodutiva ou escolher alternativas normativas às adotadas pelos Poderes Legislativo e Executivo, como as relacionadas às políticas de saúde pública das mulheres. “Não obstante, compete-lhe o diálogo institucional, por meio das técnicas processuais pertinentes, sejam elas para a coleta de dados e informações, como as audiências públicas, sejam as técnicas decisórias instauradoras da conversação democrática, como o apelo ao legislador”.

Diante disso, a ministra, na parte final de seu voto, fez um apelo a esses Poderes para a implementação adequada e efetiva do sistema de justiça social reprodutiva, com “a remoção dos entraves normativos e orçamentários indispensáveis à realização desse sistema de justiça social reprodutivo”.

Leia a íntegra do voto da ministra Rosa Weber na ADPF 442.


 Editorial Cultural FM Torres RS 22 de setembro 23

Senado quer avançar sobre o STF em drogas, aborto e imposto sindical

O jornal FOLHA DE S.PAULO chama a atenção para movimentação em curso no Senado, entre líderes partidários, no sentido de avançar com propostas de emendas à Constituição que enderecem temas que estão sendo objeto de julgamento pelo STF. Como pano de fundo dessas articulações, anota o jornal, está a percepção de que o Judiciário está invadindo assuntos de competência do Legislativo. Nesse sentido, a primeira ofensiva vem na PEC apresentada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, definindo na Constituição que é crime o porte ou posse de qualquer droga ilícita, independentemente de sua quantidade - entendimento oposto ao que vem sendo indicado pelo STF em julgamento retomado há um mês, e que tende a descriminalizar o porte de maconha em pequenas quantidades. Segundo a reportagem, porém, os senadores também estão se movimentando para atuarem nessa mesma linha em relação ao imposto sindical e ao aborto. “Esses temas são muito caros aqui e a tendência é fazer algo parecido [com o caso das drogas]”, afirmou o senador Izalci Lucas (PSDB-DF).

Também na FOLHA, reportagem mostra que “tem enfrentado resistência de tribunais do país” a proposta de resolução do CNJ que determina a alternância de gênero no preenchimento de vagas de desembargadores nos tribunais. A proposta deverá ser analisada hoje, após ser pautada pela presidente do CNJ, Rosa Weber, que está próxima da aposentadoria. Essa alternância valeria para as promoções tanto pelo critério de antiguidade quanto pelo de merecimento, e passando a valer a partir de janeiro de 2024. A resolução proposta prevê que esse sistema seja mantido até que cada tribunal alcance proporção de pelo menos 40% de mulheres em sua composição. Conforme o jornal, há expectativa de que haja pedido de vista, dada a sensibilidade do tema. No entanto, também é possível que haja antecipação de votos dos demais conselheiros em caso de pedido de vista.

Também em relação à ministra Rosa Weber, os jornais informam que a presidente do STF atendeu a pedido do ministro Alexandre de Moraes e pautou para o próximo dia 26 o julgamento do quarto réu acusado de envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro. O acusado, nesse caso, será julgado no plenário virtual. Moacir José dos Santos, de 52 anos, é acusado de ser um dos executores dos ataques aos palácios. Ele é o primeiro réu a ser julgado que não se encontra preso. A análise do caso começa na quarta-feira da próxima semana, dia 26. 

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 Editorial Cultural FM Torres RS 21 de setembro 23

Lula surfa, o Brasil vai bem, mas o mundo nem tanto...

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Lula e Biden lançam Agenda pela defesa do trabalho digno

Também está no portal da RED o discurso de Lula na ONU. Acesse e ouça ou leia os dois. "O Brasil voltou!" https://red.org.br/noticia/assista-lula-e-biden-lancam-iniciativa-global-em-defesa-do-trabalho-digno/ 

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Quase nove meses do novo Governo e já se pode dizer que Lula III vai indo bem, obrigado. Em recente entrevista ao jornalista Breno Altman - POLÍTICA ECONÔMICA DE LULA AGRADA OS LIBERAIS? - SAMUEL PESSÔA - PROGRAMA 20 MINUTOS - YouTube, Samuel Pessoa, economista avesso `a esquerda, ativo membro da equipe econômica do ex Presidente Bolsonaro, reconheceu que as medidas do Ministro Haddad, a quem deu uma nota 9, mesmo com uma certa ‘inconsistência’ do Arcabouço Fiscal, estão corretas. Ao governo deu nota de aprovação 7,5. Com efeito, as últimas estimativas dão uma taxa do crescimento do 3,2% ao PIB deste ano, dez vezes superior à do começo do ano. O desemprego está caindo, os salários melhorando, a inflação sob controle e as vendas de fim de ano prometendo uma retomada aos melhores níveis de anos anteriores. Ou seja, é o Brasil voltando a crescer. Não obstante, o cenário externo não é nada promissor, mercê do aperto monetário frente ao recrudescimento da inflação, embora o anterior pessimismo quanto ao crescimento chinês tenha arrefecido. O PIB mundial (OCDE) deverá crescer apenas 3%, puxado pela economia da Índia 6,3%, da China 5,1%. Estados Unidos não vai muito bem – 2,2% e países europeus, nem isso. A Alemanha, aliás, que é o carro chefe da economia europeia está em recessão, isto é, com dois trimestres no negativo. Atrás dela prenuncia-se o pior para os demais países europeus

“Durante décadas a Alemanha foi a menina dos olhos da economia europeia. Seus pilares eram uma grande estabilidade monetária com um mínimo de inflação, juros baixos, um sistema de transporte muito eficiente, um padrão de consumo interno alto e estável, uma pauta de exportações e importações de alto padrão e last but not least, um equilíbrio político de espírito “conservador ilustrado” tido como inabalável, com a alternância ou combinação entre socialdemocratas (SPD), verdes (Bündnis 90/Die Grúnen) e as uniões cristãs, a social da Baviera (CSU) e a democrata (CDU) do resto do país, além da presença eventual do liberal FDP.

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Com tais predicados, o governo de Berlim tornou-se o fiel da balança da União Europeia e do continente como um todo, exercendo uma parceria sobretudo com Paris. ... Ela e Nicolas Sarkozy tiveram uma influência decisiva para impedir que o estilo histriônico do italiano Silvio Berlusconi se tornasse a marca principal da política europeia. Ao contrário, Angela Merkel transformou a austeridade – para além da fiscal – no brasão político mais importante da Europa no começo do século XXI. Ao mesmo tempo, a Alemanha tornou-se o carro-chefe da economia continental, graças à sua variada pauta de importações e exportações. 

Dos dez países que mais importam da Alemanha, oito são europeus: os outros dois são a China e os Estados Unidos. Os mesmos números e as duas exceções se repetem na coluna das exportações. A economia continental europeia está presa à alemã como um comboio na locomotiva, ou… um peixe no anzol.

De repente, não mais que de repente, este belo edifício mostrou frinchas e rachaduras nos alicerces, e hoje ameaça desequilibrar-se, arrastando o continente inteiro. A inflação subiu meteoricamente, de quase 0% para quase 10% ao ano, em média: no setor de alimentos, 20% e na energia, 40%. A demanda interna caiu, a externa adernou perigosamente com as oscilações da economia chinesa e a pressão protecionista dos Estados Unidos. A indústria alemã, carro-chefe das exportações e importações, sobretudo de veículos, autopeças e acessórios, de produtos farmacêuticos, artefatos elétricos, aviões e helicópteros, além de outros, entrou em depressão. No começo de 2023 o FMI previu uma retração de 0,1% na economia do país. Depois aumentou-a para 0,2% e agora a previsão está em 0,4% negativos. ”

Flávio Aguiar, in A recessão alemã. A guerra na Ucrânia se prolonga, e a recessão alemã veio para ficar, afetando o continente inteiro. 19 de setembro de 2023, - • https://www.brasil247.com/blog/a-recessao-alema  

A economia ocidental, portanto, paga um preço alto ao ser arrastada `a sustentação da política externa americana de sustentação da Ucrânia contra a invasão da Rússia, a qual, entretanto, vai se reacomodando com novas alianças com China, Irã e países árabes, os quais não estão nem aí para as sanções econômicas. 

O Brasil, entretanto, ao se equilibrar diante do conflito Ucrânia/Rússia, tem conseguido receber fertilizantes necessários ao novo boom do agrobusiness e superando, gradativamente os desequilíbrios provocados tanto pela pandemia, quanto pelos erros da administração federal passada. Prova-o o calor da recepção e os aplausos a Lula em seu pronunciamento na Assembleia Geral da ONU. O problema é que, como assinala o economista P. Patnaik, abaixo, como os países avançados estão sob uma crise sem precedentes, isso acabará impactando todo o Sul Global, inclusive o Brasil. Ou seja, nas palavras de Antonio Gutierres, Secretário Geral da ONU, que associa a crise às mudanças climáticas: “ A humanidade abriu as portas do inferno”.

Anexo

Os silêncios da Declaração de Deli por Prabhat Patnaik Com as economias dos países avançados a enfrentarem uma crise sem precedentes, o seu impacto também será enfrentado no Sul global = Publicado em 19/09/2023

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A reunião do G-20 em Deli ocorreu em meio a uma crise econômica aguda na economia mundial. O FMI espera que as economias capitalistas avançadas testemunhem uma desaceleração do crescimento de 2,7 por cento em 2022 para 1,3 por cento em 2023; de acordo com uma estimativa alternativa do FMI, o seu crescimento em 2023 poderá mesmo cair abaixo dos 1 por cento. Como é provável que a taxa de crescimento da produtividade do trabalho exceda este valor, isso significaria um aumento substancial do desemprego na metrópole. Isto seria agravado, especialmente no caso da UE, por um vasto afluxo de migrantes da Europa de Leste que já ocorre há algum tempo, e de refugiados da Ucrânia, que está a ser incitada a travar a guerra por procuração da Otan contra a Rússia.

 

A tendência em direção ao fascismo na Europa, que ultimamente ganhou um impulso considerável, receberá um impulso ainda maior com este crescimento do desemprego, o qual incentivará ainda mais a animosidade em relação aos imigrantes. O neonazi AfD na Alemanha já está a obter perto de 20 por cento dos votos e está preparada para fazer acordos a fim de chegar ao poder, pelo menos nos governos provinciais, com partidos que até agora o tinham evitado. Marine Le Pen, porta-estandarte do fascismo em França, está a ter um índice de aprovação maior do que Emmanuel Macron. A Itália já elegeu um governo fascista e a Espanha, que em geral se esperava que o fizesse, acaba de obter uma trégua temporária ao apresentar um resultado inconclusivo nas suas recentes eleições. Todos estes elementos receberão um novo impulso.

Com as economias dos países avançados a enfrentarem uma crise sem precedentes, o seu impacto também será enfrentado no Sul global, em termos de abrandamento do crescimento do PIB, de aumento do desemprego, de acentuação da crise da dívida e de fortalecimento da tendência para o fascismo. A Argentina está prestes a eleger um presidente empenhado em eliminar todas as despesas sociais; e esta tendência angustiante poderá muito bem propagar-se a países ainda não afetados.

Seria de esperar que a cimeira do G-20 realizada nesta circunstância tomasse alguma iniciativa quanto à superação da crise econômica, tal como o fez a reunião do G-20 realizada pouco após o colapso da bolha imobiliária dos EUA. Em particular, esperava-se alguma iniciativa em relação à dívida externa dos países do terceiro mundo, tendo em vista que a Índia projetava a sua liderança no G-20 como um desenvolvimento favorável para a causa do Sul global – e de alguns porta-vozes oficiais indianos sinalizarem a dívida do terceiro mundo como assunto a ser discutido.

Mas nada disso aconteceu. A declaração de Deli que emergiu da cimeira disse muito pouco sobre as questões económicas candentes do momento, embora, como os delegados chineses e russos sempre enfatizaram, o G-20 devesse preocupar-se mais com questões económicas do que com questões de segurança. Sem dúvida, a declaração efetuou uma mudança de posição em comparação com a declaração da cimeira anterior em Bali, na Indonésia, em relação à guerra na Ucrânia: se bem que a Rússia ali tivesse sido alvo de críticas explícitas naquele país, em Deli evitou-se escrupulosamente que qualquer atribuição de culpa fosse colocada à porta da Rússia. Mas o seu apelo à paz, embora louvável, terá muito pouco efeito.

Todas as iniciativas em prol da paz foram frustradas pelos países da Otan, que estão determinados a usar o povo ucraniano como carne de canhão na sua luta contra a Rússia: foram os EUA e a Grã-Bretanha que torpedearam o acordo de Minsk; os mesmos países também afundaram as negociações de paz logo após o início das operações militares russas; e ainda estão ocupados a incitar a Ucrânia a persistir na guerra. A guerra só terminará, portanto, quando a Otan estiver disposta a acabar com ela e a vontade da Otan não será influenciada nem um pouco pela declaração de Deli do G-20, apesar de terem condescendido com o fraseado que não lhes é muito favorável. A declaração contém parágrafos que exaltam a tolerância religiosa e o respeito pela diversidade; mas estes objetivos, certamente louváveis, têm pouco significado efetivo. Sendo Erdogan da Turquia e Modi da Índia signatários desta declaração, mesmo quando os seus países estão a mover-se precisamente na direção oposta com a conivência dos seus governos, tais frases só podem ser vistas como platitudes piedosas.

Não que as questões econômicas não figurem na declaração; mas fazem-no apenas em termos muito gerais. Não só não existe uma proposta específica, nem mesmo uma reunião internacional para discutir o alívio da dívida dos países pobres do terceiro mundo; mas, mesmo quanto a alcançar um crescimento econômico sustentado, nem um único pensamento parece ter sido apresentado sobre os meios para isso. Pode-se argumentar que uma declaração não é o lugar para propostas concretas; mas não há provas de qualquer discussão que tenha ocorrido na cimeira sobre estas candentes questões atuais.

Isto não deveria ser uma surpresa. O interesse esmagador do governo anfitrião na cimeira era dela obter o máximo de publicidade, o que conseguiu. Os países pobres, que são as principais vítimas da crise em curso porque são eles os esmagados pela “austeridade” imposta pelo FMI, não estiveram de todo representados na cimeira. E os países avançados nem mesmo admitem o facto da crise econômica, muito menos discutem propostas para a superar, embora os “economistas do establishment” individuais tenham atestado a sua existência. Em suma, a reunião do G-20 foi um espetáculo em que participaram diferentes países pelas suas razões particulares, mas que não estava muito preocupado em resolver os problemas que o mundo enfrenta.

Contudo, isto levanta a questão: porque é que os governos dos países avançados encaram a atual crise econômica com tanta tranquilidade? O desemprego numa era anterior fora uma questão de grande preocupação para os governos capitalistas, com John Maynard Keynes, um defensor confesso do capitalismo dizendo mesmo que “o mundo não tolerará por muito mais tempo o desemprego o qual está associado… ao individualismo capitalista dos dias de hoje”. . É claro que, na época anterior, o desemprego, que era sintoma de uma recessão, era acompanhado por uma perda de lucros, de modo que tanto os trabalhadores como os capitalistas sofriam com a crise da qual o desemprego era um sintoma. No capitalismo contemporâneo, contudo, esse não é mais o caso: a produção não é a única nem mesmo a principal fonte de lucros; as operações financeiras representam um segmento substancial dos lucros, de modo que mesmo quando a economia está em recessão, os lucros dos capitalistas mantêm-se bem. É verdade que nenhuma mais-valia é gerada nas operações financeiras, mas elas criam direitos sobre recursos, de modo que, mesmo quando a produção está estagnada, esses direitos sobre os ativos públicos, sobre os ativos dos pequenos capitalistas e sobre os recursos naturais podem continuar a crescer. Dito de outra forma, a mais-valia apropriada da produção é complementada no capitalismo contemporâneo pela aquisição direta de ativos pelas grandes corporações de outros capitalistas, do Estado e de setores até então não mercantilizados (o que constituiria exemplos de centralização ou acumulação primitiva de capital). Portanto, uma recessão per se importa menos para os interesses corporativos dominantes no capitalismo contemporâneo.

Mas e quanto à instabilidade social que se gera devido ao desemprego em massa e à miséria por ele criada? Temos de olhar para o contexto em que Keynes escreveu e ver a sua diferença em relação aos dias de hoje, a fim de compreender a tranquilidade dos Estados metropolitanos face à crise. Keynes escrevia tendo como pano de fundo a Revolução Bolchevique, quando o socialismo parecia não apenas uma possibilidade, mas uma perspectiva iminente. A menos que algo fosse feito imediatamente acerca do desemprego, o descontentamento dos trabalhadores traria a transcendência do capitalismo para a agenda. Infelizmente, isso não é mais o caso. Com o retrocesso do socialismo realmente existente, os governos capitalistas metropolitanos já não estão tão preocupados quanto às perspectivas de instabilidade social. É verdade que os países capitalistas avançados enfrentam um desafio à sua hegemonia, mas este desafio não tem a nítida agudez ideológica que tinha anteriormente; e qualquer ameaça que venha da classe trabalhadora pode ser reduzida pelo uso de elementos fascistas.

No entanto, eles estão vivendo em um paraíso dos tolos. Atualmente há enormes lutas grevistas dos trabalhadores nos países capitalistas avançados; e não esqueçamos que também a Revolução Bolchevique no seu tempo surgiu “do nada”. Fonte(s) / Referência(s): Resistir.info

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 Editorial Cultural FM Torres RS 19 de setembro 23

Defender e fortalecer a PETROBRAS como vetor do desenvolvimento nacional

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PETROBRÁS, a maior realização do trabalhismo no Brasil, criada por G.VARGAS - HISTORIA DA PETROBRÁS – Autor José Augusto Ribeiro, já está disponível em PDF e no formato e-book, inteiramente grátis, em seu site (aepet.org.br).

Vão destruir a PETROBRÁS??

Felipe Coutinho, engenheiro químico e vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras - AEPET, em artigo publicado ontem, abordando o recorde de exportação de petróleo cru no Brasil, afirma que Lula conduz o Brasil na rota colonial pavimentada por Temer e Bolsonaro.

SAIBA MAIS AQUI

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A onda privatizante que varreu o mundo sob a égide do CONSENSO DE WASHINGTON de 1989 e que sobrevive teimosamente na cabeça dura de muitos economistas, comentaristas da Mídia Corporativa e governantes, como nosso governador Eduardo Leite já fez água até mesmo junto a instituições financeiras internacionais. Em vários países europeus está havendo, agora, uma desprivatização de empresas de serviços públicos como fornecimento de água e saneamento e , em alguns, casos de transporte público, à vista da introdução da tarifa zero como mecanismo de indução ao uso do transporte público. Alimentada aqui no Brasil pela Lavajato, que concentrou sua ação sobre a PETROBRAS, acabou comprometendo o elevado papel que esta empresa tem, pelo seu tamanho, nos investimentos públicos. A adoção depois do golpe contra Dilma, em 2016, a levou, inclusive, a privilegiar os interesses dos acionistas com a política de alinhamento aos preços internacionais do petróleo e desmonte de sua vigorosa estrutura corporativa. Com a eleição de Lula III e sua determinação em fortalecer a economia nacional com o incentivo á reindustrialização, embora pautada por critérios ambientais, a PETROBRÁS deve revisar toda a sua política de preços e investimentos de forma a recuperar papel estratégico nesta retomada. O ideal seria revisar a decisão que a converteu numa S.A. com ações na Bolsa do país e do exterior, o que a submete á legislação específica de proteção de pequenos acionistas, dificultando seu uso como instrumento decisivo a Política de Desenvolvimento Nacional. Isso implicaria na recompra de ações já distribuídas, num processo oneroso e praticamente inviável. Isso posto, trata-se de recuperar a estrutura horizontal que dava maior envergadura à empresa com internacionalização de economias que reverteriam na sua maior capacidade de investimento. Afinal, estamos falando da maior empresa do Brasil. Além disso, na empresa produtora de energia, vetor indispensável à afirmação da soberania de um país e vital ao aprofundamento do processo industrial. Vide, por exemplo, o que ocorreu no período 75-79, quando o então Presidente Geisel impulsionou a química fina e petroquímica com eixo na PETROBRÁS. Recompor, portanto, o amplo espectro da PETROBRÁS é um clamor de todo brasileiro, começando pela recomposição de sua frota, tal como propõe o artigo abaixo.

ANEXO:

Afretamento ou unidades próprias? A importância de retomar o papel estratégico da Petrobrás no desenvolvimento do Brasil. Precisamos rever as estratégias de priorizar o afretamento das unidades marítimas, sejam de produção ou de apoio, bem como de construí-las majoritariamente fora do Brasil, gerando empregos em outros países. Podemos e devemos fazer muito mais.

Publicado em 18/09/2023 = TelegramWhatsAppTwitterFacebookLinkedInEmail

Rosagela Buzanelli Torres- Rosangela Buzanelli Torres é engenheira geóloga formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). É a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás

O custo do petróleo e gás que são extraídos nas plataformas operadas pela própria Petrobrás, na Bacia de Campos, é mais baixo do que o da maioria das unidades afretadas, cujos serviços são terceirizados pela companhia. A informação faz parte de um levantamento realizado pelo Dieese e sua conclusão é que o afretamento não se justifica, nem mesmo sob o ponto de vista meramente econômico.

O levantamento foi solicitado pelo Sindipetro Norte Fluminense e comparou os gastos de produção nas plataformas próprias e contratadas no primeiro semestre deste ano. As unidades terceirizadas apresentaram custo maior do que o da Petrobrás em dois de três níveis de profundidade das áreas de exploração e custo igual em um terceiro nível.

O Dieese constatou que o custo médio de extração de cada barril de óleo equivalente (boe) em águas rasas foi o mesmo, de US$ 15,21, tanto nas plataformas próprias da companhia quanto nas terceirizadas. Quando avaliado o pós-sal profundo e ultra profundo, o gasto das unidades contratadas é 14,46% mais caro. O boe extraído pela Petrobrás custa US$ 12,93 e nas afretadas o valor sobe para US$ 14,80.

A diferença ganha proporção muito relevante nas reservas do pré-sal. Enquanto na operação própria da companhia o custo é de US$ 3,72 por barril, nas plataformas afretadas é de US$ 5,66, um aumento de mais de 52%.

Esses dados nos fazem refletir sobre a propalada economicidade da terceirização via afretamento. Mas essa questão vai muito além do fator econômico, como destacou o sindicato. É um tema que envolve geração e qualidade de emprego, desenvolvimento econômico e soberania nacional.

Durante muitos anos a Petrobrás manteve suas plataformas próprias, com seus trabalhadores bem treinados e preparados para operar com técnica, segurança e respeito ao meio ambiente em alto mar. As políticas de conteúdo local foram implementadas e incrementadas, gerando milhões de empregos e desenvolvendo a engenharia e indústria nacionais.

Com a operação Lava Jato, já pública e fartamente desmistificada, a situação mudou brutalmente. As empresas foram punidas e, com elas, seus trabalhadores, desempregando mais de 4 milhões de pessoas, destruindo a engenharia e indústria pesada. E esse cenário se aprofundou nos governos pós golpe.

No mês passado, a Petrobrás lançou um edital de afretamento de plataforma FPSO para revitalização dos campos de Barracuda e Caratinga, estabelecendo apenas 10% de conteúdo local e sem obrigatoriedade de cumprimento da determinação. Ou seja, o mesmo que conteúdo zero! Ainda que esse campo esteja no contexto da rodada zero de licitações e não haja obrigação de conteúdo local, realmente devemos nos limitar a isso?

O Brasil tem pressa. Aprovamos outro projeto de país e “a chave precisa virar” em todas as instâncias governamentais que regulam esse setor, retomando as políticas de conteúdo local. A Petrobrás e sua nova gestão não podem e não devem se limitar ao mínimo. Precisamos arrojar e implementar o máximo possível dessas políticas para reconstruirmos a Petrobrás e o Brasil. A parca exigência vigente não pode ser a desculpa para não avançarmos, muito menos para nos limitarmos ao mínimo ou zero.

Precisamos rever as estratégias de priorizar o afretamento das unidades marítimas, sejam de produção ou de apoio, bem como de construí-las majoritariamente fora do Brasil, gerando empregos em outros países. Podemos e devemos fazer muito mais.


 Editorial Cultural FM Torres RS dia 18 setembro 

Lula abre amanhã em N.Y. a Assembleia Geral da ONU, verdadeira plataforma da comunidade internacional

O Presidente Lula segue em sua Agenda Internacional com vistas a recolocar o Brasil no papel que lhe corresponde tanto pelo tamanho de sua população e economia, como pela tradição de resolução de conflitos pela via diplomática. Em Cuba participou da Reunião do Grupo dos 77, quando condenou o embargo àquele país, e teve encontro com o Presidente Miguel Diaz-Canel. O Grupo dos 77 nas Nações Unidas é uma coalizão de nações em desenvolvimento, que visa promover os interesses econômicos coletivos de seus membros e criar uma maior capacidade de negociação conjunta na Organização das Nações Unida. 

Na pauta com o diritente cubano, a promoção do comércio, cooperação técnica em setores como saúde e o pagamento da dívida de US$ 500 milhões que Cuba tem com o Brasil.

 Em NY Lula deverá ter vários encontros bilaterais com lideranças mundiais. Já abriu dois espaços para encontro com o Presidente da Ucrânia e deverá ter reunião com o Presidente Biden para tratar de dois assuntos: Meio Ambiente e Programa Mundial de Combate à Pobreza. A ONU, criada depois da II Guerra - 24 de outubro de 1945= é bem vista pela maioria dos brasileiros tem hoje 193 países membros que, em conjunto, definem a COMUNIDADE INTERNACIONAL, é um organismo multilateral voltado à promoção da paz no mundo, ao desenvolvimento com sustentabilidade de todas as nações e à defesa dos Direitos Humanos num conjunto de 274 atividades ao redor do mundo. É dirigida por um Secretário Geral, o português Antonio Gutierres e dispõe de um corpo técnico de alta qualificação, além de órgãos de pesquisa, educação e comunicação social. Tem dois Tribunais de Justiça. Um geral, que tratas do contenciosos entre nações, denominado Corte Internacional de Justiça e outro, mais restrito e não reconhecidos por todos os países membros, o Tribunal Penal Internacional, ao qual qualquer indivíduo ou associação podem recorrer diretamente, voltado à defesa dos Direitos Humanos e trata, particularmente, casos de genocídio. A ele recorreram algumas entidades brasileiras contra o ex Presidente Bolsonaro. Este Tribunal também condenou recentemente o Presidente Putin , da Rússia, por crimes de guerra. 

Anexo 

ONU - https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/onu.htm

A ONU é a mais importante dentre as organizações internacionais atualmente existentes, sendo responsável por atuar na diplomacia, segurança e paz mundiais.

A ONU, Organização das Nações Unidas, é uma entidade internacional com sede na cidade de Nova York e composta por 193 países-membros, dos quais 51 fizeram parte de sua fundação (entre eles, o Brasil). Essa entidade foi fundada em 24 de outubro de 1945, logo após o término da 2º Guerra Mundial (1939-1945) em substituição à antiga Liga das Nações.

Os objetivos da ONU giram em torno da promoção da paz entre as nações, além de deliberar sobre questões concernentes à segurança, diplomacia e cooperação internacionais, atuando em processos de negociações de paz ou na atenuação dos efeitos de conflitos armados em qualquer parte do mundo.

Os dois principais órgãos que estruturam a Organização das Nações Unidas são a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança, que são as instâncias máximas decisórias desse organismo internacional. A Assembleia Geral é composta por todos os países-membros da ONU, que debatem e deliberam sobre os mais diversos temas internacionais, como ajudas, cooperações e ações diplomáticas, de modo que cada Estado possui um voto. Para aprovação, as decisões precisam ser deliberadas por maioria qualificada de dois terços dos votantes.

No entanto, a Assembleia Geral encontra-se, de certo modo, subalternizada perante o Conselho de Segurança. Este é composto por apenas cinco países permanentes (Estados Unidos, China, França, Inglaterra e Rússia) e dez rotativos, além de possuir o poder de deliberar sobre questões referentes à segurança e questões de paz, temas os quais a Assembleia Geral possui apenas o poder de realizar recomendações.

Os membros rotativos são eleitos pela própria Assembleia, mas esses não possuem o poder de veto sobre qualquer decisão tomada, privilégio exclusivo dos membros permanentes. Para aprovação de qualquer determinação, é preciso um mínimo de nove votos e nenhum veto, o que evidencia a polêmica sobre as correlações de forças dentro da ONU, uma vez que ela concede maior poder a um número pequeno de países, justamente aqueles que saíram vitoriosos da 2ª Guerra Mundial somados à China, que adquiriu um crescente papel geopolítico ao longo da Guerra Fria.

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Além dessas duas estruturas, ainda compõem a ONU: o Conselho de Direitos Humanos, responsável por fiscalizar e apontar eventuais violações aos direitos humanos e liberdades individuais; o Comitê Econômico Social, que visa promover e ampliar a cooperação socioeconômica em nível mundial; o Secretariado, que administra a instituição e organiza as suas atividades; e a Corte Internacional de Justiça, com sede na cidade de Haia, na Holanda (e por isso também conhecida como Tribunal de Haia), que julga crimes de guerra e violações de países em disputas legais.

Para complementar a ação dessas estruturas, a ONU ainda conta com uma série de projetos e agências com funções específicas, como a Unicef (Fundo das Nações Unidas para Infância), a FAO (Organização para a Agricultura e Alimentação), a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).

Do ponto de vista financeiro, a ONU é custeada pelos seus países-membros em uma tabela de colaboração estruturada a partir do Produto Interno Bruto de cada Estado. Dessa forma, Estados Unidos, Alemanha, Japão e Inglaterra, juntos, contribuem com quase 60% do orçamento da entidade.

A grande reverência que se faz à Organização das Nações Unidas, atualmente, é o fato de ela ter sido capaz de angariar praticamente todos os Estados do mundo e ter conseguido evitar ou diminuir as possibilidades de uma guerra mundial, ou seja, um conflito armado envolvendo as grandes potências militares e econômicas do mundo, ao contrário do que aconteceu com a Liga das Nações. Por outro lado, as críticas direcionadas à ONU referem-se à sua incapacidade de controlar conflitos armados em inúmeras partes no mundo, como na África e na Ásia, além de ter sido subserviente aos Estados Unidos em ocasiões como a Guerra do Iraque, em que os norte-americanos, mesmo sem a aprovação da entidade, atacaram o território iraquiano e não foram punidos ou sequer sofreram qualquer tipo de advertência por parte da entidade.

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Anexo 2

Luiz Carlos Azedo - A cortina que encobre a viagem de Lula a Cuba

O embargo americano proíbe operações em qualquer porto nos EUA, por seis meses, de navios que atracarem em Cuba e promove retaliações financeiras às empresas que se instalam na ilha - Correio Braziliense = https://gilvanmelo.blogspot.com/.../luiz-carlos-azedo...

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, na cúpula do G77 China, em Cuba, voltou a pedir que países em desenvolvimento tenham financiamento para transição energética. O petista defendeu que este grupo “não tem a mesma dívida histórica dos ricos”. Para Lula, o financiamento climático deve ser assegurado aos países em desenvolvimento “segundo suas necessidades”. Defendeu a “industrialização sustentável” e lembrou que os países ricos têm uma “dívida histórica” pelo aquecimento global.

Lula assumirá a presidência do G20 no ano que vem e pretende propor a criação de um Grupo de Trabalho em Ciência, Tecnologia e Inovação voltado para os países em desenvolvimento. A visita de Lula ocorre às vésperas de sua viagem aos Estados Unidos, para abertura da Assembleia Geral da ONU, na qual se encontrará com o presidente norte-americano, Joe Biden, e terá uma nova oportunidade de se reunir com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, mas isso não consta de sua agenda.

Projetado para navios do tipo New Panamax, que transportam até 12,5 mil contêineres de 6 metros de comprimento por viagem, o Porto de Mariel nunca recebeu uma dessas embarcações. Criada nos moldes das Zonas Econômicas Especiais da China, as ZEEs, a zona de Mariel prevê incentivos fiscais, como impostos zerados sobre mão de obra e sobre a produção nos dez primeiros anos, facilidades de infraestrutura, como o fornecimento de água e energia, e acesso fácil aos mercados do Caribe.

Mas essa estratégia não deu certo. Foi concebida para um futuro diferente do mundo atual, em que os Estados Unidos e a China estão em uma guerra comercial. Em 2016, havia centenas de empresas interessadas em se instalar em Cuba, graças à sinalização de novas relações entre os Estados Unidos e Cuba, após o ex-presidente Barack Obama autorizar a instalação em Mariel de uma fábrica de tratores. Mas Donald Trump ganhou as eleições e o bloqueio econômico dos Estados Unidos recrudesceu.

Reescalonamento da dívida

No Brasil, o governo Bolsonaro só faltou romper as relações diplomáticas com Cuba. Desde o segundo semestre de 2018, Cuba não paga as parcelas dos financiamentos assinados em 2009 e 2013. A dívida atualizada de Cuba com o banco chega a US$ 520 milhões, ou seja, cerca R$ 2,5 bilhões. O embargo americano proíbe operações em qualquer porto nos EUA por seis meses de navios que atracarem em Cuba e promove retaliações comerciais e financeiras às empresas que se instalam na ilha.

No encontro de Lula com o presidente cubano, Miguel Diaz-Canel, a renegociação da dívida com o BNDES é a pauta principal. O governo brasileiro fala em “reescalonamento” para adequar o regime de pagamento a algo que Cuba possa cumprir. A ilha vive uma crise continuada, desde o fim da União Soviética. Recebe alguma ajuda da Rússia e da China, mas sofre com a redução dos turistas e a guerra da Ucrânia.

Quando Miguel de Cervantes mandou Dom Quixote viajar, rasgou a cortina mágica, tecida de lendas, que estava suspensa diante do mundo. A vida surgiu nua e cômica na sua prosa. “O mundo, quando corre em nossa direção no momento em que nascemos, já está maquiado, mascarado, pré-interpretado. E os conformistas não serão os únicos a ser enganados; os seres rebeldes, ávidos de se opor a tudo e a todos, não se dão conta do quanto também estão sendo obedientes, não se revoltarão a não ser contra o que interpretado (pré-interpretado) como digno de revolta”, lembra o escritor tcheco Milan Kundera (A Cortina, Companhia das Letras).

A ideia do “homem novo”, da qual tanto se jactavam os dirigentes cubanos, fora sufocada pelo anacronismo do “modelo soviético”, apesar da alegria e criatividade do povo. Havia expectativa de que a sucessão de Fidel traria mudanças, ma Raúl Castro fez tímidas aberturas, insuficientes para que o país seguisse o modelo adotado, por exemplo, pelo Vietnã. Mas Cuba está para os Estados Unidos como Taiwan para a China. A diferença é que o mais sofisticado e competitivo produto cubano é charuto artesanal da Cohiba, os melhores do mundo, enquanto o da ilha rebelde chinesa são os chips da TSMC, que também dominam o mercado mundial. A razão é política.


Editorial Cultural 15-09-2023

 A Lei é dura, mas é a Lei

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A tentativa de golpe de 8 de janeiro avalizou a ação do Supremo e o transformou, tendo Moraes como figura simbólica do justiceiro da lei, na instituição que mais protegeu a democracia nestes últimos tempos

Merval Pereira - Os limites da lei 

Democracia Política e novo Reformismo: Merval Pereira - Os limites da lei (gilvanmelo.blogspot.com) 

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A condenação, ontem, pelo STF, dos três primeiros réus do 8 de janeiro tem várias interpretações.

Em primeiro lugar a velha advertência de que se a Lei é dura, ela é a Lei. A ninguém, inclusive, é lícito alegar, quando acusado, que desconhecia a Lei ou que, como alegou, ontem, a advogada de um dos acusados, quase em lágrimas, que seu cliente era quase um menino levado inconscientemente pelos acontecimentos. A multidão, pois somaram a milhares, dos protagonistas do quebra-quebra em Brasília, mais de mil deles presos e acusados por até 5 crimes, agora começa a pagar pela suas escolhas. Não gostaram do resultado das urnas e saíram das suas casas acreditando-se heróis da pátria quando, na verdade, operaram como instrumentos de uma tentativa de golpe de Estado. Começam a pagar por estas escolhas. As primeiras sentenças dão uma espécie de arcabouço jurisprudencial do que serão os demais processos.

Em segundo lugar, o processo e respectivas sentenças condenatórias, como assinalou o Ministro Barroso, constitui um marco histórico-civilizatório em nossa trajetória política. Marca a superação do Poder Moderador, usado e abusado no Império, pelos Imperadores no período de mando que lhes correspondeu, de 1822 até 1889, e depois desta data, até a promulgação da CONSTITUIÇÃO de 88, substituído pelas Forças Armadas, no contexto de uma sociedade em formação ainda pouco amadurecida institucionalmente. Hoje percebemos que a Sociedade Organizada conseguiu resistir à ofensiva golpista, cevada pelo apoio ostensivo de militares a Bolsonaro em 2018 e desenvolvida ininterruptamente até os fatos do 8 de janeiro deste ano. Daí que a punição dos golpistas, conscientes ou não de suas ações, naqueles nefastos acontecimentos seja o marco de um novo tempo para nossa frágil democracia. 

Finalmente, os dois votos contrários à maioria na Suprema Corte que condenou os três primeiros acusados por 5 crimes, mais ou menos conexos, demonstra que a sombra do autoritarismo persiste entre nós, como herança de um governo que tentou nos remeter ao passado. Vivemos um período de afirmação dos princípios republicanos e democráticos mas no qual ainda fermentam concepções regressistas com amparo em torno de 25% do eleitorado, nada desprezível. Não se trata aqui de esquerda x direita, divisão inevitável e irrecorrível das sociedades modernas, mas de uma tendência reveladora da capacidade da extrema direita, tal como fez no passado com Hitler e Mussolini, para capitalizar os ressentimentos negativos de parte da população diante dos desafios desta própria modernidade, no nosso caso marcada por forte dependência externa e injustificável injustiça social, particularmente com a Abolição mitigada da escravatura, para aventuras personalistas. Volto aqui a recomendar o livro OS ENGENHEIROS DO CAOS como evidência da mecânica deste processo hoje intercorrente em várias partes do mundo, com o uso e abuso das Redes Sociais. 

Com o tempo seremos, certamente, capazes de avaliar mais interpretações das sentenças destes três primeiros réus e que nos ajudarão, por certo, a afirmar o caminho da democracia-entre-nós como o melhor meio de administrar política e civilizadamente nossas divergências. 

Alea jacta est...


 Editorial Cultural FM Torres RS dia 14 setembro 

Pela primeira vez na história, Suprema Corte brasileira julga civis por tentativa de golpe de Estado- https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/09/13/pela-primeira-vez-na-historia-suprema-corte-brasileira-julga-civis-por-tentativa-de-golpe-de-estado-veja-quem-sao.ghtml

O Supremo Tribunal Federal começa a julgar nesta quarta (13) as primeiras ações penais contra acusados de participar dos atos golpistas de 8 de janeiro.

Em um julgamento já considerado histórico, magistrados se reúnem presencialmente no mesmo plenário que, no início do ano, foi invadido e vandalizado por bolsonaristas que pediam intervenção militar.

Esta é a primeira vez em que a corte brasileira julga civis por tentativa de golpe de Estado.

PF reuniu imagens, celulares e banco genético de réus do 8 de janeiro

Em entrevista a Natuza Nery, a professora de Direito da FGV-SP Eloisa Machado aponta os detalhes que mostram o caráter simbólico do julgamento. Machado diz que a própria escolha do Supremo pelo plenário físico, ao invés do virtual, mostra que os magistrados querem dar um tipo de recado público em relação às práticas de crimes contra a democracia.

"Nós tivemos a ditadura militar e a violação de direitos humanos condenadas em tribunais internacionais", explica Eloisa. "Mas nós não tivemos a oportunidade de trazer a devida reparação judicial para as vítimas e as instituições no nosso sistema de justiça em razão da Lei de Anistia."

No decorrer das investigações, também devem ser julgados financiadores da tentativa de golpe, executores e seus autores e intelectuais. Há uma linha de investigação que explora eventuais crimes cometidos por militares na invasão dos prédios públicos em 8 de janeiro.

"A gente vai colocar em movimento e em interpretação uma legislação nova sobre a proteção das instituições democráticas, que substitui o entulho autoritário da Lei de Segurança Nacional e que se mostrou muito oportuna, porque os desafios vieram muito rapidamente."

As denúncias citam crimes que foram estabelecidos a partir de uma norma de 2021, que reformulou a Lei de Segurança Nacional.

Leia também:

• Projeto de lei prevê pena de até 40 anos para quem atentar contra a vida de autoridades

Quem são os réus e quais acusações enfrentam?

Entre mais de 1.300 suspeitos denunciados pela PGR, os quatro primeiro acusados julgados pelo Supremo são:

• Aécio Lucio Costa Pereira;

• Thiago de Assis Mathar;

• Moacir José dos Santos;

• e Matheus Lima Lazaro

  As acusações são:

• associação criminosa armada (pena de um a três anos de prisão, mas o MP propõe a aplicação do aumento de pena até a metade, previsto na legislação, por haver o emprego de armas);

• abolição violenta do Estado Democrático de Direito (pena de 4 a 8 anos de prisão);

• golpe de Estado (pena de 4 a 12 anos de prisão);

• dano qualificado (pena de seis meses a 3 anos de prisão) ;

• e deterioração de patrimônio tombado ( pena de um a três anos de prisão).



 Editorial Cultural FM Torres RS 13 de setembro 23

O caso Ana Moser.

Toda solidariedade a Ana Moser. Ela é uma pessoa fantástica, com clara inclinação à esquerda, linha ideológica hegemônica do Governo Lula, ligada a todo universo do Esporte e vinha fazendo um trabalho exemplar na pasta. Foi substituída por um deputado do Centrão, com o que o Presidente Lula alcança 39 Ministérios e tenta gerenciar 16 Partidos Políticos dentro do seu Governo, sem perder um mínimo de identidade programática interna e tratando de assegurar não só governabilidade a seu próprio mandato mas, sobretudo, estabilidade à conjuntura. Tudo indica que está conseguindo tudo isso, deixando-nos, porém, o travo amargo de saída de uma extraordinária mulher em sua equipe. Talvez, nos próximos dias ainda tenhamos que testemunhar a perda de mais um lugar feminino na alta cúpula dos Poderes. Já ninguém duvida que a vaga de Rosa Weber no STF será ocupada por um homem. 

 Mas deve-se compreender, diante disso, que Política de Estado, se faz no espaço próprio da Política, por políticos, através dos Partidos. Se v. não gosta dos políticos e dos Partidos, paciência, é um direito seu. Ainda assim, poderá participar da vida pública numa ONG, numa Associação de Pais e Mestres da Escola dos filhos ou, como eleitor, dos Conselhos Municipais que acompanham a vida das Administrações Municipais. Ou faça trabalho voluntário. Mas saiba que estas alternativas não o credenciam para a vida política institucional. Este, organizado pelo Estado em relativa oposição `a Sociedade Civil, não é, sequer, um campo de méritos pessoais, mas de disputa eminentemente política, mesmo quando sejam exigidos requisitos técnicos, como o preenchimento de vagas nas Cortes de Justiça. Não há concurso para alguém se tornar Ministro de Estado ou das Cortes Superiores de Justiça. Gostemos ou não estas são as regras. Hoje, aliás, a extrema direita se compraz em denunciar tudo isso apelando diretamente às massas, em busca de uma representação primordial direta, dita DEMOCRACIA DIGITAL, mas o faz com uma intervenção arbitrária nas Redes, no fundo, comandada, como explica o livro ENGENHEIROS DO CAOS, por pequenos grupos de interesse. Modelo muito mais autoritário e menos recomendável do que os sistemas parlamentares existentes. Claro que há sempre espaços na gerência governamental para celebridades ou especialistas, mas essa não é a regra. É exceção, sempre dependente das condições políticas subjacentes. Maior preocupação deveríamos ter, nestes dias, com a tramitação de novas regras eleitorais no Congresso. Na sombra da delação premiada do Ajudante de Ordens de Bolsonaro, urdem os parlamentares um retrocesso inominável na questão eleitoral. Além de anistiar os Partidos por malfeitos em eleições passadas, quando semearam laranjais de falsos candidatos com o mero intuito de trapacear a cota de candidatos, o novo regramento aponta para a eternização dos atuais ocupantes de mandatos numa estranha e pouco recomendável aliança da esquerda, direita e Centrão. Aqui, portanto, o registro tanto pela saída de Ana Moser, mas, principalmente de um cenário que vai congelando o perverso perfil identitário das funções públicas no Brasil: Homens brancos heterossexuais. 

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 Editorial Cultural FM Torres RS 12 de setembro 23

“Vivemos sob a forma de governo que não se baseia nas instituições de nossos vizinhos; ao contrário, servimos de modelo a alguns ao invés de imitar os outros. Seu nome, como tudo o que depende não de poucos mas da maioria, é democracia”Péricles, Oração fúnebre, in Tucidides: A Guerra do Peloponeso, Livro II, 37. ”

 Longo, mas não deixem de assistir e divulgar 

                                                 *

Vi, semana passado, um breve mas acurado documentário sobre a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2022, ante-sala do que veríamos em Brasília um ano depois. Muito esclarecedor, sobretudo ao assinalar que vários dos líderes do movimento, os Proud Boys, de extrema direita, estão sendo condenados a severas penas. Coincidindo com isto, li também, o livro OS ENGENHEIROS DO CAOS, de autoria de dois italianos, que recomendo. Ali os autores descrevem com riqueza de detalhes a manipulação digital dos ressentimentos sociais contemporâneos por seleto grupos de extrema direita. Com isso cai por terra o mito da democracia digital, apregoado no início da INTERNET como um avanço no processo de consulta popular para o aperfeiçoamento da democracia.

A democracia virtual é mais comumente compreendida em sua interface relativa à interação entre sistema político e cidadãos, seja por meio da participação direta, seja pelo estímulo à realização de debates entre o governo e a população através da internet. 

Ver Democracia Digital – Experiências - Daniel Pitangueira de Avelino João Cláudio Pompeu Igor Ferraz da Fonseca - https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/10440/1/td_2624.pdf 

e Democracia Digital mudou a forma política ESP - https://www.estadao.com.br/politica/jornadas-junho-2013-10-anos-era-digital-mudou-a-forma-de-participacao-politica-flavia-pellegrino/ 

Por trás da "espontaneidade" das massas, seja no episódio do Capitólio, como também no Brasil no 8 de janeiro deste ano, revelam-se farsas. Enraivecidas pelo ressentimento contra as mazelas de uma modernidade cínica, autoritária e excludente o que percebemos é que Senhores desta própria modernidade manipulam estas massas a seu favor , contra o pensamento, movimentos sociais e respectivos Partidos verdadeiramente críticos do stablishment e até instituições republicanas. A proclamada democracia digital instaurada pelas Redes Sociais na Internet, pela qual todo mundo se manifesta, sem os rigores da civilidade, vai, paulatinamente, se revelando como uma perigosa armadilha à democracia. Na verdade, como assinala o Sociólogo português Boaventura de Souza Santos, como isso, a democracia como sistema político vai perdendo a luta contra a própria dominação capitalista.


 Editorial Cultural FM Torres RS 11 de setembro 23

“Vivemos sob a forma de governo que não se baseia nas instituições de nossos vizinhos; ao contrário, servimos de modelo a alguns ao invés de imitar os outros. Seu nome, como tudo o que depende não de poucos mas da maioria, é democracia”Péricles, Oração fúnebre, in Tucidides: A Guerra do Peloponeso, Livro II, 37. ”

 Longo, mas não deixem de assistir e divulgar 

                                                 *

Vi, semana passado, um breve mas acurado documentário sobre a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2022, ante-sala do que veríamos em Brasília um ano depois. Muito esclarecedor, sobretudo ao assinalar que vários dos líderes do movimento, os Proud Boys, de extrema direita, estão sendo condenados a severas penas. Coincidindo com isto, li também, o livro OS ENGENHEIROS DO CAOS, de autoria de dois italianos, que recomendo. Ali os autores descrevem com riqueza de detalhes a manipulação digital dos ressentimentos sociais contemporâneos por seleto grupos de extrema direita. Com isso cai por terra o mito da democracia digital, apregoado no início da INTERNET como um avanço no processo de consulta popular para o aperfeiçoamento da democracia.

A democracia virtual é mais comumente compreendida em sua interface relativa à interação entre sistema político e cidadãos, seja por meio da participação direta, seja pelo estímulo à realização de debates entre o governo e a população através da internet. 

Ver Democracia Digital – Experiências - Daniel Pitangueira de Avelino João Cláudio Pompeu Igor Ferraz da Fonseca - https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/10440/1/td_2624.pdf 

e Democracia Digital mudou a forma política ESP - https://www.estadao.com.br/politica/jornadas-junho-2013-10-anos-era-digital-mudou-a-forma-de-participacao-politica-flavia-pellegrino/ 

Por trás da "espontaneidade" das massas, seja no episódio do Capitólio, como também no Brasil no 8 de janeiro deste ano, revelam-se farsas. Enraivecidas pelo ressentimento contra as mazelas de uma modernidade cínica, autoritária e excludente o que percebemos é que Senhores desta própria modernidade manipulam estas massas a seu favor , contra o pensamento, movimentos sociais e respectivos Partidos verdadeiramente críticos do stablishment e até instituições republicanas. A proclamada democracia digital instaurada pelas Redes Sociais na Internet, pela qual todo mundo se manifesta, sem os rigores da civilidade, vai, paulatinamente, se revelando como uma perigosa armadilha à democracia. Na verdade, como assinala o Sociólogo português Boaventura de Souza Santos, como isso, a democracia como sistema político vai perdendo a luta contra a própria dominação capitalista.


 Editorial Cultural FM Torres RS 11 de setembro 23

O Assunto g1 dia Mulheres no degrau debaixo do funcionalismo

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/09/11/o-assunto-1042-mulheres-no-degrau-debaixo-do-funcionalismo.ghtml   

As mulheres são 51% da população brasileira e também são maioria entre os servidores públicos civis (61%), segundo dados da República.org, mas a proporção se inverte nos cargos de poder – neles, os homens ocupam 61% das posições. O cenário de desigualdade está disseminado pelo serviço público. Das 213 unidades diplomáticas do Brasil pelo mundo, as mulheres ocupam cargos de chefia em apenas 34, de acordo com o Itamaraty. Para entender por que a disparidade ainda persiste e discutir possíveis soluções, Natuza Nery recebe Irene Vida Gala, subchefe do escritório de representação do Itamaraty em São Paulo e presidente da Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras, e Gabriela Lotta, doutora em ciência política, professora da FGV, vice-presidente do conselho da República.org, uma organização que atua na valorização do serviço público. Neste episódio:

Irene diz que a carreira diplomática tem histórico de ser mais masculina e que, aqui no Brasil, isso tem mudado a passos lentos. Por isso, ela e outras diplomatas decidiram criar uma associação para aumentar a representatividade

Para Irene, o Brasil precisa incluir no serviço diplomático mais mulheres, negros, indígenas e todos os grupos não privilegiados, para que a política externa brasileira atenda aos anseios desta população, e não apenas aos anseios de uma elite branca e masculina

Gabriela fala sobre os fatores que explicam a desigualdade vertical nas carreiras de estado. Segundo ela, a discriminação de gênero faz com que as nomeações para cargos comissionados continuem privilegiando homens: "A rede do poder é muito masculina. Homens indicam homens, e isso vai descendo escada abaixo dentro setor público". A mulheres que são mães também são mais penalizadas e preteridas nas indicações

A cientista política também explica por que a desigualdade salarial entre homens e mulheres no serviço público é ainda maior do que no setor privado. "As mulheres estão majoritariamente nas profissões do cuidado, que são as profissões que pagam menos durante toda a carreira."

O que você precisa saber:

O Assunto #915: O déficit de mulheres na política

Brasil avança devagar na redução da desigualdade de gênero

No Brasil, 84,5% das pessoas têm pelo menos um tipo de preconceito contra mulheres, diz ONU

Mesmo salário para homens e mulheres? Por que leis para corrigir desigualdade não 'vingaram' no Brasil

Judiciário ainda é 'impermeável' à igualdade de gênero, diz Cármen Lúcia

O podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Lorena Lara, Gabriel de Campos, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski, Eto Osclighter e Nayara Fernandes. Apresentação: Natuza Nery.


 Editorial Cultural FM Torres RS 08 de setembro 23

Luiz Carlos Azedo - O mito da Independência como ato heroico de D. Pedro I gilvan melo- blogspot - Luiz Carlos Azedo

Lula participa de desfile do 7 de Setembro com Zé Gotinha e pose com chefes das Forças Armadas. = Presidente chegou em carro aberto com a primeira-dama, Janja; governo busca mensagem de união e fim do ódio. Desfile teve temas como paz, vacinação, ciência e defesa da Amazônia.

https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/09/07/lula-participa-de-desfile-do-7-de-setembro-em-brasilia.ghtml  

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 Lula é de esquerda ou a esquerda é Lula?

O desfile, ontem, em Brasília, do 7 de setembro, que confirmou a união cívica dos poderes da República, aos quais se perfilaram as Forças Armadas através de seus Comandantes e do Ministro da Defesa, culminando no cruzamento de mãos ao final da cerimônia é um alívio nacional. O protagonismo do Zé Gotinha deu o ar da graça ao acontecimento, expressando, ainda, a bênção da Ciência sobre os novos rumos do país. Retornamos à legalidade e ao pleno respeito às suas instituições. Uma espécie de cachimbo da paz que reabre uma nova etapa na vida pública do país. Isso consagra o sepultamento do indiscreto Poder Moderador introduzido no Império na figura do próprio Imperador, ao qual se substituíram as Forças Armadas desde a Proclamação da República até a promulgação da Constituição de 1988 e perigosamente ressuscitado com ambições golpistas pelo governo anterior. Não passaram. Não passarão! Dentro de poucas semanas cerca de um milhar de descrentes da democracia que atentaram contra a Lei em janeiro passado estarão todos condenados. Ao mesmo tempo, justo nesta semana, o Presidente da República ampliou o espectro ideológico de sua frente de governo com a indicação de dois Ministros de Partidos até então avessos à composição mas que, doravante, lhe garantirão valiosos votos para adequada governabilidade. Consuma-se, enfim, a transição do risco regressista para um futuro de renovadas esperanças para todos os brasileiros. Comprova-se a máxima de que, em certos momentos críticos, há que ser intolerante com os intolerantes se quisermos preservar a liberdade.

Já, então, começam as especulações sobre o caráter desta transição que estamos vivendo e sobre a própria ideologia do Presidente Lula.

Bem, sobre o primeiro ponto – o caráter da transição – ele já esteve definido com Frente Democrática desde a composição da Chapa de Lula, ao indicar como Vice Presidente, um político de perfil claramente conservador, embora submetido à filiação ao Partido Socialista, o qual, no Brasil, sempre teve uma posição moderadamente de esquerda. Lembremo-nos que na sua refundação no pós Guerra um grupo significativo de chamados “udenóides”, avançados progressistas mas com reservas à ortodoxia marxista, a ele aderiram. O segundo turno das eleições, em novembro, ampliou o caráter da Frente ao incorporar à campanha expressivos nomes como Simone Tebet, MDB, terceira colocada no pleito, Marina Silva, REDE e vários nomes ligados ao PSDB e FHC. Iniciado o Governo, este caráter de Frente Democrática consolidou-se diante da ameaça golpista do 8 de janeiro, unindo indissoluvelmente Lula, como Chefe do Poder Executivo aos Chefes do Judiciário e Legislativo, com o endosso das Forças Armadas. Seus grandes projetos, apresentados ao Congresso Nacional, mesmo antes da posse, como a Emenda Constitucional que lhe garantiu os primeiros passos no ano de 2023, fortemente comprometido pelo rombo de R$ 400 bilhões legado pelo Governo anterior, como o Arcabouço Fiscal e Reforma Tributária reafirmaram-se, no Congresso Nacional, comi imperativos de Governo, independentemente de ideologia. Talvez, agora, haja algum tropeço quanto á Reforma Administrativa mas Fernando Haddad já demarcou os limites do debate pouco palatável ao PT: começar pelos altos salários do Judiciário e Legislativo. Acabará trazendo á tona os privilégios criados por Bolsonaro aos militares, um dos principais contributos do déficit previdenciário em expansão...

Resta indagar, pois, sobre Lula.

Um conhecido jornalista inclinado à esquerda assim colocou tais questões:

247 - Nassif: governo Lula não é de esquerda. Para o jornalista, Lula “é um reformador, um pacificador”- 1 de setembro de 2023. 

 Em artigo publicado nesta sexta-feira (1) no GGN, o jornalista Luís Nassif corrobora a afirmação do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), de que o governo Lula (PT) “não é um governo de esquerda”. Nassif classifica o presidente como “um reformador, um pacificador, com certeza”.

“Lula não é de esquerda, se se entender como liderança política preocupada com mudanças estruturais na vida nacional. Não é um estadista na acepção do termo – o político que muda, que molda o Estado para os novos tempos”, explica, lembrando que o presidente "nem no auge de sua popularidade ousou investir contra os pilares do conservadorismo nacional, mídia, mercado, Justiça e Forças Armadas". Leia a íntegra no GGN.

Com efeito, Lula não vem de quaisquer dos ninhos da esquerda clássica. Nunca foi de qualquer dos Partidos Comunistas, nunca se afirmou socialista e, como sindicalista, esteve muito longe das origens anarquistas que animaram, desde os primórdios, os movimentos sociais modernos. Nem falo em trotskismo, pérola teórica no seio das esquerdas cultivada em estufas acadêmicas de bom gosto. Mesmo quando Brizola retornou ao Brasil, em 1980, propondo a reconstituição do trabalhismo como um caminho brasileiro para um socialismo moreno, Lula declinou do convite. Preferiu um “Partido dos Trabalhadores”, até com certa presunção repetida exaustivamente no bordão: “Nunca antes neste país”... Tampouco foi discípulo devoto das comunidades de base da Igreja Católica, que tanto avançaram, no Brasil no último quartel do século passado, até o papado de Bento XVI. Não obstante, vindo à tona na crista das greves do ABC no ano 1978, deve ter sido influenciado por todas estas tendências, que se abrigaram à sua liderança na formação do PT, sobrepondo-se a elas por um notável instinto político. Esta foi uma vantagem não só para Lula, para o PT ou mesmo para o Brasil pois permitiu avançar um projeto político popular contra a maré vazante da crise do socialismo agudizada pelo fim da União Soviética em 1991. Lula não teve, como muitos partidos de esquerda no mundo ocidental, como por exemplo, o próprio Roberto Freire, líder do PCB, candidato â Presidente em 1989 por esta agremiação, ou o Partido Comunista Italiano. Navegou em águas de boa mina surfando, com êxito, o clima de assenso popular oriundo da luta contra a ditadura militar num contexto, anterior aos efeitos nocivos da globalização. Com isso, transformou o Brasil na última esperança de sobrevivência de ideais de justiça social, tal como vários líderes políticos e teóricos marxistas o disseram, como Barak Obama e Eric Hosbawn. 

Isso significa que Lula é de esquerda?

Ora, esse é uma discussão, hoje, meio sem sentido. Nem há consenso sobre o que significa SER DE ESQUERDA, nem produz resultados políticos, como, por exemplo, apontar um caminho ao qual um certo consenso se converta em ACONTECIMENTO histórico – Kant. A esquerda, mesmo se nos ativermos ao marxismo, já era vária, segundo um de seus grandes estudiosos, Isaac Deutscher, em meados do século XX. De lá pra cá, houve novas redivisões. A esquerda católica sofreu também um grande baque com João Paulo II e Bento XVI, mesmo ainda presente em movimentos como o MST. Perdeu seu dinamismo com o avanço dos evangélicos. O proselitismo revolucionário, na verdade, como opção da esquerda, está fora da Agenda, cedendo, até, com isso, espaço para que seus métodos e bandeiras acabem nas mãos da extrema direita. Leia-se, a propósito, o livro ENGENHEIROS DO CAOS. O importante, na atual conjuntura que vivemos nem é tanto saber se este ou aquele governo são de esquerda, mas se ele consegue ou não impedir retrocessos históricos que coloquem em risco a humanidade. Neste sentido a discussão não é tanto de se saber se Lula é de esquerda mas de se avaliar se ele se comporta no sentido da salvação e progresso sustentável desta humanidade – e o faz quando luta pela pacificação interna no Brasil e pela Paz no mundo -. O resto, diria Shakespeare, é silêncio, cortado, aqui e acolá por puristas sem qualquer senso da Política como processo e compromisso histórico, pois não compreendem que mesmo Lula não sendo de esquerda, a esquerda é ele...


 A INDEPENDENCIA COMO PROCESSO 

Paulo Timm – Publ. A FOLHA, Torres RS – 8 setembro 2023

O 7 de setembro sempre traz à tona, no Brasil, a reflexão sobre nossa Independência de Portugal, em 1822. No Império (1822-89), a data se resumia à exaltação da figura do Imperador, sem destacar, jamais, o papel da Princesa Leopoldina, esposa de Dom Pedro I, quem, na verdade, tomou a decisão de proclamar o Brasil independente de Portugal.. Com a proclamação da República, o 7 de setembro passou a exaltar simbolicamente a Pátria, celebrada, sobretudo, pelos desfiles das Forças Armadas, ainda que acompanhadas, depois da Revolução de 30, por desfiles estudantis. Era o reflexo do trânsito do antigo Poder Moderador do Imperador para uma nova fase de tutela das Forças Armadas na nossa vida pública. O bacharelismo dos punhos de renda dos filhos da aristocracia escravocrata começava a ceder lugar, mesmo sob o retrocesso oligárquico do “Café com Leite” entre a saída de Floriano Peixoto e a Revolução de 1930, aos arquitetos da modernidade industrial, cujo grande símbolo, aliás, foi a “Marcha para o Oeste”, na qual a construção de Brasília ocupa lugar destacado. No começo deste longo período, República Velha, vez que a ela sucede-se a Era Varguista que se prolonga sob várias roupagens até 1979, emergem quadros e dicções que nem sempre correspondem ao que realmente ocorreu na Independência. Foi o resultado do positivismo mais afeito à valorização dos fatos do que aos processos: “Ordem e Progresso”. Contemporaneamente se percebe que nossa independência, na verdade, se constituiu num longo processo, inacabado, travado em vários lugares do Brasil, com o concurso de várias inspirações, primeiro da Revolução Americana, 1776, depois de Francesa, em 1789, e , finalmente, da Revolução Haitiana, na virada daquele Século das Revoluções, e se prolonga até hoje sob a influência dos imperativos da Doutrina dos Direitos Humanos e do princípio da Sustentabilidade do Desenvolvimento. Até os anos 50, aliás, a própria história da Independência foi contada do ponto vista do Rio de Janeiro e São Paulo, como costuma assinalar o historiador Evaldo Cabral de Mello, autor do livro "A Outra Independência", que trata das movimentações políticas entre a Revolução Pernambucana, em 1817, e a Confederação do Equador, em 1824. Poderia, a propósito, ter levado sua reflexão até 1848, última das convulsões do período, atravessado também pela Revolução Farroupilha de 1835 a 1845 no Rio Grande do Sul. Temos, também, que incorporar à análise da Independência as lutas travadas no Norte e Nordeste, dentre elas a resistência na Bahia, que só consagraria a Independência em 1823, bem como todas as iniciativas populares que tentaram melhor articular os interesses da Pátria com a Nação. A redemocratização consagrada pela Constituição de 1988, que inaugura a substituição do Poder Moderador do Imperador ou das Forças Armadas, para o império da Lei, o exige. Ressalta-se que nunca tivemos, no Brasil, uma celebração popular da Independência, como as têm alguns países latino-americanos, como , por exemplo o Chile, quando o país se cobre de “ramadas”, com danças, comidas típicas e muita euforia popular. Precisamos chegar lá...Para alguns analistas, este distanciamento popular do 7 de setembro teria sido uma consequência de ausência de uma verdadeira luta pela conquista da Independência, proclamada pelo filho do Rei de Portugal, sob a advertência de que o fizesse antes que algum outro aventureiro, o qual viria, ainda, depois de sair do Brasil, em 1831, a ser Rei Dom Pedro IV , em Portugal. “Sospechoso!” De resto, o sufocamento da Constituinte por D. Pedro I, logo após sua instauração, com o exílio das personalidades mais exaltadas do liberalismo, do qual não escapou sequer o Patriarca José Bonifácio, no período, quando não sua prisão, com “mano dura” sobre movimentos que teriam levado a Independência mais além da mera conquista da autonomia política, talvez também tenha contribuído para esse distanciamento popular. Não obstante, a data deve ser reverenciada como um marco da fundação do Brasil como Estado Nacional, embora seu encontro com seu principal conteúdo, a Nação, composta por todos aqueles que a constroem diuturnamente, ainda se constitua num desafio. Trata-se, hoje, de lutar pela afirmação da soberania deste Estado Nacional no concerto internacional segundo seus próprios interesses que contribuem para criar os pilares econômicos desta afirmação, ao tempo em que, internamente, se aprofunde a construção da cidadania como acesso à informação, organização, representação e participação de todos â confecção de nosso destino. Compreender, enfim, que a Independência nem a fez apenas o Dom Pedro às margens idílicas do Ipiranga, nem só os sulistas, nem os militares ou bacharéis, num único dia ou mesmo período, mas que se realiza historicamente, em processo, nas obras de um “um povo em fazimento”, como costumava dizer Darcy Ribeiro.


 

 Editorial Cultural FM Torres RS 06 de setembro 23

A INDEPENDENCIA COMO PROCESSO

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BRASIL II CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA 2022

H. Starling. Tiradentes - CANAL LIVRE TV BAND - ASSISTA AQUI YOUTUBE

Lilian Schwarcz – Canal Livre - Vídeo- Lilian Schwarcz É a convidada-do-Canal Livre   

José Murillo de Carvalho – Canal Livre - Um dos mais importantes estudiosos da história do Brasil e integrante da Academia Brasileira de Letras, o historiador José Murilo de Carvalho é o convidado do Canal Livre do próximo domingo. O programa faz parte do projeto "Band nos 200 anos da independência''. Autor de verdadeiros - https://www.youtube.com/watch?v=7gZT41HB4Ck 

RED -Debate Plural – II Centenário da Independência: ACESSE AQUI YouTube E ASSISTA – Dia 1º/ 09/22 - No terceiro episódio da série sobre o Bicentenário da Independência vamos abordar a formação da identidade do Brasil. Receberemos o Doutor em Filosofia pela Universidade Paris, Agemir Bavaresco; o formado filosofia e economia com mestrado em filosofia, Fabian Scholze Domingues; e o formado em história e é doutorando em História na UFRGS, Erick Kayser.

O DIA DA INDEPENDÊNCIA

Luiza Ribeiro Moraes - Brasil de Fato | Porto Alegre | 01 de Setembro de 2022 às 18:02

FONTE:brasildefators.com.br/2022/09/01/artigo-o-dia-da-in-dependencia-do-brasil 

Comemoração excludente - Por PATRÍCIA VALIM* - 04/09/2022 = A sudestinização do bicentenário do 7 de setembro de 1822 – a produção social de um vexame LEIA AQUI 

 

O Assunto g1 dia 6 de setembro A Independência para além da Corte

'Até os anos 50, a história da Independência foi contada do ponto vista do Rio de Janeiro', afirma o historiador Evaldo Cabral de Mello, autor do livro A Outra Independência. Neste episódio, ele detalha os processos históricos que levaram à emancipação do país e explica por que ela se deu a partir 'dois golpes de Estado' liderados por D. Pedro I.

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2022/09/06/o-assunto-788-a-independencia-para-alem-da-corte.ghtml 

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O7 de setembro sempre traz à tona, no Brasil, a reflexão sobre nossa Independência de Portugal em 1822. No período do Império, a data se resumia à exaltação da figura do Imperador, sem destacar, jamais, o papel da Princesa Leopoldina, esposa de Dom Pedro I, quem, na verdade, tomou a decisão de proclamar o Brasil independente de Portugal. Com a proclamação da República, ela passou a exaltar simbolicamente a Pátria celebrada, sobretudo, pelos desfiles das Forças Armadas, ainda que acompanhadas, depois da Revolução de 30, por desfiles estudantis. Neste período disseminam-se quadros e dicções libertárias que nem sempre correspondem ao que realmente ocorreu na Independência. Ela se constituiu num longo processo, travado em vários lugares do Brasil, com o concurso de várias inspirações, primeiro da Revolução Americana, 1776, depois de Francesa, em 1789, e, finalmente da Revolução Haitiana, na virada daquele Século das Revoluções. Até os anos 50, aliás, a própria história da Independência foi contada do ponto vista do Rio de Janeiro, como costuma assinalar o historiador Evaldo Cabral de Mello, autor do livro "A Outra Independência", que trata das movimentações políticas entre a Revolução Pernambucana, em 1817, e a Confederação do Equador, em 1824. Poderia, a propósito, ter levado sua reflexão até 1848, última das convulsões do período, atravessado também pela Revolução Farroupilha de 1835 a 45 no Rio Grande do Sul. Temos, também, que incorporar à análise da Independência as lutas travadas no Norte e Nordeste, dentre elas a resistência na Bahia, que só consagraria a Independência em 1823. Mas nunca tivemos, no Brasil, uma celebração popular da Independência, como as têm alguns países latino-americanos, como, por exemplo o Chile, quando o país se cobre de ramadas com danças e comidas típicas. Para alguns analistas este distanciamento popular do 7 de setembro teria sido uma consequência de uma verdadeira luta pela conquista da Independência, proclamada pelo filho do Rei de Portugal, sob a advertência de que o fizesse antes que algum aventureiro, o qual viria, ainda, depois de sair do Brasil, em 1831, a ser Rei Dom Pedro IV, em Portugal. De resto, o sufocamento da Constituinte, logo após sua instauração, com o exílio das personalidades mais exaltadas do liberalismo, do qual não escapou sequer o Patriarca José Bonifácio, no período, quando não sua prisão, com mano dura sobre movimentos que levariam a Independência mais além da mera conquista da autonomia política, talvez também tenha contribuído para esse distanciamento popular. Não obstante, a data deve ser reverenciada como um marco da fundação do Brasil como Estado Nacional, embora seu encontro com seu principal conteúdo, a Nação, composta por todos aqueles que a constroem diuturnamente, ainda se constitua num desafio. Trata-se, hoje, de lutar pela afirmação da soberania deste Estado Nacional no concerto internacional segundo seus próprios interesses que contribuem para criar os pilares econômicos desta afirmação, ao tempo em que, internamente, se aprofunde a construção da cidadania como acesso à informação, organização, representação e participação de todos â confecção de nosso destino. Compreender, enfim, que a Independência nem a fez apenas o Dom Pedro às margens idílicas do Ipiranga, nem só os sulistas, nem os militares ou bacharéis, num único dia ou mesmo período, mas que se realiza historicamente em processo nas obras de um “um povo em fazimento”, como costumava dizer Darcy Ribeiro. 

VIVA A INDEPENDÊNCIA! VIVA O POVO BRASILEIRO! 

ANEXO -Democracia, Soberania e União: os três pontos do pronunciamento de Lula na Independência

https://www.brasil247.com/poder/democracia-soberania-e-uniao-os-tres-pontos-do-pronunciamento-de-lula-na-independencia?utm_source=mailerlite&utm_medium=email&utm_campaign=as_principais_noticias_desta_manha_no_brasil_247&utm_term=2023-09-06 

247 – Em um contexto de reconstrução nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara-se para um pronunciamento histórico na noite de hoje, véspera do Dia da Independência. Com a intenção de resgatar a celebração como um evento que une toda a sociedade, o presidente Lula destaca três pontos fundamentais em seu discurso: Democracia, Soberania e 

Em seu pronunciamento, o presidente Lula enfatizará a importância da democracia como um valor fundamental para a nação brasileira. Ele destacará que a democracia não é apenas um sistema político, mas um compromisso com a participação cidadã, a liberdade de expressão e o respeito às instituições democráticas. O presidente buscará reforçar a ideia de que todos os cidadãos têm o direito de expressar suas opiniões e escolher seus representantes por meio de eleições livres e justas. 

Outro ponto central do discurso do presidente Lula será a soberania nacional. Ele argumentará que o Brasil deve defender seus interesses de forma independente e autônoma no cenário global. Isso inclui a preservação de recursos naturais, a promoção do desenvolvimento sustentável e a busca por parcerias internacionais baseadas em benefícios mútuos. O presidente enfatizará a necessidade de um Brasil soberano que tome decisões que atendam aos interesses do povo brasileiro e não esteja sujeito a pressões externas.

A busca pela união da sociedade é também um dos principais objetivos do governo Lula no resgate das comemorações do 7 de setembro. O presidente argumentará que o Dia da Independência não deve ser monopolizado por nenhum grupo ou ideologia, mas sim celebrado por todos os brasileiros, independentemente de suas convicções políticas. Ele destacará a importância de superar a polarização que tem dividido o país e unir esforços para enfrentar os desafios comuns, como a desigualdade e o desemprego. O lema "Democracia, Soberania e União" reflete esse compromisso em construir uma nação mais coesa e solidária.

Ao resgatar o 7 de setembro como uma celebração de todos, o presidente Lula espera promover um sentimento de pertencimento nacional, onde os símbolos nacionais, como as cores verde e amarela, representem a unidade e a diversidade do povo brasileiro. Este pronunciamento é uma tentativa de redefinir o significado do Dia da Independência, que foi marcado, nos últimos anos, pelo golpismo bolsonarista.


Editorial Cultural FM Torres RS 0~5 de setembro 23

Lula se prepara para assumir o G20

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Jeffrey Sachs* - A guerra econômica entre EUA e China

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../jeffrey-sachs-guerra...

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O próximo dia 7 de setembro, depois da parada militar clássica em Brasília, vista por muitos como uma evidência da tutela militar sobre a vida pública do país desde a Proclamação da República, Lula viajará para a Índia. Lá, deverá assumir a Presidência rotativa do G20 , um grupo que reúne as principais economias do mundo, quando terá o poder de elaborar a pauta das reuniões do Grupo. Especialistas apontam que ELIMINAÇÃO DA MISÉRIA NO MUNDO e SUSTENTABILIDADE serão as prioridades de Lula. Mas os Estados Unidos vão insistir na condenação à Rússia. Mas encontrará, em Délhi, uma reunião esvaziada pela ausência do Presidente da China. Este país concorre com a Índia na liderança pela Ásia e, apesar de ambos participarem do BRICS, ora ampliado para 11 países, têm visões estratégicas diferentes. Têm também conflito de fronteira no Himalaia. Recentemente a Índia protestou pela divulgação de um mapa chinês atribuindo a China esta disputada área. De resto, a Índia é um país de formação profundamente religiosa, a qual transmitiu ao Ocidente, contrariamente à China, confucionista e pragmática. A Índia é ainda relativamente conservadora, governada nos últimos anos à direita e que tem se inclinado à juntar esforços de inteligência com USA, EU, Japão e Austrália para garantir a “segurança” da região, no que poderá resultar, não muito longe, numa OTAN ASIATICA. Isso contraria a China que, em razão disso, não enviará seu Presidente à reunião do G20. Os dois países concorrem, também, agora, na corrida espacial. De resto, o nível de relacionamento entre China e USA tem sido objeto de crescentes tensões, as quais deverão se restringir a foro bilateral cuidadosamente programado e não a foros multilaterais. A coisa vai de mal a pior, sobretudo depois do anúncio de que a China avançou sobre a tecnologia de microprocessadores. Outra ausência será a de Putin, que tenta evitar com isso, a obrigação de ter que se opor a eventual nota final do evento que condene a invasão da UCRANIA, um dos pontos principais da agenda internacional dos americanos. O G20, com isso tudo, sai enfraquecido e não promete grande coisa com a reunião de Délhi. 

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 Editorial Cultural FM Torres RS 04 de setembro 23

EDUCAÇÃO NO BRASIL

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FSP – Mais escolarizados têm queda maior de renda na década. Segundo o IBGE quem estudou mais perdeu em média 16,7% dos rendimentos e caiu na informalidade. (Capa da Folha de São Paulo em 4 setembro 23)

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A educação pública, gratuita e universal é um dos maiores legados da modernidade e foi introduzida no mundo inteiro depois da Revolução Francesa. No Brasil ela mourejou até a Revolução de 30, quando Vargas cria, então, o Ministério da Educação. Na Proclamação da República, 85% dos brasileiros eram analfabetos. Apenas os filhos da elite tinham acesso à educação em estabelecimentos geralmente religiosos. O primeiro responsável e defensor da educação pública na Proclamação foi Benjamin Constant, severo positivista, grande defensor da República junto aos quartéis no final do século XIX. Ele acreditava na importância da educação para o progresso do país e conseguiu, mudar o currículo para matérias voltadas à modernização do país e que acabaram sendo introduzidas no COLÉGIO PEDRO II, federal, no Rio de Janeiro. Começávamos a romper com o bacharelismo e beletrismo que animava o que Celso Furtado, quando Ministro da Cultura identificava como tendência ao “bovarismo” no Brasil. Durou pouco Benjamin Constant, caiu com Deodoro da Fonseca. Mas na década de 30 já havia um movimento pela renovação do ensino no Brasil, que acabou consagrado num famoso manifesto liderado por Anísio Teixeira e que desembocou no denominado escolanovismo, uma inspiração oriunda dos ensinamentos de J. Dewey nos Estados Unidos. A mudança de regime impulsionou, então, a educação pública no país e reuniu no novo Ministério, sobretudo na gestão Gustavo Capanema, um histórico núcleo progressista, dentre eles até o poeta Carlos Drummond de Andrade. Ainda assim, ali criou-se o que seria uma característica do sistema brasileiro: A transferência da responsabilidade pela educação básica a Estados e Municípios, sem uma carreira federal de suporte ao magistério, embora amparados estes escalões inferiores da federação com programa de Apoio ao Ensino Básico. Lamentavelmente, quando mais necessitava a educação no Brasil um novo impulso, caímos no desastre do Governo passado, o qual deixou na Educação e Saúde seus mais desastrosos efeitos. Algumas conquistas, entretanto, sobreviveram, dentre elas a instituição do ENEM como instrumento de acesso ao terceiro ciclo. Mas um dos grandes problemas é a evasão escolar dos adolescentes, maioria filhos de classes mais pobres. Eles engrossam os milhões de NEM NENS que acabam sem escola e sem emprego. Ninguém vela sobre eles. As Prefeituras nem sabem quantos eles são e onde estão. Mas mesmo os que alcançam escolaridade mais alta estão cada vez mais precarizados e ganhando cada vez manos. Isso é o que aponta, hoje, a capa de um dos grandes jornais do Brasil, coincidindo com matéria também divulgada no fim da semana da REVISTA PIAUÍ mostrando o abandono do EJA.

Anexo

EDUCAÇÃO NO BRASIL

Desmantelando o Brasil de Paulo Freire - Em crise, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem o menor número de matrículas desde 2007. Em dez anos, 28 mil turmas foram fechadas. Entenda na reportagem. AMANDA GORZIZA = https://piaui.folha.uol.com.br/desmantelando-o-brasil-de-paulo-freire/?utm_campaign=a_semana_na_piaui_177&utm_medium=email&utm_source=RD+Station 

DESMANTELAMENTO ESCOLAR – CENSO ESCOLAR 2022

MATRÍCULAS EJA –

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2007 – 5,0 milhões

2018 3,5

2022 2,7

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Em dezembro de 2022, Ana Paula de Lima estava finalizando os últimos trabalhos da escola, já pensando nas festas de fim de ano, quando foi surpreendida por uma notícia: seu colégio extinguiria, no ano seguinte, todas as turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) – modalidade de ensino voltada para pessoas que não puderam estudar na idade adequada. É o caso de Lima, gaúcha de 38 anos que, na adolescência, largou os estudos para trabalhar. Foi merendeira, faxineira, comerciante. Nunca mais tinha pisado numa sala de aula, até que, no ano passado, constatou que precisaria do diploma de ensino médio para prestar um concurso público. Resolveu então se matricular numa escola estadual da cidade onde mora, São Gabriel (RS), e vinha estudando com afinco. Até receber a notícia.

“Hoje em dia, todos os empregos pedem ensino médio completo”, lamenta Lima, que está desempregada, procurando trabalho há quatro meses. Com a extinção das turmas de EJA, o plano de conseguir um diploma foi adiado indefinidamente. Ela tinha acabado de concluir o equivalente ao 1º ano do ensino médio. Como o ensino de jovens e adultos é acelerado em relação ao ensino básico, Lima só precisaria estudar por mais um ano para se formar.

Em São Gabriel, onde vivem 58 mil pessoas, agora há somente uma escola pública com turmas de EJA, mas ela fica no Centro, distante do bairro onde Lima mora. Como as aulas terminam às onze da noite, horário em que não há mais ônibus circulando, a estudante teria de voltar a pé para casa todos os dias. É um trajeto de 50 minutos. “Não tem como andar sozinha a pé nesse horário, ainda mais sendo mulher. Por isso não quis ir para a outra escola, fiquei com medo”, ela justifica. “E não sou só eu. Uns quantos colegas também desistiram. ” 

A Educação de Jovens e Adultos lida, historicamente, com altos índices de evasão. Grande parte dos alunos trabalha durante o dia e, por isso, não consegue conciliar a rotina com os estudos. É comum que, pela dificuldade de aprender ou por não ver propósito em estudar, muitos desanimem no meio do caminho. Por isso, as turmas de EJA costumam encolher ao longo do ano letivo. As barreiras são muitas. Mas mesmo aqueles que conseguem superar tudo isso, como Lima, têm sido surpreendidos com problemas estruturais da educação no Brasil.

O número de matrículas da Educação de Jovens e Adultos é, hoje, o menor desde 2007. Naquele ano, havia 5 milhões de brasileiros matriculados nessa modalidade. Em 2018, o número já tinha caído para 3,5 milhões e, no ano passado, eram 2,7 milhões. A queda se deve, em boa medida, ao fechamento de vagas, como aconteceu na cidade de São Gabriel. Nos últimos dez anos, 28 mil turmas de EJA foram fechadas e 7,8 mil colégios deixaram de oferecer ensino para jovens e adultos. Em 921 municípios (16% do total), não há turmas de EJA.

A pandemia influenciou na diminuição de matrículas. A evasão no ensino público aumentou de modo geral nos anos de isolamento, e não foi diferente com a EJA. Mas, no caso dos jovens e adultos, o que está por trás desse fenômeno é também um esvaziamento de políticas públicas e, principalmente, cortes orçamentários. Um dossiê elaborado por entidades civis, entre elas a Instituição Paulo Freire, mostra que o investimento do governo federal na modalidade EJA, no ano passado, equivale a 3% do que foi investido…


 

 Editorial Cultural FM Torres RS 31 de agosto 23

A apatia dos movimentos sociais

19 de abr. de 2023 — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (19 que os movimentos sociais devem aprender a se comunicar nas redes ...

O lulismo, os movimentos sociais no Brasil e o lugar social da política* Maria Orlanda Pinassi* - Resumo: Arrisco comentários sobre a maioridade burguesa da política brasileira, algo reconhecido pelos mais exigentes mentores das políticas neoliberais, não só pela eficiência com que o lulismo faz a mediação entre os interesses do grande capital e os produtos incontornáveis do padrão de acumulação ora imposto: desemprego estrutural, fome e destruição ambiental. Sua maior arte é fazer tudo isso sem provocar qualquer mudança substantiva ao país historicamente marcado pela condição de colonialidade crônica, de desigualdade social endêmica, de sua posição pífia no ranking do mercado de bens de produção, da parca geração de tecnologias, da estabilidade débil da sua economia e política internas. - pucsp.br - https://revistas.pucsp.br › article › download

file:///C:/Users/Usuario/Documents/BRASIL%20Artigos/LULA%20E%20MOV%20SOCIAIS.pdf 

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Apatia dos movimentos sociais trava demandas populares e preocupa Lula. Segundos aliados próximos, o Presidente tem se queixado de que a mobilização de movimentos sociais tem sido morna durante o seu governo. Mas o que são Movimentos Sociais?

Os princípios dos movimentos sociais, segundo o sociólogo francês Alaine Touraine, se consubstanciam nos seguintes: a identidade, oposição e totalidade.

No entanto, esses são os princípios de existência dos movimentos sociais, na medida em que têm uma identidade: quem é, um nome, de quem fala ou representa, quais são os interesses que defendem, as aspirações que procuram obter ou alcançar numa determinada sociedade, podem defender uma classe, ou grupo profissional específico, como por exemplo a classe de professores, dos médicos, dos jornalistas, ou ainda associações ambientais ou de consumo.

Quanto a oposição, isto tem a ver com aquilo que o grupo procura manifestar, têm essencialmente um carácter reivindicativo, na medida em que procuram alterar a ordem social vigente, todo o sistema social por meio de suas ideias, normas e valores que defendem.

Porém, quanto a totalidade, que vai ser por sua vez, o resultado da ação dos indivíduos organizados em grupos, pois, é um fenómeno coletivo e que por via disso, procura mudar o curso da história de uma dada coletividade humana, resultando concomitantemente numa ação histórica.

No Brasil, até bem pouco tempo, havia uma vaga noção de que nossa sociedade era gelatinosa, pouco organizada socialmente e com baixa capacidade de se movimentar como movimento. Um severo crítico da própria esquerda, Vladimir Safatle, tem compara o Brasil com países como Chile, demonstrando, lá a vitalidade dos movimentos sociais. A Argentina é outro caso concreto de forte presença de movimentos sociais. Dificilmente, por exemplo, o anarco-capitalista Milei governará aquele país diante de eventual rebelião social, já visível em ataques a supermercados. Talvez, mais do que criticar historicamente a esquerda pela sua preferência pelos gabinetes e que a leva aos contratempos de Vargas, Jango e Dilma Roussef, devêssemos compreender melhor as dificuldades estruturais para a organização de movimentos sociais numa sociedade marcada pela escravidão, com poucos laços de cooperação interna. Com exceção da ocupação colonial no Rio Grande do Sul, marcada pelo objetivo de povoamento, no resto do Brasil a colonização se resumiu na montagem de um empreendimento comercial voltado à produção para o exterior. Ora, isso é muito diferente da longa fermentação feudal vivida pela Europa, mesmo Oriental, como no caso da comuna russa do MIR, ou das organizações sociais advindas de comunidades indígenas, muito fortes no caso da Bolívia, Equador e Peru. Em todo o caso, a verdade é que, com todos os obstáculos históricos a modernização, mesmo autoritária no Brasil, acabou ensejando um forte movimento sindical, cuja maior expressão está no fato mesmo da indicação de seu maior líder ocupar, pela terceira vez, a Presidência da República. Ele, porém, se ressente, agora, da falta de mobilização social em seu próprio apoio. 

Diversos analistas se têm, então, debruçado sobre essa questão. Destaco, aqui, dois deles, amigos próximos, do Grupo Urutau, de Porto Alegre, nomes fictícios naturalmente, e que trazem algumas hipóteses para se compreender melhor o assunto na avaliação deste comentário PAINEL da FSP MOVIMENTOS SOCIAIS:

Folha.uol-PT-nao-apostou-na-relacao-com-movimentos-sociais-diz-coordenador-de-central

João da Silva 

Acho este discurso do Bonfim um pouco meio bastante muito totalmente "fácil e fofo". Um partido jovem de crescimento acelerado (e, por isso mesmo, problemático, pois acaba incorporando "Delcídios da vida") e que assume a responsabilidade de governar um país do tamanho do Brasil tem, necessariamente, que deslocar uma parcela expressiva de seus quadros para a gestão governamental. Ou será que se queria que figuras como Tereza Campello, Zeca Dirceu, Gleisi Hoffman, Lindbergh Farias, Arno Augustin ou Eduardo Suplicy ficassem fazendo trabalho de base e organizando associações de moradores? .... O problema é completamente outro. É quase o inverso. Foram as lideranças sindicais e as lideranças dos movimentos sociais de base que se acomodaram a partir de suas relações privilegiadas com quadros dos governos petistas. A elevação impositiva do salário mínimo e o controle de preços via juros-câmbio garantiu aumentos de salário real sem a necessidade de grandes mobilizações sindicais. O bolsa família e a verba das emendas parlamentares canalizadas para a petralhada do congresso e das câmaras de vereadores e estaduais de deputados passaram a ser disputadas pelos líderes de bairro. E não só para garantir a reeleição do deputado. Esta é uma relação "uma mão lava a outra". O liderzinho bairrista também se reforça. ... Mas é bonitinho e fofo dizer que o problema todo está na burocracia partidária que ignora "as basi". ... Estas "basi", não poucas vezes, são ainda mais clientelistas, cartoriais e oportunistas do que as lideranças. ... Não pactuo nem um pouco com esse discurso. .... O que ele tem de correto, do meu ponto de vista, está na versão do Lula. ... Só que ele não pode pedir mobilização se não fizer o que prometeu: a contrarreforma trabalhista. O fim do imposto sindical colocou os sindicatos num estado de penúria. Como Lula quer mobilização de rua se não há como financiá-la? Isto é urgente. É para ontem.

José de Souza - nem tanto ao mar nem tanto à terra. O problema não se explica apenas pelas dificuldades de um partido jovem e pelo fato de seus qualificados, denodados e esforçados quadros terem sido absorvidos pelas tarefas de governo (pesadíssimas, por óbvio!), a ponto de não poderem cuidar do bom comportamento das bases. As expectativas destas, resumidas, grosso modo, no dito "farinha pouca meu pirão primeiro", constituem, antes de tudo, um problema ideológico, e o partido é um agente fundamental da ideologia! Já se disse inúmeras vezes que o PT no governo apostou numa política de resolução dos conflitos sociais e dos problemas da desigualdade social via incentivo ao consumo! Isto traduz uma ideologia! Quando Lula enchia a boca para dizer "todo brasileiro tem direito de ter seu carrinho" e "todo trabalhador tem direito de querer passar férias em Bariloche" ele estava verbalizando sua visão de "luta de classes". Burlesca, para dizer o mínimo, mas coerente com a política dos seus governos, que deixou as grandes questões de políticas públicas (reforma educacional, inclusive da universidade; reforma urbana; reforma agrária, que obviamente não se resume a financiar assentamentos - enfim, a agenda dos anos 1960 estava à espera...). Ora, com isto ele apontou a nova via para as "bases": transformar a energia da mobilização coletiva (sindicatos, associações, etc.) em combustível dos "batalhadores", para empregar a expressão daquele sociólogo, o Jessé de Souza. Nada contra a política de valorização do salário mínimo, pelo amor de deus! Mas ela precisa ter o complemento de uma política de valorização da solidariedade social, através do fortalecimento das associações públicas que dão estrutura, ossatura, para o debate público autônomo em relação ao governo! E o problema não é só ter acabado com o imposto sindical. Aliás, ajudei a fundar um sindicato que rejeitou explicitamente o imposto sindical em seu estatuto, e nem por isso deixou de ser combativo e mobilizador! Perdeu sua capacidade de mobilização quando incorporou uma agenda de apoio ao governo!


 Editorial Cultural FM Torres RS Dia 30 agosto23

 - Lavajato e Deltan já eram. Moro, por um fio

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Partidos ligados a Moro são intimados e devem apresentar evidências para cassação a qualquer momento. Podemos e União Brasil devem entregar até 7 de setembro documentos que confirmem gastos do ex-juiz suspeito em valores superiores ao limite estipulado para pré-campanha ao Senado. 247 - Na última quarta-feira (23), os partidos Podemos e União Brasil receberam intimações para colaborar na coleta de provas relacionadas às ações que discutem a cassação do mandato do ex-juiz suspeito Sergio Moro, atualmente senador. A informação é da coluna do Lauro Jardim no jornal O Globo

https://www.brasil247.com/regionais/sul/partidos-ligados-a-moro-sao-intimados-e-devem-apresentar-evidencias-para-cassacao-a-qualquer-momento?utm_source=mailerlite&utm_medium=email&utm_campaign=as_principais_noticias_desta_noite_no_brasil_247&utm_term=2023-08-29 

A Operação Lava Jato foi um conjunto de investigações, promovido peo Ministério Público Federal, algumas controversas, realizadas pela Polícia Federal do Brasil, que cumpriu mais de mil mandados de busca e apreensão, de prisão temporária, de prisão .

Data: 17 de mar. de 2014 – 1 de fev. de 2021 - https://www.mpf.mp.br/grandes-casos/lava-jato/entenda-o-caso 

 

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A operação Lavajato, cujo nome deriva de uma investigação policial sobre lavagem de dinheiro num mero lavajato em 2014, tomou vulto extraordinário no país e acabou se transformando, sob o comando de um obscuro Juiz Federal, Sérgio Moro, num libelo contra o sistema político ao revelar supostos e espúrios conluios entre grandes empresas e políticos. Com epicentro na “República de Curitiba”, espraiou-se para outros Estados, notadamente Rio de Janeiro. Resultou na prisão do ex Presidente Lula, com a consequente exclusão de sua candidatura à Presidência em 2018, vindo a se constituir num dos principais fatores da eleição de Bolsonaro naquele ano ao Planalto. Os tempos, porém, revelariam não só intenções políticas inequívocas de Sergio Moro, hoje Senador, e seu “parceiro”, do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, como desvios de conduta ao longo do processo, levando à anulação dos processos da Lavajato. A revelação de combinações entre o Juiz e o Procurador pela INTERCEPT na denominada VAZAJATO confirmaria estes desvios em 2021, sublihando a tese da defesa de Lula. Aproveitando, o atual Procurador Geral da República, Aras, indicado por Bolsonaro, fez da liquidação da Lavajato, seu principal objetivo e agora o “ajuste de contas de Justiça com a Lavajato”, título de artigo do Jorn. Luiz Carlos Azedo, do Correio Braziliense, vai às últimas consequências, ao tempo em que a Justiça Eleitoral está prestes a cassar o mandato de Sergio Moro por irregularidades em sua eleição em 2022. Vai, assim, chegando ao fim a Operação que chegou a despertar a atenção e simpatia de muitos que substituíram suas esperanças de mudanças políticas, não através da própria Política, mas da Toga. Deltan já se foi. Agora, é o mandato de Moro que está por um fio. Voltarão à planície de sua própria mediocridade, um dia iluminada por desmedida ambição. 

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Luiz Carlos Azedo - O ajuste de contas da Justiça com a Lava-Jato - Correio Braziliense - terça-feira, 29 de agosto de 2023

 

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) realiza correições no Paraná, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul para investigar desvios no transcurso da Operação Lava-Jato

A desconstrução em curso da Operação Lava-Jato é o principal trunfo do procurador-geral da República, Augusto Aras, para permanecer no cargo. Embora essa possibilidade seja remota, o ajuste de contas com a força-tarefa é música para os ouvidos do presidente Luiz Inácio da Silva e o Senado, responsáveis pela escolha do chefe da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Uma conjugação de astros opera contra os principais responsáveis pela sua condenação, que foi anulada pelo STF, o então coordenador da força-tarefa, o ex-deputado Deltan Dallagnol (Republicanos-PR), cujo mandato foi cassado pela Mesa da Câmara, e o senador e ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR), à época o titular da 8ª Vara Criminal de Curitiba, que agora também está ameaçado de cassação no Senado.

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) realiza correições no Paraná, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul para investigar desvios no transcurso da Lava-Jato, entre os quais o uso indevido de recursos arrecadados pela operação. Em sigilo, uma correição extraordinária, conduzida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na 13ª Vara Federal de Curitiba e no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, investiga a atuação de promotores e juízes no caso. Está sob responsabilidade do corregedor nacional de Justiça, ministro do STJ Luís Felipe Salomão, que também é candidato a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).

O principal caso investigado é a proposta de criação de uma fundação para gerenciar os recursos provenientes dos acordos com as empresas envolvidas no escândalo, ideia que naufragou porque não teve apoio do Supremo. O acordo com a Petrobras previa que R$ 2,5 bilhões seriam depositados em conta vinculada à 13ª Vara Federal de Curitiba, destinados ao empreendimento. Uma das cláusulas previa o fornecimento de informações ao governo dos Estados Unidos sobre os negócios da Petrobras, para que o dinheiro viesse para o fundo.

A própria PGR recorreu ao STF pedindo que fosse declarada a nulidade do acordo; no mesmo dia, o MPF anunciou a suspensão da criação do fundo. A proposta era que o fundo fosse criado com US$ 75 mil e gerenciado por um consórcio entre a Transparência Internacional e a Fundação Getulio Vargas, cujos principais dirigentes à época eram Bruno Brandão e Joaquim Falcão, respectivamente, que supostamente participaram da elaboração do projeto.

A fundação da Lava-Jato seria criada com um caixa bilionário: R$ 2,5 bilhões da Petrobras, R$ 2,3 bilhões oriundos do acordo de leniência do grupo J&F e R$ 1,4 bilhão do acordo de leniência com a Camargo Corrêa. R$ 625 milhões da multa deveriam ser pagos à força-tarefa. O plano ruiu porque, em 2019, a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) detonaram o projeto. Ocorre que, antes disso, Moro havia determinado o depósito em conta da 13ª Vara Criminal Federal de US$ 100 milhões do ex-presidente da Sete Brasil Pedro Barusco e outros recursos de alguns acordos de leniência.

Correições

Segundo a AGU e a CGU, Moro não poderia homologar acordos de leniência nem contratos com órgãos dos Estados Unidos e da Suíça à revelia do Ministério da Justiça, do Itamaraty e do governo brasileiro. Num dos acordos, previa-se que dos R$ 3,1 bilhões do acerto da Braskem, R$ 2,3 bilhões iriam para o MPF; R$ 310 milhões, para o Departamento de Justiça americano; R$ 212 milhões, para a CVM dos EUA; e mais R$ 310 milhões, para a Procuradoria-Geral da Suíça. O acordo com a Odebrecht previa que, dos R$ 3,8 bilhões que seriam pagos na leniência, 82,1% iriam para o MPF; 10%, para as autoridades suíças; e 7,9%, para o Departamento de Justiça dos EUA. Cerca de R$ 10 milhões foram destinados à vara do juiz federal Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro, afastado do cargo pelo CNJ.

Correições existem para identificar e corrigir erros, eventuais excessos e abusos cometidos por magistrados. No caso do CNJ, o corregedor Luís Felipe Salomão conta com o auxílio de um desembargador e dois juízes para checar todas as fases e informações dos processos. Uma das primeiras medidas tomadas, no fim de maio, foi afastar o juiz Eduardo Appio do comando da 13ª Vara Federal, em Curitiba.

O advogado João Eduardo Malucelli, filho do desembargador Marcelo Malucelli, da 8ª Turma, recebeu uma ligação telefônica suspeita. Perícia da Polícia Federal afirmou que a voz do interlocutor poderia ser do próprio Eduardo Appio. O juiz recorreu ao CNJ para voltar ao cargo, mas o ministro Salomão decidiu mantê-lo afastado da 13ª Vara Federal de Curitiba até que seja concluída a investigação sobre supostas ameaças ao filho do desembargador Marcelo Malucelli, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).

A 13ª Vara também já foi comandada pelo juiz Luiz Bonat e pela juíza substituta Gabriela Hardt. No TRF-4, entre os gabinetes a serem auditados, está o do desembargador Malucelli, cujo filho é sócio no escritório de advocacia do senador Moro e da mulher dele, a deputada federal Rosângela Moro, ambos do União Brasil. Malucelli declarou-se suspeito para julgar o caso


 Editorial Cultural FM Torres RS 29 de agosto 23

A tragédia da educação infantil 

A educação pública e gratuita foi uma das maiores conquistas da Revolução Francesa, em 1789, que abriu a denominada Idade Contemporânea. Desde então os regimes constitucionais emergentes, sejam na forma monárquica tradicional com poderes mitigados dos soberanos, sejam nos casos republicanos os Governos foram responsabilizados pela oferta de Educação com forma não apenas de treinamento para o mercado de trabalho mas para o exercício da cidadania, incluindo nos currículos matérias indispensáveis à reflexão crítica sobre a existência e o mundo. Com o tempo, esta exigência estendeu-se à educação desde tenra idade como mecanismo indispensável à inserção dos jovens á vida em sociedade. 

No Brasil tivemos um grande impulso á Educação pública com a criação do Ministério da Educação depois da Revolução de 1930, com o advento do escolanovismo que revocionou o sistema educacional no país inteiro. No Rio Grande do Sul as brizoletas foram o emblema de um governo que disseminou escolas por todo o Estado, abrindo horizontes, inclusive, para os trabalhadores do campo. Agora, o Governador Eduardo Leite anuncia o que muitos consideram inadequado e perigoso mecanismo de PARCERIA PÚBLICO PRIVADA sobre o sistema educacional, abdicando da missão histórica da responsabilidade pública maior sobre o sistema educacional. Na verdade, ultimamente a educação tem sofrido com os cortes de recursos orçamentários, sobretudo no período de vigência do Teto de Gastos introduzido em 2016 e, em boa hora, já substituído pelo Arcabouço Fiscal. Problemas se acumularam em todo o país e vale ver com atenção a matéria do g1 , hoje, sobre Educação infantil 

Educação infantil - arma contra desigualdades

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/08/29/o-assunto-1035-educacao-infantil-arma-contra-desigualdades.ghtml 

Um levantamento inédito - e publicado em primeira mão neste episódio de O Assunto - realizado pela organização Todos pela Educação denuncia as condições das escolas públicas de educação infantil em todo o Brasil. Na lista de descobertas, identificou-se que a maioria das escolas não têm banheiros ou refeitórios adequados; 60% não têm rede de esgoto; 64% estão sem parques infantis; 70% sofrem da falta de bibliotecas. Para apresentar os dados e as conclusões do documento, Natuza Nery recebe Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação. Ela conversa também sobre o desenvolvimento das crianças com Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, instituição que trabalha pela causa da primeira infância. Neste episódio:

Priscila justifica os motivos para escolas de educação infantil não serem “escolas quaisquer” e precisarem de “infraestrutura adequada para esta faixa etária”: “É o período no qual há explosão no desenvolvimento da criança”;

Ela justifica como a desigualdade na educação pode “solucionar o maior problema do país, que é a desigualdade socioeconômica alta e injusta”. Ela avalia que parte do problema está na diferença com a qual as crianças são tratadas na primeira infância. “Quanto mais vulnerável a criança, maior deve ser a atenção e o investimento dedicados”, afirma;

Mariana descreve a importância da escola nesta faixa etária para além dos aspectos educacionais: é onde a criança garante sua segurança alimentar e são protegidas de eventuais situações de violência doméstica. “Para as populações vulneráveis, uma creche de qualidade pode gerar benefícios ainda maiores”, avalia;

Ela explica o que a neurociência já descobriu sobre o desenvolvimento cerebral das crianças de 0 a 6 anos: são 1 milhão de conexões por segundo, o que forma até “90% do nosso cérebro” e compõe o tripé de desenvolvimento infantil – cognitivo, físico-motor e socioemocional. “Todas as competências que a gente busca no dia a dia, na escola e no mercado de trabalho estão ancoradas nisso”, conclui.

O que você precisa saber:

Nobel de Economia: investir em educação na primeira infância é a melhor 'estratégia anticrime'// Primeira infância: afeto e estímulos são essenciais na formação//infância: alimentação e educação são protagonistas// IGBE: índice de crianças de 4 e 5 anos na escola cai pós pandemia

O podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Lorena Lara, Gabriel de Campos, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski, Eto Osclighter e Nayara Fernandes. Apresentação: Natuza Nery


 Editorial Cultural FM Torres RS 28 de agosto 23

O BRICS como revolta do Sul Global

A divisão do mundo em blocos de nações com interesses até antagônicos não é nova. Ainda temos na memória a formação de dois grupos de nações que se confrontaram na II Guerra Mundial: O Eixo, com Alemanha, Itália e Japão, de um lado, Aliados, com Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética, de outro. Sim, os comunistas, até então reduzidos apenas à URSS eram aliados das democracias ocidentais contra o nazi-fascismo. E o Brasil, embora modestamente, também fazia parte dos aliados. Deixou nos campos de batalha da Itália cerca de 300 pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, a FEB, cujos sobreviventes costumavam desfilar no 7 de setembro em várias cidades do Brasil nas comemorações da Semana da Pátria. Mas já nos primórdios da I Guerra Mundial, um dos fatores que levaram à Guerra foi precisamente a corrida à formação de blocos de países com interesses diversos que acabaram levando-os ao confronto bélico. Resultados das duas grandes guerras mundiais: cerca de 100 milhões de mortos e destruição material de vários países europeus. Em 1945 três grandes países saíram intactos – a India, nesta época ainda era colônia britânica e a China destroçada pela invasão colonial e japonesa, nem contava na geopolítica mundial - : Estados Unidos , Argentina e Brasil. Pouco depois deste ano, já em 1947, começava a esboçar-se uma nova divisão do mundo em blocos, o Ocidental X Comunistas liderados por URSS dando origem ao que se convencionou chamar de Guerra Fria. Com a corrida nuclear, o confronto quase chegou à III Guerra mas o próprio custo armamentista, que saiu das trincheiras de terra para a corrida espacial esgotou a União Soviética, que acabou ruindo em 1991. Daí até 2001, quando ocorre o atentado ás Torres Gêmeas em Nova York, o mundo mergulho na Pax Americana dourada pela retórica da globalização. Parecia que tudo estava em paz sob o “Consenso de Waschington”, um conjunto de regras de governança liberais sob hegemonia do dólar, que se disseminaram como o novo caminho de paz e prosperidade para o mundo inteiro. Vã ilusão, que os atentados às Torres Gêmeas evidenciaram. A paz e a prosperidade eram não só para poucos países do mundo, com epicentro nos Estados Unidos, como mesmo dentro dos países centrais a riqueza gerada principalmente pelos grandes conglomerados financeiros era cada vez mais concentrada. Acabamos na revelação de que 1%¨da humanidade controlava os 99% restantes, empobrecidos e marginalizados. A virada do milênio começou, então, a trazer à tona a revelação de que era necessária uma revisão nas regras da governança e organização do concerto internacional das nações. O modelo da ONU, com mais de 200 nações ali representadas mas sem poder de remodelar Agências importantes para o financiamento do desenvolvimento e garantias à paz já não funcionava. Um fator novo aí começou a se destacar na geopolítica mundial: O enorme crescimento da China cuja desenvoltura econômica a transformou na segunda potência econômica mundial e a primeira no comércio internacional, sendo a principal compradora de mais de 150 país e com o Plano de deslocar o eixo do mundo do Atlântico para a velha Rota da Seda. Isso despertou o interesse de vários países do mundo para se associarem à China para impulsionarem seu desenvolvimento interno travado pela governança financeira internacional, não só onerosa como imperativa em termos de capacidade de expansão de indispensáveis investimentos públicos. A atitude, também, dos Estados Unidos, de usarem e abusarem da política de sanções contra aqueles que se insubordinavam ao Consenso de Waschington, expropriando-os de suas reservas em dólar no sistema bancário ocidental e proibindo-os de operar em seus mecanismos de operação, como ocorreu com Venezuela, Irã e mais recentemente Rússia, acabou atraindo muitos países do mundo à aproximação com a China, que já tem presença marcante na Ásia, África, América Latina e até mesmo na Itália. Lembremo-nos que o COVID, depois da irrupção em Huan, despontou justamente no norte da Itália onde já vivem mais de 200 mil chineses em torno de empresas daquele país. Uma primeira iniciativa foi a criação dos BRICS, reunindo Brasil, Rússia, Índia e China, ao qual somou-se, em seguida a Afinca do Sul, compondo o S final do BRICS. Agora o grupo incorporou mais seis países dos vários continentes e talvez venha incorporar muitos mais dentro de pouco tempo. Isso é o reflexo do descontentamento de duas centenas de países com assento na ONU mas que não são mais polarizados pela hegemonia dita Ocidental, cada vez mais reduzida, apesar da dicção própria de que se constituem a consciência e a voz do mundo. O caso das votações sobre a Guerra na Ucrânia revela isso. A grande maioria dos países na ONU até condena a invasão unilateral da Rússia mas não é favorável às sanções contra esse país. Isso não aparece no noticiário, fiel às Agências Internacionais ainda aliadas do Consenso de Waschington, mas inequívoco. A tal ponto que uma alta dignitária americana já chegou a falar em rebeldia do Sul Global contra o Norte. E até certo ponto ela tem razão. A última reunião do BRICS na África do Sul é uma espécie de resposta de inúmeros países que sofreram com a colonização ocidental, tiveram suas economias e povos destroçados por interesses europeus e americanos e que agora procuram caminhos próprios. Trata-se, enfim, não de uma Declaração de Guerra do Sul contra o Norte, dominado pelo dólar e pelos Estados Unidos, mas numa clara advertência de que há necessidade de se criar uma nova arquitetura para a geopolítica mundial que contemple a entrada de novos atores na cena econômica e isso significa mudança nos marcos da ordem institucional internacional. O mundo deve caminhar para criação de vários polos de desenvolvimento e não apenas ficar condicionado aos ditames de interesses americanos e europeus. Onde tudo isso vai dar ninguém sabe. Tudo depende da capacidade de negociação e acomodação de interesses. Se houver intolerância, não está excluída a hipótese de novo conflito mundial. Mas dado que esta hipótese tangencia o fim da civilização com o holocausto nuclear, talvez ainda subsista uma esperança de paz. Mas não será a PAX AMERICANA sonhada em 1991 por ideólogos daquele país. Será uma nova Era para a humanidade, mais diversificada econômica, monetária e ideologicamente. 

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Anexo, leitura relacionada:

Expansão do BRICS é o maior golpe já desferido contra a hegemonia do dólar, diz José Luís Fiori 

Brasil247-expansao-do-brics-e-o-maior-golpe-ja-desferido-contra-a-hegemonia-do-dolar-diz-jose-luis-fiori?utm_source=mailerlite&utm_medium=email&utm_campaign=as_principais_noticias_desta_manha_no_brasil

“A reunião de Johanesburgo antecipou a substituição do dólar nas transações energéticas entre os países membros", diz o professor; assista a entrevista ao Tutaméia

BEM-VINDO AO BRICS 11. O G7 está morto. Por Pepe Escobar

https://www.suacidadeemrevista.com.br/o-g7-esta-morto-o-que-importa-agora-e-o-brics-11-afirma-pepe-escobar/

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 Editorial Cultural FM Torres RS 25 de agosto 23

A tirania da meritocracia

A presença do Prof. Michael Sandel – Harvard USA – no Brasil, onde fez várias entrevistas, inclusive um RODA VIVA na Band News, traz à tona uma reflexão sobre os fundamentos e rumos do mundo ocidental contemporâneo. Autor de vários livros dentre eles “Justiça”, “Tirania do Mérito”, e “Democracy ´s Discontent” ele prega o retorno à pedagogia das virtudes cívicas a partir de pequenas comunidades (em substituição à valorização da concorrência acionada pelo princípio da meritocracia como caminho) para a salvação das nossas fugidias democracias. Seria um pouco como voltar às bases, numa pregação muito similar à adotada pelas Comunidades Eclesiais de Base nos anos 1960/80, decisivas na formação do PARTIDO DOS TRABALHADORES – PT numa tentativa de valorizar o produto do trabalho instigando os trabalhadores à participação na vida pública. 

A verdade é que o mundo ocidental está em crise e seu grande predicado, o sistema de livre organização e representação parlamentar como suporte do Estado de Direito Democrático já não satisfaz. Há uma rebelião visível contra o sistema político estabelecido com base em Partidos que operam estes mecanismos. Os Partidos, no advento do regime republicano, abertos a todo e qualquer cidadão de uma comunidade constitucional ao provimento de funções representativas em substituição ao direito divino dos reis, foram concebidos como Escolas de formação e qualificação dos candidatos. Não funcionaram. Na grande maioria dos países os Partidos foram empolgados por minorias oligárquicas que os administram de acordo com seus interesses particulares distanciando-os, com o tempo, das clivagens sociais que os originaram. Ao mesmo tempo, a expansão dos sistemas universitários ultrapassou de longe a capacidade dos Partidos para a formação de administradores de um mundo cada vez mais complexo. ”. Um velho líder brasileiro os qualificava como “Partidos Axilares”, visto serem controlados por grupos que detêm os respectivos Livros de Atas debaixo das axilas Neste ínterim, do final do século XIX, quando os Partidos Modernos foram fundados, até os dias de hoje, a Sociedade Civil adensou-se e se organizou, ganhando níveis cada vez maiores de reconhecimento social. Mas ficaram reféns dos Partidos. Um Presidente da FIERGS, um alto dirigente do CPERS ou do MST, o maior movimento social organizado da América Latina, um líder ambiental, indígena, ou do Movimento Negro, se quiser se candidatar, terá que se submeter à filiação num Partido Político. De resto, populações dispersas em metrópoles crescentemente favelizadas, sem acesso à informação e à cultura, além de reféns das Redes Sociais, virando-se nos mais distintos afazeres para ganhar a vida, ao contrário dos velhos bairros operários, ressentem-se com o monopólio dos “políticos” sobre a coisa púbica. Basta ver, por exemplo, qualquer Câmara de Vereadores no país. Poucos compreendem seu papel na dinâmica do poder e acompanham suas atividades, não raro sob a asa e controle dos Prefeitos. Enfim, começam a desconfiar dos predicados da Ciência, cada vez mais distante de sua vivência cotidiana. Retornam ao cataplasma e acabam acreditando que a Terra é plana... Isso tudo releva a dicção de Sandel e outros Filósofos Políticos que clamam pelo retorno às virtudes públicas como exigência da cidadania. 

Se isso já era crítico até os anos 1980, a partir daí outro fator somou-se a decadência da esfera pública. Um autor, Richard Sennet, tratou disso no seu famoso livro “O Declínio do Homem Público” e outros destacam a degradação dos próprios Governos Nacionais frente à dita Governança Global dos grandes blocos financeiros, cujo marco é o denominado “Consenso de Washington”, 1989, preocupado exclusivamente com garantias a saudável acumulação financeira. Como entender que os bilionários multipliquem seus ganhos além fronteiras, sem qualquer limitação nem muitas vezes pagamento de impostos quando ser erguem muros e barreiras cada vez mais altas para que povos pobres procurem novas oportunidades em países mais ricos? Com isso, os últimos vestígios de definição ideológica dos Partidos Nacionais acabaram se diluindo sob os argumentos da “eficiência” econômica comandada por resultados corporativos globais e não de qualidade de vida das classes assalariadas. 

Maus sinais para as democracias que, incapazes de produzirem uma sociedade cada vez mais progressista e homogênea, acabam sucumbindo aos apelos de salvadores de pátria extremistas de direita, vez que, à esquerda, até mesmo os radicais comunistas acabaram acomodando-se à práxis das mornas políticas de estabilização, ainda que defendendo, aqui e acolá, Políticas compensatórias aos menos favorecidos. 

Na verdade, vivemos um mundo estranho no qual as bandeiras e métodos de contestação, típicos dos utópicos, acabaram caindo no colo de líderes populistas de extrema direita que, com isso, procuram capitalizar a preferência eleitoral das populações marginalizadas, tal como faz o milionário Donald Trump que não se cansa de dizer: - ‘Amo os sem educação’. Pura canalhice...Hora de se prestar atenção aos conselhos do Professor Sandel. Por que não temos tantas sedes de Partido nas periferias como existem lá Igrejas? Por que os políticos não providenciam levar ao povo a pregação de suas agremiações de forma a que, à cabeceira de cada leito familiar haja, ao lado do Livro Sagrado, uma Constituição? Depois não adiantará reclamar que há excesso de “analfabetos políticos”...

Anexos

RODA VIVA – TV Cultura – dias 14 e 19 agosto – O filósofo MICHEL SANDEL, Prof. Harvard USA, Autor de A TIRANIA DA MERITOCRACIA fala sobre a crise da meritocracia e a revolta contra as elites no mundo inteiro - https://www.youtube.com/watch?v=-XhwAq6CeQo 

Michael Sandel e a democracia do cotidiano – gauchazh.clicrbs-cultura-e-lazer/michael-sandel-e-a-democracia-do-cotidiano 

Filósofo de Harvard, que estará em Porto Alegre em 9 de agosto, aponta caminhos para fortalecer as instituições e o espírito democrático

RBS BRAND STUDIO - Michael Sandel é frequentemente apresentado como um “popstar” da filosofia. E o título não diz respeito apenas à popularidade de seus livros, que já foram traduzidos em mais de 30 idiomas. Professor da Harvard, o americano consegue transformar discussões densas em conferências tão envolventes e instigantes, quanto a apresentação de um astro da música.

O filósofo político estará em Porto Alegre no dia 9 de agosto, para conversar com o público e divulgar a edição brasileira de “O Descontentamento da Democracia: Uma nova abordagem para tempos periculosos”. O livro examina os motivos pelos quais a democracia tem se fragilizado nas últimas décadas nos Estados Unidos, processo que se repete em muitos outros países.

A conferência será realizada a partir das 20h, na Casa da Ospa. Os últimos ingressos podem ser adquiridos em www.fronteiras.com (participantes da temporada do Fronteiras do Pensamento já têm seu acesso garantido).

Quando está diante de uma plateia, Sandel não se limita ao tradicional posto de palestrante. Ao contrário, questiona e ouve a plateia, estimulando a reflexão e o compartilhamento de ideias. É uma postura de quem acredita que a democracia se fortalece a partir do diálogo e do debate cotidiano.

A seguir, listamos três ideias de Sandel que demonstram o quanto a postura individual dos cidadãos no dia a dia pode influenciar o debate público e a democracia.

1) Esquivar-se da moral é esquivar-se do debate

Sandel acredita que é um equívoco esquivar-se ou ignorar convicções morais e religiosas ao discutir sobre a vida em sociedade. O filósofo afirma que essa postura é erroneamente motivada pelo receio de que o debate escorregue para a intolerância e a coerção. Ele defende um percurso contrário: “Um caminho melhor para o respeito mútuo é engajar-se diretamente com as convicções morais que os cidadãos trazem à vida pública, em vez de exigir que as pessoas abandonem suas convicções morais mais profundas do lado de fora da política. Essa é uma maneira de começar a restaurar a arte da discussão democrática”.

Para Sandel, questões que se tornaram polêmicas em algum momento, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, guardam em seu cerne perguntas como “o que é um casamento? ” Ou “para que serve um casamento? ”. As respostas para essas perguntas muitas vezes são carregadas de influência moral e religiosa. No entanto, deixar de discuti-las faz com o debate se torne ainda mais confuso e mais distante de um acordo firme e respeitoso.

2) Não acredite que o mérito é só seu

Um dos livros mais badalados de Michael Sandel é “A Tirania do Mérito”, que coloca em xeque a meritocracia como fator de organização e hierarquização econômica e social. O filósofo argumenta que a meritocracia raramente é problematizada em nossa sociedade, tanto entre os conservadores, quanto entre os liberais. A discordância entre os grupos não costuma ser a respeito da “meritocracia em si, mas sobre como alcançá-la”.

Como exemplo, Sandel aponta que os conservadores consideram políticas de ação afirmativa em concursos de admissão em universidades como “uma traição à admissão baseada no mérito”. Por sua vez, “os liberais defendem as ações afirmativas como forma de remediar a injustiça persistente e argumentam que uma verdadeira meritocracia só pode ser alcançada nivelando o campo de jogo entre privilegiados e desfavorecidos”.

Essa polarização, no entanto, ainda oportuniza que pessoas privilegiadas creditem seu sucesso exclusivamente a um esforço pessoal. Sandel afirma que essa crença fundamenta uma “arrogância meritocrática” que impede o indivíduo de perceber, por exemplo, que formar um profissional no ensino superior é resultado de um esforço conjunto da sociedade, e não o fruto de uma iniciativa individual. Dessa forma, o indivíduo observa seu sucesso como um ponto isolado, e não como uma linha dentro uma trama complexa de esforços coletivos, atitude que fragiliza o senso de comunidade e, por consequência, o espírito democrático.

3) Fortaleça o debate público – fora das redes

Nos últimos anos, Michael Sandel vem alertando leitores ao redor do mundo para a necessidade do fortalecimento dos espaços de debate público. E as redes sociais não são necessariamente os melhores fóruns para esse tipo de discussão – pelo menos não do modo como funcionam atualmente.

O filósofo aponta que há pouca discussão verdadeira nesses espaços virtuais, ocupados por “guerras culturais” que não promovem acordos, mas geram ainda maior polarização. Em uma entrevista recente ao El País, Sandel afirmou que “precisamos desafiar a maneira como as mídias sociais funcionam e criar plataformas para conversas públicas que não aceitem simplesmente o modelo de negócios baseado em anúncios das empresas de tecnologia. Um modelo de negócios que não dependa da permanência das pessoas no mundo online o maior tempo possível, para que possam coletar cada vez mais dados pessoais e vender coisas aos usuários, reforçando o ciclo de consumismo. É antitético para o tipo de conversa pública de que precisamos”.

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MERITOCRACIA E ARISTOCRACIA

09 de julho de 2014 *

Franklin Cunha – Médico, membro da Academia Riograndense de Letras

A crise de transição dos Estados-Nações diante da globalização provocou uma impotência do poder do Estado, dos partidos políticos e do sindicalismo. Diante destas condições históricas surgiu nas hostes sociais democratas uma nova linha de pensamento: o liberalismo igualitário. Seu principal representante foi o jurista americano John Rawls. A novidade desta teoria está na tentativa de dar resposta ao dilema entre liberdade e igualdade, entre os direitos individuais e a equidade social. Em sua Teoria da Justiça, Rawls afirma que todos os valores sociais deverão ser repartidos de maneira igual, desde que as naturais desigualdades sejam vantajosas para os menos favorecidos. Baseado na teoria dos jogos de John Forbes Nash que pressupunha a ignorância daqueles que intervêm numa situação de escolhas de preferências, as decisões tomadas nesses casos, sob o que Rawls chama de “véu da ignorância”, seriam justas porque os jogadores tomariam uma conduta que, sem saber todos os dados, os levaria aos melhores lugares sociais e assim ser equitativos com os que ficariam nos piores lugares, pois os privilegiados saberiam que também poderiam eventualmente ser os potenciais perdedores. Simplesmente na distribuição às cegas das cartas de um baralho, ganha a partida quem recebe os melhores naipes e souber manejá-los.

Em realidade, as teses de Rawls, aparentemente justas, escondem uma sutil maneira de defender a desigualdade sob o manto da justiça, além de desconhecer o sentido comum de que ninguém quer perder nada e de não levar em conta a vida prática onde os indivíduos raramente tomam decisões desconhecendo suas consequências. Outra condição para que os “jogadores ” aceitem a desigualdade é que todos tenham as mesmas oportunidades não prejudicadas por privilégios socioeconômicos e de castas familiares ou corporativas. E, para que esta igualdade de oportunidades seja efetiva, é preciso que sejam compensadas as desvantagens do ponto de partida. Condição que na atual conjuntura das políticas neoliberais é uma quimera expressa numa falsa meritocracia que na realidade oculta o domínio da aristocracia financeira, sólida e plenamente atuante em todos os setores da economia somadas às cruéis vicissitudes vivenciais da competitividade. Enquanto isso os grandes grupos empresariais do mundo se unem cada vez mais fraternalmente em oligopólios e “holdings” numa concentração cada vez maior de riqueza financeira, dominação de conhecimentos e poder políticos.

E aos perdedores ... nem as batatas, apenas alguns ossos descarnados e descartados ao lixo.

Transcrito e reeditado por ocasião da presença no Brasil do Prof. Michael Sandel, quem, aliás, reitera minha crítica à meritocracia


 Editorial Cultural FM dia 24 agosto 23

 *

Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954 – Neste dia, suicidava-se o Presidente Getulio Vargas, vítima de insidiosa campanha da direita, deixando esta CARTA TESTAMENTO:

Mais uma vez, as forças que os interesses contra o povo coordenaram novamente se desencadeiam sobre mim.

Não me acusam, me insultam; não me combatem, caluniam. E não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei um regime de liberdade social. Tive que renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e mal começa a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobras foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.

Assumi o governo dentro da espiral inflacionária, que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500 por cento ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de cem milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma agressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo a vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentirei em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício nos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.

Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram, respondo com a minha vitória. Eu era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo, não mais será escravo e de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

Getúlio Vargas (Arquivo Getúlio Vargas / Fundação Getúlio Vargas – CPDOC)

Anexos

O legado da Carta Testamento e a luta pelo socialismo do século XXI - Fonte Rede Morena

 

De 1930 a 1964 a cena política brasileira foi dominada pelo embate sobre os rumos que o Brasil deveria tomar enquanto nação para tornar-se um país desenvolvido.

De 30 a 54 a figura política de Vargas aglutinou um campo político que defendia a necessidade de um projeto de nação brasileira baseado na independência política e econômica e com um caráter nacionalista burguês. Porém, com o desenrolar da luta política e principalmente após o suicídio de Getulio e a divulgação da Carta Testamento, esse campo modifica sua composição social e vai paulatinamente assumindo a necessidade de um desenvolvimento voltado para as maiorias, socializante e com um caráter nacionalista revolucionário.

Contrapondo-se a esse projeto, conformou-se um campo que inicialmente defendia o retorno ao poder político das oligarquias agro-exportadoras afastadas na chamada Revolução de 30 que, com o passar da luta política, também modifica sua composição e caminha para a defesa de um desenvolvimento associado e dependente do capital internacional, notadamente estadunidense.

Apesar da política brasileira nesse período não se resumir a esses dois campos, a luta política entre seus projetos históricos tendeu a uma radicalização que polarizou a sociedade brasileira.

Getulio foi a principal liderança pela implantação desse projeto de nação de caráter nacionalista burguês que visava conciliar os interesses do capital industrial e do trabalho para enfrentar a poderosa burguesia agro-exportadora aliada ao imperialismo. Setores poderosos que não perderam oportunidades de tentar retomar seus espaços políticos em vários momentos, como em 32 em São Paulo, nas eleições que ocorreriam em 37, no golpe que derruba Getulio em 45, nas eleições deste mesmo ano e na tentativa de golpe em 54, que foi impedido pelas manifestações populares após o suicídio de Getulio.

Paralelamente a esse enfrentamento, agudiza-se no campo político getulista as contradições inconciliáveis entre os interesses do capital industrial e dos trabalhadores. A maior parte da burguesia industrial, que via com desconfiança a política e a legislação trabalhista defendida por Vargas, começa a ceder aos “encantos” econômicos do projeto de desenvolvimento associado e dependente ao capital internacional. Essas contradições se refletem na conjuntura de 1945, onde as forças que apoiavam Getulio não conseguem se unificar em uma única organização política, surgindo a partir dessa realidade o PSD e o PTB.

Após o desastroso governo entreguista e antipopular de Dutra, Getulio, que inicialmente havia se filiado ao PSD, ganha as eleições de 1950, como candidato do PTB e com o apoio das massas trabalhadoras que se debatiam em meio à miséria e a falta de perspectivas.

Com o objetivo de dar continuidade ao projeto histórico interrompido em 45, seu governo retoma e cria mecanismos, como o seguro agrário, o IBC (Instituto Brasileiro do Café), o Banco do Nordeste, a CACEX (carteira de comércio exterior) do Banco do Brasil e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico) para incrementar uma política de estimulo às indústrias de base e a elevação da poupança interna.

Várias leis são sancionadas: lei sobre restrição da remessa de lucros das empresas estrangeiras para o exterior, a lei sobre crimes contra a economia popular, a lei que cria o monopólio estatal do petróleo através da Petrobrás e ainda é tentada a criação da Eletrobrás.

Após uma série de greves e mobilizações dos trabalhadores, o poder aquisitivo destes é garantido em face da inflação através de diferentes políticas sociais e do reajuste do salário mínimo de 100% proposto por João Goulart durante sua gestão no Ministério do Trabalho. Jango encaminhou a proposta mesmo sabendo que isso custaria o próprio cargo. Desde quando assumiu o Ministério sua prática de negociar e se antecipar às demandas dos trabalhadores, forçando, muitas vezes, os empregadores a fazer concessões, foi freqüentemente vista e denunciada pela oposição como uma maneira de "pregar a luta de classes".

Assim, Jango não era o ministro do Trabalho, mas o ministro dos trabalhadores. Para a oposição anti varguista Jango era um "manipulador da classe operária", "um estimulador de greves", "um amigo dos comunistas", que tinha como plano a implantação, com o assentimento de Vargas, de uma "república sindicalista" no Brasil.

Além de tudo isso, o governo Vargas participa de uma tentativa de retomar o Tratado do ABC, assinado em 1910 entre Brasil, Argentina e Chile, com o objetivo de buscar alternativas à condição de exportadores de matérias-primas e alimentos, apontando para a necessidade de uma maior integração latino-americana, com o intuito de fazer frente à hegemonia do imperialismo estadunidense na América Latina. Nas conversações mantidas com Perón, Vargas afirma que “Nossa Pátria é a América.”

Com a retomada de seu projeto, além da radicalização do campo opositor - hegemonizado pela burguesia agro-exportadora e cada vez mais aliado ao imperialismo americano - acirram-se as contradições com a maior parte da burguesia industrial, já seduzida pela lógica do capitalismo dependente. Em agosto de 54, Getulio está isolado politicamente, pois as massas trabalhadoras estavam atônitas e desnorteadas perante o ataque brutal da oposição ao seu governo, apoiado nos grandes meios de comunicação de massa.

Prestes a sofrer um golpe, Getulio suicida-se.

O suicídio não obedece a uma lógica de desespero, mas reflete o ato de uma liderança política consciente do momento histórico, de seu papel junto às massas trabalhadoras e do seu projeto histórico. Getulio constata o esgotamento da possibilidade de dar continuidade ao seu projeto nacionalista burguês, baseado na política de conciliação entre capital industrial e trabalho, em plena consolidação do imperialismo estadunidense na América Latina.

Com a divulgação da Carta Testamento, Getúlio entra para a história protagonizando o ato fundador de uma nova continuidade de seu projeto de nação em uma lógica antiimperialista e popular, que vai pautar uma reaproximação pela base de trabalhistas, socialistas e comunistas na década seguinte, dando conteúdo ao crescimento vertiginoso do PTB e de suas frações pela esquerda a partir da mobilização popular pela Legalidade e da ascensão da organização popular nas lutas pelas reformas de base no inicio da década de 60.

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Biógrafo Lira Neto: ao se matar, Getúlio Vargas adiou o golpe militar por dez anos

Já passava das 11 horas da noite do dia 7 de setembro de 1979, na praça Maurício Loureiro, centro de São Borja (RS), quando Leonel Brizola (1922-2004) subiu no palanque para fazer seu primeiro discurso em território brasileiro após voltar dos 15 anos de exílio que lhe foram impostos pela ditadura militar. Diante de 1500 […]

https://www.socialistamorena.com.br/biografo-lira-neto-ao-se-matar-getulio-vargas-adiou-o-golpe-militar-por-dez-anos/ 

 

Cynara Menezes - 25 de agosto de 20145

Já passava das 11 horas da noite do dia 7 de setembro de 1979, na praça Maurício Loureiro, centro de São Borja (RS), quando Leonel Brizola (1922-2004) subiu no palanque para fazer seu primeiro discurso em território brasileiro após voltar dos 15 anos de exílio que lhe foram impostos pela ditadura militar. Diante de 1500 pessoas, o trabalhista Brizola fez questão de destacar uma teoria que muitos ainda hoje ignoram ou rejeitam: o suicídio de Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954 foi capaz de deter por dez anos o golpe que se abateria sobre o Brasil em abril de 1964.

Segundo Brizola, ao escrever “saio da vida para entrar na história” na célebre Carta-Testamento, Getúlio publicava “uma denúncia e ao mesmo tempo uma antevisão”. Prevendo o golpe, Vargas se matava para deter a quartelada que se desenhava com o manifesto assinado, na véspera, por 19 generais exigindo sua renúncia –entre eles, o mesmo Castelo Branco que se tornaria presidente à força dez anos depois. Aeronáutica e Marinha já haviam feito idêntico pedido.

“Isso não é aceito pelas elites de nosso país, pela maioria dos sociólogos, pela maioria dos cientistas políticos, mas estou convencido que o Presidente Vargas anteviu este regime, até pensando que viesse no dia imediato à sua morte, mas foi o impacto emocional de seu gesto que ainda permitiu que as nossas liberdades fossem respeitadas durante mais dez anos”, afirmou Brizola, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo, citado no livro El Caudillo, de FC Leite Filho.

Getúlio deixara com João Goulart, seu ex-ministro do Trabalho, uma das três cópias da Carta-Testamento, sinalizando que ele seria seu principal herdeiro político. Alçado ao poder em 1961, Jango herdaria também o ódio das mesmas forças que levaram Getulio ao suicídio: os militares, o conservadorismo e a imprensa.

 

(JANGO E TANCREDO NEVES À FRENTE DO FUNERAL DE GETÚLIO EM 1954)

Procurei o autor da monumental biografia de Getúlio, Lira Neto, para averiguar se ele concorda com a visão de Brizola e também para saber de que forma, ideologicamente, ele situaria o complexo Vargas. Vejam a entrevista.

Brizola dizia que, ao se suicidar, Getúlio adiou o golpe militar em dez anos. É verdade?

Lira Neto: Mais do que uma tese defendida por Brizola, esta é uma constatação histórica, esposada por vários especialistas e estudiosos. Basta dizer que os almirantes, brigadeiros e generais que assinaram os três célebres manifestos militares exigindo o afastamento de Getúlio do poder em agosto de 1954 foram os mesmos que derrubaram João Goulart em 1964. Até o pretexto de que Getúlio planejava instaurar uma república sindicalista se repetiu na deposição de Jango. Em um e outro caso, os mesmos udenistas e setores conservadores do empresariado forneceram o apoio político-civil aos quartéis para derrubar um presidente constitucionalmente eleito.

Dá para imaginar hipoteticamente o que teria acontecido com o Brasil se Getúlio não tivesse se matado?

Lira: Ao optar pelo suicídio, Getúlio neutralizou os adversários que já se 

 

consideravam vitoriosos e com o poder nas mãos. O golpe civil-militar já estava em plena execução. Muito provavelmente, Getúlio seria retirado do palácio e levado para a prisão e, posteriormente, para o exílio. Os militares jamais repetiriam o “erro” de 1945, quando após derrubá-lo permitiram que ele permanecesse livre, em território nacional, recolhido a São Borja, articulando as circunstâncias de sua volta ao poder, o que afinal ocorreu em 1950, por extraordinária votação popular. Nos três livros, mostro como, desde sempre, já a partir de 1930, Getúlio trabalhou com a perspectiva do sacrifício pessoal como um ato político de resistência, como um protesto eloquente contra os inimigos. Ele jamais se permitiria passar à posteridade como um derrotado, exposto ao vexame, eternizado por um fracasso. Nesse sentido, encontrou, na morte, a sua vitória.

 

 

(BRIZOLA, SUA MULHER NEUSA E GETÚLIO)

Brizola e Jango eram seguidores do trabalhismo. Darcy Ribeiro via o trabalhismo como uma espécie de socialismo. Você concorda?

Lira: Na verdade, Getúlio era um homem pragmático, que se amoldava de acordo com as circunstâncias, para além das convicções ideológicas. Em 1929, em entrevista a um jornal gaúcho, disse que sua grande inspiração política era, textualmente, “a renovação criadora do fascismo de Benito Mussolini”. No momento em que a democracia e o sistema representativo se encontravam em xeque, com a quebra da Bolsa de Nova York e a Grande Depressão norte-americana, ele se posicionava como um simpatizante assumido dos regimes autoritários europeus, incluindo o nazifascismo, que surgia como pretenso antídoto para a crise do regime democrático. Chegou, inclusive, a cogitar o apoio brasileiro ao Eixo durante a Segunda Guerra, mas acabou aderindo aos Aliados por questões econômicas e estratégicas.

Alguns avanços de Getúlio na área trabalhista são modernos até hoje, tanto é que sofrem críticas dos setores mais conservadores da economia. Neste aspecto, pode-se dizer que Getúlio era “de esquerda”?

Lira: Quando Getúlio, após a queda em 1945, retornou ao cenário político em 1950, em pleno contexto da Guerra Fria, a defesa que sempre fizera do Estado intervencionista o colocou, pelo menos no plano do discurso, à esquerda do espectro político. Enquanto seus adversários pregavam a manutenção do alinhamento incondicional aos Estados Unidos, interpretando assim de modo esquemático qualquer negação ao liberalismo como uma opção pelo comunismo russo, ele passou a defender a “democracia social”, reforçando a ideia geral de que se convertera ao socialismo. Tratava-se, é claro, de uma simplificação, de um reducionismo. Getúlio sempre foi um anticomunista ferrenho. E, a rigor, com sua polca de industrialização e de urbanização do país, promoveu a gênese do próprio capitalismo no Brasil.

Mesmo seu primeiro governo tendo sido uma ditadura severa, você considera que Getúlio teve qualidades como presidente? Quais?

Lira: Getúlio, com todas as suas inúmeras contradições, deixou pelo menos dois grandes legados para o país. O primeiro foi o seu projeto nacional desenvolvimentista, que nos legou por exemplo a Petrobras, a siderúrgica de Volta Redonda e o BNDES, conduzindo assim um país agrário, semifeudal, monocultor, para o caminho da industrialização. O outro legado, sem dúvida, foi a vasta legislação trabalhista, que impôs um relativo equilíbrio na relação entre capital e trabalho e representou um inegável avanço para uma nação que, numa perspectiva histórica, se encontrava recém-saído da escravidão. Em síntese, Getúlio ajudou a modernizar o Brasil. Mas, mesmo nesse caso, é preciso evitar o pensamento simplista. As conquistas no campo do trabalhismo não podem ser entendidas como um gesto benevolente e magnânimo de um “pai dos pobres”. Elas foram conquistas da própria classe trabalhadora. Getúlio teve a sensibilidade histórica e a astúcia política de responder a uma demanda pré-existente. O movimento sindical dos anos 20, controlado por anarquistas e comunistas, pressionava por mudanças. Ao decretar leis favoráveis ao trabalhador, Getúlio tomou-lhes a bandeira e passou a tutelar o sindicalismo, por meio do Ministério do Trabalho. Bom lembrar que não havia sindicatos livres durante o Estado Novo.

Por último: por que São Paulo não tem nenhuma avenida com o nome dele?

A rusga dos paulistas com a memória de Getúlio remete, é óbvio, ao trauma da Revolução Constitucionalista de 1932. Contudo, como bem salientam vários historiadores e cientistas políticos, São Paulo acabou sendo o grande beneficiado pela política de industrialização da chamada Era Vargas. Com um detalhe: na sua volta ao poder, nas eleições de 1950, Getúlio teve a campanha financiada por membros da emergente burguesia industrial paulista.

Clique aqui para ler mais sobre Getúlio e o golpe de 1964 no especial da EBC, de onde reproduzo este vídeo com Lira Neto: https://youtu.be/dTQIbDtdEW4


 Editorial Cultural FM Torres RS – 23 agosto 2023

O Arcabouça enterra o Teto de Gastos

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Café da Manhã - ´Podcast FOLHA UOL

https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/08/podcast-explica-o-que-esta-em-discussao-na-cupula-do-brics.shtml 

Podcast explica o que está em discussão na Cúpula do Brics. Encontro em Joanesburgo debate expansão do grupo e estratégias para reduzir dependência do dólar

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A aprovação, ontem, do Arcabouço Fiscal, instrumento que pretende regular os gastos públicos em substituição à PEC 95, denominada PEC da Fome, de iniciativa do ex Pres. Temer, na sua obsessão por uma PONTE PARA O FUTURO, num sentido absolutamente contrário ao que foi o Programa ESPERANÇA E MUDANÇA de Ulysses Guimarães, na Nova República que se inaugurava promissora em 1985, é um alívio para a Nação. Não se trata de instrumento nem ideal, nem definitivo. Já se imaginam alterações para o ano que vem. Mas tem o mérito de romper a inércia de um discurso que se disseminou pelo mundo e pelo Brasil que proclama a absoluta prioridade da governança ao equilíbrio das contas públicas. Veja-se, por exemplo, aqui mesmo no Rio Grande do Sul. Os dois últimos governadores – Sartori e Leite - só falam em privatizações e cortes de gastos enquanto a economia gaúcho periclita na estagnação à falta de investimentos, tal como vem denunciando o Economista CARLOS PAIVA, autor de um livro, ainda inédito, mas que tivemos oportunidade de apresentar ao público e que será lançado na Feira do Livro de POA neste ano. Esta obsessão pelo equilíbrio fiscal, desprezada por economistas do pós guerra influenciados por J.M.Keynes, veio à tona com os governos conservadores de TATCHER e REAGAN nos anos 1980 e se consolidou como regra compulsória de governança no chamado CONSENSO DE WASHINGTON, em 1989, instaurando o NEOLIBERALISMO como ideologia capaz de promover o progresso e a paz mundial. Não conseguiu nenhuma coisa , nem outra, mas persiste como inércia discursiva em obediência às exigências dos grandes blocos financeiros articulados ao dólar. A mudança ontem aprovada, enfim, é uma abertura a um novo diálogo sobre finanças públicas e governança cujos desdobramentos dependerão da capacidade da sociedade brasileira se mobilizar para a recuperação de sua soberania diante das pressões internacionais e, assim, retomar seu ritmo histórico de desenvolvimento. Coincide, no tempo, com a abertura da Reunião do BRICS na Africa do Sul, o qual emerge com grande autonomia e desenvoltura na geopolítica mundial com o peso de ter metade da sua população e 40¨% do seu PIB, além do peso inequívoco de sua potência militar, aí incluídas três potências nucleares.

O mundo, enfim, gira, a Luzitana roda e como dizemos aqui, “tudo di-muda”.

Anexo 

Arcabouço fiscal: chantagem e catastrofismo - 2/08/2023 Paulo Kliass , Doutor em Economia - Todo mundo sabe que a votação na base da tratoragem impede maior debate da matéria e dificulta a visualização de alternativas para tornar o novo arcabouço fiscal menos austero e menos prejudicial ao uso da política fiscal como instrumento de retomada do crescimento da economia

https://forum21br.com.br/todos/arcabouco-fiscal-chantagem-e-catastrofismo/ 

A dinâmica do debate a respeito da questão fiscal se assemelha às séries que pipocam por todas as telinhas, sempre apresentadas ao público com várias temporadas e muitos episódios. Se considerarmos que os principais roteiristas do tema sempre estiveram pagos e contratados pelos interesses do financismo, não é difícil perceber quais os desenhos e os paradigmas que estiveram presentes nas propostas oficiais desde o início da década de 1990.

Ao contrário das intenções da maioria dos constituintes eleitos em 1986 e que trabalharam no projeto da nova Carta Magna adotada oficialmente em 1988, as classes dominantes brasileiras em quase todos os momentos preferiram se orientar pelos comandos emanados do establishment financeiro internacional. Eram os tempos do esmagamento político e ideológico promovido pelos organismos internacionais, pelas principais instituições universitárias vinculadas ao universo empresarial e pelos grandes meios de comunicação em todos os continentes. Enfim, era a época de ouro do neoliberalismo e do então chamado Consenso de Washington. A doutrina ganhava contornos mais chiques com a sigla em inglês TINA – “there is no alternative”, para dizer que esse era o único caminho possível.

Para além das recomendações de privatização das empresas estatais, de redução da dimensão do setor público ao seu Estado mínimo e de liberalização generalizada das atividades econômicas, havia uma orientação expressa pela implementação de políticas e regras visando a austeridade fiscal. Ao longo desses quase 40 anos, o Brasil cumpriu com boa parte do seu “dever de casa”, para mencionar a famosa expressão tão ao gosto dos articuladores e lobistas vinculados ao povo das finanças. Na verdade, foram os sucessivos governos que levaram à frente tais medidas de natureza conservadora, cada um ao seu ritmo e com suas devidas particularidades.

Austeridade fiscal vem de longa data.

Assistimos ao longo processo de venda de empresas públicas e de economia mista de diversos ramos da economia, da colocação em marcha das medidas de desregulamentação de amplos setores e da adoção de medidas de arrocho na política econômica, em especial na área fiscal. Nesse último caso, um marco importante deu-se com a aprovação da Lei Complementar nº 101/2000, que ficou conhecida como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Ela pretendia estabelecer regras mais duras para a dinâmica e a orientação da política fiscal, com definição de atribuições das relações do governo com o Tesouro Nacional e também das formas de relacionamento e obrigações dos tesouros estaduais e municipais.

Surgem aí as determinações oficiais de busca de superávit primário, o cumprimento das metas de indicadores de endividamento público e a orientação generalizada de um viés de ajuste pelo lado de cortes nas despesas. Por outro lado, de alguma maneira, foram lançadas também ali as bases para uma abordagem que apontava para a criminalização da política fiscal. Ao longo das primeiras décadas de vigência da nova legislação, a orientação para penalizar entes federados e gestores públicos atingiu especialmente os governos estaduais e os municípios. Mas a pressão sobre o governo federal aumentou de intensidade a partir da chegada de Lula ao Palácio do Planalto em 2003. O ápice de tal apologia à austeridade veio com o golpe perpetrado contra Dilma Roussef, cujo processo de impedimento foi iniciado com aquilo que a grande imprensa cunhou irresponsavelmente como “pedaladas fiscais”.

No final daquele mesmo ano em que Michel Temer assume a Presidência da República, tem início uma nova temporada na questão fiscal. Em dezembro de 2016 é promulgada a Emenda Constitucional nº 95, estabelecendo o teto de gastos. A partir do chamado “novo regime fiscal” ali estabelecido, o Brasil estaria condenado a atravessar 20 longos anos sem que nenhum aumento no volume de despesas primárias fosse permitido. Entre 2017 e 2036 o total de gastos orçamentários não-financeiros só poderiam ser corrigidos de acordo com a inflação de cada exercício ao longo do período.

Teto de gastos foi catastrófico.

A aprovação de tal dispositivo pelo Congresso Nacional revelou-se uma vitória das alas mais extremistas do financismo e pavimentava a rota para a privatização das empresas estatais e para a transferência ao capital privado da responsabilidade por oferecer à maioria da população as políticas públicas previstas na Constituição. Os “especialistas” papagueavam a torto e a direito a tese de que o orçamento não era capaz de dar conta das obrigações previstas na Constituição. O mais impressionante é que tais ideias equivocadas e oportunistas voltam a circular nos tempos atuais pelas bocas de integrantes do governo.

O flagrante excesso de draconismo previsto na regra colaborou para que ela tivesse uma vida mais curta do que o imaginado por seus criadores. A relação entre os poderes Executivo e Legislativo, por mais que houvesse uma figura como Paulo Guedes como superministro da economia no governo de Jair Bolsonaro, acabou construindo meios para se escapar às restrições de gastos. Essa dinâmica era ainda mais evidente em anos de eleições, quando a lógica da sobrevivência das lideranças políticas acaba falando mais alto do que eventual obediência aos ditames da ortodoxia financista. Assim, buscava-se a cada momento encontrar uma solução casuísta para agradar às bases do governo no parlamento sem que o teto de gastos fosse formalmente revogado.

A derrota de Bolsonaro em outubro do ano passado colocou um sério freio nas pretensões da extrema direita em se perpetuar no poder por meio de mecanismos golpistas e autoritários. A vitória de Lula deu-se com base em uma ampla frente contra o fascismo, mas apontava para um programa desenvolvimentista e de reconstrução do Estado e suas políticas públicas. Durante a campanha, o candidato a um terceiro mandato presidencial sempre se manifestava pela revogação do teto de gastos, com a promessa de fazer 40 anos em 4. No entanto, durante o período de transição, ele foi convencido pelo futuro Ministro da Fazenda de que a melhor estratégia seria apresentar uma PEC, onde a revogação do teto de gastos estaria condicionada à apresentação de um novo arcabouço fiscal pelo novo governo.

Lula 3.0: revogar teto de gastos e romper com austeridade

Naquele momento pode-se dizer que teve início uma nova temporada da série sobre a questão fiscal. A prioridade concedida por Fernando Haddad às negociações com o Presidente do Banco Central e com demais representantes do sistema financeiro culminou no Projeto de Lei Complementar PLP 93. Trata-se de um novo modelo de austeridade fiscal – menos calamitoso do que o teto de gastos, é verdade – mas nem por capaz de atender as reais necessidades de crescimento e desenvolvimento que a maioria do País tanto aguarda. Como o Ministro da Fazenda se recusou a ouvir as propostas de economistas não alinhados com a nata das finanças ou as sugestões das centrais sindicais e demais entidades do campo democrático e progressista, a proposta do governo Lula 3.0 terminou por ser aquela de interesse apenas dos grandes bancos.

Além disso, no afã de carimbar seu passaporte de bom mocismo junto às elites endinheiradas, Haddad colaborou para a criação de um clima enganador de uma suposta urgência urgentíssima para aprovação das novas regras ficais. A PEC dava um prazo até final de agosto para o governo apresentar ao poder legislativo sua proposição. Haddad exigiu que a matéria fosse concluída a toque de caixa, sem nenhum debate e a Exposição de Motivos acompanhando a proposição foi assinada em 17 de abril. Tamanha pressa revelou-se sem necessidade alguma e a matéria segue até agora no interior do Congresso Nacional, em um jogo de empurra entre as versões aprovadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. E nem por isso o Brasil quebrou.

No episódio atual, percebe-se uma tentativa de reanimar o clima de chantagem e catastrofismo que sempre envolveu o tratamento da questão. Por um lado, o Presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, se utiliza pela enésima vez de seu poder na definição de pautas e prioridades para reforçar a chantagem junto a Lula e obter cargos na composição ministerial e no segundo escalão do governo. Por outro lado, cresce um descontentamento generalizado com o texto, uma vez que os próprios parlamentares da base e da oposição percebem os prejuízos de entrar em ano eleitoral sem a possibilidade de se utilizar das despesas orçamentárias em suas regiões.

O financismo e os grandes meios de comunicação alardeiam para os supostos riscos de não se aprovar a matéria rapidamente. Mentira! As regras para execução do orçamento até dezembro de 2023 já estão dadas. As diretrizes do novo arcabouço fiscal previstas no PLP 93 só entrarão em vigor para o exercício de 2024 e os seguintes. Não há razão para tamanho assanhamento – a não ser a reprodução do clima pré apocalíptico caso a medida não seja votada ainda em agosto. Todo mundo sabe que a votação na base da tratoragem impede maior debate da matéria e dificulta a visualização de alternativas para tornar o novo arcabouço fiscal menos austero e menos prejudicial ao uso da política fiscal como instrumento de retomada do crescimento da economia.

A versão apresentada por Haddad não contemplava as falas de Lula quanto à retirada de saúde e educação do conceito reducionista de “despesa”. A proposta enviada não abre alternativas para se aumentar a necessária e urgente capitalização de empresas estatais. O PLP 93 insiste nas regras de superávit primário e aponta a meta de zerar o déficit em 2024, ano em que haverá eleições para prefeitos e vereadores em todos os mais de 5.700 municípios do País. Assim, mesmo os parlamentares de perfil mais conservador reagem a esse tipo de restrição de dispêndios.

Arcabouço fiscal: não há urgência nenhuma!

Além disso, o novo arcabouço fiscal continua focando na contenção das despesas como estratégia para a busca do sacrossanto equilíbrio. De acordo com a medida, os gastos só poderão crescer a um ritmo de 70% do ocorrido com as receitas. Não existe argumento plausível para tal orientação, a não ser apontar para a redução paulatina da capacidade de o Estado cumprir com suas obrigações constitucionais e atender às necessidades da maioria da população.

O mais adequado seria aguardar o retorno de Lula de sua viagem à África para buscar um novo entendimento a respeito do tema. Imagina-se que esses quase 8 meses de governo tenha sido um tempo suficiente para cair a ficha no conjunto dos partidos da base a respeito dos equívocos presentes nos dispositivos do PLP 93. O Senado Federal já incluiu algumas medidas de flexibilização da austeridade. Esse é momento para recomeçar um debate honesto e sincero a esse respeito. Não existe urgência alguma para novo atropelo de tramitação.

Trazer um pouco mais de serenidade, de luz e de oxigênio a essa discussão incomoda aqueles que não querem mudança alguma na medida enviada. Mas a sociedade tem todo segundo semestre pela frente para esclarecer as dúvidas e definir um modelo fiscal que rompa com os preceitos da austeridade burra e desnecessária. Lula sempre insiste na necessidade de oferecer a dimensão social à responsabilidade fiscal. Esse é o momento de incluir tal preocupação no projeto de lei em debate no Congresso Nacional


Editorial Cultural FM Torres RS dia 22 agosto 23

Dia 22 de agosto – Dia do Folclore Brasileiro

O Dia do Folclore Brasileiro, hoje celebrado em todo o Brasil, foi oficialmente fixado em Decreto de Lei nº 56.747, de 17 de agosto de 1965, posteriormente aprovado pelo Congresso Nacional, a partir de proposta do Congresso Nacional de Folclore realizado naquele ano. O folclore se manifesta por meio de , lendas, canções, danças, artesanatos, festas populares, brincadeiras, jogos e outras manifestações, como a própria indumentária. o Brasil muitos elementos folclóricos, embora cada vez mais invadido por manifestações estrangeiras como o Dia das Bruxas, de origem irlandesa, mas há um consenso que nosso manancial se nutre da tradição indígena, africana, lusitana – como as congadas e a Festa do Divino Espírito Santos – e até de imigrantes que trouxeram na bagagem suas próprias tradições, como, por exemplo, italiano e alemães no Sul. Nossos personagens mais autênticos são, entretanto, o saci-pererê, a iara, o boto, o curupira, boi-tá-tá, mula sem cabeça e o negrinho do pastoreio.

Não existe um povo sem folclore, pois ele o identifica culturalmente e antecede a escrita, e, por isso, é considerado pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial, sendo imprescindível a realização de esforços para a sua preservação. O termo folclore vem do inglês – folklore -. Palavra criada por William John Thoms, em 1846 para significar o saber popular transmitido oralmente através de gerações. Quando este saber se institucionaliza, seja pelo Estado, seja por Organizações, mesmo genuínas, como o Movimento Tradicionalista Gaúcho, voltadas à sua preservação, corre o risco de se descaracterizar, transformando-se em fantasmagoria. Daí a emergência de instituições voltadas ao seu estudo, tal como as que hoje existem em vários países do mundo, e de escritores, como Herder e irmãos Grimm que registram e imortalizam esses saberes sempre entremeados de muita fantasia e mitos. Obra imprescindível ao estudo do Folclore, nas suas diversificadas interpretações, é o livro A Invenção das Tradições, do historiador Eric Hobsbawn, até pela desmistificação que faz sobre a “originalidade” desta manifestação cultural.

 

 “Mito e invenção são essenciais à política de identidade pelo qual grupos de pessoas ao se definirem hoje por etnia, religião ou fronteiras nacionais passadas ou presentes, tentam encontrar alguma certeza em um mundo incerto e instável, dizendo: "Somos diferentes e melhores do que os outros". (Eric Hobsbawm , Sobre a História -p. 19)

 

 Aqui no Brasil, destacaram-se como folcloristas Luís Câmara Cascudo, fundador da Sociedade Brasileira de Folclore em 1941 e autor de Folclore do Brasil, e Mário de Andrade, pelo seu exaustivo trabalho de recolecção das manifestações da cultura popular, sendo de se destacar, também, o nome do cearense Leonardo Motta, dedicado editor de adágios populares (tenho-o, por doação de seu neto, velho amigo, já falecido, à cabeceira...) e o de Paixão Cortes, no Rio Grande do Sul, pela sua contribuição ao tradicionalismo gauchesco. Merecem lembrança, ainda os escritores Christopher Kastensmidt, Samir Machado de Machado e Enéias Tavares, os quais constroem tramas que misturam História, ficção e realismo fantástico, com destaque a elementos do folclore nacional. Mas veja-se também estas sugestões: 

10 livros para aprender sobre o folclore brasileiro

No Brasil, a questão do folclore é tratada no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular , ligado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, do Ministério da Cultural e periodicamente são realizados congressos nacionais para discuti-lo 

Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP)

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/400

 

O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) tem atuação nacional e sua missão consiste na pesquisa, documentação, difusão e execução de políticas públicas de preservação e valorização dos mais diversos processos e expressões da cultura popular. Sua estrutura abriga: o Museu de Folclore Edison Carneiro, a Biblioteca Amadeu Amaral e os setores de Pesquisa e de Difusão Cultural, além da área administrativa. 

Criado em 1958 e vinculado ao Iphan desde 2003, o Centro atua em diferentes perspectivas com o objetivo de atender as demandas sociais que se colocam no campo da cultura popular. Entre suas principais ações destacam-se os projetos de fomento da cultura popular, desenvolvidos pelo Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart) e Sala do Artista Popular (SAP); programas de estímulo à pesquisa, como o Concurso Sílvio Romero de monografias, o Etnodoc (edital de filmes etnográficos), o Dedo de Prosa (fórum de debates) e o Projeto Memórias dos Estudos de Folclore.

Na área de difusão e formação de público, destacam-se o programa de exposições, o programa educativo, o Curso Livre de Folclore e Cultura Popular e os programas de edições e intercâmbio. E na área de documentação, o tratamento, atualização e disponibilização dos acervos museológico (14 mil objetos – MFEC), bibliográfico e sonoro-visual (300 mil documentos – BAA), parte deles disponibilizada em suas coleções digitais. 

 

No Rio Grande do Sul, reina, soberano sobre as tradições o Movimento Tradicionalista Gaúcho- MTG-, sob o qual se disseminam no país e no mundo os Centros de Tradição Gaúcha. Nos últimos anos este Movimento tem sido contestado sob o argumento da diversidade étnica da população rio-grandense. No litoral norte do Estado, de forte presença açoriana e distante do foco original e de maior peso na sociedade do Rio Grande do Sul, o tradicionalismo subsiste, mas sem o peso que tem na metade sul. 

 

 

Ainda assim, mesmo esta conquista do MTG vem sendo cada vez mais contestada pela crítica mais criteriosa do Rio Grande do Sul. A partir de 2007 começam a crescer as contestações ao caráter hermético e segregacionista do MTG, culminando na subscrição de um “Anti –Manifesto” , cuja principal mensagem é “O talibã é aqui”

 

“Um dos fenômenos socioculturais mais emblemáticos do Rio Grande do Sul, com repercussão no Brasil, começou a ocorrer em 2007. Alguns representantes da área cultural e da comunicação sistematizaram as interpretações e as opiniões de dezenas de intelectuais e artistas sobre o Movimento Tradicionalista Gaúcho.

 

Desse ponto de vista, o Manifesto condenou a militância tradicionalista para mangueirar o povo, demonstrando a insustentabilidade histórica de sua pretensão usurpadora, ao mesmo tempo em que defende um processo de inclusão na historiografia e na cultura de participação e representação republicana de todos os segmentos sociais.

Com os signatários iniciais, o Manifesto foi disponibilizado na internet. Através de um link, aqueles que concordavam com suas reflexões, passaram também a assiná-lo durante algum tempo. Multiplicou-se vertiginosamente por blogs, sites e emails. Uma repercussão extraordinária! Exceto para a mídia tradicional. Nenhum jornal impresso, rádio ou televisão pautou o assunto. Enquanto isso, as redes sociais o multiplicaram, novas interpretações apareceram, milhares de acessos ao endereço http://gauchismos.blogspot.com/ .”

           (Tau Golin - Hegemonia gauchesca - www.sul21.com.br - 15/09/11 ) 

 

Enfim, neste Dia Nacional do Folclore há que ter presente que passado e presente se entrelaçam na construção de nossa identidade, seja nacional ou regional, tal como afirma Rubem Oliven:

Nas Américas, assim como na Europa, a associação entre passado e presente foi uma constante em projetos modernizadores ligados à criação de estados nacionais ou à organização da sociedade. Se a nação é “uma comunidade de sentimento que normalmente tende a produzir um Estado próprio” (Weber, 1982, p. 207), antigas tradições reais ou inventadas - precisam ser invocadas para dar fundamento ‘natural’ às identidades em vias de criação, obscurecendo-se assim o caráter artificial e recente dos Estados nacionais. Essa dialética entre velho e novo, passado e presente, tradição e modernidade, foi uma constante nos processos que estamos analisando no Rio Grande do Sul.

(Ruben G. Oliven , Em busca do tempo perdido - O Movimento Tradicionalista Gaúcho- http://www.torres-rs.tv/site/pags/rgsul_folclore2.php?id=879" )

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Anexo

Encontro com Escritores de POA – Ondina Fachel Leal – 5 agosto 2023 - https://facebook.com/events/s/porto-alegre-250-anos-entrevis/6378318298926865/?mibextid=Gg3lNB

2021 - Lançamento do livro OS GAÚCHOS - CULTURA E IDENTIDADE MASCULINA NO PAMPA, DE ONDINA FACHEL LEAL - TOMO EDITORIAL.- Resenha

 Adeli: OS GAÚCHOS 

 Esta visualização - título com meu nome- é uma provocação para captar sua leitura. Alguns, sem dúvida, vão dizer: o que este catarinense tem a falar? 

 Não sou eu que tenho uma tese sobre quem é ou não é gaúcho. Vou falar de algo mais amplo, mais sério, que é do livro de Ondina Fachel Leal, “Os Gaúchos – cultura e identidade masculinas no pampa”. É o livro que veio para ficar, para que não se perca mais tempo com discussões esotéricas, porque a realidade do gaúcho e seu locus está nas páginas deste livro.

 Trata-se de livro da antropóloga porto-alegrense, lançado em 2021 pela Tomo Editorial. O texto deste livro tem como base sua tese de doutoramento feito nos EUA, em 1989. Ou seja, nosso acesso ao escrito em português se dá há mais de 30 anos depois.

 Aqui não temos uma resenha, nem um texto crítico, temos uma provocação para a leitura obrigatória deste texto profundo, sério, fruto de uma pesquisa exaustiva nos campos abertos do pampa, em especial na região de Alegrete e Artigas no Uruguai.

 Vou tentar mostrar com alguns tópicos as razões pela leitura, a começar pelo Prefácio – “O mais eloquente dos silêncios” – do professor titular de antropologia do Museu Nacional/UFRGS.

 Temos boas razões da leitura, insisto, também na Apresentação – Trinta anos, trezentos anos – feita pelo professor titular de Literatura no Instituto de Letras, Luís Augusto Fischer. Para mim, o Professor Fischer fez um grande bem para todos nós em convencer a autora a produzir o livro em português. Não cabe aqui falar deste tempo em que era “apenas” uma tese acadêmica em inglês. Ganhamos todos nós.

 Na Introdução, de 2020, Ondina nos explica o seu “Reencontrando os gaúchos”. 

 Vou seguir os capítulos, para pegar o fio da meada dos escritos para as pessoas terem uma ideia da pérola que agora os leitores em português em mãos. 

 Ondina começa com “O gaúcho e o Pampa – terra de fronteira sem fronteiras”, o que lembrou Artigas e Andresito, entre outros que sempre sonhavam com uma “pátria sem fronteiras”. No livro em várias passagens fica claro que para o gaúcho a “fronteira” pouco ou nada lhe diz respeito.

 Na página 39, aparece o título “Homens montados: o Sul como área cultural” para logo em seguida tratar da semântica do termo gaúcho: “guerreiro, bandido, herói, trabalhador”.

 No Capítulo seguinte: “Trabalho de campo – quando o campo é campo” – temos o “recorte” da pesquisa, das planuras da Pampa, das estâncias, dos vilarejos, do trabalho dos peões etc para ela nos falar de “Uma intrusa em um universo masculino: notas sobre o método”.

 “O galpão e suas histórias” é, em minha opinião, o início da apreciação da seiva não só do favo de mel, mas de toda a caixa dele. Ela ao escrever: “O galpão, a casa dos homens” é o toque de mestre para entender a sua busca do “ser gaúcho”: causos ali contados, payadas, chistes, ditados, “lore” (tradição) do riso etc.

 Para se entender melhor, o capítulo seguinte “Mulher, a alteridade ausente” (em contraposição a “casa dos homens, no caso o galpão. Ali, Ondina trata da ausência feminina. A autora fala á exaustão da vida das mulheres, fora da estância, em “las casas”.

 Em seguida, vamos à leitura de “Os homens e seus galos” – um título genial porque tem significados múltiplos, ali a autora fala de “Rinha de Galos”. E esta relação “homem-galo”, o rinhadeiro, o jogo, tudo com um ar de “proibido”, mostra como há clara indicação do modo de ser galo, postura, coragem, bravura, luta até a morte como um gaúcho e se vê.

 O mais chocante é quando chegamos ao capítulo “Suicídio – a morte como um discurso final” – não porque falar da morte por determinação pessoal, mas porque é um meio de ser, de mostrar que o gaúcho tem domínio sobre si e seu meio pela coragem, tanto que pode e vai tirar sua vida.

 Expus aqui um relato breve dos capítulos e seu conteúdo.

 Não poderia deixar de falar e citar aqui o poeta gauchesco, talvez o mais significativo, Vargas Netto:

 E o que o gaúcho fez!?

 Quanto caboclo bicharedo

 Chegava rindo, como num brinquedo

 e entreverava na peleia

 Como quem entra num bochincho”

(...)

 “Está na massa do sangue desse povo,

 Porque o gaúcho é como o cinamomo,

 duma ponta de raiz brota de novo

 e um outro cinamomo ficará de pé.”

(...)

 Um gaúcho se mata e não se vence”

 

 A poesia de anos e anos, bem antes dos estudos de Ondina, Vargas Netto publicou em sua Tropilha Crioula em 1925.

 A autora também se valeu da nossa literatura, das musicas, dos causos para poder afirmar o que, de fato, é O GAÚCHO. Não estamos aqui tratando como vulgarmente falamos que gaúcho é qualquer pessoa daqui, do Rio Grande do Sul. Na verdade, estamos diante de rio-grandenses. Já que gaúchos são homens da Pampa, trabalhadores da campanha, que vivem solitários nas lides da produção de gado, equinos, ovelhas, vivendo no galpão da estância, com o “seu” cavalo, sendo ele a figura mitológica do “centauro”.

 Vimos linha a linha, página a página, como é o gaúcho, o seu ser, o seu fazer, como se forja o homem trabalhador da estância, como a imagem que se tem desta mesma pessoa: homem, solitário, vivendo isolado numa fazendo, morando, alimentando-se no galpão. Homem vivendo entre outros homens, distante das mulheres que lhes metem mais medo do que qualquer outro sentimento.

 Pelos escritos de Ondina Fachel Leal nos levam a pensar na necessidade de discutirmos mais nossa cultura, nossas origens, como chegamos a este gaúcho, passando por Sepé e Andresito.

 Nada melhor do que ler o livro, pois este texto é uma mera instigação.

Adeli Sell - 2023, 17.08 – in www.cronoletespoa250.com 

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 Editorial Cultural FM Torres RS DIA 21 AGOSTO

 - “O preço da liberdade é a eterna vigilância”

O título deste Editorial não tem nada de original, nem de inspiração esquerdista. Trata-se do lema da antiga UDN, Partido que se formou no fim da ditadura Vargas em 1945 e que reuniria as forças conservadoras do país em oposição ao seu legado até o golpe militar, em 1964. Depois disso os udenistas se constituiriam no núcleo principal dos políticos que dariam sustentação ao regime ali instalado até a redemocratização em 1985, quando muitos deles já haviam morrido, estavam já fora da vida pública ou simplesmente inconformados com os rumos do regime que ajudaram a criar. Emblemático deste processo foi JOSÉ SARNEY, tido como UDN Bossa Nova nos anos 1950, quando governava o Maranhão e que presidiu o Partido governista – ARENA – até às vésperas do pleito indireto que elegeria Tancredo Neves, pelo PP, meio herdeiro do velho PSD. Sarney, então, saltou da ARENA para o MDB para ocupar a vice-presidência de Tancredo. Como todos sabem, com a morte deste, virou Presidente por cinco anos. O Presidente da Nova República, de 1985 até 1990...

O preço da liberdade, porém, entre nós, voltou a ser cobrado diante dos distúrbios da transição de Bolsonaro para Lula III, culminando nos episódios do 8 de janeiro. Seu produto rolou nas redes sociais como palavra de ordem para impor a vontade direta das mobilizações populares contra a vontade das urnas. Não poucas exortações à liberdade foram disseminadas nas ditas redes como justificativa esfarrapada para o assalto ao Poder. Muitos ingênuos, outros por convicção autoritária, outros por interesse, caíram na cantilena e se lançaram aos acampamentos à frente dos quarteis pedindo INTERVENÇÃO MILITAR, sem se aperceberem que isso conduziria, inevitavelmente, à eliminação, primeiro das liberdades públicas, depois das liberdade privadas, tal como, aliás, aconteceu em 1964 e que perduraria, com grandes sofrimentos até a reconstitucionalização do país em 85. Deu tudo errado para eles. As recentes investigações da Polícia Federal e a CPI dos ATOS DE 8 DE JANEIRO demonstram que tudo não passava de um ardiloso plano para produzir o caos social e permitir um golpe de Estado. Felizmente, as instituições vigilantes reagiram e o desastrado golpe frustrou-se. Hoje, seus inspiradores correm o risco de serem presos. A vigilância conservadora sobre a liberdade se impôs aos liberticidas de ocasião que a queriam soterrada por atos de violência. Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário com apoio da Imprensa e da Opinião Pública se impuseram exemplarmente. Não seguimos o roteiro da República de Weimar que se intimidou diante das ameaças nazifascistas em 1933, ruindo aos ditames de Hitler. Saímos até melhor do que a ameaça de Trump nos Estados Unidos, o qual, ainda, pela fragilidade jurídica daquele país poderá voltar soberano ano que vem, podendo, até vir a presidir o Grande Império desde uma das celas de alguma cadeia, coisa que nenhuma literatura ousaria propor. 

O que alguns, aqui, não compreenderam - e agora pagam por isso! -, sobretudo no exercício de funções públicas em armas, sejam meros policiais civis, praças e oficiais superiores das PMs, PRF e oficiais superiores das Forças Armadas é que não é crime ser comunista, socialista, trabalhista ou petista mas é crime ser fascista e atentar contra o ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITOS, duramente reconquistado depois de 21 anos de duro regime militar. Perderão seus empregos, gastarão fortunas com advogados e ainda passarão um tom tempo nas grades para aprender o significado das palavras DEMOCRACIA e CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA. Os primeiros julgamentos deverão ocorrer em setembro próximo.


Editorial Cultural FM Torres RS dia 18 de agosto 2023

 

A CASA CAIU...

 

O depoimento do hacker Delgatti, ontem, na CPI confirmou o velho dito de que sabe-se como começa uma Comisão de Inquérito, mas nunca se sabe onde vai parar. A CPI dos Atos Golpistas de 8 de janeiro foi uma proposta infeliz dos bolsonaristas animados com a possibilidade de reverter o óbvio: sua própria responsabilidade sobre aquele atentado aos centros do poder republicano, atribuindo-a a falha ou até intenção do novo Governo Lula. O próprio Presidente Lula evitou a criação da CPI mas, afinal, foi tanta a pressão dos bolosonaristas que acabou liberando sua bancada a aceitá-la. Deu no que deu: A CPI vai acabar incriminando não só os seguidores do Ex Presidente, como ele próprio. Já está inelegível pelo TSE, agora corre o risco de ser preso e condenado como responsável por múltiplos crimes contra a Sociedade e o Estado Democrático. As acusações começam lá na sua recusa em administrar a pandemia, passa pela sua campanha contra as urnas eletrônicas e ataques a membros da Suprema Corte , atravessam seu comando sobre os ataques de 8 de janeiro e culminam na rocambolesca venda de jóias do Estado em benefício próprio. O pronunciamento do hacker, embora sujeito a confirmações já em curso pela Polícia Federal foi, para Bolsonaro, o que foi a entrevista à Veja por Pedro Collor, irmão do então Presidente Collor e que o levou ao impeachment em 1992; ou o que foi a revelação da participação do famoso Chefe da Guarda Pessoal de Vargas – Gregório - no atentado que levou à morte o Major Vaz, nos idos de 1954, levando o Presidente ao suicídio. Bolsonaro desmentiu imediatamente as declarações de Delgatti mas não nega o encontro com este criminoso e seu encaminhamento ao Ministério da Defesa. Inútil. Dificllmente escapará ileso. Pior, a trama do golpe contra a democracia tende a ser revelada em maiores detalhes com a revelação de conversas de Bolsonaro,, sua esposa, do General MAURO LORENA CID e do próprio CID, já autorizadas pela CPI e Supremo, entre altos membros do Governo Bolsonaro, inclusive membros do Alto Comando das FFAA. Pior, o Cel. Mauro Cid já cedeu diante do envolvimento do pai em todo este processo e decidiu falar. Está negociando uma confissão à POLICIA FEDERAL e será novamente convocado à CPI. Para ele, CONFISSÃO é melhor do que DELAÇÃO PREMIADA, que poderia leva-lo imediatamente a uma Tribunal Militar. Dirá que negociou as jóias a mando do Ex Presidente e que lhe entregou os recursos obtidos. Igual, dificilmente escapará à expulsão do Exército. Mais um mau militar na lista que começa com o próprio Bolsonaro, que recebeu do General Geisel tal acusação e que não honram Caxias , Deodoro, Floriano Peixoto, Rondon e Henrique Teixeira Lott... O indiciamento judicial de Bolsonaro, doravante, será inevitável e não está excluída sua prisão preventiva para evitar sua interferência na Justiça. Trata-se, com efeito, de um escândalo que dificilmente o poupará de desgaste político junto aos seus próprios seguidores. E um inédito momento para as FORÇAS ARMADAS diante da História que terá que enfrentar o envolvimento de oficiais superior em comando com intenções golpistas em conluio com Bolsonaro. Nem a redemocratização dos anos 80 conseguiu emparedar aqueles que prenderam e arrebentaram durante o regime militar. Agora isso pode acontecer levando à expulsão do Exército não só o CEL MAURO CID mas outros envolvidos. Terá sido o preço da vã tentativa de saudosistas das armas de tentar recuperar o irrecuperável: O Golpe de 1964. Com o ocaso Bolsonaro, 1964 e seus algozes, como o torturador Cel Brilhante Ustra, irão , enfim, definitivamente, para a lixeira da História. O Brasil , entretanto, renasce disso tudo revigorado democraticamente. Fomos mais longe do que a República de Weimar e da próprio República dos Estados Unidos em impedir a consagração do extremismo de direita. VIVA A DEMOCRACIA E SUAS INSTITUIÇÕES.

 

 


 Editorial Cultural FM Torres RS 16 de agosto 23

ADEUS LÉA GARCIA!

Atriz Léa Garcia morre aos 90 anos de infarto em Gramado - Informação foi confirmada pelo filho e empresário de Léa, Marcelo Garcia. Atriz receberia homenagem com Troféu Oscarito no Festival de Cinema de Gramado nesta terça (15).

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Morreu, na madrugada da terça feira passada, aos 90 anos, atriz Léa Garcia, que seria homenageada com o Troféu Oscarito durante a 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado. Sempre disse que trabalharia como atriz até seu último dia. Fez-se seu sonho: Uma longa e produtiva vida sempre em meio às artes, até o suspiro derradeiro no Festival de Gramado O filho e empresário de Léa, Marcelo Garcia, disse ao g1 que a atriz teve um infarto. Ela chegou a ser encaminhada para o Hospital Arcanjo São Miguel, mas chegou sem vida. Baluarte da presença da mulher negra no palco e nas telas, dela disse, ontem, outra gigante deste protagonismo, Zezé Motta: “Doce, gentil, talentosa, uma estrela, uma pérola. Precisamos reverenciá-la todos os dias". Como Rosa Parks, nos Estados Unidos, que se negou a cumprir, muito jovem, as regras do apartheid para o uso dos ônibus nos anos 1950, virando lenda, Léa Garcia foi, aqui, um marco para atuação da mulher negra no teatro e no cinema, que deve ser sempre reverenciada. AVE LÉA!

A organização do Festival de Cinema de Gramado informou que possíveis alterações na programação serão anunciadas em breve.  

Léa Garcia teve uma história marcante nas artes cênicas no Brasil. Contabilizava mais de 100 atuações, que se iniciaram no Teatro Negro no Rio de Janeiro na década de 1940, incluindo cinema, teatro e televisão. No Festival de Gramado conquistou quatro Kikitos, com "Filhas do Vento", "Hoje tem Ragu" e "Acalanto". Teve papéis marcantes em várias novelas da Rede Globo, como "Selva de Pedra", "Escrava Isaura” e "O Clone". Quando se tornou conhecida e admirada em todo o país e até no mundo, vez que muitas destas novelas foram levadas a outros países. Com “Orfeu Negro”, em 1960, ganharia o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Foi casada com Abdias do Nascimento, quem a descobriu como talento incorporando-a ao Teatro Experimental do Negro que levou ao Teatro Nacional do Rio uma peça clássica toda dirigida, montada e atuada por artistas negros

.Abdias Nascimento+cria+o+TEATRO+NEGRO= LEIA E CONHEÇA AQUI . 

Antes, Abdias já havia desenvolvido o Teatro do Sentenciado, em que trabalhava com penitenciária dramaturgia e escrita. Uma iniciativa que lhe trouxe experiência e sabedoria empírica para o novo empreendimento. O TEN reuniu pessoas que não tinham contato anterior com as artes cênicas. A primeira turma chegou a juntar 600 alunos, a maior parte deles vindos da classe baixa e sem escolaridade. Assim, além das leituras de textos e dos ensaios, o grupo deu aulas de alfabetização e de cultura geral. Abdias enxergava nesse contexto uma oportunidade de fazer a população afro-brasileira enxergar a discriminação que sofria e encontrar seu lugar dentro da cultura afro-brasileira como protagonista.

 Além da ação artística, o Teatro Experimental do Negro também atuou nas frentes sociais. Como defesa da mulher negra, criaram a Associação das Empregadas Domésticas e o Conselho Nacional de Mulheres Negras. Constantemente inferiorizadas, estas mulheres receberam pela primeira vez a chance de questionar as condições de trabalho que lhes eram impostas. Nas palavras de Abdias: “Teve muita “madame” que se aborreceu (…) nós estávamos botando minhocas nas cabeças de suas empregadas”. Era o empoderamento de uma classe que, historicamente, sempre teve seu protagonismo escanteado.

 

Teatro Experimental do Negro (Foto: Divulgação)

 O TEN também promovia concursos como o “Boneca de Pixe” e “Rainha das Mulatas”, que favoreciam a beleza negra. As candidatas eram selecionadas por meio de critérios como a criatividade, conhecimentos gerais e postura ética. O TEN promoveu, ainda, a Semana do Negro e o concurso de artes plásticas sob o tema Cristo Negro. Neste último, organizado pelo sociólogo Guerreiro Ramos junto a Abdias, foram promovidas terapias em grupo de modo a tratar os efeitos psicológicos do racismo em suas vítimas.

  

O grupo teatral de Abdias do Nascimento afirmava negros e negras dentro de uma sociedade cujo racismo historicamente enraizado era disfarçado pela bandeira da “democracia racial”. Fortemente ativo, Abdias do Nascimento defendia a valorização da cultura negra como meio de combate à discriminação racial. O TEN fazia o negro enxergar a exploração pela qual passava e lhe dava autoconfiança para conquistar seu espaço social. O propósito era criar uma dramaturgia de autoria negra, que focasse em temas da cultura afro-brasileira e discutisse questões que, até então, ninguém dava a devida atenção. 

A estreia da companhia nos palcos viria em maio de 1945 com a peça O Imperador Jones, no Theatro Municipal do Rio. O texto, concedido pelo próprio O’Neill a Abdias, foi protagonizado pelo ator Aguinaldo Camargo. Sua atuação rendeu a ele e à companhia elogios da crítica, que subestimaram a qualidade do TEN. Infelizmente, a companhia não pode encenar a peça outras vezes porque o Theatro só fora concedido por uma única noite. 

Nota do Festival de Cinema de Gramado

É com imenso pesar que a organização do Festival de Cinema de Gramado informa que a atriz Léa Garcia faleceu na madrugada de hoje (15), no hotel que estava hospedada em Gramado. A atriz receberia o troféu Oscarito na noite de hoje, ao lado de Laura Cardoso. De acordo com o Hospital Arcanjo São Miguel, a causa da morte foi um infarto agudo do miocárdio.

Dona Léa Garcia havia chegado a Gramado no último sábado (12) acompanhada do filho, Marcelo Garcia. A atriz circulava diariamente pelo evento, onde acompanhou diversas sessões no Palácio dos Festivais. Em uma de suas passagens pelo tapete vermelho, a atriz afirmou ao portal Acontece Gramado ter “um enorme prazer em estar mais uma vez em Gramado. Esse calor, essa receptividade com a qual a cidade nos recebe. Aqui tem um leve sabor de chocolate no ar. Obrigado a todos que fazem o festival, que participam e que concorrem. Aqui me sinto sempre prestigiada”.

Léa Garcia possuía uma história antiga com Gramado, conquistando quatro Kikitos com Filhas do Vento, Hoje tem Ragu e Acalanto. Aos 90 anos, a veterana detinha de um currículo com mais de cem produções, incluindo cinema, teatro e televisão. Com uma célebre trajetória nas artes, foi indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes em 1957 por sua atuação no filme Orfeu Negro que, em 1960, ganharia o Oscar de melhor filme estrangeiro, representando a França.

Atuando em produções para televisão, cinema e teatro, Léa consolidou uma carreira de papéis marcantes em produções como Selva de Pedra, Escrava Isaura, Xica da Silva e O Clone. Foi peça fundamental na quebra da barreira dos personagens tradicionalmente destinados a atrizes negras. Tornou-se, assim, uma referência para jovens atores e admirada pela qualidade de suas atuações.

Dona Léa seguia ativa nas artes cênicas. Em 2022, atuou nos longas Barba, Cabelo e Bigode, Pacificado e O Pai da Rita. Ontem (14) havia confirmado negociações com a TV Globo para atuar no remake da novela Renascer.

Possíveis alterações na programação do Festival de Gramado serão anunciadas em breve pela organização.


 Editorial Cultural FM Torres RS 15 de agosto 23

VIÉS DE CONFIRMAÇÃO

Tanta preocupação com a tragédia na UCRANIA! O que dizer, porém, dos 2 mil mortos no Mediterrâneo tentando fugir das guerras e da miséria na África? O que dizer dos 600 mortos no Rio de Janeiro em confrontos da Polícia com o tráfico nos últimos anos...? E o que dizer dos que morrem de fome no mundo? Oressa! Há mais de cem anos, na SEMANA DE ARTE MODERNA de São Paulo, Mario de Andrade declamava ODE AO BURGUÊS, em tom de desabafo contra a razão cínica do mundo moderno - ASSISTA AQUI>> - ; o professor Ricardo de Souza Timm, professor titular da PUC RS, o reitera, com a publicação de seu mais recente livro: “A razão cínica”. O mundo parece mergulhado numa insanidade. Agora, a Arábia Saudita, um dos regimes mais autoritários, suntuosos e regressistas do mundo árabe, acaba de contratar Neymar, como já o fez com outras celebridades do futebol, visando com esta maquiagem uma melhor imagem do país no concerto internacional das nações. A reedição do “Pão e Circo”...

23 carros McLaren por mês, 6 aviões como o usado pelo Palmeiras e 85 imóveis quadriplex: o que Neymar pode comprar após acordo com Al Hilal - Atleta acertou sua transferência para o Al Hilal, clube da Arábia Saudita, por um valor de 320 milhões de euros (cerca de R$ 1,7 bilhão) em contrato válido por dois anos.

Me chama a atenção, diante de tudo isso, uma coisa aparentemente irrecorrível: Muitos simplesmente compram as imagens da razão cínica que recobre o mundo e naturalizam barbaridades como a morte da pequena Eloah no Rio de Janeiro, ontem enterrada entre aplausos e grande indignação dos presentes. Com os mesmos sentidos, a mesma estrutura e dinâmica cerebrais, até uma mesma cultura, cada um de nós vê, lê e ouve a tudo isso com interpretação diferente, a maioria com indiferença. Não se dão conta de que não só selecionam o que querem ver, ouver e ler - e as interpretam - conforme alguma misteriosa empatia - ou antipatia –. Com isso, acabam vítimas da denominada “visão de túnel” ou “viés de confirmação”, dois fatores, alias, causadores de graves acidentes aéreos, quando não de acidentes históricos. O preferido Milei nas primárias argentinas repete o histrionismo de Mussolini, Hitler e Trump e os hermanos parecem não se dar disso conta. 

Tem-se a impressão, até, que já não adianta falar, explicar, apontar contradições e erros do mundo. Ninguém ouve a voz da consciência crítica, relegada aos pequenos círculos de reflexão. Os “filósofos”, dizem os ideólogos desta era, os quais negam estarem eles mesmos encharcados de ideologia. Consideram-se “libertários” guiados pelo critério da “eficiência” desdenhando da ética como critério das ações humanas. Com efeito, um inebriante regime de “liberdades” mantém a razão cínica do mundo dispensando velhos mecanismos de opressão e controle. O homem unidimensional sente-se soberano ao escolher a marca do carro que vai adquirir. Tivessem os reis absolutistas este recurso e jamais teríamos assistido a Revolução Francesa e a instaurado a República…Dostoievski já percebia isso no seu tempo e acreditava na Beleza como restauradora do sonho humano. Freud mais tarde, também, meio pessimista, apostava, porém, na cultura. Haverá saída ou mergulharemos no caos? Ontem o Brasil enterrou um de seus grandes intérpretes, sempre preocupado com tudo isso – José Murillo de Carvalho -, autor de 18 livros, membro da Academia de Letras do Brasil. Ele jamais teria topado ser garoto propaganda da Arábia Saudita. Mas quem o chorou…?

Outro professor, José Gerado de Souza Jr., da Universidade de Brasília, sintetizou este descompasso no diálogo contemporânea em sua dicção na CPI do MST na Câmara dos Deputados em Brasília. em resposta á uma indagação parlamentar. Vale ver e ouvir:

JOSE GERALDO SOUZA, Prof. UnB na CPI /MST https://www.bing.com/videos/search?q=prof+JOSE+GERALDO+SOUZA+na+CPI+MST&view=detail&mid=A9BBA9B19303FA1E4239A9BBA9B19303FA1E4239&FORM=VIRE - CPI do MST ouve o professor José Geraldo de Sousa - 14/06/23 - Bing vídeo


 Editorial Cultural FM Torres RS 14 de agosto 23

“A MAIOR OPERAÇÃO MILITAR DESDE A GUERRA DA CISPLATINA” – 

 

CAFÉ DA MANHÃ- Podcast FOLHA UOL

Folha.UOL-podcast-como-operacao-sobre-desvio-de-joias-chega-mais-perto-de-Bolsonaro 

Podcast: como operação sobre desvio de joias chega mais perto de Bolsonaro. Moraes diz que apuração aponta para uso do governo para vender presentes; defesa do ex-presidente afirma que ele jamais desviou bens públicos.

Tudo começou quando um Almirante trouxe as joias da Arábia Saudita, prosseguiu com mobilização de recursos da FAB para recuperá-las na Alfândega de São Paulo e acabaram vendidas nos Estados Unidos por um alto oficial da reserva do Exército. Eis o enredo final:

A mando de seu Chefe de Ordens, já que ele era o Ajudante destas ordens, o tenente coronel Mauro Cid é escalado para vender um Rolex coberto de esmeraldas, presenteado à Bolsonaro pela Arábia Saudita e Bahrein. 

Cid então transfere o compromisso de venda ao seu pai, Coronel Lorena Cid, diretor da Apex, alta função do Governo brasileiro nos EUA, que vende o Rolex.

Aí o TCU descobre o desaparecimento do Rolex e pede devolução.

Então eles, Cid pai e filho, entregam a a missão de recuperar o Rolex ao advogado da Família Bolsonaro, Doutor Wassef, aquele que escondeu o Queiroz na sua casa, e ele vai aos EUA e recompra o dito Rolex pelo trípo do valor de venda. Volta serenamente ao Brasil, vai ao TCU e o devolve ao patrimônio público. 

Terminou ai? Não. O general Lorena Cid, que era o responsável nos EUA pela venda das joias, estátuas, quadros e outras muambas afanadas as vende e deposita o dinheiro na própria conta 

E tem muito mais. Já se sabe que Bolsonaro levou uma mala cheia de joias no avião da FAB quando fugiu para os EUA dois dias antes da posse de Lula. Delas há foto feita pelo General Lorena Cid , flagrado no reflexo do espelho. Tudo de posse da Polícia Federal.

Os Ajudantes de Ordem, Cel Cid e Ten. Crivellaro, apagaram tudo da área de trabalho, mas esqueceram de apagar da lixeira. 17 mil e-mails foram recuperados e transferidos para a PF e CPI dos ATOS GOLPISTAS. 

Assim, os crimes ficaram todos registrados 

Em uma das mensagens do Coronel Cid para o pai: "tem que repassar 25 mil dólares para Bolsonaro, mas tem que ser em dinheiro vivo" . E mais, lamenta a perda de 120 mil: “Que pena! ”

E, assim, foram todos parar na Delegacia...Agora é com a Justiça.

Agora se entende porque Bolsonaro tinha tanta certeza de que seria preso SE saísse da Presidência e que, por essa razão, tudo fez para permanecer no cargo, fosse pela manipulação do processo eleitoral ou, na sua falha, por um golpe, para o qual, no entanto, lhe faltaram estofo e coragem.

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 Editorial CULTURAL FM – DIA 11 AGOSTO xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

11 DE AGOSTO – O ADVOGADO E O BACHARELISMO =Paulo Timm 

“O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho”

Oswald de Andradre - MANIFESTO DA POESIA PAU – BRASIL

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“Desde cedo, os cursos jurídicos nasceram ditados muito mais pela preocupação de se constituir uma elite política coesa, disciplinada, devota às razões do Estado, que se pusesse à frente dos negócios públicos e pudesse, pouco a pouco, substituir a tradicional burocracia herdada da administração joanina, do que pela preocupação em formar juristas que produzissem a ideologia jurídico- (ABREU, 1988:236)

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"De qualquer modo, ainda no vício do bacharelismo ostenta-se também nossa tendência para exaltar acima de tudo a personalidade individual como valor próprio, superior às contingências (...) O que importa salientar aqui é que a origem da sedução exercida pelas carreiras liberais vincula-se estreitamente ao nosso apego quase exclusivo aos valores da personalidade".

"O prestígio da palavra escrita, da frase lapidar, do pensamento inflexível, o horror ao vago, ao hesitante, ao fluido, que obrigam à colaboração, ao esforço e, por conseguinte, a certa dependência e mesmo abdicação da personalidade, têm determinado assiduamente nossa formação espiritual".

HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Companhia das Letras, 26ª edição, 27ª reimpressão 2007.

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No meu tempo de universitário, o dia 11 de agosto era sempre um dia festivo em Porto Alegre. Os colegas estudantes de direito – eu estudava Economia e Ciências Sociais na URGS – passavam o dia celebrando o DIA DO ADVOGADO e articulando onde iriam dar o golpe da “ Pendura”. Os futuros advogados, curtindo uma tradição que provinha do Império, quando os comerciantes louvavam os advogados, iam aos melhores Restaurantes da cidade, comiam e bebiam à vontade e , então, saíam de fininho, sem pagar. Alegavam aos donos que esse era o “ Dia da Pendura” que celebrava o Ato do Imperador Dom Pedro I (18270 de criar os dois primeiros dois Cursos de Direito, logo da Proclamação da Independência: O de Olinda e o de São Paulo. Enquanto os Cursos de Direito eram poucos e os tempos eram áureos para os bacharéis, o Dia da Pendura foi respeitado e os jovens celebrantes cortesmente dispensados. Com o crescimento dos cursos porém, – hoje são mais de mil ! - e a própria crise do bacharelismo no país, que depois dos anos 60 reinaugurou-se cada vez mais impessoal e moderno, a tradição foi desaparecendo. E quando os estudantes de Direito tentavam seu golpe, isso acabava sempre na Delegacia... 

Falo em Advogados e Bacharelismo como se fossem quase sinônimos. Na verdade, são coisas distintas.

O Advogado, por certo é um Bacharel em Direito, cujo aparecimento se deu ainda na Grécia antiga, muito embora o Sistema Judiciário, como um Poder Autônomo, no qual pontifica o advogado seja uma instituição do Estado Moderno. Nas origens da civilização, a administração da Justiça era feita sempre, mesmo na presença de um contraditório ajudado pela presença de um advogado, pelo soberano. No caso de Roma, pelos Cônsules, Pró-Cônsules e até mesmo o Imperador. O exemplo mais conhecido popularmente é o do julgamento de Cristo por autoridades de Roma na Judeia ocupada: Poncio Pilatos e Herodes. Sabe-se hoje que a suposta transferência da decisão final aos supostos presentes – multidão de judeus - , teria sido mais um artifício dos evangelistas, de separação da cristandade do povo judeu, do que um rito típico da gestão da Justiça no Império Romano. A expressão Advogado, aliás, vem do latim – (ad=para junto, e vocatus=chamado) e significa exatamente isto: aquele que é chamado para ajudar um réu ou acusado)

No princípio o exercício da advocacia era uma honra e não podia ser remunerado. Porém, durante o reinado do imperador romano Cláudio, em 451 d.C., surgiram os "honorarium", ou seja, honorários, os tributos de honra. O senado passou a fiscalizar o exercício da profissão e, ao fim do século IV, surgia a Ordem dos Advogados.

A advocacia converteu-se em profissão organizada quando o imperador Justino constituiu, no século VI, a primeira ordem de advogados no império romano do oriente, obrigando o registro a quantos fossem advogar. Requisitos rigorosos foram impostos: ter aprovação em exame de jurisprudência, ter boa reputação, advogar sem falsidade e não abandonar a defesa, uma vez aceita.

(Rénan Kfuri Lopes, advogado in O DIA DO ADVOGADO - UM POUCO DA HISTÓRIA )

-http://www.rkladvocacia.com/…/art_srt_arquivo20080808103224… -

No Brasil os Cursos de Direito cresceram e se multiplicaram e a profissão foi gradualmente se institucionalizando, até se consagrar na Constituição Federal de 1988 que situou a Advocacia num elevado patamar, vindo o Estatuto do Advogado de 04 de abril de 1994 a lhe conferir todas as garantias e prerrogativas, com o objetivo ulterior de assegurar os direitos da cidadania à justa defesa de direitos.

Atualmente, a Constituição Federal de 1.988 alçou a advocacia ao patamar de “preceito constitucional”, preservando sua atividade estritamente privada, como prestadora de serviços de interesse coletivo, conferindo a seus atos múnus público, ex vio art. 133 da Carta Magna: "o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei". Duarte Peres foi o primeiro advogado brasileiro.

Hoje a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB –, criada em 1930, com origem no Instituto dos Advogados Brasileiros de 1843, é o instrumento de registro dos Bacharéis em Direito para o adequado exercício da Profissão e peça chave de sua valorização perante o Estado e a Sociedade. 

Numa sociedade iletrada, como o Brasil Imperial, porém, o Advogado passou a se confundir mais como parte de Poder do que peça social. Daí dizer-se que aqui o magistrado brasileiro não representa, ele julga. E é curioso que o Promotor de Justiça e o Ministério Público não sejam anunciados nos Tribunais como os Defensores do Povo, como nos Estados Unidos, mas confundidos com o Estado. 

A própria autonomização do Poder Judiciário muito contribuiu para isto. Senhor da palavra e da oratória, como requisitos da profissão, e do poder de mediação entre a Sociedade e o Estado, a figura social do Bacharel em Direito relevou em importância política e deu origem a um fenômeno : o bacharelismo. Mas o que é o bacharelismo? Eis o Aulete:

(ba.cha.re.lis.mo)

sm. - Aulete

1. Forma de falar muito e de modo pretensioso, cansativo e desinteressante; BACHARELICE; BACHARELADA

2. Bras. Valorização exagerada do bacharel, esp. o advogado, no meio sócio-político brasileiro: "...o bacharelismo que comandou a vida nacional, até quando o grupo veio a ser engordado pela tecnocracia..." (, Observatório da Imprensa, 11.02.02))

[F.: De bacharel + -ismo.]

Duas acepções, uma como um maneirismo no falar, outra no papel social do bacharel, ambas, na verdade articuladas de forma a se oferecer , na política nacional, como um equivalente do “bovarismo” nas artes, afetações que se traduzem pelos famosos “ discursos de escadaria” , cuja caricatura acabaria se redistribuindo como um estilo do fazer político como o muito dizer e nada fazer, mas sempre impressionar.

Consta que a palavra bacharel vem de “ bacharéu” , muito usado como denominação de prestigio junto à Corte. Já um vício:

Uma carta de bacharel era o caminho para o alto cargo

Relevou no bacharelismo, também, o fato de que a primeira modernização do Brasil tenha se dado não através da Revolução Industrial mas de seu complemento periférico na forma dos Modelos Primário- Exportadores em vários pontos do globo, mormente o Brasil. Ou seja, nesse contexto, o país não necessitou nem de engenheiros, nem de administradores ao longo de sua urbanização galopante, que acompanhou, entre os anos 1850 e 1930, a sofisticação urbana, comercial e institucional. Precisou de feitores na lavoura e mediadores na cidade, projetando aí o papel do advogado.

Não havia escolas públicas ou mesmo boas escolas no Brasil, no século XIX, quando os primeiros alunos, oriundos das classes altas, passaram a frequentar as faculdades de direito de Olinda ou de São Paulo, e não mais as classes da Universidade de Coimbra. Esses jovens, alfabetizados ou formados sabe-se lá como foram os primeiros juízes, advogados e burocratas que conformaram o Brasil independente, dos impérios à proclamação da república. A história não justifica, mas ajuda a entender como mecanismos arcaicos de apropriação do Estado fincaram raízes e se espalharam pelas instituições públicas.

Muitos autores analisaram o fenômeno do bacharelismo no Brasil como forma de manifestação de poder no espaço organizacional brasileiro Dois deles, entretanto, merecem um registro. Nos idos de 1936, Sérgio Buarque de Holanda, no clássico “Raízes do Brasil” , já nos falava da Praga do Bacharelismo e Gilberto Freire, em “Sobrados e Mocambos”, também o identifica e analisa,

A leitura desses dois clássicos, sob a ótica do poder do bacharel em uma sociedade segregada, emergindo do rural para o urbano, “permitiu entender o bacharelismo nos estudos organizacionais no Brasil como poder condicionado “ (GALBRAITH, apud CRUZ, Breno de Paula

Andrade; MARTINS, P. E. M. 2006, p. 02).

Nesse sentido, seus detentores, os bacharéis, possuem um capital social que legitima o exercício da autoridade e do poder perante aqueles desprovidos de distinções nobiliárquicas e/ou acadêmicas. Em Raízes do Brasil podemos correlacionar história e sociologia, num contexto nacional, de forma a problematizar questões referentes à colonização brasileira e sua influência na sociedade do século XIX.

Paralelo a essa análise, podemos buscar em Sobrados e Mocambos a interpretação acerca das questões referentes ao bacharelismo no Brasil, pois que é ali que encontramos a reflexão acerca da ascensão do portador desse título acadêmico, bem como do mulato na sociedade daquele século.

É por meio da leitura desses dois clássicos, que se pode empreender uma análise sociológica do entendimento das relações intrínsecas de poder na organização política brasileira, uma vez que ambos auxiliam na compreensão da estrutura das relações políticas num país colonizado.

( Lucas de Freitas em ''O Bacharelismo no Brasil, a bacharelice no país: uma análise sócio-histórica'' )

Mais recentemente, Roberto Gomes, no opúsculo “A Filosofia Tupiniquim” tira as consequências do bacharelismo para o modo de (não) pensar o Brasil: O homem levado a sério. Vale a pena ler: http://www.iphi.org.br/sites/filosofia_brasil/roberto_gomes_-_critica_da_razao_tupiniquim.pdf . 

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ANEXO

A tradição do "pendura"

https://jus.com.br/artigos/1916/a-tradicao-do-pendura 

 Luíz Flávio Borges D'Urso

Publicado em 08/1999. 

No dia 11 de agosto comemoramos a fundação dos Cursos Jurídicos no Brasil, criados por ato do Imperador Dom Pedro I, que estabeleceu:

"Dom Pedro Primeiro por graça de Deus e unanime aclamação dos Povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. Fazemos saber a todos os nossos súditos, que a Assembléia Geral Decretou e nós queremos a lei seguinte: Art. 1º - Crear-se-hão dous cursos de Ciências Jurídicas e Sociais, um na cidade de São Paulo e outro na de Olinda, e neles no espaço de cinco anos e em nove Cadeiras, se ensinarão as matérias seguintes...... Dada no Palácio do Rio de Janeiro aos onze dias do mês de agosto de mil oitocentos e vinte e sete, Sexto da Independência. IMPERADOR PEDRO PRIMEIRO".

A partir dessa data foram abertas as portas para que os brasileiros pudessem estudar ciências jurídicas e sociais em sua terra natal. Assim, o dia 11 de agosto tornou-se a data mais significativa para o contexto jurídico brasileiro, sempre comemorada, perpetuando a tradição do pendura entre os acadêmicos de direito.

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De origem não muito bem definida, conta-se que o pendura pode ter nascido de uma antiga prática dos proprietários que formulavam convites para que os acadêmicos, seus clientes, viessem brindar a fundação dos cursos jurídicos, no dia 11 de agosto, em seus restaurantes, oferecendo-lhes, gentilmente, refeição e bebida.

Com o passar dos tempos, os convites diminuíram e foram acabando, obrigando assim os acadêmicos que se auto-convidassem.

Graças a essa iniciativa, a tradição foi mantida até nossos dias, consistindo em comer, beber e não pagar, solicitando que a conta seja "pendurada". Tudo isso, é claro, envolvido num imenso clima de festa.

O verdadeiro pendura, segundo a tradição, deve ser iniciado discretamente, com a entrada no restaurante, sem alarde, em pequenos grupos, para não chamar a atenção. As roupas devem ser compatíveis com o local escolhido.

Deve-se procurar uma mesa em local central, quanto mais visível melhor. Prossegue-se, com bastante calma, observando-se cuidadosamente o cardápio, inclusive os preços, que sabe não irá desembolsar. O pedido deve ser normal, discreto, sem exageros, admitindo-se inclusive camarões e lagostas.

Quanto à bebida, os jovens devem ser comedidos, pois dela necessitam para "aquecer" suas cordas vocais, preparando-as para o discurso de agradecimento ao gentil "convite" da casa, todavia, a bebida em demasia, pode transformar o discurso e o pendura num desastre.

Ao final, quando satisfeitos, após evidentemente a inevitável sobremesa, pede-se a conta, lembrando-se de um detalhe que faz parte da tradição e não pode ser desrespeitado, que é o pagamento dos 10% da gorjeta do garçom.

Após isso, o líder e orador, deverá levantar-se e começar a discursar, sempre saudando o estabelecimento e seu proprietário, agradecendo o "convite" e a hospitalidade, enaltecendo a data, os colegas, a faculdade de origem, o Direito e a Justiça, tudo isso, sob o estímulo dos aplausos e brindes dos demais colegas do grupo.

Esse é o verdadeiro pendura, que pode ser aceito ou rejeitado. Caso aceito, ficará um sabor de algo faltante! Agora se rejeitado, deve partir dos estudantes de direito a iniciativa de chamar a polícia e de preferência dirigindo-se todos à Delegacia mais próxima, o que lhes dará alguma vantagem pela neutralidade do terreno.

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Existem também, outras modalidades do pendura, que são distorções da tradição, conhecidas pelas alcunhas "troglodita" e "diplomática".

A primeira, "troglodita", bastante primitiva, consiste em, após a refeição, sair correndo do restaurante, levando no peito tudo e todos que estiverem a sua frente, nivelando os estudantes ao "gatuno" que foge para não ser apanhado, cometendo algo errado. Esta modalidade deve ser evitada, pois tal conduta poderá caracterizar o crime de dano, caso algo seja destruído.

Note-se que não há crime na tradição do pendura, pois o delito preconizado pelos pendureiros frustrados – aqueles que sempre desejaram pendurar, sem coragem para tal --, confunde-se com o tipo penal no qual o sujeito realiza refeição sem que tenha condições para seu pagamento, caracterizando o crime.

No pendura, a refeição é realizada, todavia, o estudante deverá ter consigo dinheiro, cheque ou cartão de crédito, portanto, meios para pagar a refeição, descaracterizando o tipo penal e afastando o delito, de modo que, embora tenha condições para pagar, não o fará em respeito à tradição.

Na outra modalidade, "diplomática", mais pacífica, a diplomacia determina que os acadêmicos devam solicitar reservas, revelando o pendura e somente com a concordância do proprietário, fazem a refeição e saciam sua fome, mas não a tradição, posto que fica o estudante de direito nivelado ao que mendiga um prato de comida.

Todas inovações devem ser evitadas, preservando-se a tradição do pendura, com o indispensável discurso, rememorando o papel daqueles "moços" que fizeram os caminhos de nosso país, estimulando, assim, o empenho destes outros "moços", jovens, para que transformem os destinos da nação!


 Editorial Cultural FM Torres RS 10 de agosto 23

ELEIÇÕES 2024: Novas Agendas para os Prefeitos. 

Matéria da Zero Hora desta semana traz à tona um fato importante: Prefeituras não têm Políticas Municipais de Segurança Pública. Consulta feita pelo Tribunal de Contas do Estado RS entre 482 municipalidades revela que apenas 14 declararam ter alguma ação de combate à violência. Isso que vivemos numa época de intensa violência, seja sobre a vida pública, onde pontificam o tráfico em qualquer cidade do país, por menor que seja, ou milícias, sobretudo nas grandes, seja na vida privada, na qual pontifica soberano o feminicídio. Torres tem uma Guarda Municipal, voltada à defesa do Patrimônio, recentemente brindada com projeto autorizando-a a andar armada. Má notícia. Não é uma arma que faz um bom policial, é seu preparo para o exercício do arco de atribuições que lhe competem. Melhor projeto poderia definir melhor este arco. Por que não incluir aí a preservação do meio ambiente, das Praças, dos pontos vitais à valorização do turismo e das principais agências da Prefeitura? O assunto, porém, remete para uma questão mais abrangente: A Agenda das Prefeituras Municipais. 

A competência dos Municípios está devidamente definida na Constituição Federal: é um dos níveis da federação, com competência exclusiva sobre a cobrança de impostos sobre a propriedade urbana e serviços. Isso está mudando na Reforma Tributária, mas continuará o Município com as atribuições clássicas de gestão do solo urbano e cuidados de limpeza, educação até o segundo grau e administração das Unidades Básicas do SUS. Uma das reclamações, inclusive, dos Prefeitos, com apoio em suas Associações Nacionais, é que têm acumulado responsabilidade sem a correspondente transferências de recursos para delas dar cabo. Será que a Reforma Tributária vai melhorar isso? É nestas administrações municipais onde se concentra a grande parte dos servidores públicos do país, cujo salário dificilmente ultrapassa os três salários mínimos. No caso dos professores, acabam sendo vítimas de uma crueldade que compromete não só a vida destes profissionais, como a própria qualidade do ensino: o recurso à contratação de celetistas, sem a garantia do piso salarial da categoria e outras prerrogativas, no Rio Grande do Sul protegida pelo CEPERGS, segunda maior entidade sindical da América Latina, com cerca de 80 mil filiados. 

Mas não falemos destas questões da Agenda tradicional das Prefeituras. Os tempos mudaram e um novo leque de atribuições deveria ser incorporado às suas administrações. O enfrentamento à violência, que falamos acima, é apenas um deles. Outros: a crise climática, os desequilíbrios sociais extremos, geradores de miséria extrema, dentre elas os moradores de rua, os milhares de idosos em situação de risco – foram os que mais morreram na pandemia! -, as mulheres vítimas de familiares algozes, jovens nem-nem – aqui em Tores perto de 5000 -, sem emprego e sem escola, crianças desamparadas, indígenas abandonados à sua sorte – 1, 6 mil milhões no Brasil e 36 mil no RS -. Tudo isso vinha sendo debitado ao Governo Federal mas este, mercê da própria crise do endividamento, como também das transformações muito rápidas que veem ocorrendo nos processos produtivos, além do agravamento das crises internacionais que incrementaram sobremaneira as migrações externas e internas, levando ao inédito número de …milhões de asilados, faleceu nestas incumbências. Daí a necessidade de Governos Estaduais e Prefeituras terem que avançar sobre elas de forma a mitigar as tensões sociais aí implicadas.

Como exemplo, veja-se a questão social.

Aí releva o campo do emprego, cujo nível era sempre supostamente regulado pela União como resultado de sua Política de Desenvolvimento que apontava para uma certa Política Monetária (juros), um conjunto de investimentos públicos, uma ação coordenada de iniciativas públicas e privadas para a Economia. No mundo inteiro, isso ainda é feito mas seu resultado sobre o Emprego é insuficiente. Aí cabem às Prefeitura ações complementares, muito além da distribuição de cestas básicas. Em Porto Alegre, por exemplo, já existem Restaurantes Populares que oferecem refeições de boa qualidade às populações cadastradas. Foram 17,6 refeições em 2022. Em São Paulo, recente projeto do Ver. Eduardo Suplicy, dotou a Prefeituras de um conjunto de instrumentos para o desenvolvimento da Economia Solidária. Outro campo é o da Economia Criativa, na qual se podem criar instrumentos como a criação de Distritos Criativos, Programas de Apoio ao Cooperativismo, ampliação dos Espaços de Feiras e, sobretudo, criação de Parques e Festivais temáticos. Ruy Rubem Ruschel, já na década de 1990 reivindicava, por exemplo, um Parque da Mônica aqui em Torres.

Ano que vem teremos eleições. Um bom momento para se colocar na pauta dos candidatos questões de fundo para a vida comunitária, mais além das polarizações extremadas ou eternas fulanizações que pouco inovam na nossa vida cotidiana.

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 Editorial Cultural FM Torres RS 09 de agosto 23

Declaração Presidencial por ocasião da Cúpula da Amazônia – IV Reunião de Presidentes dos Estados Partes no Tratado de Cooperação Amazônica

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O documento com 113 pontos ao final da Cúpula de Belém, dentre eles a criação de um Parlamento Amazônico, que reuniu países da OCDA, estabelece que os países devem "iniciar um diálogo entre os Estados Partes sobre a sustentabilidade de setores tais como mineração e hidrocarbonetos na Região Amazônica, no marco da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e de suas políticas nacionais soberanas. Quatro vezes citação PONTO DE NÃO RETORNO, aquele em que, chegada a queimada a 25%, já não se reconstitui. 19 bancos de fomento, inclusive BID e BNDES, se comprometeram a cooperar para o desenvolvimento sustentável da região.

Bndes-e-bid-anunciam-r-45-bilhoes-em-credito-para-micro-pequenas-e-medias-empresas-e-pequenos-empreendedores-na-amazonia 

 

Petro ataca Lula e defende fim da exploração de petróleo

Durante discurso na Cúpula da Amazônia, o presidente colombiano fez críticas ao que chamou de "negacionismo de esquerda" - Leia mais » - 247

 

Líderes de países amazônicos fecham acordo sem bloqueio à exploração de petróleo

Declaração de Belém não contemplou o aspecto reivindicado pelo presidente colombiano Gustavo Petro e busca fortalecer cooperação regional e evitar ponto de não retorno na Amazônia - Leia mais » - 247

 

Na Cúpula da Amazônia, Lula defende combinar ‘proteção ambiental e geração de empregos’ - Presidente Lula destacou que, para resolver os problemas da região, “precisamos reconhecer que ela também é um lugar de carência socioeconômica histórica” - Leia mais » - 247

 

Com a Cúpula da Amazônia, apesar de Petro, Lula se afirma como liderança global da questão ambiental - A realização da Cúpula da Amazônia foi, sem dúvida, o fato mais importante deste ano na política externa brasileira, escreve a colunista Tereza Cruvinel = 247 - Leia mais »

 

Macron agradece a Lula pela Cúpula da Amazônia e defende desmatamento zero - "É urgente cessar, de uma vez por todas, com o desmatamento", escreve o presidente francês 247 - Leia mais »


 Editorial Bom Dia, Torres RS – DIA 8 agosto 23 

AMAZÔNIA, santuário ou habitat?

A Cúpula da Amazônia, que reúne diversos Chefes de Estado da América Latina com porções territoriais na Amazônia e membros da OCDA, observadores convidados da África e Asia, como a República do Congo, a República Democrática do Congo, Indonésia e São Vicente e Granadinas, além de especialistas e movimentos sociais, deverá emitir, hoje, uma Carta de Princípios para a defesa do bioma. O Presidente da França, que detem a Guiana Francesa na América do Sul, também inserida na Amazônia, não compareceu, frustrando os presentes. A França, na União Europeia, é um dos países mais representativo das exigências ambientais do continente frente à transição energética. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à capital paraense e fez um importante pronunciamento no qual destacou que a AMAZÔNIA não deve ser um santuário mas o habitat dos que nela habitam e necessitam ali sobreviver e realizar seus sonhos. Paradoxalmente, recente Relatório demonstra que das dez cidades com melhores índice, oito estão em São Paulo e as 15 com piores índices ficam na Amazônia.

O que aconteceu nos últimos sete anos foi um retrocesso em muitas áreas: o país voltou ao mapa da fome, aumentou o desemprego. Ao mesmo tempo, segue com uma violência muito grande, problemas na educação e saúde. Isso é refletido nos dados, diz .Jorge Abrahão, coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis, e acrescenta: Hoje, 75% das pessoas vivem em cidades na Amazônia sob uma terrível desigualdade social. Só vamos melhorar se tivermos mais estrutura para melhorar a vida das pessoas nas cidades. Se não melhorar a saúde, a educação, as pessoas terão uma relação com a sobrevivência maior que a com os cuidados com o meio ambiente.Jorge Abrahão, coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis

 O recado de Lula tanto serve para os países europeus, no sentido de reafirmar a posição do Brasil, agora escorada por outros países do continente, de oposição às excessivas exigências ambientais para nossas exportações, como para a própria Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, igualmente rigorosa quanto à defesa intransigente da Amazônia. Vejamos, enfim, o que dirá a Carta de Belém, esperada para hoje. Ontem, antes do início oficial da Cúpula, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fizeram uma declaração conjunta que aponta para o conteúdo da Nota do Encontro. Representantes dos países que compõem a OTCA, principalmente ministros, também fizeram reuniões preparatórias antes do encontro dos chefes de Estado.

 O que é a Declaração de Belém? O texto da declaração foi apresentado pelo Brasil e passou por uma série de negociações desde a última sexta-feira, dia 4. Negociadores do corpo diplomático dos países da OTCA se reúnem diariamente para chegar a consensos no documento. Apenas objetivos em comum acordo podem constar no texto.

Ver - https://www.terra.com.br/planeta/sustentabilidade/o-que-e-a-cupula-da-amazonia-e-qual-a-agenda-dos-chefes-de-estado-evento-ocorre-em-belem,d5ec361d32aabd3db98fe7973428eda9gldqext1.html?utm_source=clipboard 

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Anexo :

 

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são um apelo universal da Organização das Nações Unidas à ação para acabar com a pobreza, proteger o planeta e assegurar que todas as pessoas tenham paz e prosperidade. - https://www.piscodeluz.org/desenvolvimento-sustentavel?gclid=Cj0KCQjwib2mBhDWARIsAPZUn_lVLcCsIFjMo860wYRDuhli0nGoNpgiTneGZR1BzNjI35o-ptoiTIkaAsMXEALw_wcB 

 

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nasceram na Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável no Rio de Janeiro em 2012. O objetivo foi produzir um conjunto de objectivos que suprisse os desafios ambientais, políticos e econômicos mais urgentes que nosso mundo enfrenta.

 

Os SDGs substituem os objetivos de desenvolvimento do Milênio (ODM), que começou um esforço global em 2000 para combater a indignidade da pobreza. Os ODM estabeleceram objectivos mensuráveis, universalmente acordados para combater a pobreza extrema e a fome, prevenindo doenças mortais e expandir a educação primária para todas as crianças, entre outras prioridades de desenvolvimento.

 

Esses 17 objetivos, construídos sobre os sucessos de desenvolvimento do Milênio, também incluem novas áreas tais como a mudança climática, desigualdade econômica, inovação, consumo sustentável, paz e justiça, entre outras prioridades. Os objetivos são interligados – muitas vezes a chave para o sucesso de um envolverá a abordar questões mais comumente associadas ao outro.

 

Conosco foi assim, rodamos mais de 400 km de estradas ruins e atravessamos rios para levar Energia Acessível e Limpa a comunidades isoladas. Com isso, acabamos beneficiando outas áreas como Combate as Alterações Climáticas e Boa Saúde e Bem-estar.


 Editorial Cultural FM Torres RS 07 de agosto 23

Repúdio geral à fala do Gov. Zema diante do risco de divisão nacional na união SUL/SUDESTE contra NO/NORDESTE

Os governadores do Sul, Sudeste – maciçamente de oposição ao Governo Federal – já se preparam e se organizam no Consórcio Sul-Sudeste (Cossud). A entidade agora é presidida pelo governador Ratinho Junior e, pela primeira vez, formalmente constituída promete dar trabalho ao governo federal e atuar em bloco no Congresso sempre que possível. “Temos 256 deputados – metade da Câmara – 70% da economia e 56% da população do País. Não é pouco, nê? Já decidimos que, além do protagonismo econômico que temos nós queremos - que é o que nunca tivemos - que é protagonismo político”, avisa. O Governador de Minas Gerais, R. Zema, que também lidera o movimento, com apoio do Governador Eduardo Leite do Rio Grande do Sul, disse em Entrevista ao ESP ontem, que chegou a hora de unir o SUL/SUDESTE contra o NORTE/NORDESTE, como tática de combater a esquerda. 

https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2023/08/05/interna_politica,1541464/romeu-zema-defende-frente-sul-sudeste-contra-o-nordeste.shtml 

O ESP divulga que o Governador do RS, Eduardo Leite, aprovou a ideia.

Bloco Sul-Sudeste anunciado por Zema é defendido por Leite - https://www.estadao.com.br/politica/leite-defende-bloco-sul-sudeste-lancado-por-zema-e-governadores-do-ne-falam-em-estimulo-a-cisao/ 

Felizmente, caiu mal em todo o país esta iniciativa, mesmo na direita, sensibilizada com o risco que isso apresenta a unidade nacional. 

https://www.estadao.com.br/politica/nos-queremos-protagonismo-politico-diz-zema-ao-anunciar-frente-do-sul-sudeste-contra-nordeste/ 

Alguns analistas até acham que as declarações de ZEMA podem levá-lo a perda de mandato:

Fala de Zema pode levar ao impeachment, diz Walfrido Warde - Leia mais » 

"A fala de Romeu Zema é uma afronta ao pacto federativo e foi contemplada na Lei de Impeachment", afirmou o jurista

A reação, enfim, foi ampla e geral em todo o país.

“Políticos criticam fala de Zema sobre protagonismo do Sul-Sudeste Consórcio do Nordeste critica o que chama de indicação de “guerra entre regiões” como forma de perpetuar desigualdades As falas levaram a críticas de que Zema estaria incentivando a divisão e ao ‘lampejo separatista’”. Sérgio Lima/Poder360 - 9.abr.2020 Gabriella Soares 6.ago.2023 (domingo) - 19h15 Políticos de diferentes partidos e o Consórcio do Nordeste criticaram o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), por uma fala em que ele defende “protagonismo” do Sul e do Sudeste. Governadores nordestinos indicam que a declara...

Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/brasil/politicos-criticam-fala-de-zema-sobre-protagonismo-do-sul-sudeste

Para os governadores do Nordeste, a opinião do governador mineiro causa uma preocupação ao Brasil ao sugerir um movimento separatista, o que seria um prejuízo sem precedente ao desenvolvimento do País.

Leia a nota na íntegra:

O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 05 de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento.

O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais.

Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”.

Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais.

É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.2

Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.

A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo.

Assim, nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura.

Nordeste do Brasil, 06 de agosto de 2023. 

JOÃO AZEVÊDO – Presidente do Consórcio Nordeste Governador do Estado da Paraíba | Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste – Consórcio Nordeste –


 Editorial - Cultural FM, Torres RS 4 agosto 2023

Cerrado, bioma em extinção

O mundo inteiro fala em defender a Amazônia e o próprio Presidente Lula tem repercutido este clamor com a promessa de zerar o desmatamento da nossa floresta tropical até 2030. Enquanto isso, outros biomas, sobretudo o cerrado, berço de 13 bacias hidrográficas do Brasil, vai sendo paulatina e irreversivelmente destruído. No Distrito Federal, uma unidade de conservação denominada Águas Emendadas, preciosidade natural onde nascem vertentes dos Rios São Francisco, Tocantins e Paraná, definha e compromete estas nascentes, cercada pelo crescimento populacional desordenado e crescimento de lavouras à sua volta. A construção de Brasília, aliás, inaugurada em 1960 como expressão do engenho e arte do Brasil Moderno e fator de interiorização da ocupação do país foi uma ferida narcísica no Cerrado jamais redimida. Ela é sempre “nacional”, nunca “regional”. Gilberto Freire, na época, foi a única voz sensata a exigir esta adequação ambiental da cidade e postulava a consultoria de Lewis Mumford sobre isso. Não foi ouvido. Poderia Brasília ter sido um marco na defesa do cerrado e daquela cultura regional, converteu-se no seu oposto: um alheamento. A tragédia não é nova. Washington Novaes, reconhecido jornalista do centro do país que se mudou para Goiás nos anos 1980, falecido há alguns anos, devotou sua vida á denúncia da destruição do cerrado. Por ali avançou, à margem de Brasília, a fronteira agrícola, graças ao desenvolvimento da tecnologia de aproveitamento do solo pobre da região pela EMBRAPA, transformando um Estado até então isolado e ocupado dispersamente por pequenos sitiantes nas vastas fazendas de gado numa das potências do agrobusiness nacional. Hoje estas populações são expulsas de suas terras e se acumulam nos arredores de Brasília e Goiânia. E a faixa de cerrado, de Goiás até o Amapá, que permeia ,como zona de transição no Planalto, a Mata Atlântica, já destruída e a Amazônia, vai sendo igualmente destruída. Trata-se, entretanto, apesar da aparência tortuosa e pouco imponente de sua vegetação, salvo as matas ciliares, de uma das mais ricas biodiversidades do planeta. Os dados deste semestre revelam um retrocesso do desmatamento na Amazonia, o que é alvissareiro, mas, aparentemente compensado pelo aumento do desmatamento do Cerrado, o que é lamentável. Nunca é tarde, porém, para se chamar a atenção sobre mais este crime contra a natureza e a humanidade. Até porque não só o cerrado vem sendo esquecido pelo opinião pública. Também outros importantes biomas, dentre eles o nosso tradicional e recantado Pampa. Oportuno, pois, o destaque, hoje, de O ASSUNTO, g1, Podcast mais ouvido do país.

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O Assunto g1 dia 

 Cerrado - como salvar o bioma do desmatamento

Nos últimos 12 meses, mais de 6,3 mil quilômetros quadrados de Cerrado foram derrubados, de acordo com dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Trata-se do pior resultado da série histórica. E, apenas nos primeiros 7 meses deste ano, foram mais 5 mil km² desmatados do segundo maior bioma brasileiro – onde nascem 8 das 12 principais bacias hidrográficas do país. Para alertar sobre os perigos que rondam o bioma, Natuza Nery entrevista Isabel Figueiredo, mestre em ecologia e coordenadora do programa Cerrado e Caatinga no Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Neste episódio:

• Isabel comenta o processo de acelerado desmatamento que aflige o Cerrado, e aponta a lei de preservação nativa como um “entrave” para sua proteção: “Ele é colocado como um bioma de sacrifício para poder salvar a Amazônia”;

• Ela descreve o bioma como uma "biblioteca que está sendo queimada sem que os livros tenham sido lidos ainda” devido a sua ampla biodiversidade: é a savana mais biodiversa do mundo e habitat de 5% de todas as espécies do planeta. “E tem o papel importante de ser o berço das águas para o Brasil”, reforça;

• A ecóloga compara a redução do desmatamento na Amazônia com o aumento de registros no Cerrado, onde o “governo tem menos espaço de atuação”. Isso porque no Cerrado a maior parte da destruição da mata nativa se dá em áreas privadas, onde os donos de terra falsificam autorizações para desmatar;

• Ela descreve como grileiros usam métodos violentos, com atuação até de milícias, para “acuar, cercear e expulsar” famílias tradicionais de suas terras. Essas comunidades sofrem também, relata, com contaminação de águas e solo por agrotóxicos usados nas grandes propriedades.

 

O que você precisa saber:

Desmatamento: queda na Amazônia e aumento no Cerrado//Deter: alertas de desmatamento batem recorde no Cerrado//1º semestre: alertas de desmatamento no Cerrado sobem // 21%//Maio: alertas de desmatamento no Cerrado é o maior da série//Goiás: os desafios para fiscalizar desmatamento no Cerrado//Efeito estufa: subsolo do Cerrado retém 5x mais gases que solo//Análise: desmatamento cai na Amazônia e aumenta no Cerrado

O podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Lorena Lara, Gabriel de Campos, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski, Eto Osclighter e Nayara Fernandes. Apresentação: Natuza Nery.

 

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Washington Novaes (1934-2020) Coentário sobre a vida e a morte do jornalista e documentarista - https://aterraeredonda.com.br/washington-novaes-1934-2020/ 

 

Por MARCO ANTONIO SPERB LEITE*

Parte da gente vai embora quando um amigo nos deixa. O que permanece, se isso serve de consolo, é o que foi incorporado ao nosso ser pela convivência sem maiores interesses, pela amizade. No mistério da vida, a inexorável morte faz parte, mas como dói. Mais um amigo se foi: Washington Novaes.

Washington mudou-se para Goiânia para produzir um jornal projetado para ter padrão e repercussão de nível nacional, junto com um time de jornalistas de primeira grandeza. O projeto chegou a correr na pista, mas não decolou, bombardeado pela ditadura quando o jornalismo investigativo encontrou cadáveres no sul de Goiás, prova de execuções de militantes políticos. Seus colegas foram embora, Washington ficou. Assim ganhei um amigo, um grande contador de casos.

Com sua vasta experiência contribuiu muito para melhorar o nível do jornalismo local. Trabalhador incansável, ajudou a alavancar o Festival Internacional de Cinema Ambiental – FICA, que projetou Goiás para fora de suas fronteiras. Sua ligação com a TV Cultura de São Paulo, aprofundada ao longo de anos, lhe possibilitou realizar documentários sobre o lixo, sobre a ausência de saneamento, sobre a destruição do cerrado, da Amazônia, do Pantanal. Todos fazem parte de seu grito de alerta. Os prêmios recebidos, inclusive os internacionais, eram tratados por ele como pontos de apoio para uma luta maior.

Crítico implacável, lutador pela vida, tinha clareza de que fazemos parte do meio ambiente e, para preservar a vida, tínhamos que preservar todos os biomas. As riquezas do cerrado, suas plantas trabalhadas durante milênios pela natureza foram por ele divulgadas com afinco, pois sabia que estávamos jogando no lixo fármacos ainda não descobertos, na ânsia imbecil do lucro imediato obtido pelo plantio da soja ou da criação de gado. O bioma cerrado foi sua última paixão.

Criticava abertamente o desmonte dos órgãos ambientais nos últimos governos, assim como a construção da usina de Belo Monte, a falta de sensibilidade da Presidente Dilma, da mesma forma que não poupou Marina Silva por não lutar contra a introdução da soja transgênica no Brasil sem obedecer à precaução exigida. Em relação ao atual governo, por seus crimes cometidos, era ainda mais duro. Alertava para a necessidade de denunciar os absurdos patrocinados por um bando de imbecis perigosos apoiados por interesses maiores. Usou sua pena, sem dó ou medo, como uma espada de guerreiro.

Muitos chorarão sua partida: sua companheira de décadas, Virginia, seus quatro filhos. E também chorarão os povos indígenas do Xingu, que recentemente lamentaram a partida do cacique Aritana Yawalapiti, amigo de Washington, que a Covid levou. Todos os que lutam por um mundo mais justo, fraterno que respeite a vida – o meio ambiente nela incluso – choraremos pela perda de um grande companheiro de luta.

Em seus artigos, centenas deles, o meio ambiente foi o fio condutor nos últimos 30 anos. Um profeta que denunciava a destruição da vida. Profeta do óbvio, segundo ele mesmo dizia, pois a degradação que estamos criando é evidente para os que têm olhos para ver e coração para sentir. Os interesses econômicos, quando a terra é moeda, dizia, gera a especulação imobiliária que destrói cidades, que acaba desnecessariamente com as matas, com o cerrado. Considerava como sua missão resistir a essas forças poderosas.

O futuro sombrio que a humanidade vai enfrentar, e em vários lugares já enfrenta, era seu tema recorrente. No Brasil as políticas públicas se voltarão – a médio e a longo prazo – contra o próprio capitalismo na medida em que contribuem para o esgotamento dos recursos hídricos e para o empobrecimento do solo, alertava. As elites e seus asseclas, pelo menos os mais próximos, podem ir para lugares mais preservados e ainda não sentem a falta de ar. Será que só acordarão quando a falta de ar for generalizada? A atual pandemia mostrou que o vírus não distingue pobres e ricos.

Nos últimos tempos Washington continuava na ativa, embora cansado. O museu das águas foi um projeto não realizado. Estava abalado pela morte de amigos, como Newton Carlos, compadre que batizou um de seus filhos e de Aritana, entre outros. E ainda pelo enfraquecimento do movimento ambientalista. Aliás, detestava o epíteto “ambientalista”, pois sabia que sua luta era maior, era pela vida. “Ambientalista é a mãe”, foi o título de um artigo seu para Bundas, revista de curta duração, criada pelo amigo Ziraldo.

Para encerrar, cito um pequeno acontecimento. Estávamos, Washington e eu, indo para uma cidade do interior de Goiás para dar palestras sobre o meio ambiente, quando paramos em uma cidadezinha no meio do caminho para tomar um café. Na saída, um jovem pediu carona. No banco de trás, neste momento Washington dirigindo, ele olha bem para ele e pergunta seu nome. Ao confirmar a suspeita, disse que tinha assistido toda a série sobre o Xingu e que usava os vídeos para mostrar aos seus alunos a importância da cultura indígena. São acontecimentos que mostram estar sua obra no mundo e, como disse Pedro Casaldaliga, suas causas transcendem sua vida.

*Marco Antônio Sperb Leite é professor aposentado do Instituto de Física da UFG.

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 Editorial - O Centenário da “Revolução de 23” no RS

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100 ANOS DA REVOLUÇÃO DE 1923 | ESPAÇO PLURAL 02/08/2023 – Rede Estação Democracia - RED

Nesta edição vamos abordar o centenário da Revolução de 1923.

Receberemos o jornalista, historiador, escritor e professor Juremir Machado, e o economista e Membro da Academia de Escritores do Litoral Norte Paulo Timm.

https://www.facebook.com/redeestacaodemocracia/videos/1353078392084620

REVOLUÇÃO GAÚCHA DE 1923 

https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/REVOLU%C3%87%C3%83O%20G 

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Neste ano relembra-se, evito o celebra-se, o Centenário da “Revolução de 23”. Com efeito, desenrolou-se ao longo de quase todo aqueles idos de 1923, quando Borges de Medeiros, que virou nome de Avenida por todo o Rio Grande, começando por Porto Alegre, uma insurgência com epicentro na campanha, sob chefia de Assis Brasil, que tomou esta designação. Não foi, entretanto, uma Revolução, como frisa o historiador Giovanni Mesquita, autor de uma notável biografia de Bento Gonçalves e grande defensor do que denomina REVOLUÇÃO FARROUPILHA. Esta insurgência estava interligada â sucessão Presidencial no Brasil, que se travara em fevereiro e elegeu Arthur Bernardes, apoiado pelos estancieiros sulinos enquanto o Presidente do Estado, Borges de Medeiros lhe fez Oposição. Mesmo com franca minoria de votos no Rio Grande a vitória de Artur Bernardes animou os adversários de Borges no sentido de impedir suas já renovadas reeleições que se realizariam mais tarde. Foram preparando um clima de contestação, que hoje chamaríamos negativista, com foco na fraude das eleições abertas. Na verdade, este grupo, majoritariamente grandes estancieiros vinha sofrendo graves prejuízos econômicos desde a I Guerra Mundial e clamavam pelo apoio do Estado em seu socorro. Borges recusou, orientado por seus princípios republicanos e positivistas que recomendavam a defesa de um Estado Central equidistante dos interesses econômicos, espécie de árbitro regulador da sociedade, de resto empenhado num processo de mudança estrutural urbano-industrial do Rio Grande. Esta tensão já vinha confrontando proprietários rurais que dominavam a vida econômica e política do Estado desde o período colonial. Porto Alegre, fundada por José Marcelino de Figueiredo em 1772 ( fugido de Rio Grande, esta sim, estrategicamente situada na campanha pela sua condição de porto marítimo, no corpo do complexo da criação e indústria do boi , desde a ocupação da velha capital por Ceballos em 1763) foi, durante muito tempo, apenas um modesto centro administrativo. Robustecer-se-á depois de erigida a capital, com a articulação com a economia colonial do Vale dos Sinos em 1872 com a inauguração da via férrea até São Leopoldo. Aí as coisas começam a mudar na política rio-grandense e explodem em conflito armado na Proclamação da República, quando um grupo de republicanos radicais assumem o Poder em 1891, sob o Governo de Julio de Castilhos, cedo deposto pela fidelidade á Deodoro da Fonseca e logo devolvido pelo voto ao Poder para um período de presença castilhista com outros nomes que se estenderá até 1930. Esta facção, associada à Filosofia positivista de Augusto Comte tem um Projeto progressista, baseado na industrialização , para o Estado e o conduz através de um Partido fortemente hierarquizado e intervencionista, onde não raro a firmeza se confunde com violência. A reação não tarda e se acentua com a presença do velho líder monarquista Gaspar da Silveira Martins que deflagra a resistência armada “federalista” dando origem à bárbara rebelião de 1893-5, que se juntaria à Revolta da Armada contra o Presidente Floriano Peixoto na capital catarinense onde foi debelada pelas forças oficiais rio-grandenses. Este fato, aliás, alia incondicionalmente o Governo do Rio Grande do Sul ao Exército, o que se estenderá até a famosa Legalidade, em 1961, quando o comandante do III Exército se alia ao Governador Brizola em defesa da posse de J. Goulart como Presidente da República. A tensão, entretanto, entre Porto Alegre oficialista e o interior acentuar-se-á no Governo Borges de Medeiros que, não obstante, detém o controle político sobre todo o Estado e enfrentará a rebeldia “liberal” com uma poderosa força de 12.000 homens muito bem armados. Irrompida a rebelião, logo depois de mais uma vitória de Borges como Presidente do Estado, as tropas de Assis Brasil vão ao confronto. Sempre evitaram, porém, pela fragilidade de suas armas, o confronto campal e, por isso, partem para uma guerra de desgaste, já praticada na Revolução Farroupilha e na Federalista, na esperança de que o novo Presidente da República, seu aliado, interferisse a seu favor com a Intervenção, o que jamais ocorreu. Depois de muitas idas e vindas revoltosos se enfraquecem e aceitam a trégua na Paz de Pedras Altas em novembro de 1923, reconhecendo a manutenção de Borges até uma futura eleição. Esta paz, aliás, foi mediada pelo homem de confiança de Borges: Getúlio Vargas. Esta pacificação, aliás, selará uma união das forças políticas em torno de Vargas ao comando do Estado em 1927, culminando no apoio à sua Revolução em 1930, embora de pouca duração. Em 1932 novas cisões emergem no Rio Grande, mas já não mais armadas. Pedras Altas contibui decisivamente para o reconhecimento das divergências ideológicas que atravessarão todo o século XX sem outros atritos que não os da virulência ideológica. Este fato, importante, no entanto, leva ao equívoco de vários analistas de associarem os revoltosos de 23 aos movimentos de enfretamento às retrógradas oligarquias da I República. Ora, aqui no Rio Grande, retrógrados eram eles. A dita oligarquia no Poder, ao contrário, era surpreendentemente progressista e se projetou sobre o cenário nacional através de Vargas depois de 1930.

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 Editorial Cultural FM Torres RS 02 de agosto 23

Afinal, o Brasil vai bem ou vai mal?

Não falemos da conjuntura e do Governo Lula III, que vai se firmando numa corda meio bamba. Falemos do Brasil em retrospectiva ou, como queria Cazuza: “Que país é esse? ” Ou, ainda, como indaga outro analista, Isaac Reutman: “Colonizado ou protagonista”, forma educada da expressão “escravo ou Senhor”? Antonio Callado, grande entusiasta do Brasil quando moço também foi em busca do Brasil profundo com seu QUARUP, de 1967, mas morreu em profunda depressão decepcionado com o que viu. Drummond foi mais longe e ainda perguntou no sugestivo poema Hino Nacional, “os brasileiros acaso existirão...? ”

Hino nacional

 

Precisamos descobrir o Brasil!

Escondido atrás as florestas,

com a água dos rios no meio,

o Brasil está dormindo, coitado.

Precisamos colonizar o Brasil.

...

Precisamos educar o Brasil.

Compraremos professores e livros,

assimilaremos finas culturas,

abriremos dancings e subvencionaremos as elites.

 

Cada brasileiro terá sua casa

com fogão e aquecedor elétricos, piscina,

salão para conferências científicas.

E cuidaremos do Estado Técnico.

 

Precisamos louvar o Brasil.

Não é só um país sem igual.

Nossas revoluções são bem maiores

do que quaisquer outras; nossos erros também.

E nossas virtudes? A terra das sublimes paixões...

os Amazonas inenarráveis... os incríveis João-Pessoas...

 

Precisamos adorar o Brasil!

Se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens,

por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão

de seus sofrimentos.

 

Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!

Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,

ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.

O Brasil não nos quer! Está farto de nós!

Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.

 

Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?

A questão me vem à baila, neste dois de agosto mercurial que amanhece em Porto Alegre com 15 graus, depois de uma conversa com um velho amigo. Ele está fazendo o caminho inverso preconizado pelo velho Senador Roberto Campos que sempre dizia ser normal ser incendiário na juventude e bombeiro na fase adulta. Meio conservador quando estudante, hoje se diz encantado com a China comunista que, além de retirar 800 milhões da pobreza em 30 anos, segundo respeitáveis revistas acadêmicas – surpresa até pra mim, que pensava fosse a metade desse número -, lidera o comércio mundial e se prepara para superar os Estados Unidos. No Brasil, diz ele, mourejamos no patrimonialismo. Ele, entretanto, nem Cazuza nem Drummond são os únicos desencantados com o “Brasil, país do futuro”, dos tempos de S. Zweig. Quando eu ainda dava aula na Universidade de Brasília, há 20 anos, costumava perguntar genericamente aos alunos: Vocês acham que o Brasil deu certo? A resposta era unânime: “Nãããoooo...!” Tentava, então, ao longo do meu curso, se não convencê-los do contrário, à luz das grandes realizações do país no século XX, quando nossa população saltou de meros 15 milhões de caranguejos arranhando a costa para 190 milhões, muitos dos quais, embora minoria, já assentados no Grande Sertão, com um Estado organizado com instituições invejáveis, inclusive um Tribunal Eleitoral, uma inédita Justiça do Trabalho, um SUS com mais de 30 mil postos de atendimento gratuito, além de vigorosas instituições financeiras públicas como BNDES, BB e CEF, para não falar da diversidade cultural digna de reconhecimento internacional. Não sei se sensibilizei algum deles, mas continuo empenhado nessa missão: mostrar que, malgré tout, o Brasil deu certo e está numa nova encruzilhada. Se errar pode desaparecer. Mas vai indo, aos trancos e barrancos dos golpes em sua frágil democracia, em meio à violência herdada da escravidão mas que nos dá, entretanto, o crédito de ter uma maioria não branca do colonizador em sua população. Não somos, com efeito, a China, mas nem temos uma cultura milenar, nem fomos protagonistas de uma Revolução, como a que fizeram os chineses sob Mao Tse Tung, que lhes redefiniu a equação de poder interno com a eliminação do mandarinato. Foi a Revolução Francesa deles. Nós, com exceção do Rio Grande do Sul, não tivemos nada parecido. Fomos nos modernizando, depois da Batalha do Itararé, em 1930, por acordos tácitos que jamais permitiram mudar a estrutura agrária e enraizado patrimonialismo. E aqui estamos, com um país territorialmente imenso e com tarefas históricas ainda a se cumprirem, mas de pé, com o mérito de ter saído de suas graves crises pela interação entre mobilização popular (como na Abolição, na década de 1880, e nas redemocratizações de 1945 e 1985, bem como nas eleições de 22) e articulação das elites políticas. Como afirma enfim, a sociólogo Maria Hermínia em artigo recente na FSP: Pior seria sem o que se tem...

Maria Hermínia Tavares* - Pior seria sem o que se tem

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../maria-herminia...

Poderíamos ir mais rápido e com mudanças mais profundas. Por certo, poderíamos e deveríamos. Mas esta não é uma questão teórica nem de postagem em Redes, é Política. Quem, enfim, à empreenderá, até que um Robespierre, um Trotsky ou um Mao, com respaldo popular, acaso apareçam...? Fiquemos com o que se tem e tratemos de desdobrá-lo historicamente. O Brasil existe! Os brasileiros existem!

 

Anexos

Que país é esse? Colonizado e periférico ou protagonista? Isaac Roitman

 Mercantil = 18:18 - 1 de junho de 2020 = ACESSE AQUI >>. 

 

Peguei emprestado como parte do título do artigo a composição musical criada por Renato Russo (Renato Manfredini Junior) em 1978 e que teve grande sucesso na banda Legião Urbana. A letra da música é questionadora e pretende tecer uma severa crítica social. Quando foi criada, no final dos anos 70, já havia a sensação de impunidade e falta de regras civilizatórias. O compositor não critica apenas a classe política, mas também a corrupção espalhada e arraigada no nosso dia a dia.

Um dos versos diz: “Nas favelas, no Senado / Sujeira pro todo lado / Ninguém respeita a Constituição / Mas todos acreditam no futuro da nação”. Em um outro: “Mas o Brasil vai ficar rico / Vamos faturar um milhão / Quando vendermos todas as almas / Dos nossos índios num leilão”.

A composição criada há 42 anos parece ter sido escrita ontem. Uma questão então emerge: o Brasil melhorou? A resposta é não.

A pandemia provocada pelo Corona vírus, parafraseando, Hans Christian Andersen (o rei está nu), revelou que o país está nu e despreparado para enfrentar a grave crise sanitária que assola o planeta. Em adição, a pobreza e a fome, consequência da vergonhosa desigualdade social, condenará a morte um grande contingente das populações vulneráveis.

A demissão recente de dois ministros da saúde competentes revela que o país está à deriva. O descaso com o desenvolvimento científico brasileiro, com cortes de investimentos e redução de bolsas, revela uma falta de visão para o futuro. A crise da Covid-19 certamente nos ensinará muito. O modelo econômico planejado pelos banqueiros e seus comparsas naufragou. Por outro lado, a pandemia revelou atitudes virtuosas, como a dedicação dos trabalhadores da saúde para enfrentar os efeitos perversos da pandemia. As iniciativas solidárias, para mitigar o sofrimento das camadas mais vulneráveis é um sinal que podemos aprimorar a nossa missão com o coletivo.

Precisamos definir se queremos continuar a ser um país com o mesmo enredo, colonizado, periférico e campeão na injustiça social? Se a resposta for sim, vamos continuar na zona de conforto, acomodados e não gastar nenhum minuto pensando nas futuras gerações de brasileiros e brasileiras. Vamos continuar a eleger nas esferas do Executivo e Legislativo pessoas que não são preparadas e que não apresentam nenhuma sensibilidade para o coletivo.

No entanto, se a resposta for não, vamos ser todos protagonistas de transformações onde todos possam alcançar seus sonhos. Em uma verdadeira democracia, o Estado deve priorizar os desejos e sonhos do povo. Um modelo de desenvolvimento baseado apenas no desenvolvimento econômico é incompleto. Crescimento econômico sem desenvolvimento social resulta em falta de inclusão, indignação, descontentamento e agitação social.

É urgente conquistarmos uma educação que consolide valores e virtudes e que inclua uma educação ambiental e libertária sem espaço ao individualismo, a competição, ao consumismo e ao mercado que não respeite os princípios civilizatórios e direitos de todas as camadas sociais. Para conquistarmos o Brasil que queremos, é preciso mudar o pensamento e as atitudes das pessoas. É pertinente lembrar o pensamento de George Bernardo Shaw: “Progresso é impossível sem mudança, e esses que não podem mudar suas mentes não podem mudar coisa nenhuma. ”

A preocupação com o futuro e com o legado que deixaremos para as próximas gerações devem pautar as nossas ações no presente. Lembremos que não somos imortais e que o nosso compromisso maior é com os nossos descendentes.

No Brasil, não temos tradição de planejar a longo prazo. Nossos projetos se limitam a quatro ou oito anos de governo, e a maioria deles não são realizados. É preciso planejar a longo prazo, estabelecer projetos de Estado e construir um novo Brasil, melhor e mais justo. Vamos trabalhar para que no breve futuro possamos apreciar a bela composição de Renato Russo e a pandemia do Corona vírus como uma lembrança do passado que nunca voltará.

- Pior seria sem o que se tem

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../maria-herminia...

Maria Hermínia Tavares* =Folha de S. Paulo

Basta imaginar a passagem do ex-capitão por Brasília se ele tivesse um partido majoritário no Congresso

O sistema político brasileiro não é visto com bons olhos pela imensa maioria dos acadêmicos e dos jornalistas. Uns e outros buscam persuadir os leigos de que nada ou muito pouco presta no presidencialismo de coalizão, corolário de um sistema partidário notoriamente fragmentado. Em especial, investem contra a partilha de ministérios e cargos de primeiro escalão, vital para a formação da base governista no Congresso, e a política de liberação de recursos para emendas parlamentares, que azeita a aprovação de projetos de interesse do governo.

Muitos julgam ainda excessivo o poder dos governadores em assuntos nacionais. E se dizem preocupados com a judicialização das disputas políticas e o protagonismo das instituições judiciais, particularmente do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Para os críticos, esse sistema emperra decisões; baseia-se em caro toma-lá, dá-cá; dificulta a adoção de reformas importantes; e multiplica as oportunidades para a apropriação indevida de recursos públicos —a velha e onipresente corrupção.

Talvez seja hora de contrapor às críticas as vantagens de um sistema que impede a concentração excessiva de poder no Executivo, bem como o governo de um único partido majoritário. Em consequência, obriga à negociação entre interesses diversos, à busca de consensos e, nesse processo, favorece soluções moderadas. Por último, o mais importante: o seu papel como dique de contenção a arroubos de um mandatário com vocação autoritária.

No passado recente, foram essas as instituições que impediram Bolsonaro de exercer seu despotismo, limitando o estrago de suas políticas destrutivas. Basta imaginar o que poderia ter sido a passagem do ex-capitão por Brasília, tivesse ele um partido majoritário no Congresso; a prerrogativa de indicar prepostos para administrar regiões sem autonomia frente ao governo central; e, por fim, contasse com um Judiciário subjugado.

É esse arranjo tido como mal-ajambrado, no qual a negociação política é tão crua quanto aberta, que tem permitido, pela busca de convergências, definir novas regras fiscais e a tão esperada Reforma Tributária. E mais do que permitir, requer um governo disposto e capaz de dialogar para chegar ao que a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, em recente entrevista ao jornal Valor, chamou de solução "meio-termo" ao tratar do controverso marco temporal para a demarcação das terras indígenas. Afinal, meio-termo, negociação, moderação, construção de consensos são alguns dos tantos nomes da política democrática. Antes assim.

Tiro uma semana de férias. Volto no fim do mês.

*Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

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 Editorial Cultural FM Torres RS 01 de agosto 23

Ação policial contra o crime: Confronto ou Inteligência?

Operação acontece desde sexta-feira (28) após policial da Rota ser morto no Guarujá. Governo fala em 8 mortos, enquanto ouvidoria das polícias de SP cita ao menos 10 vítimas no fim de semana. 

 

Operação da PM para prender suspeito de assassinar policial da Rota deixa 10 mortos em Guarujá, diz ouvidor - Moradores relataram que policiais torturaram e mataram um homem e prometeram matar ao menos 60 pessoas em comunidades da cidade. Suspeito de matar agente da Rota foi preso neste domingo (30).

SSP confirma mais duas mortes em ação da PM no litoral, e total chega a 10 - Ouvidoria recebe denúncias de tortura e ameaças da PM em Guarujá = 'Ação da PM não parece ser proporcional em relação ao crime', diz Dino

 

Antes de se entregar, 'sniper' suspeito de matar policial da Rota fez vídeo pedindo para Tarcísio 'parar matança' - Erickson David da Silva foi preso neste domingo. Ouvidoria da Polícia relatou que policiais mataram 10 pessoas em operação de buscas por suspeito; Secretaria de Segurança Pública informou apurar o caso.

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Meu amigo Dr. Frank Cunha, 91 anos de lucidez, sempre atento ao mundo e escrevendo com talento e erudição, me manda este grafite, colhido em Buenos Aires:

 

"CUIDADO, POLCIALES SUELTOS!!!"

A advertência poderia ser tomada como toque de humor, mas não é. É um registro da visão da sociedade – ou parte dela – sobre a imagem da Polícia em nosso tempo, pleno século XXI, no continente. Século que se prometia consagrado aos Direitos Humanos. Coincidentemente, um jovem preso no fim de semana no episódio do Guarujá, litoral de São Paulo, acusado de ter ocasionado a chacina de oito ou dez pessoas ao ter alvejado de morte um policial militar, antes de se entregar faz um vídeo em que apela ao Governador do Estado, clamando: “Parem de matar! ” Não pararão. A ação policial sobre o crime, no Brasil, consolidou-se no país inteiro, seja governado pela direita ou pela esquerda, pela política de confronto armado. Na Bahia, estado com o maior número de mortes violentas, governado há anos pelo PT, 28% das mortes violentes é resultado da ação policial. Na sequência vem Rio de Janeiro e o episódio de Guarujá demonstra que em São Paulo não é diferente.

Qual o problema da Política de Confronto Armado com o crime? É que ele não diminui a criminalidade. Ela se reproduz no calor do confronto e acaba se espalhando pela sociedade que acaba se armando por conta própria na tentativa de se defender. O resultado é mais violência. Onde vamos parar?

O crime existe e se organizou de forma inusitada depois da década de 80. O tráfico de drogas criou uma era jamais vista de poder econômico nas mãos das redes do crime. Com ramificações internacionais. A tal ponto que já há uma discussão, também internacional, sobre a conveniência da manutenção da repressão ao uso de entorpecentes, vez que os recursos públicos aí envolvidos são cada vez maiores e infrutíferos. Aliás, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, nestes dias, se debruçará sobre esta difícil matéria no Brasil Não se trata de liberar o tráfico mas de autorizar o porte limitado de drogas para uso pessoal. A questão, entretanto, é que se esta liberação evita a prisão de supostos usuários de droga, ela continuará penalizando o microtraficante, geralmente pobre, negro e morador nas periferias das cidades, que alimenta o usuário. Continuares com centenas (!) de milhares de jovens encarcerados que acabam sendo engajados nas organizações do crime, que lhes oferecem apoio financeiro e advogados. E continuarão os confrontos entre traficantes e policiais, com balas perdidas alcançando crianças inocentes.

Que fazer diante disso?

Reconhecer, primeiro, a complexidade do problema que exige esforço interdisciplinar no seu enfrentamento. Segundo, submeter a ação policial às determinações da Lei que não autoriza enfrentamentos letais com número considerável de vítimas fatais. Isso exige a mudança da Política de Confronto das polícias com o crime pela Política de Investigação capaz de prevenir danos fatos e colaterais. Isso é mais difícil? Talvez. Mas é o método democrático de enfrentar a violência do crime. Não com a violência do Estado, mas sua firmeza no cumprimento da Lei: Avaliar, Investigar, Prender e Processar. Claro que esta Política exige também revisão da Legislação sobre certos crimes: hediondos, praticados ao amparo de organizações, reincidência etc., papel que cabe, fundamentalmente ao Congresso Nacional. Nada justifica que um reincidente por 30 vezes do crime de roubo venha a ser beneficiado com a progressividade. Em todo o caso, o que deve rechaçar é que a Polícia aja, como parece ter agido no Guarujá, como retaliação ao fato de que um dos seus foi atingido por um criminoso. É compreensível que o crime atue sem critérios, mas não é aceitável que o Estado o faça, assimilando-se aos métodos criminosos. No Estado de Direito Democrático, regido como nós, por uma Constituição, ninguém está autorizado a matar por vingança ou impulso. Defesa da honra, pessoal e institucional não tem cabida em tribunais. Mister, pois, parar de matar indiscriminadamente, ainda que sob o argumento do combate ao crime. Este se faz com a Lei.

O caso concreto do Guarujá, tratado pelo Governador de São Paulo com regozijo, exige INVESTIGAÇÃO, eis que há contraditório no âmbito mesmo da força policial. A pressa em justificar a ação policial é um erro do Governador e de analistas ideologicamente comprometidos com o slogan de que bandido bom é bandido morto. Esta máxima, mínima em bom senso, acaba se alastrando como consigna num universo carregado de conflitos e vai para as paredes, como em Buenos Aires: “Cuidado, policiais soltos”, um perigo para todo mundo, pois atrás de bandido bom é bandido morto, vem “índio bom é índio morto”, negro bom é negro morto, gay bom é gay morto, “vagabunda” boa é vagabunda morta, invasor do MST bom é invasor morto, sindicalista bom é sindicalista morto...e assim por diante, como naquele conhecido poema:

Primeiro levaram os negros / Mas não me importei com isso /

Eu não era negro. / Em seguida levaram alguns operários / Mas não me importei com isso / Eu também não era operário. /Depois prenderam os miseráveis / Mas não me importei com isso / Porque eu não sou miserável. / Depois agarraram uns desempregados / Mas como tenho meu emprego / Também não me importei. / Agora estão me levando. / Mas já é tarde. / Como eu não me importei com ninguém / Ninguém se importa comigo.


 Editorial Cultural FM Torres RS 31 de julho 23

A disritmia sulina 

Raras vezes temos a oportunidade de conhecer a nossa realidade socioeconômica como no artigo abaixo do Doutor Carlos Paiva. Com base no Censo 22 compara a dinâmica populacional do RS e SC, evidenciando a tendência à estagnação de nossa economia. Segue:

 

Carlos Paiva

Artigo por RED - https://red.org.br/noticia/a-disritmia-sulina/  

29/07/2023 05:30 • Atualizado em 28/07/2023 22:40

 

⦁ Os problemas do Censo

Os primeiros resultados do Censo Demográfico de 2022 deixaram o Brasil atônito. Até 2021 o IBGE estimava a população brasileira em pouco mais de 213 milhões de pessoas. Mas em 2022, o Censo “encontrou” 10 milhões de pessoas a menos no Brasil. A discrepância foi tamanha que muitos a tomaram como um indicador da baixa confiabilidade de nosso sistema estatístico. Afinal, um “equívoco” de 10 milhões não é qualquer coisa.

Há alguma razão na crítica. O IBGE viveu maus momentos ao longo dos (tristes) anos de (des) governo Bolsonaro. Sofreu com cortes de verbas, mudanças abruptas de gestão, alterações no questionário do Censo. E, como se isto tudo não bastasse, passou pelo grande desafio representado pela pandemia, que impôs mudanças no calendário; além de afetar todo o sistema de estimativa populacionais em função da elevação abrupta e inesperada do número de óbitos em 2020 e 2021.

Parte da discrepância entre a população estimada em 2021 e da população censitada em 2022 advém justamente da pandemia. Como o IBGE estima a população em cada ano antes da consolidação dos registros de óbito, o órgão projetou o impacto da covid-19 no Brasil tomando por referência a morbidade média mundial. Mas o IBGE parece não ter projetado que nós seríamos hors concours em morbidade. Além disso, aparentemente, o IBGE também subestimou o crescimento da emigração ao longo dos últimos anos. Um equívoco que também é explicável. Em 2020, no auge da pandemia, a migração de brasileiros para o exterior caiu abruptamente. Porém, em 2021 a emigração teve um crescimento astronômico, que mais do que compensou a queda do ano anterior. Além disso, parte da emigração não é computável no momento da saída do viajante. Pois ele entra nos demais países como “turista”. Neste caso, mesmo quando não tem intenção de voltar para o Brasil ele é obrigado a adquirir uma passagem de retorno; e é computado como domiciliado no país.

Mas também há um outro lado. Ao contrário do que pretende o senso comum, o fato do Censo Demográfico de 2022 ter identificado uma população menor do que a população estimada para 2021 não é a “prova” de que a estimativa estava totalmente errada. Na verdade, os Censos sempre subestimam a população real. Pois casas visitadas mais de 3 vezes sem que ninguém seja encontrado é considerada vazia. Mesmo que, na verdade, a ausência de domiciliados seja meramente casual. Assim, é de se esperar (e isto logo será averiguado) que a população brasileira se encontre, de fato, hoje, abaixo dos 213 milhões projetados para 2021, mas acima dos 203 milhões identificado no Censo de 2022. Detalhei este ponto na primeira seção de um outro artigo, cuja leitura recomendo a eventuais interessados no tema.

O que importa entender, para nossos objetivos neste texto, é que: 1) a população efetiva do Brasil e de suas regiões hoje deve ser maior do que a contabilizada no Censo e menor do que a estimada nos anos anteriores: seria razoável apostar em um valor intermediário; 2) apesar das tendências à subestimação dos Censos, esta tendência tende a se distribuir com grande uniformidade; vale dizer: os diferenciais de variação populacional não devem sofrer alterações significativas. É claro que os municípios que tiveram as maiores perdas vão protestar e, muito provavelmente, ingressarão na Justiça contra o cálculo do IBGE. Pois a perda populacional envolve perdas diversas: do repasse do ICMS à queda do número máximo de vereadores. O jus sperniandi está consagrado no Brasil. Mas ele não garante qualquer legitimidade às demandas. A maioria delas é mera protelação do inevitável.

⦁ Os determinantes da dinâmica demográfica e suas diferenças

Um dos principais focos do artigo já referido de análise do Censo que publiquei na RED no dia 15/07 foi a extraordinária diferença entre a dinâmica demográfica do RS e de SC ao longo dos últimos 12 anos. Há muito tempo que o RS é o Estado com menor taxa de crescimento demográfico do Brasil. Se tomamos o período entre 1970 e 2022, o RS ocupa exatamente a última (27ª.) colocação dentre as UFs em termos de crescimento demográfico. A população do Brasil cresceu 115% e a do RS apenas 63,5%. Mas SC cresceu acima da média brasileira no período: 159,7%, ficando em 12º. lugar entre as UFs. Mais: esta performance diferenciada é relativamente recente. Entre 1970 e 1991, a performance demográfica de SC (23,07% de crescimento) era inferior à performance do Brasil (35,93%) e pouco superior à performance demográfica do RS (cuja população cresceu 15,02% nesses 21 anos). E a similaridade nas taxas de expansão demográfica de SC e RS se impôs a despeito das discretas diferenças na estrutura etária dos dois Estados. Este ponto é importante e merece alguma consideração.

Não são poucos os demógrafos, economistas e sociólogos que buscam explicar os diferenciais (bem como as convergências) de dinâmica demográfica a partir de duas determinações básicas: estrutura etária e as referências culturais que orientam o planejamento familiar. E isto não é gratuito. Afinal, a capacidade de reprodução humana – como a de qualquer outro animal – é limitada a um dado período da vida; que vai da adolescência ao climatério. Além disso, no caso específico da população humana, o processo reprodutivo envolve, como regra geral, uma decisão dos casais, que é mediada por inúmeras determinações culturais associadas à aprovação (e/ou desaprovação) social do intercurso sexual entre casais de distintos estratos sociais e condições matrimoniais, bem como do direito dos mesmos ao controle e planejamento do número de filhos pelas vias mais diversas: do coito interrompido ao aborto.

Mas o fato da cultura e da estrutura etária serem elementos relevantes não os torna exclusivos. De sorte que não se pode reduzir a dinâmica demográfica a estas duas determinações. Quando o fazemos, estamos, de fato, abstraindo a dimensão econômica, que é fundamental para o entendimento da demografia. Mais: a abstração da dimensão econômica naturaliza (a despeito das aparências em contrário) a dinâmica demográfica, reduzindo-a, de um lado, à sua dimensão biológica (ter ou não idade para a procriação) e, de outro, a elementos “culturais” que ingressam como variáveis exógenas, não explicadas e não explicáveis, como algo da “natureza social”. O que se perde nesta redução é a capacidade de entender a dinâmica demográfica enquanto sintoma econômico, enquanto expressão privilegiada de um elemento central na dinâmica econômica: a capacidade de inclusão da população pelo trabalho gerador de uma renda minimamente satisfatória.

O ponto central a entender é que os processos migratórios são tão relevantes para a dinâmica demográfica dos territórios quanto o crescimento vegetativo da população. E os fluxos migratórios são determinados, primariamente, pela busca de melhores condições de reprodução material. Mais: com a crescente integração do mundo patrocinado pela universalização da ordem mercantil capitalista, os processos migratórios tornaram-se cada vez mais intensos e relevantes. Ao ponto de se tornarem uma das principais causas das diferenças nas estruturas etárias de regiões e nações. Senão vejamos.

Países e regiões que não oferecem oportunidades de trabalho e renda para a sua juventude em termos consistentes com suas expectativas, tendem ser abandonados pelos mesmos, que migram para regiões e nações onde encontram melhores condições de reprodução social. E estes processos migratórios são a verdadeira raiz do envelhecimento relativo da população. Aliás, é muito comum que os países e regiões que expulsam seus jovens apresentem, num primeiro momento, uma elevação do percentual de idosos e de crianças. Pois os pais partem para outras regiões deixando seus filhos pequenos com os avós. O que importa entender é que a estrutura etária não pode ser tomada como um ponto de partida absoluto. Muitas vezes ela é um desdobramento do processo migratório. E isto não é tudo: ela pode estar revelando, também, diferenciais de longevidade. E, como se sabe, a longevidade é um indicador da qualidade e universalidade do sistema sanitário e, em especial, dos serviços médicos de saúde.

Um exemplo concreto pode ajudar a entender este ponto. Entre 1970 e 1980 a população brasileira aumentou em 26,6 milhões de habitantes, o que implicou uma expansão de 28,19%. Em 1970, São Paulo contava com 19% da população total do país, mas com 22% da população entre 40 e 60 anos e (coincidentemente) 22% da população com mais de 60 anos; vale dizer: a idade média dos paulistas era maior do que a do Brasil. Não obstante, em 1980 SP passou a contar com 21% da população do país. Entre 1970 e 1980, a população de SP cresceu 41,3%, vale dizer, 13 pontos percentuais acima da média brasileira, o que o colocou em 8º. lugar entre as UFs com maior crescimento populacional. De outro lado, o PR era a UF do Sul com maior percentagem de população jovem. O PR contava com 7,5% da população total do país, mas com meros 5,5% da população acima de 60 anos. Não obstante, sua taxa de crescimento demográfico foi a menor de todo o Brasil nos dez anos (10,75%). Em 1980, o Paraná contava com apenas 6,4% da população do país: havia perdido 1,1 ponto percentual em participação. A despeito de sua estrutura etária “promissora” no início dos anos 70, a crise da economia cafeeira do Paraná em meados da década e o elevado dinamismo da indústria paulista (impulsionada pelo Milagre Econômico e, posteriormente pelo II PND de Geisel) cobraram o seu preço, alavancando as taxas de imigração do PR em direção a SP.

Um outro exemplo tão ou mais significativo: entre 2000 e 2022 a população brasileira cresceu 19,74% e a população gaúcha cresceu apenas 6,8%. Porém, nesse período, o Corede Litoral Norte, no RS, apresentou um crescimento populacional de 53,08%. Este crescimento espantoso foi capitaneado pela migração de aposentados (vale dizer, de pessoas de idade elevada) para o território que adotaram o domicílio de veraneio como domicílio permanente. Este processo redundou, inicialmente, numa verdadeira revolução da estrutura etária dos domiciliados no Litoral, com o aumento significativo da percentagem da população idosa. Porém, o movimento inicial logo foi contrastado pela crescente imigração de jovens para a região. Por quê? Porque a população aposentada alimenta um desequilíbrio significativo entre oferta e demanda de bens e serviços. Pois trata-se de uma população com elevado poder de compra, com grande demanda por serviços (que é o setor mais empregador da economia) mas que não ingressa no território como ofertante, seja de bens, seja de serviços, seja de mão de obra. O desequilíbrio entre oferta e demanda que resulta deste movimento, se resolveu pela atração de empresas, empresários e trabalhadores em idade ativa para o Litoral.

Por fim, é preciso entender que a clivagem entre determinações “socioculturais” e “econômicas” envolve uma simplificação. E as simplificações só têm alguma utilidade quando as tomamos pelo que são: instrumentos de raciocínio, que podem e devem ser descartados quando buscamos ir além de modelos simples e avançamos em direção ao concreto pensado. Talvez a forma mais adequada de explicar este ponto (sem ingressar em debates teóricos infindáveis) seja a maiêutica socrática, o método de ensinar perguntando.

A despeito de algumas oscilações significativas e “booms” eventuais, a taxa de crescimento vegetativo da população dos países capitalistas desenvolvidos tem sido decrescente. Pergunta-se. Até que ponto este fenômeno resulta de uma mudança cultural associada ao exacerbamento do hedonismo e do individualismo no capitalismo avançado, em detrimento dos mores culturais do século XIX, em que a família e a Igreja eram o centro da sociabilidade e a descendência era a expressão primeira da realização pessoal? E até que ponto este fenômeno é derivado da insegurança econômica dos jovens casais nos dias atuais? Qual o papel do individualismo e qual o papel das expectativas com relação à qualidade de vida e condições de trabalho de seus filhos no futuro? Ou, tomando o meu próprio caso pessoal: eu tenho três filhos, todos casados e com mais de 30 anos. Mas não tenho netos. Isto se deve ao fato de meus filhos serem hedonistas, egocêntricos e autocentrados ou se deve ao fato de que nenhum deles tem qualquer estabilidade ou segurança nos seus empregos? Ou será que os dois fatores andam de mãos dadas?

⦁ Por que é central entender as determinações econômicas da dinâmica demográfica?

Pedimos desculpas ao nosso leitor mais preocupado com os “achados” – vale dizer: com as novidades trazidas pelo Censo Demográfico de 2022 – do que com os “perdidos” – vale dizer: com os infindáveis debates teóricos e conceituais e os inúmeros exemplos do passado para a explicitação dos determinantes da dinâmica demográfica. Mas, infelizmente, a digressão acima se mostrou essencial em função das críticas feitas ao meu trabalho publicado na RED há duas semanas atrás por alguns colegas de profissão. O centro de seus argumentos encontrava-se na pretensão de que a dinâmica demográfica não seria bom indicador da dinâmica econômica; pois estaria referida primariamente à estrutura etária e a padrões culturais associados ao planejamento familiar. No fundo, do meu ponto de vista, aqueles que esgrimem esta interpretação não o fazem por ignorar o componente econômicos associado à migração. Mas porque acreditam que a economia gaúcha está “muito bem, obrigado”. Ou, ainda: acreditam que, se ela vai mal, é apenas porque a economia brasileira vai mal. E não há nada que mudar nas políticas econômicas em curso no Rio Grande Amado.

Há anos que me oponho a esta tese. E busco demonstrar que a decadência econômica do RS não pode ser explicada exclusivamente pelo baixo dinamismo econômico brasileiro nos últimos 40 anos. É preciso atentar também para nossos erros.

E, aqui, vale esclarecer um ponto. Eu sei – e, creio, qualquer economista sabe – que há um componente nacional no fraco desempenho do RS. Talvez ainda mais importante: há um componente setorial (ou estrutural). Em que sentido: ao longo de muitas décadas, o RS se manteve em segundo lugar na participação nacional do VAB da Indústria de Transformação (IT). SP (com mais de 40%) e RS (com quase 10%) correspondiam a mais da metade do VAB da IT nacional. Ora, o Brasil vem se desindustrializando aceleradamente desde os anos 90; e os Estados mais industrializados (SP, RS e RJ) vêm sofrendo mais neste processo.

No entanto, há um terceiro componente na determinação da dinâmica de uma região: o componente diferencial. Este componente está associado à capacidade de uma região deslocar sua estrutura produtiva em direção àqueles setores que apresentam uma taxa de crescimento mais elevada. Se a conquista de novos nichos de mercado é realizada antes de potenciais concorrentes, o território ganha vantagens competitivas, pois percorre a curva de aprendizado (o know-how associado ao learning by doing) e adquire vantagens de escala (internas e externas) antes dos demais.

Mas é importante atentar para um ponto crucial para que se possa entender efetivamente o papel do componente diferencial na taxa de crescimento. Um ponto para o qual, acredito eu, raríssimos analistas e planejadores econômicos gaúchos atentam: o ingresso em novos setores só alcança dinamizar a economia se houver demanda significativa e crescente para a nova produção. Ao contrário do que usualmente se pensa no RS, o crescimento diferencial não se dá tão somente porque se ingressa em setores que ninguém antes ingressou. Em especial, não se dá quando ingressamos em setores nos quais não temos qualquer tradição e conhecimento. A trajetória normal de inovação em produto é o aproveitamento de conhecimentos e equipamentos já existentes para a diversificação de mercados. Assim, uma indústria de cola para sapato deve buscar desenvolver outras colas (para madeira, por exemplo). Uma firma de embalagens para calçados deve buscar novos nichos, como embalagens para alimentos, por exemplo.

O ingresso em um setor radicalmente novo, pode ser da maior relevância para a nação. Por exemplo: dominar a tecnologia de prototipagem de microprocessadores é fundamental para qualquer país que pretenda contar com um mínimo de autonomia e capacidade inovativa na área de computação. Neste sentido, mostra-se crucial sustentar e apoiar o CEITEC, localizado no RS. Mas seria uma falácia sustentar este apoio argumentando que o CEITEC poderia ser a base para um crescimento expressivo no emprego e na renda dos trabalhadores assalariados no RS. E isto simplesmente porque este é um setor de altíssima competitividade e não há como prever qual será a fatia de mercado que uma única empresa criada com apoio do Estado justamente para dar início ao longo e complexo processo de aprendizado virá a conquistar.

Aqueles que se revoltam com o fato do Brasil estar se especializando, de forma crescente, em atividades agroindustriais se esquecem que a produção que cresce aceleradamente e que gera emprego e renda de forma substantiva é a produção que conta com um mercado: 1) em expansão; 2) ao qual somos capazes de atender ao menor custo nacional e/ou internacional. Não se trata – insistamos – de negar o papel estratégico de investimentos onde o país não tem tradição. Trata-se apenas de não confundir objetivos distintos – gerar emprego e renda para a população e estar up to date com a tecnologia de ponta no mundo – como se ambos fossem irmãos siameses. Este é o maior erro daqueles que confundem inovação com ingresso em searas caracterizadas por tecnologia de ponta. E confundem tecnologia de ponta com desenvolvimento socioeconômico. A inovação é central? Claro que sim! Mas ela não é um atributo restrito a alguns poucos setores. Todo e qualquer setor tem a sua fronteira tecnológica e gerencial específica. Todo e qualquer setor carrega consigo o potencial de inovar. Se não entendemos isto, não entendemos mais nada. E não podemos planejar o futuro do nosso Estado. Santa Catarina entendeu. E está nos dando um rolê.

⦁ RS e SC: uma disritmia para lá de surpreendente

Tomando por base as informações dos Censos Demográficos, entre 2010 e 2022 a população brasileira cresceu 6,45%. A população do RS cresceu apenas 1,74% (um quarto do crescimento nacional). E a população de SC cresceu 21,78% (3,4 vezes mais que o Brasil). SC ocupou o segundo lugar em taxa de crescimento demográfico do país, abaixo apenas de Roraima. Por quê?

Se tomamos os dados do crescimento vegetativo (nascimentos menos óbitos) do SC e do RS entre 2015 e 2022 (período de vigência da Lei da Transparência) temos o seguinte quadro:

 

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Importante observar que: 1) o saldo do crescimento vegetativo absoluto de SC é superior ao saldo do RS, a despeito da população gaúcha superar a população catarinense em quase 50%; 2) este resultado é fruto tanto da maior morbidade no RS (em média, 0,79% da população total ao ano) em relação a SC (média de 0,61% ao ano) quanto da taxa de natalidade inferior do RS (1,15% a.a.) com relação a SC (1,37% a.a.).

Que motivos podem ser aventados para tamanha diferença nas taxas de natalidade, mortalidade e crescimento vegetativo? Será que a estrutura etária é capaz de explicar o fenômeno? Para responder à questão apresentamos, no Quadro 2, abaixo, os dados do número de habitantes no Brasil, SC e RS por faixa etária.

Tal como se pode observar, SC e RS apresentam uma percentagem menor que o Brasil de crianças e adolescentes (entre 0 e 19 anos), uma percentagem maior de adultos em fase reprodutiva (entre 20 e 59 anos) e o RS apresenta uma percentagem significativamente maior de pessoas com mais de 60 anos.

 

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Porém, o ponto realmente importante é que o RS contava, em 2010, com uma população muito superior a SC em todos os grupos de idade. Se tomamos a faixa entre 20 e 59 anos como a faixa de idade reprodutiva masculina (a feminina se encerra um pouco antes), a população do RS superava a de SC em 66%. O mesmo ocorre se incluirmos os adolescentes entre 15 e 19 no grupo em fase reprodutiva: SC contava, em 2010, com 545 mil pessoas nesta faixa etária e o RS contava com 876 mil, superando SC em mais de 60%. Ora, mesmo que admitamos que a maior percentagem de idosos no RS ampliasse a taxa de morbidade, supondo uma taxa de natalidade similar nos grupos em idade reprodutiva, o saldo absoluto anual de crescimento da população deveria ser similar. Mas não foi. Apesar da população ser 60% maior, o número de óbitos no RS é mais do que o dobro de SC. E o número absoluto de nascimentos no RS supera o número de nascimentos em SC em apenas 30%. O resultado é aquele apresentado no Quadro 1: o saldo absoluto da variação populacional vegetativa (nascimentos menos óbitos) do RS correspondeu a 75% da variação populacional vegetativa de SC. A pergunta que fica é: será que jovens e adultos no RS têm menos filhos por “diferenças culturais” com SC ou por “diferenças econômicas”? … Evidentemente, a pergunta é essencialmente retórica. Afinal, o padrão de colonização dos dois Estados o extremo sul do Brasil foi muito similar e, na essência, comungam da mesma cultura. O elemento econômico parece ser preponderante neste caso. E há uma prova bastante clara desta preponderância. Vejamos abaixo.

Não dispomos de dados sistematizados sobre nascimentos e óbitos para o período anterior a 2015. Obtê-los envolveria um trabalho de pesquisa não desprezível. Mas o período disponível não é pequeno: contamos com 8 anos de informação entre 2015 e 2022. O que nos permite adotar uma proxy estatística para calcular o crescimento vegetativo da população de SC e RS entre 2010 e 2022: tomamos a média dos últimos 8 anos e multiplicamos por 12, vale dizer, pelo número de anos entre os dois Censos. Esta operação não é precisa e tende a subestimar o crescimento vegetativo da população gaúcha. Para que se entenda o ponto, basta voltar ao Quadro 1. A Covid não foi neutra, e ceifou mais vidas entre os idosos do que entre os jovens. De sorte que o RS, por ter uma percentagem maior de população idosa passou por um crescimento notável do número de óbitos durante a pandemia, que levou a um saldo vegetativo de apenas 7.663 pessoas em 2021, 20% do saldo vegetativo de SC no mesmo ano.

Não obstante, a subestimação da taxa de crescimento vegetativo da população gaúcha é útil para o nosso argumento. Pois vamos tentar calcular a taxa de emigração do RS e de imigração para SC. Se o crescimento vegetativo da população gaúcha tiver sido maior do que aquela calculada pela multiplicação da média entre 2015 e 2022 (como, provavelmente, foi) seremos obrigados a reconhecer que a diáspora gaúcha foi ainda maior. O que nos levaria a concluir que os problemas de inclusão socioeconômica da população gaúcha são ainda mais graves do que nossas hipóteses simplificadoras nos levam a perceber. Sigamos, pois, em nosso raciocínio e argumentos “otimistas”.

 

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Como se pode observar no Quadro 3, quando projetamos o crescimento vegetativo médio anual de SC entre 2015 e 2022 para todo o período entre os dois últimos Censos Demográficos, concluímos que sua população teria crescido em torno de 652 mil pessoas. Mas, de fato, o crescimento populacional foi 1 milhão e 361 mil pessoas. O que nos leva a concluir que esta UF recebeu, no período, mais de 700 mil pessoas como imigrantes. Por oposição, ao extrapolarmos o crescimento vegetativo anual do RS para os 12 anos entre os Censo Demográficos, concluímos que ele deveria ter passado por um acréscimo populacional de quase 500 mil pessoas. Porém, o crescimento real, de acordo com o Censo, foi inferior a 200 mil indivíduos. O que nos leva a concluir que algo em torno de 300 mil pessoas optaram por abandonar os pagos, buscando melhores oportunidades de vida em outros rincões.

⦁ Conclusão: a quem serve cantar “sirvam nossas façanhas”?

Como comentei acima, há muitos anos que venho tentando chamar a atenção para o fato de que o Rio Grande Amado tomou o caminho errado e vem crescendo como rabo de cavalo: só para baixo. Com isto quero dizer apenas que não precisaríamos destas “revelações” do Censo 2022 para entender algo que já estava manifesto por diversos indicadores levantados anteriormente. Mas, a despeito da longa e rica tradição de produção teórica em Economia e em Planejamento deste torrão amado, na porção Oriental do Rio Uruguai, tão brasileiro quanto platense, aparentemente temos uma enorme dificuldade em reconhecer nossas dificuldades e problemas.

Ao longo do texto procurei demonstrar que a diferença abissal da dinâmica demográfica de SC e do RS não pode ser reduzida a determinações “naturais”, sejam elas de estrutura etária, sejam de formação histórica e, por extensão, de padrões culturais “herdados”. Mas, agora, ao término dessa jornada investigativa, podemos reconhecer que nossos argumentos não foram 100% honestos. Há, sim, uma diferença cultural notável entre gaúchos e nossos vizinhos sulino-nortenhos (SC e PR). O RS não é apenas um Estado de colonos europeus (como SC). Nem é um Estado que se criou no meio do caminho entre SP e o extremo sul (como o PR). O RS também é um Estado platense. Temos muito de argentinos e uruguaios. A começar pela dificuldade em reconhecer que não somos europeus, que não estamos sempre certos e que não fazemos parte do primeiro mundo.

Há uma piada sobre o Mercosul que me parece muito reveladora da personalidade gaudéria. Segunda ela, o verdadeiro mercosulino tem a “modéstia” do argentino, a “alegria e autoestima” do uruguaio, a “honestidade” do paraguaio, e a “sobriedade, elegância e confiabilidade” do brasileiro.

O gaúcho é isto tudo. O que mais chama a atenção dos nossos vizinhos ao norte é a “modéstia” argentina que carregamos no peito. E que nos faz ter certeza de que estamos sempre no passo certo independentemente do que no informe a realidade. O fato de SC, Paraná, Paraguai e o Uruguai estarem crescendo muito mais do que o RS não passa de “sorte de principiante”. Afinal, eles estão apostando no passado, na agroindústria, e nós TODOS sabemos que o futuro está na tecnologia de ponta. Pois somos muito mais cultos e espertos que os outros.

O que os nossos colegas brazucas nem sempre percebem é que também somos uruguaios. Pois somos soturnos e desesperançados. Não acreditamos em acordos, pactos e progresso. E adoramos o nosso pago. Não há nada mais lindo que o Pampa e suas coxilhas (que só nós alcançamos enxergar). E é por isso que eu gosto lá de fora porque sei que a falsidade não vigora. O gaúcho é Pampa Tech.

E, por favor, entendam que em um Estado de fronteira (especialmente de fronteira seca) contrabando não é crime. É da natureza das coisas abastecer o carro em Rivera e fazer compras em Passo de los Libres sempre que os preços estiverem melhores do outro lado. Entendemos perfeitamente nossos irmãos paraguaios. E somos solidários aos seus discursos contra a corrupção. Corrupção é visitar triplex e não comprar. Contrabando e privatização de patrimônio público a preço de banana é ação benemérita e honrada. Na dúvida, pergunte à Zero Hora. … Que não me deixa mentir sozinho.

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*Doutor em economia e professor do mestrado em desenvolvimento da Faccat (Faculdades Integradas de Taquara).

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 Editorial Cultural FM Torres RS 28 de julho 23

Os pretos no Brasil. Por eles mesmos.

 

MUNDO NEGRO - Número de brasileiros que se autodeclaram pretos atinge número recorde, mas a maioria se diz parda 

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O número de brasileiros que se autodeclaram pretos aumentou no Brasil nos últimos 10 anos. Se em 2012 eram 7,4 % da população, em 2022 eles foram 10,6% dos entrevistados, sendo o grupo racial que mais cresceu. Nunca na história do país tantas pessoas se declararam pretas. Entre os que se declaram pardos não houve variações significativas. Foram 45,3% em 2022 (45,6% em 2012). É o maior grupo racial brasileiro. 

 

 

MUDANÇA NO COMPORTAMENTO REFLETE NO CENSO

Os números do censo fazem sentido quando olhamos a História do Brasil, o último a abolir a escravatura. Foram quase 400 anos de escravidão e o reflexo disso, se traduz na cor do seu povo. 

Com a chegada da Internet no começo dos anos 2000, ao se ver e se reconhecer se tornou possível e a força da representatividade foi um fator impulsionador no número de pessoas negras aumentando nas pesquisas do censo. Para o colunista do Mundo Negro, o professor Ivair Augusto Alves dos Santos, Mestre em Ciências Políticas pela Unicamp e Doutor em Sociologia pela UnB, a potência da mídia, cultura e movimento negro, especialmente em espaços de poder, foi fundamental na influência da autodeclaração. 

“A força do movimento negro, a mídia, novelas com mais representações negras, espaços de poder com mais negros, ações afirmativas, crescimento dos números de parlamentares negras e as plataformas com conteúdo sobre negros é importante. Poderia continuar uma lista grande, mas a existência de uma figura como Vinicius Jr, não é por acaso, é fruto do trabalho de muitos ativistas”, detalha o ex-diretor do Departamento de Direitos Humanos da Secretaria de Direitos da Presidência da República.

Como a pessoa constrói essa identidade racial também é outro aspecto que deve ser considerado. “A tendência geral do censo do IBGE é que as pessoas têm um processo longo de construção da sua autodeclaração. São pessoas que vivem em espaços que não prevalecem os mecanismos identitários não negros. Estão em comunidades onde é mais comum a presença negra e em função deste circuito de vulnerabilidade criado pelo racismo no Brasil, são pessoas deste circuito que vão criando mecanismos de solidariedade, que vão tendo relações familiares dentro deste núcleo e com o passar do tempo vão construindo uma identidade”, comenta o professor e vice-diretor da Unesp, Juarez Xavier. 

AUTODECLARAÇÃO E HETEROIDENTIFICAÇÃO 

A ditatura removeu dados sobre questões raciais do censo e quando este tema retorna a coleta de dados do IBGE, a atuação do movimento negro é fundamental para o surgimento da autodeclaração. 

“A autodeclaração se constituiu, sendo parte de um grande processo de debate, de discussão que consumiu parte do final dos anos 70, 80 e a partir dos anos 90, porque a ditadura civil militar tirou os dados relativos à questão racial do censo”, explica o professor Juarez. Ele detalha que quando raça e cor voltam a ser discutidos, mais de 100 denominações surgiram para identificar a cor das pessoas não brancas.

“Foi necessário então se criar um mecanismo, muito bom, pautado na autodeclaração e optou-se em trabalhar com os conceitos étnico-raciais. Por exemplo: preto, pardo, branco e amarelo são questões étnicas, e indígenas questões raciais. Isso foi definido depois de várias testagens feitas pela equipe do IBGE”, detalha o acadêmico que destaca a insistência do Movimento Negro para implementação deste método.

Sobre a heteroidentificação, há uma mudança no que se entendia anteriormente como pardo, que basicamente era toda pessoa que não se identificava nem branca e nem preta, como amarelos, cafuzos e mamelucos. “Começou-se a partir de 2012 a evitar este tipo de conceito, passou-se a considerar, para efeitos de políticas públicas de heteroidentificação, que pardo são as pessoas que têm ascendência negra”. A fenotipia das pessoas negras (cabelo, traços e tom de pele) é um dos critérios usados ao se cruzar dados para decidir se uma pessoa é considerada de ascendência negra e portanto, candidata a usufruir de ações afirmativas. 

O professor ainda explica que a declaração do censo do IBGE tem um grande fator espontaneidade porque quem responde, não usufrui de nenhum benefício imediato, porém, não é possível saber, se quem se declarou pardo, realmente é uma pessoa de ascendência africana, sem se fazer uma “mineração desses dados”. Já na heteroidentificação, por haver um caráter de interesse, há uma tendência maior da autodeclaração ser duvidosa, e aí os fatores da heteroidentificação são o que determina quem realmente merece entrar, por exemplo, em uma universidade pelo sistema de cotas. 

 

Total de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas cresce no Brasil, diz IBGE - g1.globo.com/jornal-nacional/noticia     

 

A pesquisa de domicílios do IBGE mostra que em dez anos aumentou 32% o número de brasileiros que se declaram pretos e 11% os que se declaram pardos, nomenclatura usada pelo Censo IBGE.

 

A historiadora e guia de turismo, Luana de Oliveira Ferreira, que hoje se considera negra, lembra que durante a adolescência se enxergava como uma pessoa branca.

“Investimento em política pública, ações afirmativas - tanto a questão da reparação, educação, levar isso para sala de aula - foi a base da mudança”, afirma.

 

Pelos números atualizados, pretos e pardos representam, agora, 56% da população. Já o percentual de pessoas que se declaram brancas caiu para 43%.

“Eu tenho ouvido falas de pessoas assim: 'eu descobri que eu era preto'. O que eu acho muito engraçado. Aí eu pergunto: 'como é que foi isso?'. E a pessoa me diz assim: 'eu cresci ouvindo que eu era moreninho, que eu não era preto, porque ser preto era ser feio e, hoje em dia, eu me sinto acolhido. Eu sinto que o meu cabelo é legal, que eu sou aceito'. E a pessoa passa a se autodeclarar preto ou parda. Ela se assume”, conta Dirlene Silva, economista e especialista em diversidade

 

FORUM 21 – O portal das esquerdas – SP - https://forum21br.com.br/ 

 

Brasil contabiliza pela primeira vez sua população quilombola: 1,32 milhão de pessoas - 27/07/2023 Tatiana Carlotti - Brasil-contabiliza-pela-primeira-vez-a-sua-populacao-quilombola-13-milhoes-de-pessoas 

 

Os dados são do Censo Brasileiro de 2022 do IBGE e foram divulgados nesta quinta-feira (27/07). Os quilombolas, membros de comunidades afro-brasileiras, fundadas por africanos vítimas da escravização no Brasil, estão em 1.696 municípios brasileiros, a maioria (68,2%) no Nordeste, confira a reportagem no britânico The Guardian. (Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil)


 Editorial Cultural FM Torres RS 27 de julho 23

Para que serve a Política?

Se v. está, nestes tempos de grande polaridade sobre a vida pública no Brasil, em dúvida sobre o que a Política e para que servem os Políticos, vai espiar o Google e encontra essa definição:

O que é a definição de política?

Numa conceituação moderna, política é a ciência moral normativa do governo da sociedade civil; Outros a definem como conhecimento ou estudo "das relações de regularidade e concordância dos fatos com os motivos que inspiram as lutas em torno do poder do Estado e entre os Estados".

 

Esta definição não ajuda muito. Muito abstrata. Daí pronunciamentos recorrentes que emergem nas telas de televisão e mesmo nas Redes, na qual, indignados alguns perguntam:

-Para que servem, afinal, os políticos? O que fazem, sempre carregados de privilégios = ganham bem, têm assessores, etc. etc.? 

 

Voltemos, então, à definição acima, cujas origens estão nos primeiros filósofos na Antiga Grécia, nascedouro das Sociedades Políticas. Platão e Aristóteles, discípulos de Sócrates, se debruçaram sobre o assunto. Platão em seu livro A REPÚBLICA, no qual percorre uma longa discussão sobre o caráter da Justiça entre os homens e como alcançá-la. Acaba propondo uma solução “técnica”: Só os filósofos podem administrar a Justiça porque não teriam interesses. Está na base de muitos que creem que, em lugar de Políticos, o Estado fosse gerenciado por técnicos. Um exemplo bem concreto desta inspiração é a que levou à autonomia do Banco Central. Há uma corrente de pensamento que acredito que é possível uma VERDADE no campo da Economia e que técnicos são melhores gerentes do que políticos. Aristóteles em sua POLITICA foi mais para a ideia de bem estar. “Na filosofia aristotélica a Política é a ciência que tem por objetivo a felicidade humana e divide-se em ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na pólis) e na política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade coletiva da pólis). Esta concepção orientou os Pais da Pátria nos Estados Unidos que inscreveram a busca da felicidade na Constituição daquele país. Entre Platão e Aristóteles reside, talvez, uma controvérsia que chega aos nossos dias:

- É possível existir um fazer político que se restrinja à Técnica ou ele sempre está condicionado moralmente aos valores? Os primeiros advogam a possibilidade de uma CIENCIA POLÍTICA, desenvolvida, sobretudo nos Estados Unidos e que foi muito responsável pelo estudo das Instituições e pelo aprimoramento dos processos de Pesquisa de Opinião. Tem um viés conservador. Outros, porém, acreditam a Política implica em VALORES e que estes são particulares e irredutíveis à razão, embora sujeitos, sim, às mudanças no tempo e no espaço, em articulação com a Cultura dos Povos. 

Com isso voltamos à pergunta: Para que servem a Política e os políticos?

Não há aí resposta unânime, pois os valores tanto dividiam Platão e Aristóteles, como dividem os homens em qualquer lugar do mundo. Uns sonham com uma Cidade Tecnificada, à luz de recomendações da razão soberana. Culminam na convicção que ficou conhecida como FIM DA HISTÓRIA, na qual se nega a competitividade de valores. Outros, mais morais, partem desta competividade para a moldagem do Estado. É mais democrática e progressista. Há, portanto, uma correlação entre VALORES, FILOSOFIA DA HISTÓRIA, NATUREZA DO ESTADO. Para os primeiros, os Políticos deveriam dar lugar aos Administradores; para os segundos, a Administração deve repousar sobre a Política. Claro que aqui, neste caso, espera=se que a Política e o controle do Estado saiam das mãos de iluminados pelo sangue azul ou pelo saber supremo e se desloque para qualquer membro da Sociedade Civil. Esta é a ideia básica da criação da República, aberta pela Revolução Francesa em 1789 e que é reverberada cotidianamente pelo Presidente Lula quando diz que é ele, como Presidente, que precisa dos Deputados e não o contrário. Evidente que há subjacente à esta ideia republicana que os candidatos à Política devam obedecer a certos regramentos, como registro num Partido, Ficha Limpa, Reconhecimento Social etc. e que moldam, em última análise o Sistema Político de um país. Nesta concepção, a Política é uma arte nobre voltada à gestão dos interesses públicos e seus titulares, cidadão aptos ao exercício da mesma pelo recurso ao voto, direto, secreto e universal. A eles, enfim, cabe a função de articular interesses nem sempre convergentes com vistas à criação de um mínimo de consenso sobre os rumos da Sociedade Democrática, na gestão do Estado como uma espécie de Caixa de Ferramentas voltadas à produção de Políticas Públicas. Estas, em última análise, legitimarão ou não suas ações e condutas que serão julgadas no rodízio eleitoral. Este o papel, portanto, da Política: impedir que a “guerra de todos contra todos”, fundada apenas no interesse individual, não raro animado pelo ódio ao Outro, acabe levando ao caos social/. Um desafio. 

 

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 Editorial Cultural FM Torres RS 26 de julho 23

Rumo aos 200 anos da Imigração Alemã no RS em 2024

Iniciaram, ontem, em Porto Alegre e São Leopoldo os preparativos para a celebração dos 200 anos da chegada dos primeiros colonos alemães no RS. Eles chegaram em Lomba Grande, São Leopoldo, no dia 24 de julho de 1824, passando dias antes pelo Porto de Porto Alegre. Produziram uma tal mudança na região do Vale dos Sinos que já em 1872 era inaugurada uma ferrovia ligando a Colônia, produtora de alimentos, à Capital. Com isso, Porto Alegre começa a receber um número crescente de descendentes alemães, os quais contribuem para a mudança da fisionomia e cultura na cidade, hoje considerada a mais europeia cidade brasileira. Em 1826 alguns destes imigrantes se deslocam para o Torres e darão origem a dois municípios: Três Forquilhas e Dom Pedro de Alcântara. 

Um balanço deste processo foi feito em 2014 e publicado em A FOLHA. Segue abaixo:

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Dia 25, 190 anos da imigração alemã.

                   Paulo Timm – A Folha - Torres julho 25-2014 

Perdoem os leitores, mas há temas sobre os quais volto sempre. Um deles, um imperativo para mim: a imigração alemã - http://www.tonijochem.com.br/bibl_livros.htm 

Há 190 anos, 39 colonos alemães chegavam, exangues, depois de penosa viagem transatlântica na qual muitos não resistiam, à Feitoria do Linho Cânhamo, onde hoje é São Leopoldo. Antes, Dom João VI já vinha estimulando a vinda de colonos europeus que viriam a se localizar entre a Bahia e Rio de Janeiro. Mas em 1824, teve início a aventura da imigração teuta no Sul do Brasil. Pela importância do fato, o dia 25 de julho ficou consagrado como “Dia do Colono”, (Lei Nº 5.496, 05/09/1968). Contudo, o maior significado da data não está no fato em si da chegada de colonos livres em solo brasileiro, mas de que este seria um marco do fim da escravidão no Brasil. Contribuiria, também, sobremaneira para a personalização mui peculiar da sociedade riograndense, marcada pela pequena propriedade familiar, pelo artesanato que viria a dar origem à indústria doméstica, pelo estímulo às letras e à música, como frisa Angelita Kasper em sua pesquisa http://angelitakasper.blogspot.com/ .

 Depois desta leva de alemães para o Rio Grande do Sul, que logo se alastrou de São Leopoldo para Torres (S. Pedro de Alcântara e Três Forquilhas-1826) e daí para outras cidades e países, mais de 50 milhões de europeus pobres seriam expatriados, entre 1824 e 1924. Isto está contado em várias épicos da literatura e do cinema, merecendo destaque o já quase esquecido “América, América”, do diretor Elia Kazan e o magnífico nacional “ O Quatrilho”, de Fábio Barreto, uma saga dos italianos aqui no Estado. No Brasil, tivemos a oportunidade de perceber este processo graças a algumas novelas e séries, algumas memoráveis, da Rede Globo, tanto sobre a imigração italiana, como japonesa. Falta-nos, ainda, uma grande obra de ficção, de alcance nacional, sobre os alemães. Merece destaque o romance de Rui Nedel “Te arranca alemão batata”, Ed. Tchê, e “A ferro e fogo: tempo de solidão” e “A ferro e fogo: tempo de guerra”, de Josué Guimarães L&PM Editora, POA - - http://www.reitoria.uri.br/~vivencias/Numero_010/artigos/artigos_vivencias_10/li1.htm  

Os nomes destes primeiros colonos alemães ficaram registrados nos Livros da época e permanecerão inscritos na memória de seus descendentes, hoje plenamente integrados na sociedade rio-grandense:

“A primeira leva de imigrantes era formada pelas seguintes pessoas, num total de 39: Miguel Kräme e esposa Margarida (católicos). João Frederico Höpper, esposa Anna Margarida, filhos Anna Maria, Christóvão, João Ludovico (evangélicos). Paulo Hammel, esposa Maria Teresa, filhos Carlos e Antônio (católicos). João Henrique Otto Pfingsten, esposa Catarina, filhos Carolina, Dorothea, Frederico, Catarina, Maria (evangélicos). João Christiano Rust (Bust?), esposa Joana Margarida, filha Joana e Luiza (evangélicos). Henrique Timm, esposa Margarida Ana, filhos João Henrique, Ana Catarina, Catarina Margarida, Jorge e Jacob (evangélicos). Augusto Timm, esposa Catarina, filhos Christóvão e João (evangélicos). Gaspar Henrique Bentzen, cuja esposa morreu na viagem, um parente, Frederico Gross; o filho João Henrique (evangélicos). João Henrique Jaacks, esposa Catarina, filhos João Henrique e João Joaquim (evangélicos). Essas 39 pessoas, seis católicos e 33 evangélicos, são as fundadoras de São Leopoldo, nome e lugar então inexistentes, porque tudo se resumia à Feitoria do Linho-Cânhamo. ”

           (Telmo Lauro Müller- UM MARCO NA HISTÓRIA GAÚCHA)

Eu tenho a honra de ser o sexto na descendência de Heinrich Timm. 

Este pequeno grupo, ao qual se seguiram outros, para outras partes do mundo, drenando a região alemã de cerca de 250 mil homens, venceu os obstáculos e se impôs como uma nova realidade no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A Alemanha de Hitler até sonhou em fazer destes núcleos um ponto de apoio do III Reich, o que levou o Presidente Getúlio Vargas, em1939, a proibir o funcionamento das Escolas alemãs e circulação de jornais entre os colonos. Finda a guerra, porém, restabeleceu-se a concórdia, mas se perdeu o fio da meada de um rico patrimônio literário teuto-brasileiro, só acessível em raros trabalhos acadêmicos como “A Literatura da imigração alemã e a imagem do Brasil” da Prof. Dra. Valburga Huber – F. Letras/UFRJ- http://www.letras.ufrj.br/liedh/media/docs/art_valb2.pdf .

Mas foi de tal ordem o impacto da imigração alemã, seguida mais tarde da vinda de italianos, poloneses e outros que se pode dizer que a história do Rio Grande do se divide em dois períodos: antes e depois de 1824, marco da imigração. Aleluia!

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Lula fala em fechar Clubes de Tiro 

 

Campos Neto vira alvo de investigação do TCU após falar sobre terceirização no Banco Central

Sousa - Atualizado em 24 de julho de 2023 às 22:37

 

PETIÇÃO PARA RETIRAR CAMPOS NETO DA PRES. DO BANCO CENTRAL: https://chng.it/v6RbgzzX 

 

O Tribunal de Contas da União (TCU) iniciou uma investigação contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em resposta a declarações recentes feitas por ele sobre a possibilidade de terceirizar a gestão de ativos da instituição financeira. O subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado solicitou a abertura da investigação, argumentando que essa pretensão de Campos Neto representa um risco para a capacidade do país em honrar seus compromissos financeiros.

Segundo o UOL, Furtado destacou que é necessário “apurar os indícios de irregularidades noticiados a despeito do interesse do atual presidente do Banco Central em terceirizar a gestão de ativos do BC, especialmente com relação à administração das reservas internacionais do Brasil”.

Ele enfatizou ainda que a gestão dessas reservas é uma “atividade tipicamente estatal”, o que impede a interferência do setor privado nessa área e coloca em risco a “soberania” do país

“Diante de todos os riscos, no meu entender, é inadmissível terceirizar a gestão de ativos do BC, especialmente com relação à administração das reservas internacionais do Brasil. A referida possibilidade reclama, pois, a obrigatória e pronta atuação do TCU, de forma a se determinar a detida e minuciosa apuração dos fatos”.

As reservas internacionais funcionam como uma poupança para o Brasil, utilizada em momentos de crise financeira. Atualmente, essas reservas somam US$ 345,8 bilhões, conforme informado pelo Banco Central.

O ministro Benjamin Zymler foi designado para relatar o caso no TCU. Até o momento, o Banco Central optou por não se manifestar sobre o assunto

As declarações de Campos Neto que motivaram a investigação foram feitas durante uma entrevista concedida ao canal Black Rock Brasil, na última quinta-feira (20). O presidente do Banco Central afirmou que ele está aberto “a essa terceirização, vamos dizer assim, à gestão externa. A gente teve um programa grande de gestão terceirizada. Hoje, grande parte da gestão é terceirizada, mas a gente está aberta a fazer a gestão terceirizada porque a gente está olhando novas classes de ativos”.

A investigação conduzida pelo TCU visa esclarecer as questões levantadas pelas declarações do presidente do Banco Central e determinar se há alguma irregularidade ou risco associado à terceirização da gestão de ativos da instituição financeira.

 

Imoralidade, Negócios obscuros e ligações indecorosas na privatização da CORSAN exigem apuração! #CPIdaCORSAN Já! https://luizmuller.com/2023/07/24/imoralidade-negocios-obscuros-e-ligacoes-indecorosas-na-privatizacao-da-corsan-exigem-apuracao-cpidacorsan-ja/

Negócios obscuros e ligações indecorosas na privatização da CORSAN, "Estudos econômico-financeiros do SINDIÁGUA/RS mostram que o real valor de mercado da CORSAN estaria na casa dos oito bilhões de reais", diz Miola - 24 de julho de 2023, 11:16 h - A pedido do governo Eduardo Leite/PSDB-MDB, a privatização da CORSAN foi protegida por sigilo no Tribunal de Contas do Estado/TCE. Existem denúncias graves, que precisam ser apuradas. Afinal, a discrepância acerca do valor de venda atinge a cifra de bilhões de reais.

O sigilo, no entanto, retira a transparência pública essencial para o escrutínio do processo e para a apuração das irregularidades denunciadas que, se confirmadas, representam importante lesão ao interesse público. A falta de transparência legitima, portanto, as suspeitas sobre o negócio.

Entregue à empresa AEGEA por R$ 4,1 bilhões, a Companhia foi subavaliada em mais de um bilhão de reais na privatização, conforme manifestação da conselheira do TCE Ana Moraes na sessão de 20 de julho.

Estudos econômico-financeiros do SINDIÁGUA/RS mostram que o real valor de mercado da CORSAN estaria na casa dos oito bilhões de reais.

Além das irregularidades e ilegalidades apontadas pelo TCE, que inclusive motivaram a conselheira Ana Moraes a recomendar a investigação da privatização da CORSAN pela Polícia Civil, o processo também traz à tona as teias de influência e as relações promíscuas e indecorosas de funcionários públicos com agentes e grupos privados. AEGEA detinha informações privilegiadas a AEGEA atua na CORSAN desde 2012, e atuou na modelagem de Parcerias Público-privadas na Região Metropolitana de Porto Alegre, aspecto chave na formação do valor de mercado da empresa.

Durante o primeiro governo Leite [2019/2022], a AEGEA ainda se associou à CORSAN nas PPP’s e assumiu o controle do setor comercial da Companhia.

De acordo com a Resolução 44 da Comissão de Valores Mobiliários, a AEGEA sequer poderia ter participado da licitação para a compra da CORSAN. Curiosamente, no entanto, foi o único consórcio participante do certame.

A Resolução da CMV diz que “É vedada a utilização de informação relevante ainda não divulgada, por qualquer pessoa que a ela tenha tido acesso, com a finalidade de auferir vantagem, para si ou para outrem, mediante negociação de valores mobiliários”.

Com base neste dispositivo legal, no seu parecer de 2 de maio de 2023 o procurador do Ministério Público de Contas junto ao TCE, Geraldo da Camino, destacou esta ilegalidade concernente à AEGEA, pois a empresa detinha informações privilegiadas que automaticamente inabilitariam sua participação na “negociação de valores mobiliários”.

Consultoria trabalhou ao mesmo tempo para a CORSAN e para a AEGEA. As consultorias privadas têm um capítulo próprio no esquema nebuloso de privatização da CORSAN. Foram contratadas sem licitação e por valores exorbitantes, mesmo o governo podendo contar com o trabalho de servidores qualificados do próprio Estado para arbitrar, com confiabilidade e observância ao interesse público, o valor correto da CORSAN.A bancada do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa gaúcha apurou que apesar disso, no entanto, o governo Eduardo Leite pagou pelo menos R$ 40,8 milhões a 16 consultorias privadas.

Dentre as contratadas constam o Banco Genial, que subestimou o valor da Companhia em R$ 1 bilhão de reais, e recebeu R$ 5,6 milhões; a PricewaterhouseCoopers, que embolsou R$ 5,4 milhões; e outras mais, dentre elas a Alvarez & Marsal Consultoria, agraciada com R$ 10,3 milhões.

O caso da Alvarez & Marsal [A&M], empresa na qual o ex-juiz suspeito e ainda senador Sérgio Moro trabalhou, é emblemático da promiscuidade obscena e ilegal na relação entre o público e o privado.

Contratada pela CORSAN desde 19/9/2020 para a modelagem da privatização, a partir de julho de 2021 a A&M passou a prestar serviço, simultaneamente, também à AEGEA, que arrematou a Companhia em dezembro de 2022.

Ainda conforme apurado pela bancada do PT na ALERGS, tem outro caso escabroso, de Rafael Bicca Machado, sócio fundador da consultoria Carvalho, Machado e Timm Advogados, que recebeu R$ 5,3 milhões, e é irmão de André Bicca Machado, Diretor da AEGEA Saneamento.

Porta giratória: ex-procurador-geral do MP virou Diretor da AEGEA, em 7 de dezembro de 2022 o ex-procurador-geral do Ministério Público Estadual Fabiano Dallazen anunciou sua exoneração do MP, quando inclusive disputava a indicação a desembargador do Tribunal de Justiça do RS pelo quinto constitucional, a renda milionária que parasita nas privatizações do patrimônio público.

Numa rapidíssima passagem pela porta giratória, Dallazen pulou para o balcão da AEGEA menos de duas semanas depois de anunciar a exoneração do MP. Sem cumprir qualquer quarentena.

Em 20 de dezembro de 2022, dia do leilão em que seu novo empregador arrematou a CORSAN com um ágio ínfimo de 1,15%, Dallazen já figurava nos quadros da AEGEA.

Em artigo no Estadão de 21/12/2022 o Oficial do MP/RS Rodrigo dos Reis destaca que “a situação em si chama bastante atenção, já que o Ministério Público é a instituição responsável por fiscalizar os Planos Municipais de Saneamento Básico e os respectivos contratos dos 497 municípios do Rio Grande do Sul”. Apesar disso, escreve Reis, o MP “não foi autor de nenhuma medida judicial e tampouco instaurou procedimento investigatório para apurar eventual irregularidade no processo de venda do patrimônio público”.

Para Arilson Wünsch, presidente do SINDIÁGUA, o fato de Dallazen assumir como dirigente da AEGEA deixa “mais evidente porque todas as ações encaminhadas ao MP/RS para impedir a venda da Corsan foram arquivadas”. Wünsch recorda que o MP teve uma postura institucional estranhamente “diferente dos procedimentos de outros órgãos públicos, como o Ministério Público de Contas do Estado, o TCE, o TJ/RS e o TRT, que emitiram posicionamentos liminares que exigem a garantia da legalidade e transparência nesse processo”.

Irmão gêmeo do presidente do TCE é Diretor do BANRISULO presidente do TCE, o ex-deputado emedebista Alexandre Postal/MDB, foi decisivo para a consolidação da privatização da CORSAN, como desejava o governo Leite.

No dia 7 de julho passado, em decisão considerada ilegal e antirregimental por alguns dos seus pares e pelo procurador do Ministério Público de Contas junto ao TCE, Postal derrubou monocraticamente a medida cautelar que impedia o governo do Estado assinar contrato com a AEGEA enquanto as supostas ilegalidades e irregularidades do processo não fossem julgadas pelo Tribunal. Após tal decisão do presidente do TCE, o governador Leite finalmente pôde assinar o contrato que sacramentou a entrega da CORSAN para o Grupo AEGEA.

Escuta-se nos corredores da ALERGS que a contestada decisão de Postal tenha a ver com o fato do seu irmão gêmeo Fernando Postal ser Diretor Comercial de Distribuição e Varejo do BANRISUL, instituição controlada pelo governo do Estado, que tem um emedebista como vice-governador. A privatização da CORSAN, do mesmo modo como se observa em praticamente em todos processos que envolvem a apropriação privada do patrimônio público, está envolta em suspeitas, interesses cruzados e lógicas que ferem os princípios legais, éticos e republicanos e lesam o interesse público.

 

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 Editorial Cultural FM Torres RS 25 de julho 23

O Brasil perde duas estrelas 

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Despedida no Theatro Municipal = 

Leny Andrade e Dóris Monteiro serão veladas juntas no Rio

SAMBALANÇO - Mocinho Bonito por Doris Monteiro - ASSISTA AQUI => 

TALENTOS MUSICAIS – Leni Andrade – Câmara Deputados

SAIBA MAIS 

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Se o dia de ontem nos trouxe a esperança de chegarmos, enfim, depois de cinco anos, ao mandante do crime de Marielle e Anderson, nos deu também a nota trágica da perda de duas de suas maiores intérpretes da música brasileira: Leny Andrade e Doris Monteiro. Já estão brilhando no firmamento. Os últimos tempos têm sido pesados com o mundo artístico. Levou-nos a incomparável Gal Costa em novembro do ano passado, a Rainha do Rock, Rita Lee no mês passado e neste mês o indefectível Jose Celso Martinez e João Donato, mestre dos mestres. Rios de lágrimas...

A sofisticada Leni Andrade, carioca, foi um fenômeno da interpretação feminina, tendo começado com o samba, encantou a tal ponto os Estados Unidos com sua genial e longa capacidade vocal, que se tornou uma das principais cantoras de jazz. Consta que Tony Bennet e Frank Sinatra compareciam a seus shows. Ela trouxe para a música brasileira o scatting e o vocalize do jazz americano, inspirados nas divas Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, porém com um toque muito brasileiro

Doris Monteiro foi mais paroquial, também carioca mas de origem humilde e moradora de Copacabana, deu à bossa nova um swing indispensável às pistas de dança, identificado como sambalanço, com músicas que se consagraram no tempo, como Mocinho Bonito. Ela também, muito bonita, figurou, em vários filmes. 

O Brasil das artes e da cultura, porém, está voltando com a retomada da normalidade institucional do país. Além das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, em implantação, novos horizontes emergem com a recriação do Ministério da Cultura no país. Momentos como o que estamos atravessando, de tensão entre o avanço na modernidade e o retrocesso exigem das artes e da cultura em geral um grande esforço pela sua capacidade de comunicação com o grande público. Lembremo-nos dos anos 50 da importância da revolução cultural daquele tempocomo emulação dos Anos Dourados: Cinema Novo, Bossa Nova, João Cabral de Mello Neto, Guimarães Rosa. Não foi menor a importância da música e do teatro como resistência nos anos sombrios da ditadura militar. Agora, com a saudade dos que se foram, abre-se uma nova era de renovações em todos os campos. Que venham e apareçam os talentos, únicos capazes de sufocar com cantos libertários a onda reacionária dos que pretendem com seus odiosos preconceitos que o sol não se levante para todos e que tudo se renove permanentemente. Pois o mundo gira, a Luzitana roda e tudo “dimuda”...

Adeus Leny e Doris!


Editorial Cultural FM Torres RS 24 de julho 23

Os descaminhos da Inteligência Artificial

O mundo está dividido entre deslumbrados e preocupados com a Inteligência Artificial. E não é apenas pelo seu impacto no emprego de várias profissões. A substituição de mão de obra por máquinas, mecânicas ou eletrônicas, é uma característica essencial do regime econômico advindo com a Revolução Industrial. Agora a questão é mais conceitual na qual despontam dois pontos à discussão, ambos interligados: eficiência e ética. 

A eficiência se refere ao aumento da produtividade trazida pela inovação tecnológica. Robôs aumentaram incrivelmente a produtividade em todos os setores da Indústria, deixando às humanas tarefas de gestão e tomada de decisões. Será que a IA, que se refere a processos, também substituirá os trabalhadores nas tarefas de gestão? As respostas ainda são incertas porque, no entender de Chomsky ““Por mais úteis que esses programas possam ser em alguns campos específicos (como a programação de computadores, por exemplo, ou para sugerir rimas para versos rápidos), sabemos pela ciência da língua e a filosofia do conhecimento que diferem profundamente do modo como os seres humanos raciocinam e utilizam a linguagem”, alertaram. “Essas diferenças impõem limitações significativas ao que podem fazer, codificando-os com falhas inerradicáveis

A outra questão é ética. A Filosofia, como mãe das ciências inaugurou-se na Antiga Grécia como um grande esforço para substituir a afirmação dos sofistas de EM TUDO NO MUNDO HÁ O JUSTO E O INJUSTO E AMBOS SÃO IGUALMENTE JUSTIFICÁVEIS Á LUZ DA CAPACIDADE DE ARGUMENTAR por uma revelação da VERDADE através da procura de suas causas. Não há jamais consequência sem causa. E os Pais da Filosofia, Sócrates, Platão e Aristóteles, dos quais derivaram inúmeras escolas, dividiram a Filosofia em três grandes campos: LOGOS, ÉTICA E ESTÉTICA. Até divergiram sobre eles, mas os sistematizaram de forma a dar CONTA E RAZÃO de questões fundamentais de seu tempo. A Ética, que é a codificação disciplinar da moral, define as regras da convivência humana, sem as quais beiramos a barbárie. Teve longo e histórico desenvolvimento que culminou no Renascimento com a conquista do conceito de DIGNIDADE HUMANA por Picco dela Mirandola, que acabou culminando na DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM na Revolução Francesa e depois na DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS pela ONU, na sua criação depois da II GUERRA. Hoje tudo isso gira em torno da Doutrina de Direitos Humanos, um conjunto concêntrico de Direitos Civis, Políticos, Sociais e Ambientais. Ora, a Inteligência Artificial não tem nenhuma capacidade de julgamento moral. Apenas expõe soluções sem atentar para consequências morais de suas conclusões. No limite, é a realização suprema da ORDEM TECNOCRÁTICA, tão ao gosto do fascismo. 

Dois autores consagrados Miguel Nicollelis e Noam Chomsky tratam destas questões. Fundamental conhecer o que dizem:

 

MIGUEL NICOLLELIS E A INTELIGENCIA ARTIFICIAL

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O que CHOMSKY pensa sobre I.A.

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O renomado linguista e filósofo Noam Chomsky escreveu um artigo sobre o assunto no New York Times. Com o apoio de seu colega Ian Roberts e do especialista em IA, Jeffrey Watumull, decifrou as chaves dessa questão.

Noam Chomsky: sua alarmante visão sobre a inteligência artificial do ChatGPT

Para o intelectual e seus colaboradores, os avanços “supostamente revolucionários” apresentados pelos desenvolvedores da IA são motivo “tanto para otimismo como para preocupação”.

No primeiro caso, porque podem ser úteis para resolver certas problemáticas, ao passo que no segundo “tememos que a variedade mais popular e em voga da inteligência artificial (aprendizado automático) degrade nossa ciência e deprecie nossa ética ao incorporar à tecnologia uma concepção fundamentalmente errônea da linguagem e o conhecimento”.

Embora tenham reconhecido que são eficazes na tarefa de armazenar imensas quantidades de informação, que não necessariamente são verídicas, não possuem uma “inteligência” como a das pessoas.

“Por mais úteis que esses programas possam ser em alguns campos específicos (como a programação de computadores, por exemplo, ou para sugerir rimas para versos rápidos), sabemos pela ciência da língua e a filosofia do conhecimento que diferem profundamente do modo como os seres humanos raciocinam e utilizam a linguagem”, alertaram. “Essas diferenças impõem limitações significativas ao que podem fazer, codificando-os com falhas inerradicáveis”.

Nesse sentido, detalharam que, diferentemente de mecanismos de aplicativos como o ChatGPT, que operam com base na coleta de inúmeros dados, a mente humana pode funcionar com pequenas quantidades de informação, por meio das quais “não busca inferir correlações abruptas entre pontos (...), mas, sim, criar explicações”.

A “capacidade crítica” dos programas que funcionam com IA

Para sustentar essa premissa, exemplificaram com o caso das crianças quando estão aprendendo um idioma, cenário em que a partir do pouco conhecimento que possuem conseguem estabelecer relações e parâmetros lógicos entre as palavras e orações.

“Essa gramática pode ser entendida como uma expressão do sistema operacional inato geneticamente instalado, que dota os seres humanos da capacidade de gerar frases complexas e longas cadeias de pensamento”, disseram, para depois acrescentarem que “é completamente diferente ao de um programa de aprendizado automático”.

Nessa linha, manifestam que esses aplicativos não são realmente “inteligentes”, pois carecem de capacidade crítica. Embora possam descrever e prever “o que é”, “o que foi” e “o que será”, não são capazes de explicar “o que não é” e “o que não poderia ser”.

“Suponhamos que você tenha uma maçã em sua mão. Então, você a solta, observa o resultado e diz: “A maçã cai”. Isso é uma descrição. Uma previsão poderia ser a afirmação: “cairá se eu abrir minha mão”. As duas afirmações são valiosas e podem estar corretas. Contudo, uma explicação significa algo a mais, inclui não apenas descrições e previsões, mas também conjecturas contrafactuais como “qualquer objeto deste tipo cairia”, mais a cláusula adicional: “devido à força da gravidade” ou “devido à curvatura do espaço-tempo”.

Desta maneira, acrescentaram que “isto é uma explicação causal: a maçã não teria caído, se não fosse pela força da gravidade (...) isso é pensar”.

E ainda que as pessoas também podem cometer erros de raciocínio, enfatizaram que errar faz parte do pensamento, pois “para ter razão, deve ser possível se equivocar”.

“O ChatGPT e programas semelhantes são, por projeto, ilimitados no que podem 'aprender' (ou seja, memorizar). São incapazes de distinguir o possível do impossível. Ao contrário dos humanos, por exemplo, que são dotados de uma gramática universal que limita os idiomas que podemos aprender àqueles com um certo tipo de elegância quase matemática, esses programas aprendem idiomas humanamente possíveis e humanamente impossíveis com a mesma facilidade”.

A perspectiva moral da inteligência artificial

Outro fator que Chomsky, Roberts e Watumull consideraram em sua análise é que os sistemas de IA carecem de ponderação na perspectiva moral, portanto, são incapazes de distinguir sob marcos éticos o que se deve ou não fazer.

Para eles, é fundamental que os resultados do ChatGPT sejam “aceitáveis para a maioria dos usuários” e que se mantenham “distantes de conteúdos moralmente censuráveis” (como as declarações de “atos destrutivos” do chatbot do Bing).

E embora os desenvolvedores dessas tecnologias tenham acrescentado restrições para que seus programas não reproduzam determinadas afirmações, os estudiosos ressaltaram que até o momento não foi possível alcançar um equilíbrio efetivo. Em suas palavras, sacrificam a criatividade por “uma espécie de amoralidade” que faz com que se distanciem ainda mais das capacidades dos seres humanos.

“Em síntese, o ChatGPT e seus irmãos são constitutivamente incapazes de equilibrar a criatividade com a restrição. Ou extrapolam (produzindo tanto verdades quanto falsidades, apoiando tanto decisões éticas quanto antiéticas) ou, então, simplificam (mostrando falta de compromisso com qualquer decisão e indiferença com as consequências) ”, sentenciaram.

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 Editorial Cultural FM Torres RS 21 de julho 23

Brasil, a tristeza da violência: 47 mil assassinatos em 2022, fora as mortes no trânsito, outro tanto

 

 

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou, ontem, os dados da violência no Brasil: 47 mil mortos, perto de 75 mil estupros, explosão de fraudes eletrônicas, mas indica que os assassinatos estão caindo, embora a ritmo menos, pois foram já 64 mil em 2007. Os números falam por si mesmo. Um horror! Se somar às mortes violentas as vítimas fatais no trânsito, até maiores, chegamos à conclusão que é como se estivéssemos em guerra. Aqui, a eterna pergunta de um milhão de dólares: Por que tanta violência? Afinal não somos um povo pacífico, amante da paz, alegre, gentil e que adora festas populares. Até certo ponto. Esses talvez sejam estereótipos que não coincidem com a realidade.

No começo do século passado, um dos grandes intérpretes do Brasil, Paulo Prado, filho de uma pródiga família paulista escreveu um livro que já dizia o contrário: “Retrato do Brasil” / Ensaio sobre a tristeza brasileira. Seu livro abre com esta frase “Numa terra radiosa vive um povo triste, e aí, ao contrário de outros grandes intérpretes que partem da matriz colonial da grande propriedade acionada por escravos para produzir para o exterior, ou da dinâmica das instituições do país, ele discorre sobre o caráter de nossa gente, destacando sobre seu romantismo, luxúria e outros vícios. Mais tarde, outro grande antropólogo, em seus trabalhos no Brasil, Lévi Strauss, deixou seu registro em “Tristes Trópicos”. Parece, pois, que escondemos sob nossos sorrisos, alardeados por marqueteiros do turismo, um mundo de solidão e tristeza. Ela talvez seja o resultado de uma sociedade que sempre foi violenta, porque fundada sobre dois fundamentos: o colonialismo, que se sobrepôs com violência sobre os povos originários da terra, como já denunciava o Pe. Vieira em meados do sec. XVII e o escravismo, que trouxe na rota trágica dos navios negreiros milhões de braços obrigados, sob o acicate do chicote, ao trabalho no eito. Viajantes do século XIX, aliás, ficavam espantados com a crueldade da sociedade brasileira e com a insalubridade dos nossos portos. Saíam dizendo que jamais aqui voltariam, tamanha a barbárie. Portanto, esse clima de violência, que tinha na BOA SOCIEDADE um método, deve estar no DNA da nossa História e acaba se prolongando até os dias de hoje. O Estado é violento. Veja-se que na Bahia, tão caloroso e até dirigida há anos por elites politicamente progressista, tem a Polícia mais letal que a do Rio de Janeiro, não por acaso, aliás, duas cidades que foram capitais do Brasil. Que capitais...! Que exemplos! Isso tudo, enfim, desemboca nestes índices de violência ontem divulgados. O ASSUNTO do g1, Podcast mais lido do país trata, com propriedade da matéria e fica a sugestão de sua audiência. 

Anexo - O Assunto g1 dia 21 de julho de 23

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/07/21/o-assunto-1008-o-brasil-mais-perigoso-para-mulheres-e-criancas.ghtml

O Brasil mais perigoso para mulheres e crianças

Em 2022, o país registrou mais um de seus trágicos recordes de violência: foram quase 75 mil casos de estupro. E 6 em casa 10 casos têm como vítima crianças de até 13 anos. De acordo com as informações do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), isso representa 205 casos de violência sexual por dia, 8 casos a cada hora. Soma-se a isso o aumento de diversos índices de violência contra mulheres: feminicídio, violência doméstica e as medidas protetivas tiveram alta na incidência de casos. Para analisar esses dados, Natuza Nery recebe Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP. Neste episódio:

Samira informa que apenas 8,5% dos casos de estupro são notificados às autoridades – isso significa que em 2022 houve, de fato, mais de 880 mil casos. E 70% desses casos acontecem dentro de casa, cometidos por familiares ou pessoas próximas. “Vítimas de violência sexual têm dificuldade em denunciar por causa do medo e do constrangimento”, justifica;

Ela detalha o que significa estupro de vulneráveis, à luz da legislação, e como uma mudança na lei, em 2009, colaborou para que mais crianças fossem protegidas contra o abuso sexual. "Mas a pandemia ampliou a vulnerabilidade das crianças”, afirma. “Sem a mãe em casa e com a escola fechada, para onde essas crianças correm? ”;

Ela também lamenta que o “Brasil tenha se tornado mais violento para as mulheres”: há mais casos de homicídios contra mulheres, mais feminicídios, mais agressões, mais ameaças e mais perseguições. “São crimes cometidos por parceiros íntimos, dentro de casa e que podem ser evitados”, afirma;

Samira comenta as recentes prisões e condenações de artistas e esportistas por abuso sexual: “Revela espaço para lutar por justiça e tem efeito pedagógico para os homens”.

O que você precisa saber:

Em 2022: Brasil registra maior número de estupros da história//Anuário da Violência: número de armas em circulação dispara//Pesquisa: Brasil Segurança: uma mulher é vítima de violência a cada 4 horas//Feminicídio recorde: 1 mulher morta a cada 6 horas no Brasil

O Podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Lorena Lara, Gabriel de Campos, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski, Guilherme Romero e Nayara Fernandes. Apresentação: Natuza Nery.


 

 Editorial Cultural FM Torres RS 20 de julho 23

Sobre a Tolerância 

 

A Guerra “na” Ucrânia há tempos já deixou de ser um conflito regional ou de mera “operação especial O” da poderosa Rússia sobre o país vizinho, cuja capital, Kiev, aliás, é o núcleo originário da intervenção da Rússia e as sanções econômicas, dentre as quais o “congelamento” de cerca de Há algumas décadas, quando a desorganização do mundo se antecipava nas telas de cinema com “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrik, a ONU voltou-se ao tema da Tolerância. Chegou a adotar uma Carta da Tolerância, aprovada em Assembleia Geral e dedicou o ano de 1995 para divulgá-la e implementá-la através da promoção da educação para a Paz. Não funcionou muito bem. Alguns críticos, inclusive, alegaram que a convivência humana precisa mais do que tolerância. Requeria Respeito à diversidade e sua consagração através da conquista de direitos. Começava a nascer uma geração que, sem negar o caráter de classe das sociedades contemporâneas, voltava-se à afirmação das identidades: Mulher, Negro, Índio, LGBT etc. A própria esquerda, no mundo inteiro, desfalcada de sua histórica vertente sindical pelas mudanças tecnológicas operadas na Indústria e crescente favelização dos grandes centros urbanos descaracterizando tradicionais bairros operários, além de abalada pelo colapso da União Soviética, entregava-se a esta Agenda. Aqui no Brasil, inclusive, há um acirrado debate entre mais e menos ortodoxos na esquerda sobre esta questão e que antagonizou, em 2021, o sociólogo baiano Antonio Rizziére com vários intelectuais da esquerda. A questão da intolerância, entretanto, voltou ao debate nos últimos anos, agora associada mais à intolerância política do que às intolerâncias pessoais. Isso porque a crise econômica se aprofundou e elevou a fermentação social em todo o mundo. O atentado às Torres Gêmeas de N. York, em 2002, é um marco neste processo. Ele traz à tona a realidade da insatisfação de algumas partes do globo com a proclamada e glamourizada globalização e desencadeia uma sucessão de ofensivas militares sobre Oriente Médio que só fez elevar os níveis de violência no mundo inteiro, com reflexos na intensificação do movimento de vastas correntes populacionais dos lugares afetados pelas guerras e pela crise em direção à Europa Ocidental, Turquia e Estados Unidos. A intolerância, com isso, se aprofundou. Nos países receptores destes asilados cresceu a xenofobia, alimentando a extrema direita que hoje governa não só a Hungria e Itália mas até países escandinavos, tendo estendido sua dicção, com suas respectivas adaptações regionais, aos Estados Unidos de Trump e Brasil de Bolsonaro. Candidatos de extrema direita intolerante emergem, também, em vários países da América Latina e um deles já é o terceiro colocado para as próximas eleições, em outubro, na Argentina. A pergunta que fica no ar é, pois, por que o recrudescimento da INTOLERÂNCIA que se dissemina em fake news pelas redes, alimentando ódios e alarma incautos com descrições ameaçadoras sobre o caráter negativo da presença de árabes na Europa, de latinos nos Estados Unidos, de pobres em viagens internacionais, de gays por todos os lugares – onde já se viu dois homens de mãos dadas? – 

. Um clássico dos anos 30 apontava como causa deste processo, bem descrito por Stefan Zweig sem seu livro recém publicado no Brasil, “O mundo que vivi”, o pequeno-burguês alarmado com as mudanças e desafios da época: “Escuta Zé Ninguém”, de Willelm Reich. Hoje este processo se reedita, mas mais complexo, até pela repercussão das Redes Sociais na vida das pessoas. A velocidade das coisas e sua incidência na sociedade são muito maiores. Mas as análises também são mais complexas. A Psicologia Social, hoje, complementa a análise sociológica e vê na rejeição ao Outro uma manifestação de dois processos: Um, defendido pelo filósofo dinamarquês P. Sloderdijk, que sustenta ter a cultura uma espécie de sistema imunológico que rejeita o Outro; outro, que percebe na natureza humana uma tendência a se supervalorizar como mecanismo de defesa, sempre nos marcos de um conservadorismo homeostático que a mantém em equilíbrio instável, pronto para explodir. Eis aí, talvez, a origem do medo às mudanças, mesmo quando racionalmente percebidas como necessárias, seja na economia, seja na sociedade, seja no confronto com o Outro.

Neste Admirável Mundo Novo da Aldeia Global, aliás, as grandes mobilizações sociais do passado se deslocam da contestação de classe ao stablishment às coloridas primaveras convocadas pelas Redes Sociais, sob sospechosa manipulação externa, impondo a necessidade cada vez maior de intervenções pontuais como mecanismo de conquista efetiva de garantias sociais: Micro Política do Cotidiano e Gris. Aí releva a atenção de Foucault à micro política, aliás, reverberada por outra importante filósofa do século XX, Agnes Heller.

 A verdade, pois, é que talvez tenhamos que voltar, senão aos sermões à confraternização universal de Cristo, à Carta da Tolerância da ONU como mecanismo de descongestão do ódio à diversidade.

Anexo – Declaração de Princípios sobre a Tolerância aprovada pela Conferência Geral da UNESCO em sua 28ª reunião

Paris, 16 de novembro de 1995

Os Estados Membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura reunidos em Paris em virtude da 28ª reunião da Conferência Geral, de 25 de outubro a 16 de novembro de 1995

Preâmbulo

Tendo presente que a Carta da Nações Unidas declara " Nós os povos das Nações Unidas decididos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, e com tais finalidades a praticar a tolerância e a conviver em paz como bons vizinhos",

Lembrando que no Preâmbulo da Constituição da UNESCO, aprovada em 16 de novembro de 1945, se afirmar que "a paz deve basear-se na solidariedade intelectual e moral da humanidade",

Lembrando também que a Declaração Universal dos Direitos do Homem proclama que "Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião"(art. 18), "de opinião e de expressão"(art. 19) e que a educação "deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos étnicos ou religiosos" (art.26),

Tendo em conta os seguintes instrumentos internacionais pertinentes, notadamente:

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos;

O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais;

A Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial;

A Convenção sobre a Prevenção e a Sanção do Crime de Genocídio;

A Convenção sobre os Direitos da Criança;

A Convenção de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados, seu Protocolo de 1967 e seus instrumentos regionais;

A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher;

A Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, desumanos ou degradantes;

A Declaração sobre a Eliminação de todas as Formas de Intolerância e de Discriminação fundadas na religião ou na convicção;

A Declaração sobre os Direitos da Pessoas pertencentes a minorias nacionais ou étnicas, religiosas e linguísticas;

A Declaração sobre as Medidas para Eliminar o Terrorismo Internacional;

A Declaração e o Programa de Ação de Viena aprovados pela Conferência Mundial dos Direitos do Homem;

A Declaração de Copenhague e o Programa de Ação aprovados pela Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social;

A Declaração da UNESCO sobre a Raça e os Preconceitos Raciais;

A Convenção e a Recomendação da UNESCO sobre a Luta contra a Discriminação no Campo do Ensino;

Tendo presentes os objetivos do Terceiro Decênio da luta contra o racismo e a discriminação racial, do Decênio Mundial para a educação no âmbito dos direitos do homem e o Decênio Internacional das populações indígenas do mundo,

Tendo em consideração as recomendações das conferências regionais organizadas no quadro do Ano das Nações Unidas para a Tolerância conforme a Resolução 27 C/5.14 da Conferência Geral da UNESCO, e também as conclusões e as recomendações das outras conferências e reuniões organizadas pelos Estados membros no quadro do programa do Ano das Nações Unidas para a Tolerância,

Alarmados pela intensificação atual da intolerância, da violência, do terrorismo, da xenofobia, do nacionalismo agressivo, do racismo, do antissemitismo, da exclusão, da marginalização e da discriminação contra minorias nacionais, étnicas, religiosas e linguísticas, dos refugiados, dos trabalhadores migrantes, dos imigrantes e dos grupos vulneráveis da sociedade e também pelo aumento dos atos de violência e de intimidação cometidos contra pessoas que exercem sua liberdade de opinião e de expressão, todos comportamentos que ameaçam a consolidação da paz e da democracia no plano nacional e internacional e constituem obstáculos para o desenvolvimento,

Ressaltando que incumbe aos Estados membros desenvolver e fomentar o respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais de todos, sem distinção fundada sobre a raça, o sexo, a língua, a origem nacional, a religião ou incapacidade e também combater a intolerância, aprovam e proclamam solenemente a presente Declaração de Princípios sobre a Tolerância.

Decididos a tomar todas as medidas positivas necessárias para promover a tolerância nas nossas sociedades, pois a tolerância é não somente um princípio relevante mas igualmente uma condição necessária para a paz e para o progresso econômico e social de todos os povos,

Declaramos o seguinte:

Artigo 1º - Significado da tolerância

1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e a apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade política e jurídica. A tolerância é uma virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz.

1.2 A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso a tolerância poderia ser invocada para justificar lesões a esses valores fundamentais. A tolerância deve ser praticada pelos indivíduos, pelos grupos e pelo Estado.

1.3 A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo (inclusive o pluralismo cultural), da democracia e do Estado de Direito. Implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo e fortalece as normas enunciadas nos instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos.

1.4 Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a tolerância não significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade. Significa aceitar o fato de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.

Artigo 2º - O papel do Estado

2.1 No âmbito do Estado a tolerância exige justiça e imparcialidade na legislação, na aplicação da lei e no exercício dos poderes judiciário e administrativo. Exige também que todos possam desfrutar de oportunidades econômicas e sociais sem nenhuma discriminação. A exclusão e a marginalização podem conduzir à frustração, à hostilidade e ao fanatismo.

2.2 A fim de instaurar uma sociedade mais tolerante, os Estados devem ratificar as convenções internacionais relativas aos direitos humanos e, se for necessário, elaborar uma nova legislação a fim de garantir igualdade de tratamento e de oportunidades aos diferentes grupos e indivíduos da sociedade.

2.3 Para a harmonia internacional, torna-se essencial que os indivíduos, as comunidades e as nações aceitem e respeitem o caráter multicultural da família humana. Sem tolerância não pode haver paz e sem paz não pode haver nem desenvolvimento nem democracia.

2.4 A intolerância pode ter a forma da marginalização dos grupos vulneráveis e de sua exclusão de toda participação na vida social e política e também a da violência e da discriminação contra os mesmos. Como afirma a Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Raciais, " Todos os indivíduos e todos os grupos têm o direito de ser diferentes" (art. 1.2).

Artigo 3º - Dimensões sociais

3.1 No mundo moderno, a tolerância é mais necessária do que nunca. Vivemos uma época marcada pela mundialização da economia e pela aceleração da mobilidade, da comunicação, da integração e da interdependência, das migrações e dos deslocamentos de populações, da urbanização e da transformação das formas de organização social. Visto que inexiste uma única parte do mundo que não seja caracterizada pela diversidade, a intensificação da intolerância e dos confrontos constitui ameaça potencial para cada região. Não se trata de ameaça limitada a esse ou aquele país, mas de ameaça universal.

3.2 A tolerância é necessária entre os indivíduos e também no âmbito da família e da comunidade. A promoção da tolerância e o aprendizado da abertura do espírito, da ouvida mútua e da solidariedade devem se realizar nas escolas e nas universidades, por meio da educação não formal, nos lares e nos locais de trabalho. Os meios de comunicação devem desempenhar um papel construtivo, favorecendo o diálogo e debate livres e abertos, propagando os valores da tolerância e ressaltando os riscos da indiferença à expansão das ideologias e dos grupos intolerantes.

3.3 Como afirma a Declaração da UNESCO sobre a Raça e os Preconceitos Raciais, medidas devem ser tomadas para assegurar a igualdade na dignidade e nos direitos dos indivíduos e dos grupos humanos em toda lugar onde isso seja necessário. Para tanto, deve ser dada atenção especial aos grupos vulneráveis social ou economicamente desfavorecidos, a fim de lhes assegurar a proteção das leis e regulamentos em vigor, sobretudo em matéria de moradia, de emprego e de saúde, de respeitar a autenticidade de sua cultura e de seus valores e de facilitar, em especial pela educação, sua promoção e sua integração social e profissional.

3.4 A fim de coordenar a resposta da comunidade internacional a esse desafio universal, convém realizar estudos científicos apropriados e criar redes, incluindo a análise, pelos métodos das ciências sociais, das causas profundas desses fenômenos e das medidas eficazes para enfrentá-las, e também a pesquisa e a observação, a fim de apoiar as decisões dos Estados Membros em matéria de formulação política geral e ação normativa.

4. Artigo 4º - Educação

4.1 A educação é o meio mais eficaz de prevenir a intolerância. A primeira etapa da educação para a tolerância consiste em ensinar aos indivíduos quais são seus direitos e suas liberdades a fim de assegurar seu respeito e de incentivar a vontade de proteger os direitos e liberdades dos outros.

4.2 A educação para a tolerância deve ser considerada como imperativo prioritário; por isso é necessário promover métodos sistemáticos e racionais de ensino da tolerância centrados nas fontes culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas da intolerância, que expressam as causas profundas da violência e da exclusão. As políticas e programas de educação devem contribuir para o desenvolvimento da compreensão, da solidariedade e da tolerância entre os indivíduos, entre os grupos étnicos, sociais, culturais, religiosos, linguísticos e as nações.

4.3 A educação para a tolerância deve visar a contrariar as influências que levam ao medo e à exclusão do outro e deve ajudar os jovens a desenvolver sua capacidade de exercer um juízo autônomo, de realizar uma reflexão crítica e de raciocinar em termos éticos.

4.4 Comprometemo-nos a apoiar e a executar programas de pesquisa em ciências sociais e de educação para a tolerância, para os direitos humanos e para a não-violência. Por conseguinte, torna-se necessário dar atenção especial à melhoria da formação dos docentes, dos programas de ensino, do conteúdo dos manuais e cursos e de outros tipos de material pedagógico, inclusive as novas tecnologias educacionais, a fim de formar cidadãos solidários e responsáveis, abertos a outras culturas, capazes de apreciar o valor da liberdade, respeitadores da dignidade dos seres humanos e de suas diferenças e capazes de prevenir os conflitos ou de resolvê-los por meios não violentos.

Artigo 5º - Compromisso de agir

Comprometemo-nos a fomentar a tolerância e a não violência por meio de programas e de instituições no campo da educação, da ciência, da cultura e da comunicação.

Artigo 6º - Dia Internacional da Tolerância

A fim de mobilizar a opinião pública, de ressaltar os perigos da intolerância e de reafirmar nosso compromisso e nossa determinação de agir em favor do fomento da tolerância e da educação para a tolerância, nós proclamamos solenemente o dia 16 de novembro de cada ano como o Dia Internacional da Tolerância.

Aplicação da Declaração de Princípios sobre a Tolerância

A Conferência Geral,

Considerando que em virtude da missão que lhe atribui seu Ato constitutivo nos campos da educação, ciência - ciências exatas e naturais, como também sociais -, cultura e comunicação, a UNESCO tem o dever de chamar a atenção dos Estados e dos povos sobre os problemas ligados a todos os aspectos da questão essencial da tolerância e da intolerância.

Considerando a Declaração de Princípios da UNESCO sobre a Tolerância, proclamada em 16 de novembro de 1995,

1. Insta os Estados Membros

(a) a ressaltar, a cada ano, o dia 16 de novembro, Dia Internacional da Tolerância, mediante a organização de manifestações e de programas especiais destinados a pregar a mensagem da tolerância entre os cidadãos, em cooperação com os estabelecimentos educacionais, as organizações intergovernamentais e não-governamentais e os meios de comunicação;

(b) a comunicar ao Diretor Geral todas as informações que desejariam compartilhar, sobretudo os conhecimentos extraídos da pesquisa ou do debate público sobre os problemas da tolerância e do pluralismo cultural, a fim de ajudar a compreender melhor os fenômenos ligados à intolerância e às ideologias que pregam a intolerância, como o racismo, o fascismo e o antissemitismo e também as medidas mais eficazes para enfrentar tais problemas;

2. Convida o Diretor Geral:

(a) a assegurar ampla difusão do texto da Declaração de Princípios, e para tal fim, a publicar e fazer distribuir esse texto não somente nas línguas oficiais da Conferência Geral, mas também no maior número possível de outras línguas;

(b) a instituir um mecanismo apropriado para a coordenação e avaliação das ações realizadas no âmbito do sistema das Nações Unidas e em cooperação com outras organizações para fomentar e ensinar a tolerância;

(c) a comunicar a Declaração de Princípios ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, solicitando-lhe que a apresente, como convém, à Assembleia Geral das Nações Unidas em sua quinquagésima primeira sessão, de acordo com a Resolução 49 313 da Assembleia Geral.

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 Editorial - O Rio Grande do Sul vai mal, obrigado! Mas tem jeito

A divulgação dos primeiros resultados do Censo 2022, se trouxe a informação de que está acabando o bônus demográfico da maioria de jovens que fazia do Brasil “O país do futuro”, trouxe, também más notícias sobre o movimento populacional no RS: Além de mais velhos, as várias regiões do Estado, com exceção do Litoral Norte, estão perdendo população. Isso, sem elevação da produtividade e boas taxas de crescimento do PIB regional, é mau sinal. Pode levar à estagnação histórica, com perda não só de oportunidades como de qualidade de vida. É importante, porém, que se ressaltem duas questões: 1o – Há uma diferença ente Economia propriamente dita e Finanças Públicas, correspondente, esta, à capacidade de organização interna do Estado. A economia reflete o vigor histórico da capacidade empresarial e profissional, enquanto a segunda reflete a lucidez dos líderes políticos para gerenciar os imperativos da própria História; 2º - A economia, medida tanto pelo PIB como termômetro do Valor Agregado no processo produtivo e de serviços, e sua estrutura interna, vale dizer, conjunto diversificado de atividades dos setores primário, secundário e terciário, ainda faz do RS um dos principais suportes da economia brasileira, pois é bem superior a do Uruguai, Bolívia e Paraguai juntos. Ainda assim, é mister avaliar todo este processo de forma a formular e desenvolver a capacidade política de planejamento para um futuro mais promissor às próximas gerações, retomando a tradição de intervenção do Estado tal como ocorreu na I República, de 1889 a 1930, no Governo Brizola de 1958 a 1962 e na abertura deste século. O artigo abaixo, de CARLOS PAIVA, faz uma radiografia dos dados do Censo. Um valioso Seminário sobre o Desenvolvimento do RS foi realizado ano passado por iniciativa da REDE ESTAÇÃO DEMOCRACIA e FACAT/Taquara, coms importantes intervenções de diversos analistas e gestores públicos dos últimos governos estaduais, disponível neste site 

https://www2.faccat.br/portal/sites/default/files/ckeditorfiles/e-book_2023_Desigualdades_Regionais_com.pdf 

 

 


Editorial CULTURAL FM Torres RS Dia 18 julho 23

Judiciário e seus membros na berlinda

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Café da Manhã Podcast Folha Uol https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/07/podcast-discute-politizacao-do-judiciario-e-hostilidades-a-magistrados.shtml 

Podcast discute politização do Judiciário e hostilidades a magistrados. Posicionamentos recentes de ministros do Supremo esquentaram debate sobre limites de manifestação de juízes

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A judicialização da Política, resultado do recorrentes recursos de Partidos e políticos à Justiça para dirimir querelas internas ao Congresso Nacional ou de confronto com decisões do Poder Executivo acabou dando ao Poder Judiciário um tal papel que já se fala na sua politização. O tema não é novo mas recrudesceu nos últimos quatro anos em virtude da virulência da polarização entre bolsonarista e não-bolsonaristas. No último fim de semana , por exemplo, o Ministro Gilmar Mendes, do STF, criticou abertamente a Lava Jato e seus principais condutores, sobretudo Deltan Dalagnol, deputado federal que teve seu mandato cassado pelo TSE. O Ministro Barroso, também do STF, compareceu a um congresso da União Nacional dos Estudante-UNE- no dia 4 último e excedeu-se no verbo, afirmando “nós derrubamos o bolsonarismo”, gerando forte reação do Presidente do Senado. Acabou se retratando. Mas o fato mais marcante dos últimos dias foi a agressão física e verbal sofrida pelo Ministro Alexandre Moraes no Aeroporto de Roma por uma família de brasileiros. Ele, aliás, foi o alvo preferido do ex Presidente Bolsonaro em várias ocasiões, particularmente no famoso “comício” do 7 de setembro de 2021 em São Paulo e, desde então, vem sendo visto pelos cegos seguidores de Bolsonaro como a peça chave da vitória de Lula. Teria tirado ele da cadeia, manipulado às urnas eletrônicas, feito o jogo político a favor de um lado do processo político eleitoral. Lembremo-nos que na minuta de golpe encontrada na casa do ex Ministro da Justiça de Bolsonaro, sob investigação da Polícia Federal, falava na prisão de Moraes, como substituição de vários ministros do Superior Tribunal Eleitoral com vistas à anulação do resultado eleitoral. A judicialização, portanto, acabou politizando a Justiça preocupando cada vez mais a Sociedade. Embora se compreenda que a democratização implica precisamente o deslocamento da política das ruas para as instituições e que a elas corresponda o papel de garantia em última instância do regime constitucional , isso nem sempre ocorre de forma automática e mecânica. Assim como se exige dos militares que abdiquem de seu papel “moderador” que acabou levando a várias intervenções no período republicano , também se exige dos membros do Judiciário o senso de auto-contenção de forma a dar-lhes a imagem exigida de imparcialidade . Maior recato diante da Mídia, evitando posicionamentos pessoais estranhos aos autos dos processos sob julgamento também é recomendável. Ninguém gosta muito de generais rabugentos brandindo gritos e relhos como costumava fazer um deles no ocaso do regime militar, nem de ver desfilar juízes pops na crônica política. Pode parecer conservador, mas o papel do Judiciário e seus membros, régia e polpudamente pagos em suas promissores e estáveis carreiras, é necessariamente discreto pela própria função que ocupam. Até em defesa de seus próprios membros para que não se ofereçam como alvos fáceis tanto daqueles que eles julgam, como dos que os julgam com base em convicções ideológicas. Não obstante, a Sociedade não pode aceitar a agressão feita a Alexandre de Moraes e sua família em Roma e os agressores devem ser julgados e punidos na forma da Lei. Se a politização da Justiça deve ser refreada, a justiça pelas próprias mãos, com muito mais razão deve ser severamente coibida, sobretudo numa sociedade que nos últimos anos armou-se de forma inusitada sob inspiração e amparo do Governo que chegava ao cúmulo de justificar este processo como garantia de segurança pessoal e “política”. Ora, esse sempre foi o argumento dos extremistas deste e de outros tempos , para os quais o ideal consiste na relação direta do Governante com o povo, assim como do Mercado com os consumidores, sem a mediação de instituições reguladoras desta relação. “O Estado sou eu”, dizia Luiz XIV no auge do absolutismo. “Há um só Governo e um só povo”, dizia Mussolini, o primeiro fascista. Na democracia contemporânea isso não cabe. Nem se admite


 Editorial Cultural FM- 17/07/2023 

A Geografia da Fome

Combate à fome - a importância da agricultura familiar

A retomada do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), uma das principais ferramentas do governo federal nos mandatos petistas para acabar com a fome no país, foi aprovada no Congresso. A nova versão tem orçamento previsto de R$ 500 milhões e garante a compra de alimentos de propriedades rurais familiares – que passam a ter também crédito de R$ 71 bilhões oferecidos pelo Plano Safra. Para explicar o funcionamento do PAA, seu impacto para a agricultura familiar e seu papel no combate à insegurança alimentar, Natuza Nery conversa com Julian Perez-Cassarino, professor de agroecologia da Universidade Federal da Fronteira Sul e pesquisador da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan). 

O que você precisa saber:

Fome: mais de 21 milhões de brasileiros não têm o que comer//Brasil: tem 70,3 milhões de pessoas em insegurança alimentar//Projeto de Lei: Câmara aprova proposta para agricultura familiar//Senado: aprova projeto que retoma o PAA no Governo FederalR$ 510 mi: orçamento para programa de compra de alimentos// Cozinha Solidária: iniciativa contra a fome é premiada na ONU//VÍDEO: Lula relança o programa de aquisição de alimentos

Capas dos grandes jornais do centro do país.

O GLOBO – Mercado de seguros para baixa renda vive “boom” no país. Micro empreendedor individual e autônomos recorrem ao modelo

O ESP- Super salários custam R$ 3,9 bilhões aos cofres públicos. Remuneração acima do teto é paga a 25 mil servidores. Novo “penduricalhos” engrossam ganhos além do limite constitucional.

FSP – IVA do Brasil pode chegar a 28% e se tornar o maior do mundo. Manutenção de benefícios e isenções na Reforma Tributária pressionam imposto, aponta estudo do IPEA

ZH- Setor de serviços lidera avanço na economia do Estado em 2023


 Editorial Cultural FM Torres RS 14 de julho 23

O mundo por um fio na Ucrânia

A Guerra “na” Ucrânia há tempos já deixou de ser um conflito regional ou de mera “operação especial” da poderosa Rússia sobre o país vizinho, cuja capital, Kiev, aliás, é o núcleo originário da própria nação russa em sua formação nacional, que fez parte da antiga URSS, tendo-lhe, inclusive dado um importante dirigente: Kruchev. A ideia, aliás, de Putin, Presidente russo, ao determinar a ocupação militar da UCRANIA, epílogo de uma lenta fermentação de tensões com este país em razão de sua repressão a russos lá residentes, na região do Donbass, fronteira com a Rússia, além da inclinação da UCRANIA ao Ocidente, era reeditar o feito de 2014, quando ocupou a Crimeia. A situação política interna da Ucrânia era instável e baixa a popularidade de seu Presidente, um antigo ator, sem maior densidade política e parecia indicar que cairia diante da pressão militar russa. Isso não ocorreu. O Presidente teve inusitada capacidade de reação e conseguiu forte apoio das Forças Armadas para resistir. Obteve também, imediato apoio do Presidente Biden, o qual já tinha fortes relações com o país, quem acabou arrastando a União Europeia e outros países sob sua influência para a ajuda militar à UCRANIA. Vieram as moções de censura da ONU à intervenção da Rússia e as sanções econômicas, dentre as quais o “congelamento” de cerca de 300 bilhões de dólares de reservas russsas em bancos ocidentais. Expedientes que têm sido usados ultimamente como mecanismo de intimidação a governos que se rebelam contra o CONSENSO DE WASHINGTON. O fortalecimento da resistência ucraniana travou o avanço russo que, não obstante, se consolida na região do DONBASS onde já foram proclamadas Repúblicas autônomas inclinadas à Rússia. Com isso o conflito se arrasta e vai ganhando novas proporções. A OTAN, como organização militar de “defesa” do Ocidente vai expandindo sua ação na Europa, tendo, nestes dias encerrado novo encontro, com a presença de Biden, na Lituânia, antigo satélite soviético. Simultaneamente, chegam a Ucrânia as bombas de fragmentação enviadas pelos Estados Unidos e outros armamentos pesados que devem prolongar indefinidamente o conflito. A Rússia reagiu com veemência a esta nova ofensiva da OTAN e novos armamentos. Tudo isso deixa a paz mundial por um fio. Um incidente entre tropas da OTAN x Rússia pode deflagrar a III Guerra Mundial, da qual todos sairemos derrotados. Toda atenção e cuidado são pouco. Urge fortalecer o movimento pela cessação das hostilidades na região, tal como ocorreu na COREIA em 1953, já que a Paz será algo de longo prazo e difícil consecução. A Rússia é uma potência militar com farto arsenal nuclear. Atacada, reagirá, com o apoio da China e Irã. O resto do mundo, mais de 160 países com assento na ONU observam, evitando se envolver no conflito, dentre eles quase todos os países da América Latina, Ásia e África. Temem o pior. Na verdade, aguardam a passagem do tempo para ver como se sairá Biden nas eleições do ano que vem. Se perder, os republicanos resolvem o conflito em 24horas, reconhecendo o direito de força da Rússia em delimitar sua área de segurança estratégica. Mas o dito Ocidente, sob Biden, ainda força sua capacidade hegemônica mundial. Quem viver, verá. “Velhos fantasmas”, como diz o jornalista gaúcho, residente na Alemanha, em artigo recente, ainda assombram a humanidade.

 

Referência 

 

Fórum 21 e Diálogos AMSUR - Conjuntura Geopolítica Mundial – JMFiori ASSISTA A LIVE AQUI >>>>

 

JOSÉ LUÍS FIORI MOSTRA COMO A GUERRA NA UCRÂNIA TORNOU-SE UM CONFLITO MUNDIAL NO QUAL A RÚSSIA NÃO PODE RECUAR -- POIS O QUE ESTÁ EM JOGO É A SUA PRÓPRIA SOBREVIVÊNCIA COMO NAÇÃO -- E, POR OUTRO, OS ESTADOS UNIDOS SE OPÕEM Á PAZ POR TODOS OS MEIOS, PORQUE O QUE ESTÁ EM JOGO É A MANUTENÇÃO OU NÃO DE SUA SUPREMACIA = Diplomatique-critérios-narrativas-guerras-hegemônicas  

 

A destruição de um Império – M. Hudson 

https://aterraeredonda.com.br/a-destruicao-de-um-grande-imperio/ 

Velhos fantasmas - Flávio Aguiar - AEPET- VELHOS FANTASMAS


 Editorial Cultural FM Torres RS 12 de julho 23

Editorial – O RS no Censo 22

 

 

RS – Censo 2022 IBGE – Variação População 2010 – 2022

Por Carlos Paiva

 

A publicação dos primeiros resultados do Censo IBGE 2022 na semana passada continua promovendo muitas análises e mesmo críticas. No Rio Grande do Sul se confirmam as informações sobre perda de dinamismo demográfico e envelhecimento de sua população, exceção à região Litoral Norte, que teve crescimento considerável. O mapa acima, elaborado pelo Economista Carlos Paiva para exposição no dia 11 passado (julho/23) sobre o Censo na Fundação Perseu Abramo POA classifica e evidencia quatro situações paradigmáticas no Estado: a maior parte do Estado, metade sul e oeste, onde a situação é mais crítica, inclusive com perda de população em vários municípios; uma pequena área central com crescimento entre zero e 1,7¨%; áreas esparsas com crescimento de 1,7% até 6,5% e, finalmente, o Litoral Norte, com projeções para o interior, onde há franco dinamismo, com crescimento populacional de até 25%. Nesta região, onde Torres se situa está a merecer melhor atenção das autoridades não só quanto ao atendimento de serviços públicos mas também quanto à abertura de oportunidades de investimentos compatíveis com suas peculiaridades vocacionais e clima. A FACAT, em Taquara, graças à iniciativa de Carlos Paiva, professor e pesquisador desta Instituição universitária, vem trabalhando na formulação de diretrizes para o planejamento governamental do Litoral Norte e deve propor a abertura de encontros com a COREDE/Litoral Norte e Associação dos Municípios do Litoral Norte com vistas a chamar a atenção sobre as necessidades da região. Considerada como área de menor desenvolvimento no Rio Grande do Sul e com baixa densidade de articulação de seus interesses, Litoral Norte, se oferece, agora, como uma janela de oportunidades para a reanimação da economia gaúcha, não só como lugar de veraneio ou repouso, à la Flórida, nos Estados Unidos, ou Portugal, na Europa, mas também como campo de investimentos em segmentos específicos do agro, da indústria e serviços. Já é, aliás, um centro de referência na produção de orgânicos, com mais de 200 produtores com elevada produtividade e boa rede de distribuição de seus produtos, na qual se destaca, aqui em Torres, a ECOTORRES. 

Anexo

O censo e os desafios da nossa sociedade.

Renato Steckert de Oliveira - oliveira.remar@gmail.com – Publ.FOLHA DE TAQUARI

Após uma série de dúvidas sobre sua realização, dados os impactos da pandemia e a desorganização sofrida pelo IBGE durante o governo Bolsonaro, saíram os resultados preliminares do Censo de 2022, que deveria ter sido realizado em 2020. A grande surpresa, já comentada longamente na imprensa, foi o fato de que, nos doze anos desde o último censo, a população brasileira cresceu menos do que se esperava: somos agora 203 milhões de pessoas vivendo no país, um aumento de 6,4% em relação a 2010. 10 milhões a menos do que imaginava o próprio IBGE. Para se ter uma ideia da queda do crescimento populacional no Brasil, entre 1980 e 1990 esse crescimento foi de 22,68%.

O RS continua ponteando a fila dos que menos crescem: entre 2010 e 2022 crescemos meros 1,74%, e hoje somos 10.693.929 pessoas vivendo no RS. Quase 1 milhão a menos do que o IBGE esperava encontrar. Nesse crescimento praticamente nulo, a maioria dos municípios gaúchos perdeu população, acentuando uma tendência que vinha se verificando há mais de duas décadas. Um caso paradigmático é Cruz Alta, que hoje, com 58.913 habitantes, tem uma população menor do que em 1980, quando esse número era de 61.476 pessoas. Taquari acompanhou a tendência, diminuindo a população de 26.092 para 25.198 entre 2012 e 2022, praticamente igualando o número de habitantes de 1991, quando havia 25.039 pessoas em solo taquariense.

Em suma, o Brasil está em plena transição demográfica, acompanhando a tendência mundial de diminuição do crescimento populacional. Os demógrafos preveem crescimento negativo nas próximas décadas, com a população mundial estabilizando em torno de 10 bilhões de pessoas a partir de 2050. Estamos no caminho, portanto. E o RS, meio que a trote.

Se isto tem um lado positivo, diminuindo a carga que a humanidade representa sobre os recursos naturais do planeta, há também um lado preocupante. A transição demográfica exige uma transição econômica. A lógica é simples: menor crescimento populacional significa menor número de jovens relativamente à população total, o que implicará numa população economicamente ativa igualmente menor nos próximos anos. Ao mesmo tempo, a população está envelhecendo: de 1950 para cá, a expectativa média de vida dos brasileiros aumentou em mais de 20 anos, e continuará aumentando nos próximos anos. Portanto, menos gente para trabalhar e mais gente necessitando consumir. Esta equação não fecha no atual modelo econômico. Sobretudo no Brasil, e no RS em particular, onde o setor da economia que efetivamente gera riqueza para a sociedade, a indústria, vem diminuindo seu peso relativo na economia como um todo. O agronegócio, do qual nossa economia depende cada vez mais, é o que menos gera emprego e o que menos distribui renda para a sociedade. Se não reindustrializarmos o país empobreceremos como sociedade. 

Para isto, precisamos urgentemente de uma política que incentive uma economia inovadora, capaz de gerar mais riqueza com menos trabalho físico, e precisamos urgentemente de uma política educacional que prepare nossos jovens para essa nova economia. Pois, além de termos cada vez menos jovens relativamente à população total, eles são cada vez mais despreparados.

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 Editorial Cultural FM Torres RS 11 de julho 23

Crise climática, El Niño e seca no Pampa

 

 NATUREZA E MEIO AMBIENTE – URUGUAI: Pior seca em mais de 70 anos deixa Montevidéu quase sem água Oliver Pieper - 05/07/2023= DW]

LEIA MAIS >>>>>>>> 

Reservatório que abastece a região metropolitana da capital do Uruguai, onde vive mais da metade da população do país, está praticamente vazio. Crise hídrica motiva protestos contra o governo.

Como o El Niño pode prolongar a inflação dos alimentos

Fenômeno climático já voltou e ameaça o planeta com inundações e secas. Suas temporadas anteriores geraram trilhões de dólares de prejuízo à economia global.

NATUREZA E MEIO AMBIENTE18/06/202318 de junho de 2023

 

Níveis baixos e temperaturas excessivas ameaçam rios europeus

Calor contínuo e falta de chuva em grande parte da Europa fazem secar diversos grandes rios. As consequências são graves para a flora, fauna, economia e vidas humanas ao longo do Danúbio, Tâmisa, Reno e outros.

CLIMA11/08/202211 de agosto de 2022

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O planetinha Terra registrou as mais baixas temperaturas médias na semana passada enquanto o calor e a seca castigam a Europa neste verão. Fala-se já no comprometimento dos rios da Espanha. E informações sobre a ANTÁRTIDA dizem que o continente gelado perdeu mais gelo do que em outras épocas. Isso já seria a MUDANÇA CLIMÁTICA ou é apenas uma questão da passagem de EL NIÑO? Os analistas divergem mas vai crescendo o consenso no mundo inteiro de que se a temperatura média subir dois graus acima do que era antes da Revolução Industrial podemos entrar em colapso no mundo porque, daí, o aumento da temperatura poderá descontrolar tudo, começando pelas safras, que já oneradas pelos preços da energia, elevarão os preços agrícolas às alturas, com inevitáveis distúrbios sociais e políticos. Daí as preocupações com as remanescentes florestas tropicais e, em especial, da Amazônia. Em visita recente à Letícia, na fronteira do Brasil com Colômbia, o Presidente Lula renovou o compromisso de zerar o desmatamento na região até 2030, ressaltando já haver baixado o índice em seus primeiros seis meses de governo em 33% - apesar do aumento do desmatamento do cerrado que tem uma importância estratégica para as grandes bacias brasileiras – e conclamou os dirigentes sulamericanos com áreas na Amazônia para se unirem num PACTO no mesmo sentido. 

Mas precisamente porque a questão climática é mundial ela também atinge o Rio Grande do Sul. Nosso Estado, aliás, tem na sua metade sul uma imensa área integrada no Grande Pampa, para o qual concorre o Uruguai inteiro e partes do Paraguai e Argentina. A seca nesta região é evidente. O Rio Grande padece seu terceiro ano de seca e isso se refletirá, mais uma vez, no PIB do Estado, vez que ainda somos muito dependentes da agropecuária. O Governo Federal já prometeu mais de 400 milhões de ajuda aos agricultores mas o que Estado precisa é um amplo programa de irrigação, capaz de prevenir futuras secas e garantir o papel tradicional do Rio Grande como grande produtor de alimentos. No Uruguai, não é diferente. O abastecimento de água em Montevidéu já é crítico e não há solução rápida à vista. Deviam ter providenciado mecanismos de suporte há mais tempo. Civilizações antigas sabiam da importância da água, como cidades da Mesopotâmia, Roma e até os maias, aqui na América, e construíram, com a engenharia disponível invejáveis canalizações de rios e lagos. Roma ficou até famosa por suas fontes. Quando, a propósito, estes canais não foram suficientes para abastecer aqueles povos, eles entraram em decadência. Desapareceram por falta de água, que por sua vez, deve ter acirrado conflitos internos e disputas políticas que acabaram varrendo aquelas civilizações. 

O Rio Grande do Sul, entretanto, é o segundo ou terceiro Estado com maior disponibilidade hídrica no país. Tem não apenas grandes lagoas internas e rios como elevados índices de precipitação pluvial em algumas regiões, eis que detentor de grande variedade geográfica, ao contrário do Uruguai. Basta atentar para o problema e prevenir, através de um planejamento adequado de uso das bacias hidrográficas e fortalecimento das redes de irrigação. Não parece, entretanto, que autoridades estaduais estejam atentas à isso. Urge acordarem.

Rio Grande do Sul tem terceiro ano de seca e “isso não é normal’, diz professor. Região sofreu com dois fenômenos La Niña seguidos, e redução das chuvas trazidas do norte, por conta dos desmatamentos na Amazônia, intensificam estiagem

Juliana Elias Carolina Ferraz*da CNN - em São Paulo - 25/02/202 3

O Rio Grande do Sul, um dos maiores produtores agrícolas do país, caminha para completar em 2023 seu terceiro ano seguido de estiagem severa. Isso é decorrência de uma sucessão de eventos climáticos que, de acordo com o professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE-USP), Pedro Côrtes, não é normal.

“Desde meados de 2020, o Rio Grande do Sul vem enfrentando com diferentes intensidades essas estiagens e isso se deve ao fenômeno La Niña”, disse em entrevista à CNN neste sábado (25).

Um fenômeno natural e recorrente no continente, o La Ninã, explica Côrtes, é responsável por, ao mesmo tempo, causar chuvas nas regiões Norte e Nordeste, com reflexos no Sudeste – como as chuvas da semana passada no litoral de São Paulo -, e seca na região Sul.

Seca no RS prejudica culturas de soja, milho e arroz, alerta agrometeorologista

É a frequência e a duração que, desta vez, estão chamando a atenção.

“Começamos com esse período de La Niña no segundo semestre de 2020, foi a até a metade de 2021, teve um pequeno intervalo e, depois o La Niña retornou por mais um ano e meio”, disse.

“Não é um evento normal, dois La Niñas na sequência, e isso tem castigado muito o Rio Grande do Sul e levado a perdas na safra de soja e milho pelo segundo período consecutivo em diversos casos. ”

Côrtes também afirmou que o desmatamento na Amazônia é outro problema que agrava, entre outras coisas, as estiagens na região sul, já que as nuvens trazidas da região norte são uma das fontes de abastecimento das chuvas no sul.

“Está faltando chuva das duas frentes do estado: as que vêm do sul, e também as que poderiam vir da Amazônia e que têm escasseado em função do desmatamento, que reduz a umidade colocada na atmosfera pelas grandes árvores”, disse.

Veja a entrevista completa no vídeo acima.

*(sob supervisão de Letícia Brito)

Nacional/rio-grande-do-sul-tem-terceiro-ano-de-seca-e-isso-nao-e-normal-diz-professor. 

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 Editorial Cultural FM Torres RS 10 de julho 23

Nação de Idosos

Temos chamado a atenção sobre o envelhecimento da população brasileira agora confirmada pelo Censo 22. Tal envelhecimento, dado o nível tecnológico contemporâneo, não é um problema em si, mas suscita a atenção das autoridades públicas para esta nova realidade demográfica que aponta para Políticas Públicas específicas. É falso o argumento de que o envelhecimento é um ÔNUS a sociedade, tal como foi falsa a tese de Malthus no século XIX. Este tipo de raciocínio conduz ao maior dos preconceitos em nossa sociedade – CONTRA OS IDOSOS – e que os leva à marginalização e desprezo. Destacamos no ano passado a ausência de falas dos candidatos à Presidência sobre a Terceira Idade e condenamos, ao logo da pandemia, o sumiço dos Conselhos Nacional e Municipal da Pessoa Idosa na identificação e cuidados especiais com estas pessoas. Resultado: Morreram em massa. Agora, com o Censo 22, o tema volta à tona e é tempo de nos voltarmos ao assunto da Pessoa Idosa. 

 

Nação de idosos

O rápido envelhecimento da população brasileira é um enorme desafio para os gestores públicos

Fabíola A. Mendonça = https://www.cartacapital.com.br/politica/nacao-de-idosos/ 

Com dois anos de atraso e marcado por problemas ideológicos e sanitários, o Censo Demográfico 2022, cujos primeiros números foram divulgados pelo IBGE no fim de junho, tem despertado dúvidas quanto aos resultados. Em meio às incertezas, ao menos um fenômeno captado pela pesquisa parece ser consensual entre os especialistas: a população brasileira está envelhecendo em ritmo mais acelerado que o previsto.

 

Embora os quantitativos em relação à idade, sexo, raça e escolaridade ainda não tenham sido revelados, a forte desaceleração do crescimento populacional nos últimos 12 anos indica a possibilidade de o País chegar a ter 40% de idosos na segunda metade deste século, o que vai exigir dos gestores públicos e da sociedade em geral atenção especial para esse público.

 

Os números do Censo revelam o menor crescimento populacional dos últimos 150 anos, com uma taxa inédita de expansão inferior a 1%. Até a década de 1960, a taxa de fecundidade no Brasil era muito alta, uma característica que começa a mudar a partir dos anos 1970 e continuou num crescente até os dias de hoje, sendo definidor para a desaceleração do crescimento populacional e aumento no número de idosos. Nos anos 1970, o número de habitantes crescia, em média, 2,8% ao ano.

 

Entre os Censos de 2010 e 2022, esse porcentual despencou para 0,52% ao ano.

 

Não é tudo. Em 2018, o IBGE estimava a existência de 214 milhões de brasileiros em 2022, 10 milhões a mais do que revelou o novo Censo. O instituto também previa redução populacional a partir de 2047, vaticínio antecipado em mais de 20 anos.

 

"Esse número de 203 milhões de habitantes está muito abaixo do esperado. Não estou falando que está errado, mas a população de 2010 era de 191 milhões e, se eu somar todos os nascimentos do período e subtrair todas as mortes, isso dá 18 milhões de pessoas. Se eu tinha 191 milhões e somo 18 milhões, dá 209 milhões. O número não bate. Mas é preciso lembrar que, no crescimento vegetativo, não entram os fluxos migratórios, então esse número pode ser menor mesmo", pondera José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador aposentado do IBGE.

 

O especialista reconhece que vários problemas atrapalharam a pesquisa de campo. Desde que assumiu o comando do País em 2019, o governo Bolsonaro colecionou ataques ao IBGE, começando pela desqualificação do instituto, passando pelo corte de verbas e não reposição de pessoal, até a suspensão do Censo. Em meio ao boicote e ataques ao órgão, veio a pandemia de Covid-19, mais um motivo de adiamento da pesquisa demográfica.

 

Só em 2021, depois de uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que obrigou o governo a destinar recursos para a realização do Censo, o estudo saiu e, mesmo assim, aconteceu em meio à eleição mais polarizada da história recente do Brasil, no segundo semestre de 2022.

 

Considerando a série histórica do Censo Demográfico, o crescimento populacional tende a cair ainda mais nas próximas décadas, até alcançar o nível de decrescer, ou seja, registrar mais óbitos que nascimentos, consolidando o envelhecimento da sociedade brasileira. Esse dado tem gerado até especulação sobre uma nova proposta de reforma da Previdência.

 

"O País não aguentaria mais", alerta Eduardo Fagnani, professor do Instituto de Economia da Unicamp. "As sucessivas reformas já tornaram a aposentadoria pelo INSS algo inatingível para a grande maioria da população. Até porque metade da população economicamente ativa está desempregada, desalentada ou na informalidade. Os outros 50% têm acesso restrito, uma vez que a aposentadoria integral é praticamente inalcançável, exige dos homens 65 anos de idade e 40 de contribuição e, das mulheres, 62 anos de idade e 35 de contribuição. Propor uma nova reforma é desumano e uma hipocrisia. Na próxima década, a grande maioria dos idosos não terá direito à aposentadoria. Será um caos social", emenda o economista, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho da Unicamp e coordenador da rede Plataforma Política e Social.

 

Para o especialista, os dados do Censo não têm impacto substancial de imediato na vida dos idosos, porque esse público já é vítima de regras excessivas no tocante à aposentadoria e, caso a situação se acentue, o Brasil pode passar a ter um grande número de idosos nas ruas na condição de mendicância, como já acontece em países como México e Chile.

 

Jorge Félix, professor de Gerontologia da USP e autor do livro Economia da Longevidade -O Envelhecimento Populacional Muito Além da Previdência, lembra que, desde a década de 1990, as reformas são apontadas como resposta para a dinâmica demográfica que indica o envelhecimento da população, independentemente de governo ou partido político. "Na verdade, não são reformas. A intenção é privatizar o sistema previdenciário, empurrar as pessoas cada vez mais para a previdência privada. No INSS, mais de 70% dos aposentados e pensionistas ganham até um salário mínimo. Teremos uma população idosa no futuro próximo com renda muito baixa, devido a essas reformas. A previdência pública está se metamorfoseando em um sistema de assistência social.

 

Menos de 1% dos benefícios chega ao teto, a grande maioria só recebe o mínimo", explica, acrescentando que a tendência de muitos idosos é depender do Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Se alcançar a aposentadoria é quase uma utopia para a grande maioria dos brasileiros, manter-se no mercado de trabalho na chamada terceira idade é o maior dos desafios. Depois de 50 anos - às vezes até mais jovem - o trabalhador vem sendo enxotado dos seus postos de trabalho. Para José Dari Krein, doutor em Economia Social e do Trabalho e professor da Unicamp, é preciso aproveitar a janela da oportunidade, porque o Brasil ainda tem uma população ativa maior do que a aposentada.

 

Com o envelhecimento de seus habitantes, a tendência é de que, a partir das próximas décadas, o número de pessoas com trabalho formal vai ser menor que o de aposentados.

 

"É preciso redistribuir as atividades úteis para a sociedade, o que significa reduzir o tempo laboral dos trabalhadores. Tem de repensar um pouco todo o processo de reorganização da vida social, para que as pessoas possam trabalhar menos e usufruir de uma qualidade de vida melhor na terceira idade. O Estado vai precisar injetar recursos no INSS para garantir que as pessoas se aposentem." José Eustáquio Diniz Alves defende um terceiro bônus demográfico como alternativa à inclusão dos idosos no mercado de trabalho. Segundo explica, há 30 anos, o Brasil contava com apenas com 5% da população com mais de 60 anos, enquanto a maioria maciça era formada pelos grupos economicamente ativos, dentro do que se configurou chamar de o primeiro bônus demográfico.

 

"Todo país que enriqueceu no mundo passou por esse bônus demográfico, dando um alto padrão de vida à população", diz. Agora, a população em idade ativa vem diminuindo e, por volta de 2030, vai ter menos gente em idade de trabalhar. "Aí será preciso investir na educação, na produtividade e na tecnologia, para que essa população consiga produzir mais com menos gente. Isso chamamos de segundo bônus demográfico, ou bônus da produtividade." 

O terceiro, segundo Alves, caracteriza-se pelo aumento do volume de idosos na sociedade e do aproveitamento desse contingente. "Isso pode ser benéfico se contarmos com o envelhecimento saudável e ativo. O grande número de pessoas da terceira idade deve ser encarado como ativo, e não como passivo", defende, salientando que o Japão vive essa fase, criando condições para a população idosa contribuir com a sociedade.

 

Para Jorge Félix, os dados revelados pelo IBGE forçam o Poder Público a priorizar as três principais áreas que afetam a população idosa: alimentação, habitação e saúde, setores que sugam a maior parte da renda das pessoas acima de 60 anos. "As futuras gerações de idosos terão uma renda muito baixa, não serão capazes de honrar com esses compromissos. Além disso, essa população já está endividada", alerta.

 

A antropóloga e professora aposentada do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social e em Ciências Sociais da Unicamp Guita Grin Debert chama atenção para um público específico de idosos, os quais deveriam ser priorizados pelas políticas públicas. Debert refere-se às pessoas acima de 60 anos que têm algum tipo de dependência. Ela explica que o Brasil tem uma legislação avançada para o idoso, mas que só contempla as pessoas com independência funcional. 

 

"Temos o Estatuto do Idoso, uma política nacional, o Brasil assinou programas internacionais voltados para essa população, os municípios têm programas voltados para pessoas da terceira idade... Mas me parece que essas políticas mobilizam principalmente os jovens idosos, pessoas que têm alto grau de autonomia funcional. Ainda são poucas as instituições de longa permanência para idosos que dependem de cuidados especiais. Essa realidade precisa ser olhada com mais carinho, com mais atenção." 

 

 

 

 

MAIS UMA JABUTICABA

 

A população brasileira envelhece em ritmo muito superior ao verificado na Europa, alerta a demógrafa Suzana Cavenaghi.

 

Os dados do Censo 2022 apontam para forte desaceleração do crescimento populacional, números que vêm sendo contestados por alguns especialistas, surpresos com a totalidade de 203 milhões de brasileiros revelada pela pesquisa.

 

Para ajudar a decifrar o fenômeno, CartaCapital entrevistou Suzana Cavenaghi, doutora em Demografia e professora da pós-graduação da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE. Ela confia nos dados do IBGE, mas reconhece que o instituto pode revisar alguns deles.

 

CartaCapital: Como a senhora avalia o novo Censo do IBGE?

Suzana Cavenaghi: O Censo teve uma trajetória conturbada por questões políticas. Países que dão importância às políticas públicas baseadas em evidências sabem da relevância de se fazer um censo, sobretudo nos anos terminados em zero. A pandemia não impediu a realização de Censos em muitos países. Nenhuma pandemia anterior ou mesmo situação de guerra fez com que os institutos de estatística desistissem de realizá-los. O IBGE já vinha passando por dificuldades para obter recursos, a contagem populacional do meio da década não foi realizada. Fora isso, o quadro funcional despencou de cerca de 7 mil servidores para pouco mais de 4 mil. Não bastasse, o trabalho de campo ocorreu em meio à campanha mais polarizada da história recente do País. Os técnicos do IBGE e os recenseadores fizeram um milagre. Temos aí um Censo com alguns problemas, mas que servirão para o planejamento das políticas públicas.

 

CC: Então existem fragilidades nos dados apresentados?

SC: O primeiro problema que a gente aponta, como demógrafos, é que o Censo não deveria demorar mais que quatro meses em campo. Estava previsto para ser concluído em três meses, mas demorou muito mais. E ainda teve a conjunção da falta de entrevistadores no momento adequado, além de uma resistência maior de alguns grupos populacionais em responder. Esse atraso é um dos maiores problemas e a gente vai ver o que isso pode ter causado na hora que olhar os dados mais internamente.

Porque a gente tem visto uma diminuição de populações de capitais, algumas muito mais do que aquilo que já se estava esperando. Informações sobre migração vão ajudar nisso, assim como informações sobre fecundidade que ainda vão ser divulgadas. Eu acreditava que a população brasileira estava entre 207 e 211 milhões de pessoas. Temos de confiar nesses números e olhar com atenção onde tiver alguma dúvida. O IBGE tem ferramentas hoje em dia para isso.

 

CC: Ainda que os dados sejam preliminares, é possível afirmar que o Brasil está se tornando um país mais idoso e menos urbano. O que isso significa?

SC: A população vai começar a decrescer em valores absolutos, vai chegar a uma taxa negativa a partir da próxima década. Eu acho que os gestores já deveriam estar olhando para esses dados. O aumento da expectativa de vida com uma diminuição da mortalidade causa, na população, o que a gente chama de transição demográfica, muda a estrutura etária. O recado para os políticos é: "Prestem atenção nas estruturas etárias da população sob sua administração”. Num período de 40 anos, baixou muito a fecundidade e o envelhecimento populacional vem em ritmo acelerado. Ele é muito mais rápido do que ocorreu na Europa e em outros países desenvolvidos, que levaram às vezes 100, 150, até 200 anos para chegar a esse patamar.

 

Precisamos colocar no mercado de trabalho os jovens que estão aí, as pessoas de meia-idade com capacitação, e tornar essa população mais produtiva. A gente não pode cuidar da população idosa só quando ela ficar idosa. A gente sabe que saúde é um processo de bem-estar, que precisa ser iniciado antes. Se a população na idade de trabalhar tem mais saúde, envelhece mais saudável.

 

Fonte CARTA CAPITAL 8 2023


 Editorial Cultural FM Torres RS 07 de julho 23

Enfim, a Reforma Tributária. Possível

A propalada PEC da Reforma Tributária, aprovada pela Câmara dos Deputados em Brasília, depois de décadas de fermentação, mudará a essência da cobrança de impostos no Brasil, mas está longe de ser o Imposto Único sonhado por muitos. Continuaremos com Imposto de Renda e sobre Patrimônio como Impostos Rural e IPTU, ITBI, IPVA, certamente extensivo a donos de jatinhos e helicópteros, INSS e algum outro. Mas os Impostos IPI, PIS e COFINS, da União, ICMS dos Estados e ISS dos Municípios serão englobados num só imposto –Imposto sobre Valor Agregado – IVA - a ser cobrado pela União sobre o Consumo de Bens e Serviços, com três alíquotas, cuja extensão deverá ser melhor explicitada em Lei Complementar. Um Conselho Federativo, cuja composição e atribuições ainda serão oportunamente definidas, fará a distribuição do produto da arrecadação deste novo imposto. Trata-se de uma mudança estrutural, similar à que já vigora em países desenvolvidos já há algum tempo e que será implementada gradualmente- de 2026 a 2036. Não se sabe, ainda, quais os reflexos deste processo para o desenvolvimento do país e, sobretudo, para regiões com distintos níveis de renda. O IPEA, órgão oficial do Ministério do Planejamento, calcula que a Reforma elevará, por si só, 2,9% do PIB. Tomara...! Alguns Governadores, como o de Goiás, foi radicalmente contra a mudança e vários Prefeitos o acompanham. Alegam que perderão autonomia. Na verdade, perderão mesmo pois o futuro sistema vai centralizar ainda mais a competência da União sobre a Política Tributária. Perderão, inclusive, a capacidade para negociar benefícios fiscais, os famosos subsídios que caracterizam gastos tributários a empreendimentos privados. Políticos bolsonarista de raiz também são contra, não com argumentos, mas porque são contra tudo o que for aprovado pelo Governo Lula, daí sua ira com o Governador de São Paulo, favorável à Reforma e que foi hostilizado em reunião do PL, especialmente pelo ex presidente lá presente, e com o Presidente da Câmara, Artur Lira. Este, assumiu pessoal e rigorosamente a Reforma Tributária como importante ponto em seu currículo político. Economistas mais ortodoxos também apoiam a mudança e chegaram, até, a lançar recentemente, um Manifesto em seu apoio. Os heterodoxos, independentes, mais à esquerda, distantes de funções governamentais, evitam críticas abertas, mas apontam que esta reforma vai ajustar cada vez mais a economia brasileira aos desígnios da globalização. Lula e o PT de forma geral deixaram o barco correr sem grande empenho, embora hoje se reúnam com o Ministro Haddad no Planalto para celebrar o feito. Muitos dos críticos à esquerda afirmam, que não está claro como ficará a atual isenção de impostos trazida pela Lei Kandir e que acabou destruindo muitas plantas de beneficiamento de commodities agrícolas em benefício de sua exportação. Tentaram, inclusive, sem sucesso, ontem, no Plenário da CÂMARA, a aprovação de um destaque que retiraria insumos agrícolas identificados com herbicidas e pesticidas da tarifa menor do Imposto que incidirá sobre produtos agrícolas. Aliás, comércio exterior não é um similar do mercado interno. Continuará exigindo cuidados especiais, sobretudo se tivermos em mente a reindustrialização do país. É o caso da economista Ceci Juruá, RJ, que afirma:

“Destaco essa questão para manifestar minha crença derivada da observação histórica. Um país soberano não exporta commodities vinculadas à alimentação, enquanto seu povo tiver fome. Exportação deve dirigir-se, prioritariamente, à venda de excedentes no mercado exterior. Salvo uma ou outra “especialidade” constituída como commodities - caso do café, da borracha -. É um grave erro exportar cereais como arroz e feijão, comida básica do brasileiro há séculos, e carnes, enquanto o povo não tem o mínimo necessário para se alimentar. ”

Outra crítica, embora meia velada, vem do sistema financeiro, reverberado pelo advogado Antônio Carlos Amaral, da OAB/SP, temeroso de que o novo Imposto Federal desemboque no antigo Imposto sobre Transações Financeiras (oxalá!), aliás, suculento mecanismo de geração de receitas para o Governo. A eles Bernard Appy, principal responsável pela elaboração da atual Reforma Tributária, rebateu afirmando que a expressão "operação com bens" existe na legislação europeia e ninguém lá fez a CPMF. A propósito, talvez por isso mesmo, incapacidade de captar o excesso extremamente concentrado de riqueza pelo deslocamento cada vez maior da acumulação de capital no âmbito exclusivamente financeiro, que os Estados, no mundo ocidental acabaram se enfraquecendo. 

A Reforma Tributária, enfim, saiu do papel e deu um primeiro passo para se tornar realidade. Falta, ainda a apreciação pelo Senado e, se esta Casa fizer alguma mudança, o que é possível, voltará à Câmara para a última versão. Agora é ver no que dará, mas, junto com o Marco Fiscal também aprovado em substituição ao Teto de Gastos, são trunfos políticos de Lula que apontam para uma reconfiguração da direita no país. Os 108 votos contrários à Reforma estão a indicar a marginalização dos bolsonaristas e a emergência de novos líderes neste campo. As imagens colhidas, ontem, na Câmara demonstram que a Política como instância de negociação para a resolução de conflitos que concernem à vida nacional, voltou a funcionar, com seus vícios e virtudes, mas indispensável à democracia. Lula, inclusive, afirmou nestes dias: “Não somos senhores da razão. ” Tem razão. O apelo direto ao povo, sem a mediação das instituições e o reconhecimento do conflito, é uma tentação dos demagogos autoritários. Sempre acaba mal. A atual Reforma Tributária não é nem ideal, nem a que a esquerda gostaria, mas foi a reforma possível. O futuro, já dizia um velho político, a Deus pertence...


 Editorial Cultural FM Torres RS 06 de julho 23

Nova ofensiva de Israel sobre Palestina

O tema do dia no Brasil é, indiscutivelmente, a Reforma Tributária. A ela dedicaremos nossa reflexão amanhã e depois, pois está ainda pendente de aprovação na Câmara dos Deputados em Brasília. Hoje nos debruçamos sobre o brutal – mais um! – ataque de Israel sobre a Palestina, com o resultado de vários mortos e a sombra de uma ocupação militar e colonizadora sobre a região que vai se alastrando, mesmo sob o acicate de Resoluções contrárias da ONU, e comprometendo a possibilidade de criação de um Estado Palestino. A questão se arrasta há décadas, desde que as Nações Unidos, em sessão presidida por um brasileiro, o ilustre gaúcho Osvaldo Aranha, criou, sob o impacto do holocausto nazifascista, um Estado judeu no Oriente Médio. O enfrentamento com populações regionais que também ambicionavam um Estado próprio, sob a tutela dos princípios já vigentes das Nações Unidas para a descolonização do mundo, com base na autodeterminação dos povos, a saber, o respeito às linhas herdadas do período colonial e um Partido representativo destes interesses, foi inevitável. E de guerra após guerra, com injustificável expulsão dos moradores tradicionais sobre a Palestina e espoliação de seus bens, Israel vem expandindo seu território. Nos últimos tempos, sob o comando da extrema direita no Estado israelense, os judeus vão colonizando áreas que não lhes pertencem e provocando uma histórica diáspora dos palestinos no mundo inteiro. No exterior, mesmo em países árabes, continuam discriminados, sem fazer parte da cidadania destes países, morando precariamente. No Brasil, milhares deles alimentaram a imigração árabe e tem no Rio Grande do Sul um dos seus maiores redutos, objeto, recentemente, de um premiado filme do Diretor Omar Barros Filho – “A Palestina no Brasil”, por ele mesmo aqui em Torres apresentado em 2020, em sessão do Cineclube de Torres. Curiosamente, essa bruta agressão de um país rico e fortemente armado sobre uma população civil desarmada não ganha o mesmo tipo de apoio que recai sobre a Ucrânia nos dias atuais. Pelo contrário, Estados Unidos, à frente da indignação ocidental contra Putin e Rússia, é a principal sustentação de Israel no Oriente Médio. A consciência crítica, entretanto, não pode calar diante deste ignominioso processo neocolonizador. Hoje mesmo, o ASSUNTO, mais lido Podcast do país, do g1, trata da matéria e adiante todas as explicações necessárias ao seu melhor entendimento por parte do público. 

Anexo 

A ofensiva histórica de Israel na Cisjordânia

OUÇA Podcast/o-assunto-a-ofensiva-histórica-de-Israel-na-Cisjordânia 

O saldo da maior operação militar israelense em duas décadas, na região de Jenin, foi de 12 mortos, dezenas de feridos e uma retaliação violenta de um integrante do grupo radical Hamas em Tel Aviv. O novo e sangrento capítulo da tensão histórica foi engatilhado quando o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou a construção de novos assentamentos em território reivindicado pela Autoridade Palestina. Para explicar o cenário do conflito, Natuza Nery recebe Guga Chacra, comentarista da Globo e da GloboNews em Nova York e colunista do jornal O Globo. Neste episódio:

Guga descreve o que é a Cisjordânia, a composição de sua população e como seu território está dividido atualmente: Israel controla 60% e é responsável pela administração e controle militar; e apenas 18%, separados em agrupamentos “ilhados”, está completamente sob domínio palestino. “Isso inviabiliza completamente a possibilidade de um Estado palestino ali”, afirma;

Ele explica como o governo de Netanyahu se aliou aos setores da extrema-direita e se tornou o “mais radical de todos os tempos” em Israel. E como, do outro lado, a liderança da Autoridade Palestina é “incompetente e enfraquecida” e vê partes do território submetidas ao Hamas;

O jornalista avalia quais são as perspectivas reais para a resolução do conflito. “Sou do grupo dos céticos”, afirma. Para ele, na prática, há dois caminhos: a manutenção do status quo ou a criação de um Estado palestino. “Israel já decidiu que quer o status quo, mas pros palestinos é uma situação insustentável”, conclui;

O que você precisa saber:

Cisjordânia: maior operação de Israel em 20 anos mata doze//Israel: usa drones e atinge campo de refugiados em ataque//Jenin: exército israelense começa a retirada após operação//Manifestações: israelenses vão às ruas mesmo com ataques//Pesquisa: maioria de jovens palestinos é contra dois Estados//VÍDEO: o que é a Cisjordânia e por que a região está sob ataque

O Podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Lorena Lara, Gabriel de Campos, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski, Guilherme Romero e Nayara Fernandes. Apresentação: Natuza Nery


 Editorial Cultural FM Torres RS 04 de julho 23

Da Conjuração Baiana à Luta pela Independência, o fervor patriótico da Bahia

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Neste domingo, 2 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou das celebrações do Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia. - ASSISTA AQUI

BRASIL 2022 - II CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA

H.Starling. Tiradentes - CANAL LIVRE TV BAND - CANAL LIVRE - YouTube

Lilian Schwarz – Canal Liver - Lilian Schwarz – Canal Livre YouTube

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 Neste 2 de julho Salvador celebrou, com a presença do Presidente Lula e grandes festejos populares, a vitória dos baianos contra as forças portuguesas que resistiram à Independência do Brasil, proclamada a 7 de setembro de 22. Importante registrar que esta luta pela Independência estava ligada à então recente Conjuração Baiana ou Revolução dos Alfaiates que lutaram pela Independência vindo seus líderes, muitos deles populares, serem brutalmente perseguidos, alguns condenados à morte. 

A Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates foi um movimento político popular ocorrido em Salvador, Bahia, em 1798. Tinha como objetivos separar a Bahia de Portugal, abolir a escravatura e atender às reivindicações das camadas pobres da população. Dentre os participantes desta revolta estava Cipriano Barata, detido a 19 de setembro de 1798, solto em Janeiro de 1800, que mais tarde representará o Brasil nas Cortes de Lisboa e teria sido o fundador do Movimento Farroupilha que se disseminou pelo Rio de Janeiro e, particularmente, no Rio Grande do Sul.

 A diferença já percebida, então, com a Inconfidência Mineira é que no caso baiano, como também em Pernambuco, a inspiração libertária provinha mais da Revolução Francesa do que da Independência Americana. Há um pequeno detalhe revelado pelos historiadores num fragmento colhido de Tiradentes no qual ele fala no “no direito à felicidade”. Numa clara alusão ao ideário americano. A Conjuração Baiana, enfim, tinha uma clivagem social mais profunda e maior alcance ideológico ao propor claramente a República e a Abolição da Escravatura. Este ímpeto sobreviveu nas décadas posteriores e acabou alimentando a luta a favor Independência do Brasil entre 1822 e 23. O itinerário desta luta é traçado pelo artigo abaixo, de Ceci Juruá, que transcrevemos, antes emoldurado pelas Conclusões sobre o desfecho da Conjuração baiana.

Conclusão Wikipédia: O movimento envolveu indivíduos de setores urbanos e marginalizados na produção da riqueza colonial, que se revoltaram contra o sistema que lhes impedia perspectivas de ascensão social. O seu descontentamento voltava-se contra a elevada carga de impostos cobrada pela Coroa portuguesa e contra o sistema escravista colonial, o que tornava as suas reivindicações particularmente perturbadoras para as elites. A revolta resultou em um dos projetos mais radicais do período colonial, propondo idealmente uma nova sociedade igualitária e democrática. Foi barbaramente punida pela Coroa de Portugal. Este movimento, entretanto, deixou profundas marcas na sociedade soteropolitana, a ponto tal que o movimento emancipacionista eclodiu novamente, em 1821, culminando na guerra pela Independência da Bahia, concretizada em 2 de julho de 1823, formando parte da nação que emancipara-se a 7 de setembro do ano anterior, sob império de D. Pedro I

2 de julho em Salvador da Bahia 

Ceci Juruá 

 1808, a Corte portuguesa chega à Bahia

Em 22 de outubro de 1807, D. João aceitou negociar com a Inglaterra uma Convenção Secreta, acatando a possibilidade da vinda da Corte portuguesa para o Brasil, caso se concretizasse a invasão de Portugal pelos exércitos de Napoleão. Contudo, D. João evitou comprometer-se com a entrega de licença para que cidadãos ingleses ocupassem alguma área litorânea no Brasil, perto da bacia do Prata, para fins de construção de um porto. Pouco depois (em 27 de outubro), França e Espanha assinaram o Tratado de Fontainebleau, retalhando o território de Portugal entre aliados; do lado francês houve a promessa de futuro reconhecimento do Rei da Espanha como Imperador das Duas Américas....

Assim, através de tratados mantidos em segredo entre as três principais potências europeias -França/Espanha e Inglaterra- e Portugal, um aliado sob dependência da Inglaterra desde 1661, foi dada a partida para eventos futuros que trariam o fim do status colonial do Brasil. 

D. João, futuro D. João VI, sua corte e familiares embarcaram na esquadra inglesa que bloqueava a barra do Tejo, em 27 de novembro de 1807. Dois dias depois, partiu dali “a esquadra de sete naus, cinco fragatas, dois brigues e duas charruas, além de vários navios mercantes, levando cerca de 8.000 a 15.000 pessoas..., zarparam para o Brasil, pouco antes que as tropas de Junot (...) alcançassem e invadissem Lisboa”. Aqui chegando, seguiram-se: a abertura dos portos do Brasil aos países amigos, o Alvará real autorizando início da industrialização, o Tratado de Livre Comércio Brasil/Inglaterra, a criação do Banco do Brasil, a adoção dos primeiros impostos... E, enfim, um novo status para o Brasil, em dezembro de 1815, quando se adotou nova organização: o REINO UNIDO DE PORTUGAL, BRASIL E ALGARVES. 

Quando chegaram os portugueses à Bahia, em 1808, esta província já fora palco de movimento insurrecional importante, visto por alguns historiadores como o início do processo de emancipação política do Brasil. Aquele movimento, a Conspiração dos Alfaiates, foi “sem dúvida mais importante do que a de 1789”, afirma LAMB).

 1549, Tomé de Souza organiza o governo-geral / Bahia 

Tomé de Sousa fixou-se na Bahia, em busca do Eldorado, há 476 anos (LAMB, p. 121 e seguintes). Designado por Tomé de Souza, governador daquelas terras, como um agregado encarregado da vigilância do litoral baiano, Garcia d’ Ávila recebeu sesmaria de grande extensão, tratou de organizar sua tropa e procurou um local para servir de ancoradouro e para a construção de um porto. Encontrou-o a dois quilômetros ao norte da foz do Rio Pojuca, em costa protegida por cadeia de arrecifes de coral. Ali ergueu, então, a sua base militar e os aposentos residenciais.  

Naquele local, que Garcia d´Ávila denominou Torre de São Pedro de Rates, foi iniciada uma criação de gado com animais originários das ilhas de Cabo Verde. Tal atividade foi de grande sucesso pois, na época, vaqueiros não recebiam soldo, sua recompensa consistia em bezerros e terra. Em três anos o gado de Garcia d´Ávila somou 200 cabeças, o que lhe permitiu solicitar outras terras em regime de sesmaria. Naquele local, da Torre, ocorreu em 1808 o primeiro contato da Esquadra Real que transportou a Família Real Portuguesa para o Brasil. 

(Bahia já A torre singela de São Pedro de Rates por Christovão de Ávila

Em 1557, “Garcia d´Ávila já era senhor de fato e, em parte, de direito, de quase toda a região que se estendia de Itapoã para além de Tatuapara, onde antes Caramuru predominara. ” (LAMB, p. 126). Para este autor, Garcia d’ Ávila foi um herdeiro de Tomé de Souza, proprietário de muitas terras na Bahia e no Espírito Santo. Quando ali chegou Pedro Álvares Cabral, a área era habitada por indígenas, cuja população foi estimada entre 2,5 e 5 milhões por Jorge Couto (cf. A CONSTRUÇÃO DO BRASIL, Lisboa: Ed. Cosmos, 1997).

A Casa da Torre e o morgado dos Garcia d´Ávila

Na região onde se instalou o primeiro Garcia d´Ávila, combates entre índios e portugueses eram permanentes. “Por isto, em carta régia de 20 de março de 1570, o rei D. Sebastião... proibiu seu cativeiro, salvo daqueles capturados em “guerra justa” determinação que nunca foi de fato cumprida (LAMB, p.132).

Garcia d´Ávila teve algumas mulheres. Uma de suas filhas, Isabel, fruto de união com uma índia tupinambá, casou-se com Diogo Dias, neto de Caramuru. Dessa união nasceu o neto e herdeiro de Garcia d´ Ávila instituído como morgado da Casa da Torre de Garcia d´Ávila.

A Casa da Torre, embrião desse morgado sacramentado em cartório quando morreu o primeiro Garcia d´Ávila (fato ocorrido em 1609), era uma espécie de mansão senhorial de estilo manuelino, erguida em 1551 para funcionar como sede dos domínios da família. Suas ruinas ainda existem, na Praia do Forte. Segundo a Wikipédia, “dali partiram as primeiras bandeiras sertanistas que introduziram a pecuária no Nordeste do Brasil. Francisco Dias d´Ávila II (1646-1694), bisneto de Garcia d´Ávila, foi quem dominou os índios Cariris e levou as fronteiras do latifúndio familiar até Pernambuco. ” 

Foi o terceiro morgado, Garcia de Ávila Pereira, quem mandou construir o Forte de Tatuapara, em substituição ao Forte da Praia. Ali funcionou um regimento responsável pela defesa da costa no trecho entre o rio Real e o rio Vermelho. O último descendente dos Garcia d´Ávila, Garcia de Ávila Pereira de Aragão, faleceu em 1805. A partir dessa data, o morgadio da Torre passou para os Pires de Carvalho e Albuquerque, heróis da resistência que expulsou de Salvador as tropas comandadas por Madeira de Melo, garantindo a adesão da província da Bahia ao novo Império governado por D. Pedro I.

“As propriedades dos Ávila se localizavam, da Bahia ao Maranhão, dentro de uma área de cerca de 800 mil quilômetros quadrados, equivalente a 1/10 do território brasileiro de hoje, o que equivale às áreas, somadas, de Portugal, Espanha, Holanda, Itália e Suíça. ” (Wikipédia, www.casadatorre.org.br. Consultado em 15-03-2016 e 20-06-2023).

A extensão das propriedades dos d´Ávila, bem como suas formas de expansão e dominação, foi vista por historiadores brasileiros como estrutura social similar à dos feudos europeus. Daí o entendimento de que, também no Brasil, tivemos um passado feudal extemporâneo ao Feudalismo europeu, em certas áreas de nosso território.  

 1821/Bahia, Resistência heroica e adesão a D. Pedro 

Segundo LAMB, após a derrota de Napoleão, surgiram na América do Sul, e especialmente no Brasil, competidores do monopólio comercial atribuído à Inglaterra. Em Portugal, por outro lado, havia grande descontentamento com as perdas financeiras sofridas pelo comércio local após a saída da Família Real. 

Os anos que antecederam a partida de D. João VI, do Brasil para Portugal, foram anos politicamente difíceis nos dois países. Lá e cá, era grande a insatisfação. Reclamava-se, sobretudo, quanto ao poder de fato desfrutado por súditos de Sua Majestade a Rainha Vitória, mas também queixavam-se da perda de receitas em benefício do local onde se instalara a Corte Portuguesa. No Brasil, desde 1817, Pernambuco e Bahia enfrentaram clima de insatisfação crescente, separatista e pró-liberal, apoiados pela maçonaria e pelos Estados Unidos, dizia-se. Com a Revolução constitucionalista de 1820 em Portugal, cresceram os pedidos de volta à Europa da Corte de D. João VI e a adoção de novo status jurídico para as províncias do Brasil. 

Derrotados em Pernambuco os revolucionários, a sublevação chegou à Bahia, “onde muitos moradores procediam do norte de Portugal” (LAMB, p.428). A notícia da Insurreição baiana e do juramento que ali se fizera de apoio à Constituição elaborada em Lisboa, chegou ao Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1821. Durante alguns meses, discutiu-se quem ficaria no Brasil e quem retornaria a Portugal, se o pai ou o filho. Mas também ficou pendente a questão dos laços jurídicos de Portugal e do Brasil. Um só império? Ou a separação?

Após o Dia do Fico (6-01-1822), a nova junta provisória eleita na Bahia, presidida por Francisco Vicente Viana, foi integrada, entre outros nomes, por um membro do morgadio da Casa da Torre: Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque.

À medida que os combates se desenrolavam, foi ficando cada vez mais evidente a participação dos senhores da Casa da Torre na resistência à dominação de Portugal, bem como sua aliança com o Imperador Pedro I. Já na devassa realizada sobre a Conspiração dos Alfaiates, de 1798, alguns nomes vinculados ao morgadio da Casa da Torre se haviam destacado como ligados à Conspiração. Dentre estes, os nomes de José Pires de Carvalho e Albuquerque, Secretário de Estado e Guerra do Brasil, e José Inácio Siqueira Bulcão, ambos sobrinhos do Senhor da Torre de Garcia d´Ávila. Daí a afirmação de LAMB:

“Ao que tudo indicou, a conjuração de 1798 na Bahia configurou uma tentativa da nobreza da terra, visando mobilizar os militares e a plebe, de modo que, respaldada e legitimada por uma insurgência popular, pudesse conquistar a soberania e a autodeterminação... aquela aristocracia rural, encarnada fundamentalmente pelos senhores de engenho, passara a representar uma comunidade de interesses e constituía então a classe social que, a desenvolver a Nationalbevufstsein (consciência nacional) mais rapidamente do que as outras camadas da população, tinha condições de assumir a organização do estado, cujo território se conformara no curso da colonização.” (LAMB, p. 642).

 1822, homenagem ao Barão da Torre de Garcia d´Ávila 

Em minha tese de doutorado sobre a importância do Estado brasileiro na construção de estradas de ferro pioneiras, destaquei a homenagem prestada por D. Pedro I ao Coronel do Regimento de Milícias e Marinha da Torre, Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, ofertando-lhe o título de Barão da Torre de Garcia d´Ávila, durante a cerimônia de sua coroação como Imperador do Império do Brasil (01.12.1822). Na ocasião, o então titulado Barão da Torre de Garcia d´Ávila assim respondeu ao Imperador:

 “Nada me resta, Senhor, que de novo possa oferecer à Vossa Majestade, porque honra, vida e fazenda há muito dediquei à defesa da Pátria. ” (Ceci Juruá. Tese de doutorado, UERJ/2012: Estado e construção ferroviária: quinze anos decisivos para a economia brasileira, 1852/1867)

Este gesto de D. Pedro I designando ali o primeiro nobre do período imperial não foi bem recebido por figuras importantes. Foi ainda mal visto por historiadores respeitados como Jose Honório Rodrigues que, percebe-se, não dispunha de informações como aquelas coletadas mais tarde por LAMB. Alguns anos depois, em 12 de outubro de 1826, o coronel Santinho foi elevado a Visconde, e com honras de Grandeza a 18 de julho de 1841, durante a coroação de D. Pedro II. 

A homenagem foi muito justa. Tudo indica que sem a adesão da província da Bahia à regência de D. Pedro, ficaria difícil, muito difícil, manter a unidade do território nacional. Mas, já nos primeiros meses de 1822 despontava na província da Bahia um cenário de guerra civil, pois um brigadeiro português, Inácio Luís Madeira de Melo, fora escolhido e nomeado governador das armas daquela província, gesto entendido como sinal das intenções das cortes de Portugal, isto é, a recolonização de províncias do Brasil.  

“Sabiam todos que ali, liderados pelo brigadeiro Madeira de Melo, portugueses organizavam uma praça de guerra a fim de resistir à independência. O próprio brigadeiro já comunicara ao rei de Portugal que a cidade da Bahia “pela sua situação geográfica, pelo seu comércio, população e outras particularidades” era um daqueles portos que convinha “conservar...” (LAMB, p. 460). 

Em 19 de fevereiro, enfrentaram-se violentamente, em Salvador, brasileiros e portugueses. Enfrentamento que resultou na invasão do Convento de N. Sra. da Lapa, onde soldados das forças brasileiras se haviam refugiado. Em perseguição aos brasileiros, soldados da tropa portuguesa invadiram o Convento, e foi então que um soldado da tropa de Madeira de Melo “traspassou a abadessa, soror Joana Angélica, com um golpe de baioneta...” (LAMB, p.441-2).

Na linha da resistência portuguesa, chegou a Salvador, em fins de março, o navio S. José Americano trazendo, em reforço, tropas que haviam sido expulsas do Rio de Janeiro. A partir daí, as ruas de Salvador passaram a ser patrulhadas por tropas de Portugal, ficando a Câmara de Vereadores impedida de reunir-se. 

Pelos dados apresentados na obra O FEUDO, justifica-se a convicção de LAMB “que foi a partir do Recôncavo, onde os senhores de engenho dominavam, que se firmou e cresceu a resistência às tropas portuguesas(...)”. Por outro lado, fica igualmente claro que coube às milícias da Casa da Torre de Garcia d´Ávila o papel decisivo no cerco de Salvador (p. 636), [pois]

“o coronel Santinho, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque , foi o primeiro baiano que efetivamente mobilizou um batalhão de nacionais, para os quais arregimentou, entre os seus soldados, índios seminus, armados de arco e flechas, com experiência de emboscadas, e em 18 de julho acampou em Pirajá, bloqueando a estrada das Boiadas por onde o gado, que abastecia Salvador, descia do sertão até do Piauí, para a Feira do Capuame, e de lá desencadeou as operações de guerrilha contra as forças portuguesas.” (p.636-7).

A obra O FEUDO, que utilizei como fonte principal, quase exclusiva, para este texto com o qual quero, simplesmente, prestar homenagem à grandiosidade da terra e da gente da Bahia, deveria ser de leitura obrigatória em nossas escolas. Ele é preciso nas informações, apresenta as fontes utilizadas, enaltece o Brasil e os brasileiros de todas as cores, religiões e etnias, mostra a importância da unidade do povo de todas as classes, frente às ambições estrangeiras de usufruto em proveito próprio daquilo que nos pertence – o território, com seus distintos climas e um solo rico em água, florestas e minerais.

Enfim, a data de 2 de julho é motivo de festa e de orgulho, para os baianos e para os brasileiros, pois foi a data em que o general Madeira de Melo abandonou Salvador, acompanhado de suas tropas, resultando da vitória do povo brasileiro. 

Nas comemorações do primeiro centenário (1922), o bairro de Ipanema (RJ) homenageou, merecidamente, os baianos que passaram à História do Brasil como heróis da Independência, dando seu nome a ruas do bairro. Surgiram assim as ruas Barão da Torre, Visconde de Pirajá, Barão de Jaguaripe, Garcia d´Ávila, Joana Angélica, Maria Quitéria (Brasil Gerson/História das ruas do Rio). 

Entre os que se opuseram à continuidade da dominação de Portugal sobre terras brasileiras, na Bahia, destacaram-se os senhores de engenho do interior do Recôncavo Baiano, os grandes proprietários agrícolas, pois eram os que “compunham a única classe em condições de deter o poder e construir a nação (...) qualquer que fosse a forma pela qual a separação de Portugal se processasse, conforme Celso Furtado salientou (FEB/1961) ” (LAMB, p.461). 

Mais adiante, e praticamente concluindo, lemos:

“Os descendentes da Casa da Torre que detinham na Bahia, a maior força política e militar entre os proprietários de terra e senhores de engenho, empenharam-se na sustentação da monarquia e da unidade territorial do Brasil. Entre eles, o visconde de Pirajá foi o que mais se destacou... em 1837 o visconde de Pirajá combateu ainda a insurreição separatista, a célebre Sabinada... Tal como em 1822 acontecera, não houvessem os senhores de engenho e outros proprietários da terra, desde o início, tomado as primeiras medidas (...) difícil, ou mesmo impossível seria, para a regência, ao mesmo tempo que empregava todos os esforços para tentar destruir a República Rio-grandense, sufocar o levante separatista deflagrado naquela cidade da Bahia. (...)” (LAMB, p. 642-643). 

“Os senhores de engenho e outros proprietários da terra, no entanto, possuíam a consciência da nação (natio), da sua integridade territorial, e não defendessem eles a realeza que a unificava, a implantação da república na Bahia implicaria a fragmentação do Brasil, uma vez que o governo imperial não teria aí condições de impedir a secessão do Rio Grande do Sul e outras províncias seguir-lhe-iam o exemplo. ” (LAMB, p. 643).

Rio de Janeiro, 23 de junho de 2023 – Ceci Juruá


Editorial Cultural FM Torres RS 03 de julho 23

Centro-Oeste muda a cara do Brasil

Desde 2010, o número de cidadãos que vivem no Centro-Oeste avançou, em média, 1,2% ao ano, mais que o dobro da média nacional, de 0,52% — a menor da história, segundo o IBGE

Os dados do Censo de 2022 confirmaram o Centro-Oeste como a nova fronteira econômica do Brasil. Não por acaso, a região tem atraído cada vez mais habitantes, destoando das demais áreas do país, que veem a população estagnar ou mesmo encolher. Desde 2010, o número de cidadãos que vivem no Centro-Oeste avançou, em média, 1,2% ao ano, mais que o dobro da média nacional, de 0,52% — a menor da história, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse processo de interiorização do Brasil, dizem especialistas, é irreversível. Além de trabalho, as pessoas estão buscando melhores condições de vida.

O Centro-Oeste está sendo impulsionado pelo agronegócio, que cresce a taxas expressivas ano a ano. O Brasil figura entre os três principais produtores de alimentos do mundo e é na região que está a maior área agricultável do planeta. Para sustentar o plantio e a colheita, os produtores têm sido obrigados a investir cada vez mais na tecnologia e na contratação de mão de obra especializada. Em determinadas cidades, há falta de trabalhadores, ao contrário do que ocorre nas periferias das grandes cidades, em que o desemprego encosta nos 10% e a violência é uma rotina que atormenta as famílias.

Dois dos principais exemplos de debandada da população são Salvador, que, em uma década, perdeu quase 10% de sua população, e Rio de Janeiro, que encolheu em quase 110 mil habitantes. Essas capitais estão entre as mais violentas do país e as que ostentam índices de desocupação acima da média nacional. Em contrapartida, duas das quatro cidades que mais cresceram em termos populacionais estão no Centro-Oeste — Senador Canedo (Goiás), onde o número de habitantes avançou 84,3%, e Sinop (Mato Grosso), com salto de 73,4%. Os outros dois municípios ficam em regiões produtoras de grãos: Luís Eduardo Magalhães (Bahia), que ganhou 79,5% a mais de moradores, e Fazenda Rio Grande (Paraná), com alta de 82,3%.

O agronegócio não movimenta apenas o campo. Com a renda gerada pelo plantio, toda a economia dos municípios produtores de alimentos se movimenta, puxando, sobretudo, o setor de serviços, com especial destaque para o comércio. O impacto também se irradia pelo setor público, que é obrigado a ampliar o quadro do funcionalismo para atender a demanda maior por serviços. É aí que reside o principal desafio das administrações: garantir que, com o afluxo maior de pessoas, as condições de vida que todos valorizam não se degradem. Saúde, educação, infraestrutura e segurança exigem cada vez mais investimentos.

Encravada na região, Brasília também se beneficia do potencial agrícola, registrando os maiores índices de produtividade de grãos por hectare do país. A cidade já é a terceira do Brasil em termos populacionais, atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro. É fundamental, portanto, que o Congresso mantenha os repasses para o Fundo Constitucional do Distrito Federal. Qualquer alteração na transferência de recursos por parte da União significará menor capacidade do governo local de garantir atendimento em hospitais, postos de saúde, escolas e bem-estar social. A geografia do Brasil mudou e isso deve ser levado em conta pelos gestores

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 Editorial Cultural FM Torres RS 30 de junho 23

Depois dos séculos ibérico, inglês e americano, preparem-se para o século asiático

O mundo gira, a Luzitana roda e tudo “dimuda”. No universo nada se cria, tudo se transforma, já dizia Lavoisier o Pai da Química moderna. Do pó ao pó, dizem as homilias sagradas quando um de nós sai da vida e vai para o reino encantado da História. Seus nomes, entretanto, ficam registrados em algum lugar. Os mórmons, por exemplo, se dedicam a juntar e reunir estas memórias muito bem guardadas em arquivos depositados debaixo de montanhas: Memória... Para os egípcios antigos deixar o nome registrado era uma obsessão. Na vida social é a mesma coisa. “Tudo di muda”... O mundo moderno veio à tona com as Grandes Navegações, amadureceu com o Iluminismo, construiu-se como um desdobramento do momento grego no Renascimento e na Revolução Industrial, amparado por um par de requisitos à ação: Razão e Liberdade. Sucederam-se como centros do mundo os Países Ibéricos, no século XVI, mas a Invencível Armada de Espanha foi derrotada pelos ingleses em 1585 que passaram a dominar um império onde o sol nunca se punha até o final da I Guerra Mundial em 1918. 

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A Armada Invencível (português europeu) ou Invencível Armada (em português brasileiro) (em castelhano: "Grande y Felicísima Armada"), também referida como "la Armada Invencible" (castelhano) ou "the Invincible Fleet" (inglês), com certo tom irônico, pelos ingleses no século XVI, foi uma esquadra reunida pelo rei Filipe II de Espanha em 1588 para invadir a Inglaterra. A Batalha Naval de Gravelines foi o maior combate da não declarada Guerra Anglo-Espanhola e a tentativa de Filipe II de neutralizar a influência inglesa sobre a política dos Países Baixos Espanhóis e reafirmar hegemonia na guerra nos mares.

A armada era composta por 130 navios bem artilhados, tripulados por 8 000 marinheiros, transportando 18 000 soldados e estava destinada a embarcar mais um exército de 30 000 infantes. No comando, o Duque de Medina-Sidônia seguia num galeão português, o São Martinho. No combate no Canal da Mancha, os ingleses impediram o embarque das tropas em terra, frustraram os planos de invasão e obrigaram a Armada a regressar contornando as Ilhas Britânicas. Na viagem de volta, devido às tempestades, cerca de metade dos navios se perdeu. O episódio da armada foi uma grave derrota política e estratégica para a coroa espanhola e teve grande impacto positivo para a identidade nacional inglesa – wikipedia

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Sobreveio a era americana dos arranha céus que acabariam apontando os Estados Unidos para o domínio dos ares. Agora o mundo se prepara para um salto de seu centro para o outro lado do mundo: A Ásia, dominada por países imensos como Índia e China. Será o século XXI, século asiático, oriundo de um Modo de Produção muito especial e de uma dinâmica ideológico-cultural distinta do Ocidente, mas nem por isso alheia aos seus feitos, sobretudo no campo tecnológico. Lá, Índia e China, cada qual com seus devires e derivas, a primeira mais mística e religiosa, com Buda como inspiração, a China mais filosófica e pragmática segundo os ensinamentos de Confúcio, disputarão importância na condução da civilização. Ainda é cedo para se saber qual das duas culturas se imporá neste processo mas já se sabe que serão âncoras do século que XXI e que o dito Ocidente, com todas as suas glórias, acabará abrindo-lhes espaço, oxalá por bem: um outro mundo, certamente menos concentrado do que os últimos 500 anos, tanto interna como externamente. Tudo indica que teremos, enfim, não a reconstituição da Aldeia Global unificada como imaginou Maculam nos anos 1970, mas um conglomerado de centros que configurarão uma geoeconomia despolarizada e uma geopolítica mais aberta a um verdadeiro concerto internacional de Nações livres e soberanas. Tudo por vir. “Tudo dimuda...” Ninguém é dono de ninguém, nenhum povo é eleito de Deus, nenhum país é portador de um Destino Manifesto que o faz Senhor do Universo. Viva a mudança. Viva a diferença!

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Anexo

Assis Moreira - O século dos asiáticos? = Valor Econômico- 

gilvanmelo.blogspot- Assis Moreira o seculo dos asiaticos 

Estados Unidos, com 4% da população mundial, geram 25% da produção global, posição mantida desde 1980, observa “The Economist”

Acompanhei recentemente a Beyond Expo 2023, uma das maiores exposições asiáticas de tecnologias de consumo, saúde e sustentabilidade, na região administrativa especial de Macau, China. Durante o evento, alguns membros da elite intelectual da Ásia manifestaram uma análise comum sobre rumos que o mundo pode tomar.

Kishore Mahbubani, ex-diplomata de Cingapura que foi presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (janeiro 2001-maio 2002) e é membro do Ásia Research Institute, deu o tom, não hesitando em listar “quatro certezas” futuras, em meio às turbulências atuais.

Para ele, a primeira certeza é que o século XXI será o século asiático, assim como o século XIX foi o século europeu, e o século XX foi o século americano. O século asiático será “um retorno à norma”, porque na maior parte do tempo as duas maiores economias do mundo sempre foram as da China e da Índia. “Os 200 anos de domínio ocidental na história mundial foram anormais”, insistiu.

Mahbubani acha que o Ocidente está “se preparando psicologicamente” para um século asiático, que terá o crescimento impulsionado pelo que chama de nova CIA - não a Agência Central de Inteligência, mas China, Índia e Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático, com dez países incluindo Indonésia, Malásia, Tailândia, Filipinas e Cingapura). Os países da CIA representam 3,5 bilhões de pessoas, ou 44% da população mundial.

Andrew Sheng, ex-banqueiro central, assessor-chefe da Comissão de Regulamentação Bancária e de Seguros da China e professor da Universidade de Hong Kong, observou que China e Índia responderam por metade do crescimento global em 2022. E previu que ao longo desta década o Japão pode crescer 2% ao ano, e a China, por volta de 4% (após de 12% no passado), enquanto economias da Asean, com 700 milhões de pessoas, deverão expandir de 5% a 8%. O motivo é o fluxo de dinheiro para essa região.

No ano 2000, apenas 150 milhões de pessoas na CIA pertenciam à classe média. Em 2020, o número cresceu para 1,5 bilhão, ou seja, aumentou nove vezes em 20 anos. A projeção é de que deverá dobrar para 3 bilhões em 2030. Essa classe média vai impulsionar esse crescimento.

A segunda certeza para Mahbubani é má notícia: a disputa geopolítica entre EUA e China ganhará força nos próximos dez anos. É impulsionada por uma “lei de ferro” da geopolítica, pela qual sempre que a principal potência emergente do mundo, que hoje é a China, ameaça ultrapassar a principal potência, que hoje são os EUA, a reação é forte. Ou seja, a confrontação tende a acelerar entre Washington e Pequim, com riscos reais para o mundo.

A terceira certeza é que a mudança climática está se acelerando. Basta ver o número de pessoas que passará para a classe média no século asiático. Quanto mais elas consomem, mais a emissão de gases-estufa aumenta.

A quarta certeza é que a ciência e a tecnologia continuarão a se desenvolver e a se fortalecer. E isso leva o analista de Cingapura à grande incerteza: se a humanidade será sábia para usar todos os dados disponíveis, toda a compreensão acumulada da ciência e da tecnologia para salvar o planeta. Em teoria, todos estamos nos tornando mais inteligentes.

Para Andrew Sheng, o mundo “foi dominado” pelo Ocidente com um paradigma que se expandiu a partir de uma pequena parte do mundo para colonizar o resto. Mas a situação está mais do que nunca abalada com o aprofundamento de desequilíbrios sociais, climáticos, desigualdade social, pessoas envelhecendo rapidamente e diferenças regionais, economias de crescimento rápido, economias de crescimento lento e algumas economias em colapso.

Para ele, a tecnologia é a solução para muitos dos desafios atuais. “Tecnologia é o conhecimento humano acumulado. Aqueles que não entendem de tecnologia correm o risco de serem deixados para trás”, repetiu ele. A solução, para Sheng, passa pela mudança no paradigma do poder mundial, explorando a interação entre filosofia, tecnologia e cooperação em um mundo em transformação. E nisso, acha que os asiáticos têm grande chance, por serem práticos e menos individualistas. Mahbubani completou dizendo-se “muito feliz” que o presidente chinês, Xi Jinping, tenha lançado o conceito de uma “comunidade com um futuro compartilhado”.

Jian-Wei Pan, diretor da Academia de Ciências da China, focou no progresso da China na computação quântica. Nela, as informações são codificadas usando bits quânticos (qubits), e o princípio da superposição pode ser usado para obter uma computação paralela ultrarrápida, resultando em aceleração exponencial. Cálculos que hoje demoram anos poderão ser resolvidos em alguns segundos, no futuro. Os computadores quânticos podem ser usados para resolver uma variedade de problemas em campos como criptografia clássica, previsão do tempo, análise financeira, design de medicamentos, sem falar do campo militar.

A Ásia se desenvolve, mas o poder da economia dos EUA está realmente em declínio? A revista “The Economist” observou que os EUA, com 4% da população mundial, geram 25% da produção global, posição mantida desde 1980, e nenhum outro grande país é tão próspero ou inovador.

Em artigo sobre as potências econômicas do futuro, também o professor Charles Wyplosz, do Geneva Graduate Institute, uma das melhores escolas de relações internacionais do mundo, considerou o declínio ocidental um mito. Exemplificou com os debates atuais sobre inteligência artificial, essencialmente impulsionada pelos EUA. As transformações em curso serão fonte de crescimento e de maior vantagem competitiva. A Europa segue de perto os americanos na tentativa de continuar na ponta da inovação em diferentes áreas científicas.

Para Wyplosz, salvo mudança radical, a economia chinesa vai simplesmente cessar seu “catch-up” (perseguição) em relação ao mundo rico, até em razão de ações de Xi Jinping para restaurar a supremacia do Partido Comunista chinês que resultam em desaceleração na abertura da economia.

Em Macau, um provérbio árabe em todo o caso foi repetido mais de uma vez: “Aquele que fala sobre o futuro mente mesmo quando diz a verdade”.

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 Editorial CULTURAL FM Torres RS – Dia 29 junho 23 

Censo 22 – Somos menos do que pensávamos

O IBGE anunciou, ontem, os primeiros resultados do Censo 22. A instituição, sua direção e funcionários merecem o aplauso dos brasileiros pelo empenho que tiveram para levar a cabo este Censo, atrasado dois anos pela pandemia e que quase não se realiza por falta de recursos. Parabéns. Os resultados apontam para um número de brasileiros – 203 milhões – menos do que as estimativas previam. Ainda não sabem as razões, algo que especialistas doravante se dedicarão . O importante é que agora temos dados atualizados sobre nós mesmos: quem somos, quantos somos, onde estamos. Aqui o importante é saber o tamanho da população no município em que moramos porque isso determina o valor das transferências constitucionais a que tem direito como RECEITA PRÓPRIA CONSTITUCIONAL: o Fundo de Participação dos Municípios – FPM. Quando compramos qualquer coisa os impostos federais e estaduais estão embutidos nos preços e comporão a Receita da União e Estados mas sobre estes montantes os municípios fazem jus a uma participação, que são importantes para a complementação de sua receita com os impostos municipais, atualmente IPTU e ISS. Isso vai mudar com a Reforma Tributária em curso no Congresso mas por ora e durante uma transição que durará mais de uma década esta informação sobre nosso tamanho é estratégica. Abaixo a transcrição de matérias de imprensa de hoje que ilustram os números do Censo 22.

ANEXO:

O Assunto g1 dia 30 de junho 23

Censo - o impacto da população crescer menos

O Brasil conheceu, depois de 12 anos, a resposta para a pergunta: quantos somos? Depois de ser adiado por dois anos devido à pandemia e a problemas orçamentários, o Censo foi realizado apenas em 2022 – e teve alguns de seus dados divulgados nesta quarta-feira (28) pelo IBGE. A descoberta mais importante é a contagem de habitantes: somos 203 milhões de brasileiros, um número quase 5 milhões abaixo das estimativas. Para explicar o que isso significa e destrinchar os dados disponíveis, Natuza Nery entrevista Suzana Cavenaghi, doutora em demografia pela Universidade do Texas (EUA) e ex-coordenadora, professora e pesquisadora da pós-graduação da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE. Neste episódio:

• Suzana chama a atenção para a menor taxa de crescimento populacional em 150 anos: “Daqui a pouco precisamos chamar de [taxa de] variação, porque ela vai ficar até negativa”. E projeta que já na próxima década não só o crescimento vai ser reduzido como a população total irá diminuir. “Vamos ter que ajustar a economia, a educação, o mercado de trabalho e o acesso à saúde”, reforça;

• Ela lamenta o “péssimo trabalho” feito pelo país nas últimas décadas de bônus demográfico. E aponta dois motivos: mercado de trabalho incapaz de absorver toda força produtiva e falta de investimento adequado para a educação. “O problema é que se passarmos a ser um país envelhecido antes de dar um salto à renda alta, nunca mais vamos conseguir isso”, afirma;

• A demógrafa comenta o baixo índice de resposta ao questionário do IBGE, um fenômeno que se repete em todo o mundo e demonstra a “exaustão das pessoas” em atender pesquisas. “Falta consciência de cidadania”, avalia. “[Responder] ajuda o país a se conhecer e a garantir o bom uso dos recursos públicos”.

 

O que você precisa saber:

Censo 2022: abaixo do esperado, Brasil tem 203 mi de habitantes// Migração: crise econômica, força do agronegócio e custo de vida// Demografia: 5% dos municípios concentram 56% da população//Cidades: os 10 que mais ganharam e mais perderam população//Estados: compare aumento da população ao longo das décadas

INFOGRÁFICO: consulte a população brasileira cidade por cidade

O podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Tiago Aguiar, Gabriel de Campos, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski, Guilherme Romero e Nayara Fernandes. Apresentação: Natuza Nery.

 

Censo: como a contagem da população influencia o planejamento das cidades - Lula sanciona lei que ameniza corte de repasses por perda populacional

 

 

Café da Manhã Podcast Folha Uol 

https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/06/podcast-debate-tendencias-indicadas-pelo-censo-2022.shtml 

Podcast debate tendências indicadas pelo Censo 2022. Menor ritmo de crescimento da população em 150 anos deverá ser analisado pelo IBGE


 Editorial Cultural FM Torres RS 28 de junho 23

Inegebilidade de Bolsonaro em curso no TSE

 

Relator vota no TSE para tornar Bolsonaro inelegível; julgamento retorna na quinta g1 - Corte eleitoral julga se Jair Bolsonaro cometeu abuso em reunião com embaixadores; análise foi suspensa. Outras 15 ações de investigação podem levar à inelegibilidade do ex-presidente.

 

Parlamentares governistas e da oposição acusam coronel de mentir em CPI: 'Não convence ninguém' g1 - Militar Jean Lawand Júnior prestou depoimento em razão de mensagens com tom golpista enviadas a Mauro Cid. À comissão, ele negou pressionar por golpe e disse que queria fala de Bolsonaro após eleição para 'apaziguar' país.

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Bolsonaro. Indícios disso, aliás, são os comportamentos de seus bons seguidores, começando pelo seu ex Ministro da Justiça, A. Torres e ex ajudante de Bolsonaro está a um passo de ser removido da vida pública no Brasil. Ontem, o relator do seu processo no TSE, Benedito Gonçalves, leu durante três horas e meia as razões de seu voto favorável à condenação do ex presidente. O ex presidente, a se confirmar pelo plenário o voto do relator, ficará inelegível por oito anos o que, dada a sua idade o exclui de um provável retorno às eleições. Restar-lhe-á, doravante, o papel de cabo eleitoral da direita, vestindo um papel de vítima das instituições supostamente aliadas à Lula e à esquerda. Narrativa. Ainda tentará, por certo, situar seus diletos filhos neste espectro ideológico que tenderá a se mover mais ao centro com personalidades como os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Tem início, pois, a dinâmica do “ bolsonarismo” sem ordens, ainda preso, Cel Mauro Cid, como também outros defensores da INTERVENÇÃO MILITAR, como o Cel. Lawande que ontem compareceu à CPI do Congresso sobre os fatos e responsabilidades do 8 de janeiro, todos eles negando a defesa que fizeram do golpe antidemocrático. Este, aliás, ontem, provocou até unanimidade de governistas e oposicionistas neste CPI pela desfaçatez com que procurou se safar das próprias palavras gravadas no celular do Cel. Cid. Humilhou a instituição que representa ao não assumir com coragem o risco a que suas convicções o levaram. Será certamente punido, talvez com expulsão do Exército, como aliás, já o foi o próprio Bolsonaro. “Maus soldados”, diria o General Geisel, vivo estivesse. Vergonha! Importante, aliás, que se diga que a partir do Grande Chefe, que também se esconde de suas ameaças à democracia, agora na planície (do foro) dos mortais, o golpe não foi perpetrado no Brasil – e que certamente teria curta vida no poder usurpado – pela pusilanimidade de seus maiores defensores. Estimularam a saída às ruas de populares insuflados, deixando-os no sereno da Justiça. Hoje, mais de 1.300, mais de cem presos, respondem por seus atos terroristas no 8 de janeiro, enquanto eles se escondem com narrativas e evasivas. A DEMOCRACIA venceu. O Brasil voltou! A condenação dos golpistas é oportuna e necessária, começando pela de Bolsonaro pelo “conjunto da obra”, como ele próprio admitiu. 

Anexo: 

Merval Pereira - Punição necessária

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../merval-pereira...

O Globo

Desacreditar o processo eleitoral é um claro passo na direção do golpe pretendido, que mais adiante ficou explícito, tanto nas minutas golpistas quanto nas ações de 8 de janeiro

É possível discutir se o fato de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter aceitado incluir no processo contra Bolsonaro a minuta do golpe encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres significa uma mudança de jurisprudência para prejudicar o ex-presidente. As mudanças constantes no pensamento do Supremo, variando de acordo com as circunstâncias de momento, são prejudiciais ao papel que a mais alta Corte do país tem exercido, de fato, na defesa da democracia.

É o caso específico de Bolsonaro, que, como vimos em diversas evidências, seria uma ameaça à democracia se reeleito. O indiscutível, no entanto, é que, mesmo sem o acréscimo, a situação de Bolsonaro não se sustenta diante da realidade de ter reunido o corpo diplomático para falar mal das urnas eletrônicas.

Bolsonaro há algum tempo trocou os ataques frontais aos tribunais superiores pela lamentação retórica de que é perseguido. Em sua defesa, seu advogado argumenta que merecia no máximo uma multa, já admitindo que houve infração naquele encontro. Se a discussão parte do princípio de que o então presidente cometeu um erro ao chamar ao Palácio da Alvorada embaixadores para relatar críticas às urnas eletrônicas, passa a ser uma questão subjetiva o tamanho da punição.

Ele alega que a minuta do golpe não poderia ter sido inserida no processo, mas há uma explicação técnica do TSE para isso: o documento é desdobramento da acusação original, e não uma prova nova. Mas a apresentação aos embaixadores seria, por si só, suficiente para puni-lo com a inelegibilidade, porque ele exorbitou do poder político em causa própria. O detalhe de que reuniu representantes estrangeiros para falar mal do país que dirigia só acrescenta ao delito cometido a infâmia.

Desacreditar o processo eleitoral é um claro passo na direção do golpe pretendido, que mais adiante ficou explícito, tanto nas minutas golpistas quanto nas ações de 8 de janeiro. Não é preciso ter nenhum documento assinado por Bolsonaro falando de golpe para entender que a linha do tempo em que a reunião dos embaixadores está inserida passa por diversos fatos estimulados, ou convocados, por ele. Eles incluem não apenas a minuta encontrada nos guardados de Anderson Torres, mas também documentos registrados no celular do tenente-coronel Mauro Cid no mesmo sentido, sinal de que o tema era frequente nos círculos do poder bolsonarista.

Mesmo com tantos indícios, acredito, no entanto, que Bolsonaro poderá ter sucesso na manobra de se dizer perseguido. Seus seguidores não têm visão crítica, ou por acreditar em tudo o que diz, ou por achar que é benéfico para a causa da direita. Não creio que mude muito o fato em si. Ele ficará inelegível e terá de atuar como cabo eleitoral. Será seu papel nas próximas eleições.

Bolsonaro agora está visitando futuros aliados para uma possível reação partidária nas eleições, mostrando força política, tentando eleger muitos prefeitos e vereadores. No papel de vítima, como estima Valdemar Costa Neto, o dono do PL, poderá eleger mais vereadores e prefeitos que na situação atual. Na verdade, é mais útil aos seus no papel de perseguido político, pois a direita civilizada espera ampliar o eleitorado sem ele, que manterá a liderança entre os radicais da extrema direita.

A provável condenação de Bolsonaro será exemplar para outros líderes políticos não usarem a Presidência como trampolim para campanhas eleitorais não permitidas por lei. Servirá de alerta para todos os mandatários que pensem em usar seu poder para influenciar eleitores. Não puni-lo, ou puni-lo simbolicamente com multa, será um sinal de leniência não compatível com o nível de risco em que ele colocou a sociedade brasileira.

 

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 Editorial Cultural FM Torres RS 27 de junho 23

O saldo negativo do Governo Bolsonaro

O ex Presidente Bolsonaro estará com seu futuro comprometido caso venha a ser condenado à inegebilidade pelo Superior Tribunal Eleitoral nesta semana. Considera-se, entretanto, desde já, perseguido pela Justiça, no entendimento dele e seguidores, em conluio com os interesses do lulo-petismo. Independentemente do resultado e consequências do processo do TSE, sempre sujeito à estigmatização pelos bolsonarista, o que deveríamos analisar e julgar é o próprio governo Bolsonaro entre 2019 e 2022. O mínimo que se pode dizer é que foi uma tragédia, começando pelo colapso de quatro setores importantes para a sociedade: Meio Ambiente, Educação, Saúde e Cultura. Em todas estas áreas verificou-se a desmontagem interna de planejamento, gestão e fiscalização sob o comando de Ministros e Secretário, no caso da Cultura, não só estranhos às respectivas pastas, como avessos aos seus objetivos do ponto de vista dos interesses sociais aí envolvidos. O General Pazzuelo, quando Ministro da Saúde, chegou a afirmar que não conhecia o SUS. Ora, o SUS, com seus mais de trinta mil postos ao longo do país é a espinha dorsal das políticas de saúde pública. Ricardo Salles, que saiu do Ministério do M. Ambiente acossado por envolvimento com traficantes de madeira ilegal, ficou famoso por ter defendido, em reunião Ministerial no começo do Governo, que “deveríamos aproveitar (a pandemia) para passar com a boiada” sobre a Amazônia. Na Educação, houve uma sucessão de Ministros aloprados preocupados com o que denominavam “marxismo cultural” nas Escolas e Universidades, para não falar do escândalo dos pastores com trânsito livre no Gabinete Ministerial encarregados de distribuir verbas para comunidades de seu interesse com divulgação de Bíblias com a foto de um dos Ministros. Horrores, enfim, de uma gestão tão improdutiva quanto retrógrada. A Administração Federal foi sumariamente sucateada, o que levou, agora, à abertura de concursos para o preenchimento de 10 mil vagas em aberto. 

Mas agora se conhecem, também, os resultados econômicos e financeiros da gestão Bolsonaro. O PIB praticamente rastejou no período, com perda na posição do Brasil no ranking internacional, passando para 12º. Lugar e redução da renda percapita dos brasileiros, simultânea à grande fuga de capitais e cérebros no período. Deixou, também, internamente, um rombo fiscal de R$ 400 bilhões no ano passado, cujas consequências se refletem no ano em curso imobilizando a gestão orçamentária do atual Governo. Recentes notícias dão conta, também, do aumento considerável das despesas do Governo no ano passado, mesmo sem aumento de salários a servidores, nem preenchimento de vagas correspondentes a aposentados: A Despesa Total do Governo Central passou de 30,7 para 32,7%. Veja-se

 

• Despesa do Governo Central em relação ao PIB sobe de 30,7% em 2021 para 32,7% em 2022.

 

• Investimento bruto atingiu R$ 20,1 bilhões no ano, sendo 32,2% dessa execução na função Defesa.

 

• Publicado em 23/06/2023 11h00.

 

Entre 2021 e 2022, a despesa total do Governo Central passou de 30,7% para 32,7% do Produto Interno Bruto (PIB), influenciado principalmente por maiores despesas com juros da dívida pública e aumento nas transferências entre os diferentes níveis de governo. Em valores correntes, a despesa passou de R$ 2,73 trilhões em 2021 para R$ 3,246 trilhões em 2022 (variação nominal de +18,9%).

 

Os dados fazem parte da edição relativa a 2022 do Boletim de Despesas por Função do Governo Central (Cofog), publicação anual de estatísticas fiscais elaborada pelo Tesouro Nacional em parceria com a Secretaria de Orçamento Federal, seguindo a metodologia estabelecida pelo Manual de Finanças Públicas do Fundo Monetário Internacional (FMI) (Government Finance Statistics Manual 2014 – GFSM 2014).

 

No período analisado, a função que apresentou aumento mais expressivo em relação ao PIB foi a despesa do Governo Central com serviços públicos gerais, que passaram de 11,76% em 2021 para 13,74% do PIB em 2022. Em valores correntes, essa função apresentou acréscimo nominal de 30,2% no ano, passando a representar 42% da despesa total em 2022.

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 Editorial Cultural FM Torres RS 26 de junho 23

Capas dos grandes jornais do centro do país.

O GLOBO – Crescem oferta e demanda por imóveis até 30 metros. Apartamentos ganham versões sofisticadas em bairros de classe média e alta e atraem por proximidade a trabalho

O ESP – Pressão das big techs no Congresso por 14 dias segurou PL das fake news. Estadão investigou por dois meses e mapeou a pressão.

FSP – Plano Diretor de São Paulo leva mais moradias a bairros mais caros

ZH – Número de adolescentes na Fase cai 69% em quatro anos no Estado. Eram 1252 em maio de 19 contra 385 neste ano. Especialistas citam o mérito de Políticas Públicas de prevenção ao ingresso de menores no crime mas também alertam para um fator brutal: Muitos morreram nas guerras entre facções

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O Assunto g1 dia 26 de junho 23 

Paulo Pelegrino tem 61 anos, e viveu os últimos 13 sob contínuos tratamentos para se livrar do câncer. Em 2023, conseguiu. Durante 1 mês, Paulo foi submetido a uma terapia experimental que está sendo desenvolvida e aplicada no Brasil pela USP, em parceria com o Instituto Butantã e o Hemocentro de Ribeirão Preto. Trata-se da CAR-T Cell, tecnologia celular aplicada em alguns pacientes na Europa e nos EUA - lá, o tratamento custa cerca de R$ 2 milhões; aqui, o SUS irá disponibilizá-la gratuitamente assim que for aprovada pela Anvisa. Paulo relata a Natuza Nery o que ele passou nos últimos anos. Participa também o médico Dimas Covas, diretor do Hemocentro de Ribeirão Preto, professor da USP na mesma cidade e coordenador do Centro de Terapia Celular da instituição. Neste episódio:

Paulo conta o que sentiu ao ver as imagens de seus exames antes e depois da terapia: a primeira mostra um corpo tomado por tumores, e a segunda “era como se tivessem passado uma borracha naquilo”. “A ficha não caiu ainda”, celebra;

Para Paulo, o desfecho de sua história é uma “ressureição”. Ele diz se sentir “envaidecido” de ter sido um dos 14 pacientes cobaia deste experimento, realizado gratuitamente pelo SUS e que devolve às pessoas “a crença na ciência e a esperança na cura”;

Dimas Covas explica o que é a terapia CAR-T Cell e descreve seu funcionamento: as células T do paciente são extraídas e, no laboratório, são modificadas geneticamente para perseguirem e atacarem as células cancerígenas. De volta ao corpo, ele afirma, “essas células conseguem em 15 a 20 dias destruírem completamente o tumor”;

Ele anuncia que “o próximo desafio é levar o tratamento aos pacientes do SUS”. Para isso, o primeiro passo é registrar a terapia na Anvisa e, depois, “em um prazo máximo de um ano e alguns meses” poderemos ver este tratamento disponibilizado no SUS. “O CAR-T Cell será a nova fronteira do tratamento de câncer em geral”, conclui.

 

O que você precisa saber:

Paulo: Paciente com câncer há 13 anos tem remissão completa// Car-T Cell: veja terapia experimental celular contra câncer// Unicamp: projeto pioneiro no Brasil da terapia CAR-T Cell// Anvisa: aprova terapia genética para tratamento de câncer// São Paulo: produção em larga escala de terapia genética// Dimas Covas: responde a perguntas sobre terapia experimental

O Podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Tiago Aguiar, Gabriel de Campos, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski, Guilherme Romero e Nayara Fernandes. Apresentação: Natuza Nery.


 Editorial Cultural FM Torres RS 23 de junho 23

Para entender os anos 19/22: Sociologia do bozo-nazismo

 

Paulo Brondi, Promotor de Goiás, faz um resumo do que é o 'bolsonarismo'

Promotor-de-goiás-faz-um-resumo-do-que

BOLSONARISMO: Gramática e Literatura

ASSISTA AQUI

 

O FUTURO DO BOLSONARISMO – Nov. 28 /2022 -BBC

O futuro de Bolsonarismo

Bolsonaro, uma história que teremos vergonha de contar - Por Ivan Lago

2020 – Central de jornalismo- Bolsonaro-uma-historia-que-teremos-vergonha-de-contar-por-ivan-lago

Bolsonarismo – Coletânea Paulo Timm org. 

https://files.comunidades.net/torrestv/Bolso_narismo.pdf 

 

 

Começou, ontem, no TSE, o julgamento do ex Presidente Bolsonaro, com eixo em sua convocação a Embaixadores para denunciar o sistema eleitoral eletrônico do Brasil, que poderá leva-lo a inelegibilidade por oito anos. Isso significa o fim político do ex presidente, bastante isolado desde que perdeu o poder da caneta. Ontem, em sua chegada em Porto Alegre, nenhuma apoteose, nem motociatas, nem delírios de multidões. Sequer um “cercadinho”. Os especialistas discutem o mérito da ação provocada pelo PDT contra Bolsonaro e sustentada pelo Ministério Público Federal. Para o Advogado de Defesa dele, é incabível a ação porque sequer estávamos em período eleitoral. Muitas ações, entretanto, entram na pauta da Justiça Eleitoral justamente porque se referem a ações feitas fora da campanha. O eixo, na verdade, da ação em curso, no caso, é abuso de poder no exercício do cargo e uso indevido da rede pública de comunicação no interesse pessoal, isto é, divulgação de denúncias, sem provas, do sistema eleitoral brasileiro. Tudo indica que Bolsonaro, portanto, dificilmente escapará. Restar-lhe-á o jus esperneandi, já presente na sua exigência de que o TSE use no seu caso as mesmas regras que conduziram o julgamente da chapa DILMA-TEMER em 2014. Ora, na Justiça, cada caso é um caso. E o abuso de Bolsonaro no comando do país e seus exageros verbais, para não falar, conceituais, sempre à revelia da ciência e das regras democráticas, como no caso do combate ao COVID, forem evidentes. 

Trata-se, agora, de ver como funcionará e quais as perspectivas da direita no Brasil sem o MITO. Indícios já verificados na votação de ZANIN no Senado demostram que seus seguidores já procuram um caminho mais ameno, em busca da normalização institucional no país. O líder da Oposição no Congresso, Rogério Marinho, neto do histórico Senador Josepha Marinho, ex Ministro de Bolsonaro, que queria uma atitude mais forte no Senado contra Zanin, ficou praticamente isolado. Políticos, enfim, não gostam do suicídio. No caso, procuram a sobrevivência. Ou como dizia o Mestre do Suspense no Cinema, Alfred Hitchkock:

“Nem um assassino vive apenas de seus assassinatos. Ele precisa de algum carinho, abrigo e um prato de comida quente quando chega em casa”.

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 Editorial Cultural FM Torres RS 22 de junho 23

Um novo Ministro do Supremo à vista

O Senado aprovou, ontem, com larga margem, a indicação do Advogado Zanin para o Supremo por 58 x1u votos. Até o Senador Flavio Bolsonaro enalteceu Zanin almejando que ele leve para a mais Corte do país o senso de justiça e a defesa da Constituição. Os bolsonaristas aliás, mesmo sem contestar Zanin, preferiram evitar o que poderia ser uma vitória estrondosa. Na verdade, todo mundo, agora defende a Constituição esquecendo-se que durante 4 anos tivemos ataques sistemáticos contra as instituições, culminando no estímulo à intolerância que resultou no 8 de janeiro. O futuro Ministro é um advogado de ofício o que enaltece todos estes profissionais que dedicam sua vida à defesa dos direitos inalienáveis do cidadão, sem desdouro, naturalmente, a outros profissionais do Direito, como Defensores, Procuradores e Juízes das várias instâncias do Sistema Judiciário. Zanin é um paulista do interior do Estado, que guarda na sua atuação o cuidado com os valores caros à classe média tradicional, moderadamente conservador mas vigoroso “garantista”, isto é, defensor das garantias legais de todo e qualquer cidadão brasileiro na forma da Lei. Por isso mesmo, recebeu uma aprovação quase unânime do Senado, colocando-se acima das divergências ideológicos e prometendo independência frente aos interesses do Presidente que o indicou ou mesmo do Poder que ele chefia.

Da reunião da CCJ, entretanto, prévia à apreciação pelo 

Plenário do Senado, ficou a péssima impressão deixada pelo Senador Sérgio Moro, ex Juiz da Lava Java, contra quem Zanin, na defesa de Lula, se confrontou no duro processo que o levou à prisão. Todos sabem, hoje, que deste processo, apesar dos revezes, Zanin consagrou-se vencedor conseguindo a anulação de todas as sentenção proferidas pela Lava jato contra Lula. Hoje, mais uma vitória na sua condução ao Supremo, cargo sonhado por Moro hoje definitivamente soterrado. 

Moro tentou constranger Zanin, embora sem agressividade, com 14 questões, quase todas de uma notória platitude jurídica. Destaco três delas:

Indagou, primeiro, com base em informação das Redes, se Zanin, por ter sido padrinho do recente casamento de Lula com Janja, não ficaria dependente do Presidente. Bola fora. Zanin simplesmente negou o fato e ainda afirmou que não priva com Lula, tanto que só o viu desde que voltou à Presidência, no dia em que o Presidente o convidou para o Supremo.

A segunda questão de Moro foi relativa ao uso de provas ilícitas em processos judiciais. Zanin respondeu sem agressões, que até caberiam, eis que foi Moro quem recorreu a tais expedientes ao longo da lava jato, em conluio com Deltan Dalagnol, de forma simples: provas ilícitas servem para absolver, jamais para condenar um réu. Outra bola fora de Moro.

A terceira questão de Moro a Zanin foi a indagação se ele se omitiria de julgar empresas e outros envolvidos na lava jato. Zanin aí foi didático. Deu a Moro uma lição de Direito Processual dizendo que não é a etiqueta, mas os autos do processo, que informam sobre cada caso de suspeição. Irá ler estes autos...

Saindo da sala, diante do vexame a que ficou exposto diante da Nação e vergonha do Senado, Moro, no seu isolamento político e pessoal cada vez mais evidente só uma declaração a fazer à imprensa: “Fiquei desconfortável com as respostas do Dr. Zanin”.

O Brasil, enfim, parece que “voltou” mesmo. Os procedimentos legais quanto á indicação de Zanin foram preenchidos, as sessões do Senado, tanto da CCJ quanto do Plenário foram tranquilas, o novo Ministro do Supremo será brevemente empossado. Até o fim do ano, nova substituição deverá acontecer. Espera-se de Lula, então, a indicação de uma mulher. Mulher negra... 

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 Editorial Cultural FM Torres RS 21 de junho 23

11,5 milhões de jovens meio perdidos-21 jun

O número de jovens entre 15 e 29 anos, no Brasil, que não trabalham nem estudam é alarmante: 11,5 milhões. Veja-se, acima, o título de recente matéria de O ESTADO DE SÃO PAULO, merecedora, aliás, de elogios. Pouco se lê na Mídia sobre estes jovens. Pergunte-se, a propósito, a qualquer Prefeito se sabem o número de jovens em sua cidade nesta condição NEM NEM e talvez a maior parte deles nem saiba do que se trata...Estes jovens, em princípio, deveriam estar na Escola, preparando-se para uma inserção digna na sociedade política e na economia. Mas, oriundos de famílias mais pobres, acabam abandonando os estudos em busca de auxílio em casa e, ao final, nem estudam, nem trabalham. Em países como CORÉIA DO SUL o índice desta faixa etária na Escola é superior a 90%. No Brasil, dificilmente passa de 15%. Calculando-se, por alto, a participação deste segmento na população brasileira de 220 milhões, na ordem de 20%, teríamos em torno de 44 milhões de jovens, os quais estão na População Economicamente Ativa mas praticamente fora da Força de Trabalho efetiva, de 105 milhões de brasileiros. A questão é que estes jovens ficam fora das Políticas Públicas de apoio às famílias carentes, como o BOLSA FAMÍLIA, pois são adultos e tomam decisões por conta própria. Governos de Estado e Prefeituras deveriam velar por eles, identificando-os, acompanhando-os em seus primeiros passos no mundo, formulando Políticas Públicas específicas para eles, como orientação especial para os diversos aspectos da vida. Administrações Municipais, entretanto, não se sentem comprometidas com esta Agenda. Custam a compreender que tanto a realidade estrutural no país, com 120 milhões ganhando até um salário mínimo, sendo que, destes, 50 milhões vivam com meio mínimo e 20 com menos de dois dólares por dia, como as mudanças tecnológicas e da comunicação social estão a exigir novas missões no campo do Emprego e da Renda. Suas Secretarias de Ação Social se limitam, mais das vezes, à gestão de programas federais como distribuição de cestas e promoção de ajuda emergencial, não raro “sopões”. A realidade, porém, exige mais. Exige conhecimento da realidade social de cada municipalidade, acompanhando das populações vulneráveis como moradores de rua, jovens NEM NEM, idosos etc. Um caminho difícil, mas cada vez mais indispensável. Um filme colombiano, no entanto, país que inaugurou a criação de Bibliotecas Parque como espaços de convivência juvenil com acesso à cultura e Internet, como medida de combate às drogas e delinquência juvenil, nos traz, agora, um interessante filme sobre o tema da juventude. Vejamos:

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Filme mostra a perversidade capitalista contra a juventude trabalhadora

Longa colombiano “Os Reis do Mundo” em cartaz na Netflix retrata a luta da juventude marginalizada contra a opressão do capitalismo

O filme colombiano, Os Reis do Mundo (2022), dirigido por Laura Mora Ortega (Matar Jesus), tem como tema principal a perversidade do capitalismo sobre a juventude da classe trabalhadora. Em cartaz na Netflix o longa conta a saga de cinco adolescentes moradores de rua em Medellín, uma das maiores cidades da Colômbia.

Com roteiro de Laura e Maria Camila Arias, a trama mostra a dificuldade enfrentada pelos meninos analfabetos, sobrevivendo como podem na marginalidade, à base de pequenos delitos com todos os riscos das ruas de grandes cidades. Quando um deles recebe um documento do governo sobre um pedaço de terra deixada por sua avó. Essa terra transforma na utopia dos garotos como uma grande chance de mudar de vida.

Começa a peregrinação ao destino com os cinco amigos, Rá (Carlos Andrés Castañeda), Culebro (Davison Florez), Sere (Brahian Acevedo), Winny (Cristian Campaña) e Nano (Cristian David Duque), enfrentando todo o tipo de agressões pelo caminho.

O filme colombiano, Os Reis do Mundo (2022), dirigido por Laura Mora Ortega (Matar Jesus), tem como tema principal a perversidade do capitalismo sobre a juventude da classe trabalhadora. Em cartaz na Netflix o longa conta a saga de cinco adolescentes moradores de rua em Medellín, uma das maiores cidades da Colômbia.

 

Com roteiro de Laura e Maria Camila Arias, a trama mostra a dificuldade enfrentada pelos meninos analfabetos, sobrevivendo como podem na marginalidade, à base de pequenos delitos com todos os riscos das ruas de grandes cidades. Quando um deles recebe um documento do governo sobre um pedaço de terra deixada por sua avó. Essa terra transforma na utopia dos garotos como uma grande chance de mudar de vida.

 

Começa a peregrinação ao destino com os cinco amigos, Rá (Carlos Andrés Castañeda), Culebro (Davison Florez), Sere (Brahian Acevedo), Winny (Cristian Campaña) e Nano (Cristian David Duque), enfrentando todo o tipo de agressões pelo caminho.

O filme aponta a necessidade de um olhar sobre as pessoas que vivem do trabalho, seja no campo ou na cidade para ao menos diminuir a sofreguidão. E mais ainda de como é essencial cuidar das crianças e dos adolescentes para que haja possibilidade de mudança. Por mais clichê que isso pareça, não o é, porque “ao vivo é muito pior”, como canta Belchior (1946-2017), em Apenas um Rapaz Latino-Americano.

Toda a situação da Colômbia, agora pela primeira vez com um governo de esquerda, está em cena com a violência do narcotráfico, por muito tempo ancorado pelo Estado colombiano e a luta por terra, trabalho e pão de quem só conta com a sua força de trabalho, em meio a tanto desmando e opressão.

Pelo encadeamento do filme vislumbra-se a importância de políticas públicas para valorização da educação, da cultura, do esporte, da saúde e de tudo o que as pessoas precisam para viver bem. Afinal a juventude só quer levar a vida do seu jeito, em liberdade e sem medo.

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 Editorial Cultural FM Torres RS 20 de junho 23

Juros altos e endividamento paralisam economia e traumatizam famílias

Endividamento das famílias faz saques na poupança superarem depósitos em R$ 6 bilhões no mês de março – g1 = Endividamento da população faz saques na poupança superarem os depósitos em R$ 6 bilhões no mês de março O aperto no orçamento... 

Dívida pública sobe em abril e atinge R$ 6,03 trilhões, diz Tesouro/ ...) a Secretaria do Tesouro Nacional. Em março, o endividamento estava em R$ 5,892 trilhões. A dívida pública federal é a contraída... — ... com impostos e contribuições. Os valores incluem o endividamento no Brasil e no exterior. Porém, a maior parte da dívida brasileira... 

Inadimplência com bancos e cartões representa 30% dos endividamentos

Média de endividamento dos catarinenses atinge 51% = Média de endividamento dos catarinenses atinge 51%  

Endividamento atinge a maioria das famílias 

Cresce índice de endividamento de famílias

Renegociação de dívidas = Com alta do endividamento em Santa Catarina, consultora financeira esclarecer como deve funcionar programa de renegociação de dívidas

Endividamento de bares e restaurantes preocupa setor no RS = Pesquisa aponta que 8 em cada 10 estabelecimentos estão com dificuldades para pagar empréstimos.

Endividamento causa impactos emocionais: Psicóloga dá dicas de como lidar. Endividamento causa impactos emocionais: Psicóloga dá dicas de como lidar                                                                            

A questão dos altos juros no Brasil chegou ao paroxismo. A dívida pública aumenta em razão do maior custo de sua difícil rolagem, os Bancos chiam, as empresas estão em risco e as famílias, cada vez mais endividadas, em verdadeiro choque psicológico. Nesta semana o órgão responsável pela definição dos juros, o COPOM, se reúne e já transpiram rumores de que não baixará a Taxa Básica, SELIC. Que fazer? Do ponto de vista legal, a autonomia do BANCO CENTRAL, aprovada no Governo Bolsonaro, dá ao Banco o poder de definir a Política Monetária que tem nos juros estratégica alavanca. Para o Banco Central do Brasil, ao contrário dos Bancos Centrais dos países centrais, a ameaça de inflação, provocada por pressões de DEMANDA, ainda persistem no Brasil e exigem “sacrifícios”. As reclamações, entretanto, que começaram com o Presidente Lula, se alastram e colocam em cheque o Presidente do Banco Central, Campos Neto. Ontem foi a vez de uma importante economista, insuspeita de ser de esquerda ou lulista, se manifestou e afirma categoricamente: “O Banco Central está atrasado”. Vejamos:

Banco Central está atrasado na queda de juros, analisa Monica de Bolle.

Mercado financeiro só prevê redução de juros a partir de agosto, o que reduz capacidade de pagamento da população e das empresas. Em entrevista a Natuza Nery, a economista Monica de Bolle avalia por que o BC brasileiro "já está atrasado" no processo de redução dos juros, levando em consideração o quadro interno e diz que a postura de "extrema cautela" pode prejudicar a economia do país.

"A gente sabe que as famílias brasileiras estão endividadas, que as empresas brasileiras estão endividadas e que essa taxa de juros é danosa para as empresas e famílias", diz.

Mônica ainda adianta que a redução da taxa de juros não deve acontecer nesta semana. Ela ressalta a necessidade de comunicação prévia, via atas do Copom, e o “cenário turvo” que os bancos centrais de todo mundo enfrentam diante da resistência da inflação nos países desenvolvidos.

"O Banco Central faz parte do governo. Acho que ás vezes isso é esquecido no Brasil", destaca. "Na tentativa de preservar sua independência o Banco Central só resolveu tomar uma atitude um tanto extrema de fincar o pé nessa Selic de 13,75%, e assegurar que só ia mexer na taxa quando lhe conviesse, para não dar a impressão de que estava fazendo uma redução de juros porque havia pressões vindo de outras partes do governo. No Brasil, isso teve uma importância enorme, o que no final das contas é um grande infortúnio para nós."

Ouça a entrevista completa no Podcast.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 19 JUNHO 23

 

JUNHO VIOLETA: DEFESA DOS IDOSOS

O Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa

  

A ser observado em 15 de junho de cada ano, foi instituído em 2006 pela Organização das Nações Unidas e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa. As campanhas têm como objetivo conscientizar e combater a violência contra a pessoa idosa.

 

É importante lembrar que existem diversos tipos de violência, tais como:

• Abandono

• Violência física

• Violência psicológica

• Violência patrimonial

• Negligência

• Violência Institucional

• Abuso financeiro

• Violência sexual

• Discriminação

 

Escrevi, a propósito, há três anos, em minha coluna A FOLHA, Torres, o que segue – pouco teria a acrescentar: 

Todo mundo já sabe do Outubro Rosa, mês de conscientização sobre o câncer de mama, movimento internacional com vistas ao controle do câncer de mama; foi criado no início da década de 1990. Sabe, também, do novembro azul , maior campanha, igualmente global, sobre câncer de próstata e a saúde do homem. Mas poucos ouviram falar do JUNHO VIOLETA, mês consagrado à luta contra a violência sobre os idosos, numa projeção do dia 15 deste mês, dedicado, no mundo inteiro, com apoio da ONU, à causa.

Como quase tudo relativo à velhice, poucas autoridades governamentais mencionaram o fato. Li, estarrecido, outro dia, no Facebook, que uma das Secretárias do (então) Ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou ingenuamente à imprensa sua impressão a respeito da vulnerabilidade da terceira idade diante do COVID-19: - “Até acho bom porque assim alivia o déficit da Previdência”. Meu Deus! Imagine-se onde ela não terá ouvido tamanho disparate? Pouca coisa, também, na Imprensa. E fico me perguntando: Onde andam os Conselhos Municipais do Idoso? O que terá sido feito do respectivo Conselho Nacional que deveria ter sido mobilizado, desde os primeiros casos de COVID, como importante instrumento de informação e mobilização deste segmento da população? Não sei. Ninguém sabe. Uma cortina de silêncio isola a terceira idade em sua vulnerabilidade e solidão. Falemos dela, começando pelo grande equívoco que veio à tona com a Reforma da Previdência: “Os idosos são um ônus.” E arrematam com arrogância: “Que recai sobre o maior bônus da sociedade que são os jovens”. Daí ao preconceito, um pulinho.

Comecemos, pois, por aí: o ônus.

O que move o cosmos, o planeta, a vida e sua luta pela sobrevivência e reprodução? Por certo, a energia. Logo, ao perder a energia, o Homem perde capacidade de trabalho. Ao final da vida é, literalmente, carregado. Em algumas culturas, sempre muito primitivas, (quando) o fardo fica muito pesado, é deixado aos ursos. Isso, porém, como tudo, tem que ser visto in flux, como gostava de dizer Florestan Fernandes. Mais do que na natureza, os fatos sociais não são só explicados, são interpretados. O empirismo, tão ao gosto do pensamento anglo-saxão, graças ao qual desenvolveu-se a Física não esgota as Ciências Humanas -(somos feitos de histórias...). Precisamos de Descartes e Hegel, sobretudo o último, ao introduzir sobre a realidade a ideia de processo. Então, este velho alquebrado que hoje engrossa a pirâmide etária, onerando, como diz a Secretária do Guedes, a Previdência, já foi moço e, como tal, ajudou a colocar um tijolinho na obra histórica do Economia. Em termos técnicos, por anos a fio contribuiu, com sua energia, em forma de trabalho, para o incremento de produtividade do sistema onde atuou. Graças a isso, a quantidade de produto por homem ocupado, nesta economia, elevou-se, o que se traduz, no mundo moderno por índices mais elevados de salário e renda per capita, qualidade de vida (IDH), esperança de vida, além dos confortos da tecnologia. O idoso foi, portanto, decisivo para que as atuais gerações vivam a vida que vivem – (e ganhem o que ganham). Se hoje ele é improdutivo, há que se convir que não foi inútil. Muito se confunde, a propósito “aposentaria”, regulada pelo instituto da previdência, de “beneficio continuado”, destinado a pessoas sem condições de trabalhar, na forma da Lei Orgânica de Assistência Social, esta , sim, uma transferência de renda por improdutividade estrutural. Tem direito, pois, o idoso, ao reconhecimento social, na forma de aposentadoria e apoio, que por ser oneroso é transferido (parcialmente) para o Estado. Como o Estado vai financiar esta conta é uma questão de razão consensual na sociedade e não um assunto de “peritos contadores”. Aqui, uma observação pertinente dos Psicólogos: A questão da velhice não deve ser vista do ponto de vista da Empatia Emocional, muito menos como uma questão de solidariedade ou compaixão cristã, mas do ponto de vista da Empatia Cognitiva, perpassa pelo reconhecimento de direitos.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 16 JUNHO 23

 Trumpistas: “Nós achamos o réu culpado mas o defenderemos se for candidato”

 

O fim das sociedades. O fim do Homem?

A morte do sociólogo Alain Touraine, francês latinoamericanista, eis que por aqui sempre esteve presente e fez da América Latina um de seus objetos de reflexão, traz à tona uma questão existencial mais profunda do que a conjuntural: o fim dos tempos. Reverbere em outros termos a famosa proclamação de Wiliam Faulkner ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1959: "Recuso-me a Aceitar O Fim do Homem". 

Em seus dois últimos livros ele se mostrou pessimista quanto ao futuro da Humanidade: A civilização estaria em colapso. l“La Fin des sociétés” (Seuil, 2013) ou “Le Nouveau Siècle politique” (Seuil, 2016), ele constata que “depois de se terem concebido em termos religiosos, em seguida políticos e depois sociais, as sociedades de hoje têm dificuldade de se identificar a um novo paradigma, Na verdade, ele próprio aponta este paradigma: O capitalismo incontrolável. Este sistema ou Modo de Produção, como alguns preferem, desde que se instituiu e se impôs com sua devastadora capacidade para transformar radicalmente as condições técnicas de produção e relações sociais correspondente mudou o mundo. Enraizado nas Grandes Navegações do século XVI que ampliaram consideravelmente o âmbito dos mercados e novos produtos nos fluxos de comércio global, o capitalismo amadureceu a tal ponto no século XIX que mudou as concepções sobre a origem da riqueza das nações. A obra clássica de Adam Smith, fundador da Economia como reflexão científica, “Um inquérito sobre a origem da riqueza das Nações” desloca a origem do “valor” da pilhagem colonial para o próprio trabalho humano. É o homem – e suas instituições, dentre elas o sacrossanto mercado – que enriquece os povos e gera o desenvolvimento. Daí a valorização deste mercado como um prolongamento da natureza, livre de qualquer limitação, como instrumento da mudança. A consequência foi a substituição dos valores tradicionais da religião, do sangue azul e até das antigas hierarquias que regulavam os ofícios para o que se denominou “livre iniciativa” aberta a todos os que quisessem dar vazão a seus ímpetos empreendedores. Daí as atividades humanas começarem a se medir, crescentemente, pela eficiência capaz de produzir resultados do que pela capacidade de atender satisfatoriamente necessidades humanas. Este o fundamento da substituição da velha produção de valores de uso para a produção de valores de troca. Isso trouxe uma revolução no mundo inteiro que desembocou na explosão demográfica no século XX quando a população mundial saltou de 1,2 bi para 7 bilhões de pessoas. O sucesso deste modelo foi de tal ordem, ainda que às custas da neoescravização de trabalhadores livres sob o regime da Lei de Bronze dos Salários e das redefinições do colonialismo, que seu veículo, o dinheiro, acabou se transformando em objeto de acumulação própria, reeditando o velho ditado que diz que quando a esperteza é muito grande ela cresce e come o dono. Lentamente, o dinheiro, que era apenas um instrumento da economia de mercado passou a ser ele próprio O MERCADO, daí se transformando neste Capitalismo Incontrolável que nos fala Touraine. É o salto da velha economia industrial, produtiva, que remodelou as formas de produzir, para o atual capitalismo financeiro que se constitui em fim próprio do sistema e o subverte, abandonando, cada vez, as preocupações com as cadeias produtivas e os valores fundamentais que as acompanhavam na construção de uma sociedade democrática. Veja-se a charge acima. Ela expressa a decadência da Política quando eleitores admitem que um candidato à Presidente da República nos Estados Unidos seja efetivamente culpado em processo judicial mas ainda assim se dispõem a votar nele...Pior ainda quando uma economia ancorada numa moeda internacional, sem qualquer lastro, o dólar, emitida por um só país, acaba se militarizando através de poderosas organizações como OTAN e mais de 800bases militares no mundo, como instrumento de defesa de seus interesses próprios: O complexo industrial militar, como já advertia o Presidente Eisenhower em 1959. Enfim, neste momento, a civilização entra em crise e aponta para os desafios levantados por Touraine.  

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Anexo

O FIM DAS SOCIEDADES - Por Alain Touraine

O sociólogo francês Alain Touraine explicou que o domínio do capitalismo financeiro põe em dúvida e torna inúteis todas as construções sociais do passado.

Durante muitos anos, Alain Touraine se impôs como um dos observadores mais atentos e finos do futuro da nossa sociedade. O sociólogo francês analisa os caracteres e as transformações de um mundo que, de pós-industrial, se tornou “pós-social”.

O fim das sociedades, um ensaio onde explica que o domínio do capitalismo financeiro põe em dúvida e torna inúteis todas as construções sociais do passado.

Diante deste verdadeiro "fim da sociedade", onde até os movimentos sociais parecem não ter assidero no real, tudo o que nos resta, segundo este estudioso que completou recentemente oitenta e oito anos, é confiar na resistência ética, única capaz de devolver um sentido ao viver e ao agir coletivo.

ARTIGO COMPLETO: https://bit.ly/3X1N2UC

 

ENTREVISTA COM ALAIN TOURAINE: “OS MUITO RICOS NUNCA PAGARAM IMPOSTO NO BRASIL”

Nascido em 1925 e falecido em 9 de junho deste ano, Alain Touraine era um socialdemocrata que afirmou numa entrevista pouco tempo antes de sua morte: “Hoje, quando tudo é manipulado pelo dinheiro, as categorias sociais como a família, a escola e a cidade são esvaziadas de sentido. É preciso encontrar outra coisa que tenha a força necessária para superar o capitalismo incontrolável”. Fiz uma entrevista com o sociólogo francês Alain Touraine em janeiro de 2004 para a revista Carta Capital. O governo Lula I tinha começado um ano antes e na entrevista Touraine fez excelentes análises do que já fora feito e falava de suas expectativas.

Nascido em 1925 e falecido em 9 de junho deste ano, Alain Touraine era um socialdemocrata que afirmou numa entrevista pouco tempo antes de sua morte: “Hoje, quando tudo é manipulado pelo dinheiro, as categorias sociais como a família, a escola e a cidade são esvaziadas de sentido. É preciso encontrar outra coisa que tenha a força necessária para superar o capitalismo incontrolável”.

Autor de diversas obras sobre a centralidade das mulheres para a democracia do futuro, que ele expressou sobretudo em seus últimos livros “La Fin des sociétés” (Seuil, 2013) ou “Le Nouveau Siècle politique” (Seuil, 2016), ele constatava que “depois de se terem concebido em termos religiosos, em seguida políticos e depois sociais, as sociedades de hoje têm dificuldade de se identificar a um novo paradigma, confrontadas a um capitalismo cada vez mais especulativo, que pavimenta as pulsões mais antidemocráticas.”

A última vez que o ouvi foi em 2019, numa conferência na Maison de L’Amérique Latine, da qual participaram Fernando Henrique Cardoso e Alain Rouquié, atual presidente da MAL e ex-embaixador da França no Brasil.  

No encontro, o mais contundente e pertinente foi Touraine que afirmou:

« Não é preciso ser muito esperto para saber que na América Latina há sempre a mão dos Estados Unidos em alguns momentos históricos »

E vaticinou:

« No século 21 as mulheres serão os principais atores na vida social e política do mundo ocidental. Primeiramente, lutamos pela cidadania, depois pelos direitos dos trabalhadores, agora é o momento de apagar a dominação masculina ».

A entrevista de janeiro de 2004: politica/entrevista-com-alain-touraine-os-muito-ricos-nunca-pagaram-imposto-no-brasil

 

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 15 JUNHO 23

 

Os riscos da febre maculosa

Embora pouco ou nada se fale aqui no sul sobre febre maculosa, uma doença provocada pela picada de um carrapato que se aloja em grandes mamíferos, principalmente capivaras, ela, volta e meia, provoca mortes no Sudeste do país. Há alguns anos houve vários casos no Rio de Janeiro. Agora, um grupo de pessoas que participaram de um evento em Campinas, São Paulo, foram contaminadas e vieram a óbito. O tema vem sendo objeto de advertências das autoridades sanitárias daquele Estado mas é importante que saibamos mais sobre a doença. Ela pode ser combatida quando corretamente diagnosticada e tratada com antibióticos já em desuso, diante dos novos e potentes atuais. Estes, entretanto, não são adequados ao tratamento da febre maculosa. Simplesmente não funcionam. Faz-se necessário, portanto, protocolos mais específicos para o Sistema de Saúde para evitar novos casos fatais. O carrapato não afeta os animais nos quais se aloja. Eles, entretanto, os dispersam pelos terrenos onde transitam e ali depositam a pequeníssima bactéria, muitos vezes invisíveis a olho nu. Passeando por estes locais, tanto humanos como seus pets podem se contaminar com o carrapato e daí serem submetidos a suas mordidas. Os sintomas da febre maculosa são similares à dengue e viroses: febre alta, manchas no corpo, dores e diarreia. Não tratada, tem uma mortalidade de até 70%. Todo cuidado, portanto, é recomendável em regiões alagadas e pantanosas como as nossas no litoral norte do Estado do RS. O Podcast do grupo Folha Uol trata, hoje, deste assunto.

 

Feijoada do Rosa: festa onde três contraíram febre maculosa em Campinas tinha 3,5 mil pessoas e acontece há 22 anos - Evento foi realizado na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio. Um homem e duas mulheres que estiveram na festa morreram com a doença; Campinas aguarda resultado de exame da adolescente com morte suspeita. 

Jornal da EPTV 2ª Edição - Campinas/Piracicaba

Noivo de ex-professora morta com febre maculosa questiona atendimento em Hortolândia

Evelyn está entre as 3 pessoas que contraíram a doença após festa na Fazenda Santa Margarida, em Campinas (SP), no dia 27 de maio.

G1-podcast-risco-brasil-melhora-e-alerta-sobre-febre-maculosa 

 

Café da Manhã Podcast Folha Uol 

Podcast explica gravidade do surto de febre maculosa e como prevenir a doença. Doença transmitida por carrapato é causa confirmada de três mortes em São Paulo nesta semana; região de Campinas trata casos como surto


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 14 JUNHO 23

 

A CPI dos atos golpistas de 8 de janeiro

Ontem, dia 13, começaram os trabalhos da CPI que deverá investigar e apontar responsabilidades sobre o quebra-quebra de 8 de janeiro passado. A relatora desta CPI, Senadora Liziane, já afirmou que aqueles fatos, assistidos por todo o mundo, não se encerra em si mesmo, tem raízes e um processo por trás. Não foi, enfim, uma explosão espontânea de massas indignadas –no caso indignadas com os resultados da eleição que consagrou a vitória de Lula, que já estava até empossado. Houve uma fermentação antidemocrática centrada no Palácio do Planalto e agudizada pelo não reconhecimento do derrotado Bolsonaro, o qual, inclusive, ausentou-se do país, sem agenda oficial, em avião da FAB e com comitiva presidencial, antes desta posse. Isso ensejou, aliás, a histórica e apoteótica subida da rampa do Planalto para a colocação da faixa presidencial em Lula de um grupo representativa de segmentos vulneráveis da população, ganhando primeira página dos jornais nacionais e internacionais. Os milhares que chegaram à Brasília já em dezembro, acomodados e protegidos no Setor Militar Urbano, já vinham de mobilizações visíveis em várias cidades do país. Eram contestadores da ordem legal que dera a vitória a Lula. Por que? Porque defenderam Bolsonaro e estimulados pela narrativa da fraude das urnas eletrônicas saíram às ruas na esperança de que um ato de força pudesse reverter o processo eleitoral. Já no 12 de dezembro, num ensaio de quebra-quebra saíram às ruas desafiando a Policia Federal. As Redes estavam inundadas de convocações à “resistência”, financiadas por grupos e até parlamentares extremistas que se jactam destes feitos, como o deputado golpista de Goiás Amauri Ribeiro. Se o ex Presidente Bolsonaro deve ou não ser responsabilizado por tudo o que aconteceu, seja política, jurídica ou civilmente, cabe a este CPI, `a Polícia Federal e à Justiça avaliar. O Governo Lula evitou o quanto pode a CPI, sempre incerta. Ao final a aceitou como desafio e lá está, através de seus parlamentares, membros da Comissão, tratando-a com cuidado. Não que haja qualquer dúvida de que os atos foram praticados por contestadores da ordem, a serviço da causa bolsonarista, anti democrática e extremista. Mas porque o andamento da carruagem traz complicações, exige explicações sobre narrativas etéreas, exposições constrangedoras ao Governo, como a atitude do Chefe do GSI, General G. Dias, já substituído, mas sobretudo, de confronto com militares. A prisão do Ajudante de Ordens de Bolsonaro e a revelação dos conteúdos de seu celular o conduzem, cada vez mais, â estigmatização e envolvimento de membros das Forças Armadas na tentativa frustrada de golpe. Como diz a jornalista Malu Gaspar do g1, em matéria abaixo transcrita, “Eu acho que isso é interessante de a gente observar até onde foi a degradação do Exército e como os caras se permitiram enredar em tramas que nada tem a ver com o estado de direito, com a função das Forças Armadas, nada disso."

Vá o feito, agora não há mais como escapar do confronto da CPI com os militares. E só Deus sabe no que isso pode resultar. Delicada para o Governo, no entanto, cedo a CPI dos Atos Golpistas, como a denomina Eliane Cantanhede em sua coluna de ontem, cairá no colo de Bolsonaro com a convocação de militares: “Se oficiais e sargentos saem muito mal e apontam para a responsabilidade de Bolsonaro na trama golpista, as mensagens comprovam que o golpe não deu certo porque as Forças Armadas jamais caíram na esparrela de enveredar por esse caminho sem volta. Agora, cada um que se vire. Inclusive, ou principalmente, quem era o comandante em chefe dos golpistas”.

 

CPI dos Atos Golpistas põe 'lenha na fogueira' porque precisa ouvir militares, o que governo não quer, avalia Malu Gaspar

Para colunista do jornal O Globo e da rádio CBN, momento agora é calma entre governo e militares. CPI deve votar os primeiros pedidos de convocação e convites para depoimento nesta terça-feira (13). 

Uma CPI empurrada, entre governo e oposição, com cada um querendo manobrar para o seu lado. Assim avalia Malu Gaspar, colunista do jornal O Globo e da rádio CBN, sobre o desenrolar da CPI dos Atos Golpistas, instalada a contragosto do governo.

"O que fica evidente para quem está assistindo é que embora os atos golpistas de 8 de Janeiro tenham sido claramente fomentados por bolsonaristas, é o governo que parece acuado", disse Malu em entrevista ao podcast O Assunto desta terça-feira (13).

Para ela, há, ainda, um "outro complicador", nas suas palavras, que entra em cena no momento em que a situação entre militares, que estiveram em peso no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, e a atual gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece "acalmar".

"Nessa CPI tem ainda um outro complicador, que é uma CPI que, se ela quiser de fato avançar, ela tem que ouvir e, muito possivelmente, indiciar militares, generais."

"É uma coisa muito séria que o governo Lula queria evitar desde o início, [evitar] colocar mais lenha na fogueira desse tumulto militar agora que tá conseguindo acalmar a situação", complementa.

A CPI dos Atos Golpistas deve votar os primeiros pedidos de convocação e convites para depoimento nesta terça-feira (13). Também está prevista a análise de requerimentos para compartilhar informações sobre os ataques do dia 8 de Janeiro.

A comentarista também falou ao podcast sobre como a perícia no celular de Mauro Cid, tenente-coronel, filho de general e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, pode interferir na CPI. No início de junho, a Polícia Federal encontrou a minuta de uma operação de garantia da lei e da ordem e menção a estado de defesa no celular de Cid.

"Eu acho que isso é interessante de a gente observar até onde foi a degradação do Exército e como os caras se permitiram enredar em tramas que nada tem a ver com o estado de direito, com a função das Forças Armadas, nada disso."

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Álvaro Costa e Silva - O golpista vaidoso – FSP 

GilvanMelo-costa-e-silva...

Enquanto isso, a CPI do 8 de Janeiro está em banho-maria

O celular de Mauro Cid continua entregando a rapadura. Depois do desvio de dinheiro, das investidas antidemocráticas no 7 de setembro de 2021 e no 8 de janeiro de 2023 e da fraude no sistema de vacinação, a Polícia Federal encontrou no aparelho do ajudante de ordens de Bolsonaro uma minuta golpista e estudos para dar suporte jurídico a um golpe de Estado.

A perícia na nuvem do Google Drive e do iCloud do tenente-coronel identificou um esboço para decretação da Garantia da Lei e da Ordem, que permite ao presidente da República convocar as Forças Armadas em caso de esgotamento das tropas de segurança em graves perturbações. Exatamente o que se viu na invasão das sedes dos Três Poderes. A instalação da GLO, segundo investigações da PF, poderia facilitar a decretação da minuta golpista –mais uma! – escondida na casa de Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro.

Enquanto o rastreio dos federais avança, os trabalhos da CPI do 8 de Janeiro estão em banho-maria. "Eu não conheço nenhuma razão para convocar o ex-presidente da República", disse Arthur Maia, que preside a comissão, em entrevista à Folha. Eleitor de Bolsonaro e aliado de Arthur Lira, Maia parece mais empenhado em aprovar o marco temporal com o argumento de que quem defende reservas indígenas quer "implantar o socialismo" no país.

Na mira da CPI estão o atual ministro da Justiça, Flávio Dino, e o ex, Anderson Torres, que pediu para adiar a oitiva por não ter condições psicológicas. Quem está louco por uma convocação é o deputado Amauri Ribeiro. Ele discursou na Assembleia de Goiás em defesa do coronel da PM Benito Franco, investigado pela Operação Lesa Pátria: "Pode me prender, eu sou um terrorista, eu sou um canalha. Eu ajudei, levei comida, levei água e dei dinheiro".

É de conhecimento geral que nos últimos anos o Brasil perdeu o pudor de ser burro. Subimos um degrau e agora temos o golpista presunçoso.

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Eliane Cantanhêde - A trama golpista = ESP 8 junho 23

Eliane-cantanhede...

Quem terá prioridade nos depoimentos na CPI do Golpe? Mauro Cid e Anderson Torres

A CPMI do Golpe começa a definir hoje quais serão os primeiros depoentes e a oposição bolsonarista terá ainda mais motivos para se arrepender de ter insistido tanto nessa comissão para investigar, divulgar e mostrar ao Brasil e ao mundo quem tentou dar um golpe no dia 8 de janeiro. Alguma dúvida? Zero.

Os dois mais cotados para abrir os trabalhos são o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel da ativa Mauro Cid. Ambos foram presos, sabem de tudo e são o que se chama de “batom na cueca” de Bolsonaro.

Não é trivial um ex-ministro justamente da Justiça guardar em casa uma minuta de golpe, prevendo o fechamento do TSE e a criação de comissão interventora, metade civil, metade militar. E menos ainda um oficial da ativa, com gabinete no Planalto, guardar no celular uma minuta para pôr o Exército nas ruas.

São movimentos combinados: fecha o TSE, cria uma comissão interventora, impede a posse de Lula, vitorioso nas urnas, e convoca Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para pôr o Exército e, quem sabe, os tanques, na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios, para sufocar reações populares e “manter a ordem”, com Bolsonaro eternizado no poder.

O enredo tem como epicentro o próprio gabinete presidencial. Torres saiu da Justiça e se meteu na Secretaria de Segurança Pública do DF, responsável pela segurança das sedes dos três Poderes. Foi dali que ele desarticulou qualquer possibilidade de reação aos terroristas que invadiriam Planalto, Congresso e Supremo e embarcou para a Flórida, onde Bolsonaro estava.

Mauro Cid, que tinha sido destacado por Bolsonaro para o comando do Batalhão de Ações e Comando, em Goiânia, perto de Brasília, até Lula assumir e sustar a nomeação, foi mentor e executor da falsificação de atestados de vacina contra Covid de Bolsonaro e da filha e comprova que a quadrilha das vacinas se embolava com a do golpe.

O ex-capitão Ailton Barros, expulso do Exército, o sargento Luís Marcos dos Reis, unha e carne com Mauro Cid no Planalto, e o coronel Élcio Franco, do Ministério da Saúde durante a pandemia, se sentiam à vontade para trocar mensagens sobre o golpe com o ajudante de ordens de Bolsonaro.

Se oficiais e sargentos saem muito mal e apontam para a responsabilidade de Bolsonaro na trama golpista, as mensagens comprovam que o golpe não deu certo porque as Forças Armadas jamais caíram na esparrela de enveredar por esse caminho sem volta. Agora, cada um que se vire. Inclusive, ou principalmente, quem era o comandante em chefe dos golpistas

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 12 JUNHO 23

 

A Reforma Tributária

A Reforma Tributária constitui um dos principais pontos da Agenda Econômica do Presidente Lula e está em fase final de avaliação pelo Congresso Nacional. O tema é visto como de primordial importância para a racionalização do complexo sistema tributário no Brasil e indispensável à retomada do crescimento econômico. Aliás, as últimas previsões sobre o PIB neste ano, tanto do Governo, Banco Central e Mercado já estimam um número próximo a 2¨%, o dobro do que se previa no início do ano. Com o impulso nos próximos meses à retomada do setor automobilístico, mercê do Plano de Descontos seletivos nos impostos sobre carros até 120 mil, ônibus e caminhões pode, até, ultrapassar este número, o que seria um grande êxito para este difícil primeiro ano de Lula III. Abaixo, uma descrição do Projeto, por Caíque Lima e uma crítica da economista Ceci Juruá.

Fusão de impostos, mudança no IPVA e cashback: veja as diretrizes da reforma tributária – 

 

Por Caíque Lima - publicação do DCM 08-06-2023

O relator da reforma tributária na Câmara dos Deputados, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), apresentou nesta terça (6) as linhas gerais de sua proposta. O texto traz temas que são consenso entre parlamentares, mas a criação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) ainda depende de novas conversas com as bancadas.

“Essa não é uma reforma de governo. Não é uma reforma ideológica. Não é reforma de direita, não é reforma de esquerda, é uma reforma estrutural do Estado brasileiro”, afirmou o deputado ao iniciar a leitura do relatório. Ele ainda elogiou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e disse que o petista “tem real dimensão da importância de uma reforma tributária para o país”.

Um dos pilares do relatório é a fusão de PIS, Cofins e IPI (tributos federais), ICMS (estadual) e ISS (municipal) em um IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que será chamado de IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), caso haja aprovação do texto. O sistema ainda terá uma parcela da alíquota administrada pelo governo federal e outra, por estados e municípios.

O documento propõe a criação de um Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR), já que estados e municípios não poderão mais definir sozinhos suas alíquotas. A ideia é que o fundo assegure a existência de instrumentos de incentivo à atividade econômica. O relatório sugere que o FDR seja financiado “primordialmente” por recursos da União e que o repasse anual seja classificado como despesa obrigatória, fora do limite instituído pelo novo arcabouço fiscal.

Um dos pontos que mais travava as negociações sobre o texto, a Zona Franca de Manaus, também foi tratado. O relatório propõe que os benefícios sejam mantidos. O polo industrial prevê isenção ou redução do imposto sobre importação e isenção ou crédito do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

O Simples Nacional, usado para recolher tributos de micro e pequenas empresas, será mantido, mas deixará que as companhias tenham maior flexibilidade por aderir ou não ao novo sistema. Com o IVA, o recolhimento dos impostos é feito sobre o preço da mercadora, descontados os custos de produção.

O relatório também propõe mudanças sobre a tributação de renda e patrimônio. Uma das recomendações do texto é estender o IPVA (Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para iates, lanchas e jatos particulares. Outra alteração prevista é a possibilidade de o tributo ser progressivo a depender do impacto ambiental do veículo.

Entre outras diretrizes da reforma estão adoção de alíquota padrão, com possibilidade de valores reduzidos para saúde, educação, transporte público, aviação regional e produção rural; tratamento específico para operações com bens imóveis, serviços financeiros, seguros, cooperativas, combustíveis e lubrificantes; Imposto Seletivo para desestimular consumo de bens e serviços considerados nocivos; e sistema de cashback para devolver parte dos impostos a pessoas mais vulneráveis.

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Comentário da ECON. Ceci V. Juruá, RJ - Escuto muito YouTube, leio e tenho vários grupos com os quais me correspondo. Todos a favor de Lula, embora não petistas (como eu), e a favor da equipe comandada por Haddad (meu caso). Estou desagradavelmente impressionada com os debates da área tributária. Segundo leitura de jornais, parece que esse/nosso governo aderiu a um modelo de tributação tipicamente neoliberal, do estilo norte-americano. Por isto resolvi começar a (re)organizar as ideias nesse terreno, que estudo há meio século. 

 

A primeira pergunta que me faço é: PARA QUE SERVEM IMPOSTOS EM SOCIEDADES CAPITALISTAS E NEOLIBERAIS?  

 

1- Servem para financiar os gastos necessários do Estado.

Assumindo que preservar soberania e paz social são as primeiras obrigações do Governo, digo que os gastos necessários a todo Estado capitalista, são a defesa das fronteiras e a garantia de paz social. Isto significa priorizar forças armadas e polícia interior. Mas também um aparelho estatal (funcionários concursados) que garanta o bom funcionamento dos órgãos estatais vistos como essenciais, pela sociedade. O presidente anterior quis atacar nessas duas frentes, vejam as reformas que ele introduziu.  

2- Relações entre Estado e sociedade civil são relações políticas, de poder. Portanto irão depender da correlação de forças e da ideologia predominante. 

O Estado, nesse modelo de sociedade, não pode combater o capitalista e as forças do mercado. A não ser que haja forte corrente social combatendo o próprio capitalismo. Não é o caso do Brasil. Amplos setores da esquerda, entre nós, preferem combater a escravidão (que acabou há mais de 130 anos) e não combatem outros inimigos poderosos (o imperialismo ocidental e o capitalismo norte americano e europeu, proprietários de nossos principais ativos produtivos, na atualidade).

3- Necessário estabelecer a diferença entre impostos sobre setores do mercado nacional, e impostos sobre comércio exterior. 

 

Destaco essa questão para manifestar minha crença derivada da observação histórica. Um país soberano não exporta commodities vinculadas à alimentação, enquanto seu povo tiver fome. Exportação deve dirigir-se, prioritariamente, à venda de excedentes no mercado exterior. Salvo uma ou outra "especialidades" constituídas como commodities - caso do café, da borracha -. É um grave erro exportar cereais como arroz e feijão, comida básica do brasileiro há séculos, e carnes, enquanto o povo não tem o mínimo necessário para se alimentar.  

 

No momento corremos um grave risco, alimentado pelos "tubarões" do exterior, sobretudo dos países imperialistas ocidentais. Exportar principalmente commodities, de produtos para alimentação básica, exportar esses produtos a preços vis para os países ricos - América do Norte e Europa ocidental e setentrional, e exportar com isenção de impostos, impostos necessários à sustentação financeira do nosso Estado nacional. GRANDE ERRO. Getúlio fez o contrário. Mas também o Império no século 19, em várias ocasiões.  

 

Nossa Constituição de 1988 - proibiu conceder isenção tributária para produtos do setor primário e semi-industrializados. Incentivos dessa categoria só poderiam ser concedidos a produtos industrializados. Porque já éramos uma nação de economia industrializada (graças à dupla GG) e queríamos defender a industrialização via comércio exterior, isto é, ampliando os mercados para produtos da indústria nacional. 

 

A LEI KANDIR ABORTOU ESTA VONTADE NACIONAL. UMA LEI QUASE CRIMINOSA, INTRODUZIDA SORRATEIRAMENTE EM EMENDAS CONSTITUCIONAIS NÃO LEVADAS AO DEBATE PÚBLICO. O presidente do Brasil, naqueles tempos em que rasgaram totalmente a Constituição Cidadã, encontra-se hoje condenado a anos de prisão...

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 09 JUNHO 23

 

O MARCO TEMPORAL E OS POVOS ORIGINÁRIOS DO BRASIL

 

Raquel Dodge explica o absurdo do Marco Temporal

Raquel Dodge - Marco Temporal 

CULTURAL FM no CAMPO BONITO cobre reunião de comunidade indígena

Cultural FM - na Aldeia Nhu Porã

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Nossas elites copiam vorazmente o modelito americano. Um povo que saiu da barbárie e entrou na decadência sem passar pela civilização, como dizia Bernard Shaw. “Viva o arranha-céu! Viva o automóvel! Viva o agrobusiness! Isso é progresso!”

Hoje visitei a comunidade indígena do CAMPO BONITO. Lá, uma comunidade fraterna, reunida debaixo das árvores, está preocupada com o MARCO TEMPORÁL. Se isso for efetivado pelo SENADO eles poderão perder a morada. Quem se interessa por eles...? E eles estavam aqui muito antes dos colonizadores, imigrantes e cruéis bandeirantes. Milhares de anos. Mas não tinham TITULO DE PROPRIEDADE. Não tinham Cartórios. Não dominavam o AÇO. Não tinham canhões.

Em outros tempos, um valoroso oficial do Exército Brasileiro, filho de índia, CÂNDIDO RONDON, um dos militares que participaram do funeral do funesto Império Escravocrata que fez do Brasil um dos lugares mais odiosos do mundo, foi encarregado de fixar as linha telegráficas pelo interior remoto do Brasil. A República florescia. Neste processo, defrontou-se com muitas populações indígenas e acabou formulando a frase lapidar que marcou historicamente a Política Indigenista brasileira: “Morrer se for preciso; matar nuca”. Ainda assim, o progresso dito civilizatório continuou deslocando e matando povos originários. Muitos deles se embrenharam na mata, no interior da Amazônia, de medo do branco. Perderam seus territórios. No regime militar isso se acentuou ainda mais mas a redemocratização, com a Constituinte lhes garantiu o retorno e novas garantias. O Marco Temporal aprovado pela CAMARA DOS DEPUTADOS coloca estas conquistas em cheque. Eles estão mobilizados em sua defesa mas não são suficientes para manter estas garantias, honrando o Marechal Rondon e uma sequência de sertanistas que deram a vida na FUNAI em defesa deles. O último foi Bruno, assassinado no Vale do Javari, junto com um jornalista inglês. E é sempre assim: Primeiro eles levam o cara de esquina e v. não diz nada porque nem sabe o nome dele. Depois, eles levam o seu vizinho com quem v. conversava aos fins de tarde. E o dia em que vierem buscá-lo, a quem recorrer...? Defendamos os nossos índios sob o primado da Lei e da Constituição. Unidos venceremos! E estaremos livres da escravidão aos preconceitos. Há, contudo, sinais de que estamos podemos estar criando filhos para serem escravos: 12 sinais de que estamos criando filhos para serem novos escravos: https://www.portalraizes.com/filho-em-escravo/

 

Qual e a principal lei que garante os direitos indígenas no Brasil?

L6001. LEI Nº 6.001, DE 19 DE DEZEMBRO DE 1973. Dispõe sobre o Estatuto do Índio. Art. 1º Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional- L6001 – Planalto - planalto.gov.br - http://www.planalto.gov.br  

 

Quem defende os direitos dos povos indígenas?

A Constituição prevê que a responsabilidade de defender judicialmente os direitos indígenas é atribuição do Ministério Público Federal (Art. 129, V). Já a competência de legislar sobre populações indígenas é exclusiva da União (Art. 22.19 de abr. de 2017

O que diz a Lei sobre os indígenas?

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

 

Os povos originários no mundo

1 - Existem cerca de 370 a 500 milhões de indígenas no mundo, espalhados por 90 países. Eles vivem em todas as regiões geográficas e representam 5 mil culturas diferentes.

2 - Povos indígenas criaram e falam uma grande maioria das 7 mil línguas mundiais.

3 - Indígenas têm maior probabilidade de serem pobres e vulneráveis. Apesar de serem menos de 5% da população mundial, representam 15% dos mais pobres.

4 - Povos indígenas vivem vidas mais curtas. A expectativa de vida dos povos indígenas é até 20 anos menor do que outras pessoas.

5 - Mulheres indígenas têm maior probabilidade de sofrer discriminação e violência. Mais de uma em cada três são agredidas sexualmente durante a sua vida, e também têm taxas mais altas de mortalidade materna, gravidez na adolescência e doenças sexualmente transmissíveis.

6 - Os Jogos dos Povos Indígenas do mundo unem atletas para celebrar tradições indígenas. Atletas de 566 comunidades aborígenes de todo o mundo participaram da primeira edição, realizados em 2015 no Brasil.

7 - Comunidades indígenas são líderes na proteção do meio ambiente. Quase 70 milhões de mulheres e homens indígenas dependem das florestas para sua subsistência, e muitos mais são agricultores, caçadores ou pastores.

8 - Os povos indígenas lutam contra a mudança climática todos os dias. As suas florestas armazenam pelo menos um quarto de todo o carbono das florestas tropicais, cerca de 55 trilhões de toneladas métricas. Isso equivale a quatro vezes o total de emissões globais de carbono em 2014.

9 - Povos indígenas são fundamentais para a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Desde proteger o meio ambiente, a combater a desigualdade e lutar pela paz e a segurança, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável não serão alcançados sem povos indígenas.

10 - A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, adotada em 2007, é um marco. Pnud.0 

Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos ... - acnur.org - https://www.acnur.org › português › BDL › De...

PDF sobre os Direitos dos Povos. Indígenas. NAÇÕES UNIDAS. Rio de Janeiro, 2008. UNIC/ Rio/ 023 - Mar. 2008. 107ª Sessão Plenária. 13 de setembro de 2007 ...- 12 páginas

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 07 JUNHO 23

 

Plataformas Tecnológicas: Meios de Comunicação ou Veículos de Comunicação?

A Internet, associada a disseminação do uso dos celulares, revolucionou a comunicação social no mundo inteiro. Plataformas tecnológicas como Google, Twitter, Instagram, Face Book e outras têm bilhões de usuários e disputam entre si este mercado. O Brasil tem 424 milhões de dispositivos digitais em uso e 252 milhões de celulares. 

“A pesquisa aponta que hoje vende-se quatro celulares por televisão, uma televisão por computador, tanto no Brasil, Estados Unidos e no mundo. “Através dos resultados divulgados, podemos observar que está cada vez mais comprovado o processo de Transformação Digital das empresas e da sociedade.”

 

Brasil tem 424 milhões de dispositivos digitais em uso, …

Para conhecer melhor este novo mundo digitalizado, basta uma rápida olhada nestes números:

Ícone da Web global = Digital 2021: estatísticas e números no Brasil | Insights pagbrasil.com

Ícone da Web global = Panorama do Uso de TI no Brasil - 2022 | Portal FGV

portal.fgv.br - Ícone da Web global

Retrospectiva 2021: Brasil tem dois dispositivos digitais = portal.fgv.br 

Ícone da Web global = Brasil é 5º país em ranking de uso diário de celulares no mun…

agenciabrasil.ebc.com.br = Ícone da Web global

92% dos brasileiros possuem ou usam smartphones com frequência - mobiletime.com.br

Tratando-se de um fenômeno relativamente novo, ainda não há um consenso sobre a natureza das plataformas tecnológicas que se apoiam sobre este universo. No Brasil, recentemente, no processo eleitoral do ano passado, o Judiciário, através do TSE interveio sobre as plataformas para evitar a disseminação de fake news. O Congresso Nacional também se debruçou sobre Projeto que pretendia regulamentá-los. As plataformas se pronunciaram emitindo Notas a seus clientes e postando=as em mensagem considerando-se vítimas de tentativa de censura. Resistem, enfim, a qualquer tentativa de controle público e insistem em se apresentar à sociedade como meios de comunicação, sobre os quais deve reinar a liberdade de expressão. A regulamentação, entretanto, avança nos países democráticos e os considera, cada vez mais, como empresas de veiculação de propaganda, não de notícias, pois não dispõem das tradicionais instrumentos de produção e divulgação de notícias. Apenas as reproduzem. O assunto ganha cada vez mais debates e tende a voltar, no Brasil, a consideração legislativa no Congresso Nacional. 

Um exemplo de que tais plataformas são veículos de propaganda e não de notícias vem ocorrendo com o Twitter desde que o milionário autoritário Elom Musk assumiu seu controle acionário prometendo liberar geral seu conteúdo. O resultado foi desastroso à empresa e Musk já entregou seu comando para evitar um desastre empresarias. Veja-se, por exemplo, na matéria abaixo, o que vem ocorrendo com a Twitter:

 

Efeito Musk: receita de publicidade do Twitter despenca 59% em um ano 5 de junho de 2023, 14:15 =Fonte Tecnologia

Cada vez mais caracterizado, que essas empresas são de comunicação e os usuários seus instrumentos. Vide: https://portalmatogrosso.com.br/efeito-musk-receita-de-publicidade-do-twitter-despenca-59-em-um-ano/ 

 

UNSPLASH/JEREMY BEZANGER Twitter perde receita em publicidade

A receita do Twitter adquirida com publicidade foi de US$ 88 milhões em abril, 59% a menos do que no mesmo período do ano passado, de acordo com um comunicado interno da empresa obtido pelo jornal The New York Times.

Embora Elon Musk venha afirmando que os negócios de publicidade do Twitter estão em alta e que quase todos os anunciantes já voltaram para a rede social, a realidade é diferente. Funcionários da empresa ouvidos pelo New York Times afirmam que há previsão de que a situação piore.

De acordo com cálculos internos, o Twitter espera que a receita publicitária nos Estados Unidos caia pelo menos 56% a cada semana em junho, em comparação com o ano anterior. Cerca de 90% da receita do Twitter depende de publicidade.

Desde que Musk assumiu o controle do Twitter, em outubro do ano passado, muitos anunciantes deixaram a plataforma por conta do aumento de publicações com discurso de ódio e pornografia. Isso porque o bilionário afrouxou a moderação de conteúdo na rede social e trouxe de volta contas que já tinham sido banidas por desinformação e discurso de ódio, o que não agradou as empresas que compravam publicidade no Twitter.

Na última semana, a gestora de fundos Fidelity avaliou o Twitter em US$ 15 bilhões, cerca de um terço dos US$ 44 bilhões que Musk pagou na companhia. Ao New York Times, Jason Kint, executivo-chefe da Digital Content Next, uma associação de editores, disse que a empresa está cada vez mais “imprevisível e caótico”.

“Os anunciantes querem veicular em um ambiente onde se sintam confortáveis e possam enviar um sinal sobre sua marca”, disse.

De acordo com funcionários do Twitter, marcas como Apple, Amazon e Disney estão gastando menos em anúncios na plataforma do que no ano passado. Grande parte das metas de anúncios perseguidas pelos funcionários não são preenchidas.

Em meio aos resultados negativos, importantes nomes têm deixado a plataforma. Na última semana, Ella Irwin, executiva responsável pela política de conteúdo do Twitter, se demitiu, assim como AJ Brown, executivo de qualidade e segurança e marcas.

Leia também - Nova CEO do Twitter diz se inspirar na ‘visão de futuro’ de Elon Musk// Musk defende que inteligência artificial vai trazer paz mundial// Instagram se prepara para lançar concorrente do Twitter; confira

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 06 JUNHO 23

 

Os Programas de Governo no Dia Mundial do Meio Ambiente

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Plano de Marina apresentado a Lula para o Meio Ambiente prevê interdição de metade da área desmatada em reservas na Amazônia. Plano para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, divulgado nesta segunda, também projeta a criação até 2027 de novas unidades de conservação em 3 milhões de hectares.

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Ao lado de Marina Silva e Sônia Guajajara, o Presidente Lula fez um duro pronunciamento ontem, DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE, em defesa da Amazônia, divulgando um amplo programa que deterá o desmatamento e advertiu os infratores ambientais de que além dos rigores da Lei não serão beneficiados com crédito público. O Plano anunciado abrange quatro pontos: controle ambiental, ordenamento fundiário e territorial, promoção de atividades produtivas sustentáveis e criação de instrumentos normativos e econômicos, dirigidos à redução do desmatamento e à concretização das ações dos demais eixos. “O plano traz mais de 130 metas para serem alcançadas até 2027, algumas com indicadores bem específicos, como fiscalizar 30% da área desmatada ilegalmente identificada pelo sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – hoje estima-se que apenas 6% do que foi desmatada passa por fiscalização. A ideia é fazer cinco vezes mais do que vinha sendo feito. Outras metas são embargar 50% da área desmatada ilegalmente em unidades de conservação federais e aumentar em 10% o número de autos de infração ambiental julgados em primeira instância” conforme a Agência Pública que fez a melhor e mais completa cobertura do evento, que transcrevemos abaixo:

EM DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE, LULA E MARINA LANÇAM UM PLANO QUE MERECE ELOGIOS -https://apublica.org.

 

5a. Fase do PPCDAm, o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal. 

 

Compartilhem, amigos-as, vamos colaborar divulgando e procurando fiscalizar coletivamente. 

Olá! O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, lançaram nesta segunda-feira (5) – Dia Mundial do Meio Ambiente – plano com caminhos para zerar desmatamento da Amazônia até 2030. Atenciosamente, Equipe da Agência Pública - https://apublica.org.

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Atenção para as regras de republicação da Agência Pública:

 

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9. Reportagens publicadas no site não podem ser revendidas.

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Lula e Marina lançam plano com caminhos para zerar desmatamento da Amazônia até 2030

ACESSE O PLANO AQUI

Fonte: Agência Pública - https://apublica.org.

Resumo: Foco das ações até 2027 visa incentivar bioeconomia e aprimorar controle da devastação e responsabilização dos crimes

Por Giovana Girardi

Após duas semanas de intensos ataques por parte do Congresso à área socioambiental do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, lançaram nesta segunda-feira (5) – Dia Mundial do Meio Ambiente – o principal instrumento para colocar nos trilhos a meta de zerar o desmatamento da Amazônia até 2030.

Em cerimônia conjunta, que contou com a presença no palco também do vice-presidente Geraldo Alckmin (ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Fernando Haddad (Fazenda) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e dos governadores Helder Barbalho (Pará) e Antônio Denarium (Roraima), foi assinada a quinta fase do PPCDAm, o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal. 

Considerado fundamental para a queda de 83% no desmatamento obtida na região entre 2004 e 2012 – e abandonado durante o governo Bolsonaro –, o plano volta agora repaginado e com a expectativa ambiciosa de pôr fim ao problema ao longo da década.

Lula e Marina durante cerimônia de lançamento do novo PPCDAM

A nova versão busca retomar e reforçar ações que deram certo no passado, aprimorar as que não foram bem sucedidas, mas também vai além com estratégias que visam adaptar os instrumentos existentes para o contexto atual do desmatamento. 

O plano traz mais de 130 metas para serem alcançadas até 2027, algumas com indicadores bem específicos, como fiscalizar 30% da área desmatada ilegalmente identificada pelo sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – hoje estima-se que apenas 6% do que foi desmatada passa por fiscalização. A ideia é fazer cinco vezes mais do que vinha sendo feito.

Outras metas são embargar 50% da área desmatada ilegalmente em unidades de conservação federais e aumentar em 10% o número de autos de infração ambiental julgados em primeira instância. Todas já para este ano. Para o ano que vem, espera-se desenvolver um mecanismo para aprimoramento da rastreabilidade dos produtos agropecuários. Há a previsão também de suspender/cancelar 100% dos registros irregulares de CAR (Cadastro Ambiental Rural) sobrepostos a terras públicas federais até 2027.

O problema da regularização fundiária, considerado hoje um dos vetores de desmatamento, também deve ser atacado. O PPCDAm prevê incorporar 100% das terras devolutas ao patrimônio da União; fazer a regularização fundiária de 50 mil ocupantes de terras públicas; destinar 29,5 milhões de hectares de florestas públicas federais ainda não destinadas e criar 3 milhões de hectares de unidades de conservação. 

Dentro desse bloco de ações, há uma preocupação em alinhar o planejamento dos grandes empreendimentos e projetos de infraestrutura com as metas nacionais de redução do desmatamento, de modo que eles também sejam planejados para reduzir o desmatamento e a emissão de gases de efeito estufa decorrentes da mudança no uso do solo em suas áreas de influência.

A ideia do programa é atuar em quatro principais frentes. Os exemplos dos dois parágrafos acima se situam nos eixos de monitoramento e controle ambiental e de ordenamento fundiário e territorial. Os outros dois são em torno de promover atividades produtivas sustentáveis e criar instrumentos normativos e econômicos, dirigidos à redução do desmatamento e à concretização das ações dos demais eixos. Tudo isso até o fim de 2027 (período que coincide com o Plano Plurianual de planejamento orçamentário que será implementado pelo governo entre 2024 e 2027). 

Em 2004, o PPCDAm possibilitou pela primeira vez uma queda gradual na devastação da Amazônia

A intenção principal do PPCDAM é “estabelecer bases sólidas para alcançar o desmatamento zero até 2030”, a partir de 12 objetivos, que passam por, entre outros tópicos: garantir a responsabilização pelos crimes e infrações administrativas ambientais ligados ao desmatamento e degradação florestal; aprimorar a capacidade de monitoramento do desmatamento, incêndios, degradação das cadeias produtivas; avançar na regularização ambiental com o aprimoramento do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural; garantir a destinação e a proteção das terras públicas não destinadas; e criar, aperfeiçoar e implementar instrumentos normativos e econômicos para controle do desmatamento.

Há uma preocupação maior, desta vez, em conseguir impulsionar a bioeconomia, trazendo alternativas econômicas de desenvolvimento sustentável para a região a fim de trazer valor para a floresta em pé. 

Esse era um eixo do PPCDAm desde sua primeira fase, em 2004, mas foi o que menos se desenvolveu. Muito se avançou na primeira década do plano nos mecanismos de comando e controle, que de fato promoveram a redução da devastação, mas não foram oferecidas saídas de desenvolvimento, o que foi avaliado como uma das dificuldades para continuar contendo o avanço da motosserra.

Agora há uma série de objetivos e metas com esse intuito, como, por exemplo, elaborar o Plano Nacional de Bioeconomia, criar o “Selo Amazônia” para certificação de produtos da bioeconomia e instituir projetos de ecoturismo. Um dos focos é promover o manejo florestal sustentável e a recuperação e restauração de áreas desmatadas ou degradadas. Para isso está previsto ampliar a área de floresta pública federal sob concessão florestal em até 5 milhões de hectares, incluindo a restauração florestal e silvicultura de espécies nativas.

Da origem bem-sucedida ao abandono

Criado originalmente em 2004, no primeiro mandato de Lula, quando Marina também estava à frente do Ministério do Meio Ambiente, o PPCDAm possibilitou pela primeira vez uma queda gradual e consistente na devastação da Amazônia. A taxa anual saiu de 27.772 km2 em 2004 (a segunda maior do registro histórico) para 4.571 km2 em 2012 (a menor desde o início do monitoramento do sistema Prodes, do Inpe). 

Nos anos seguintes, porém, a taxa começou a oscilar para cima, retomando uma trajetória de alta nos últimos quatro anos, sob o governo Bolsonaro. Entre 2018 e 2022, o desmatamento subiu 54%. Em 2021, chegou ao pico de 13 mil km2, o maior nível desde 2006.

O plano original teve como um dos méritos, segundo especialistas, ter sido interministerial – e não somente um esforço da área ambiental do governo. Essa configuração, que refletia em força política das ações, se perdeu com o passar dos anos, especialmente a partir do segundo governo Dilma, e chegou a ser apontada como um dos motivos para que, depois de 2013, o desmatamento retomasse uma trajetória de alta. 

Agora essa formulação está de volta. A comissão que aprovou o novo plano foi composta por 19 ministérios, reforçando o aspecto transversal defendido por Marina e endossado por Lula. O plano, inclusive, traz metas específicas para todos os órgãos e ministérios envolvidos, como a própria Casa Civil, que faz a coordenação política do plano. Tem papel fundamental nessa integração as pastas da Fazenda, da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário, de Minas e Energia, da Justiça, da Ciência e Tecnologia, só para citar alguns.

“A nova fase resgata o espírito original do PPCDAM de ter ações que transcendem a lógica exclusiva de criar unidade de conservação e fazer o monitoramento e a fiscalização, mas com várias novidades”, disse à Agência Pública o secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do MMA, André Lima.

“Estamos focando no uso de tecnologias para fiscalização, priorizando embargos remotos, para aumentar o alcance do que hoje se faz, aumentando significativamente as sanções. Alguns ministérios estão entrando com mais disposição. A Fazenda, por exemplo, está com muito interesse. O próximo Plano Safra (de financiamento do agropecuária) deve vir com novidades importantes, de trazer constrangimento de dar crédito para quem está ilegal. E agora vamos avançar no que não se conseguia nas fases anteriores, que é a agenda positiva”, explica o secretário.

Lima, que responde no ministério justamente pela operacionalização do plano, destacou que toda a operação vai ter como base um tripé para se alcançar o desmatamento zero: eliminar o desmatamento ilegal, criar incentivos econômicos para evitar mesmo a supressão de vegetação passível pela lei e promover atividades de restauração como forma de compensar as áreas que forem inevitáveis de serem abertas.

A situação atual, lembra ele, traz outros níveis de dificuldade em relação à enfrentada há quase 20 anos. Apesar de naquela época as taxas de desmatamento serem muito mais altas que as atuais, hoje o aumento da violência e as pressões político-econômicas apresentam novos desafios.

O documento faz um diagnóstico do que se tem a enfrentar, como a interiorização do desmatamento, com invasão de terras públicas; a reconcentração do desmatamento em grandes áreas; a redução da capacidade da governança em áreas protegidas e assentamentos; a persistência do desmatamento ilegal nas cadeias produtivas e o aumento da degradação florestal. 

“A fronteira do desmatamento subiu. Não é só mais o arco do desmatamento. A soja e a pecuária estão subindo”, afirma Lima. Em 2004, o desmatamento se concentrava principalmente no sudeste do Pará, no eixo da rodovia BR-163 no estado de Mato Grosso e em Rondônia. Agora avança para o interior da Amazônia, pelos estados do Pará, Acre e Amazonas, em especial ao longo das rodovias federais BR-163, a BR-230, a BR-319 e a BR-364.

“Merece destaque em relação à alteração da dinâmica de ocupação de áreas de floresta nativa ocorrida nos últimos anos é a associação entre o desmatamento, a intensificação dos conflitos pela posse da terra e a violência, potencializados pela presença cada vez mais proeminente do crime organizado associado ao tráfico de drogas na Amazônia e seu papel de domínio no território”, aponta o documento. 

O lançamento do PPCDAm coincide com a data de um ano do assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, no Vale do Javari, no oeste do Amazonas, fato lembrando logo na abertura do evento. As viúvas dos dois, Alessandra Sampaio e Beatriz de Almeida Matos, e Maria Luiza Araújo Pereira, filha de Bruno, estavam na primeira fila da cerimônia.

Créditos de imagens Reprodução: TV Brasil

 Vinícius Mendonça/Ibama - Bruno Fonseca/Agência Pública

*Esta reportagem faz parte do especial Emergência Climática, que investiga as violações socioambientais decorrentes das atividades emissoras de carbono – da pecuária à geração de energia. A cobertura completa está no site do projeto.

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 05 JUNHO 23

 

A Guerra aos olhos de Erico Veríssimo

 

China diz que busca diálogo e que confronto com EUA seria 'desastre insustentável'

'É inegável que um conflito ou confronto severo entre a China e os EUA será um desastre insuportável para o mundo', afirmou o ministro de Defesa da China, Li Shangfu.

 

A Guerra na Ucrânia está muito distante do Brasil. Tornou-se, certamente, mais próxima depois que o Presidente Lula, logo de sua posse, começou a falar sobre o assunto, aliás, com certa independência, gerando forte reação da Mídia, dos aliados ocidentais aos Estados Unidos e grande parte dos políticos de Oposição, hoje predominantes no Congresso Nacional. A opinião pública ainda vê tudo isso com perplexidade, sensibilizada, claro, com as abundantes imagens de destruição de cidades ucranianas, mortes de civis e saída forçada de mais de 4 milhões daquele país para um exílio incerto. Já Bolsonaro mantivera a mesma atitude, chegando, mesmo a visitar Putin em Moscou com grande comitiva, inclusive militares, evitando o confronto com a Rússia que poderia colocar em cheque a importação de fertilizantes. Felizmente, estes insumos chegaram e podemos, hoje, comemorar um safra recorde de grãos de mais de 300 mil toneladas, embora todo este êxito tenha se dado sem o indispensável acompanhamento de órgãos ambientais, naquele clima da “boiada” de Ricardo Sales...

 

As guerras, enfim, sempre comovem corações e mentes e, como estamos do “lado de cá do mundo”, embora debaixo do Equador e parceiros do rebelado Sul Global, assim denominado recentemente por alta autoridade americana, tendemos a nos inclinar, desde a I Guerra Mundial, à causa “aliada”. Na II Guerra Mundial chegamos a participar do conflito enviando gloriosa a FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA- FEB-, um contingente de 25 mil “pracinhas”, que deixou nos campos da Itália, para onde foram designados, 500 mortos. 

Recolho, casualmente, este fragmento do livro de Erico Veríssimo – Solo de Clarineta -, no qual conta sua formação em Cruz Alta RS, esta passagem que bem denota nosso envolvimento emocional com a I Guerra:

 

Veio depois a Guerra de 1914 e a Primeira Guerra...

Por esse tempo fundei uma revista – A Caricatura – que constava de um único exemplar em duas folhas de papel almaço, e na qual eu fazia desenhos e escrevia pequenas notas. Em suas páginas apareciam caricaturas do odiado Kayser, com seus insolentes bigodes retorcidos para cima, o seu capacete agressivo. Mas havia também retratos feitos a bico de pena e simpatia de generais franceses como Jofre, Pétain, Weigand, Foch.

Tratávamos o conflito com espírito maniqueísta. Era o Bem contra o Mal. O Direito contra a Tirania. Bandidos contra Mocinhos como nos fitas de cinema. (...) Achávamos que Deus não podia deixar de ser aliadófilo, pois aquela era a guerra da Civilização contra a Barbárie.

(...)

Nunca pude entender um socialista italiano que um dia me disse, cripticamente apontando para os remédios que se enfileiravam nas prateleiras da farmácia do meu pai. “É uma guerra comercial, menino, não se iluda. (...) A França e principalmente a Inglaterra não podem aguentar a concorrência alemã no mundo.” (Pg. 101 –Edição especial MPM Propaganda, 1973)

 

Ora, tal como ontem, a Alemanha, hoje a Rússia emerge em nosso inconsciente, alimentado pela Mídia e outros formadores de opinião, como reedição da barbárie. Mais uma vez, depois dos 100 milhões de mortos em duas guerras mundiais, vamos entrando, mais uma vez num conflito que desbordar a fronteira da Rússia/Ucrânia e se transformar numa Guerra Global. Muitos já acreditam que estamos nela e evidenciam o conflito como um conflito do Eixo do Mal, ancorado na aliança Rússia/China como reedição da luta, como diz Erico Veríssimo, “da Civilização conta a Barbárie”. É importante, pois, tomar um certo distanciamento para se compreender que, no fundo, isso tudo é o fruto do “homo pugnat” em sua luta por afirmação de interesses, território, comércio e mesmo valores. O que está por trás da Guerra na Ucrânia é uma acirrada disputa, que relembra as políticas de Aliança os anos anteriores da I Guerra Mundial, entre Centros Hegemônicos e Novos Protagonistas em busca de um lugar ao sol na Geopolítica Mundial. Curiosamente, os centros hegemônicos de hoje foram potências coloniais e neocoloniais no passado e os novos protagonistas, desta vez, estão, grosso modo no Sul Global. Não por acaso América Latina em peso, África e Países da Ásia, com exceção do Japão, evitam entrar na Guerra da Ucrânia ao lado dos “ocidentais”. Leia-se, por exemplo, esta extensa análise de um atento observador da conjuntura internacional:

Crepúsculo: a erosão do controle dos EUA e o futuro multipolar - por Tricontinental

https://www.thetricontinental.org/wp-content/uploads/2021/01/20201223_Dossier-36_PT_Web.pdf 

 

Eis outro exemplo na análise do jornalista brasileiro Pepe Escobar, mais inclinado “ao lado de lá”, neste comentário, que difere diametralmente do que ouvimos e lemos diariamente em nossa imprensa:

 

Marino Boeira comenta fala de PEPE ESCOBAR no Canal 247 no dia 1º. Junho passado–Rússia, China e a revolta do Sul Global - https://www.youtube.com/watch?v=6jML7UYzgBE : Vale a pena assistir edição de ontem (1/6/2023) do 247 com Pepe Escobar falando sobre o conflito OTAN/ USA/ Ucrânia contra a Rússia. O Escobar é daqueles caras que sabem de tudo e de todos e se diz amigo do principal assessor do Putin, do Xi Jiping ou de qualquer outra personalidade citada, o que deixa a gente com um pé atrás sobre suas especulações. Dando crédito as suas falas, em síntese, o que ele disse ontem foi: 1) A vitória russa na guerra é apenas uma questão de tempo. 2) Putin aceitaria uma paz negociada com a Ucrânia, mas seus principais assessores militares advogam uma vitória completa 3) Os americanos já estão a fim de se livrar do Zelensky por causa da sua corrupção sem limites. 4) A guerra contra a Rússia é o preâmbulo de um conflito maior com a China 5) Pepe repetiu pela milésima vez que o fim da hegemonia mundial dos Estados Unidos está próximo com a China recuperando uma liderança comercial secular no mundo e que só terminou há 200 anos com a exploração colonial do Ocidente na Ásia e na África. Capítulo especial no programa foi a preocupação, evidente desde o início do Leonardo Attuch de exaltar o papel de Lula na reunião de Hiroxima. Constrangido, Escobar, acabou falando no tema, mas sem deixar de ressaltar o papel dúbio do presidente brasileiro no tema e sua pequena margem de manobra na sua pretensão de se transformar num mediador para o assunto. Escobar vem ainda esse mês ao Brasil patrocinado pelo 247 para duas conferências e visivelmente não quis se opor ao esforço do Attuch em valorizar o papel de Lula no Japão.

 

Um grande estudioso da diplomacia mundial, Von Clausevitz, disse que a guerra é a continuação da política por outros meios. Hoje isso é muito discutido. Dois autores franceses, em livro ainda não publicado no Brasil, invertem a equação e até afirmam que as guerras já não são necessárias porque a própria Política incorporou meios de dominação que a dispensam. Em todo o caso, aí está a Guerra na Ucrânia e sobre ela somos obrigados a pensar e nos posicionar, ainda que cautelosamente e colocando, acima de tudo, além da prudência que é olho das virtudes, umbral da sabedoria, os interesses nacionais.


 

 Editorial: O automóvel, meu bem, meu mal...

Seu bolso

Por que as famílias estão gastando menos e como isso impacta no PIB do Brasil

Mesmo após o governo aumentar salário mínimo e Bolsa Família, orçamento familiar segue apertado e destinado a contas básicas.

 

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A despedida da Ford em 2021, depois de quase um século no Brasil foi um sinal de que o sistema automobilístico, sobretudo com motores à explosão – e não apenas a FORD - se esgotou como alavanca da industrialização brasileira. Em 1956, sob a égide de JK, competia com Brasília como símbolo do desenvolvimentismo. O automóvel como produto, Brasília como Meta Síntese de uma Era de grandes transformações, hoje carente de substitutos.. Na verdade, como observou o Jornalista André G. Stumpf há tempos: “O dinamismo da indústria de São Paulo se deveu, em boa parte, às montadoras de automóveis, importantes geradoras de postos de trabalho. Não são mais. Os trabalhadores estão sendo substituídos por robôs. A indústria, contudo, nunca amadureceu, no Brasil....(ademais) Nas grandes cidades, o carro é algo que complica a vida. É caro, exige espaço para estacionar perto do trabalho, obriga garagem em casa. Com a ascensão do home office, ninguém mais precisa sair para o escritório. Trabalha em casa. Além disso, é mais fácil e barato andar em carro de aplicativo*,

Além disso tudo, estamos diante de uma transição energética em decorrência da crise climática. É verdade que o petróleo ainda perdurará como fonte de energia barata até mais uns 50 anos, mas ao longo deste período perderá força para fontes alternativas. Tanto isso é verdade que a União Europeia já decretou o fim da circulação dos carros movidos a energia fóssil em meados da próxima década. E as montadoras estão se voltando cada vez mais para o carro elétrico. Em vinte anos dominarão o mercado como resultado das inovações tecnológicas relativas ao peso das baterias e sua duração. 

Diante disso é perfeitamente válido se indagar sobre a propriedade das isenções fiscais sobre o carro popular brasileiro, que de popular, na verdade tem muito pouco, pois variam de 90 a 120 mil reais. Da mesma forma, é discutível subsidiar o preço da gasolina para uma classe média já privilegiada. Basta ver o número de Declarações de Imposto de Renda neste ano: 41 milhões, para uma força de trabalho de 105 milhões de brasileiros, na qual, inclusive, mais de 50 milhões estão ausentes. E veja-se que quem ganha de 2 a 5 mínimos e que declarou Imposto de Renda está longe de ser classe média, tanto que Lula promete até o final de seu atual mandato dispensá-los deste recolhimento. O Ministro Haddad se apressa em afirmar que esta não é uma Política (baixar impostos federais) de longo prazo, apenas um suspiro ás fábricas por poucos meses para retomar o nível de atividade muito baixo. Mas mesmo que um carro popular zero venha a custa 70 mil reais, este preço ainda está muito alto mesmo para um metalúrgico do ABC cuja salário médio pode chegar a 3 mínimos. Precisaria de quase dez meses deste salário para comprar este carro. Se compararmos com a grande massa de trabalhadores brasileiros, isto é , 120 milhões que ganham até um mínimo, nem pensar. Só para se ter uma base de comparação com o que ocorria há cem anos com a mesma FORD nos Estados Unidos. Ela produzia cerca de um milhão de modelos T por ano, ao preço final de 400 dólares, equivalente a 4 meses de salário de seus empregados. Isso fez a grandeza indústria dos Estados Unidos àquela época pois ingressava, com o automóvel, na era do consumo de massas. O carro zero, no Brasil, com ou sem subsídios, ainda é um produto de luxo. Nosso grande mercado ainda são produtos de subsistência e, no máximo, a denominada linha branca cuja venda é dominada pelos grandes magazines. Isso porque os bons e seguros empregos no Brasil são insuficientes, os salários em geral baixíssimos e o que é pior: este ano cresceremos – PIB – não mais do que 2%, nível a que estamos condenados há 40 anos.

O grande desafio à indústria automobilística é sua entrada no carro elétrico, assim como o da indústria em geral, a abertura de novas frentes com fortes investimentos na economia verde, em novos materiais como grafeno, em novos processos. Depoimentos revelam, por exemplo, a superioridade dos carros voltaicos. Ainda o citado jornalista:

“Este é o cenário do mercado brasileiro. Na questão energética, surgem novas tecnologias que ajudam a tornar ainda mais caótica a situação dos automóveis. A energia eólica, a dos ventos, está progredindo de vento em popa no país, me perdoem o trocadilho. E a energia solar vai no mesmo caminho.

A venda de sistemas fotovoltaicos para residências disparou no país. Quem pagava, digamos, mil reais por mês na conta de energia, passou a pagar R$100. O carro elétrico cabe como uma luva neste novo desenho. O cidadão liga o carro na tomada e vai dormir. No dia seguinte tem a sua disposição 400 ou 500 quilômetros de alcance, a custo quase zero. É tudo muito novo.

Já estão à venda no país as telhas do sistema fotovoltaico, que tornam o conjunto ainda mais barato, porque dispensam os painéis solares, que hoje são importados da China. Ou seja, o telhado da casa, além de proteger o morador do sol e da chuva, também produz energia elétrica. O pessoal que trabalha no setor de petróleo e gás sabe disso.”

A recente visita de Lula à China trouxe alguma alento no sentido de que aquele país traga para o Brasil sua tecnologia para a produção de voltaicos. Espera-se, contudo , que não se repita o modelo inaugurado pela Ford e Volkswagen que, depois de quase cem anos, abandonam o país em busca de melhores ventos. Urge que o país se associe aos chineses e que produza um carro nacionalizado num período razoável de tempo necessário à absorção da tecnologia. 

Além disso, é importante que se diga que nossas cidades não precisam de mais automóveis. Em São Paulo – e daqui a pouco em várias outras capitais – já há um sistema de rodízio para o ingresso deles no centro da cidade. Não cabem mais em nossas ruas. Precisamos nos voltar, sim, para a substituição do carro por outras modalidade de transporte, sejam de transporte de tração humana, como a bicicleta fartamente usada pelas classes populares, sejam de transporte coletivo.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 01 JUNHO 23

 

Tensão em Brasília

O dia de ontem, em Brasília, foi de grande tensão, não por ameaça de golpe ou quebradeira, mas pelo confronto entre os Poderes Executivo e Legislativo, em torno da aprovação da Medida Provisória da reorganização do Governo Federal, após 4 derrotas de Lula sobre temas importantes, um deles, o Marco Temporal, que aponta, ainda, para um embate da Câmara dos Deputados com o Supremo. O projeto governamental acabou aprovado, mas a um preço alto em emendas parlamentares e incertezas sobre o futuro da governabilidade. Analistas culpam o Governo por falta de articulação política e, sobretudo, ausência de Lula. Na verdade, embora hajam, sim, questões pontuais, a crise expressa, de um lado uma mudança estrutural nos tempos vividos nos últimos vinte anos, nos quais Lula esteve afastado do Poder, que criaram um novo espaço público - as manipuladas Redes Sociais - que alimenta a extrema direita, e de outro, no fortalecimento da Câmara no Governo Bolsonaro, que acabou instituindo um regime de parlamentarismo de coalizão que garroteia o Planalto. Lula não é Bolsonaro e resiste. A questão está em toda a imprensa. Vejamos a abordagem do Podcast O ASSUNTO, do g1:

 Lula, a desarticulação e o poder de Lira

Foi aos 45 do segundo tempo, mas o governo conseguiu aprovar na Câmara a Medida Provisória que mantém a atual estrutura do Planalto, com 37 ministérios. O texto final recebeu alterações, enfraqueceu os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas e correu o risco de ficar fora da pauta no dia limite para a votação. Tarde da noite desta quarta-feira (31), véspera do dia em que perderia a validade, a MP passou com 337 votos a favor e 125 votos contrários. Agora, o texto será votado nesta quinta (1) no Senado – e a expectativa é que seja aprovado. Para explicar as vitórias e derrotas do Executivo diante do Congresso e a tensa relação entre Lula (PT) e Arthur Lira (PP-AL), Natuza Nery conversa com Vera Magalhães, colunista do jornal O Globo, comentarista da rádio CBN e apresentadora do programa Roda Viva, na TV Cultura. Neste episódio:

Vera imputa a Lira “responsabilidade total” na resistência da Câmara em aprovar a MP governista: “Lira é uma entidade que detém a maioria dos deputados” - e ganha mais poder diante de um “governo fraco” politicamente no Parlamento;

Ela comenta a “ausência de Lula na articulação política”, que resulta de sua atenção excessiva com as relações exteriores e que pode “inviabilizar o governo na largada”: assim como enquadrou Bolsonaro com dezenas de pedidos de impeachment na mão, Lira pode colocar o atual presidente contra a parede ao pautar as CPIs;

Vera também revela a conversa que teve com um influente parlamentar: “Ele falou: ‘ganhou a eleição por 80% a 20%? Não, foi por 51% a 49%’. E é essa ideia que vai nortear tudo nesses quatro anos”, afirma. Assim, avalia, Lula corre o risco de ter um governo mais regressivo do que o do próprio Bolsonaro - “estão achando mais confortável passar a boiada sem o Bolsonaro para atrapalhar”;

A jornalista analisa a pressão do Congresso sobre o STF na questão do marco temporal das terras indígenas. “A Corte está dividida”, revela, sobre o julgamento em relação à constitucionalidade do tema, pautado para 7 de junho.

 

O que você precisa saber:

MP do governo: chega ao último dia sem acordo para votação// Marco temporal: Câmara aprova MP que limita terras indígenas// Por telefone: Lira alerta Lula sobre erros na articulação política// Lira: 'insatisfação generalizada' contra o governo na Câmara// Rota de colisão: o risco de Lula-Lira virar Dilma-Cunha


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 31 MAIO 23

 

ENCONTRO DE PRESIDENTES DA A.SUL EM BRASILIA- 23

 

De moeda comum a mobilidade estudantil: as 10 propostas de Lula em fórum com presidentes da América do Sul

Presidente discursou na abertura do evento, nesta manhã, e reforçou necessidade de integração para desenvolvimento da região. Ao todo, 10 chefes de estado participam do encontro em Brasília.

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Reunião em Brasília contou com participação de 11 chefes de Estado, criou grupo de trabalho para definir integração dos países do continente e emitiu a CARTA DE BRASÍLIA, abaixo, na íntegra. O encontro patrocinado pelo Presidente Lula cumpriu os objetivos de mobilizar os dirigentes sulamericanos para a questão da integração continental frente aos desafios econômicos e ambientais contemporâneos. Os chanceleres destes 11 países manterão contatos com vistas a um novo encontro dentre de 120 dias quando os objetivos do grupo deverão estar melhor alinhados. A ideia da retomada da UNASUL, por ora, foi afastada, embora sete países mais afinados com a esquerda continuem se reunindo e acreditando que este organismo ainda poderá contribuir para a integração da América do Sul. 

Dividida em nove pontos, a carta diz que os presidentes "reconheceram a importância de manter um diálogo regular, com o propósito de impulsionar o processo de integração da América do Sul e projetar a voz da região no mundo". Os signatários propõem uma discussão mais ampla sobre formas concretas de cooperação em torno de um grupo permanente, ainda não definido. "Decidiram estabelecer um grupo de contato, liderado pelos chanceleres, para avaliação das experiências dos mecanismos sul-americanos de integração e elaborar um mapa do caminho para a integração da América do Sul, a ser submetido à consideração dos Chefes de Estado."

"Temos que parar com essa tendência: a criação de organizações. Vamos nos basear em ações", afirmou o presidente do Uruguai, Luís Lacalle Pou, em discurso na cúpula. "Quando nos tocou assumir o governo, nos retiramos da Unasul. Em seguida, nos convidaram para o Prosul [bloco criado em 2019 em contraponto à Unasul], e dissemos que não. Porque senão terminamos sendo clubes ideológicos que têm vida e continuidade apenas enquanto marchemos com nossas ideologias", acrescentou o uruguaio. 

No Encontro o Presidente Lula voltou a propor a criação de uma moeda de referência para o comércio dos países do continente justificando a medida com a ideia da criação do Euro pela União Europeia. Sua defesa e deferência ao Presidente Maduro, da Venezuela, entretanto, recebeu fortes críticas dos Presidentes do Uruguai e do Chile. 

A Agência Brasil, em edição de Nádia Franco, assim resumiu o Encontro de Brasília 2021 e divulgou a íntegra da Carta assinada pelos 11 Presidentes:

Desafios comuns

agenciabrasil EBC Presidentes criam grupo para definir integração na América do Sul 

O Consenso de Brasília registra também "a visão comum de que a América do Sul constitui uma região de paz e cooperação, baseada no diálogo e no respeito à diversidade dos nossos povos, comprometida com a democracia e os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e a justiça social, o Estado de direito e a estabilidade institucional, a defesa da soberania e a não interferência em assuntos internos".

Em outro ponto, o documento enumera temas como crise climática, ameaças à paz e à segurança internacional, pressões sobre as cadeias de alimentos e energia, risco de novas pandemias, aumento de desigualdades sociais e ameaças à estabilidade institucional e democrática como os problemas e desafios da região.

Ainda sobre integração, a carta cita o fortalecimento da democracia, combate discriminação, a promoção da igualdade de gênero, gestão ordenada, segura e regular das migrações como outros desafios comuns dos países sul-americanos. O Consenso de Brasília cita o compromisso dos países de trabalhar para o incremento do comércio e dos investimentos, a melhoria da infraestrutura e logística, o fortalecimento das cadeias de valor regionais, a aplicação de medidas de facilitação do comércio e de integração financeira, a superação das assimetrias, a eliminação de medidas unilaterais e o acesso a mercados por meio de uma rede de acordos de complementação econômica.

Consenso de Brasília – 30 de maio de 2023 

1. A convite do Presidente do Brasil, os líderes dos países sul-americanos reuniram-se em Brasília, em 30 de maio de 2023, para intercambiar pontos de vista e perspectivas para a cooperação e a integração da América do Sul.

2. Reafirmaram a visão comum de que a América do Sul constitui uma região de paz e cooperação, baseada no diálogo e no respeito à diversidade dos nossos povos, comprometida com a democracia e os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e a justiça social, o Estado de direito e a estabilidade institucional, a defesa da soberania e a não interferência em assuntos internos.

3. Coincidiram em que o mundo enfrenta múltiplos desafios, em um cenário de crise climática, ameaças à paz e à segurança internacional, pressões sobre as cadeias de alimentos e energia, riscos de novas pandemias, aumento de desigualdades sociais e ameaças à estabilidade institucional e democrática.

4. Concordaram que a integração regional deve ser parte das soluções para enfrentar os desafios compartilhados da construção de um mundo pacífico; do fortalecimento da democracia; da promoção do desenvolvimento econômico e social; do combate à pobreza, à fome e a todas as formas de desigualdade e discriminação; da promoção da igualdade de gênero; da gestão ordenada, segura e regular das migrações; do enfrentamento da mudança do clima, inclusive por meio de mecanismos inovadores de financiamento da ação climática, entre os quais poderia ser considerado o ‘swap’, por parte de países desenvolvidos, de dívida por ação climática; da promoção da transição ecológica e energética, a partir de energias limpas; do fortalecimento das capacidades sanitárias; e do enfrentamento ao crime organizado transnacional.

5. Comprometeram-se a trabalhar para o incremento do comércio e dos investimentos entre os países da região; a melhoria da infraestrutura e logística; o fortalecimento das cadeias de valor regionais; a aplicação de medidas de facilitação do comércio e de integração financeira; a superação das assimetrias; a eliminação de medidas unilaterais; e o acesso a mercados por meio de uma rede de acordos de complementação econômica, inclusive no marco da Aladi [Associação Latino-Americana de Integração], tendo como meta uma efetiva área de livre comércio sul-americana.

6. Reconheceram a importância de manter um diálogo regular, com o propósito de impulsionar o processo de integração da América do Sul e projetar a voz da região no mundo.

7. Decidiram estabelecer um grupo de contato, liderado pelos Chanceleres, para avaliação das experiências dos mecanismos sul-americanos de integração e a elaboração de um mapa do caminho para a integração da América do Sul, a ser submetido à consideração dos Chefes de Estado. 

8. Acordaram promover, desde já, iniciativas de cooperação sul-americana, com um enfoque social e de gênero, em áreas que dizem respeito às necessidades imediatas dos cidadãos, em particular as pessoas em situação de vulnerabilidade, inclusive os povos indígenas, tais como saúde, segurança alimentar, sistemas alimentares baseados na agricultura tradicional, meio ambiente, recursos hídricos, desastres naturais, infraestrutura e logística, interconexão energética e energias limpas, transformação digital, defesa, segurança e integração de fronteiras, combate ao crime organizado transnacional e segurança cibernética.

9. Concordaram em voltar a reunir-se, em data e local a serem determinados, para repassar o andamento das iniciativas de cooperação sul-americana e determinar os próximos passos a serem tomados.

Edição: Nádia Franco

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 30 MAIO 23

 

A CÚPULA DA AMÉRICA DO SUL EM BRASÍLIA

 

América do Sul

A América do Sul é um continente que compreende a porção meridional da América. Também é considerada um subcontinente do continente americano. A sua extensão é de 17 819 100 km², abrangendo 12% da superfície terrestre e 6% da população mundial. Wikipédia

Área: 17.840.000 km²

População: 422,5 milhões (2016)

Idiomas: Português, espanhol, guarani, inglês, holandês, francês, aimará e quéchua, Línguas tupis

Ver evolução territorial e política

Evolução territorial e política 

Políticas de integração regional

Diversas instituições foram criadas entre países da América do Sul com finalidade de integração regional. A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), que incluí países da América Central e do Norte, foi criada em 1980 para promover o desenvolvimento econômico e social da região, de forma gradual e progressiva, para o estabelecimento de um mercado comum latino-americano. Integram a associação Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. A Nicarágua está em processo de adesão. Em conjunto somam uma área de vinte milhões de km², cerca de quinhentos e trinta milhões de habitantes e um PIB superior a 5 trilhões de dólares.

O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) foi criado em 1991 pelos países fundadores Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, para promoção de dois pilares fundamentais da integração regional: a democracia e o desenvolvimento econômico. A Venezuela iniciou um processo de adesão em 2012, como Estado Parte, mas encontra-se suspensa desde 2016, e a Bolívia encontra-se em processo de adesão. Além dos países membros, são Estados Associados do Mercosul todos os demais países da América do Sul. O bloco pode ser caracterizado como uma união aduaneira em fase de consolidação, favorecendo a circulação dos fatores de produção, com a adoção de política tarifária comum em relação a terceiros países. Os membros do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, países fundadores, e Venezuela) abrangem, aproximadamente, 72% do território da América do Sul; 70% da população sul-americana e 77% do PIB da América do Sul em 2012, segundo dados do Banco Mundial. Se tomado em conjunto, o Mercosul seria a quinta maior economia do mundo. 

A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), criada em 2011, herdeira das Cúpulas de Chefes de Estado e de Governo da América Latina e Caribe (CALC), inclui trinta e três países e objetiva a cooperação para o desenvolvimento e a concertação política. 

A Aliança do Pacífico, que incluí países da América Central e do Norte, foi criada em 2012 pelos países fundadores Chile, Colômbia, México e Peru, tendo a Costa Rica sido incorporada ao grupo em 2013. Objetiva a formalização dos Tratados de Livre Comércio de bens e serviços, a livre circulação de pessoas, a integração financeira e de capitais e a integração física. Em números, esses países representam, juntos, cerca de 35% do PIB e 55% do total das exportações da América Latina.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) foi criada em 1948, possui trinta e cinco Estados membros e tem por finalidade a construção da paz e da justiça no continente americano, além da promoção da solidariedade e da cooperação mútua entre os Estados da região, defendendo a soberania, a integridade do território e a independência de seus associados.

A União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), criada em 2008, chegou a incluir todos os doze países da América do Sul, com o objetivo construir um espaço de integração dos povos sul-americanos. A UNASUL previa a cooperação entre os Estados-membros em diversas áreas, incluindo política, integração física, energia, saúde e defesa. A partir de abril de 2018 os governos do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru decidiram de forma conjunta suspender a sua participação na organismo, devido a uma crise iniciada em 2017, quando não houve consenso para eleger um novo secretário-geral. Em março de 2019, o Equador, onde fica a sede do organismo, além de anunciar sua saída definitiva, pediu a devolução do edifício sede para o governo do país. O Parlamento da Unasul, sediado na Bolívia, nunca chegou a eleger representantes. Em 22 de março de 2019, Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai e Peru assinaram um acordo para constituir o Foro para o Progresso da América do Sul (PROSUL), em substituição à UNASUL. O novo foro terá estrutura leve e flexível, com regras de funcionamento claras, defesa da democracia e o respeito aos direitos humanos. 

 

Diversos Presidentes da República preocuparam-se com o fortalecimento das relações continentais a partir de meados do século passado. JK, por exemplo, defendia o Panamericanismo - Dissertações- panamericanismo de JK um estudo acerca das reacoes provocadas na America Latina . Sarney dedicou-se ao fortalecimento do Mercosul, pondo um fim às tensões há tempos alimentadas pelos militares com a Argentina –

Noticias especiais - Há 30 anos criação do Mercosul pôs fim as tensões históricas entre Brasil e Argentina. Lula, agora, se volta à União da América do Sul e recebe em Brasília 10 chefes de Estado. A pedra no sapato são as relações com Venezuela mas Lula aposta na reaproximação com este país não só por razões comerciais mas na esperança de influenciar na recuperação do processo democrático naquele país.

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CAFÉ DA MANHÃ FOLHA UOL 

Podcast discute reaproximação entre Brasil e Venezuela e integração na América do Sul. Lula recebe Maduro com agenda extensa, em encontro que antecede reunião de países sul-americanos                                            

Lula e Maduro: 'Faz sentido normalizar relação, mas alinhamento não pode ser ideológico', avalia professor de relações internacionais na FGV-SP

Visita do líder venezuelano mobilizou críticas ao governo Lula. Em entrevista a Natuza Nery, Oliver Stuenkel explica por que decisão é 'pragmática' e ao mesmo tempo 'ideológica'.

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/05/30/lula-e-maduro-faz-sentido-normalizar-relacao-mas-alinhamento-nao-pode-ser-ideologico-avalia-professor-de-relacoes-internacionais-na-fgv-sp.ghtml 

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O Presidente Lula continua, enfim, em seus esforços concentrados para recuperar a imagem do Brasil no exterior, reforçando sua capacidade de diálogo com vários governos no mundo inteiro. Consegue bom reconhecimento tanto à esquerda como à direita, com exceção, claro de governantes de extrema direita os quais evita, ainda assim com cuidado, como no caso dos países árabes. Isso se traduz, naturalmente, na abertura do Brasil para investimentos externos e maior abertura comercial, embora tais resultados não se percebam no curto prazo. Note-se, porém, que a entrada de capitais vem aumentando neste ano. Até abril de 2023 (Lula) houve entrada líquida (captação) de US$ 13,3 bilhões. Com Bolsonaro, virtude do isolamento a que reduziu o Brasil, quando seu primeiro chanceler gaba-se de que o Brasil ficaria melhor como pária internacional, o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 71,4 bilhões. Agora Lula se volta ao fortalecimento dos laços entre os países da América do Sul, um bloco não estritamente latino, eis que contempla países de colonização anglo-saxã, como Suriname e Guiana, acreditando na possibilidade de formar uma área econômica com maior capacidade de barganha no mercado mundial. Com efeito, nosso tamanho corresponderia ao da União Europeia, em torno de 400 milhões de pessoas, no qual o Brasil ocupa lugar privilegiado demográfico e economicamente. Não se trata de um processo fácil, nem natural. Enquanto a Europa se articulara em redes de caminhos, migrações internas e até guerras sangrentas desde o Império Romano, na América do Sul, com povos originários superpostos por colonizadores de origens diversas e diversificados pontos de penetração, esta articulação ainda está por se realizar. Esta interpenetração de povos, culturas e instituições trouxe à América do Sul distintos processos políticos. Temos países com grande influência indígena, como a Bolívia, inclinados a um socialismo primitivo (nada primário), temos uma Argentina, notadamente Buenos Aires que, no passo em falso do Presidente Fernandes “veio do mar”, temos o Brasil, com forte presença negra que dificilmente poderíamos identificar, temos Guiana e Suriname, com grande presença asiática, a tal ponto que dificilmente podemos nos identificar como “ocidentais”. O célebre Huntington, autor de A GUERRA DAS CIVILIZAÇÕES, que teve grande impacto no final do século passado, já advertia que América Latina era um caso excepcional, uma “cultura” própria. Aliás, para grande parte de sua população, sobretudo mais pobre, o Ocidente não é senão o conjunto de países que os subjugaram ao ponto do genocídio de seus povos. Não obstante, a independência precoce de nossos países no século XIX, num soluço das potências colonizadoras sob o acicate do exército napoleônico, entregou-nos formações nacionais comandadas por elites afinadas com a cultura ocidental que acabaram configurando um cenário ocidentalizado na região. A longa fermentação social interna, porém, vai modificando este cenário e entregando uma nova fisionomia política ao continente que, não por caso, tem apenas três dirigentes mais à direita – Uruguai, Paraguai e Equador -. Recentes pesquisas, inclusive, apontam que a imagem da China é melhor, por aqui, que a dos americanos... 

É neste campo complexo que Lula pretende intervir conclamando ao fortalecimento dos laços na região, chamando os dirigentes sulamericanos para uma cúpula em Brasília. O Itamaraty já confirmou a presença de 10 deles. A Presidente do Peru não estará em razão da crise interna naquele país que a impede de viajar. Mas já chegou a Brasília o Presidente Maduro, da Venezuela e Lula está eufórico com o Encontro de Presidentes. 

Anexo

Cúpula: governo recebe 10 presidentes da América do Sul

 

O Ministério das Relações Exteriores confirmou nesta sexta-feira (26) a participação de 10 presidentes de países da América do Sul na cúpula de líderes da região prevista para a próxima semana, em Brasília.

Segundo o Itamaraty, estarão presentes os chefes de governo: da Argentina; da Bolívia; do Chile; da Colômbia; do Equador; da Guiana; do Paraguai; do Suriname; do Uruguai e da Venezuela.

 

Somente a presidente do Peru, Dina Boluarte, não estará presente. Segundo a secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Padovan, o país deve enviar um representante.

O país enfrenta uma crise interna desde o ano passado, quando o então presidente, Pedro Castillo, foi preso após tentar fechar o Congresso local.

Com isso, na prática, a expectativa no governo brasileiro é que todos os demais presidentes participem, incluindo o da Venezuela, Nicolás Maduro – cujo embaixador entregou nesta semana ao presidente Lula suas cartas credenciais, documento que formaliza a atuação do diplomata no país (leia detalhes mais abaixo).

"Do lado Brasil, queremos integração permanente. Não temos um modelo, é apenas um desejo, que os 12 países, que não seja uma integração fracionada. Buscamos mecanismo, uma instância permanente, inclusiva e moderna", disse Gisela em declaração à imprensa nesta sexta.

"Estamos vendo a reunião não como chegada, mas partida, de retomar o diálogo. Temos consciência de diferença de visões, orientações ideológicas. Mas é um começo para que os chefes sentem na mesa e dialoguem sobre pontos em comum", explicou.

A cúpula 

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, a cúpula acontecerá no próximo dia 30, em Brasília.

O objetivo do encontro, afirma o ministério, é promover o diálogo "franco" entre todos os países, identificando "denominadores comuns", discutindo perspectivas para a região e "reativando a agenda de cooperação sul-americana em áreas-chave".

Essas "áreas-chave", de acordo com o governo brasileiro, são:

Saúde;

Mudança do clima;

Defesa;

Combate aos ilícitos transnacionais;

Infraestrutura;

Energia.

"É imperioso que voltemos a enxergar a América do Sul como região de paz e cooperação, capaz de gerar iniciativas concretas para fazer frente ao desafio, que todos compartilhamos e almejamos, do desenvolvimento sustentável com justiça social", afirmou o presidente Lula, em mensagem publicada pelo Itamaraty.

Venezuela

As relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela se deterioraram nos últimos anos, principalmente durante o governo Jair Bolsonaro (2019-2022).

Crítico do regime de Nicolás Maduro, Bolsonaro, à época em que esteve no Palácio do Planalto, não o reconhecia como presidente, mas, sim, o autoproclamado presidente, Juan Guaidó, opositor de Maduro.

Em 2020, o Brasil determinou que os diplomatas brasileiros em Caracas deixassem a capital venezuelana e que os representantes da Venezuela em Brasília também fossem embora.

Desde que assumiu o governo, em 1º de janeiro, o presidente Lula tem buscado a reaproximação entre os dois países.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 29 MAIO 23

 

A Sétima Arte em Cannes 

O século XX foi, no dizer de Norberto Bobbio, um dos filósofos políticos mais importantes de nossa época, o “Século dos Direitos”, no qual o cidadão deixou de ser apenas um sujeito de deveres perante o Estado mas também de direitos, mas foi também o Século do Cinema, que teve na França seu primeiro grande passo. Auguste e Louis Lumière foram os criadores do cinematógrafo, responsável por filmar e ao mesmo tempo projetar imagens do cotidiano ao público e responsáveis pela primeira projeção de cinema da história, em 1895. Os alemães logo lhe seguiriam os passos e já na segunda década do século XX o cinema se transformava numa grande indústria que exigia, mais do que o Teatro uma conjugação de esforços tecnológicos, empresariais e artísticos. Ao final da década ganharia a sonorização que passaria a empolgar plateias no mundo inteiro. As gerações do pós-guerra, sobretudo, tiveram no cinema não apenas um divertimento, como local de socialização, como de ilustração, complementando os denominados “romances de formação”, muitos deles levados à tela. Nisso acabou cumprindo, também, estratégica função ideológico, principalmente ao disseminar pelo mundo inteiro, pelo peso do cinema americano produzido em Hollywood, do american way of live. Mas o neorrealismo italiano, que redimiu a Itália perante o Ocidente do pecado fascista com MAMMA ROMA, de Rosselini, a nouvelle vague francesa e as várias manifestações do estilo Cinema Novo do Brasil, que teve em Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha seus principais diretores foram o contraponto da grande indústria cinematográfica. Instituíram a proposta de “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão” como denúncia política e afirmação cultural. O Festival de Cannes, neste processo, ao lado do Festival de Veneza e do Oscar americano cumpriram importante papel de premiação e divulgação de grandes obras. Cannes marcou, antes de mais nada, com seu 1º.Festival em 1946, a grande vitória da democracia sobre o nazi-fascismo - https://pt.wikipedia.org/wiki/Festival_de_Cannes_1946 . Sábado passado encerrou-se mais um Festival de Cannes e a BANDNEWS nos deu, com sua correspondente Flávia Guerra, a melhor cobertura. O Brasil esteve presente mais uma vez, recebendo o prêmio dos Comentaristas Internacionais com o filme “Levante”. Nelson Pereira dos Santos, diretor de RIO 40 GRAUS, Vidas Secas e A Terceira Margem foi lembrado com um documentário feito em cooperação com o g1. Também foram premiados pela associação “Los Colonos”, na mostra Um Certo Olhar, e “The Zone of Interest”, na competição oficial. Este é o segundo prêmio que o Brasil leva edição do Festival de Cannes. O longa brasileiro A Flor do Buriti, produzido pela brasileira Renée Nader Messora e pelo português João Salaviza, foi premiado na noite de sexta-feira (27) com a Palma de Ouro.

O Festival marcou a grande diversidade de origens e tendências de diretores e atores, nos quais se destacaram as presenças clássicas de Wim Wenders, que deu a um japonês o prêmio de melhor ator, Scorsese e R.F. que brindou com provável última edição de suas aventuras, ao lado de outros mais jovens, dentre eles, a grande vencedora ,Justine Triet, a terceira mulher, francesa, a ganhar, com “Anatomia de uma queda” a Palma de Ouro, depois de Jane Campion, com “O Piano” (1991), e Julia Ducournau, com “Titane” (2021).

Abaixo um panorama do evento.

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Longa “A Flor do Buriti” sobre a resistência indígena no Brasil é premiado em Cannes

Cultura por RED 27/05/2023 15:11 FacebookTwitterWhatsAppMessengerCompartilhar

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O longa-metragem A Flor do Buriti recebeu o prêmio de Melhor Equipe na mostra Um Certo Olhar no Festival de Cinema de Cannes na noite de sexta-feira, 26. O filme fala da resistência do provo Krahô no norte do Tocantins.

O longa foi dirigido pelo português João Salaviza e pela brasileira Renée Nader Messora. A produção foi de Julia Alves e Ricardo Alves Jr. pela produtora Entre Filmes.

Segundo o g1, o filme é uma colaboração de muitos anos entre os diretores com a comunidade indígena. Em 2017, eles venceram o Prêmio Especial do Júri com o longa “A Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” também sobre os Krahô.

“É importante sublinhar que o nosso projeto com os Krahô não é um projeto artístico, é um projeto de vida”, afirmou o diretor João Salaviza.

Vencedor da crítica

Além de A Flor de Buriti, o filme Levante venceu o prêmio de Melhor Filme concedido pela Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci) durante a mostra Semana da Crítica.

Dirigido por Lillah Halla e protagonizado por Ayomi Domenica, o longa se passa em São Paulo e conta a história da adolescente Sofia que tem uma gravidez indesejada e vai em busca do aborto legal fora do Brasil.

Brasil em Cannes

O diretor cearense Karim Aïnouz está em Cannes com o longa em inglês Firebrand que conta a história da rainha inglesa Catherine Parr, a sexta e última esposa do rei Henrique VIII. O filme foi exibido na sessão Mostra Competitiva e conta com a atuação de Jude Law e Alicia Vikander.

Também presente na mostra está La Chimera, filme italiano dirigido por Alice Rohrwacher e protagonizado por Josh O’Connor, Isabella Rossellini, Alba Rohrwacher, Vicenzo Nemolato e a brasileira Carol Duarte. O longa conta a história de uma arqueólogo inglês que se envolve em um esquema internacional de artefatos etruscos roubados.

Já o diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho teve seu documentário Retratos Fantasmas, sobre o centro de Recife a partir do século XX, exibido durante a semana na Sessão Especial do festival. O longa chega nos cinemas brasileiros na segunda metade do ano.

O Brasil também marcou presença com a exibição do documentário Nelson Pereira dos Santos – Vida de Cinema, coproduzido pela GloboNews, Globo Filmes e Canal Brasil sobre a vida e a obra do cineasta que ajudou a fundar o Cinema Novo. O filme foi exibido na sessão Cannes Classics e também será lançando aqui no país no próximo semestre.

Falando em coproduções, Os Delinquentes, de Rodrigo Moreno, foi feito em conjunto por Argentina, Brasil, Luxemburgo e Chile. O longa mostra o plano de dois bancários para cometer um roubo e deixar de trabalhar. O filme foi exibido na sessão Um Certo Olhar.

BAND NEWS – Flavia Guerra dia 20 maio = Destaques Festival CANNES

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Bing Vídeos

A Fipresci, Federação Internacional de Críticos de Cinema, premiou o longa brasileiro “Levante ” com outro troféu de melhor filme de estreia nas mostras paralelas do Festival de Cannes, neste sábado 27

 

“LEVANTE”, Filme brasileiro premiado em CANNES

May 27, 2023 - “LEVANTE”, Filme brasileiro premiado em CANNESA longa-metragem de Lillah Halla foi reconhecida por emocionar e dizer que direito ao aborto é direito humano. A Fipresci, Federação Internacional de Críticos de Cinema, premiou o longa brasileiro “Levante” com outro troféu de melhor filme de estreia nas mostras paralelas do Festival de Cannes, neste sábado 27. Exibido na Semana da Crítica, o filme da Lillah Halla foi premiado por combinar performances atraentes, montagem vibrante, música cativante e uma narrativa emocionante, mandando a mensagem de que o direito ao aborto são direitos.

 

O corajoso cinema brasileiro em Cannes

Artigo por RED - 27/05/2023 05:30 • - O corajoso cinema Brasileiro em cannes 

De LÉA MARIA AARÃO REIS*

Cannes este ano é uma festa para o cinema brasileiro. Não é nada, não é nada, o Festival de Cinema está emplacando sua 76ª edição. É o segundo mais antigo do mundo que perde apenas para o Festival Internacional de Cinema de Veneza criado sob o domínio do fascismo de Mussolini em 1932.

Mas nesse retorno ao tapete vermelho do Palais – o edifício-sede atual da festa, que sucedeu ao cinema instalado no prédio do cassino da cidade –; depois de exorcizada a pandemia e do isolamento imposto pela Covid, depois da retração econômica do nosso país, do desemprego em massa e de todas as desgraças frutos de um governo funesto instalado em Brasília, é surpreendente que o cinema nacional se faça presente, com força e qualidade, e chame a atenção na Croisette com os filmes que lá estão sendo exibidos até hoje, quando será anunciado o Palmarès.

Eles são quatro e mais uma produção Brasil-Argentina e outros países. Nelson Pereira dos Santos – Vida de Cinema; Firebrand, de Karim Aïnouz; Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho; A Flor do Buriti, de João Salaviza e Renée Nader Messora; Levante, de Lillah Halla e Os Delinquentes, de Rodrigo Moreno, coproduzidos por Argentina, Brasil, Luxemburgo e Chile, presente na mostra Un Certain Regard com a história de dois bancários que odeiam o trabalho que fazem e resolvem cometer um roubo.

Um “poema de saudade” é como vem sendo chamado o doc sobre Nelson Pereira dos Santos de autoria da produtora Ivelise Ferreira, viúva do cineasta e da professora da UFF Aída Marques, e apresentado na última sexta-feira na sala Buñuel durante a mostra paralela Cannes Classics. O filme disputa o L’Oeil d’Or, prêmio concedido a produções de não ficção e analisadas por um júri à parte.

“A costura que as duas fazem nesse filme é um primor”, escreveu o crítico Rodrigo Fonseca depois de assisti-lo. “É comovente ouvir Nelson se abrir, elas deixando que ele conte a sua própria história através de entrevistas, na primeira pessoa, desde Rio 40 Graus, de 1955″.

Outro filme brasileiro selecionado para Cannes este ano é Retratos Fantasmas, o novo trabalho do celebrado diretor Kleber Mendonça Filho, um filme-ensaio sobre salas de cinema de antigamente, em sua cidade, no Recife, e integrante da Seleção Oficial de Cannes, mas fora da competição.

O diretor pernambucano é veterano de Cannes: já fez parte do júri do festival em 2021, competiu pela Palma de Ouro em 2019 com Bacurau (dirigido com Juliano Dornelles), e com Aquarius, em 2016. Retratos Fantasmas é o resultado de sete anos de pesquisas, filmagens e montagem. O personagem principal é o centro de Recife como espaço histórico e humano revisitado através dos grandes cinemas que atravessaram o século 20 como espaços de convívio.

Na Croisette desta semana, pelas notícias que chegam de lá, a interpretação de Jude Law como o Henrique VIII de Firebrand,* do diretor Karim Aïnouz, é uma sensação. O diretor cearense é outro veterano de festivais europeus e concorre à Palma de Ouro.

Disputou o Urso de Ouro da Berlinale com o belo Praia do Futuro 1, em 2014, e brilhou duas vezes na mostra Orizzonti, do Festival de Veneza: com o clássico O Céu de Suely, em 2006, e com Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (codirigido por Marcelo Gomes) em 2009. Em Cannes, Aïnouz ganhou o Prix Un Certain Regard, em 2019, pelo seu excelente A Vida Invisível e é o diretor do célebre Madame Satã, de 2002, do poético ensaio Aeroporto Central, de 2018 e do recente Marinheiros da Montanha, de 2021.

Firebrand é o primeiro filme em língua inglesa do brasileiro, é roteirizado pelas irmãs Henrietta e Jessica Ashworth e rememora os embates entre a rainha Katherine Parr e o rei Henrique XVIII, com quem ela foi casada. No pano de fundo, lances das intrigas palacianas e amorosas da época desta sexta e última mulher do rei vivida pela atriz sueca Alicia Vikander, também ela motivo de elogios entusiasmados pelo trabalho nesse papel.

Karim disse, em recente entrevista, que Firebrand foi gestado em meio à crise política vivida no Brasil em 2016, “embora eu não tenha feito nenhuma alusão direta a Dilma Rousseff”, ele ressalta. E comenta que o que o atraiu na personagem foi a sua relação com as figuras de (e no) poder: “É como se eu estivesse falando de uma mulher que se casou com o Trump e foi amiga do Che Guevara. Uma mulher em um trapézio político”.

Uma mulher que enfrentou o machismo e a intolerância do fedorento Henrique, o qual, por causa de uma ferida permanente e de uma prótese na perna, usava um forte e enjoativo perfume de flores para disfarçar o odor nauseabundo dele emanado.

A maternidade de Katherine Parr – acrescenta o cineasta – foi um ponto central na vida dela. Criou os filhos do rei, que não eram frutos legítimos dela, e toda a prole real se encantou com sua maneira maternal de ser e a via como uma mãe. Nessa tarefa que Katherine se impôs de educar uma nova realeza ela encontrou um caminho de moderação política.

Neste sábado, dia 27, o júri presidido pelo cineasta sueco Ruben Östlund vai anunciar os prêmios do Palmarès. Estimamos que ao menos um dos três cineastas brasileiros de excelência que se encontram na vitrina de Cannes, este ano, ganhe um ramo da palma de ouro maciço.

Será importante para reforçar, no mercado internacional de cinema, a resiliência e o vigor da arte e da nossa cultura diante da estúpida negação e do desprezo aos quais foram submetidas durante o tempo de ignorância fascista que acabamos de deixar para trás.

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*Jornalista carioca. Foi editora e redatora em programas da TV Globo e assessora de Comunicação da mesma emissora e da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Foi também colaboradora de Carta Maior e atualmente escreve para o Fórum 21 sobre Cinema, Livros, faz eventuais entrevistas. É autora de vários livros, entre eles Novos velhos: Viver e envelhecer bem (2011), Manual Prático de Assessoria de Imprensa (Coautora Claudia Carvalho, 2008), Maturidade – Manual De Sobrevivência Da Mulher De Meia-Idade (2001), entre outros.

Artigo publicado originalmente no portal Fórum21, disponibilizado pela autora que é leitora da RED. - Tradução de firebrand: agitador(a), militante, revolucionário(a). - Imagem em destaque: Cena de ‘Firebrand’, de Karim Aïnouz (Divulgação/Sony Pictures).

1 Praia do Futuro está disponível na Claro TV+

2 A vida invisível está disponível na Claro TV+

3 Aeroporto Central está disponível no Globo


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 26 MAIO 23

 

A AGONIA DO OCIDENTE

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Mundo Ocidental = https://pt.wikipedia.org/wiki/Mundo_ocidental

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A ONU é uma aliança de 193 estados membros de todas as regiões do mundo. As Nações Unidas são uma organização global que não se confunde com OCIDENTE nem com o que a IMPRENSA denomina CONCERTO INTERNACIONAL, geralmente referindo-se ao OCIDENTE. As tarefas da ONU são assegurar a paz, e proteger os direitos humanos e internacionais e promover o desenvolvimento sustentável de todas as nações do mundo com respeito à sua soberania territorial, seus valores e modos de ser. Todos os estados membros juntos cobrem uma área de 133,81 milhões km² e 7,88 bilhões pessoas.

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É muito comum ouvirmos nos meios de comunicação a expressão “mundo ocidental,” sempre com a conotação de que este não só é o centro do mundo como também aquele mais capaz de conduzir o progresso da humanidade sobre o primado da razão e da liberdade. Talvez tudo tenha começado lá na Antiga Grécia que acabou transferindo tais valores, sucessivamente, a Roma e depois do colapso daquele Império, a suas projeções sobre a Europa. No começo do século XIX a Doutrina Monroe, dos Estados Unidos, começou a tomar para aquele país, então emergente, uma certa “responsabilidade” sobre todo o continente americano, logo expandida por uma pretensão bem maior sob a égide do “Destino Manifesto”. O destino manifesto foi a crença de que os americanos deveriam expandir o território das Treze Colônias em direção ao oeste, rumo ao Pacífico. O termo foi criado pelo jornalista John Louis O'Sullivan, em 1845, para incentivar a ocupação das terras a oeste, expandindo o domínio americano para a costa do Pacífico. Em princípios do século XX os Estados Unidos começam a disputar com a Velha Europa a herança do dito Ocidente. Ted Roosevelt deu os primeiros passos no sentido de projetar internacionalmente os Estados Unidos, mas a consumação da hegemonia americana só iria se consolidar depois da I Guerra Mundial. Desde então, mas principalmente depois do fim da guerra fria, em 1991, Estados Unidos dão as cartas no mundo inteiro, graças à uma economia próspera, uma ubiquidade militar assegurada por mais de 800 bases no mundo e a capacidade de emitir uma moeda de referência para o mercado mundial, o dólar, sem qualquer lastro. Graças a isso, o american way of life se redistribui sobre várias áreas do globo conferindo aos americanos uma ascendência inequívoca mesmo no longínquo oriente, ou no extremo norte da Escandinávia, sem falar nos países da Oceania que desde seu nascimento já se identificavam com o mundo anglo saxão do Comonwealth. O Ocidente, enfim, cresceu e multiplicou-se sob o toque americano, diplomaticamente desastrado e economicamente prepotente. Claro que já não são usuais as canhoneiras da era britânica que singravam os mares do mundo para cobrar do domínio inglês. Agora, os mecanismos de dominação subjacentes à “cultura ocidental” vão se sofisticando, das intervenções militares à promoção de “revoluções coloridas” promotoras da liberdade em países pouco afeitos à governança do Consenso de Washington. Se necessário, aos rebeldes aplicam-se sanções devastadoras com vistas ao comprometimento de suas economias. É a “real politik” do mundo contemporâneo. A ela, entretanto, vão se somando ressentimentos que acabam afastando muitos países do dito “concerto internacional” do mundo regulado por regras, supostamente debitadas à Carta das Nações Unidas, mas não raro excepcionalizadas de acordo com interesses superiores: ameaça terrorista, eixo do mal, avanço do comunismo, populismo etc. Isso tem provocado o que muitos já denominam agonia do Ocidente, cada vez mais reduzido a interesses americanos. O caso da China é exemplar. Tomada como inimiga até o Governo Nixon, passou a importante campo de cooperação econômica na Era Clinton e hoje volta, novamente, pelo poder econômico que adquiriu como principal compradora em 160 países, a inimiga novamente. No seu rastro, diversos países asiáticos vão se afastando do “Ocidente” e isso fica evidente na questão da Ucrânia. A grande maioria dos países membros da ONU não acompanha os Estados Unidos e Europa Ocidental, sempre vistos, aliás, pelo “resto do mundo”, como potências coloniais ou neocoloniais. Daí que a África e América Latina em peso não validem na ONU as sanções contra a Rússia, mesmo condenando a invasão sobre a Ucrânia. Tudo como consequência da incapacidade de Washington manter-se fiel aos valores que proclama. América Latina, aliás, hoje tem apenas 3 governos mais à direita, próximos aos americanos. Culturalmente, nossa cultura, embora encoberta pelos “colonizadores”, sempre vicejou nas entranhas da Poesia contrapondo-se às tentativas de racionalização de Estados Nacionais superpostos. Hoje isso tudo vem à tona como afirmação identitária e nacional. O resultado, precipitado pela Guerra na Ucrânia, pois que ali se trava, na verdade, um confronto entre “Ocidente” e o resto do mundo, episodicamente expresso pela ação russa, é um crescente definhamento do dito mundo ocidental. É inquestionável o deslocamento do centro dinâmico do mundo do Atlântico para a Eurásia e o papel que aí cumpre a China em sua recuperação da potência que teve em tempos imemoriais. Quer isso dizer que o futuro será “amarelo”? Não necessariamente, até porque a China se concentra em negócios, não em ideologia. É muito comum dizer=se, até, que se o mundo indo-europeu que representamos é “religioso”, o mundo chinês é “´prático”, guia-se por máximas confucionistas e taoístas, Estamos, sim, diante do descongelamento de um bloco histórico cevado na Antiguidade Clássica e que caminha, certamente, para o realdeiamento, volta às aldeias, mais conformes aos costumes e tradições de cada povo. Muitos veem nisso retrocesso. Outros, ao contrário, a única chance da sobrevivência da paz entre os homens de boa vontade....

En su intento de perjudicar a la economía rusa, Europa pagará "un precio sorprendentemente alto"

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Aunque Occidente se esfuerza por encontrar algunas pruebas del agotamiento de la economía rusa debido a la operación militar y las sanciones impuestas, hay muchos indicios de que el deseo de los críticos de Rusia se vuelve contra ellos mismos.

Un artículo del periódico japonés Daily Shincho recuerda cómo los medios occidentales intentaron aprovechar el formato reducido del desfile del Día de la Victoria en Moscú, pero prefirieron ignorar que ese mismo año se inauguró en Moscú la línea de metro más larga del mundo, lo que requirió una inversión financiera mucho mayor que la emblemática conmemoración.

Ante esta discrepancia, la publicación resalta que la economía rusa obviamente mantiene su resiliencia. El artículo destaca perspectivas de producción futura ventajosas, junto con el índice de actividad empresarial del S&P Global que para Rusia fue muy intenso con un umbral que estuvo por encima de 50 puntos por duodécimo mes consecutivo. Al mismo tiempo, los pronósticos de producción futura alcanzaron su máximo por segunda vez en los últimos cuatro años.

Varios países del mundo optaron por continuar negocios beneficiosos con Rusia en lugar de sumarse a las sanciones occidentales que ahora dañan a los que las impusieron. Ejemplos claves constituyen China y la India, que aumentaron sus importaciones del país euroasiático y representaron casi el 45% de sus ganancias el año pasado, de acuerdo con el Instituto Peterson estadounidense.

 

 

Economía

El comercio entre Rusia y la India recibirá un "nuevo impulso" con la liquidación en yuanes chinos

16 de mayo, 19:10 GMT

La falla grave en términos de la eficacia de las restricciones económicas bajo los que está sometida Rusia es reconocida por una cantidad de instituciones extranjeras. El Centro de Estudios Estratégicos e Internacionales de EEUU admitió en su informe que "las efímeras esperanzas de un colapso de la economía rusa provocado por las sanciones se han visto disipadas por la recuperación de las instituciones financieras y el tipo de cambio de la moneda rusa".

Al mismo tiempo, Europa ya tiene que afrontar las consecuencias de sus decisiones, ya que al imponer restricciones, se han reducido notablemente sus propias oportunidades para el desarrollo. Sucede mientras la estrategia elegida de la destrucción total de la economía rusa mediante las herramientas de presión económicas y financieras "ha fracasado totalmente".

El tope de precios a los recursos energéticos solo ha estallado una grave crisis de energía en Europa, obligando a sus países a buscar en todas partes gas licuado para comprar. La publicación destaca que el invierno de 2022 ha sido el más templado en la historia de las observaciones, lo cual fue uno de los factores salvadores para el continente europeo y advierte de la alta probabilidad de que el invierno de este año agrave el estado de cosas para los europeos.

Mientras tanto, el Fondo Monetario Internacional prevé que la economía rusa crezca un 0,7% este año, lo que representará un mejor resultado en comparación con Alemania y el Reino Unido, que se contraerán un 0,3%, destaca el texto. Entre los Estados desarrollados de la Unión Europa, Alemania se ve como uno de los más afectados por sus propias decisiones y tiene que enfrentarse en marzo con la caída de la producción industrial a un 3,4% intermensual, lo cual es un indicador sustancialmente más alto de lo esperado, destaca el medio.

"Con un crecimiento negativo en el cuarto trimestre del año pasado, la posibilidad de una recesión en Alemania es cada vez más real", profundiza el artículo. 

EEUU "se asoma a la recesión económica" que podría producirse este año

17 de mayo, 08:47 GMT

Con la verdadera crisis bancaria que florece hoy en día en EEUU, Europa está bajo el peligro de agravamiento de sus problemas económicos. La inflación fuerza una revisión de los tipos de interés, lo que lleva a una situación en la que, al igual que en EEUU, los bancos de la UE sufren el deterioro de los márgenes. Como consecuencia, se detalla, las entidades financieras de la eurozona necesitaron reducir el crédito más de lo previsto en el primer trimestre de este año.

"En EEUU, cada vez se ven más situaciones en las que no se devuelven los préstamos inmobiliarios comerciales. Europa se enfrentará sin duda a un problema similar", reconoce el texto.

Teniendo este hecho en cuenta, se hace claro que "la burbuja inmobiliaria" se apodera en la eurozona. Sin embargo, Europa carece de los mecanismos de su aliado estadounidense para prestar ayuda a sus bancos en quiebra.

De este modo, el artículo concluye, que Europa podría acabar pagando "un precio sorprendentemente alto" como consecuencia de la situación en Ucrania


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 25 MAIO 23

 

🔆Temos um convite especial para você! Nos dias 24, 25 e 26 de maio, acontecerá o Seminário 100+50: Desafios do Governo Lula

RIO DE JANEIRO, com transmissão on line

 

Depois de quatro anos de desmonte e obscurantismo, assume o governo Lula com o desafio de deflagrar o processo de Reconstrução Nacional como transição para a implementação do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. Neste seminário, promovido por 15 entidades reunindo destacadas lideranças brasileiras, vamos analisar este processo e debater os desafios que se apresentam ao atual governo.

A construção deste seminário, que reúne fundações de partidos políticos, entidades sindicais e estudantis, resulta de um processo de construção coletiva e unitária de forças políticas e sociais comprometidas com a retomada do desenvolvimento do país.

O evento terá 5 principais eixos temáticos: 

1. O DESMONTE

2. OS PRIMEIROS DIAS

3. O ARCABOUÇO FISCAL

4. A RECONSTRUÇÃO NACIONAL

5. A RETOMADA DO DESENVOLVIMENTO

Confira a programação:

⚡Dia 24 - Mesa 1 | O desmonte de Bolsonaro e os primeiros dias do governo Lula. (Às 19h no Sindicato dos Jornalistas - Rua Rego Freitas, 530)

Link de transmissão: youtube.com/@sindicatodosjornalistaspro3807 

⚡Dia 25 - Mesa 2 | O arcabouço fiscal e a política de reconstrução nacional do governo Lula - (Às 19h na sede da UMES - Rua Ruy Barbosa, 323)

Link de transmissão: https://www.youtube.com/watch?v=22Xo_6oZ16c 

⚡Dia 26 - Mesa 3 | A reconstrução nacional e o novo projeto nacional de desenvolvimento = (Às 19h, no Sindicato dos Engenheiros - Rua Genebra, 25)

Link de transmissão: https://www.youtube.com/live/GEyCFIAE-cM?feature=share 

A decisão, ontem, do Relator da Medida Provisória que reorganizou o Governo Federal para o exercício do mandato Lula III, aprovada pela Câmara dos Deputados, fere uma tradição de deixar o Governo organizar a estrutura administrativa com vistas à melhor cumprir suas promessas de campanha. Tudo indica que, na iminência de caducar dita MP, a articulação política do Planalto engoliu em seco as modificações que retiraram poder estratégico de Marina Silva no M. Ambiente e Sonia Guajajara, no Ministério dos Povos Indígenas. A confirmar. Mas preocupante pois já não basta a tensão com Marina com relação aos poços da Petrobrás na Foz do Amazonas, agora lhe retiram mais atribuições. Veremos como ela reagirá. Sonia Guajajara já chiou dizendo que lhe arrancaram o coração do novo Ministério: a demarcação das terras indígenas. Além disso, a decisão do Congresso, repercutida em toda a imprensa, traz à tona a questão da concertação dos Poderes no interior da República. No Governo passado, o confronto do Executivo com o Judiciário foi uma constante. E, com relação ao Legislativo, sobretudo Câmara dos Deputados, cujo Presidente sentava-se em cima de uma centena de pedidos de Impeachment de Bolsonaro, a fórmula foi mais simples: Orçamento Secreto. Com este instrumento o Governo entregou o Orçamento para os deputados federais que passaram a consubstanciar um novo regime no Brasil: O parlamentarismo de coalizão. Uma inversão do Presidencialismo de coalizão, feliz expressão de Fernando Abrucio, cientista político da FGV, para caracterizar o regime de gestão da União advindo da Constituição de 88. O Presidente passou a ser, rigorosamente, uma Rainha Vitória, com o que, aliás, ajustou-se Bolsonaro, pouco afeito ao duro trabalho da administração diuturna do Governo. Sempre preferiu o palanque e acabou transformando o cargo numa plataforma eleitoral. Agora, com a eleição de Lula, este parlamentarismo de coalizão, sob a égide de Artur Lira, o Imperador, resiste ao retorno do Presidencialismo. Não é que Lula não compreenda as transformações ocorridas no país nos últimos 20 anos. Ele compreende mas não aceita. Quer de volta, na forma de Lei, o Presidencialismo. O Congresso reage. Ontem, modificando a MP da reestruturação do Governo , agora procrastinando, no Senado a aprovação do Arcabouço Fiscal. Lira, inclusive, não brinca e manda recados ao Governo:

 

Veja quatro recados de Arthur Lira ao governo Lula

Presidente da Câmara já criticou a articulação do governo no Legislativo. E disse que o Executivo precisa 'entender' que Congresso conquistou 'maior protagonismo' nos últimos anos.

 

É preciso, portanto, refletir sobre este processo. Afinal, queremos Presidencialismo ou Parlamentarismo?

O parlamentarismo é um sistema de governo de caráter representativo, no qual a direção dos assuntos de interesse público é atribuída a um gabinete ministerial que é formado no parlamento, a quem o voto de confiança ou desconfiança é submetido. Atribui o Governo a um representante do Congresso e a Chefia do Estado a um Presidente, eleito, seja indiretamente pelo Congresso, seja por voto direto. O Brasil já se pronunciou através de plebiscito duas vezes reafirmando a vontade dos eleitores de permanecerem no Presidencialismo. Mas lentamente o Congresso foi ganhando força e hoje, simplesmente, confronta-se com o Poder Executivo. E se confronta com inequívoca capacidade representativa eis que expressa com maior fidelidade e diversidade as características de distintos segmentos da população, hoje aglutinada em torno de uma infinidade de interesses. Daí dizer-se que o Congresso tenha se transformado numa imensa Câmara de Vereadores, sem qualquer viés e afinidade com as estratégias nacionais de desenvolvimento. O próprio Artur Lira defende isso, dizendo que, assim, os parlamentares se aproximam das aspirações locais e regionais e se legitimam como seus representantes. Mas, com isso, também, vão pelo ralo as concertações que fizeram a grandeza de mandatos como o de Vargas e JK, ambos ancorados na ideologia desenvolvimentista transformadora do país. No modelo do parlamentarismo de coalização de Lira, o Congresso vira um puxadinho dos Municípios.

Há, pois, que se trazer esta questão do regime do governo à tona. Ou reafirmamos a vontade do povo pelo presidencialismo ou capitulamos a este modelo que reproduzirá o país como a democracia do II Império o fez no Século XIX: Um modelo liberal de conservação, quando o país necessita de mudanças estruturais.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 24 MAIO 23

 

O PETRÓLEO É NOSSO; A AMAZÔNIA TAMBÉM...

O governo Lula III começou, em 8 de janeiro, com um grande embate contra a tentativa frustrada de golpe perpetrada por bolsonaristas num plano primário, sem qualquer apoio internacional e sem comando efetivo. Se tivesse vingado, Bolsonaro e seus acólitos, todos distantes e meio escondidos, sem afirmar claramente o propósito da tomada do poder, seriam as primeiras vítimas. Recorde-se o 31 de março 1964, aplaudido até por JK, para não falar dos governadores Carlos Lacerda e Ademar de Barros, RJ e SP, respectivamente. Acabaram cassados. Lula obrou bem, melhor do que Biden nos Estados Unidos, e consolidou, com o apoio do Legislativo e Judiciário, além da Imprensa, o caminho democrático. Resta, agora, aos bolsonarista implicados no 8 de janeiro, as penas da Lei e aos que os representam no Congresso os gritos na CPI do MST. Nada de novo. Esta é a quarta ou quinta CPI contra um Movimento que mais do que ocupar terras, embora o tenha feito garantindo o assentamento de 1 milhão de famílias hoje dedicadas ao cultivo orgânico, tem o caráter de Movimento Social Organizado, aliás, devidamente organizado. Os cães ladram e a caravana passa...

Depois Lula enfrentou pequenos contratempos, como o que o levou a substituir o Comandante do Exército e a demitir o general Ministro Chefe da DSI, que o acompanhava há muitos anos. Nada demais. Limpeza do terreno para a boa e fiel governança.

Agora Lula tem pela frente um verdadeiro dilema: Arbitrar a questão da extração de petróleo na foz do Amazonas, na qual se antepõem, numa reedição de Belo Monte, Marina Silva, contra e a PETROBRÁS, a favor da abertura de poços que podem duplicar a produção brasileira de petróleo convertendo-o num dos grandes produtores mundiais. Aparentemente, o conflito coloca ambientalistas e desenvolvimentistas em confronto. Mas a presença de MARINA SILVA, Ministra do M. Ambiente à frente dos ambientalistas, torna a decisão de Lula, aparentemente favorável à PETROBRÁS, mais grave. Marina tem um reconhecimento nacional e internacional imbatível. Se Lula optar pela PETROBRÁS e ela sair do Governo, Lula perde o encanto que o envolve na defesa da Amazônia, que hoje, importa tanto pela sua importância para o clima do mundo, quanto pelas repercussões sobre os povos originários. Será uma decisão difícil para Lula que tem se comportado no tom e ritmo da Frente Ampla que sustentou durante a campanha e sem a qual jamais teria batido Bolsonaro. Nisso lembra Tancredo Neves, de quem ouvi várias vezes no Senado, a proclamação de que devíamos ser sempre radicais na análise e moderados na ação política. Lula faz isso como poucos. Veja-se o caso do preço dos combustíveis. Poderia ter simplesmente dito que romperia com a paridade internacional e “abrasileiraria” ditos preços. Optou por afirmar que incluiria novas variáveis aos preços internacionais. Saída pelo centro. Fez o mesmo com o Teto de Gastos, ontem sepultado na CÂMARA DOS DEPUTADOS, em favor do Novo Arcabouço Fiscal, verdadeira jóia centrista. Poderia ter seguido na ação o que até diz diariamente: Precisamos de equilíbrio fiscal com justiça social. Mas fortaleceu Haddad com uma saída ao centro: “Arcabouço Fiscal”. Na questão do GSI também optou pela solução intermediária, mantendo um general no comando e evitando fazer o que Dilma fez: fechá-lo. Este o estilo de Lula e que deverá prevalecer na questão, agora, do petróleo na foz do Amazonas. Foi colhido de surpresa pelo anúncio, precipitado, da PETROBRÁS. Agora procurará ganhar tempo, vai exigir novos estudos, cozinhar o galo e anunciar ao mundo que o Brasil vai duplicar sua produção de petróleo. Com isso mantém altas as cotações das ações da Petrobrás, satisfaz os desenvolvimentistas e ainda reforça a dicção da âncora cambial do país, que é uma das nossas particularidades entre os emergentes, mas não deixará abrir os poços na foz do Amazonas imprudentemente. Poucos países, aliás, exceção aos exportadores de petróleo, diga-o a Argentina, têm a capacidade de exportação que lhes garanta um avanço seguro em direção à novas fronteiras da tecnologia, da transição energética e do mercado global, como o Brasil. Lula tudo fará para não perder o “encanto” que a presença de Marina Silva lhe confere como defensor da Amazônia aos olhos do mundo e dos brasileiros. Vai ganhar tempo e tem tempo para ganhar. Está no começo do governo.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 23 MAIO 23

 

Vini Jr: A gota d´água

 

Racismo no futebol - 4 suspeitos pelo boneco que representou Vini Jr. enforcado são detidos - A repercussão dos ataques racistas dentro e fora do futebol

 

Governo repudia ataques racistas a Vini Jr. e pede providências às autoridades da Espanha e à FIFA

Nota repudia racismo de torcedores contra jogador do Real Madrid 'nos mais fortes termos' e pede punição e ações preventivas. No Japão, Lula também cobrou providências.

 

Vini Jr.: Itamaraty cobra embaixadora da Espanha por telefone; persistência dos crimes espanta, diz secretária-geral

O Brasil expressou posição de repúdio e cobrança em relação ao caso de racismo contra o jogador, durante partida pelo campeonato espanhol neste domingo (21). Ataques racistas ao atleta são contra todos os afrodescendentes e toda a humanidade, diz secretária-geral do Itamaraty.

 

Real Madrid denuncia crimes de ódio e discriminação contra Vinícius Jr. ao Ministério Público espanhol

Brasileiro, que joga no clube madrilenho, paralisou jogo contra o Valencia para denunciar torcedores que o chamavam de 'macaco'. Chefe da liga espanhola negou haver racismo na Espanha, mas presidente da federação espanhola de futebol pediu que CBF ignore 'comportamento irresponsável' da La Liga.

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O episódio de Vinicius Jr., vítima de recorrente ataque racista de uma torcida adversária em partida de futebol da Espanha, traz à tona a questão do racismo e repercute internacionalmente. Em boa hora governo brasileiro repudiou ataques e pede providências às autoridades espanholas e à FIFA. Não é por acaso, porém, que a vítima seja um brasileiro e que este brasileiro se tenha indignado perante o ataque vindo a seguir ser expulso de campo. Por que não é acaso ser um brasileiro? O Brasil é um país de maioria negra, fruto de mais de 300 anos de escravidão africana. De nada adiantaram as políticas de branqueamento da população trabalhadora tomadas pela Boa Sociedade branca e escravocrata no século XIX. Negros constituíam o grosso da população do país e mesmo sob intensa mestiçagem projetaram-se como maioria entre-nós. Mesmo no Rio Grande do Sul, cuja presença negra é costumeiramente negada, os negros constituíram cerca de 30% de nosso contingente demográfico e tiveram decisivo papel, inclusive, na formação e desenvolvimento da cultura gaúcha. No Brasil, apesar da marginalização a que foram expostos os escravos libertos, atirados às margens das cidades, sem qualquer indenização histórica pelo seu cativeiro, a cultura negra afirmou-se e ganhou um relevo hoje evidente em todos os campos da vida nacional. O carnaval e o futebol foram os refúgios deste segmento da população que aí demonstrou seu talento, mas mesmo assim, sempre ocupando papel de protagonista, jamais dirigente. Não há pretos cartolas, embora, por primeira vez um baiano negro presida a CBD. Verdadeira exceção. Mas já nos anos 1930, graças à ação de intelectuais negros como Abdias do Nascimento, patrono do Movimento Negro no Brasil, este povo saiu dos guetos e começou a questionar o racismo estrutural reinante no país. Conheci-o quando deputado federal e dele ouvi, várias, vezes que foi aquela centelha, na qual teve decisivo papel, que incendiou o movimento negro nos Estados Unidos, ao contrário do que muitos dos críticos pensa. Todas as manifestações da cultura afro-brasileira foram oficialmente reconhecidas, sobretudo na religião, verdadeiro coração de sua identidade. O Teatro Negro cresceu e teve espaço com autores e diretores negros até no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, embora, lamentavelmente, não tenha tido o papel que já merecia na Semana de Arte Moderno de São Paulo, em 1922. Outro passo importante foi a criação de cotas em Universidades e empregos públicos para a população negra, cujo balanço positivo é hoje reconhecido. O reflexo disso se percebe hoje no comportamento indignado de Vini Jr. O Movimento Negro amadureceu e já se projeta fortalecendo a consciência deste povo onde ele se encontre. Ora num campo de futebol, ora num avião quando uma passageira negra é expulsa pela Polícia, ora nas ruas, quando são vítimas de preconceito e ataques. Hoje, a questão do racismo é fundamental ao aprofundamento da democracia entre nós. O caso Vini Jr. O demonstra e exige não apenas simpatia à causa que longe de ser “negra”, é uma causa da defesa civilizacional. O Brasil negro despertou e pede passagem no concerto democrático da Nação. 

Anexos:

O Assunto g1 dia 23 de maio 2023

Vinícius Jr. e a reação contra o racismo na Espanha 

No último domingo (21), a partida entre Real Madrid e Valencia, pelo Campeonato Espanhol, foi o cenário do mais grave ataque racista contra o atacante brasileiro. Nos últimos minutos do jogo, Vini Jr. identificou os torcedores que iniciaram os gritos e cânticos criminosos, e exigiu alguma reação da arbitragem. No meio da confusão, trocou agressões com um adversário e foi expulso pelo árbitro - ele foi o único punido em campo. Para explicar por que Vini Jr. é o principal alvo de uma cruel campanha de ódio racial na Espanha e o que vem sendo feito para punir os criminosos, Natuza Nery conversa com dois jornalistas: Fernando Kallás, correspondente de esportes da Reuters na península ibérica, e Paulo Cesar Vasconcellos, comentarista da TV Globo e do Sportv. Neste episódio:

Kallás descreve as dez denúncias de racismo contra Vini Jr. abertas apenas nesta temporada do futebol espanhol – e como esses casos “foram arquivados e nunca foram julgados como delito de ódio”. Dentro do contexto esportivo, ele afirma que “nenhum clube sofreu nenhuma punição” pelos atos racistas de seus torcedores;

Ele relata que, pela primeira vez desde que a onda de ataques racistas começou, o atleta está “mais do que arrasado, está revoltado”. Além das ofensas, Vini Jr. precisa lidar com a inação da La Liga (organizadora do campeonato espanhol) e com o racismo velado da imprensa local. “Tudo isso começou em um programa de televisão, com racismo e xenofobia”;

PC Vasconcellos analisa "o silêncio e a omissão” de diversos atores sociais para que o racismo chegasse ao atual estágio no futebol espanhol. E destaca as “boas notícias” que resultam deste caso: o posicionamento do presidente brasileiro, o acordo de colaboração entre Brasil e Espanha contra o racismo e a xenofobia e o fato de “um jovem preto de 22 anos se manifestar e chamar a atenção do mundo”;

PC relaciona o crescimento no número de episódios de racismo ao “avanço da extrema direita pelo mundo”, e afirma que as punições “se mostram insuficientes para a situação ser modificada”. “A minha razão é de pessimismo, mas quando vejo um comportamento como o do Vinícius passo a ficar mais otimista”, conclui.

 

O que você precisa saber:

La Liga: jogo é interrompido por racismo contra Vinícius Jr.// Vini Jr: 'Não foi a 1ª, nem 2ª e nem 3ª'; 10 casos de racismo// Governo: repudia ataques a Vini Jr. e pede providências// Lula: cobra ações contra racismo sofrido por Vinícius Jr.// Espanha: primeiro-ministro repudia ódio e xenofobia// Real Madrid: denuncia crimes de ódio e discriminação


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 22 MAIO 23

 

Os párias da Boa Sociedade

 

'Vim para desaparecer': a perigosa cidade subterrânea onde vivem centenas de pessoas em Las Vegas

Centenas de pessoas em situação de vulnerabilidade vivem embaixo do glamour dos cassinos de Las Vegas.

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Toda sociedade tem seus párias, gente excluída e discriminada que acaba excluída das oportunidades. Reportagens dão conta de que mesmo em cidades milionárias do centro do mundo há gente morando em subterrâneos. No Brasil os mais visíveis nas grandes cidades são os moradores de rua, em número crescente e sem qualquer solução por parte do poder público. Antigamente era usual a prática de higienização que consistia na proibição sumária deles pelas vias públicas. Em alguns casos, na década de 1960, no Rio, ficou famoso o caso de mendigos jogados no Rio Guandu. Contemporaneamente, eles são tolerados com base numa interpretação cristã liberal dos Direitos Humanos e perambulam como zumbis pelas cidades. A sociólogo Maria Hermínia de Almeida, tratou deste assunto recentemente num artigo publicado na FSP sob o título “No centro da maior cidade brasileira o horror impera” - 

Colunas: Maria Hermínia Tavares/2023- Centro-da-maior-cidade-brasileira-o-horror-impera - e destaca:

“Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vivem nas ruas pelo menos 280 mil brasileiros —uma Governador Valadares (MG). Os sem-nada cresceram mais de 200% entre 2012 e 2022, ou 20 vezes o aumento da população em geral no período. Tamanho inchaço tem relação direta com a prolongada crise econômica da última década e a explosão do mercado de drogas.

É de pasmar: só no fim da primeira década deste século o Brasil definiu uma linha de ação para lidar com a tragédia, dando origem à chamada Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPR), de 2009. Compreende uma visão atualizada de inclusão e garantia de direitos, além de estabelecer programas e formas de cooperação entre o governo federal e os municípios. No ano seguinte, o público-alvo foi incorporado ao Cadastro Único que dá acesso ao Bolsa Família; em 2011, teve abertas as portas do SUS.”

Não obstante, as ações das Administrações Municipais, envolvidas na gestão de escolas, saúde e problemas urbanos, ainda não incorporou devidamente em suas Agendas a Questão Social, seja na promoção do emprego, seja no atendimento de necessidades sociais dos vulneráveis. Os Conselho Municipais de Ação Social deveriam ser ampliados no seu escopo e mais aparelhados como instrumentos de consulta e intervenção sobre estes segmentos. Por que não se criar, à semelhando do CONSELHO TUTELAR um instrumento de ação mais eficaz sobre os vulneráveis?

Outro segmento pária é o dos detentos e ex detentos. O número de encarcerados, no Brasil, é alarmante: quase 1 milhão. Maior parte de jovens pilhados como traficantes de menor porte e que acabam levando suas companheiras também para a prisão. Ficam os filhos abandonados à própria sorte e acabarão aumentando as fileiras dos moradores de rua. Os donos do tráfico, porém, mercê de seus recursos, mesmo quando presos acabam com melhor sorte. 

Duas matérias neste fim de semana me chamaram a atenção sobre o ex detentos. Um Editorial da FSP de ontem, abaixo transcrito, revela que superlotação reduz expectativa de sobrevida dele. Pasmem: 

“Um ano e meio: esse é o tempo médio de vida de egressos do sistema penitenciário brasileiro. Segundo pesquisa contratada pelo Conselho Nacional de Justiça, saúde e vinculação ao crime são os principais fatores de risco de pessoas que saem da prisão.

O levantamento, feito por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas e do Insper, analisou um escopo de 1.168 processos judiciais de todos os estados entre 2017 e 2020.”

Outra matéria, da Agência Pública, de São Paulo, revela uma situação paradoxal: detentos saem à liberdade com vultosas e impagáveis multas geradas nas suas ações judiciais, pois além da pena são-lhe imputadas multas e custas. Os depoimentos ali relatados são constrangedores. A matéria explica que antes da Lavajato estas dívidas eram perdoadas mas o Supremo passou a exigir o pagamento diante dos casos de condenação por corrupção. Ora isso se estendeu a todos os ex detentos dos quais se espera uma ressocialização. Impossibilitados de pagar dívidas que chegam a 30 mil reais e ainda sujeitos aos preconceitos da sua condição, são barrados no mercado de trabalho.” Segundo dados do Tribunal de Justiça (TJ-SP), no estado de São Paulo, os casos passaram de 06 em janeiro de 2020 para 208 mil em março de 2023. (...)A experiência de fazer essa reportagem me mostrou que, sob o argumento de estarem aplicando a lei, os juízes que aplicam as penas de multa têm contribuído para dificultar a ressocialização de pobres condenados.” 

 

Ora, são questões como dívidas dos ex detentos, preconceitos contra eles e baixa capacidade das Prefeituras lidarem com eles que acabam levando=os ao desespero do álcool, da droga e da reincidência no crime. Hora de se chamar a atenção sobre esta chaga aberta da sociedade se não quisermos ver disseminados pelo país as cracolândias da vida e morte dos Severinos urbanos.

 

Anexos

Morte em liberdade = Editorial Folha de S. Paulo 21 de maio 23 - CNJ revela que superlotação reduz expectativa de sobrevida de ex-detentos.

Um ano e meio: esse é o tempo médio de vida de egressos do sistema penitenciário brasileiro. Segundo pesquisa contratada pelo Conselho Nacional de Justiça, saúde e vinculação ao crime são os principais fatores de risco de pessoas que saem da prisão.

O levantamento, feito por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas e do Insper, analisou um escopo de 1.168 processos judiciais de todos os estados entre 2017 e 2020.

Foram analisadas mortes dentro do sistema prisional e fora dele, quando a pessoa ainda tinha algum vínculo com a Justiça criminal.

No primeiro caso, prevalecem como causas doenças do aparelho circulatório, sepse e pneumonia, além de traumas violentos como enforcamento e estrangulamento.

A contumaz superlotação dos presídios contribui para condições de vida degradantes que geram problemas de saúde e estimulam a violência. De acordo com dados mais recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 566.396 condenados pela Justiça viviam em regime fechado em 2021, e o sistema tinha um déficit de vagas de 180.696 —ou 1,3 preso por vaga.

Ademais, em 70,43% dos casos de óbito no cárcere, não há informações sobre a instauração de algum tipo de investigação. Há também precariedade de dados sobre cor, comorbidades, escolaridade etc.

O quadro é igualmente preocupante no ambiente externo. A morte acompanha o ex-detento, seja pelas consequências da superlotação de presídios, como as doenças, seja porque a liberdade não rompeu o vínculo de vulnerabilidade ante o crime, dada a ausência de políticas sociais de reinserção.

Ferimento por arma de fogo e hemorragia de causa não especificada são os dois principais fatores que levam egressos do sistema ao óbito, seguidos de doenças do aparelho circulatório. Esses dados, combinados com o baixo tempo médio entre a saída da prisão e o falecimento (1,5 ano), revelam o impacto do encarceramento em massa mesmo em liberdade.

O Estado é responsável pela segurança dos apenados e também tem o dever de prover condições dignas de vida no sistema prisional.

Acabar com a superlotação, melhorar a infraestrutura do cárcere e promover políticas de reinserção do ex-detento à sociedade são medidas que não só seguem princípios básicos dos direitos humanos como beneficiam toda a sociedade, ao contribuir para a queda de índices de criminalidade e violência.

 

Poluição ideológica - O Estado de S. Paulo

PRISÃO COM DÍVIDA – Agencia Pública

 

“Salve, José, meu aliado. Na paz? Mano, você que trabalha nessa parada de jornalismo, tem uma fita esquisita que tá acontecendo com um conhecido aqui da quebrada. Vai vendo: tem um parceiro que saiu da cadeia e depois de uma cota ficou sabendo que estava devendo uma multa de R$ 30 mil pro estado. O mano tá em choque. Tá ligado o que é isso?”

Foi assim, numa conversa por telefone com um amigo, que me deparei, pela primeira vez, com a informação de que pessoas condenadas estavam saindo da prisão com dívidas, mesmo após cumprirem a pena privativa de liberdade. Na época, a princípio, me pareceu absurdo, sem sentido e de se tratar de uma situação específica. No entanto, quando o assunto envolve pobre e justiça, há de se considerar que algo errado ou injusto pode estar acontecendo.

 

Comecei a pesquisar o tema. Em pouco tempo, vi que de fato há alguns crimes em que a pessoa pode ser condenada à prisão e ainda ter que pagar uma multa. Então entrei em contato com ele para pedir o telefone do rapaz que havia relatado sobre a dívida, para entender a história a partir do seu ponto de vista. 

 

“Meu parça, lembra daquela história do seu amigo que saiu da cadeia com uma multa? Você tem o contato dele?”, perguntei.

 

 

“Mano, não tenho. Mas amanhã vou num projeto social lá na Favela da Felicidade encontrar uma rapaziada que saiu do sistema. Se quiser colar, me dá um salve. Você é bem-vindo”, ele respondeu.

 

No dia seguinte, cheguei na sede da associação às 9h30 e algumas pessoas já estavam por lá. Naquela manhã eles se reuniram para participar de um projeto de arte relacionado à vivência no cárcere. Dali, uma van iria levá-los para o ateliê de um artista plástico. Antes de saírem, sentamos em cadeiras organizadas em um círculo, e fui convidado a falar o motivo da minha presença.

 

Diante do pouco tempo para me explicar - a van estava a caminho -, fui direto ao ponto: “Rapaziada, primeiro, agradeço o espaço e a oportunidade. Meu nome é José, sou repórter e trabalho para um site, um veículo de comunicação independente, que se chama Agência Pública. Estou começando a fazer uma reportagem sobre pena de multa. Alguém sabe o que é? Tem multa para pagar ou conhece alguma pessoa que está nessa situação?”, indaguei aos presentes. 

 

Sem demora, diversas pessoas começaram a contar experiências que elas mesmas ou conhecidos estavam passando. O assunto foi crescendo, vários relatos surgiram. Alguns contaram que estavam com dívidas de R$ 16 mil, e até de R$ 30 mil. Enquanto algumas pessoas se mostravam revoltadas, outras se diziam prejudicadas com os valores cobrados pela Justiça. Logo notei que, se naquele espaço com apenas dez egressos havia tantos casos, tudo indicava que a situação era mais grave do que eu pensava. Por conta do tempo curto, tomei nota dos relatos, peguei alguns contatos e saí de lá para continuar apurando a reportagem. 

 

Nos 4 meses após aquela ligação, encontrei diversos outros casos, ouvi relatos de quem acompanha o assunto de perto, levantei dados, apurei informações e conversei com uma série de especialistas. Descobri que o número de pessoas que precisam pagar multas para o Estado é muito maior do que aquele pequeno grupo que conheci na sala do projeto social. Segundo dados do Tribunal de Justiça (TJ-SP), no estado de São Paulo, os casos passaram de 06 em janeiro de 2020 para 208 mil em março de 2023. 

 

O crescimento vertiginoso tem a ver com o julgamento de réus em dois conhecidos casos que deram vários nós no sistema de Justiça e na política brasileira: a operação Lava Jato e o Mensalão. No passado, a pena de multa era aplicada, mas a Fazenda Pública deixava de executar a maioria das cobranças por considerar que o custo que a pessoa condenada tinha com o processo era maior do que a quantia a ser paga. 


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 19 MAIO 23

 

A economia melhora mas há desafios

Lu Aiko Otta - Secretário do PPI fala sobre o novo PAC

Gilvanmelo- Lu Aiko

Eduardo Rocha* - Economia informal e saúde fiscal: a contradição em busca da superação

Gilvanmelo/ Eduardo Rocha... 

 DOCUMENTO

ESTADAO entrevista Mariana Mazzucato ‘Os governos ficaram viciados em consultorias e pararam de investir em pessoal’, diz economista.doc • versão 1

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Os últimos indicadores da economia para este ano indicam uma ligeira melhora. O IPEA e mesmo alguns grandes bancos indicam um crescimento do PIB perto de 2%, o que seria um grande êxito diante dos percalços gerados pelo alto nível dos juros que levam não só a um recorde na inadimplência de famílias e empresas, como ao anúncio de apertos no emprego de grandes magazines como Lojas Marisa. A Magazine Lu, aliás, apresentou uma perda de cerca de R$ 170 milhões no primeiro trimestre. A inflação também está relativamente contida, sendo de se esperar um alívio menor nos meses de maio e junho em razão da baixa nos preços dos combustíveis. Governo promete 5% neste ano, Mercado 6%, números mais baixos que vigentes na União Europeia e sinalizadores de que estamos muito melhor do que Turquia e Argentina. O câmbio é outra variável positiva: o dólar caiu abaixo dos R$5,00 e, à vista da safra recorde de grãos para o ano, superior a 330 milhões de toneladas, tudo indica que não teremos nenhum susto. Continuamos como um dos poucos países emergentes com elevadas reservas internacionais e fluxos positivos de comércio exterior. O emprego, enfim, ainda oscila muito. Os empregos criados tampouco são animadores. No RS houve uma queda nos últimos meses mas tem a vantagem de estar voltando aos níveis anteriores à pandemia. De outra parte, a aprovação do regime de urgência para o novo marco fiscal e a perspectiva de aprovação ainda neste ano da Reforma Tributária são alentadoras para a retomada do crescimento. A economia, enfim, não é aquele paraíso da retomada do crescimento prometida por Lula na campanha, mas apresenta indicações de que reage bem. Aliás, já no último trimestre do ano passado vinha dando indicações positivas. Mas há desafios: Um deles é a persistência dos altos juros que não deverão baixar significativamente neste ano, embora se preveja algum alívio em agosto. Outro, o programa de investimentos governamentais, ainda um pouco emperrado. Muitos reclamam que não basta o “Projeto Lula III”. Faz-se necessário uma grande marca para seu governo atual, mais além da retomada da Política Social com o Bolsa Família, Minha Casa/Minha Vida e Valorização do Salário Mínimo, tal como os Presidentes clássicos como Vargas e JK, tiveram. A abertura dos novos campos do pré-sal na foz do Amazonas, aliás, a 500 km desta foz, que poderia dar um grande impulso aos investimentos da Petrobrás em sustentação à reindustrialização parece estar comprometida com o óbice do IBAMA. E os Acordos com a China não serão implementados ainda neste ano. De qualquer forma, há que se salientar a relativa vitória do Ministro Haddad no comando cauteloso da pasta que, enfim, tem papel fundamental para a tão almejada retomada do desenvolvimento.


 Editorial: NOVA POLÍTICA DE PREÇOS DA PETROBRAS

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Assunto g1 dia 17 de maio 23

Petrobras e a nova política de preços

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/05/17/o-assunto-962-petrobras-e-a-nova-politica-de-precos.ghtml 

Café da Manhã Podcast Folha Uol 

https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/05/podcast-explica-como-mudanca-na-politica-da-petrobras-chega-as-bombas-de-gasolina.shtml 

Podcast explica como mudança na política da Petrobras chega às bombas de gasolina. Estatal anuncia redução de preço nas refinarias, mas queda ao consumidor depende de postos e distribuidoras

TV 247 Últimas notícias Poder Brasil 

Folha e Estadão choram o fim da PPI, que sugava a renda dos brasileiros para favorecer acionistas privados da Petrobrás; Imprensa tradicional demonstra novamente que não está a favor da população brasileira = Leia mais »

Lula: decisão da Petrobrás de mudar política de preços é "vitória do povo"=A nova estratégia da estatal deixa de seguir o preço de paridade de importação de combustíveis, que contribuiu para o encarecimento dos insumos Leia mais »

Após fim do PPI, Petrobrás anuncia redução de R$ 0,44 no litro do diesel e de R$ 0,40 na gasolina -Também nesta terça-feira, a companhia anunciou uma mudança em sua política de preços, com o fim dos Preços de Paridade de Importação Leia mais »

Em quase sete anos de PPI, o gás de cozinha aumentou 223,8% na refinaria, custando R$ 108, em média, para o consumidor. Antes do PPI, o botijão custava R$ 55 = Leia mais »

 

fup.org.br = https://fup.org.br › Destaque Principal - O pesadelo chegou ao fim. Um dia para ser comemorado', diz FUP sobre nova política de preços de combustíveis. 16 maio 2023 

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Enfim, uma nova política de preços da PETROBRÁS, com vistas ao “abrasileiramento” dos preços dos combustíveis, compatível com o fato de que somos um dos grandes produtores mundiais de petróleo, prestes ao ingresso na OPEP. Nada propriamente inédito, nem surpreendente, tanto que o dito Mercado já havia “precificado”, como eles dizem, esta decisão e nem se abalaram com o anúncio. No mesmo dia, a Bolsa de Valores de São Paulo caiu, por razões externas, enquanto o valor da ação da PETROBRÁS subia. Nenhum susto tampouco no câmbio. O dólar tem flutuado numa faixa bem mais baixo daquela que havia no final do reinado de Paulo Guedes/Bolsonaro. Isso porque a coligação vencedora nas eleições do ano passado e que consagrou o terceiro mandato de Lula sempre foi crítica ao sistema de paridade internacional e o próprio candidato havia se comprometido a mudar a política de preços da PETROBRÁS. Ontem, ele exultou e afirmou tratar-se do cumprimento de mais uma promessa de campanha. A chiadeira, portanto, contra a nova politica da PETROBRÁS nem é do mercado, nem é da Oposição, eis que ficaria muito mal se ficasse frontalmente contra a queda de preços dos combustíveis. O mesmo ocorreu, aliás, em 2021, diante das gestões de Bolsonaro para cortar os impostos federais e estaduais – ICMS – com vistas à redução de preços do gás, dieses e gasolina. A bancada de esquerda no Congresso não teve como ficar contra. E , talvez, até, a iniciativa, embora eleitoralmente motivada por Bolsonaro e aplicada sem mediações no tempo, tenha sido oportuna e conveniente, vez que impediu a explosão de preços que ainda castiga, por exemplo, Europa e Estados Unidos. Dita chiadeira vem da Grande Imprensa Corporativa – movida a dogmáticos defensores do neoliberalismo, sempre propensa a criticar iniciativa estatal com vistas a intervenção, muitas vezes, necessária, nos mercados. Importantes analistas, porém, como ILDO SAUER, aplaudem a notícia e dizem que isso já foi feito antes: Sauer aplaude volta da estabilidade nos preços da Petrobrás. 'Já fizemos isso', destaca" - https://horadopovo.com.br/sauer-aplaude-volta-da-estabilidade-nos-precos-da-petrobras-ja-fizemos-isso-destaca/ .

Ainda não se sabe ao certo como será a planilha de cálculo dos novos preços da PETROBRAS, nem como ficarão, diante dela, outras empresas fornecedoras de combustíveis no país e que são mais dependentes do petróleo importado do que a PETROBRÁS. Mas, seguramente, deu-se um passo importante para o realismo de preços, mais ajustado à realidade nacional, com vantagens para o consumidor nacional. Outros países produtores de petróleo já há tempo têm o mesmo sistema de preços, “nacionalizados”, com vistas à oferta de derivados a preços mais baixos que o preço internacional. Muitas outras questões, entretanto, subjazem: Como tratar no futuro a PETROBRÁS, maior empresa do país, hoje com ações na Bolsa de NY? Mantê-la como S.A. com os imperativos legais que regulam as empresas abertas ou recomprar ações com vistas à recondução da empresa para o status de empresa pública voltada exclusivamente ao interesse nacional e não de acionistas privados? Haveria vantagens nisso? Enfim, o país necessita discutir com mais profundidade a questão energética que não se resume ao petróleo, mas se abre, crescentemente para novas fontes de energia, todas problemáticas – e caras!


 Editorial: 

O CORONEL E O LOBISOMEM

O tÍtulo é de um romance de J.Cândido de Carvalho. O enredo de "O Coronel e o Lobisomem" aborda a vida de Ponciano de Azeredo Furtado. O protagonista, que narra a trama em primeira pessoa, é neto de Simeão Furtado, um ex-oficial da Guarda Nacional de muito sucesso e que se tornou uma espécie de herói lendário na cidade de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. O romance, segundo deste autor, mescla elementos do romance regionalista brasileiro da década de 1930 e o realismo mágico das obras de Gabriel García-Márquez e Carlos Fuentes, célebres na década de 1960. O assunto vem à tona, agora, diante do caso do Ajudante de Ordem do ex Presidente Bolsonaro, preso, envolvido em artimanhas que podem comprometer sua carreira. A honra, já perdeu. E ainda arrastou a família. A esposa, também implicada, por ter seu cartão de vacina adulterado, será ouvida pela PF. Dito coronel, como no romance de J.CANDIDO DE CARVALHO, também é de família militar. Pai general reformado, supostamente dono de grandes empreendimentos nos Estados Unidos, onde serviu como adido do Brasil, com polpudo salário de US 50 mil mensais. O avô, também militar. 

O que espanta no caso do coronel Mauro Cid é que, ao contrário de outros militares reformados envolvidos e até presos pelo envolvimento na tentativa de golpe, igualmente ligados ao Bolsonaro, é que ele é um oficial de escol. Primeiro colocado na AMAN, distinguido nos cursos da carreira, ESAO e Estado Maior, graças ao quais estava na mira de uma promoção a general. Mas precisamente por isso é lamentável ver a que tarefas, indignas de um Oficial do Exército, se dispôs a fazer o referido coronel, transformado em bedel do Palácio, a atender demandas da primeira dama. Simplesmente lamentável. Uma desonra para o Exército. Isso demonstra a que níveis de degradação uma pessoa pode chegar, por mais honrada e qualificada que seja, quando submetida aos delírios da ideologia política.. Feriu o pundonor militar, virtude importante na caserna. Faltou, talvez, ao coronel CID a formação para a cidadania e boas lições de ética no cumprimento do dever, para não se falar das lacunas que se percebe em falas de muitos oficiais generais quanto ao entendimento da Geopolítica Mundial, com suas implicações econômicas que afetam o Brasil, e a própria realidade nacional, fruto da má formação em Ciências Humanas nas Escolas Militares, assunto espinhoso mas indispensável à construção de mentalidades mais abertas no processo de construção da democracia.

O PODCAST FOLHA UOL trata hoje deste tema

Café da Manhã Podcast Folha Uol dia 16 maio 23

Compartilhar nas redes sociais "Café da Manhã: Podcast: O peso de Mauro Cid em investigações que envolvem Bolsonaro"- https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/05/podcast-o-peso-de-mauro-cid-em-investigacoes-que-envolvem-bolsonaro.shtml 

Podcast: O peso de Mauro Cid em investigações que envolvem Bolsonaro. Devassa em telefones do militar e de outros assessores tem baseado apurações que apertam cerco ao ex-presidente


 Editorial: Tempos Perturbadores

Já dizia Cícero na Velha Roma, com Cesar às suas portas depois de beber água no Rubicão e seguir o curso de seu destino como coveiro da República: “Ó tempos!Ó costumes!” Pouco depois, morria assassinado...Imagino se visse os tempos atuais. Saltamos no último século do otimismo desenfreado da razão como Senhora do Destino para um pessimismo incontrolável quanto ao futuro da humanidade. Da utopia `a distopia. Do mundo em construção para a possibilidade de destruição da civilização. Para muitos, já estamos, inclusive na III Guerra Mundial, ao fim da qual só sobrarão as baratas. E se não houver a guerra total, sobrarão fragmentos da globalização, mesmo em sociedades altamente tecnificadas, como já escrevia Arthur Clark, um dos grandes da ficção no século passado, em “A Cidade e as Estrelas”. Daí a pergunta: O sonho acabou? Abaixo, ilustrando esta indagação, transcrevemos dois artigos recentes que melhor a situam em meio às fake news transmitidas pela imprensa e quejandas da Inteligência Artificial. 

Martin Wolf * Mentiras da mídia ameaçam a democracia

Valor Econômico - quarta-feira, 3 de maio de 2023- Democracia Política e novo Reformismo: Martin Wolf * Mentiras da mídia ameaçam a democracia (gilvanmelo.blogspot.com)

Uma mentira sobre o resultado de uma eleição é uma ameaça à democracia. É uma tentativa de destruir as eleições como mecanismo de arbitragem do poder. Foi isso o que Trump tentou fazer, e todos os que o apoiam tentaram fazer

No mês passado, a Fox, empresa controlada por Rupert Murdoch e seu filho Lachlan, aceitou formalmente pagar US$ 787,5 milhões à Dominion Voting Systems para encerrar com acordo o processo de difamação, de US$ 1,6 bilhão, movido contra si. Justin Nelson, o advogado da Dominion, insistiu, em resposta a esse acordo, que ele demonstra que “a verdade tem importância” e “as mentiras têm consequências”. Isso é verdadeiro, mas apenas até certo ponto. O modelo de negócios revelado em detalhes assombrosos em trocas de comunicações entre executivos da Fox e estrelas depende de proporcionar aos espectadores as fortes emoções que eles desejam. Se isso incluir informações falsas, tudo bem. Perguntado se poderia ter dito aos altos executivos da Fox que deixassem de colocar no ar Rudy Giuliani (um dos mais assíduos promotores de mentiras sobre a eleição americana de 2020), Rupert Murdoch respondeu: “Eu poderia ter feito isso. Mas não fiz”. Sua inação disse tudo.

Como afirmou o falecido senador Daniel Patrick Moynihan: “Você tem direito a sua opinião. Mas não tem direito aos seus próprios fatos”. Os fatos às vezes podem ser discutidos. Mas, muito frequentemente, como nesse caso, informações falsas não podem: elas não são “fatos alternativos”, e sim mentiras. Na obra “Truth and Politics”, Hannah Arendt conta uma história sobre Georges Clemenceau, líder da França no fim da Primeira Guerra Mundial. Perguntado sobre quem era o responsável pela guerra, ele respondeu: “Não sei. Mas sei com certeza que eles não vão dizer que a Bélgica invadiu a Alemanha”. Donald Trump não venceu a eleição de 2020. Suas acusações de fraude são mentiras.

É desnecessário dizer que regimes totalitários tanto de esquerda quanto de direita promoveram informações falsas livremente. Para eles a mentira era (e é) um instrumento de controle. Espera-se que as democracias sejam diferentes e, nesse caso, eram, sob um aspecto importante. O mecanismo independente de revelação da verdade da lei obrigou a Fox a pôr à mostra sua consciência de que estava propagando informações absolutamente falsas.

Será que essas mentiras têm importância? Decididamente, têm. Na ausência de concordância em torno dos fatos, a discussão democrática não pode começar. Mas essas mentiras têm um significado especialmente poderoso, porque eram (e são) uma tentativa de derrubar a própria democracia.

A democracia pode ser definida como uma guerra civil civilizada. Reconhece a existência de diferenças de opiniões, mas as soluciona pacificamente, por meio de eleições, que são a instituição fundamental da democracia representativa. As eleições determinam a legitimidade. Mas, para isso, têm de ser reconhecidas como idôneas. Uma mentira sobre o resultado de uma eleição, em vista disso, é mais do que uma mentira. Nem chega sequer a ser, simplesmente, uma mentira política. Ela ameaça diretamente a democracia. É uma tentativa de destruir as eleições como mecanismo de arbitragem do poder. Foi isso o que Trump tentou fazer. Foi isso o que todos os que o apoiam ou lhe deram condições de agir tentaram fazer. Foi isso o que a cobertura da Fox da eleição, especialmente a interminável promoção de mentiras sobre a segurança da votação, tentou fazer.

Esse não é um delito de menor importância que o mundo deveria esquecer facilmente. A democracia corre risco de extinção em boa parte do mundo, enquanto os EUA são a democracia mais importante do mundo. Tentativas de subverter a principal instituição da democracia em seu âmago são imperdoáveis. Mas, infelizmente, não surpreendem. Como argumenta o jornalista britânico Matthew d’Ancona na revista “Prospect”, a Fox “lembra o escorpião da famosa fábula, ao picar o sapo da democracia que o carregava, o que fez com que ambos se afogassem em um lodaçal de desonestidade, desinformação e desordem. Ela simplesmente estava sendo fiel à sua natureza. Ainda está”.

Um advogado de defesa pode argumentar que nada disso foi culpa da Fox. Ela apenas fez o que tinha de fazer, a fim de dar aos seus clientes o que eles queriam. Esse, poderia se observar, seria o argumento de um traficante de drogas. Nesse caso, além disso, a Fox não estava só satisfazendo um desejo preexistente. Teve papel significativo na criação da dependência em relação à demagogia da extrema direita, da qual Trump é um tão brilhante expoente. Como observou Jim Sleeper na “Columbia Journalism Review”: “A Fox renuncia ao jornalismo, ou o redireciona, não apenas para entreter como também para engrossar e canalizar filetes de fúria e medo públicos de modo a transformá-los em correntes torrenciais de poder político”.

Imaginemos o que aconteceria se a eleição presidencial futura estivesse ainda mais próxima. As instituições poderiam então estar sobrecarregadas para além do ponto de ruptura. Mas, talvez, já seja tarde demais para tentar mudar esse quadro. Em vista das profundas divisões atuais, qualquer tentativa de atualizar a velha “doutrina da idoneidade” (suspensa em 1987) de modo a cobrir as emissoras atuais seria inaceitável e inviável. Pode-se argumentar também que é impossível evitar a ampla disseminação de mentiras, em vista das nossas redes sociais. Resta apenas a esperança de que o eleitorado e o Poder Judiciário permaneçam robustos contra os futuros esforços de subversão.

Para os países que ainda não caíram nesses lodaçais, no entanto, é vital proteger o financiamento e a independência das emissoras públicas, como a BBC, e insistir que todas as emissoras têm a obrigação de não mentir. Se descumprirem essa obrigação, devem imediatamente perder suas concessões, que são um privilégio, não um direito. Essas concessões não dão o direito às emissoras de pregar a sublevação contra o regime democrático que lhes deu origem.

Temos que nos lembrar de três grandes coisas sobre a economia de mercado. A primeira e mais fundamental é que não se pode fazer tudo o que é lucrativo. Aliás, tem de haver uma longa lista de atividades que as pessoas não têm o direito de praticar. A segunda é que algumas das coisas que as pessoas não podem fazer talvez sejam legais ou, se contrárias à lei, difíceis de evitar. A última e mais importante, consequentemente, é que a sobrevivência de uma sociedade civilizada depende da contenção moral, principalmente da parte de suas principais personalidades. Em 1954, Joseph Nye Welch, principal assessor do Exército dos EUA, respondeu à pecha de comunista atribuída pelo senador Joe McCarthy com a pergunta: “O senhor não tem noção de idoneidade?” Sociedades livres morrerão se as pessoas dotadas de influência, riqueza e poder forem desprovidas dessa virtude. (Tradução de Rachel Warszawski)

*Martin Wolf é editor e principal analista de economia do Financial Times

Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 08:13:00   

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Um futuro próximo surpreendente 

Paulo Ormindo de Azevedo - | Facebook-: A Tarde, 14/05/2023

 

Nunca fui um aficionado da ficção científica e de outras manifestações de futurologia, mas tenho que reconhecer que muitas de suas profecias se tornaram realidade. Em 1946, um jornalista perguntou a Einstein qual seria a próxima arma de guerra depois da bomba atômica e ele respondeu o arco e a flecha, sinalizando o retorno à barbárie. 

O historiador inglês Toynbee previu que depois da Modernidade, com sua ênfase na razão e na ética, teríamos um novo período de obscurantismo. É o que estamos vendo com o avanço do esoterismo e do neofascismo. A vigilância global prevista por George Orwell no livro 1984 foi assumida pelos estados ditos democráticos à pretexto de combater o terrorismo, e pela avidez da indústria do consumo. O Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley se transformou no Admirável gado novo, como canta Zé Ramalho: povo marcado é povo feliz!

O cinema tem sido outra fonte de profecias distópicas. Vivemos Fahenheit 452 durante o golpe de 1964 com queima de livros. Androides chamados de replicantes, criados pela bioengenharia, são banidos da Terra, mas voltam e são aposentados (mortos) em Blade Runner – o caçador de andróides, num futuro que não parece estar muito distante com as pesquisas sobre o genoma humano e as conquistas espaciais privadas. 

Mas o filme mais profético e atual é de Stanley Kubrick em parceria com o ficcionista científico Arthur Clark, 2001- uma odisseia no espaço, que mostra a evolução da humanidade das cavernas até à conquista do espaço e criação da inteligência artificial. Produzido há 55 anos, ele é de uma atualidade desconcertante. Numa viagem da nave Discovery One da Base Clavius na Lua a Júpiter, o computador Hall apresenta um erro por “falha humana” na sua construção e resolve assumir o controle da nave cortando o suprimento de oxigênio de todos os membros da tripulação. 

A inteligência artificial pode ter algumas aplicações interessantes, mas sem controle da sociedade pode ser um tiro pela culatra na chamada civilização. Vai ficar difícil distinguir o que é ficção e realidade, o que é autoral e adulteração, e possivelmente teremos um pensamento único sacralizado pela infalibilidade da máquina. Haverá sempre um pensamento crítico nas universidades, mas sem poder político e decisório. 

Politicamente a inteligência artificial pode ser uma ferramenta de lavagem cerebral das massas por algumas poucas empresas privadas. A questão é tão grave que os próprios donos dessas plataformas estão pedindo uma moratória de seis meses para a normatização da inteligência artificial. Que instituição internacional pode normatizar e fiscalizar o uso desse aplicativo e do espaço cósmico por empresas privadas? A desmoralizada ONU? Melhor que Não olhem para cima, nem confiem no computador.

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 12 MAIO 23

As Mães Nossas de Cada Dia

As mães são seres imensuráveis, indescritíveis num único traço, num único fio, pois elas não se aquietam, não se conformam, não desistem, não se rendem, seja diante dos desafios domésticos, seja frente aos desafios da luta pela sobrevivência, levando-as ao mercado profissional e do empreendedorismo, seja diante de situações inusitadas que as retiram de casa transformando-as em protagonistas políticas, até mesmo em situações de guerra. Foram as mulheres que provocaram, no Brasil, a luta pela Anistia nos anos 70. Foram as mulheres que saíram às ruas na Argentina em busca dos filhos “desaparecidos”.

A história registra a luta de muitas mães em busca de seus filhos que foram detidos, presos, torturados, sequestrados e desaparecidos nas ditaduras de latino-américa. As Mães da Praça de Maio, em Buenos Aires, foram um exemplo de amor e coragem de dezenas de mães à procura de seus filhos desaparecidos pela ditadura argentina nos anos 1976/83, numa época em que poucos se atreviam a desafia aquele regime. “Las Madres de la Plaza de Mayo” usavam lenço branco na cabeça, simbolizando as fraldas de seus filhos. Nossa homenagem às mães na lembrança de Hebe de Bonafini, que criou este memorável Movimento.

Hebe de Bonafini era uma dona de casa que cursou unicamente a escola primária. Casou-se em 29 de dezembro de 1942, aos 14 anos, com Humberto Alfredo Bonafini, com quem teve três filhos, Jorge Omar, Raúl Alfredo e María Alejandra. Em 8 de fevereiro de 1977, seu filho mais velho Jorge Omar foi sequestrado e desaparecido, em La Plata, e em 6 de dezembro desse ano ocorreu o mesmo a seu outro filho homem, Raúl Alfredo, em Berazategui. Em 25 de maio de 1978, desapareceria também seu nora, María Elena Bugnone Cepeda, esposa de Jorge.

Hebe de Bonafini foi presidenta da Associação Mães da Praça de Maio desde 1979, onde se destacou pela luta contra a impunidade dos culpados de delitos de lesa humanidade, bem como por reivindicar a vida dos desaparecidos, rendendo homenagens a seus atos ainda em vida e não só a seu desaparecimento.

Seu esposo, Humberto Bonafini, morreu em setembro de 1982.

Em 1987, quando o músico britânico Sting visitou o país, convidou a organização a subir ao palco do estádio do River Plate. Durante a canção They dance alone, as Mães passearam no palco ao compasso da canção que tinham inspirado. (Wikipedia)

A banda irlandesa U2 em 1987 no álbum/The Joshua Tree, dedicou a faixa 11 às Mães da Plaza del Mayo, com a música "Mothers of The Disappeared" e em 1998 quando a Banda realizou show em Buenos Aires Bono Vox encontrou com Bonafini.

Diz a letra: 

Meia noite, nossos filhos e filhas foram

cortados e tirados de nós 

Mas ouvimos seus corações ...

 

Não nos cansemos jamais de lembrar e contar a história destas mães, é nosso dever.

Em 1991, Bonafini numa emissão do programa El Perro Verde que era conduzido pelo jornalista espanhol Jesús Quintero, a líder das Mães chamou ao então presidente Carlos Menem de «lixo», pelo qual o mandatário lhe processou por «desacato». Em 1998, a Câmara de Apelações considerou que a causa se encontrava prescrita e que o ex-presidente devia pagar os custos, que chegavam a 4500 pesos. O expediente foi elevado por Menem à Corte Suprema em 1999. 

Em 1996 ― durante o menemismo ― Hebe de Bonafini foi ferida na cabeça pela polícia numa manifestação universitária em repúdio à reforma do estatuto da Universidade Nacional de La Plata e à Lei de Educação Superior, quando o Corpo de Infantaria da Polícia Bonaerense exercia uma brutal repressão. Ficou gravemente ferida e ficou com seu lenço branco tingido de vermelho, mas declarou: «O sangue do lenço é a ameaça mais forte deste governo para dizer que paremos. [...] Não vão nos parar! Nem um passo atrás, carajo!

Em 1998, quando a banda U2 visitou a Argentina, seus integrantes estiveram na organização das Mães e as convidaram a subir ao palco em sua apresentação. Ali, Hebe de Bonafini presenteou seu lenço branco a Bono. Em várias oportunidades, Hebe de Bonafini sofreu ataques contra sua pessoa, pessoas próximas e a associação, desde insultos, ameaças de morte até torturas. Em 2001, duas pessoas invadiram a casa de Bonafini e, não encontrando Hebe, torturaram a sua filha Alejandra, golpeando-a brutalmente e queimando-a com cigarros. 

Bonafini foi convidada a dar conferências e palestras, tanto na Argentina quanto no exterior. Alguns dos lugares onde proferiu discursos são: num acampamento dos Sem Terra, no Mato Grosso (no Brasil); em Chiapas (no México) com o convite para apoiarem o Subcomandante Marcos; na Universidade da Califórnia, em Riverside (Estados Unidos) ao receber um título Honoris Causa; Havana (Cuba), onde numa das oportunidades foi oradora nas comemorações de Primeiro de Maio; Astúrias (na Espanha), convidada pelo Grupo de Apoio do País Basco; Caracas (Venezuela) na Segunda Jornada de Saúde Mental; Porto Rico, na assembleia do Colégio de Advogados; Milão, Brescia, Verona, Turim, Rivoli, Riccione e Módena (na Itália), convidada pelo Comitê de Solidariedade Internacionalista Arco Íris; Paris (França), quando a fundação recebeu o Prêmio UNESCO de Educação pela Paz; Belgrado (Iugoslávia), para participar de um ato de repúdio à guerra.

Desde 2004 difundiu seu pensamento em programas de rádio, como Transformaciones del Pañuelo Blanco (desde 2007) ou La Voz de las Madres. Desde 2008 as Mães da Praça de Maio administram o chamado Centro Cultural Nuestros Hijos, no antigo campo de concentração ESMA (Escola Superior de Mecânica da Armada) em Buenos Aires.

Em 2009 começou a dar aulas de culinária e política nesse mesmo centro. Bonafini morreu em 20 de novembro de 2022, aos 93 anos de idade. (Wikipedia)

O que você precisa saber sobre ECONOMIA DO CUIDADO DOMÉSTICO que, se somado seria um dos maiores PIBs do mundo: US $ 10 tri anual – g1

Mercado de trabalho: cai participação de mulheres com filhos// Mães em home office: 92% são responsáveis pelos filhos// Tarefas domésticas: mulheres passam 2x o tempo dos homens//Sebrae: 7 a cada 10 mulheres empreendem depois de ter filhos// Economia do cuidado: mulheres movimentam US$ 10 tri/ano

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 11 MAIO 23

Julian Assange

Julian Assange é um jornalista australiano que se encontra preso no Reino Unido há dez anos, depois de um longo asilo na Embaixada do Equador, por haver revelado ao público informações estratégicas dos Estados Unidos. Responde à ação judicial nos EUA, onde poderá ser condenado à vida por traição. Neste ínterim, vê sua saúde deteriorar-se gradualmente na prisão. No coroamento de Charles III divulgou a Carta abaixo, que por solidariedade ao jornalista e em defesa do real direito de todos à verdade e ao livre exercício da profissão de jornalista, transcrevemos:

Carta de Julian Assange ao rei Carlos III

À Sua Majestade Rei Carlos III,

No momento da coroação do meu soberano, achei por bem fazer-vos um convite sincero para comemorar este importante evento visitando o vosso próprio reino dentro de um reino: a prisão de Belmarsh de Vossa Majestade.

Sem dúvida recordareis as sábias palavras de um famoso dramaturgo: "A qualidade da misericórdia não é imposta. Ela cai como a suave chuva do céu sobre os lugares abaixo".

Ah, mas o que saberia aquele bardo de misericórdia diante do acerto de contas no alvorecer do vosso histórico reinado? Afinal, pode-se verdadeiramente conhecer a medida de uma sociedade pelo modo como trata os seus prisioneiros, e o vosso reino certamente esmerou-se a este respeito.

A Prisão de Belmarsh de Vossa Majestade situa-se na prestigiada morada de One Western Way, em Londres, apenas a uma curta distância do Old Royal Naval College, em Greenwich. Quão deleitoso deve ser ter um estabelecimento tão estimado a portar o vosso nome.

“Pode-se verdadeiramente conhecer uma sociedade pelo modo como trata os seus prisioneiros”.

É aqui que 687 dos vossos leais súbditos são mantidos, apoiando o registo do Reino Unido como a nação com a maior população encarcerada da Europa Ocidental. Como o vosso nobre governo declarou recentemente, o vosso reino está atualmente a passar pela "maior expansão de vagas prisionais em mais de um século", com as vossas ambiciosas projeções a mostrarem um aumento da população prisional de 82.000 para 106.000 nos próximos quatro anos. É, na verdade, um grande legado.

Como prisioneiro político, detido ao bel-prazer de Vossa Majestade em nome de um soberano estrangeiro envergonhado, sinto-me honrado por residir entre os muros desta instituição de classe mundial. Na verdade, o vosso reino não conhece limites.

Durante a vossa visita, tereis a oportunidade de banquetear-vos com as delícias culinárias preparadas para os seus fiéis súbditos com um generoso orçamento de duas libras por dia. Podereis saborear as cabeças de atum misturadas e as omnipresentes formas reconstituídas que supostamente são feitas de galinha. E não vos preocupeis, porque, ao contrário de instituições menores como Alcatraz ou San Quentin, não há refeições coletivas num refeitório. Em Belmarsh, os prisioneiros comem sozinhos nas suas celas, garantindo a máxima intimidade com a sua refeição.

Para além dos prazeres gustativos, posso assegurar-vos que Belmarsh oferece amplas oportunidades educativas aos vossos súbditos. Como diz Provérbio 22:6: "Educai a criança no caminho em que deve andar, e até envelhecer dele não se desviará". Observai as filas baralhadas no guichê dos medicamentos, onde os reclusos recolhem as suas receitas, não para uso diário, mas para a experiência de expansão de horizonte num "grande dia fora" – tudo de uma vez.

Também tereis a oportunidade de prestar as vossas homenagens ao meu falecido amigo Manoel Santos, um homem gay que enfrentava deportação para o Brasil de Bolsonaro, o qual tomou a sua própria vida a apenas oito jardas da minha cela usando uma corda grosseira feita com lençóis. Sua refinada voz de tenor agora silenciou para sempre.

"Meu falecido amigo Manoel Santos... o qual tomou a sua própria vida a apenas oito jardas da minha cela".

Aventurai-vos nas profundezas de Belmarsh e encontrareis o local mais isolado dentro das suas muralhas: Os cuidados de saúde (Healthcare), ou “Cuidados do inferno” ("Hellcare"), como o chamam carinhosamente os seus habitantes. Aqui, ficareis maravilhado com as regras sensatas concebidas para a segurança de todos, tais como a proibição do jogo de xadrez, se bem que permitindo o muito menos perigoso jogo de damas.

Nas profundezas do Hellcare encontra-se o lugar mais gloriosamente edificante de toda a Belmarsh, ou melhor, de todo o Reino Unido: a sublimemente denominada Belmarsh End of Life Suíte. Ouvi com atenção e podereis escutar os gritos dos prisioneiros: "Irmão, estou a morrer aqui", um testemunho da qualidade de vida e de morte dentro da vossa prisão.

Mas não temais, pois há beleza a encontrar dentro destes muros. Deleitai os vossos olhos com os pitorescos corvos que fazem ninho no arame farpado e com as centenas de ratos famintos que chamam Belmarsh de casa sua. E se vierdes na Primavera, podeis mesmo ter um vislumbre dos patinhos postos pelos patos selvagens no terreno da prisão. Mas não vos demoreis, pois as ratazanas vorazes asseguram que as suas vidas são efémeras.

Imploro-vos, Rei Carlos, que visiteis a Prisão de Belmarsh de Vossa Majestade, pois é uma honra digna de um rei. Ao embarcardes no vosso reinado, lembrai-vos sempre das palavras da Bíblia na versão do Rei James: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mateus 5:7). E que possa a misericórdia ser a luz orientadora do vosso reino, tanto dentro como fora das muralhas de Belmarsh.

O vosso mais devotado súbdito,

Julian Assange, [*] Jornalista e preso político. - A9379AY - 05/Maio/2023

O original encontra-se em declassifieduk.org/a-kingly-proposal-letter-from-julian-assange-to-king-charles-iii/

Este artigo encontra-se em resistir.info


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 10 MAIO 23

 

Rita Lee, foi-se minha adorável Rainha 

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Podcast discute legado de transgressão de Rita Lee dentro e fora dos palcos.

Pesquisadora musical analisa marcas que a artista, morta aos 75 anos, deixa na cultura e na sociedade - Podcasts O legado de transgressao de Rita Lee entro e fora dos palcos 

 

Rita Lee, rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos; relembre carreira

Com quase 60 anos de carreira, Rita Lee foi referência de criatividade e independência feminina. A cantora acumula sucessos como 'Mania de você' e 'Lança perfume'. - g1.globo.com-Podcast Adeus a Rita Lee e nova lei no futebol 

 

Em autobiografia, Rita Lee deixou 'profecia' sobre sua morte: 'Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório'; leia trecho

Rainha do rock brasileiro também escreveu que haveria palavras de carinho de quem a detesta, rádios tocariam suas músicas sem cobrar jabá e que ela estaria no céu 'tocando autoharp e cantando para Deus'. Rita Lee morreu nesta segunda-feira aos 75 anos.

Roberto de Carvalho publica homenagem à Rita Lee - Cantora morreu na noite desta segunda-feira (8). Os dois estiveram juntos por 46 anos.

'Cabeças vão rolar', 'me deixa de quatro no ato' e mais: conheça as letras proibidonas de Rita Lee, censuradas pelos militares

Doutora Norma Lima, pesquisadora da Uerj, reuniu lista de músicas que foram censuradas durante ditadura militar. Biógrafo de Rita Lee, Guilherme Samora, conseguiu documentos que alegam que Rita Lee incitou à rebelião.

 

Lula lamenta morte de Rita Lee: 'Jamais será esquecida' - Cantora faleceu na noite de segunda-feira (8), aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a doença.

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Como definir Rita Lee, um produto híbrido de descendentes gringos e italianos oriundi de Santa Bárbara do Oeste, em São Paulo, que carregou no nome, sem constrangimento, o signo de um odioso general confederado da Guerra Civil americana do século XIX. Transgressora confessa, que encontrou no rock a melhor expressão musical para sua atitude libertária, Rita foi um dos melhores símbolos da resistência no século passado quando o clima se tornou irrespirável. “Naquele tempo”, como digo ao meu neto, anos 60, diante da bestialidade do regime militar ancorado na Boa Sociedade da Tradição “Deus, Pátria e Família”, que lhe pariu, a consciência crítica tinha três alternativas: Conformar-se com um cargo na Universidade, sair atirando ou desbundar. A maior parte, eu inclusive, se conformou como professor ou pesquisador. Raros, neste campo, ganharam notoriedade. FHC foi um deles. Era uma alternativa que resguardava um mínimo de dignidade frente ao que acontecia nos porões do regime. Os que saíram atirando – e foram muitos e os mais heroicos – se deram mal: prisões, sumiços e exílio. Só para o Chile, onde eu vivi entre os anos 1970 e 73, chegaram mais de cinco mil. Todos muito jovens. Meninas e meninos. Esboroaram-se na muralha da repressão. Os demais, como se dizia, “desbundaram”, numa época que era quase impensável, numa boa, ir para o exterior. Estes atravessaram vários caminhos, muitos deles entrecruzados, mas a música, o teatro e o cinema foram os mais construtivos deles. Os Festivais de Música da Record, em 67 e 68 – e lá já estava Rita Lee com Os Mutantes” - , há documentários excelentes sobre eles, representaram um sopro de vida nos campos de Marte: A Tropicália. Com isso, ganhou a identidade brasileira, atravessada em nossas raízes tamboris com a guitarra elétrica e a performance inusitada de Rita Lee, Novos Baianos, Ney Mato Grosso, para não falar dos conjuntos musicais que os acompanharam. Agora, perdemos a Rainha, não só do rock brasileiro, mas de todo este tempo de rebeldia que tanto nos enriqueceu. Sua obra monumental, 55 milhões de discos vendidos, cerca de 300 composições, mais de 600 interpretações fica como registro - https://pt.wikipedia.org/wiki/Rita_Lee . Uma inspiração libertária para as novas gerações. Como ela própria se definiu: “Não fui um bom exemplo. Mas fui uma boa pessoa.” Na verdade, muito mais do que isso, um patrimônio cultural imorredouro.

 

O Assunto g1 dia 10 maio: Rita Lee, a majestade do rock, por Ney Matogrosso

Morreu aos 75 anos a voz mais importante do rock ‘n roll brasileiro – mas que não se limitava ao gênero e experimentou diversos ritmos ao longo de 5 décadas de carreira e 40 álbuns publicados, que renderam a ela mais de 55 milhões de exemplares vendidos. Rita Lee nasceu em São Paulo e explodiu para a cena musical na década de 1960, durante o movimento tropicalista, quando integrava os Mutantes. Depois, em carreira solo – mas sempre em parceria com seu companheiro de vida, Roberto de Carvalho, com quem teve três filhos – colecionou hits e sucessos. Além do talento, deixa um legado de autenticidade e liberdade. Para dar conta de contemplar diversos aspectos desta rica personalidade, Natuza Nery conversa com Ney Matogrosso, uma das maiores vozes da música brasileira e amigo de Rita. Neste episódio:

Ney conta que observa a Rita Lee desde antes de ser artista e o quanto a imagem dela de “noiva grávida” na década de 1960 imprimiu nele uma marca da revolução e da transgressão. “Me fez sentir como sua alma gêmea”, afirma;

Ele recorda as características da cantora que a faziam “diferente” e algumas das canções que a parceira escreveu para que ele cantasse: “Ela me sacava. Eu via a letra e pensava que era eu. Mas era ela também”;

Ney também fala sobre a forma como Rita Lee fazia questão de se mostrar uma representante de São Paulo: “Ela era uma representação dessa cidade desvairada”;

Ele explica como a artista venceu a resistência de um cenário “careta” na música brasileira e “reforçou a visão de que a música brasileira é antropófaga”.

 

O que você precisa saber:

Rita Lee: a rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos// Autobiografia: Rita Lee deixou 'profecia' sobre sua morte// Rock'n roll: 'vou fazer com meus ovários e com meu útero'// Música: as letras proibidonas, censuradas pelos militares// Tristeza: artistas e famosos lamentam a morte da cantora// Repercussão internacional: 'ícone do rock brasileiro' e mais// Velório: corpo de Rita Lee será velado no Planetário em SP// VÍDEOS: relembre as parcerias da rainha do rock brasileiro

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 05 MAIO 23

O BALONISMO: Dos eventos ao acontecimento

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Alô Comunidade / CULTURAL FM Torres RS – Entrevista com Tommaso Mottironi sobre o 33º. Festivas do Balonismo

Alô Comunidade-02/05/2023

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O Festival de Balonismo de Torres teve seu marco em 1989 quando apareceram em caráter promocional na antiga Feira da Banana, evento agrícola da cidade. Os balões fizeram tanto sucesso que logo ganharam um evento próprio. O balonismo vem de longe: ocorreu no ano de 1783, quando dois irmãos franceses, Etiene e Joseph Montgofier, realizaram o primeiro teste com um balão. O vôo foi um sucesso e visto por quase toda a população de Paris da época. Já no Brasil o primeiro vôo de balão aconteceu no ano de 1885. Um antecedente importante do balonismo foi o fato de que ele inspirou Santos Dumont às alturas, fazendo-o pioneiro da aviação. Um belo depoimento dele pode ser encontrado no seu memorável relato “Os meus balões” , Biblioteca do Exército1973, no qual conta seu fascínio em voar e suas peripécias com a série de balões dirigíveis entre 1900 e 1904 , em Paris, cuja íntegra juntei ao meu último livro “Século XX – O Século dos Séculos”, Ed. Mottironi, Torres, 2022. Eis um pequeno fragmento:

“Às 11 horas os preparativos estavam terminados. Uma brisa fresca acariciava a barquina, que se balançava suavemente sob o balão. A um dos cantos dela, com um saco de lastro na mão, eu aguardava com impaciência o momento da partida. Do outro, o Sr. Machuron gritou:

- Larguem tudo!

No mesmo instante, o vento deixou de soprar. Era como se o ar em volta de nós se tivesse imobilizado. É que havíamos partido, e a corrente de ar que atravessávamos nos comunicava sua própria velocidade. Eis o primeiro grande fato que se observa quando se sobre num balão esférico.

Esse movimento imperceptível de marcha possui um sabor infinitamente agradável. A ilusão é absoluta. Acreditar-se-ia, não que é o balão que se move, mas que é a terra que foge dele e se abaixa.

No fundo do abismo que se cavava sob nós, a mil e quinhentos metros, a terra, em lugar de parecer redonda como uma bola, apresentava a forma côncava de uma tigela, por efeito de uma fenômeno de refração que faz o círculo do horizonte elevar-se continuamente aos olhos do aeronauta.”

Volto aos balões e ao balonismo para concelebrar com organizadores, competidores e grande público presente o sucesso do 33º. Festiva de Balonismo de Torres no último fim de semana. Quis o bom Deus nos brindar, naqueles dias, com um clima excepcional. Embora não tenha assistido a todos os Festivais tenho para mim que este se excedeu em beleza e organização. O balonismo preencheu uma lacuna na vocação turística da cidade e já pode ser considerado o maior de seus eventos, justificando os elevados custos em dinheiro público nele envolvido. Por isso mesmo, justifica-se pensá-lo melhor numa estratégia de desenvolvimento da cidade. Sua realização comprova, sobretudo, a necessidade de se complementar o cronograma de verão com eventos da mesma ordem que se sigam ao longo do ano. Ruy Rubem Ruschel, patrono dos historiadores da cidade, já escrevia fartamente sobre isso há mais de 30 anos: - “Precisamos mais do que o veraneio”, chamando a atenção para a importância de parques temáticos na cidade, maior apoio à cultura e ao turismo rural. Tem até uma crônica que ilustra sua visão e que aponta para ações ainda não descartadas: “Um parque da Mônica poderá salvar Torres”.

Pois bem, tudo isso para dizer que muito devemos a empresários que deram os primeiros passos para o balonismo na cidade e outros tantos desportistas que se lançaram ao balonismo. Hoje, segundo Tommaso Mottironi, que concedeu uma entrevista à Cultura FM sobre o evento, Torres é uma cidade privilegiada com o número de equipes. Destaca o Professor Roni Dal Piaz, também, em sua Coluna em A FOLHA de 29 de abril passado, que nosso Festival já está entre os dez maiores do mundo. Resta, agora, não deitar sobre os louros conquistados, mas planejar melhor para os futuros Festivais. Um evento desta magnitude e com as projeções que adquiriu não pode ser organizado apenas pela Prefeitura Municipal nas últimas semanas de sua realização, com as inevitáveis tensões que isso provoca. Mister se criar uma Comissão Mista Permanente, com membros da sociedade civil, para tratar do assunto, com assento no Conselho Municipal de Turismo e capacidade de diálogo com todos os interessados. Uma das reclamações, por exemplo, se refere ao contingenciamento do local dos balões. Há necessidade de mais espaço. Talvez se possa pensar em outra e mais ampla área, até para evitar o congestionamento do trânsito ali onde está. Mottironi, urbanista, destaca a importância de um novo lay out na área do balonismo, com a criação, inclusive de galpões para as várias equipes e oficinas. Ao mesmo tempo, pela natureza da atividade, aérea, ela se desdobra além dos limites da cidade, sugerindo a necessidade de se incorporar ao evento pelo menos Passo de Torres. Isso, aliás, aponta para a importância de fazer do balonismo um instrumento de valorização de todo o Vale do Mampituba, igualmente privilegiado em termos de paisagem. Com tudo isso, ir-se-ia deslocando o olhar sobre os balões para um olhar dos balões para pontos importantes da nossa realidade: o rio, lagoas, parques, artesanato etc. Palestras, Seminários, Encontros Temáticos e Concertos poderiam completar o ciclo. Um bom Plano de Comunicação Social do evento, com a produção final de um Vídeo Institucional da Prefeitura consagraria e divulgaria estes esforços. Finalmente, parece ter chegado a hora de transformar o evento balonismo num acontecimento, no sentido que cientistas sociais dão a este termo: a capacidade do evento produzir resultados além do seu tempo. A Economia do Balonismo. Sua capacidade de gerar renda e empregos além do período do Festival. Fica o desafio.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 04 MAIO 23

FECHA-SE O CERCO SOBRE O EX PRESIDENTE BOLSONARO

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Cartão de vacina de Bolsonaro: veja os principais pontos da investigação sobre suposta fraude

Quais os possíveis crimes? Como era o esquema? Entenda

Dos indícios de fraude a buscas contra ex-presidente: veja a cronologia 

 

Veja quem são e o que dizem os alvos da operação contra fraude em dados de vacinação de Bolsonaro e ajudantes

 

Tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente foi preso na ação. Segundo PF, grupo falsificou dados em sistemas do Ministério da Saúde para acessar locais onde vacinação contra Covid-19 era obrigatória.

 

Bolsonaro é alvo de operação da PF por suspeita de fraudar cartão de vacinação; leia análise dos colunistas

Ex-presidente não foi alvo de mandado de prisão, mas deve prestar depoimento ainda nesta quarta na PF, em Brasília.

 

Como suspeita de fraude dos cartões de vacina envolve 'troca de favores' relacionada ao caso Marielle Franco

Ex-vereador do Rio de Janeiro, Marcello Siciliano aparece nos dois inquéritos e teria ajudado Mauro Cid com cartões de vacina. Ele não é tratado pela polícia como suspeito ou investigado pela morte da vereadora, mas estava com o visto de entrada nos EUA travado após ter sido acusado como mandante do crime em 2018.

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O ex presidente Bolsonaro, depois de concelebrar com seus correligionários uma vitória na retirada de pauta na terça feira do PL das fake news, logo após sua consagração na Agrishouw, teve ontem um sério revés. 

Fraude no cartão de vacina e batida da PF foram os piores eventos para Jair Bolsonaro nas redes até agora, aponta Quaest: 464 mil posts negativos. 

Uma operação da PF recolheu seu celular enquanto ex assessores eram presos, com autorização judicial, em alentado documento do Ministro Alexandre de Moraes - Supremo: a decisão de Alexandre de Moraes_ Ultimas notícias , suspeitos de participarem em ato de falsificação do cartão de vacina do ex Chefe, dentre eles o Major da ativa, Coronel MARUO CID. 

Cid tentou esconder dinheiro vivo dos investigadores, ficou nervoso no depoimento e não respondeu às perguntas. Tenente-coronel e ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro tinha US$ 35 mil em cédulas. 

Ao autorizar buscas, Moraes determinou também a apreensão do passaporte de Bolsonaro e demais investigados. Bolsonaro já responde a 17 processos na Justiça, o mais grave, que poderá leva-lo à cassação de direitos, sua ação contra as urnas eletrônicas, mas ainda lhe pesam outros dois processos importantes: O incitamento aos atos golpistas em janeiro e a tentativa de se apropriar dos valiosos presentes da Arábia Saudita. A todos estes processos Bolsonaro sempre responde que é inocente e que, na verdade, vem sendo perseguido. O episódio de ontem, porém, se reveste de características ignominiosas pois não só revela suposta ilegalidade dos atos mas expõe a escrutínio público a palavra do ex presidente, que sempre se disse contra o uso de vacinas e que, inclusive, retardou o processo de sua compra e uso contra o COVID durante seu governo. Provas colhidas entre seus assessores presos na operação de ontem, Major Ailton, revelam, também, uma nova pista no caso Marielle: - “Eu sei quem foi o mandante desta p...”. Hoje, a imprensa nacional repercute maciçamente a ação da PF e todas as implicações dos primeiros depoimentos e colheita de provas.

 

O Assunto g1 dia 4 maio 23: Bolsonaro e a carteira de vacinação

g1.globo.com- Bolsonaro e a carteira de vacinação 

Na manhã desta quarta-feira (3) a Polícia Federal bateu à porta do ex-presidente da República. Os agentes cumpriam um mandado de busca e apreensão na casa dele em Brasília, onde passaram três horas e apreenderam o celular do ex-presidente. A operação da PF – que atendeu a mais 15 mandados e prendeu 6 suspeitos, entre eles o tenente-coronel Mauro Cid, o faz-tudo de Bolsonaro (PL) – agiu em busca de indícios e provas da suposta fraude no cartão de vacinação de Jair e de sua filha de 12 anos. Trata-se do resultado de uma investigação iniciada dentro do inquérito das milícias digitais que envolve troca de favores com políticos regionais e até um diálogo sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco. Para explicar o que levou a PF à casa de Bolsonaro e o futuro dele e de Cid na Justiça, Natuza Nery conversa com Bruno Tavares, repórter da TV Globo, e Eloísa Machado, doutora em Direito pela USP e professora de Direito na FGV-SP. Neste episódio:

Bruno descreve como a investigação chega a Mauro Cid e o episódio de fraude da carteira de vacinação dele, da mulher e das filhas: “Havia ansiedade e insistência em cometer esses crimes”. Depois de uma tentativa frustrada em Goiás, ele apelou a um “aliado político de Bolsonaro em Duque de Caxias”;

Ele avalia a decisão do ministro Alexandre de Moraes, que autorizou a operação Venice e sugere que o ex-presidente tinha total ciência do esquema fraudulento. Um dos indícios, afirma, é que o acesso ao sistema ConecteSUS para emitir o certificado de vacinação de Bolsonaro foi realizado via “um ID de acesso atribuído a Mauro Cid”;

O jornalista também recupera o diálogo entre o militar da reserva Ailton Barros e Mauro Cid, no qual suspeita-se “uma troca de favores”: Ailton intermediaria a emissão de um cartão falso de vacina em Duque de Caxias, valendo-se da influência do ex-vereador Marcello Siciliano; então Cid agiria para facilitar a obtenção de um visto americano para Siciliano;

Eloísa lista a série de crimes nos quais Jair Bolsonaro pode ser incriminado por sua conduta na resposta à Covid. “Nos casos de crimes mais graves, pode ter como resultado uma condenação à pena de prisão”;

Ela também comenta a atuação “ínfima” da PGR para “obstar as medidas equivocadas” do governo Bolsonaro. “Houve a colaboração do principal órgão de controle para que a pandemia fizesse o estrago que fez no Brasil”, afirma.

O que você precisa saber:

CRONOLOGIA:

a linha do tempo do caso

PF: faz buscas na casa de Bolsonaro e prende Mauro Cid

Bolsonaro: 'sem adulteração da minha parte, não tomei vacina'

Fraude: suspeitos acessaram sistema para inserir dados falsos 

Mauro Cid: quem é o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro 

Moraes: 'é pouco provável que Bolsonaro não soubesse' 

10 min: diferença na emissão dos cartões de Bolsonaro e da filha 

Caso Marielle: 'sei a p**** toda', disse Ailton Barros a Mauro Cid 

QUEM É QUEM: todos alvos da PF na operação 

O Assunto #917: Coronel Cid, o faz-tudo de Bolsonaro


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 03 MAIO 23

 

A GUERRA CONTRA A DESINFORMAÇÃO

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O Assunto g1 dia 3 de maio 23: A guerra em torno do PL das Fake News - https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/05/03/o-assunto-952-a-guerra-em-torno-do-pl-das-fake-news.ghtml

CAFÉ DA MANHÃ dia 3 maio 23: 

Podcast explica como disputa de lobbies afeta discussão do PL das Fake News. Ante risco de derrota, Arthur Lira adia votação na Câmara após governo e big techs intensificarem ofensivas - https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/05/podcast-explica-como-disputa-de-lobbies-afeta-discussao-do-pl-das-fake-news.shtml 

 

Ministros do STF avaliam ação do Google contra PL das Fake News como abuso de poder econômico- Blog do Valdo Cruz

 

Líderes religiosos declaram apoio ao PL das Fake News contra extremismo e violência

Posição foi externada após integrantes da bancada evangélica na Câmara se declararem contra a proposta. Votação do projeto está prevista para esta terça-feira (2).

Merval Pereira - Interesses de cada um

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../merval-pereira...

Gustavo Binenbojm - Remédio e veneno nas redes sociais

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../gustavo-binenbojm...

Álvaro Costa e Silva - O golpismo nas mídias sociais

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../alvaro-costa-e-silva...

Dora Kramer - Transgressão premiada

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../dora-kramer...

Míriam Leitão - Plataformas contra a lei = O Globo

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../miriam-leitao...   

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A disseminação das Redes Sociais com base na INTERNET revolucionou o processo de formação da Opinião Pública sobre os mais diversos assuntos nos últimos anos. No Brasil, por exemplo, um dos maiores mercados do mundo nestas redes sociais, cerca de 100 milhões de internautas frequentam a INTERNET e depositam e disseminam opiniões pessoais sobre assuntos da Ciência, Religião, Costumes e Política. Uma verdadeira revolução na comunicação social, aparentemente democrática, eis que universalmente acessível, com direito a memes, injúrias, desabafos e até proclamações com diretrizes de ação à violência. Neste processo são estimulados por dois processos: De um lado, um sistema diabólico de manipulação dos usuários das Redes, a partir das próprias plataformas que se dizem meros territórios mas que, nos bastidores usam e abusam dos algoritmos dirigidos para aumentar seus lucros; de outro por influencers, geralmente jovens sem qualquer formação profissional adequada à função de coachs que se pretendem e que arrastam multidões em suas contas, com ganhos publicitários que acabam transformando-os em profissionais da comunicação social. É verdade que a formação da Opinião Pública jamais foi um lugar angelical onde cada um seguia sua própria consciência. Depois da invenção da imprensa e com a disseminação dos Meios de Comunicação de Massa no século XX, jornais, rádios e televisões se substituíram aos púlpitos das Igrejas e das Escolas na formação de consensos públicos. Mas assumiam-se como empresas de comunicação social comprometidas com algumas premissas éticas e técnicas quanto ao seu funcionamento. Ainda assim, eram também corresponsáveis pelo que seus empregados e articulistas ali escreviam. Nas Redes Sociais isso não acontece. As plataformas são orgulhosas de se mostrarem como Big Techs cujas maiores receitam advêm da venda de publicidade. Se um post tem boa aceitação, imediatamente lhe são oferecidos impulsos de forma a ganharem maior visibilidade e com isso se tornarem espaços publicitários de excelência. A questão, entretanto, é que este processo desembocou no uso das plataformas para manipulação de processos eleitorais em várias partes do mundo, senão, a ele associado, para a disseminação de ideias extremistas com orientação para ação deletéria sobre pessoas, instituições republicanas e correntes ideológicas consideradas inimigas. O Brexit, que retirou o Reino Unidos da União Europeia, as eleições e atitudes de Trump nos Estados Unidos e o atentado aos Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro passado são exemplos deste processo. Os atentados à Escolas e situações de desafios com epílogos fatais, têm sido, também, comprovadamente estimulados por sites provocadores como o mais recente DISCORD - Discord: o submundo de violência extrema no aplicativo

. Não obstante, o PL de Bolsonaro, o Partido Novo e, surpreendentemente, o Portal de Esquerda 247 são contra o Projeto de Lei das Fake News. 

Diante disso, o mundo inteiro se volta ao regramento das plataformas das Redes Sociais em defesa do direito de expressão responsável com vistas à preservação das instituições democráticas ameaçadas. Isso já ocorre em vários países da Europa, na Nova Zelândia e está sendo tratado pelas Nações Unidos. Ontem mesmo, dia em que a CÂMARA DOS DEPUTADOS deveria ter apreciado o Projeto de Lei das Fake News, afinal, retirado de pauta, representantes do Governo se encontraram em NY, EUA, com especialistas da ONU para tratar do assunto. Tudo indica que dentro em breve a ONU vai propor um conjunto de regras sobre o uso das REDES SOCIAIS. 

Em ação internacional, governo articula com ONU combate à desinformação

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2023/05/02/em-acao-internacional-governo-articula-com-onu-combate-a-desinformacao.htm  

Depois de quatro anos de uma relação tumultuosa e repleta de atritos, o Brasil busca uma aproximação com as Nações Unidas para combater a desinformação. Nesta terça-feira, o governo terá reuniões em Nova York para estreitar cooperação entre a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, liderada pelo ministro Alexandre Padilha, e as áreas-chave da ONU sobre o tema de liberdade de expressão e combate à desinformação 

Enquanto o regramento não vem, o Governo brasileiro, através do Ministério da Justiça e o Supremo Tribunal Federal se antecipam e já tomam decisões que visam exigir das Big Techs responsabilidade sobre seus “territórios”. Ontem mesmo o GOOGLE, uma delas, que havia inserido uma publicidade em seu buscador, a título de “Editorial”, como se fosse um órgão de comunicação social e não de publicidade, contra a Lei das Fake News, foi intimado a prestar esclarecimentos à Polícia Federal. Tenta o Google, com falsos argumentos, influenciar os parlamentares brasileiros em sua própria defesa, alegando direito dos usuários à livre manifestação de suas ideias. Abriu-se, com isso, uma guerra. A guerra entre os interesses republicanos da democracia e os interesses privados das Big Techs. Aliás, uma curiosidade: 

Sem Bolsonaro, defensor das Redes Sociais, em cem dias, o Brasil ganha 18 lugares em ranking de liberdade de imprensa... 

 

Tudo indica, enfim, que este assunto, não se esgotará no Brasil. É um desafio contemporâneo do processo civilizador.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 02 MAIO 23

 

O 1º. de MAIO

 

Dia do trabalhador: conheça origem do feriado de 1° de maio

Data tem reconhecimento internacional e retoma história de opressão vivida pela classe operária durante revolução industrial.

EDUARDO MOREIRA - A notícia mais revoltante do dia. O mundo está perdido… - https://fb.watch/kcPTqPGbkO/?mibextid=CqVNaf 

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O primeiro de maio, ontem celebrado no mundo inteiro, com manifestações como em Paris que reuniu um protesto de 550 trabalhadores contra as Reformas da Previdência do Presidente Macron que hoje estará na coroação do Rei Charles III, em Londres, merece alguma reflexão:

Data tem reconhecimento internacional e retoma história de opressão vivida pela classe operária durante revolução industrial.

Por Daniela Ramos*, g1 DF - 01/05/202 –

https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2023/05/01/dia-do-trabalhador-conheca-origem-do-feriado-de-1-de-maio.ghtml#G1-FEED-SOFT-item,rec-cfi-nrt-user-needs,6b62f3fe-4d4f-47ce-9637-0411b4af8a86 

 

O Dia do Trabalhador, comemorado nesta segunda-feira (1º), é feriado nacional no Brasil. Mas, apesar de fazer parte do calendário oficial do país, uma pesquisa realizada pelo g1 com cerca de 150 pessoas na região centro-oeste do país, revelou que 98% delas, desconhece a origem ou o real motivo por trás da data.

"O Dia do Trabalhador surgiu de uma greve operária, nos Estados Unidos da América (EUA), em 1886, durante a revolução industrial, com objetivo de conseguir melhores condições de trabalho. O movimento sindical começou isolado em Chicago/EUA, mas ganhou força rapidamente, levando milhões de pessoas a protestarem nas ruas, por melhores condições de trabalho", diz a historiadora

Segundo Stephany (historiadora), o ato, que começou pacífico em 1 de maio, ganhou caos e violência quatro dias depois, quando a opressão policial começou a ferir e até matar os participantes nas ruas. No dia 4 de maio, uma manifestação foi convocada na Praça Haymarket, em Chicago, e durante o evento, um homem não identificado lançou uma bomba contra os policiais deixando 15 pessoas mortas.

"A polícia local prendeu e julgou os supostos acusados de promoverem a revolução, seis deles foram condenados sem provas concretas e receberam pena de morte, um deles cometeu suicídio antes da execução. O acontecimento ficou conhecido como a Revolta de Haymarket" pontua a historiadora.

Três anos depois, em 1889, um congresso organizado pela Segunda Internacional — ação que representou a solidariedade aos trabalhadores de todos os países — reuniu, em Paris, na França, partidos socialistas, trabalhistas e anarquistas do mundo todo, onde instituíram o dia 1° de maio como o dia do trabalhador, em homenagem aos mártires do movimento operário.

No Brasil a data passou a ser vivamente celebrado durante o Governo Vargas, quem, aliás, instituiu, há 80 anos, a CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO, CLT, que ainda hoje regula as relações de trabalho no país, mesmo ferida pelas recentes alterações que, aliás, conduziram não só à precarização do trabalho, com milhões de pessoas jogadas no mercado informal, como à situações análogas à escravidão, fartamente documentadas pela imprensa nos últimos anos, particularmente no Rio Grande do Sul. Vide esta matéria:

No primeiro de maio é tradição, também, no Brasil, anunciar medidas de proteção aos trabalhadores e definição da Política de Salário Mínimo, cujo novo valor, incorporando não só o índice de inflação mas também a média de crescimento do PIB foi fixado, ontem, em R$ 1.240,00, ficando, ainda, isentos de IRENDA os que ganham até dois mínimos. A reação conservadora à Política de valorização do mínimo, acusando-o de aumentar o déficit público não se sustentam. Veja-se:

Reajuste do salário mínimo custará R$ 40,8 bi em 2023

Cálculo inclui alta total sobre 2022; só com alta de R$ 1.302 para R$ 1.320 a partir de maio governo terá custo extra de R$ 4,8 bilhões. - https://www.poder360.com.br/economia/reajuste-do-salario-minimo-custara-r-408-bi-em-2023/ 

Qual o peso disso, R$ 40,8 bilhões, frente a outras despesas?

Vejamos com relação ao custo da dívida pública, a qual foi rolada no último ano à taxa de juros de 11% a.a. Dado que a dívida pública em ORTN está na ordem de R$ 6 trilhões de reais, metade da qual repousa no patrimônio de 200 mil famílias brasileiras, tem-se um custo da mesma de 660 bilhões de reais ano. Isso não é factício, é grana real que vai direto pra conta de quem tem investimentos em ORTN ou outros ativos que o incorporam. Ora, o que são 4,8 bilhões, que beneficiam 120 milhões de brasileiros que ganham até um salário mínimo, frente a isso? Se dividirmos 330 bilhões de reais, metade do custo total da dívida, por 365 dias do ano, isso corresponde a 1 bi de reais para cada uma destas bilionárias famílias num só dia. Em 5 dias uma só destas família recebe do Governo, via juros das ORTN, o custo da recente elevação do salário mínimo neste ano. E ainda tem gente que acha que o aumento do salário mínimo vai quebrar a economia brasileira. 

VIVA O 1º. MAIO! VIVA O TRABALHADOR BRASILEIRO!


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 28 abril 23

JUROS ELEVADOS ESTRANGULAM A ECONOMIA

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Se economia seguir desacelerando em razão dos juros, haverá 'problemas' na arrecadação, diz Fernando Haddad

Ministro da Fazenda deu a declaração sentado ao lado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em sessão no Senado sobre juros, inflação e crescimento econômico.

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O Presidente Lula voltou a reclamar, em Portugal, dos juros elevados e cobra dos integrantes do governo alternativas que possam compensar desaceleração da economia por conta da Selic alta, inclusive com o uso dos bancos públicos para subsidiar taxa de juros. E o Senado registrou, ontem, um debate histórico, com grande repercussão, entre o Presidente do Banco Central, Campos Neto, e os Ministros Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamanto. Não há possibilidade de convergência entre eles. Campos Neto se diz técnico e afirma compreender as exigências políticas sobre os juros, mas afirma que a taxa de inflação no Brasil ainda impõe juros altos. 

Na última ata do Copom, o BC disse que o uso de políticas parafiscais eleva o juro neutro da economia (patamar que não acelera nem desestimula economia). A declaração sinaliza que, se o governo puxar de um lado com o fiscal, está agravada a queda de braço: o BC puxará do outro com a monetária.

Fala de Campos Neto repercute mal e aumenta pressão por uso de bancos públicos para baixar juros | Blog da Julia Duailibi | G1 (globo.com) 

 

 Como não deverá haver qualquer alteração dos juros na reunião do COPOM de maio e julho não haverá nova reunião, tudo indica que qualquer revisão do Banco Central sobre juros só ocorrerá em agosto. Haddad e Tebet, no entanto, justificam o apelo por juros mais baixos como indispensável à retomada do crescimento e emprego. Enquanto isso, o moureja e a retomada de ocupações é menor da que houve no primeiro trimestre do ano passado. Com isso aumenta a inadimplência de famílias e pequenos empreendedores. Veja-se

247 -Números divulgados pelo Banco Central (BC) mostraram que dois em cada 10 trabalhadores formais e informais que recorreram ao microcrédito estavam com as contas atrasadas em fevereiro. De acordo com o BC, a inadimplência na modalidade atingiu 20,7%, patamar recorde em um cenário de juros elevados, com Selic de 13,75%. O microcrédito é oferecido a empreendedores formais - como MEIs (microempreendedores individuais) - e informais que buscam empréstimos de pequeno valor.

Segundo a Folha de S.Paulo, a escalada da inadimplência nessa linha de crédito aumentou a partir de setembro do ano passado, acumulando alta de 16,6 pontos percentuais em 12 meses até fevereiro, quando a taxa média de juros cobrada estava em 49,9% ao ano, valor próximo ao limite de 60% ao ano (4% ao mês).

O micro crédito é uma forma de crédito direcionado em que instituições financeiras destinam parte de seus recursos dos depósitos à vista (representando 2% da média dos saldos). Nos últimos quatro anos, o crescimento anual médio da modalidade foi superior a 24%.

Parte da sociedade civil e opinião pública acompanham a fala do Presidente e denunciam os altos juros responsabilizando-o pela elevada inadimplência no país e já procuram falhas jurídicas no processo que aprovou a autonomia do Banco Central. Argumentam que um órgão com tal importância sobre o ritmo do emprego e do crescimento não pode ficar à margem da governabilidade política. Segue, portanto, o impasse que poderá comprometer o primeiro ano do Governo Lula III. A questão dos juros, porém, não se restringe ao Brasil. Juros altos estão comprometendo a retomado do crescimento e melhor distribuição de renda no centro do sistema. Veja-se, por exemplo, este recente artigo publicado na RED/POA de ANDRÉS FERRARI HAINES* e MIRELLI MALAGUTI sobre a matéria:

As falências do SVB e do CreditSuisse são… Crises bancárias? https://red.org.br/noticia/as-falencias-do-svb-e-do-creditsuisse-sao-crises-bancarias/ 

Segundo a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, 2023 será um ano difícil “com o crescimento global caindo abaixo de 3%, à medida que os efeitos do conflito na Ucrânia e o aperto monetário continuam se consolidando”. Os países ocidentais, induzidos pela Federal Reserve dos EUA, têm mantido taxas de juros elevadas para controlar a inflação, justificada pelos efeitos das sanções econômicas aplicadas à Rússia. Essa perspectiva foi agravada pelos temores de uma crise financeira de dimensões semelhantes à de 2008, após o colapso do Silicon Valley Bank, do Signature Bank e do Silvergate.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 27 ABRIL 23

O ROTEIRO DO GOLPISMO ANTIDEMOCRÁTICO 

O tempo passa, as gerações se sucedem, as lembranças da II Guerra Mundial vão se apagando e as pessoas se esquecem dos horrores do nazi-fascismo. Mussolini, na Itália, em 1922, chegou ao poder e acabou inspirando um fracassado artista, Adolf Hitler e outros líderes mundiais para a implantação de regimes autoritários que acabariam se oferecendo como modelo alternativo às democracia liberais. Em associação conhecido como “Eixo” três países – Itália, Alemanha, Japão - desafiaram o mundo e provocaram a II Guerra Mundial, contra a qual se organizaram as Forças Aliadas que, com o apoio do Brasil e presença de pracinhas brasileiros, junto com Inglaterra, França, Estados Unidos e União Soviética, os venceram em 1945. Foi-se, então, o mal, mas a maldade fascista continuou rondando o ideário político contemporâneo com o que o célebre ensaísta italiano denominou “Fascismo eterno”. Volta e meia ele volta à carga, com nova roupagem, e tenta se insinuar como alternativa aos ideais democráticos. Ultimamente, diante das contorções das mudanças estruturais da economia mundial, com a redefinição da geoeconomia mundial provocada pelo peso já dominante do bloco oriental e com as consequências da dita Inteligência Artificial nos processos produtivos as sociedades ocidentais enfrentam graves crises políticas e sociais. Neste ambiente de crise crescem os apelos salvacionistas da extrema direita, alheia aos reais fatores da crise, culpando os imigrantes, os mais pobres, quando não minorias de todo tipo pelos dissabores porque passam os trabalhadores nacionais. A consequência se traduz como perda de confiança da população em suas instituições, começando por aqueles que o representam no sistema político: A República, com sua divisão de Poderes como regra de equilíbrio de governança, os Partidos Políticos, o Parlamento, até mesmo os processos eleitorais. Em tudo isso criam-se laços de interconexão internacional destes extremistas que acabam concertando estratégias de ataques à democracia que se reproduzem em vários países do mundo: Trump, no EUA, Orban/Hungria, Erdogan/Turquia, Le Pen/França, Bolsonaro/Brasil, Partido CHEGAPortugal (O Chega (sigla: CH; oficialmente estilizado como CHEGA) é um partido político português, de ideologia populista, de direita radical, nacionalista, conservador e economicamente liberal, espectro político definido como sendo de direita a extrema-direita).

A redemocratização no Brasil, iniciada com a Nova República em 1985 e consolidada com a promulgação da Constituição Cidadã em 1988 parecia ter deixado para trás um passado de intervenções antidemocráticas. O regime militar jamais havia conseguido projetar uma ideologia positiva de sua experiência capaz de se oferecer como alternativa aos destinos do país. A própria reação violenta de seus defensores, com recurso ao terrorismo que provocou diversas vítimas civis e um horror no episódio do Riocentro, quando uma bomba explodiu no colo de um agente do aparelho repressivo do Estado, sempre restrita a segmentos militares, contribui para o isolamento nacional do autoritarismo. Não obstante, no reduto dos quartéis persistiu sempre a defesa do regime de 64/85 com reiteradas Ordens do Dia em sua defesa. Não por acaso, daí emerge um ex capitão – Jair Bolsonaro - que acaba ganhando visibilidade nacional e, mercê de várias circunstâncias chega à Presidência da República em 2018. Em seu governo procurou politizar o conjunto das FFAA para seu projeto de poder ressuscitando o fantasma da possibilidade da intervenção militar. Seus ataques às instituições se sucederam ao longo de todo seu governo, culminando em momentos simplesmente paradoxais, como o 7 de setembro de 2021, quando atacou o Supremo Tribunal Federal e seus Ministros e no momento, em 2022, quando convida os Embaixadores acreditados em Brasília para denunciar o processo eleitoral brasileiros das urnas eletrônicas. Mas há uma característica na atuação de Bolsonaro: Ele nunca assume seus objetivos golpistas até as últimas instâncias. Ataca e recua, sempre procurando se proteger contra eventuais consequências. Falta-lhe coragem e determinação para assumir seus propósitos. Foi assim no caso do 7 de setembro quando acabou pedindo o apoio de Temer para emitir uma Nota justificativa. Está sendo, agora, quando aperta o cerco contra os golpistas de 8 de janeiro e ele está sendo responsabilidade pelo incitamento àqueles atos. Ontem mesmo, em seu depoimento na PF, procura se safar. Diz que “reconhece o resultado das urnas” e que as eleições de 22 “são águas passadas”. Quanto a sua postagem nas redes no dia 10/janeiro afirma que foi tudo “acidental”, que logo a apagou e que, na verdade, estava sob efeito de medicamentos que teriam alterado seu discernimento. Fuga, mais uma vez. Não assume o que pensa e que faz. Sempre tergiversando, o que acabará desmoralizando-o junto aos próprios seguidores que

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 26 ABRIL 23

 

Regras para as fake News

 

A Câmara dos Deputados aprovou, ontem, regime de urgência para a apreciação da chamada Lei das Fake News, a qual deverá ser apreciada pelo Plenário sem passar por Comissões. O Projeto tem um certo consenso entre Governo e Oposição, com apoio da maior parte da Opinião Pública. A ABERT, instituição que reúne órgãos de imprensa aprova o Projeto. Não obstante, as grandes plataformas das big techs está preocupada e tenta ganhar tempo para influenciar os parlamentares. Alegam a defesa da liberdade de opinião, tentando, inclusive, sugerir a liberação das redes aos mesmos sob o critério da imunidade parlamentar. Na verdade, o que é crime na vida real não pode deixar de ser crime no mundo virtual. Estimular o ódio, a violência e o crime não pode ser tolerado pela sociedade. Europa Ocidental, cuja legislação sobre as fake news orientou o projeto brasileiro em pauta, já cuida com atenção do assunto: fake news disseminadoras de mentiras com o objetivo de repeti-las à exaustão com o recurso da disparada de mensagens via robôs com vistas à convertê-las em verdade, tal como Gôring o fez no nazismo, é um absurdo. Cabe, agora, pois, aguardar o que decidirá o Congresso Nacional. Várias entidades promovem nestes dias debates que visam ilustrar o debate. Veja-se:

BRANT: “PRECISAMOS OLHAR PARA A DIMENSÃO SOCIAL E COLETIVA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO” - HTTPS://FORUM21BR.COM.BR/COMUNICACAO/BRANT-PRECISAMOS-OLHAR-PARA-A-DIMENSAO-SOCIAL-E-COLETIVA-DA-LIBERDADE-DE-EXPRESSAO/ 

João Brant, Secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, SECOM, participou da abertura do primeiro Seminário Nacional “Comunicação, desinformação e reconstrução democrática do Brasil”, organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e pelo Observatório das Eleições. Assista ao primeiro dia de discussão. - A questão da desinformação surge nos últimos dez ou quinze anos, quando os valores Modernidade, que organizaram a esfera pública do pós-Guerra até 2010, são abandonados e, “de repente, essa esfera pública passa a ser organizada por engenheiros e programadores que buscam o engajamento como uma métrica chave” lançando-nos “em um experimento behaviorista de longo prazo em termos de direitos individuais e de compra de direitos coletivos”.

Esse é o cenário apresentado na manhã desta terça-feira (25) por João Brant, secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, a SECOM, durante a abertura do primeiro seminário nacional sobre Comunicação, desinformação e reconstrução democrática do Brasil”, organizado pelo Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé e pelo Observatório das Eleições.

Defendendo a orgânica conexão entre comunicação e democracia, “uma abordagem que nos permite compreender, desde a imprensa de Gutemberg ao Chat GPT, as estruturas que organizam a esfera pública”, o secretário de Políticas Digitais lembrou que a democracia “não sobrevive sem uma sociedade bem-informada para a tomada de decisões”.

Quando os ambientes informacionais são tomados pela desinformação, nós não temos apenas um problema de “coalizão de direitos entre liberdade de expressão vs. outros direitos”, mas um problema “de colisão da dimensão individual com a dimensão coletiva da liberdade de expressão” e, neste momento, “nós estamos entregando a bandeira da liberdade de expressão para um campo que está promovendo a desinformação”, acrescentou.

Na avaliação de Brant, nós “precisamos olhar para a dimensão social ou coletiva da liberdade de expressão que se materializa na possibilidade de uma sociedade bem-informada”, afinal, a desinformação não é apenas “estar bem ou mal informado para a tomada de decisões”, ela vai além e “afeta a confiança da sociedade na própria democracia”. Esse é o seu poder de desestruturação.

Quando o sistema de votação ou o resultado eleitoral são questionados, como se viu em 2016 e entre 2022 a 8 de Janeiro de 2023, dissemina-se a desconfiança na própria lógica da democracia “pela qual o derrotado precisa aceitar a derrota”. Essa é a dimensão da gravidade do que estamos enfrentando, apontou Brant ao abrir as discussões durante o seminário que vai até a próxima sexta-feira (28), trazendo 50 expositores em doze mesas de trabalho.

Com as discussões, explica a coordenadora do evento, a jornalista Eliara Santana (VioMundo), pretende-se “entender as interfaces entre comunicação, desinformação e democracia no Brasil, após os últimos cinco anos de consolidação de um ecossistema de desinformação que causou tantos danos”. Autora de Jornal Nacional, um ator político em cena sobre a cobertura do jornal da Rede Globo entre 2013 e 2019.

Eliara divide a coordenação do evento com Altamiro Borges, o Miro (Barão de Itararé) que, por sua vez, frisou a importância das discussões frente à votação da PL2630, “o primeiro passo de um debate muito complexo que está acontecendo em várias partes do mundo”; na iminência de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos terroristas de 8 de janeiro, e “estamos em uma situação em que os terraplanistas conseguiram inverter o que foi aquele ato”. E, também, acrescentou Miro, em meio à Operação Escola Segura, “que já prendeu 302 neonazistas brasileiros e talvez tenha ajudado a evitar outra tragédia como a de Blumenau”.

Além dos coordenadores, acompanharam o secretário na mesa de abertura desta terça-feira, os professores Leonardo Avritzer (UFMG) e Maria Luísa Alencar Feitosa (UFBP) e a jornalista Cristina Serra (ICL Notícias) que mediou a segunda mesa da manhã sobre o papel do jornalismo em tempos de resistência, com a participação de Helena Chagas (Brasil 247), Solon Neto (Sputnik Brasil), Alceu Castilho, do Observatório De Olho nos Ruralistas, e Elaíze Farias, cofundadora da Amazônia Real.

Acompanhe abaixo a programação do seminário e clique nos títulos para não perder nenhuma discussão:

26/04 – QUARTA-FEIRA

11h às 13h – Inteligência artificial, plataformas e o que vem por aí. Com Sergio Amadeu, Renata Mielli, Helena Martins e Eduardo Barbabela – Mediação: Gustavo Conde

14h às 16h – As heranças da Lava Jato. Com Amanda Rodrigues, Ricardo Coutinho e Márcia Lucena – Mediação: Conceição Lemes

16h30 às 18h30 – Letramento midiático e direitos humanos. Com Claudia Wanderley, Eduardo Reina e José Carlos Moreira – Mediação: Cristina Serra

 

27/04 – QUINTA-FEIRA

11h às 13h – Papel do TSE nas eleições de 2022. Com Marjorie Marona, Fábio Kerche e Gisele Ricobom Mediação: Letícia Sallorenzo

14h às 16h – Lawfare e Lava Jato. Com Gisele Cittadino, Cleide Martins, Pedro Serrano – Mediação: Maria Luiza Alencar Feitosa

16h30 às 18h30 – Pauta feminina/questão de gênero e eleições 2022. Com Anna Christina Bentes, Elizângela Bare e Luciana Santana – Mediação: Vanessa Lippelt

 

28/04 – SEXTA-FEIRA

11h às 13h – Desinformação, papel da escola e formação em cidadania. Com Adail Sobral, Júnia Zaidan e Juliana Alves Assis – Mediação: Haroldo Ceravolo

14h às 16h – Democracia e participação social. Com Leonardo Avritzer, João Paulo Rodrigues e Wagner Romão – Mediação: Natália Satyro

16h30 às 18h30 – Comunicação pública e democracia. Com Juarez Guimarães, Franklin Martins e Altamiro Borges – Mediação: Luís NassiParte inferior do formulário


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 25 ABRIL 23

 

A entrega do Prêmio Camões a Chico Buarque de Hollanda

A entrega do Prêmio Camões, a mais alta distinção conferida a escritores da língua portuguesas, a Chico Buarque de Hollanda, ontem, em Lisboa, foi um momento de grande significado político. Aliás, mais político do que literário: Lá estavam as maiores autoridades do Brasil e Portugal, de inclinações ideológicas distintas mas avessas ao fascismo, para entregar a Chico o prêmio por ele conquistado em 2019 e que não lhe fora entregue pela negativa do então Presidente Bolsonaro em assiná-lo, como de praxe. A cerimônia foi tocante. O discurso de Chico um libelo contra o obscurantismo, que ele encerra dedicando o prêmio a todos os intelectuais e artistas humilhados no último governo. O evento voltou a reunir, também, Portugal e Brasil, no fortalecimento da comunidade lusofônica no mundo. 

 

ÍNTEGRA DO DISCURSO DE CHICO BUARQUE AO RECEBER O PRÊMIO CAMÕES 

Boa noite excelentíssimos senhores presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa; presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; primeiro ministro de Portugal, António Costa; ministra da cultura brasileira, minha amiga, Margareth Menezes; ministro da Cultura português, Pedro Adão e Silva; querida Janja da Silva; presidente do júri, professor Frias Martins; e tantos amigos e amigas aqui presentes, Fafá de Belém, Carminho, Mia Couto, Miguel de Sousa Tavares, Pilar del Río, meu editor brasileiro Luiz Schwarz, minha editora portuguesa, Clara Capitão, e minha mulher, Carol. 

Eu estou emocionado porque hoje de manhã ela saiu do hotel, atravessou a avenida e foi comprar essa gravata. (Risos) Isso me emociona. 

Ao receber esse Prêmio eu penso no meu pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda, de quem herdei alguns livros e o amor pela língua portuguesa. Relembro quantas vezes interrompi seus estudos para lhe submeter meus escritos juvenis, que ele julgava sem complacência e sem excessiva severidade, para em seguida me indicar leituras que poderiam me valer numa eventual carreira literária. 

Mais tarde, quando me bandeei para a música popular, não se aborreceu, longe disso, pois gostava de samba, tocava um pouco de piano e era amigo próximo de Vinicius de Moraes, para quem a palavra cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa língua. Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele cá, no meu posto, a receber o prêmio Camões com muito mais propriedade. 

Meu pai também contribuiu para minha formação política, ele que durante a ditadura do Estado Novo militou na esquerda democrática, futuro Partido Socialista Brasileiro. No fim dos anos 60 retirou-se da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em solidariedade a colegas cassados pela ditadura militar. Mais para o fim da vida participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, sem chegar a ver a restauração democrática do nosso país, nem muito menos pressupor que um dia cairemos num fosso, sob muitos aspectos, mais profundo. 

O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, meu bisavô mineiro e meu tataravô baiano. Tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias o sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco. 

Recuando no tempo, em busca das minhas origens, recentemente vim a saber que tive por avós paternos o casal Shemtov ben Abraham, batizado como Diogo Pires, e Provida Fidalgo, oriundos da comunidade barcelense. A exemplo de tantos cristãos novos portugueses, sua prole exilou-se no nordeste brasileiro do século XVI. Assim, enquanto descendente de judeus sefarditas perseguidos pela inquisição, pode ser que algum dia, eu também alcance o direito à cidadania portuguesa a modo de reparação histórica. (Risos) 

Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência, mas é sempre bom saber que tem uma porta entreaberta em Portugal, onde mais ou menos me sinto em casa e esmero-me nas colocações pronominais. Conheci Lisboa, Coimbra e Porto em 1966 ao lado de João Cabral de Melo Neto, quando aqui foi encenado seu poema “Morte e vida Severina” com músicas minhas. Ele, um poeta consagrado e eu um atrevido estudante de arquitetura. 

O grande João Cabral, o primeiro brasileiro a receber o Prêmio Camões, sabidamente não gostava de música e nem sei se chegou a folhear algum livro meu. 

Escrevi meu primeiro romance “Estorvo”; em 1990, e publicá-lo foi para mim como me arriscar novamente no escritório do meu pai em busca de sua aprovação. Contei dessa vez com padrinhos como Rubem Fonseca, Raduan Nassar e José Saramago, hoje meus colegas de Prêmio Camões. De vários autores aqui premiados, fui amigo de outros tantos de Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde... Sou leitor e admirador. Esqueci de citar antes o nosso grande Manuel Alegre, aqui presente, que também foi premiado com Camões. 

Por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que eu publique romances e contos, por mais que eu receba prêmios literários, faço gosto de ser reconhecido no Brasil como compositor popular, e em Portugal como o “gajo” que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim. Valeu a pena esperar por esta cerimônia marcada, não por acaso, para a véspera do dia em que os portugueses dessem a avenida Liberdade a festejar a revolução dos cravos.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 24 ABRIL 23

COMO ANDA A CABEÇA DOS NOSSOS JOVENS

As mudanças estruturais da sociedade contemporânea refletidas nas disputas geopolíticas mundiais em desequilíbrio, , com o a interação crescente com Redes Sociais e desafios da dita Inteligência Artificial, as mudanças comportamentais ditadas pela afirmações identitárias e ainda por cima o longo período de recolhimento, com ameaça de morte iminente, ditado pela pandemia trouxe inquietação inusitada em todo mundo. Entre os brasileiros, onde a tristeza foi diagnostica já no início do século XX por um de seus melhores intérpretes, Paulo Prado (SP-1928), o quadro parece se agravar entre os jovens. Hoje, matéria de capa da ZERO HORA sobre o avanço das ameaças de violência contra Escolas, afirma que nossos jovens se sentem “tristes” e acabam extravasando este desamparo em compulsões: Redes, Internet, drogas, ódio, violência. Quase 5 mil crianças e adolescentes foram vítimas de crimes em 2022, aponta relatório. Dissemina-se a 'ecoansiedade', angústia pelo planeta que atinge mais crianças e adolescentes.

 O ASSUNTO, Podcast da Globo, o mais ouvido no país, também, fala da importância da saúde mental neste momento difícil que estamos atravessando e também aponta para o desânimo dos jovens: “Ansiedade, depressão, síndrome do pânico... Antes mesmo da pandemia, um terço dos adolescentes de 13 a 17 anos já se diziam tristes “na maioria das vezes” ou “sempre”. Cenário agravado pelo período de isolamento pela Covid, quando escolas ficaram fechadas e jovens foram “empurrados” para as telas. Somado ao uso irrestrito de redes sociais, fatores que criaram uma “bomba relógio”.”

O tema é complexo e não comporta simplificações, tais como a recorrer ao princípio da “autoridade”, com policiais nas escolas ou até mudança do caráter civil das mesmas através da disseminação de escolas “cívico-militares”, sujeitas a disciplina mais rigorosa. É sempre bom que aumente a presença de policiais nas vias públicas, sobretudo perto das Escolas, mas levar estes profissionais, sem o devido preparo para lidar no ambiente escolas com jovens, é um desastre anunciado. Já a ideia de reverter escolas civis para o modelo militar, disseminadas pelo bolsonarismo, é simplesmente assustadora. Os militares, indispensáveis à segurança nacional, não devem ser desviados de suas funções constitucionais precípuas. Não se confundem nem com segurança pública, nem com segurança civil, muito menos com responsabilidades educacionais, sempre complexas e exigentes de interdisciplinaridade e especialização. Até por uma razão financeira: o custo de um servidor militar ou policial militar para a sociedade é sempre mais alto, em média, do que um servidor civil, principalmente professores. A verdade é que nestes períodos de transição cultural e política da humanidade, as tensões são inevitáveis e exigem muito cuidado para seu encaminhamento. 

Uma das questões cruciais, nestes períodos, é a SAÚDE MENTAL. Desenvolver capacidade de atendimento psicológico à sociedade e, em especial, às Escolas, é tarefa urgente da Sociedade, através do melhor aparelhamento do Estado e orientação às famílias, muitas delas, esfaceladas pela pobreza endêmica, morando em periferias desassistidas sem qualquer equipamento de recreação e formação cultural. As administrações municipais continuam apostando na cultura como diletantismo animado pela contratação de espetáculos milionários, à revelia da própria legislação nacional. Em Torres, por exemplo, não temos uma Casa de Cultura, o Museu está fechado, a Biblioteca não abre. Onde os espaços para a interação da juventude com a Poesia, a Músicas, as Artes, tão fundamentais à formação da espiritualidade como a Religião? 

Vale, então, não como solução, mas lembrança, os conselhos de O ASSUNTO de hoje, para uma vida menos estressada:

5 dicas para manter a saúde mental no topo em 2023

De atenção com o sono ao contato com a natureza: especialistas compartilham recomendações a serem seguidas no próximo ano para manter a saúde mental em dia. - Por Darlan Helder, g1 

Pandemia, guerra, eleições e outros problemas pessoais podem ter impactado no seu humor e na saúde mental em 2022. Mas, para iniciar 2023 com mais leveza, é possível adotar algumas medidas simples na rotina para favorecer o bem-estar.

O g1 ouviu psicólogos e outros especialistas que compartilham a seguir dicas para quem deseja manter a saúde mental em dia neste novo ano:

Busque equilíbrio na utilização de redes sociais: elas são boas para contatos, especialmente com parentes e amigos que estão distantes. Especialistas dizem que não há nada de errado em usá-las, mas é importante encontrar um equilíbrio e lembrar que as plataformas não substituem o contato presencial. Se descontar por um tempo também é aconselhável.

"Tanto os serviços de streaming quanto as redes sociais são organizados pelos princípios da economia da atenção. Com isso, teremos mais tempo para voltar a termos relações autênticas com os outros, examinar e cuidar de nós mesmos", diz Caio Maximino, professor do curso de psicologia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).

Esteja em contato com a natureza: caminhar no parque, ir à praia e respirar ar fresco são atividades aliadas do bem-estar. E há muitos efeitos positivos já comprovados pela ciência, como redução no nível de estresse, restauração da atenção, aumento do nível de células que combatem o câncer, diminuição dos níveis de ansiedade e depressão, além de melhorar o sistema imune.

"Além dos fatores biológicos, sociais e psicológico, nós temos o fator ambiental, que é outro pilar para se trabalhar visando melhor qualidade de vida. Caminhar em ambientes arborizados, tomar banho de cachoeira, por exemplo, ajudam muito no bem-estar", reforça Andrea Valéria Steil, professora do departamento de psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Visite o seu médico regulamente e mantenha os exames em dia: fazer check-ups é muito importante para saber como anda a sua saúde. Segundo a professora da UFSC, os exames de rotina podem ajudar a analisar questões hormonais, que podem influenciar no nosso humor. Além disso, se tiver condições financeiras, faça acompanhamentos no nutricionista. É esse profissional que poderá informar os nutrientes necessários para você e que ajudarão na qualidade de vida.

"Muita gente acha que sabe se alimentar, mas acaba se alimentando como a família sempre se alimentou e não necessariamente da forma mais saudável. Faz muita diferença fazer um acompanhamento profissional. Mas se a pessoa não tem condições de consultar um nutricionista, vale ir atrás de informações sobre nutrição e busque segui-las no dia a dia", diz a profissional.

Busque fazer terapia: a psicoterapia não é para quem está com problemas mentais e sim um processo de autoconhecimento. Segundo Andrea Valéria Steil, o tratamento é capaz de desenvolver elementos protetivos da saúde mental.

"Infelizmente, a psicoterapia é muito negligenciada pela população, mas, se a pessoa puder fazer, faça, porque não é para quem tem problemas mentais. É para a pessoa se autoconhecer e encontrar respostas", diz Andrea.

Tenha atenção com a qualidade do sono: um adulto precisa ter em média 6-8 horas de sono por noite. Isso porque o ideal é completarmos cerca de 5 ciclos de sono por noite, cada ciclo leva em média 90 minutos, explica Janaina Weissheimer, pesquisadora do AprendiLab no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). É importante frisar que essa é a média e não a regra, ou seja, as 6-8 horas não valem para todo mundo e o ideal é sempre fazer um acompanhamento com um especialista, reforça Fernando Louzada, doutor em neurociências e professor titular do departamento de fisiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

"O sono é fundamental para a manutenção do sistema imunológico e no controle do metabolismo energético. Quando a gente dorme menos, acaba ficando mais predisposto a doenças e infecções. Ele [o bom sono] ainda é importante para a cognição, para a memória, atenção e, consequentemente, para o bom desempenho acadêmico e no trabalho", diz Fernando Louzada.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 20 ABRIL 23

A CPI DO ABSURDO OU UM NOVO GOLPE? 

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https://www.youtube.com/watch?v=PM9CSVMuk1A&ab_channel=R%C3%A1dioBandNewsFM 

 

Gonçalves Dias pede demissão do GSI após vídeo em que aparece no Planalto durante invasão - Pedido foi feito após reunião de Dias com Lula e outros ministros no Palácio do Planalto. Imagens mostram atuação do ministro durante atos golpistas de 8 de janeiro.

 

GSI justifica presença de ministro no Planalto no dia dos atos golpistas de 8 de janeiro  

Vídeo divulgado pela CNN Brasil mostra ministro Gonçalves Dias dentro do Palácio do Planalto no momento da invasão. Lula convocou reunião de emergência com ministros para esta tarde.

 

Gonçalves Dias havia dito a Lula que imagens em que aparece durante invasão em 8 de janeiro estavam indisponíveis - Ministro do GSI pediu demissão nesta quarta-feira (19) após reunião com o presidente. General aparece em vídeos circulando entre extremistas.

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Teatro do absurdo foi a designação criada em 1961 pelo crítico húngaro radicado na Inglaterra, Martin Esslin, tentando sintetizar uma definição que agrupasse as obras de dramaturgos de diversos como o escritor romeno, radicado na França, Eugène Ionesco (1909 - 1994), o irlandês Samuel Beckett (1906 - 1989), o russo Arthur Adamov (1908-1970), o inglês Harold Pinter (1930-2008), o espanhol Fernando Arrabal (1932), o francês Jean Genet (1910-1986) e o estadunidense Edward Albee (1928). No Brasil, um gaúcho, de Porto Alegre, também é apontado como um baluarte precoce desta abordagem> José Joaquim de Campos Leão = 1829/1883, conhecido pelo nome de sua principal obra Qorpo Santo. 

Principais características wiki

Embora o termo seja aplicado a uma vasta gama de peças de teatro, algumas características coincidem em muitas das peças: um sentido tragicómico, estrutura muitas vezes semelhante ao do Vaudeville, com quadros não necessariamente conectados; alternância entre elementos cômicos e imagens horríveis ou trágicas; personagens presas a situações sem solução, forçadas a executar ações repetitivas ou sem sentido; diálogos cheios de clichês, jogo de palavras e nonsense; enredos que são cíclicos ou absurdamente expansivos; paródia ou desligamento da realidade e artifícios da well-made play (peça bem-feita, regras dramáticas do século XIX de como se fazer uma peça).

Esta abordagem do Teatro faz par no início do século XX com outras variantes da literatura, das artes plásticas e da música, todas marcadas pela desconstrução da harmonia do real, com suas equilibradas proporções, em resposta às profundas e velozes mudanças da sociedade industrial moderna. Hoje parece que chegamos aonde estes autores todos prenunciaram: Uma Era da Pós Verdade. Tudo é narrativa. O REAL SE DEFEZ...

A ideia de uma CPI para “investigar” a quebradeira do 8 de janeiro, proposta por defensores de quem as instigou – bolsonaristas indignados com a vitória e posse de Lula – é simplesmente um absurdo. Até as paredes sabem que houve uma conclamação por bolsonaristas pelas Redes, com financiamento de interessados num golpe, para que houvesse uma grande manifestação no dia 8 de janeiro. Arredores de quarteis nas capitais estavam concentrando partidários do golpe com o tácito apoio de comandantes militares contagiados pelo discurso antidemocrático. Então houve a explosão do dia 8, com milhares de pessoas politicamente motivadas, usando camisetas indicativas de sua filiação a Bolsonaro, ocupando a Praça dos Três Poderes e fincando, no patamar do CONGRESSO NACIONAL a faixa: “Intervenção Militar”. O resto todo mundo viu pela televisão. A reação dos Poderes constituídos foi rápida e o golpe frustrado, com mais de um milhar de manifestantes presos, hoje respondendo a processo por danos ao patrimônio público e atentado ao Estado de Direito Democrático. Salvou-se a democracia e as investigações sobre responsabilidades políticas e criminais estão em curso sob a égide do Supremo Tribunal Federal. Não obstante, todas as evidências do REAL, a extrema direita, responsável pelos atos, frustrada em seu intento golpista, tenta safar sua aventura criando uma narrativa ABSURDA: Foi o Governo que estimulou o quebra- quebra para se vitimar perante a opinião pública e com isso firmar-se no Poder. Esta narrativa foi retomada ontem diante da revelação de um malfadado e talvez editado vídeo colhido naquele dia no Palácio do Planalto, no qual o General Gonçalves Dias, então Chefe do GSI, encarregado da Segurança da Presidência da República, passeia entre manifestantes, ao lado de outro militar. De nada adiantaram as explicações do referido general, da estrita confiança de Lula, de que lá estava tentando retirar os manifestantes do terceiro andar, à espera das forças de segurança que, afinal, os retirariam do recinto. Gonçalves Dias não só ficou mal como abriu uma grave crise política no Governo, com reflexo nas relações de Lula com os militares. Seu maior erro foi ter calado sobre sua presença no Palácio no momento da invasão da turba associado à não divulgação imediata de todos os vídeos do ocorrido. Expôs o Governo à narrativa oposicionista, que se fortaleceu no propósito de criar uma CPI para investigar os atos de 8/1, já agora defendida, também, por líderes governamentais. Esta CPI a essas alturas já não tem nada a investigar. Os atos daquele dia não só já foram investigados como seus perpetradores já estão sendo incriminados em processo judicial como réus: Todos confessadamente golpistas. A CPI do Absurdo servirá apenas como manobra diversionista, dificultando, mais uma vez a entrada em ação do novo governo, hoje com pautas importantes a serem apreciadas pelo Congresso, como ANCORA FISCAL e REFORMA TRIBUTÁRIA. Contudo, é um direito da Oposição, reivindicá-la fazendo de seu curso o ESPETÁCULO da narrativa absurda de que o Governo tinha um pé no quebra-quebra. Como diria Guimarães Rosa: ORESSA!

Bernardo Mello Franco – A estranha CPI do golpismo

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../bernardo-mello-franco...

O Globo

Comissão é defendida por quem deveria temê-la e temida por quem deveria defendê-la

Apesar dos apelos do governo, o Congresso deve instalar uma CPI sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Se sair do papel, a comissão nascerá sob o signo da estranheza. Sua criação é defendida por quem deveria temê-la e temida por quem deveria defendê-la.

A CPI foi proposta pelo deputado André Fernandes, integrante da tropa de Jair Bolsonaro. Ele é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal, sob suspeita de incentivar a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes.

O dublê de político e youtuber ajudou a convocar os extremistas a Brasília, a pretexto de divulgar o “primeiro ato contra o governo Lula”. Depois do quebra-quebra, voltou às redes sociais para fazer piada com a destruição de patrimônio público.

Na noite do dia 8, Fernandes compartilhou a foto da porta de um armário do ministro Alexandre de Moraes. A peça havia sido arrancada pela turma que quebrou cadeiras, urinou em gabinetes e tentou atear fogo no plenário do Supremo. “Quem rir, vai preso”, debochou o deputado do PL.

A extrema direita tem seus motivos para defender a CPI. A comissão pode desviar o foco da investigação de verdade, conduzida pela Polícia Federal. De quebra, ameaça dar palanque a uma teoria conspiratória: a de que o governo teria facilitado os ataques para se fazer de vítima.

A tese é delirante, mas convém não subestimar a máquina de desinformação bolsonarista. Para uma fatia expressiva do eleitorado, os vândalos de verde e amarelo eram petistas infiltrados — ainda que nenhum deles tenha sido desmascarado até hoje.

As fake news não são o único fantasma que assombra o governo. O Planalto também teme que a CPI tumultue o ambiente político, atrapalhando a votação da pauta econômica.

O risco é real, mas a distribuição de cargos e emendas não parece a tática mais inteligente para combatê-lo. Até aqui, a operação no varejo não produziu efeitos práticos — só ajudou os bolsonaristas a insinuarem que Lula teria algo a esconder.

Como a oposição já reuniu as assinaturas necessárias, o governo deveria se organizar para não ser coadjuvante na CPI. Para isso, será necessário perder o medo e trocar a defesa pelo ataque.


 uma especialista em sua obra, a Economista Ceci Juruá, RJ:

Relembro a homenagem de Celso Furtado. - Por Ceci Juruá 

 

Na obra Análise do Problema Brasileiro (Civilização Brasileira, 1972), Celso Furtado prestou justa homenagem ao nosso maior estadista no século XX, Getúlio Vargas. No texto intitulado VARGAS E A CONSOLIDAÇÃO DO PODER CENTRAL (pg.20), CF opina relativamente ao adjetivo “ditador” que direitistas pró-norte-americanos e esquerdistas pró-partido comunista colaram na testa de Getúlio. Transcrevo a seguir.   

Vargas e a consolidação do poder central (p.20)

(...)

“Assim, a crise do café seria também a crise do poder central e a abertura de um processo de transformação do Estado nacional. Como sempre ocorre nessas fases de transição, o autoritarismo se apresenta e legitima como uma opção à anarquia (sic), isto é, à ausência de todo poder estável. Coube a Vargas estabelecer uma aliança entre a classe política tradicional (ou pelo menos uma parte significativa desta) e as forças armadas, o que permitiu que se instaurasse o Estado novo (sic) na estrutura tradicional de poder. (...) A opção que se configurava em 1937 era uma ditadura militar, e Vargas surge como o homem que a evita (grifo meu), conseguindo preservar para a classe política um papel que de outra forma lhe teria sido negado.” (p.21)

Em seguida, CF enfatiza que a partir de 1937 Getúlio exerceu o poder com elevado grau de independência, como jamais se vira até então. Tal independência facilitou a emergência de um Estado nacional que se comportou como “fator importante no sistema econômico brasileiro”, com amplo grau de independência relativamente a interesses regionais ou de grupos econômicos. Transcrevo:

“A política de câmbio, tradicionalmente subordinada aos interesses do serviço da dívida externa, transforma-se em poderoso instrumento de fomento à formação de capital. Evolução não menos significativa ocorre no plano fiscal: sob múltiplas formas a política fiscal passa a ser a principal alavanca dos investimentos. Através de uma política de investimentos diretos que se vai definindo progressivamente, o Estado dota o país de importantes complexos industriais nos setores da mineração, do petróleo, da geração e transmissão da energia elétrica, da siderurgia e da química básica.” (p.23)

Em seguida, CF refuta a ideia (incorretamente aceita até hoje) que a industrialização da economia brasileira tenha sido mera decorrência de decisão do Estado e, como bom leitor ou aluno de Marx, explica que o “impulso principal originou-se nas próprias forças econômicas.” Evidente. Lembremos que após a quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1930, verificou-se uma crise de grandes proporções que se manifestou, no Brasil, como esgotamento das reservas internacionais e impossibilidade de cumprir compromissos derivados da dívida externa, tornando inacessíveis muitos bens e serviços provenientes do exterior. Havia ainda, em formação, uma mini burguesia nacional tentando produzir bens industrializados desde o início do século XX. Além disso, explica CF, foram gravemente afetadas “as fontes tradicionais de financiamento do Estado, obrigando este a escapar pelos incertos caminhos da inflação” (p.23)

Recomendo vivamente a releitura desta obra aos amigos e companheiros de nossa jornada cívica e nacionalista, sobretudo àqueles preocupados com as necessidades atuais de reindustrialização da economia brasileira. A história econômica da Pátria é conhecimento indispensável, é sempre excelente mestra e conselheira, ajuda a contornar as dificuldades do momento presente.  

Aproveito para manifestar minha oposição aos que julgam que o endividamento atual do Brasil não é preocupante, pois se trata de dívida em moeda nacional. Lembro que os tempos são outros. Diferentemente da década de 1930, quando operávamos em economia com fronteiras, a globalização atual derrubou fronteiras. Por isto não é difícil passar da moeda nacional para a divisa internacional, e vice versa. 

Para se ter uma ideia correta, ou aproximada, da capacidade atual de pagamento das dívidas em curso, é necessário somar dividas internas e externas, públicas e privadas, deduzindo as reservas internacionais e calculando em seguida a dívida líquida. Tanto faz usar dólar ou Real. O resultado é negativo e motivo de preocupação, como ocorreu logo no início da década de 1980, quando o Estado brasileiro foi chamado a assumir as dívidas privadas externas, pois eram nacionais antes de qualquer outra consideração, e quem responde por dívidas nacionais é o Estado nacional. Sobretudo quando a nação e a economia nacional se encontram sob ataque de forças internacionais.   

Celso Furtado não está ultrapassado. Sua obra merece permanente atenção, pois ele foi o maior historiador da economia brasileira. Em outras palavras, foi ao mesmo tempo um excelente economista e observador atento às peculiaridades históricas de todos os momentos e fases do desenvolvimentismo brasileiro.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 18 ABRIL 23

O BRASIL E A GUERRA NA UCRÂNIA

Para Casa Branca, Brasil 'papagueia propaganda russa e chinesa' sobre a Ucrânia = O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, afirmou que Lula estava 'papagueando a propaganda russa e chinesa sem observar os fatos em absoluto'.

 

Após reunião no Itamaraty, Lavrov diz que Brasil e Rússia têm visões 'similares' = Chanceler da Rússia se reuniu com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, que criticou sanções contra a Rússia. Aproximação de Lula da China e da Rússia tem gerado reações dos Estados Unidos.

 

Gerson Camarotti: Comentários de Lula no exterior criam enorme desconforto - A viagem ao Brasil do ministro das Relações Exteriores da Rússia acontece num momento de repercussão das declarações do presidente Lula durante viagem à Ásia; confira o comentário no Bom Dia Brasil.

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CAFÉ DA MANHÃ folha uol dia 18 de abril 23

https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/04/podcast-como-visita-de-lavrov-impacta-visao-sobre-postura-geopolitica-do-brasil.shtml 

Podcast: como visita de Lavrov impacta visão sobre postura geopolítica do Brasil. EUA e Europa criticam movimentos de Lula após declarações na China e encontro com chanceler de Putin

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Reação em cadeia da Grande Mídia Corporativa contra a posição de Lula na questão da Guerra na Ucrânia, ontem reafirmada diante do encontro do Presidente e autoridades do Itamaraty com o chanceler russo, Sergei Lavrov. Merval Pereira, do grupo Globo é até condescendente ao classificá-lo como “ingênuo”. Artigos de opinião e Editoriais de hoje são bem mais cáusticos na crítica à Lula. Repercutem, na verdade, as críticas dos Estados Unidos e União Europeia ao realismo do Presidente Lula diante do conflito na Ucrânia. Lula simplesmente diz que há necessidade de paz e denuncia as ações de americanos e europeus de fomentarem a guerra enviando armas, reiterando que não permitirá o envio de munições produzidas no Brasil para os tanques alemães a serviço dos ucranianos. Nada de novo quanto ao que já dissera em sua visita à China e Emirados Árabes: PAZ E NÃO GUERRA. 

O “Ocidente”, porém, sob severa hegemonia americana, assegurada não só pela potência do dólar, com a garantia das diretrizes de governança mundial baseadas no CONSENSO DE WASHINGTON (1989), mas pela forte presença de 800 bases militares dos Estados Unidos mundo afora, quer a condenação da Rússia como potência invasora da Ucrânia e a aplicação de sanções contra este país de forma a debilitar sua economia e seu atual governo. É a PAX AMERICANA em curso desde o fim da URSS, em 1991. Alegam que o equilíbrio internacional deve ser baseado em regras que respeitem o direito inalienável dos povos à sua autodeterminação e soberania. Tudo muito edificante em Teoria mas simplesmente contestável na prática pois as grandes potências oriundas do triunfo na II Guerra Mundial, sobretudo Estados Unidos, controlam o Conselho de Segurança da ONU e instituições internacionais, desconhecendo a realidade emergente de novas nações no cenário internacional e, pelo seu poder, acabam impondo sua vontade. Foi o que aconteceu na invasão americana no Afeganistão, Iraque e Líbia, levando ao esfacelamento destes países. Só no Iraque calcula-se que tenham morrido cerca de 300 mil civis. A Rússia, mais asiática, desde sempre, do que Ocidental, apesar da fé cristã ortodoxa que a empolga, é também potência militar oriunda do mesmo processo que erigiu os Estados Unidos: a vitória sobre Alemanha nazista em 1945. Quer ter sua área de influência e segurança estratégica da mesma forma que os americanos também o querem, bem mais restrita, aliás, do que a dos americanos que se estende por todos os mares, eis que restrita às suas fronteiras. Isso não condiz, claro, com os princípios do direito internacional mas é a REALPOLITIK do mundo. O mesmo faz a China, agora, com maior vigor pela sua potência econômica e comercial. Mais dia, menos dia, vai ocupar Taiwan, província rebelde, que faz parte da Nação reconstruída por Maio Tse Tung, depois da Longa Marcha, em 1949. 

Ora, como seria belo um mundo sem Grandes Potências convivendo em equilíbrio de forças! Mas isso não existe. E confrontar Rússia e China com base em princípios quando os mesmo são diuturnamente desrespeitados no próprio Ocidente através das sucessivas intervenções americanas, das quais nós, na América Latina temos sido vítimas há 200 anos, é puro cinismo. O recurso a tais princípios, aliás, ressoa uma velha consigna dos americanos que se consideram eleitos como condutores de um Destino Manifesto a favor da “civilização”, como se ainda fosse possível no século XXI falar-se em “superioridade” de uns sobre outros. Apoiar a ação militar da Rússia, enfim, sobre a UCRANIA, é uma coisa, tal como faz a Belarrus, mas apoiar incondicionalmente a posição belicista ocidental sob a égide americana é igualmente ruim. O Brasil não está apoiando nem um, nem outro. Está propondo a cessação das hostilidades de forma a dar um tempo à construção da paz, até em reconhecimento de que a vitória propalada do Ocidente sobre a Rússia é simplesmente impossível. A Rússia, com ou sem razão, mas com força para tal, pode, em última instância, revidar com ofensiva tática nuclear desencadeando um conflito mundial. Ali não estamos diante de países militarmente fracos do Oriente Médio, da América Latina ou Ásia. Estamos diante de uma das maiores potências bélicas do mundo. Todo cuidado é pouco. Lula tem razão. VIVA A PAZ!


  Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 17 ABRIL 23

NOVO TEMPO NA GEOPOLÍTICA MUNDIAL

Geopolítica é um ramo da ciência que aborda a relação entre a geografia, acontecimentos históricos e políticos, com o objetivo de interpretar fenômenos globais. Para isso, a área estuda temas como guerras, movimentos migratórios e acordos entre países. É também a congruência entre demasiados grupos de estratégias adotadas pelo Estado para administrar seu território, e anexar a geografia cotidiana com a história. Geopolítica e geografia se aproximam mas enquanto esta se refere à situação aquela se volta às interações entre vários campos do conhecimento e ação humanas. Muito comum, por exemplo, se falar em Geopolítica do Petróleo de forma a se compreender melhor não só a ocorrência de jazidas e explorações mas o intrincado jogo dos produtores de petróleo para controlar preços e mercados. Eis como um site educacional a define:

"Geopolítica é um termo utilizado para designar tanto a prática quanto os estudos das relações e disputas de poder entre Estados e territórios. Esse campo do conhecimento se dedica aos estudos dos conflitos diplomáticos, políticos e territoriais, das crises, da evolução histórica do ordenamento político do espaço mundial, da articulação entre os Estados nacionais e da atuação das organizações internacionais e blocos econômicos.

De grande importância para a análise das relações internacionais e do ordenamento territorial em diversas escalas, a geopolítica permite desenvolver uma visão crítica acerca do passado histórico e principalmente dos acontecimentos atuais.

Resumo sobre geopolítica

*Geopolítica é uma área do conhecimento que se dedica ao estudo das relações de poder entre Estados e territórios, bem como a forma como se organizam no sistema-mundo.

*A geopolítica aborda temas como os conflitos diplomáticos, disputas territoriais, crises internacionais, questões separatistas e ainda a atuação e importância dos organismos internacionais e blocos econômicos na articulação dos Estados.

*Johan Rudolf Kjellén (1864-1922), cientista político sueco, foi o primeiro a utilizar o termo “geopolítica” para tratar dos Estados nacionais enquanto agentes atuantes no espaço.

*Conhecer a geopolítica é muito importante para a compreensão de como evoluiu o ordenamento espacial do mundo sob uma perspectiva política, além de possibilitar o desenvolvimento de uma visão crítica acerca de eventos atuais.

*É importante saber que geopolítica e Geografia Política, embora semelhantes, apresentam abordagens distintas.

https://brasilescola.uol.com.br/geografia/geopolitica.htm 

Importante registrar que o estudo da GEOPOLÍTICA MUNDIAL registrou uma divisão bipolar do mundo entre USA x URSS que perdurou do Pós II Guerra Mundial, mais precisamente, 1947, até 1991. Neste ano o regime comunista instaurado na Rússia em 1917 foi substituído por um regime de tipo ocidental, com pluralidade de Partidos e apoio na economia de mercados, com o nome de FEDERAÇÃO RUSSA. A partir de então o mundo entrou numa nova fase sob absoluta hegemonia dos Estados Unidos que prometia, sob a GLOBALIZAÇÃO uma era de PAZ E PROSPERIDADE para todas nações. Alguns até se apressaram e proclamaram o FIM DAHISTÓRIA, no sentido de que estariam sepultadas as disputas ideológicas típicas do século XX. O CONSENSO DE WASHINGTON, em 1989, acabou, inclusive confirmando o que seriam as NOVAS REGRAS DA GOVERNANÇA MUNDIAL, em obediência a uma rígida Doutrina dita neoliberal. O ataque às Torres Gêmeas de N.Y., no entanto, demonstraria que havia insatisfação no mundo. Ato contínuo, o ataque dos americanos no Oriente Médio, destruindo as bases sobre as quais erguia-se na região um precário equilíbrio, levaram à destruição da Líbia, virtual esfacelamento do Iraque, reforço do Talibã no Afeganistão, guerra civil na Síria. A Guerra na Ucrânia antepondo toda a Europa, ora integrada à OTAN, à Rússia, agora coloca em risco e própria paz mundial. Enquanto isso, a China, revigorando-se economicamente nos últimos 40 anos já detém a primazia econômica do mundo em termos de paridade poder de compra e domina o comércio mundial, transformando-se de campo de cooperação à globalização em forte concorrente, já perto do confronto, dos americanos. Isso alterou substancialmente a geoeconomia mundial e se reflete na geopolítica, ora em vias de debilitamento da hegemonia americana. Não se trata, aqui, de confronto bélico, como foi a GUERRA FRIA, até porque a China não apoia movimentos revolucionários a seu favor nem incita comunistas do mundo inteiro a defenderem seu modelo, no estilo da SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL dos tempos da União Soviética. Trata-se, para os milenares chineses, de ganhar musculatura para penetrar mais fundo nos mercados mundiais. Dispõem, para tanto, de recursos para investimento e capacidade de compra. Têm a maior RESERVA EM DOLARES do mundo, algo em torno de 3 trilhões de dólares, de oito a dez vezes mais do que o Brasil, embora não possam usar tais reservas que estão constituídas em TITULOS DO GOVERNO AMERICANO em dólares sem qualquer lastro. Tudo deve ocorrer nos marcos da prudência oriental. Nada aconselha um alinhamento automático do Brasil com a China, embora sempre sensível aos olhos do DPTO. ESTADO EU, mas nada impede que líderes do mundo inteiro percebam as mudanças em curso e procurem defender interesses de seus respectivos Estados e Nações. É tempo, enfim, de mudanças. UM NOVO TEMPO, como disse Ivan Lins nesta sugestiva canção que acompanhou, aliás, sob os acordes de uma banda chinesa, os passos de LULA e XI, na sexta-feira passada.

Novo Tempo

Ivan Lins

No novo tempo

Apesar dos castigos

Estamos crescidos

Estamos atentos

Estamos mais vivos

Pra nos socorrer

Pra nos socorrer

Pra nos socorrer

No novo tempo

Apesar dos perigos

Da força mais bruta

Da noite que assusta

Estamos na luta

Pra sobreviver

Pra sobreviver

Pra sobreviver

Pra que nossa esperança

Seja mais que vingança

Seja sempre um caminho

Que se deixa de herança

No novo tempo

Apesar dos castigos

De toda fadiga

De toda injustiça

Estamos na briga

Pra nos socorrer

Pra nos socorrer

Pra nos socorrer

No novo tempo

Apesar dos perigos

De todos pecados

De todos enganos

Estamos marcados

Pra sobreviver

Pra sobreviver

Pra sobreviver

Pra que nossa esperança

Seja mais que a vingança

Seja sempre um caminho

Que se deixa de herança

No novo tempo

Apesar dos castigos

Estamos em cena

Estamos na rua

Quebrando as algemas

Pra nos socorrer

Pra nos socorrer

Pra nos socorrer

No novo tempo

Apesar dos perigos

A gente se encontra

Cantando na praça

Fazendo pirraça

Pra sobreviver

Pra sobreviver

Pra sobreviver

Composição: Vitor Martins / Ivan Lins

 


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 14 ABRIL 23

Apoteótica presença de Lula na China

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AO VIVO Brasil e China

SIGA: Lula se encontra com Xi Jinping em Pequim

AO VIVO: Lula se encontra com presidente da China, Xi Jinping, nesta sexta | G1 / Política | G1 (globo.com)

 

Mais cedo, presidente brasileiro se reuniu com lideranças chinesas

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A esperada viagem de Lula à China teve seu ápice hoje cedo, horário do Brasil, com a recepção oficial do governo chinês à Lula e sua comitiva. Esta é a segunda vez que Lula vai à China pois lá esteve em 2009 –

China e Brasil emitem comunicado conjunto para impulsionar ...

china-embassy.gov.cn

http://br.china-embassy.gov.cn › por › zbgx

 

A importância da viagem de Lula se explica pelo fato da China ser o maior comprador de produtos do Brasil, num valor superior às vendas conjuntas aos Estados Unidos e União Europeia. 

Lula depositou flores aos heróis chineses, passou em revista as tropas chinesas, ao lado de XI GINPING e foi saudado por um grupo de crianças portando bandeirolas dos dois países, num espetáculo comovente. Ato continuo, sítios históricos em Pequim, Neste momento os dois Presidentes, China e Brasil, estão reunidos para discussão de temas importantes como a Paz na Ucrânia e a construção de um mundo multipolar com maior independência financeira e maior complexidade geopolítica, bem como assinatura de 20 Acordos bilaterais sobre comércio e investimentos chineses na infraestrutura e tecnologia. Ontem, Lula visitou várias indústrias, dentre elas a ............., onde foi saudado em sua entrada pela música Garota de Ipanema. Os chineses também tocaram numa destas visitas a AQUARELA DO BRASIL, demonstrando grande simpatia pelo Brasil. Sempre bom lembrar que o ex Presidente João Goulart, foi o primeiro líder ocidental a visitar a China, nos idos de 1961, quando levou o reconhecimento do povo brasileiro à histórica tarefa de reconstrução daquele país depois de sua submissão aos imperativos coloniais da Inglaterra com a Guerra do Ópio, das agressões do Japão e da Longa Marcha da conquista do Poder por Mao Tse Tung no pós guerra, em 1949. 

Pela importância desta visita de Lula à China, transcrevemos, abaixo a avaliação publicado dia 13 passado por L.C.Azedo no Correio Brazilense, que dá a dimensão concreta do evento e desafios que suscita:

Luiz Carlos Azedo - Sobre as contradições da viagem de Lula à China

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../luiz-carlos-azedo...

Correio Braziliense

O Brasil precisa dar um salto de qualidade no comércio com a China. As exportações brasileiras para o gigante asiático estão muito concentradas nas commodities: minério de ferro, soja, petróleo e carne

Um dos episódios mais traumáticos da história da diplomacia brasileira foi a expulsão de nove diplomatas chineses, que foram presos e torturados logo após o golpe militar de 1964. Eram funcionários da embaixada da República Popular da China e chegaram ao Brasil entre 1961 e 1964, em virtude das relações bilaterais estabelecidas pelo presidente Jânio Quadros, que renunciou ao mandato. A propósito, João Goulart, seu vice, estava na China na ocasião e houve uma tentativa de impedi-lo de tomar posse, golpe abortado pelo Congresso ao adotar o regime parlamentarista. Mas essa já é outra história.

Em 22 de setembro de 1964, os chineses foram condenados a 10 anos de prisão e expulsos do território brasileiro no ano seguinte, acusados de conspirar contra o regime recém-instalado. Em 1974, porém, as relações foram restabelecidas pelo general Ernesto Geisel, presidente da República que adotou uma política externa independente, desatrelada dos Estados Unidos, durante o regime militar. Desde então, as nossas relações com os chineses mudaram da água para o vinho, e a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, desbancando os EUA.

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viajou à China, onde terá um encontro com o presidente Xi Jinping. Segundo anunciou, quer “consolidar a relação” com a nação asiática e convencê-la a fazer mais investimentos no nosso país. Além disso, pretende convidar o líder comunista chinês para uma visita ao Brasil. “Política internacional é uma via de duas mãos, ou seja, você não vai à China para saber o que os chineses vão fazer aqui ou o que os chineses vão comprar de nós, queremos mostrar aos chineses que temos coisas para vender”, disse Lula em entrevista à EBC. “O que queremos é que os chineses façam investimentos para gerar novos empregos e novos ativos produtivos no Brasil”, completou.

O Brasil precisa dar um salto de qualidade no comércio com a China. As exportações brasileiras para o gigante asiático, hoje, estão muito concentradas nas commodities: minério de ferro, soja, petróleo e carne somam quase 90%. Para a economia brasileira, estrategicamente, isso não é bom. São setores da economia muito concentrados, que agregam pouco valor, empregam pouco, oferecem empregos de pouca qualificação e com salários baixos. Em contrapartida, as importações brasileiras da China estão levando à falência as indústrias brasileiras, que têm baixa produtividade, e ainda tomam o nosso mercado na América do Sul.

Lula não viaja de mãos vazias, já estão negociados vários acordos, entre os quais na agricultura familiar, no desenvolvimento de satélites, na produção de vacinas e de automóveis. Mas ainda é muito pouco. A China pode ser um grande parceiro do Brasil na área de infraestrutura, com investimentos na produção de energia limpa, portos e aeroportos, transportes ferroviários e fluvial. Hoje, exportamos algo em torno de US$ 88 bilhões para a China, enquanto importamos US$ 47 bilhões, com um superávit da balança comercial de US$ 41 bilhões. Em contrapartida, importamos US$ 39 bilhões dos Estados Unidos, para os quais exportamos US$ 31 bilhões, um déficit comercial de US$ 8 bilhões.

Rota da seda

A inclusão do Brasil na chamada Rota da Seda pode ser um bom negócio, mas depende dos termos em que isso ocorrerá. Esse é o mais ambicioso projeto comercial da história da China desde a Idade Média. O nome é uma referência à antiga rota comercial chinesa para a Europa, através da Ásia Central, durante as dinastias Han (206 a.C. a 220 d.C.) e Tang (618 a 907). Os parceiros do projeto chinês recebem financiamento em infraestrutura e firmam acordos de cooperação em economia, saúde, cultura, ambiente, entre outros.

Como o eixo do comercio mundial se deslocou do Atlântico para o Pacífico, a entrada da Argentina no projeto torna imperativa a parceria do Brasil com a China, para construir uma nova infraestrutura de logística, que beneficie também os estados do Sul e Sudeste. A Nova Rota da Seda soma 145 países, sendo 44 da África, 42 da Ásia, 29 da Europa, 20 da América Latina e o Caribe e 10 da Oceania.

A expansão comercial chinesa é global. Seu principal parceiro comercial ainda são os Estados Unidos, que exportaram tecnologia e empregos para a potência asiática. A perda contínua de mercado para os chineses, inclusive interno, provocou a reação política e militar dos Estados Unidos contra a expansão da influência da China no mundo. Na geopolítica do chamado “Sul Global”, adotada pelo Itamaraty, as relações com presidente Xi Jinping são as mais importantes para a diplomacia brasileira, porém qualquer aproximação exagerada pode estremecer as relações do Brasil com os Estados Unidos.

O que está surgindo não é um mundo multipolar, como vinha se desenhando, com o fortalecimento da Alemanha e da França na União Europeia e a formação dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Com a brutal invasão da Ucrânia pela Rússia, em resposta à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), instalou-se no mundo um novo clima de “guerra fria”. A ocupação do território ucraniano se tornou o palco de uma “guerra por procuração” entre a Otan e a Rússia.

Lula propõe a formação de um clube de países não envolvidos na guerra para negociar a paz entre a Rússia e a Ucrânia, para o qual pleiteia o apoio do presidente chinês Xi Jinping. Ao fazê-lo, traça uma rota sinuosa e ambígua, que põe em risco suas excelentes relações com o presidente Joe Biden. O antigo líder comunista Mao Tse Tung separava as contradições antagônicas das não antagônicas, que não suprimiam uma das partes. Lula vai precisar de muita dialética para que a segunda prevaleça.


 OS ATAQUES À ESCOLAS NÃO SÃO ATOS ISOLADOS. AÍ TEM...

Paulo Timm – Artigo enviado à publicação A FOLHA, Torres , RS -14/21abril-23

 

O dia de ontem, 12 de abril, agitou a opinião pública no Brasil pela reiteração de ataques à Escolas. Quase sempre ESCOLAS PÚBLICAS. Em Brasília, desde cedo, circulava nas redes a ameaça de ataque a um importante centro universitário, o CEUB, que acabou ocupado por forças policiais. Aqui entre nós, no Rio Grande do Sul, em Maquiné, Litoral Norte, fomos surpreendidos pela detenção de um jovem que detinha em casa farto material nazista e várias cópias em madeiras de armas de grosso calibre. Ele vinha sendo manipulado pelas redes sociais por um avatar residente no Paraná. Dias antes, soube-se de casos semelhantes em outras cidades do país, o mais chocante deles a invasão a uma creche e assassinato de várias crianças em Blumenau SC, crime hediondo perpetrado por outro jovem ensandecido por ideias extremistas de direita. Diante disso, a pergunta: - Serão estes casos isolados de insanidade ou estamos diante de alguma maquinação diabólica usando jovens para perpetração de crimes com algum objetivo político? 

Dois artigos circulam nas Redes apontando a origem política destes crimes em redes neonazistas. *Banhos de sangue nas escolas e o Neonazismo no Brasil”, de Leonardo Sacramento, e “De caso pensado”, de Andréa Serpa. Estão publicados na íntegra em www.torrestvdigital.com.br Vejamos:

Banhos de sangue , por Leonardo Sacramento

“Não sejamos ingênuos, essa história aponta que grupos neonazistas trabalham com jovens em darkweb, deepweb, mundo gamers e em redes sociais. “O assassino que esfaqueou a professora em São Paulo brigou na semana anterior e apanhou dos alunos porque havia chamado um deles de macaco. Algo para ser mais bem elucidado, se a mídia e a polícia permitirem, pois sempre tratam esses ataques como se fossem suicídio. Reina a lógica do silêncio para enfatizar aspectos psicologizantes, deslocando o debate para um mero casuísmo da psiquê.

Em seu celular, foram encontrados exemplos de invasão e chacina em escolas. A estética de suas vestimentas segue padrão dos ataques anteriores, com referências explícitas. O twitter trouxe, minutos depois, informações valiosas, como a existência de um subgrupo neonazista no qual fazia parte, cujo nome escolhido foi o mesmo do terrorista de Suzano (SP). Ali, foi encorajado e sugestionado a se vingar da sociedade que o teria retirado de seu devido e histórico lugar. Com essa narrativa, grupos neonazistas trabalham com jovens em darkweb, deepweb, mundo gamers e, agora e inclusive, em redes sociais, indicando a existência de uma considerável aceitação social.

Não há relação de causa e efeito entre estrutura escolar, bullying e ausência de cultura da paz. Não foi mero racismo, em que o pobre jovem branco seria vítima do famigerado “racismo estrutural”, conceito que foi transformado em pó de pirlimpimpim na mídia e grupos voltados a oferta de uma “educação antirracista”. Foi neonazismo, com forte, evidente e explícita atuação de grupos neonazistas. 

O ataque a escolas por neonazistas,[vii] independentemente da idade, deve ser tipificado como terrorismo. As investigações devem ser federalizadas com a formação de um grupo de combate ao neonazismo, incluindo Polícia Federal e Ministério Público Federal. Deixar para as polícias estaduais, sem compreender a concatenação de todos os ataques, é contribuir para a profusão do neonazismo e naturalizar os ataques coordenados e planejados em escolas.”

 

Outro artigo, de Andréa Serpa, “De caso pensado”, vai pelo mesmo caminho: É política, não psiciologia...:

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Entendam: a onda de ataques e violência gratuita crescente são um projeto. Não é obra do acaso. Quanto mais medo e ódio produzem mais seu projeto Nazi/Fascista vence: muita gente boa, sensata, consciente clamando por polícia armada em porta de escola.. Daí é um passo para a população exigir polícia dentro da escola e finalmente: que a própria escola seja militarizada. 

 

Depois vem o que? Curso de tiro pra professores e alunos? Venda de armas em massa? Ora, esse é o projeto de quem mesmo? Eis a armadilha. Em pouco tempo teremos muita gente boa dizendo: “Ééé o Bolsonaro tinha razão!” 

 

 

Anexos- (Íntegra dos artigos citados)

De caso pensado… - Por Andréa Serpa

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Entendam: a onda de ataques e violência gratuita crescente são um projeto. Não é obra do acaso.

 

Quanto mais medo e ódio produzem mais seu projeto Nazi/Fascista vence: muita gente boa, sensata, consciente clamando por polícia armada em porta de escola.

 

Daí é um passo para a população exigir polícia dentro da escola e finalmente: que a própria escola seja militarizada. 

 

Depois vem o que? Curso de tiro pra professores e alunos? Venda de armas em massa? Ora, esse é o projeto de quem mesmo? Eis a armadilha. Em pouco tempo teremos muita gente boa dizendo: “Ééé o Bolsonaro tinha razão!”

 

Quem estuda história sabe. A estratégia é velha e sedutora porque mexe com sentimentos muito profundos em nós: de preservação. Atacar as crianças com uma machadinha não é aleatório, quer mandar um recado direto: “não adianta proibirem as armas, nós vamos machucar vocês do mesmo jeito, ninguém está a salvo!”

 

Quem viu Guerra nas Estrelas - a ascensão do Imperio - conhece muito bem o enredo: o Mal promove levantes e caos em vários lugares do sistema: cria um clima de medo e horror e depois se apresenta como “a solução” de “pacificação”, mas para isso precisa de plenos poderes porque a democracia “é lenta” e burocrática demais. 

A “democracia” morre com uma salva de palmas e surge um sistema totalitário que extermina toda e qualquer oposição - e todos aqueles que lhe conferiram tal poder. 

 

Em uma das cenas mais tristes do filme, praticamente um rito de passagem, o jovem Anakin, ataca uma escola Jedi e mata as crianças. Ali ele morre também e o grande vilão Vader nasce. A arte traduz a vida.

 

Precisamos ter cuidado para não sermos sequestrados pelo medo e ódio, e clamarmos por um mundo ainda mais violento e opressor.

 

Não é solução, de forma alguma, transformar escolas em presídios, encher escolas com gente armada, transformar professores em pistoleiros. 

 

Solução é caçar impiedosamente todas as células Nazi/fascistas, criar leis muito mais severas para incitação ao ódio e punições ainda mais severas para as Fake news, e investir pesadamente na Educação das novas gerações para que cresçam sabendo que o Nazi/fascismo é um projeto inadmissível, que corrói nossa civilidade e humanidade. Polícia para quem precisa de polícia: ou seja, os criminosos. 

 

Nossa luta será imensa.

Porque odiá-los é fácil. 

E é exatamente isso que eles querem: que o ódio vença. 

 

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*Banhos de sangue nas escolas e o Neonazismo no Brasil 

Não sejamos ingênuos nessa história!*

 

Por LEONARDO SACRAMENTO

 

Grupos neonazistas trabalham com jovens em darkweb, deepweb, mundo gamers e em redes sociais

 

O assassino que esfaqueou a professora em São Paulo brigou na semana anterior e apanhou dos alunos porque havia chamado um deles de macaco. Algo para ser mais bem elucidado, se a mídia e a polícia permitirem, pois sempre tratam esses ataques como se fossem suicídio. Reina a lógica do silêncio para enfatizar aspectos psicologizantes, deslocando o debate para um mero casuísmo da psiquê.

 

Em seu celular, foram encontrados exemplos de invasão e chacina em escolas. A estética de suas vestimentas segue padrão dos ataques anteriores, com referências explícitas. O twitter trouxe, minutos depois, informações valiosas, como a existência de um subgrupo neonazista no qual fazia parte, cujo nome escolhido foi o mesmo do terrorista de Suzano (SP). Ali, foi encorajado e sugestionado a se vingar da sociedade que o teria retirado de seu devido e histórico lugar. Com essa narrativa, grupos neonazistas trabalham com jovens em darkweb, deepweb, mundo gamers e, agora e inclusive, em redes sociais, indicando a existência de uma considerável aceitação social.

 

As instituições e principalmente a esquerda não entenderam o que está acontecendo entre os jovens. Desenhemos o processo em 10 fatos geralmente silenciados, os quais, por óbvio, não excluem mais minudências: 

 

1. Esses ataques têm sugestionamento e direção de grupos neonazistas na web, inclusive em redes sociais abertas. Isso indica que o trabalho realizado por anos a fios em sítios e jogos que ocultavam paradeiros e emissários deu certo; 

 

2. Os grupos prioritários são jovens brancos empobrecidos que pertenceriam a uma espécie de classe média baixa – há exceções, como o terrorista de Realengo, que matou dez mulheres em um total de doze jovens, quase todos negros. Esses jovens se transformam em guardiões do Tradicionalismo por terem, segundo narrativa conservadora, perdido espaços em frentes outrora monopolizados em um mundo mais reto e tranquilo. Agora, disputariam de vaga em ensino superior a vaga de trabalho, inclusive a própria representação estética, com negros, indígenas, mulheres e LGBTQIA+;

 

3. O ataque ocorrido em Barreiras, na Bahia, por um branco de Brasília, filho de policial (o maior salário de polícias do Brasil), é o caso mais exemplar. Chamava os habitantes de inferiores. Matou uma cadeirante, também negra. Ele tinha contato com o assassino de Aracruz (ES), que matou quatro mulheres (apenas mulheres);

 

4. O celular do assassino de Saudades (Santa Catarina), aquele que matou bebês e professoras (mulheres), ligou-o a grupos neonazistas do Rio de Janeiro. Talvez tenha sido o caso tratado de forma mais absurda, pois a hipótese inicial foi a de bullying. O que os bebês fizeram ao terrorista é um mistério.

 

5. Os dados desse grupo do Rio de Janeiro ligaram-no ao assassino de Suzano (São Paulo). Logo, é uma rede sem medo de aparecer. Quem faz questão de escondê-la é a polícia, a mídia, os governos, a burguesia e a classe média, inclusive a autoproclamada progressista. Em Monte Mor, a bomba falhou e o terrorista foi preso com machadinha. Em Suzano um tinha arma de fogo, outro uma machadinha. Outros ataques são a faca. Priorizam arma de fogo, mas quando não conseguem, existe um roteiro com inspiração em certos jogos com facas e machadinhas.

 

6. Os grupos neonazistas procuram jovens que já ganham ou ganharão menos que os pais, sem perspectiva de qualquer sorte diferente. Culpam as mulheres por entrarem no mercado de trabalho e não se resumirem ao exercício do papel de mães e esposas, imigrantes (nordestinos no Sul e Sudeste, latinos nos EUA e africanos e árabes na Europa) e negros (entrada no mercado de trabalho e cotas). Esses jovens são, sem exceção, supremacistas, mesmo que não militem formalmente em uma célula neonazista.

 

7. No caso das mulheres, defendem, ao lado das Igrejas Neopentecostais, a mulher tradicional e submissa. Entendem que a nova mulher é fruto de uma espécie de confusão sexual da modernidade, cujas sexualidades são atacadas como quebra do Tradicionalismo no qual o homem branco é a ponta da pirâmide. Portanto, defendem um retorno ao que era seguro aos homens brancos. Redpills e incels são expressões e objetos de interesse de grupos neonazistas na deepweb, darkweb, gamers e plataformas e redes sociais, como Youtube, Telegram e Twitter. Basta acompanhar subgrupos e comentários em canais vinculados à direita e ao universo jovem.

 

8. Bullying não provoca os ataques. Quem acha isso, é porque se identifica com os autores, identificando-se socialmente e racialmente – uma espécie de supremacismo velado. Não ocorre o mesmo com os jovens pretos em comunidades ou com as mães que roubam comida; 

 

9. Essa geração é mais afeita ao neonazismo porque ela é o produto mais bem acabado do neoliberalismo. Fragmentada, é a geração sem trabalho porque o trabalho foi destruído pelo neoliberalismo. A garantia social que possuía para reproduzir o status quo familiar foi junto. Como resposta, essa geração volta-se contra as famigeradas minorias, que estariam ocupando o lugar que tradicionalmente lhe seria cativa. Ou seja, o neoliberalismo destrói a realização da expectativa de reprodução de classe e raça, mas fomenta o sectarismo neonazista para preservar a fragmentação na classe por meio da reafirmação da superioridade racial. Por isso não é possível separar fascismo de neoliberalismo. São siameses.

 

10. Por que apenas escolas públicas? Porque os intrusos estão lá. Porque os escolhidos, os brancos empobrecidos de classe média baixa também estão lá, sendo contaminados, como lembrou o assassino de Barreiras (BA). O assassino de Suzano atacou apenas negros. Estamos sob ataque! Trabalhadoras e trabalhadores negros precisam aprender a se defender e reagir preventivamente a grupos neonazistas, de forma organizada e violenta.

 

Parece que tanto a institucionalidade quanto a esquerda não entenderam o fenômeno, mais ou menos quando da ascensão do neofascismo nas Igrejas Evangélicas a partir de 2013 – não percamos tempo com a direita. Em essência, não é problema de estrutura escolar (embora não tenha investimento e precise ser feito), bullying e falta de cultura de paz. É fascismo e neonazismo.

 

Não há relação de causa e efeito entre estrutura escolar, bullying e ausência de cultura da paz. Não foi mero racismo, em que o pobre jovem branco seria vítima do famigerado “racismo estrutural”, conceito que foi transformado em pó de pirlimpimpim na mídia e grupos voltados a oferta de uma “educação antirracista”. Foi neonazismo, com forte, evidente e explícita atuação de grupos neonazistas. 

 

Todos os ataques em escolas nos últimos anos têm assinatura de grupos neonazistas. Se Umberto Eco atentava que “o fascismo eterno ainda está ao nosso redor, às vezes em trajes civis”, os ataques em escolas públicas mostram que os trajes civis foram abandonados. Os trajes são militares. É preciso “golpear de morte a besta fascista em seu próprio covil”.

 

O ataque a escolas por neonazistas,[vii] independentemente da idade, deve ser tipificado como terrorismo. As investigações devem ser federalizadas com a formação de um grupo de combate ao neonazismo, incluindo Polícia Federal e Ministério Público Federal. Deixar para as polícias estaduais, sem compreender a concatenação de todos os ataques, é contribuir para a profusão do neonazismo e naturalizar os ataques coordenados e planejados em escolas.

 

Quanto aos jovens objetos dos ataques, é prudente se formarem para agir preventivamente, de forma violenta e organizada. Vai ter que ter ação preventiva e reação justa de movimentos populares, sobretudo negros e mulheres (a grandíssima maioria das vítimas é a mulher negra e pobre). Não vai dar para terceirizar tudo para o governo. Ele tem a sua cota, mas sem movimento popular conscientemente violento, como indica Fanon em Os Condenados da Terra, chegará o dia em que naturalizaremos os grupos neonazistas como fizemos com o bolsonarismo. Fora disto, é só confete.

 

Assim, é inadmissível a defesa de cursinhos antirracistas para neonazistas (sic!) porque seriam vítimas do discurso de ódio. A questão é: materialmente, por que o discurso neonazista tem aderência a esses jovens brancos pertencentes a uma espécie de classe média empobrecida? A resposta é desconfortante para quem acredita que os problemas brasileiros poderão ser resolvidos com diálogo. Perguntar abstratamente o que aconteceu a esses jovens neonazistas e relacioná-los a meras vítimas do “discurso do ódio” é inverter quem é a vítima. O padrão é ataque a escolas públicas para matar negros, cadeirantes, mulheres e pobres. Matar professoras é outra constante de todos os ataques. Eis o busílis.

 

*Leonardo Sacramento é pedagogo no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. Autor do livro A Universidade mercantil: um estudo sobre a Universidade pública e o capital privado


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 12 ABRIL 23

Sinais positivos reanimam Governo, mercados e economistas

Aos 101 dias do Governo Lula III veio a notícia mais alvissareira: Caiu o índice oficial da inflação, calculado pelo IBGE, em 12 meses para 4,65%, o menor desde 2021, dando razão ao discurso do Presidente Lula contra os pessimistas. Isso desperta expectativas de que o Banco Central, enfim, baixe o elevado nível de juros da SELIC, hoje o mais alto do mundo. Com isso pode haver uma reanimação do varejo e em alguns mercados deprimidos, como automóveis e caminhões. Várias montadoras, inclusive, estão paralisadas e poderão voltar a operar. A Mercedez, há pouco com atividades suspensas é outro exemplo. Falta, agora, o tal plano de liberação dos inadimplentes com ficha suja na SERASA para que o consumo das famílias volte a crescer. Na verdade, a queda da inflação não é o único indicador positivo na economia. A área cambial também reflete a reversão do movimento de capitais. Está entrando dinheiro novo. O dólar voltou aos R$ 5, patamar a que chegou depois das barbeiragens de Paulo Guedes no comando da Economia. Ele próprio, aliás, advertira: “Se o dólar chegar a R$5 é porque erramos muito”. Chegou, ultrapassou. A saída de capitais explodiu no Governo Bolsonaro. Mas a Bolsa também está em alta e registra número recorde de investidores: Mais de 6 milhões. 

https://conteudos.xpi.com.br/acoes/relatorios/entrada-de-fluxo-positiva-nesse-inicio-de-2023-investidores-pessoa-fisica-passam-de-6-milhoes-fluxo-em-foco/ . 

Só falta, agora, a aprovação do Arcabouço Fiscal, ansiosamente esperado e o retorno de Lula da China com novos contratos na mão, que poderão estimular os investimentos com a vinda de uma fábrica de carros elétricos, apontando para o fim, também aqui dos carros movidos a energia fóssil, já condenados a desaparecer na Europa em meados da próxima década. Se conseguirmos alterar o perfil da nossa frota num prazo relativamente curto, estimulando a troca de motores a combustão por elétricos, estaremos livres do aumento de preços da gasolina. Em São Paulo já rodam 200 ônibus urbanos com motores elétricos, movimento que deverá se alastrar para outras capitais. Investimentos são esperados também na Infraestrutura, sobretudo portos e ferrovias. Além disso, espera-se da missão de Lula na China o reforço à nossa pauta de exportações para aquele país de proteína animal.

E vigorosa economia brasileira, que deu mostras de inequívoco crescimento, com taxas de 6,5% de 1930 a 1980, com repique importante no início do século, volta, portanto, fortalecida pelo bom desempenho do agrobusiness, autossuficiência no petróleo e investimentos públicos, até então contidos pela PEC 95 dos gastos públicos, a animar todo mundo. Não teremos, por certo, taxas surpreendentes do “milagre brasileiro”, eis que travados, ainda, pela necessidade de recompor as contas públicas, mas, certamente superaremos as expectativas pessimistas que previam para os próximo anos nada mais do que 1% ao ano. Oxalá os bons ventos continuem nos animando. 

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 11 ABRIL 23

Lula vai hoje à China

Postergada duas semanas em razão de uma pneumonia, o Presidente Lula embarca hoje para a China, com uma imensa comitiva de políticos e empresários, satisfeito com as repercussões na imprensa dos seus cem primeiros dias de governo. Houve um reconhecimento geral de que cumpriu nestes primeiros cem dias 1/3 das promessas de campanha e uma expectativa de que substitua, enfim, o Teto de Gastos introduzido por Temer como “Ponte para o Futuro”, por um arcabouço fiscal mais adequado às necessidades de investimento do país. Claro que 2023 não é 2003. Nem cá no Brasil, nem lá fora. Aqui nos enfrentamos com a agudização da questão social, que precarizou o trabalho e trouxe de volta 30 milhões para o mapa da fome, além de ter gestado sob Bolsonaro um inusitado bolsão de direita radical disposto a não depor as armas. Lá fora, a Guerra na Ucrânia, denuncia uma nova etapa da disputa pelo controle do mundo, no qual a China, como maior potência comercial do planeta amplia suas alianças estratégicas com calma mas firme tenacidade concorrencial de forma e confrontar os Estados Unidos. Vivemos tempos muito parecidos ao final da década de 1930: Crise econômica no “Ocidente”, crise política da democracia liberal, crise de valores. Parecidos, até com os primeiros anos do século XX, anteriores à I Guerra Mundial, quando o acirramento da concorrência internacional levava cada país e procurar parceiros estratégicos para se fortalecer na disputa pelos mercados mundiais. Lembremo-nos que depois desta Guerra confirmou-se o novo sistema colonial que perduraria até o pós II Guerra Mundial. O clima mundial é tenso e exige muito cuidado por cada um dos jogadores em campo. Lula e Brasil estão na mira, tanto dos Estados Unidos, como da China, seja pelo tamanho de sua economia, seja pelo papel que ocupa na América Latina. A China oferece ao Brasil não só maior capacidade de compra de seus produtos, como maior capacidade de investimento. É o maior detentor de RESERVAS INTERNACIONAIS em dólar do mundo, resultado de décadas de comércio favorável com o Ocidente. Tem mais de 3 trilhões em Títulos do Tesouro Americano, que, na verdade nem podem ser trocados por ouro - não existe tanto ouro disponível -, nem trocados por moeda. É uma montanha de papel que terá que ser gradualmente substituídos por investimentos produtivos e novos investimentos em outras moedas. De resto, a China é hoje vanguarda tecnológica em vários setores de ponta, começando pelo G5 nas comunicações, que oferece ao mundo a preços e condições melhores do que os americanos. Está mudando o eixo econômico do Atlântico, no qual vicejam os “ocidentais” desde AS GRANDES NAVEGAÇÕES para a mediterrânea ROTA DA SEDA, beneficiando uma centena de países e regiões até então desconhecidas do mundo. Mas a questão para países da África, América Latina e mesmo Ásia é: Como se aproximar da China, que até tem melhor imagem junto à opinião pública destes países, sem cutucar a onça (americana) com vara curta. Difícil caminho. No caso da Rússia, Irã, Síria, Venezuela, Nicarágua e mesmo Cuba, significou a estigmatização, com “direito” aos americanos de se apropriarem de suas reservas e sofrerem drásticas sanções econômicas. Vamos ver, pois, como se sai o Presidente Lula desta delicada empreitada.


  Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 10 ABRIL 23

Governo Lula lança campanha em comemoração aos 100 dias de gestão

O terceiro governo Lula completa 100 dias hoje (10/4) quando vai apresentar o balanço da gestão e anunciar novas medidas. Para celebrar a marca, governistas compartilham o vídeo da campanha "O Brasil voltou" já neste sábado (8/4), reforçando o bordão UNIÃO E RECONSTRUÇÃO. A peça de 1 minuto mostra paisagens do Brasil, com uma música em ritmo animado, pessoas trabalhando, acessando equipamentos culturais, praticando esporte e recebendo atendimento médico, além de exibir crianças em escolas e máquinas agrícolas no campo. O vídeo rodou nas redes de ministros e autoridades. De uma forma geral, Lula saiu-se bem e está com 34% de aprovação positiva e 24% regular, mantendo, assim, a margem que lhe deu vitória nas urnas, enquanto a oposição radical bolsonarista vai enfraquecendo diante do escândalo das “jóias da Coroa”....Seu maior trunfo, porém, foi impedir a escalada golpista que desembocaria na reedição do autoritarismo militarista, graças à construção de uma Frente Democrática capaz de vencer Bolsonaro. Enfrentou com competência a tentativa de golpe bolsonarista de 8 de janeiro, iniciou o processo de engajamento golpista do Exército, desalojou os garimpeiros ilegais do território Yanomami, retomou programas sociais do seu governo anterior e reabriu as portas do mundo multilateral para o Brasil. Lula aumentou gastos sociais em R$ 112,1 bilhões durante 100 dias. Maior parte foi para a manutenção do Bolsa Família em R$ 600; PEC fura-teto liberou R$ 170 bilhões e viabilizou medidas. –

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https://www.poder360.com.br/governo/lula-aumentou-gastos-sociais-em-r-1121-bilhoes-durante-100-dias/

O próprio Lula se manifestou sobre a data em artigo publicado semana passada:

Lula diz que 100 dias foram para priorizar 'o que era inadiável'

Ao retomar algumas entregas do governo, o petista citou a formulação do arcabouço fiscal, "realista e responsável"

Sofia Aguiar - 9 abr2023- Lula diz que 100 dias foram para priorizar 'o que era inadiável'

Em comemoração aos 100 primeiros dias de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva justificou que o governo priorizou, neste início de mandato, "o que era inadiável" para criar "bases para um futuro melhor". Ao retomar algumas entregas do governo, o petista citou a formulação do arcabouço fiscal, "realista e responsável, que mantém o equilíbrio das contas públicas e garante que os pobres estejam no orçamento".

Às vésperas de o governo atingir os 100 primeiros dias de mandato - que serão completos na segunda-feira, 10 - o presidente escreveu um artigo publicado neste domingo, 9, no jornal Correio Braziliense. Conforme mostrou o Broadcast Político, Lula chega à marca com dificuldade de criar uma agenda positiva e popularidade menor do que no início dos mandatos anteriores, apostando na retomada de programas que marcaram gestões petistas.

 

"Governar é lidar com urgências, ao mesmo tempo em que criamos as bases para um futuro melhor. Nestes primeiros 100 dias, priorizamos o que era inadiável. Começando pelo necessário, para fazer o possível e alcançar sonhos que hoje podem parecer impossíveis", escreveu o chefe do Executivo no artigo. Lula retoma críticas da gestão anterior, sob o ex-presidente Jair Bolsonaro, retórica utilizada com grande força nesses primeiros dias de governo. Segundo o presidente, "os problemas herdados eram tantos e em tantas frentes", e destacou a necessidade dos termos "reconstrução" e "união". "Não existem dois Brasis, o Brasil de quem votou em mim e o Brasil de quem votou em outro candidato. Somos uma nação", disse. "Enfrentamos calamidades, dialogamos com prefeitos, governadores, deputados, senadores e sociedade civil. Promovemos a harmonia entre as instituições e a defesa intransigente da democracia e dos direitos humanos", pontuou.

Na área econômica, o presidente citou a formulação do arcabouço fiscal como "realista e responsável" e que "mantém o equilíbrio das contas públicas e garante que os pobres estejam incluídos no orçamento". O texto, contudo, ainda não foi entregue ao Congresso Nacional.

Já na área internacional, Lula comenta que o País deixou "o triste papel de pária internacional, graças à retomada da nossa política externa ativa e altiva". Conforme revelou a reportagem, um levantamento feito pelo Broadcast Político mostrou que o presidente conversou com 26 chefes de Estado, entre encontros presenciais e telefonemas, desde a sua posse em 1º de janeiro até 

"Nos 1.360 dias que temos pela frente, seguiremos firmes na reconstrução de um país mais desenvolvido, justo e soberano, com paz, harmonia e oportunidades para todos. O Brasil voltou", finalizou o presidente.

Não obstante, Lula III enfrenta críticas da Oposição, aninhada no Congresso Nacional e com fortes personalidades no comando de Estados como São Paulo e Minas Gerais, além das reticências de Mídia e Mercado quanto aos riscos da retomada da inflação diante da falta de clareza ou consistência do Novo Arcabouço Fiscal, ainda não apresentado formalmente. Preocupa-os, sobretudo, o esforço de Lula para manter Saúde e Educação fora do controle fiscal. Para enfrenta-los o Ministro das Comunicações, Pimenta, afirma que esta Mídia Convencional, corporativa, jamais apoiará e Governo e que, na volta da China, Lula fará lives semanais (ver 247). Eis como O ESP avalia os 100 dias

ESPECIAL 100 DIAS: LULA CHEGA À DATA SEM MARCA E COM DIFICULDADE DE AGENDA POSITIVA

Por Bruno Luiz, Giordanna Neves, Sofia Aguiar e Iander Porcella.=

 http://broadcast.com.br/cadernos/politico/?id=UGYrSXNHVGM5cHZKd1RpNGxXemJBUT09 

 

Brasília e São Paulo, 05/04/2023 - O terceiro governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) completa 100 dias na segunda-feira, 10, com sensação de déjà-vú. Com dificuldade de criar uma agenda positiva e popularidade menor do que no início dos mandatos anteriores, o presidente apostou na retomada de programas que marcaram gestões petistas. O novo Bolsa Família, a versão atualizada do Minha Casa, Minha Vida e o anúncio de um Programa de Aceleração do Crescimento(PAC) reciclado foram os trunfos usados por Lula em meio à paralisia de sua agenda legislativa no Congresso.

 

Na área social, encampou pautas que miram a população mais pobre, em aceno ao eleitorado que lhe deu a maioria dos votos que derrotou Jair Bolsonaro (PL). Por outro lado, Lula evitou bolas divididas na economia, se mantendo distante, publicamente, de temas como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal, cujo projeto o governo nem conseguiu encaminhar ainda para o Congresso.

 

O presidente terceirizou ainda a articulação política a auxiliares, enquanto se concentra em agendas extensas pelo Brasil e pelo mundo para mostrar resultados.

 

Levantamento feito pelo Broadcast Político na agenda diária oficial do petista entre os dias 1º de janeiro e 31 de março mostra que, no período, Lula priorizou encontros com seus ministros da área política e, logo em seguida, com o titular da Fazenda, Fernando Haddad.

 

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, se reuniu 28 vezes com o presidente neste período, entre agendas conjuntas e particulares. Já o chefe da área econômica 22 encontros com o petista. Costa e Haddad só não estiveram mais com Lula do que o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, que batem ponto no gabinete presidencial quase diariamente.

 

Lula também esteve 11 vezes com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que teve o papel de "porta-voz" de críticas nesse início de governo, com pressões desde pela queda de juros à manutenção de desoneração da gasolina. Em meio a preocupações nessa área dos combustíveis, Lula recebeu o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, dez vezes, mesmo número de reuniões que teve com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e, da Defesa, José Múcio.

 

Para driblar a sensação de paralisia, o presidente apostou em uma agenda extensa pelo Brasil. Foram, no total, 31 eventos e cerimônias com foco, principalmente, em pautas sociais. Lula também teve no período cinco encontros com representantes de sindicalistas, sua origem política.

 

"É uma forma de buscar popularidade, porque está tendo uma dificuldade de emplacar grandes discursos ideológicos, tanto que ninguém conhece qual a pauta vai ser discutida de políticas públicas dentro do governo", disse o diretor-executivo da Action Relações Governamentais e consultor legislativo, João Hummel.

 

Articulação

Na política, o chefe do Executivo priorizou articulações diretas com presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com o qual se reuniu três vezes, e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que encontrou duas vezes. Lula relegou o "varejo" a Padilha e aos líderes de governo nas Casas Legislativas. A estratégia, diferente dos mandatos anteriores, é avaliada por interlocutores como uma forma de o presidente se dedicar a entregas da gestão.

 

Lula enfrentou problemas nesse campo, com maior protagonismo do Congresso, além da disputa entre Lira e Pacheco pelo regime de tramitação das Medidas Provisórias do governo. O petista também precisou se equilibrar entre as cobranças do mercado por um novo arcabouço fiscal e as pressões do PT por uma política econômica menos fiscalista.

 

Social e fiscal

Apesar dos frequentes encontros com Haddad, especialistas avaliam que, nos 100 dias de governo, Lula não emprestou capital político em apoio às principais pautas econômicas do governo: arcabouço fiscal e reforma tributária. Interlocutores apontam que o presidente prefere se preservar como líder das pautas sociais.

 

A avaliação é corroborada pelo cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, colunista do Broadcast Político. “De fato esses temas não ganharam a devida atenção do presidente. Eu leria a postura de Lula com essas pautas econômicas dentro da chave de reforçar sua imagem de alguém que cuida do social e que agenda social é protagonista nas suas decisões", disse.

 

Até agora, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a equipe econômica lideraram, por exemplo, o debate sobre a necessidade de aprovar uma reforma tributária sobre o consumo para simplificar o sistema e a cobrança de impostos no País. A pauta, assumida como bandeira dos liberais, nunca foi abraçada pelos partidos da esquerda.

 

A discussão sobre um novo marco fiscal, em substituição ao atual teto de gastos, tampouco foi mencionada por Lula publicamente, apesar do seu aval para divulgação da proposta. "Aquilo que efetivamente vai definir (a agenda econômica) vai acabar sendo o que sair desse novo arcabouço fiscal e dessas revisões tributárias que o governo está anunciando, e a reforma tributária. Isso ainda não está totalmente equacionado", diz o cientista político e vice-presidente da Arko Advice, Cristiano Noronha.

 

Nestes primeiros 100 dias, ao analisar a agenda econômica a partir das declarações dadas pelo presidente, a pressão para uma queda de juros dominou a pauta, segundo os especialistas. O chefe do Executivo adotou uma guerra aberta contra o Banco Central e críticas ao presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

 

Turbulências

Além de ter vencido com a menor vantagem de uma eleição desde a redemocratização, Lula teve um início de governo turbulento. Os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro, mobilizaram toda a gestão na resposta aos atos golpistas, impedindo o presidente de dar seguimento aos compromissos de campanha.

 

Pesquisa Datafolha divulgada no último sábado, 1º, mostrou que Lula tem um início de governo com popularidade inferior à registrada nas suas duas passagens anteriores pelo Palácio do Planalto. Segundo o levantamento, a aprovação nos primeiros três meses foi 38% e a reprovação de 29%. Nos 90 dias de 2003, ele era aprovado por 43%, com apenas 10% de reprovação, enquanto a marca foi a 48% e 14%, respectivamente, no mesmo período em 2007.

 

"O risco de perder popularidade é uma grande marca desse início de mandato. É um mandato preocupado em gerar descontinuidades no cenário político desafiador", resumiu Rafael Cortez.

Contatos: giordanna.neves@estadao.com; sofia.aguiar@estadao.com; 

brunol.santos@estadao.com

 

Já o PT celebra os cem dias de Lula destacando 10 pontos positivos:

PT cita 10 ações no marco de 100 dias do governo Lula

O partido elencou medidas em áreas como agricultura, saúde, infraestrutura e direitos humano

247 - O PT citou dez ações do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lembrar que o petista completará cem dias de gestão na próxima segunda-feira (10). O presidente disse nesta quinta-feira (6) que está "satisfeito com o que conseguimos projetar nesses 100 dias". "A retomada de todas as políticas sociais que deram certo nesse País já foram retomadas", afirmou Lula durante encontro com jornalistas em Brasília (DF).

"Obviamente que elas não estão surtindo o efeito necessário, porque muitas delas estão sendo colocadas em prática há poucos dias. Mas, quando essas políticas começarem a ser implementadas, desde PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), Bolsa Família, bolsa de estudo na Capes, a gente vai ter uma mudança no ritmo da economia brasileira", acrescentou.

De acordo com a pesquisa Ipec, divulgada no mês passado, 41% dos brasileiros classificam a administração de Lula como boa ou ótima, sete pontos percentuais acima da avaliação do governo Bolsonaro em março de 2019.

Bolsa Família

Com exceção talvez das mais de 700 mil mortes na pandemia, nada foi mais irresponsável e criminoso na destruição do país que a volta da fome. Por isso, o governo Lula recriou o Bolsa Família, com mínimo de R$ 600 e adicional de R$ 150 por criança menor de 7 anos. O extra de R$ 50 para gestantes e pessoas de 7 a 18 anos chega em junho.

Parte inferior do formulário

 Agricultura familiar - Não se combate à fome sem apoiar os pequenos agricultores. São eles, afinal, que colocam cerca de 70% do que vai para a mesa do brasileiro. Por isso, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) voltou. Agora, o agricultor familiar volta a ter segurança de que pode produzir, pois receberá um preço justo pelo que colher.

Merenda escolar - É difícil acreditar, mas a merenda escolar ficou seis anos sem reajuste no Brasil. Como resultado, muitas crianças chegaram a ficar sem lanche ou passaram a ser alimentadas nas escolas com suco em pó e bolachas ultraprocessadas. Lula já começou a corrigir isso, com um aumento do valor repassado pelo governo federal a estados e municípios que vai de 28% a 39%.  

Socorro aos indígenas - É preciso reconstruir também os direitos humanos no Brasil. A eleição de Lula serviu para colocar fim a uma política assassina de perseguição às minorias sociais. E a ação mais urgente foi socorrer os indígenas, especialmente os Yanomami, que foram covardemente entregues à cobiça e desumanidade de desmatadores e garimpeiros.

Mais Médicos - Por causa de um discurso ideológico e propagandista, o Mais Médicos, que pela primeira vez levou atendimento de qualidade a áreas distantes do país e periferias das grandes cidades, foi desmontado. O povo ficou desassistido, crianças morreram. De volta, Lula reergueu o programa, que voltou melhorado e ampliado. 

Vacinação - A vacinação é uma das áreas em que a triste destruição do país fica mais evidente. O Brasil viu, por exemplo, a taxa de imunização infantil cair de 93% para 71%, segundo o Unicef. O governo Lula lançou uma ampla campanha de vacinação contra a Covid-19 e outras doenças, e vem combatendo as fake news e o negacionismo.

Minha Casa Minha Vida - Nenhum programa expressa tão bem o lema da reconstrução quanto o Minha Casa Minha Vida. Jair Bolsonaro praticamente o abandonou e ainda acabou com a Faixa 1, voltada para as famílias mais pobres. Lula relançou o programa, já concluiu e entregou mais de 5 mil casas cuja construção estava paralisada e vai contratar 2 milhões de moradias até 2026. 

Segurança e proteção às mulheres - Quatro anos de um presidente machista fizeram muito mal às mulheres. A proteção a elas volta a ser uma preocupação. Lula relançou o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), com foco no combate ao feminicídio, liberou recursos para a construção de 40 Casas da Mulher Brasileira para abrigar vítimas de violência doméstica; determinou o funcionamento por 24 horas das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher e estendeu o Ligue 180 para o WhatsApp, entre outras medidas.

Igualdade racial- Lula sabe que o Brasil só será justo e desenvolvido quando tratar com igualdade a todos os seus cidadãos. Por isso, tem preocupação especial com a questão racial. Além da criação de um ministério para esse fim, determinou reserva de vagas para pessoas negras na administração pública; criou o programa Aquilomba Brasil, para promover os direitos da população quilombola; criou um grupo de trabalho interministerial para elaborar o novo Programa Nacional de Ações Afirmativas; e determinou a conclusão do Plano Juventude Negra, entre outras medidas.

A cultura de volta - A máquina de ódio e preconceito que tentou dominar o Brasil teve como um de seus maiores alvos. O apoio à cultura voltou. Em 23 de março, Lula assinou o decreto que regulamenta o financiamento cultural no país e estabelece novas regras de acesso à Lei Paulo Gustavo, Lei Aldir Blanc, Cultura Viva e Lei Rouanet, além de outras políticas públicas para o setor. 

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Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 05 ABRIL 23

 

Trump réu, Bolsonaro, como acusado: o declínio do homem público

A crise das democracias ocidentais e o declínio do homem público já não são temas recentes. Lá atrás, 1918, Osvald Spengler, já falava em A DECADÊNCIA - DO OCIDENTE 

 https://www.estantevirtual.com.br/livros/oswald-spengler/a-decadencia-do-ocidente/3739238392 . Em 1977, outro autor, Richard Sennet, escrevia “O DECLÍNIO DO HOMEM PÚBLICO- As tiranias da intimidade” = https://www.amazon.com.br/decl%C3%ADnio-homem-p%C3%BAblico-tiranias-intimidade/dp/8501400947. O desequilíbrio da civilização moderno, desde a sociedade urbana do século XVIII ao mundo em que vivemos agora, incluindo o declínio da participação na vida política nas últimas décadas é minuciosamente tratado neste livro. Desde então vários outros analistas se debruçam sobre a crise do Ocidente, hoje mergulhado num confronto militar perigoso na Ucrânia: Decadência- O declínio do Ocidente, por Michel Onfray, O Declínio do Ocidente, por Niall Ferguson etc. Diversos artigos publicados recentemente sublinham os sintomas da crise, em especial “Os sinais de declínio estão por toda a parte “– Carta Capital, por Paulo Nogueira Batista. 

Mas nunca imaginaríamos um ex Presidente dos Estados Unidos acusado criminalmente. Ontem vimos a constrangedora figura do histriônico Donald Trump fichado em acusações por 34 violações de conduta, às quais responde fazendo-se de vítima. Já nem se discute a falsidade moral de sua relação extraconjugal com uma atriz pornô, que ele diz ter tentado esconder para que não chegasse aos ouvidos da consorte. Isso parece que virou banalidade. A acusação repousa sobre manipulação a fiscal usada para encobrir o escândalo. E este não é a mais grave acusação criminal contra Trump. Corre na Justiça do Estado da Georgia o processo relativo à sua tentativa de intimidar um servidor forçando-o a conseguir votos que o levariam à vitória sobre Biden no Estado e outro, na esfera federal, por incitação à insurreição que levou aos acontecimentos da ocupação por seus fanáticos seguidores do Capitólio, nos quais morreram 4 pessoas. À sua sombra, no Brasil, outro ex Presidente, Jair Bolsonaro, comparece hoje à Polícia Federal para se explicar sobre o caso das jóias recebidas – e supostamente “embolsadas” - da famigerada Casa Real Saudita, comprometida no esquartejamento de um jornalista opositor na sua Embaixada na Turquia. 

 

Na véspera de depoimento para a PF, Bolsonaro entrega terceiro kit de joias

A defesa do ex-presidente entregou nesta terça-feira (4) um pacote de joias recebidas em 2019, no mesmo local em que foi devolvido outro pacote em março, em Brasília.

 Não por acaso, ambos ex presidente comungam do mesmo ideário político: extrema direita. Também entendem que o mundo ocidental está em crise mas em lugar de recuperar suas instituições prometem o retorno a qualquer preço a um passado mitificado pelas mesmas palavras de ordem do fascismo: DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA. Foi com estas palavras que Mussolini comandou a famosa Marcha sobre Roma que, afinal, lhe daria o comando da Itália, inspirando um medíocre candidato a artista, Adolf Hitler, que lhe seguia os passos, ao horror da II Guerra Mundial. Para tanto, atropelam valores, colocando-se como produtores de uma nova verdade, a pós verdade, criada pela insistência na narrativa distorcida dos fatos e da história. Seguem à risca o conselho de Goebbels, chefe da comunicação de Hitler, que ensinou que uma mentira repetida insistentemente acaba se tornando verdade. Assim nasceu contemporaneamente o terraplanismo, o descrédito ´`a Ciência e suas correspondências nas Políticas Públicas, como o uso de vacinas, a crítica desmesurada às instituições republicanas, começando pelos ataques Poderes Legislativo – O Capitólio, em 6 janeiro de 2020 - e Judiciário, que só os servem se foram moldados aos seus próprios propósitos. 

Eis como hoje, O ASSUNTO, do g1, trata desta questão sob o ângulo do depoimento de Bolsonaro â PF:

 

Caso das joias é o mais prejudicial para imagens de Bolsonaro e Michelle, analisa Carlos Andreazza = Ex-presidente será ouvido nesta quarta (5) sobre tentativa de trazer joias ilegalmente ao Brasil.

 

O Assunto g1 dia 5 de abril 23: Bolsonaro de frente com a Polícia Federal

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/04/05/o-assunto-935-bolsonaro-de-frente-com-a-policia-federal.ghtml 

O primeiro dos pacotes recheados de joias foi entregue em mãos pelas autoridades da Arábia Saudita ao ex-presidente. Outros dois – um deles carregado com itens que totalizam mais de R$ 16 milhões – chegaram ao Brasil junto da comitiva liderada pelo ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque. Além das peças milionárias, os três pacotes têm em comum o fato de terem entrado no país de forma ilegal. Para investigar os potenciais crimes cometidos nesta série de eventos, a PF abriu um inquérito e intimou Bolsonaro e diversos de seus aliados – entre eles o seu faz-tudo Coronel Mauro Cid. Para explicar essa história, Julia Duailibi conversa com Carlos Andreazza, colunista do jornal O Globo e apresentador da rádio CBN e do Podcast Dois + Um. Neste episódio:

Andreazza aponta as diversas perguntas ainda sem respostas nos casos que envolvem o ex-presidente – inclusive a suspeita de lavagem de dinheiro com a ditadura saudita. “Jair Bolsonaro, mesmo usando o aparelho do Estado, agiu para reaver estes itens e levar pra casa”;

Ele afirma que a “possibilidade da inelegibilidade de Bolsonaro é concreta”, sobretudo em relação ao caso que corre na Justiça Eleitoral sobre a reunião de caráter golpista promovida pelo ex-presidente com embaixadores em 2022. E avalia que a descoberta de que seu ex-ministro da Justiça usou a PF e a PRF para realizar operações na data da votação do 2º turno pode comprometê-lo ainda mais, inclusive entre os eleitores;

O jornalista também analisa como Bolsonaro deve usar o discurso de perseguição para se fortalecer politicamente, mesmo em caso de inelegibilidade. “Será que o bolsonarismo sobreviveria sem Bolsonaro na eleição? Eu acho que sim”, afirma.

O que você precisa saber:

Bolsonaro: chega ao Brasil após passar três meses nos EUA// Presente: Bolsonaro ficou com mais um conjunto de joias// PF: na véspera de depoimento, Bolsonaro entrega kit de joias// Imagens: colar, brincos, relógio e anel que entraram no Brasil

Datafolha: 51% dos brasileiros querem Bolsonaro condenado Tribunais: os problemas que Bolsonaro enfrenta na Justiça



 Entrevista com o Professor Dr. José Clóvis Azevedo sobre o novo Ensino Médio ao Alô Comunidade em 20/03/2023 https://www.youtube.com/watch?v=zqeLxteKgx4 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 04 ABRIL 23

 

O NOVO ENSINO MÉDIO SUSPENSO

A suspensão do Novo Ensino Médio é hoje a grande manchete da imprensa nacional.

O GLOBO: “Governo prepara suspensão de prazo do Novo Ensino Médio. Mudanças iniciadas há dois anos divide analistas e o MEC”

Estado SP: “Governo atrasa reforma do Ensino Médio e mudanças no Enem. Medida ocorre após pressão de entidades contrárias a alterações aprovadas no Governo Temer”.

Folha SP: “Governo decide suspender adoção do Novo Ensino Médio. Medida a ser publicada após pressão, também afeta ENEM para se adaptar a modelo”

ZH – “Governo Federal deverá suspender aplicação do Novo Ensino Médio. Alteração que criou alternativas (Itinerários) e tornou parte do currículo flexível para os alunos vem sendo alvo de críticas” 

O Novo Ensino Médio foi uma mudança feita por iniciativa do então Presidente Temer com vistas à dar maior flexibilidade aos alunos que teriam, então, mais opções de disciplinas conforme suas preferências. 

No dia 8 de fevereiro de 2017, a medida provisória foi aprovada no Senado por 43 votos a 13, e foi sancionada pelo Presidente da República no dia 16 de fevereiro.

Na verdade, as mudanças no Ensino Médio já vinham há tempos, antes de Temer, sendo discutidas em encontros e conferências com a participação de especialistas, professores e instituições de ensino. Temer houve por bem precipitar isso tudo propondo em regime de urgência e com grande verticalidade aprovar a Lei que criou o Novo Ensino Médio, à revelia destes encontros. Deu no que deu. Um projeto idealizado, distante da realidade do país, sem condições de ser aplicado. A ideia de criar “itinerários” à escolha dos estudantes pressupõe formação de professores e adequação das escolas em todo o país para este tipo de mudança, aparentemente vitorioso nos Estados Unidos. Prejudicou, inclusive, os concorrentes ao ENEM pois muitos sequer tiveram disciplinas cujos conteúdos caem no ENEM. Fragiliza, de outra, parte a formação básica dos estudantes para a compreensão da complexa vida social em que vivem abdicando de uma formação indispensável ao exercício da cidadania.

Ontem, depois de muitas pressões de educadores do país inteiro o Governo Federal anunciou que vai suspender a adoção do Novo Ensino Médio. Um ato de coragem e determinação do Presidente Lula. Espera=se agora, uma grande mobilização do setor de forma a reconstituir os debates de Conferências anteriores e poder formular sugestões para uma nova legislação do Ensino Médio.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 03 ABRIL 23

Há 59 anos, o golpe militar 

O dia 31 de março de 1964 passou para a História como o dia do golpe militar que mergulhou o país num regime autoritário durante 21 anos, com momentos de extrema dureza política, como os anos sob o ATO INSTITUCIONAL no. 5 de 13 de dezembro de 1968 até 1979, ANOS DE CHUMBO, que fizeram milhares de exilados e presos políticos, grande parte submetida a horrendas torturas, além de centenas de mortos. A justificativa para tanto era a ameaça comunista representada pelo então Presidente João Goulart, do PTB, num dos momentos mais críticos da Guerra Fria, quando EEUU e URSS se ameaçavam reciprocamente com vastos arsenais nucleares. O golpe foi cuidadosamente preparado pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos que mobilizaram recursos, institutos, filmes e campanhas políticas no Brasil em defesa da “democracia ameaçada”. Na verdade, internamente, o Brasil vivia suas contorções, sob diversas inspirações ideológicas, para ajustar o país a um processo de modernização muito rápido e seletivo de forma a integrar grandes massas à economia e à vida pública no país. Vivíamos sob a égide da Constituição de 1946 em plena vigência do estado democrático de direito e, como tal, disseminavam-se pelo país, inclusive no campo, movimentos sociais reivindicatórios. O Governo trabalhista os acolheu e propôs um conjunto de REFORMAS DE BASE de forma a aprofundar o mercado interno através da Reforma Agrária simultâneo ao fortalecimento da SOBERANIA NACIONAL ameaçada por interesses estrangeiros. A sociedade civil ainda pouco organizada foi atropelada por intensas campanhas publicitárias e fortes apelos da Igreja Católica que acabaram sensibilizando grande parte das classes médias arrastando-as para manifestações em defesa da FAMÍLIA E DA LIBERDADE, dando aos golpistas um suporte social mínimo aos seus desígnios autoritários. Não obstante, à época Jango, Presidente, detinha mais de 70% de apoio popular às suas medidas segundo o IBOPE. Ainda assim, foi destituído e, ainda em território nacional, aqui em São Borja, RS, seu cargo foi declarado vago pelo Presidente da Câmara, que assume a Presidência, sob protestos de Jango divulgado à Nação mas jamais publicado, e procede a eleição indireta para sua sucessão. Poucos dias depois o mentor intelectual do golpe, General Castelo Branco é eleito indiretamente pelo Congresso para completar o mandato do Presidente deposto. Começava a noite de 21 anos, ao cabo do qual os militares se retiram deixando país com uma imensa dívida social, além de grande desorganização da economia abalada pelas crises do petróleo da década de 1970, cujos reflexos se fariam sentir cada vez mais intensamente, caindo, enfim, no colo da Nova República, em 1985. Em 1988 uma nova Constituição reconstituiria o fio democrático da história republicana solapada. DITADURA NUNCA MAIS!

Diante disso, se pergunta: Como a memória nacional trata deste período depois de quatro anos de um governo que pretendeu rever a história e reinventar a solução militar, instigando, inclusive, milhares de pessoas aos atos predatórios em Brasília no dia 8 da janeiro passado? O ASSUNTO, Podcast da Globo, trata disso. Reproduzimos e recomendamos a leitura e escuta:

O Assunto g1 dia 3 de abril - O Brasil e a memória da ditadura

 

Pela primeira vez em 5 anos, as Forças Armadas não celebraram a data que marca o golpe militar de 1964. É mais uma sinalização de perda de poder político da instituição que sofreu dois reveses na última semana: a decisão inédita do TRF-2 de excluir da Lei de Anistia um sargento que estuprou uma presa política em 1971, e o retorno da Comissão de Anistia – composta de nomes indicados pelo presidente Lula (PT) – desta vez com a possibilidade de reavaliação de casos já negados. Para explicar estes recentes movimentos em favor da memória e reparação, Natuza Nery entrevista Rogerio Sottili, diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog. Neste episódio:

Rogério fala sobre a importância “simbólica e política” da reparação às vítimas da ditadura, um processo que foi interrompido com o impeachment de Dilma Rousseff e precarizado nos anos de Jair Bolsonaro. “O Brasil vive sob o manto da impunidade, que possibilita a violência diária ainda hoje”, afirma;

Ele comenta o julgamento do STF em relação à Lei de Anistia e defende que os crimes de lesa-humanidade (como tortura e estupro) não estão submetidos a ela: “Ninguém está preocupado com crimes do passado, mas com o presente e o futuro do Brasil”;

Rogério acusa os militares – que assumiram a Comissão da Anistia no mandato de Bolsonaro – de “sinalizarem ameaças” e "se confundirem sobre o seu papel” no regime democrático: “Uma visão completamente avessa à democracia”.

O que você precisa saber:

1ª sessão: Comissão de Anistia retoma julgamentos da ditadura// Nova composição: os nomes que integram a Comissão de Anistia//Ministro da Defesa: 'militar em função política fere hierarquia'// Golpe: Forças Armadas não comemoram pela 1ª vez em 5 anos

VÍDEO: a importância da Lei da Anistia durante a ditadura

O Podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Tiago Aguiar, Gabriel de Campos, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski, Eto Osclighter e Nayara Fernandes. Apresentação: Natuza Nery.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 31 março 23

Começou o Governo Lula III

Paulo Timm – Publ. A FOLHA, Torres RS 31 março 23

Haddad e Tebet fazem Bolsonaro desaparecer com o Arcabouço Fiscal nhttps://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2023/03/30/haddad-e-tebet-fazem-bolsonaro-desaparecer-sob-o-novo-arcabouco-fiscal.htm

Começou (de vez) o Governo Lula III

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O Assunto g1 dia 31 de março 23 -A nova regra fiscal

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/03/31/o-assunto-932-a-nova-regra-fiscal.ghtml 

Durante a campanha à presidência, Lula (PT) deixou claro que uma de suas prioridades seria o fim do teto de gastos - nesta quinta-feira (30), a proposta que substituirá o teto foi apresentada. Sob comando de Fernando Haddad, a equipe econômica tentou um malabarismo para encontrar uma fórmula que unisse responsabilidade fiscal com expansão do investimento público.

O que você precisa saber:

• Regra fiscal: proposta do governo para substituir teto de gastos

• Arcabouço fiscal: prevê alta de gastos em saúde e educação

• Haddad: diz que governo não vai elevar receita com impostos

• Repercussão: o que políticos dizem sobre a proposta do governo

• ENTENDA: o ponto a ponto das regras do novo arcabouço fiscal

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Míriam Leitão - O grande ajuste de Haddad e Lula - O Globo

O ministro da Fazenda e o presidente aprovaram uma proposta forte de ajuste fiscal de três pontos percentuais do PIB em um mandato - https://gilvanmelo.blogspot.com/.../miriam-leitao-o...

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Lula tomou posse em clima de festa no primeiro dia do ano. O mundo o saudou como uma vitória da democracia no Brasil. Milhares o aplaudiram, ao lado da elegante Janja, na Praça dos Três Poderes. Uma semana depois tomou um susto: a tentativa de golpe com o quebra-quebra em Brasília. Era uma advertência de que os tempos haviam mudado e que a vitória para o terceiro mandato havia sido não só apertada, mas também frágil. A cabeça dos brasileiros, aliás, a despeito da já madura vigência da Constituição de 88, distante do golpe de 1964, ainda está muito confusa quanto à conceitos fundamentais da vida pública. Veja-se este artigo publicado nesta semana:

 Irapuã Santana - O desafio da reconstrução - O Globo

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../irapua-santana-o...

Estamos nos colocando para discutir sem ao menos definir o quê. Falamos para nós mesmos, xingamos e excluímos quem está de fora

Ninguém se entende, seja no grupo de zap, seja no Facebook ou noutra rede. Por sorte, ainda resta alguma zona segura nos barzinhos pelas ruas país afora.

Mas algumas coisas chamam a atenção em todas essas discussões, como a ausência de presunção de boa-fé da pessoa com quem a gente conversa, bem como uma delimitação rígida e evidente do tema em questão. Por fim, mas não menos importante, nem sequer existe um consenso sobre o significado do assunto. Os exemplos podem ser muitos: desde se a Terra é redonda, passando pelos elementos sociais que geram discriminação, até se é possível contestar a ciência.

Quando falamos de política, então, ninguém se entende. O estudo “Realities of Socialism”, do Fraser Institute — produzido em conjunto com think tanks nos Estados Unidos, na Austrália e no Reino Unido — mostrou que em torno de metade dos jovens desses países entre 18 e 24 anos se declara socialista. Mas, quando se pergunta o que entendem por socialismo, o índice despenca. Apenas 25% desse grupo define como o modelo classicamente estabelecido. Todo o restante acha que socialismo é o governo oferecer mais serviços à população mais carente e garantir renda mínima a quem precisa. O interessante é que, por esse entendimento, até o liberalismo tem similaridades com esse modelo de atuação do Estado.

Aqui no Brasil, depois do 8 de Janeiro, a AtlasIntel realizou uma série de pesquisas para nos ajudar a compreender o país em que estamos. De acordo com o levantamento, 75,8% dos brasileiros discordavam da ação dos manifestantes que invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF. Mas o que mais se destacou na pesquisa foi 39,7% dos entrevistados declararem que Lula não ganhou mais votos do que Bolsonaro. Depurando ainda mais os dados, vemos que 36,8% defendiam uma intervenção militar para anular a eleição de Lula, e apenas 9,5% defendiam uma nova ditadura militar. Note-se que são pontos distintos.

Isso é importante para mostrar a real intenção das pessoas, dentro da complexidade do mundo real. Uma pesquisa Ipec, de outubro do ano passado, perguntou quanto as pessoas consideram importante viver num país democrático. Somente 2% deram a nota mínima, enquanto 85% atribuíram notas de 8 a 10. Quando passamos à definição do alcance, 41% dos entrevistados disseram que democracia é importante apenas para quem acredita nos mesmos valores que eles, transmitindo uma ideia de superioridade moral e autoritária. Por fim, na pergunta sobre o que acham da frase “democracia é permitir que forças militares intervenham quando o governo for incompetente”, 39% concordaram totalmente.

Isso tudo mostra que estamos mais atrasados do que pensávamos. Estamos nos colocando para discutir sem ao menos definir o quê. Falamos para nós mesmos, xingamos e excluímos quem está de fora, tornando o desafio de reconstrução ainda muito maior.

Mas Lula foi competente no 8 de janeiro: Em menos de 24 horas já havia tomado o pulso do Governo, com o apoio inédito e maciço do Poder Judiciário, das duas Casas do Legislativo, de todos os Governadores , da Imprensa e da opinião pública. Os militares, histórica incógnita, se aquitaram no legalismo e já apoiam Projeto que afastará militares que optarem pela via política. Desde então, Lula tomou medidas importantes, mas todas, ou quase todas, voltadas ao seu público eleitor: brasileiros que ganham até dois salários mínimos. A poucos dias dos cem primeiros dias do Governo elas deverão ser inteiramente arroladas, como a dizer: Yes, nós agora temos governo: Retomou o Bolsa Família que deverá retirar da fome cerca de 3 milhões, reavivou o Minha Casa, Minha Vida, aumentou o valor das bolsas de pesquisa e, sobretudo, interveio com firmeza na salvação dos Yanomamis, de lá retirando desmatadores e garimpeiros ilegais com o que diminui, em 30 dias, em 76% o desmatamento na área. Tudo conforma promessa de campanha. Mas, apesar de tudo isso, pairava no ar um sentimento de precariedade traduzido pela grande mídia corporativa como ausência de um projeto nacional para o futuro e de medidas que fossem mais além do eleitorado cativo de Lula. A Cientista Política Maria Hermínia Tavares da Silva, a propósito escreveu nestes dias este sugestivo artigo na FSP: Às classes médias 'órfãs de governo' - https://gilvanmelo.blogspot.com/.../maria-herminia... 

Lula era acusado de estar governando pelo espelho retrovisor, onde não teriam faltado provocações desnecessárias ao Presidente do Banco Central – “este cidadão” – ou ao ex Juiz Moro. Aí sobreveio a pneumonia, o cancelamento da viagem à China e, subitamente, precipitou-se uma nova conjuntura. Aos três meses da posse, hoje, dia 30 de março, descortinou-se um cenário diferente no país.

Na manhã do dia 30 desembarcou no Aeroporto de Brasília o ex presidente Jair Bolsonaro. Um desembarque melancólico, acompanhado ao longe por algumas centenas de dispersos apoiadores do “mito”, hoje acossado por uma dezena de processos, dentre os quais o dos “presentes” milionários recebidos pela Arábia Saúdita. O último estojo de jóias que está na fazenda de Nelson Piquet deverá ser devolvido até o dia 10, quando o Presidente será ouvido pela Polícia Federal. Desceu e se dirigiu à sede do PL, cumprimentando o Presidente desta sigla, ex condenado em processos de corrupção, de “Chefe”. Contudo, a Presença inofensiva – e defensiva - de Bolsonaro, que declarou ao desembarcar serem as eleições de 22 “página virada” parece que confere à Lula uma certa tranquilidade. O dito bolsonarismo terá que se haver, doravante, de um lado, com a presença de um líder sem caneta nem cartões corporativos milionários para pagar as motociatas, de outro, com os concorrentes da corrente ideológica da direita para se afirmarem sobre seu vácuo, a grande maioria, como os Governadores de São Paulo e Minas, avessos ao extremismo golpista. 

Mas o dia 30 trouxe, também, o anúncio do esperado Arcabouço das Contas Públicas que se oferece, então, como um verdadeiro projeto nacional capaz de retirar o país do tudo ou nada da PEC do Teto de Gastos. Isso alivia e diversifica não só o discurso econômico sobre as possibilidades de governança mas também o próprio discurso de confronto político, o que é saudável à democracia. Mais uma vez, Congresso, Imprensa e opinião pública se juntam em torno de Lula celebrando, enfim, sua segunda posse. Não se trata de alinhamento ideológico com o Presidente, apenas o mínimo de consenso, indispensável à retomada do crescimento e da normalidade institucional no país. Vamos ao campeonato, cujas prévias serão as eleições municipais do ano que vem. Em paz. Já começaram as pesquisas eleitorais em várias capitais. Mais um pouco e teremos candidatos disputando espaços nos Partidos para garantirem suas indicações. Tudo como dantes no quarte de Abrantes. Sem atropelos Vida que segue, como este Outono quente se segue ao Verão que se foi...


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 30 MARÇO 23

A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

Alguém escreveu, outro dia, no FACEBOOK, que, sim, devemos nos preocupar em garantir um meio ambiente adequado às futuras gerações mas que também devemos preparar melhor estas gerações para um futuro cada vez mais tenso e incerto. Isso porque a violência vem sendo cada vez mais observada na juventude e explode nos ataques com armas nas Escolas. Diariamente, porém, esta violência frequenta os ambientes juvenis na forma de bullings, provocações e brigas. O recente ataque a faca de um jovem de 13 anos em São Paulo que provocou a morte de uma professora de 71 anos e ferimentos em outras e em alguns alunos traz o assunto à tona. O Governador de São Paulo respondeu ao fato prometendo colocar policiais aposentados e reformados dentro das Escolas. A sociedade rejeita esta fórmula. Mostra que não funciona. E que é necessário operar preventivamente no acompanhamento psicológico dos jovens nas Escolas. O assunto é complexo. Hoje o g1 dedica uma reflexão crítica a ele. Vale a leitura:

Culto às armas e ideias extremistas acendem alerta para ataques em escolas

Segundo professora, a disseminação de discursos de ódio contra minorias tem encorajado atos agressivos.

Por g1 - 30/03/2023 05h01 Atualizado há 52 minutos

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A morte da professora de biologia Elizabeth Tenreiro, de 71 anos, em um ataque brutal na Escola Estadual Thomazia Montoro, Zona Oeste da capital paulista, levantou um alerta: atentados nas escolas. Nesta duas semanas, outras duas instituições sofreram ameaças e os casos são semelhantes.

Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, atribui a repetição dos ataques à disseminação de ideias extremistas, discurso de ódio e culto às armas entre jovens.

"Isso está cada vez mais na superfície da internet", avalia Telma em entrevista a Natuza Nery.

Coordenadora do grupo de ética, diversidade e democracia na escola pública, ela ressalta que as redes sociais têm possibilitado o acesso a ambientes fortalecidos por discursos de ódio.

Aluna acende vela durante uma vigília em escola após ataque deixar professora morta em SP — Foto: REUTERS/Carla Carniel.

Mais de 10 escolas sofreram ataques de alunos e ex-alunos desde Realengo, em 2011

"A gente vê um aumento da cultura da violência, um discurso social autorizando o tratamento dos conflitos pela violência, não pela palavra", diz.

Antes do ataque, Elizabeth Tenreiro havia tentado apartar uma briga na qual o autor do atentado cometeu racismo contra outro aluno da escola.

Segundo Telma, a disseminação de discursos de ódio contra minorias tem encorajado atos agressivos. "É como se dando permissão para agir."

Ouça a entrevista completa no Podcast O Assunto

Veja também

Redpill, Incel, MGTOW: entenda o que acontece em grupos masculinos que pregam ódio às mulheres



 

 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 29 MARÇO 23

“Los Hermanos” cada vez mais acossados pela inflação e crise se preparam para votar de novo. Em quem?

A Argentina é um verdadeiro desafio aos analistas do mundo inteiro. O país tinha tudo no início do século XX, depois de um intenso crescimento a partir de 1870 para se tornar, como o Japão e Alemanha, que também mudaram suas estruturas no último quartel do século XIX, potência mundial. Mesmo em 1945, no pós-guerra, a Argentina ainda era uma potência econômica mundial, com uma população educada e capacidade de exportação de trigo, petróleo e carne. Esta foi a época de Perón no Governo, que governou por dez anos e reeditou os anos de ouro já vividos pelos argentinos no início do século. A Argentina deu a América Latina nesta época, 1949, um dos mais lúcidos economistas do continente, RAUL PREBISCH, que confrontou os liberais que apostavam na vocação primário exportadora de nossas economias e propugnou pela INDUSTRIALIZAÇÃO de nossos países. O Brasil, com Vargas, a partir de 1951 trouxe o escritório da CEPAL/ONU para o Rio de Janeiro e seguiu lhe os conselhos, aos quais se somaram no período JK e Jango, os de CELSO FURTADO. Industrializamo-nos, aqui, rapidamente e ultrapassamos a Argentina, mesmo com menor capacidade de exportação para financiar este processo e com níveis educacionais da população sensivelmente menores. Mais tarde, a partir de 1976, a ditadura militar Argentina, aconselhada pelo radicalismo liberal, praticamente liquidaria o parque industrial do país reorientando a economia argentina ao modelo primário exportador. Agora, depois de 40 anos da redemocratização e da punição aos militares, começando pelo ex Presidente Videla que morreu na prisão, somam-se já nove grandes crises no país e não se vê nada além do que José Luiz Fiori fala: o efeito “gangorra”. Uma sucessão de políticos, ora à esquerda, ora à direita, sem resultados palpáveis na economia. 

Neste ano, em outubro, os argentinos se preparam para votar de novo. Enfrentam uma conjuntura inflacionária de 100% ao ano, alto nível de desemprego = 70% dos novos trabalhos são informais e pobreza crescente. Com 43% de sua população abaixo da linha de pobreza e vivendo de subsídios governamentais -. Com este cenário, nem Macri, de direita, que perdeu as últimas eleições, nem Fernandez, peronista, atual presidente, terão condições de se apresentarem. Cristina Kirchner ainda é o nome mais popular junto ao eleitorado de esquerda, mas, foi preventivamente suspensa de suas atividades políticas. Com isso, los hermanos se perguntam se perguntam, perplexos: - “Hacia donde nos vamos”.

 

Como ilustração, vale a leitura do artigo abaixo, de J.L.Fiori, embora de 2012, e o CAFÉ DA MANHA Podcast do grupo Folha de hoje 

https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/03/podcast-explica-os-impactos-da-crise-na-argentina-em-ano-de-eleicoes.shtml    

Podcast explica os impactos da crise na Argentina em ano de eleições. Repórter conta como população lida com hiperinflação de 100% ao ano e aumento da pobreza

 

José Luís Fiori: O protótipo argentino

Foi em 1949, que Raul Prebish (1901-1986) publicou sua famosa crítica da teoria das “vantagens comparativas” e formulou sua teoria do desenvolvimento econômico “periférico”, baseado na experiência histórica da Argentina.

Por José Luís Fiori*, na Carta Maior = Publicado 09/11/2012 19:15

As ideias de Prebish ocuparam um lugar central no “debate do desenvolvimento”, da segunda metade do século 20, mas a Argentina acabou se transformando no protótipo do “modelo primário-exportador” incapaz de se industrializar e que teria ficado à deriva, depois da crise de 1930.

Como nos EUA, Alemanha e Japão, a Argentina também viveu uma extraordinária transformação econômica e social, entre 1870 e 1920. Apesar de suas grandes crises e depressões cíclicas, no longo prazo, o desenvolvimento argentino foi bem sucedido, do ponto de vista dos indicadores clássicos utilizados pelos economistas.

Sua história econômica, entretanto, não parece confirmar este pessimismo, porque apesar de suas grandes crises e depressões cíclicas, no longo prazo, o desenvolvimento argentino foi bem sucedido, do ponto de vista dos indicadores clássicos utilizados pelos economistas, mesmo depois dos anos 30.

Como nos Estados Unidos, Alemanha e Japão, a Argentina também viveu uma extraordinária transformação econômica e social, entre 1870 e 1920. Foi sua “idade de ouro”, porque, em 40 anos, seu território mais que triplicou; sua população multiplicou por cinco; sua rede ferroviária passou de 500 para 31100 km; e seu PIB cresceu à uma taxa média anual de cerca de 6% (talvez a maior do mundo, no período), enquanto sua renda per capita crescia à uma taxa média de 3,8%. Como resultado, no início do século 20, a Argentina estava entre os sete países mais ricos do mundo, e sua renda per capita era quatro vezes maior que a dos brasileiros, e o dobro da dos norte-americanos.

Neste período, seu crescimento econômico foi liderado pela exportação de bens primários, mas se deu também na indústria, e contou com os investimento na construção da rede ferroviária que integrou o seu mercado nacional, antes do fim do século 19. Ao redor de 64% da sua população trabalhava na indústria, comércio ou setor de serviços, e 1/3 dos argentinos viviam em Buenos Aires, uma cidade com alto nível educacional e cultural. Ou seja, na altura da 1º Guerra Mundial, a Argentina era o país mais rico do continente latino-americano e tinha todas as condições para se transformar na sua potência hegemônica, e talvez, numa potência econômica mundial. Mas não foi isto que aconteceu, sobretudo depois de 1930, apesar de que sua economia tenha seguido crescendo e se industrializando, e que sua sociedade tenha seguido enriquecendo e melhorando sua qualidade de vida. Mesmo depois da II Guerra Mundial, a economia argentina cresceu a uma taxa média de 3,78%, entre 1950 e 1973; e de 2,06%, entre 1973 e 1998.

Depois de 1930, entretanto, seu crescimento se deu de forma cada vez mais instável, através de ciclos cada vez mais curtos e intensos. Raul Prebish atribuiu esta inflexão às mudanças internacionais, e à forma em que operava o novo “centro cíclico” da economia mundial, os EUA, somado à fragilidade industrial endógena das economias “primário-exportadoras”. Mais tarde, os ortodoxos e neoliberais atribuíram a culpa desta mudança de rumo argentina às políticas econômicas populistas do governo Juan Domingos Perón, apesar de que Perón só tenha governado, entre 1945 e 1955, e entre 1973 e 1974.

Existe, entretanto, outra maneira de olhar para a história da Argentina, entre a Revolução de 25 de Maio de 1810, e a destituição do presidente Hipólito Yrigoyen, no dia 6 de setembro de1930, início do que os argentinos chamam de sua “década infame”. Depois da Guerra da Independência (1810 e 1816), a Argentina viveu meio século de guerra civil quase permanente, até a assinatura da Constituição de 1853, que criou o Estado Nacional da Argentina.

Mesmo contra a resistência de Buenos Aires, que só se submeteu definitivamente em 1862. Depois disto, a Argentina participou da Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870, e logo em seguida o estado argentino iniciou suas guerras de “Conquista do Deserto”, que duraram toda a década de 1870. A conquista militar do “oeste argentino” permitiu a expansão/ocupação econômica contínua de novos territórios, até o fim da década de 1920. Por isto, se pode dizer que o estado “liberal” argentino nasceu de uma guerra civil que durou meio século, e se consolidou através de uma estratégia expansiva de ocupação de novos territórios que durou mais meio século, e foi financiada pelo sucesso do seu “modelo primário-exportador”. E foi exatamente no fim desta expansão que estalou a crise política responsável pela desorganização periódica do estado e pela polarização definitiva da sociedade argentina.

Durante a “década de infame”, seus vários governos praticaram políticas econômicas keynesianas e chegaram mesmo a iniciar um ambicioso programa de industrialização, idealizado pelo próprio Raul Prebish. O que lhes faltou, entretanto, foi uma nova estratégia expansiva e de longo prazo, e um grupo capaz de transformar a economia argentina num instrumento de sua própria acumulação de poder internacional. Fica a pergunta: isto teria sido possível, num país situado fora do espaço eurasiano, e do Atlântico Norte? Pelo menos, os “dependentistas” e os “neoliberais” consideram que não.

*José Luis Fiori é professor titular de Economia Política Internacional da UFRJ e coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo".


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 28 MARÇO 23

A democracia balança em Israel

O Estado de Israel, no Oriente Médio, é um Estado relativamente novo, apesar de suas raízes bíblicas como invólucro do povo judeu. Data do pós-guerra, num gesto de reconhecimento internacional ao sofrimento do holocausto nazifascista de extrema direita, para o qual contribuiu o Brasil ao ter seu representante, Osvaldo Aranha, um gaúcho, aliado de Vargas, na Presidência da Assembleia das Nações Unidas que o fundou em 1948. Desde então, Israel, que não tem propriamente Constituição, tornou-se uma referência democrática interna no Oriente Médio. É um país que tem instituições sólidas, um sistema político estável com amplo arco ideológico, compreendendo, inclusive um segmento árabe de sua população, pratica eleições em regime parlamentarista. O confronto, porém, com os palestinos, extensivo ao mundo árabe que, desde sempre, contestou a criação de Israel sobre o território palestino, contrariando os próprios supostos do Direito Internacional que passou a regular a descolonização no mundo, pautado pelo respeito à autodeterminação dos povos – no caso, palestina, que constituía o grosso da população na região – e pelo respeito às fronteiras herdadas do período colonial, foi enrijecendo e fortalecendo os grupos nacionalistas e religiosos de direita internamente. Isso resultou no enfraquecimento das correntes moderadas do eleitorado. E culminou com a afirmação do atual Primeiro Ministro Netaniahu há praticamente 13 anos no Poder, apesar das fortes denúncias de corrupção que o afligem. Há 3 meses, Nataniahu radicalizou e tenta controlar a Suprema Corte do país, ideal de todo autocrata sedento de poder pessoal. Quer transferir o direito à última palavra nos litígios entre os Poderes ao Legislativo, que controla. Isso sacudiu o país que despertou para a tentativa de golpe do Primeiro Ministro. Deslocar a responsabilidade do último erro institucional para o Legislativo, sob a argumentação de que ele tem maior representatividade do que o Judiciário é uma antiga aspiração de fascistas, populistas e autoritários. Alegam sempre o recurso ao povo como critério de legitimidade descuidando da importância das instituições. Ao final, acabam sempre atropelando, como fez Mussolini, Hitler, aqui no Brasil o regime militar que manteve o Parlamento, mas sob o acicate de cassações e Atos Institucionais. A liberdade, para eles, é sempre retórica e instrumental. No fundo são liberticidas. Prova-o a história.

Eis o desenrolar da situação, já crítica porque a controvérsia chegou aos quartéis, em Israel, hoje tratada pelo ASSUNTO do G1:

O Assunto g1 dia 28 de março: Israel - protestos históricos e a democracia em xeque - https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/03/28/o-assunto-929-israel-protestos-historicos-e-a-democracia-em-xeque.ghtml 

Há três meses, ondas de manifestantes avançam sobre as ruas de diversas cidades israelenses – um fenômeno que culminou no maior dos atos, com mais de 600 mil pessoas neste fim de semana e decretou greve geral. O estopim foi a exoneração do ministro da Defesa, demitido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu depois de se opor à proposta do governo de uma reforma do Judiciário. Netanyahu se uniu aos partidos mais radicais e ultra religiosos para voltar ao poder em novembro do ano passado, após sucessivos escândalos de corrupção. Desde então, acentuou a guinada de Israel à extrema-direita. Para descrever os protestos contra a reforma judiciária e os riscos à democracia e à segurança dos grupos minoritários, Natuza Nery conversa com Paola de Orte, correspondente da GloboNews e do jornal O Globo no Oriente Médio, e com Michel Gherman, professor de sociologia da UFRJ e do Instituto Brasil-Israel. Neste episódio:

Paola narra o clima das ruas de Tel Aviv: o que dizem os manifestantes, os serviços paralisados, a reação da polícia e a ameaça de radicais conservadores. Ela alerta para o risco de que, em breve, "pode ser que comecem os atos de violência";

A jornalista informa como a proposta de reforma polariza a sociedade israelense, gera oposição até de setores militares e “abala a segurança e a economia do país” - resultado da aliança inédita entre Netanyahu e os grupos extremistas religiosos: “Esse é um momento definidor”;

Michel descreve os “três pontos fundamentais” da reforma do Judiciário: a escolha dos juízes da Suprema Corte, a possibilidade do Parlamento de reverter decisões do Supremo e a perseguição a grupos minoritários. “É um projeto de autoritarismo e ditadura, sem sombra de dúvida”, afirma;

Ele também explica que Israel passa por um “momento inédito”, mas é também a ponta de lança de um movimento transnacional de extrema-direita e neofascista, do qual fazem parte Trump, Orban e Bolsonaro. “Quem vai salvar Israel é a sociedade civil. A extrema-direita perde diante da frente ampla”.

O que você precisa saber:

Israel: premiê adia reforma do Judiciário após protestos// Ministro da Defesa: exonerado por postura contra reforma // Netanyahu: aval do Parlamento rumo a regime autoritário// Governo: sobrevive a moção de censura sob greve e protestos// Militares: por que se opõem a reforma proposta por Netanyahu

A propósito, neste dia 31 rememora-se, com tristeza, o golpe militar de 1964, agora já sem celebrações segundo determinação do atual Comandante do Exército. Tempo de reflexão.

Pessoas queridas - Nesta semana, o golpe militar de 64 completa 59 anos. E no ano de retomada da democracia, a TV Brasil, canal de todos os brasileiros, volta à sua missão de informar e apresentar os fatos

A partir de hoje, segunda (27), vamos exibir a série Passado Presente - Semana Ditadura e Democracia, uma série de debates seguidos de documentários que vão ao ar a partir das 22h. Com mediação de Cristina Serra, especialistas, historiadores e comunicadores vão falar sobre os horrores do passado e os ataques recentes a nossa democracia. - Compartilhe a chamada nas suas redes: https://www.instagram.com/reel/CqJgheEPfJN/

Golpe de 1964 completa 59 anos - por Frei Betto https://red.org.br/noticia/golpe-de-1964-completa-59-anos/


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 27 MARÇO 23

Deus escreve certo por linhas tortas

A pneumonia de Lula levou-o a cancelar a visita à China, da qual esperavam-se muitos trunfos econômicos. Tudo a leva a crer, entretanto, que esta viagem estava programada antes mesmo da posse de Lula, no contexto de capitalizar sua boa imagem externa para recuperar a imagem do Brasil no exterior. Com Bolsonaro ela caiu abaixo do nível crítico. A situação interna do país, entretanto, não era muito compatível com esta viagem, que coloca, ademais o Brasil na mira dos americanos hoje empenhados em fazer o Império do Meio o grande inimigo do virtuoso “Ocidente”. Leia-se, por exemplo, o artigo de LUIZ CARLOS AZEDO, D.A. de ontem: “ Parceria com a China pode estressar relação com os EUA” - https://gilvanmelo.blogspot.com/.../luiz-carlos-azedo.... De resto, estamos com uma Agenda interna pendente do encaminhamento do novo arcabouço fiscal, cuja aprovação poderá acalmar os ânimos da próxima reunião do COPOM em maio quanto ao valor da SELIC. As tentativas de intimidar o “autônomo” Banco Central não funcionou. Vamos ver os resultados dos indicadores da inflação em março e abril e esperar o melhor: um alívio nos juros que já provoca uma crise de estrangulamento do crédito. Para complicar o cenário interno adveio, ainda, uma crise entre a Câmara e o Senado sobre a questão da apreciação das Medidas Provisórias, grande parte delas de origem do Governo Lula, inclusive organização do governo. O Presidente do Senado, com base na Constituição e ritos anteriores à pandemia determinou , unilateralmente, a apreciação destas MPs por Comissões Mistas, paritárias, do Senado e Câmara. O Presidente da Câmara não gostou e chiou alto, do alto de sua verdadeira supremacia, quase monárquica, naquele Casa. O assunto se complicou e exigiu a intervenção do próprio Lula que, nesta semana, deverá contribuir para desatar o nó institucional. Como se vê, tudo conspirava para o cancelamento da viagem à China que deverá, doravante, ser marcada sem açodamento. Primeiro, a arrumação da Casa.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 24 MARÇO 23

A viagem de Lula à China

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Por que viagem de Lula coloca Brasil no centro da disputa entre China e EUA? 

'Governo norte-americano tenta pressionar Brasil para escolher um aliado, mas não oferece alternativa às propostas chinesas', resume coordenadora de Relações Internacionais da FAAP

Na China, Lula mira ampliar venda de produtos a um país em desaceleração - Gigante asiático é o principal parceiro do Brasil, mas não desfruta mais dos tempos áureos de crescimento de dois dígitos.

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Lula fará, neste fim de semana, a viagem mais expressiva ao exterior desde que assumiu seu terceiro mandato. Vai à China acompanhado de duas centenas de políticos e empresários. Esta viagem se realiza num momento em que a China está estigmatizada como “inimiga” dos Estados Unidos, o qual luta para manter sua hegemonia sobre um grupo de países cada vez mais estreito que denomina “Ocidente” que tem seu campo econômico em torno do Oceano Atlântico. Lula já foi aos Estados Unidos a convite do Presidente Biden e voltou com uma promessa de 50 milhões de dólares para o Fundo Amazônico. Agora vai à China em busca de parcerias e investimentos. Terá que pisar em ovos para evitar confronto com os americanos. Afinal, desde a Doutrina Monroe o Grande Irmão trata o continente como seu quintal. Nele estamos ocupando um imenso espaço. Um passo em falso, começa a desestabilização...A verdade, porém, é que não dá mais para desconhecer que a glamourizada globalização dos anos 90, sob a “Pax Americana”, já caiu por terra diante dos conflitos que provocou em várias partes do mundo: muçulmanos, Rússia, Oriente Médio e América Latina. Além disso, a China já domina o comércio mundial, avança tecnologicamente, retirou 400 milhões da pobreza incorporando-os ao seu mercado interno e tem 4 trilhões de dólares em reservas para a cooperação internacional. Por isso, talvez, sua imagem na própria América Latina, como demonstram pesquisas de opinião, seja melhor do que a dos americanos, sempre associados à intervenções, anexações de território, golpes e interesses imperiais. Lula, enfim, não pode perder de vista a importância da China como principal comprador e grande investidor no Brasil, mas terá que medir palavras e passos para garantir uma posição que mais se assemelhe a um “Não Alinhado”, dos anos 70, do que mais um “Aliado” do Eixo China-Rússia-Irã. Abaixo, mais reflexões sobre o tema no g1.

 

Por que viagem de Lula coloca Brasil no centro da disputa entre China e EUA? 

'Governo norte-americano tenta pressionar Brasil para escolher um aliado, mas não oferece alternativa às propostas chinesas', resume coordenadora de Relações Internacionais da FAAP.

A comitiva de Lula embarca neste domingo (26) à China no que promete ser uma das viagens internacionais mais importantes do ano.

Acompanhado de mais de 200 empresários – 90 deles do setor do agronegócio –, o presidente vai buscar reforçar laços com Pequim e diversificar os produtos que o Brasil exporta para um de seus principais parceiros comerciais.

No cenário internacional, a viagem ainda coloca o governo brasileiro no centro da disputa entre China e Estados Unidos.

"Os americanos se ressentem dessa aproximação", resume Fernanda Magnotta, coordenadora do curso de Relações Internacionais na FAAP.

"Quando o congresso americano se incomoda com o Brasil, de certa forma está tentando elevar a pressão para que o governo brasileiro seja obrigado a escolher um aliado", explica ela em entrevista a Natuza Nery.

Os EUA, no entanto, têm tido dificuldade em apresentar uma alternativa às propostas chinesas.

"Os chineses despejam recursos na região e têm termos de negociação muito mais flexíveis", analisa Fernanda. "Para o Brasil e para o presidente Lula, o que interessa é uma diplomacia plural, que permita diálogos com diferentes parceiros. É isso o que Lula sempre defendeu e é por isso que vai tentando administrar os dois lados."


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 23 MARÇO 23

Banco Central peita o Governo, sociedade civil e até analistas da Mídia e mantém juros altos: 13.75%

Ontem foi dia de grande expectativa em razão da reunião do CONSELHO DE POLÍTICA MONETÁRIA – COPOM – ainda com maioria de seus membros indicados pelo Governo Bolsonaro para decidir sobre o juro básico da economia conhecido como SELIC. Ao final de tarde, soou o gongo e a SELIC permaneceu no alto patamar de 13.75% , com anúncio de que poderá até se elevar na próxima reunião do COPOM, em maio, se não houverem indicações de refluxo na taxa de inflação e melhores indicações sobre gastos do Governo. Um verdadeira soco no Governo que reagiu com falas duras da Presidente do PT, Glaysi Hoffman e até provocadoras do Deputado PT Lindberg, que vê no ato do BC sabotagem ao Governo Lula e mais conciliadoras, embora preocupantes, do Ministro Haddad.

O assunto juros, como de resto outros indicadores econômicos como câmbio, PIB etc é controverso e os economistas, tanto quanto os políticos se dividem sobre a matéria. Há os ortodoxos, para os quais o sistema é o que é e sobre o qual eles devem agir com vistas a satisfazer apetites e interesses do mercado; e há os heteroxos, críticos do sistema econômico como ele tem se estruturado nas últimas décadas, com forte predomínio do setor financeiro à revelia do lado real da economia, para os quais há necessidade de maior regulação. Os ortodoxos, no comando da economia brasileira desde a queda de Dilma Roussef, se guiam pelo “mercado”, os heterodoxos, que agora voltam ao Governo com Lula III, acreditam que este “mercado” deve ser submetido a freios e contrapesos do Estado. Os primeiros primam pelo “equilíbrio” das contas públicas e estabilidade da moeda; os segundo, pelos imperativos da construção da cidadania e promoção do desenvolvimento. A controvérsia não é novo. Vem de muito tempo. Já na época de Vargas, mas sobretudo depois que seu sucessor JK rompeu com FMI com vistas à promoção industrial no país, o debate acendeu e acabou conformando os grandes marcos do pensamento econômico no Brasil. Hoje, claro, tudo é mais complexo, mas subsistem os fundamentos para cada um destes grupos de economistas. De resto, a tendência ortodoxa, depois de praticamente extinta como orientação à governança das economias modernas com o advento da obra de Lord Keynes, em 1936, voltou à carga nos anos 80 com La Tatcher e Ronald Reagan passando a se converter um modelo para o mundo inteiro desde que, em 1989, se proclamou o CONSENSO DE WASHINGTON, um conjunto de regras a serem seguidas por instituições financeiras e governos do mundo inteiro. Claro que Governo fora do âmbito da hegemonia americana, como China, Rússia etc. não tomam conhecimento destas regras e fundam os seus próprios conceitos de Governança. Mas na América Latina, de forte tradição desenvolvilmentista, com epicentro do Brasil que foi o país que levou mais longe a heterodoxia com o impulso que deu à industrialização no pós-guerra, as regras ortodoxas de Washington, do FMI e das escolas que se guiaram pelos ensinamentos da Universidade de Chicago que formou os famosos “Chicago Boys” que ajudariam Pinochet no Chile, como Paulo Guedes, reagem e procuram caminhos próprios para sua governança. Isso , enfim, é o que está por trás do confronto entre Governo X Banco Central na questão dos juros. O Governo Lula é herdeiro da tradição desenvolvimentista e se enfrenta com uma direção do BANCO CENTRAL autônomo que segue o receituário dito neoclássico ou neoliberal: Há indícios de aumento dos preços, eleve-se a taxa de juros, mesmo que isso leve à destruição, para eles “criadora”, ou saneadora, de empresas. Myriam Leitão, bastante influenciada nos últimos anos pelos conservadores neoliberais destaca há dias este confronto e até admite, mesmo, que o BACEN está levando a sério demais a fórmula. Outros economistas, como Monica de Bolle, também liberal, acha que a fórmula é certa mas que a dose é excessiva e que pode levar à recessão ou disparada cambial. Lara Rezende, outro economista famoso, um dos pais do Real, já rompeu com a ortodoxia e hoje influencia o próprio Presidente Lula e Haddad. A guerra, enfim, sobre juros, não se encerrou e terá, certamente, novos capítulos nos próximos meses. No fundo, o resultado da autonomia do BACEN.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 22 MARÇO 23

 

A FELICIDADE

FELICIDADE - substantivo feminino, qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar

Felicidade pode ser definida por um momento em que há a percepção de um conjunto de sentimentos prazerosos. De alguns anos para cá diversos Institutos de Pesquisa procuram avaliar o nível de felicidade no mundo. Os critérios variam muito e ainda são controvertidos. Mas vale a pena ver alguns deles.

O instituto de pesquisas IPSOS -- o 3° maior do mundo, criado na França em 1975, que atualmente conta com 16 mil funcionários e tem sedes em 87 países -- acaba de divulgar a sua pesquisa "felicidade global 2023", que mede o grau de felicidade dos povos do mundo.

A pesquisa dessa empresa 100% capitalista concluiu que a nação mais feliz é a china socialista, onde 91% das pessoas se declaram felizes! Os estados unidos -- "líder" do mundo capitalista -- aparecem apenas em 14° lugar (76%), a França em 15° (74%), a Grã-Bretanha em 22° (70%), a Alemanha em 27° (67%) e o Japão em 29° (60%).

https://www.ipsos.com/sit… 

Em outra Pesquisa – Wordl Happiness Report, iniciativa ONU que tem no GALLUP WORLD POLL a principal fonte, coordenado por Jeffrey Sachs, da U. Colúmbia USA – que também mede a FELICIDADE no mundo, com base em sete indicadores (PIB pc/ expectativa vida saudável, liberdade, generosidade, apoio social e percepção da corrupção) o Brasil desaba e Finlândia ocupa liderança. No top da lista Holanda, Suécia, Noruega, Suíça, N. Zelândia. Em três anos o Brasil caiu, entre 141 países, de 29º. para 49º. Lugar. Em 2015, ocupava o 16º. Lugar.... Em compensação, os cidadãos menos felizes são os húngaros (50%), sul-coreanos (57%) e poloneses (58%).

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 https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/03/brasil-desaba-em-ranking-da-felicidade- generosidade-mundial-aumenta.shtml ou as ferramentas oferecidas na página.

Outras pesquisas, porém, demonstram que os brasileiros até que são bem felizes. Apontam, inclusive, que a felicidade não é trunfo apenas dos mais ricos. Populações menos favorecidas também se consideram felizes, apesar das dificuldades materiais.

População brasileira é a 5º mais feliz do mundo, diz pesquisa 83% dos entrevistados recentemente consideram-se muito felizes ou felizes. Os brasileiros nunca estiveram tão felizes, mas apenas quatro em cada dez estão satisfeitos com a situação econômica do país, segundo uma pesquisa do instituto IPSOS que avaliou a felicidade da população em 32 países.

Por BBC - 15/03/2023 - https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2023/03/15/populacao-brasileira-e-a-5o-mais-feliz-do-mundo-diz-pesquisa.ghtml

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Brasileiros nunca estiveram tão felizes, diz pesquisa. — Foto: GETTY IMAGES

 

Os brasileiros nunca foram tão felizes, mas apenas quatro em cada dez estão satisfeitos com a economia, segundo uma pesquisa do instituto IPSOS que avaliou a felicidade da população em 32 países.

No Brasil, 83% dos entrevistados consideram-se muito felizes ou felizes — uma alta de 20 pontos percentuais em relação ao último levantamento, feito em dezembro de 2021, quando o índice foi de 63%. No mundo, a percepção de felicidade também subiu, de 67% para 73%.

No caso brasileiro, foi o melhor resultado desde que a pesquisa começou a ser feita, em dezembro de 2011 — até então, o pico de felicidade ocorrera em maio de 2013, quando 81% dos entrevistados se consideravam muito felizes ou felizes.

O Brasil foi o quinto colocado do ranking global de felicidade, atrás apenas da China (91%), Arábia Saudita (86%), Holanda (85%) e Índia (84%).

Em compensação, os cidadãos menos felizes são os húngaros (50%), sul-coreanos (57%) e poloneses (58%).

"As pessoas estão vendo este ano como o encerramento de um capítulo extremamente desafiador em nossa história: a covid-19, ainda que a pandemia não tenha sido totalmente erradicada, seu impacto é infinitamente menor do que nos últimos anos. Esse sentimento reforça a percepção de felicidade", diz Marcos Calliari, CEO da Ipsos no Brasil.

A pesquisa, intitulada Global Happiness Study ou Estudo Global da Felicidade, foi feita online com 22.508 mil entrevistados com idades entre 16 e 74 anos em 32 países, entre 22 de dezembro de 2022 e 6 de janeiro de 2023.

Foram 1.000 entrevistados no Brasil e a margem de erro é de 3,5 pontos para mais ou para menos.

 

Mais felizes

O Brasil também foi o quarto país com o maior crescimento na percepção de felicidade (20 pontos percentuais), atrás apenas de Colômbia, Chile e Argentina, que apresentaram crescimento de 26 pontos percentuais no mesmo período.

E a América Latina, a região onde a percepção de felicidade mais subiu em todo o mundo.

Já os britânicos, franceses e poloneses foram os que ficaram menos felizes nessa mesma base de comparação.

A queda foi de 13 pontos percentuais para o Reino Unido e sete pontos percentuais para França e Polônia ante dezembro de 2021.

Contudo, em relação aos últimos dez anos (maio de 2013), o índice de felicidade dos brasileiros cresceu apenas dois pontos percentuais.

O ponto mais baixo da série foi em 2017, quando apenas 56% dos entrevistados afirmaram estar felizes ou muito felizes.

Já entre os anos de 2019 e 2021, o índice ficou na casa dos 60%.

 

Dinheiro x felicidade

Segundo a pesquisa, países de renda média, como o Brasil, apresentaram um aumento na percepção da felicidade em comparação aos de renda alta, como França ou Reino Unido.

Casados, com mais dinheiro e com maior nível educacional são, em média, mais felizes. Não houve diferença significativa na percepção de felicidade entre homens e mulheres.

Mas a sondagem também mostrou que a satisfação com aspectos da vida varia conforme o desenvolvimento econômico de um país.

Segundo o levantamento, cidadãos de países de renda mais alta tendem a ser mais satisfeitos com segurança, posses materiais, qualidade de vida e emprego.

Por outro lado, aqueles que vivem em nações de renda média demonstram maior satisfação com fé/vida espiritual, bem-estar físico, aparência, senso de controle e propósito, e sentir-se valorizado.

No mundo, os níveis de satisfação são mais altos com relacionamentos, filhos, cônjuge, parentes, amigos, colegas de trabalho e natureza e com educação e informação.

E mais baixos com a situação do país, finanças pessoais, vida romântica/sexual e atividade física.

No caso do Brasil, especificamente, de todos os aspectos analisados para medir o grau de satisfação com a vida, o maior índice foi registrado na relação com o cônjuge — 78% dos brasileiros disseram estar satisfeitos ou muito satisfeitos.

Já o pior foi com a situação econômica do país — apenas 37% dos entrevistados afirmaram estar satisfeitos ou muito satisfeitos.

Um índice semelhante — 43% — foi registrado diante da situação social e política do Brasil.

Além disso, somente 58% dos brasileiros afirmaram que possuem amigos próximos ou parentes com quem poderiam contar em caso de necessidade.

O país é o penúltimo colocado do ranking neste quesito, ficando atrás apenas do Japão (54%).

Holanda (82%), Indonésia e Portugal (ambos com 79%) estão no topo da lista. A média global é de 72%.

 

Pessimismo com o futuro

A pesquisa indicou ainda que, globalmente, as pessoas estão mais pessimistas quanto ao futuro dos relacionamentos.

Aumentou em duas vezes o número de entrevistados que considera que, nos próximos dez anos, vai ficar mais difícil para solteiros encontrar um par romântico, para casais manter um relacionamento feliz e para as pessoas ter amizades com quem possam contar.

O Brasil, no entanto, é um ponto fora da curva. Em todos esses três aspectos, os brasileiros demonstraram maior otimismo quanto ao futuro dos relacionamentos.

Segundo a sondagem, o pessimismo é maior entre as gerações dos "baby boomers" (nascidos após a 2ª Guerra Mundial até a metade dos anos 60) e X (nascidos entre 1965 e 1980), os de menor nível educacional e mais ricos, e aqueles que não são casados. E mais pronunciado em países de renda mais alta.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cye4ll78l3wo


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 21 MARÇO 23

 

O BRASIL NUMA ENCRUZILHADA

Conversando outro dia com um jovem de 45 anos, próspero e bem apessoado, estranhei que me dissesse que gostaria de ir embora do Brasil. Afinal, é parte do ¼ da população mais privilegiado. Classe Média. Deve ser um dos 44% que se manifestaram na recente pesquisa IPEC dizendo ter medo que o Brasil adote o comunismo, valor próximo dos que na última eleição votaram em Bolsonaro, cerca de 49% dos eleitores válidos. Não há como desconhecer este fato. É preciso refletir sobre ele.

Existe, na realidade, algum risco do Brasil tornar-se comunista? Digo risco, aqui, sem qualquer conotação de valor. Melhor seria, até, dizer “possibilidade”, termo mais neutro. Afinal, se os comunistas estão devidamente organizados em Partidos, na forma da Lei, e participam do sistema político brasileiro, lhes é facultado o direito não só de lutar como de implantar o comunismo no Brasil. Aliás, temos vários Partidos comunistas assim organizados, sendo um deles o Partido Comunista do Brasil um partido até grande e que tem um representante no primeiro escalão do Governo: Sua Presidente, Ministra da Ciência e Tecnologia. Mas há também o Partido Comunista Brasileiro, o PCB, herdeiro de Luiz Carlos Prestes e alguns sem grande projeção ou tradições, como o PCO e o PSTU dos quais ouvimos falar a cada eleição presidencial, sempre com pouquíssimo votos e nenhuma representação no Congresso. Há ainda o PSOL, uma dissidência do PT, que como este, tem pouca afinidade com países ou doutrinas comunistas. A corrente de opinião propriamente comunista no Brasil é portanto, muito limitada e dificilmente seria capaz de crescer a mediano prazo para fazer do Brasil um país comunista. De resto, trata-se de Partidos inspirados por ideias comunistas mas que sofreram grandes mudanças ao longo do século XX. O modelo dito soviético, difundido pelo Movimento Comunista Internacional durante a Guerra Fria e que tanto horror infunde a amplos setores da população pelo caráter autoritário e centralizador já entrou em crise. Sobrevive, sim, como legado da era stalinista em países como Coreia do Norte, num modelo esdrúxulo de nacionalismo exacerbado sob domínio de uma espécie de Família Real. Cuba é outra coisa e em processo de transição em busca de outro modelo ainda não definido. China? Ora a China é um país com economia de mercado administrado com mão de ferro asiática por uma elite tanto fiel a Mao Tse Tung como a Confúcio. Nenhum destes países jamais pertenceu ao que denominamos CULTURAL OCIDENTAL, exceção, talvez de Cuba, pela colonização hispânica mas que não se consolidou institucionalmente como Estado de Direito Democrático. Nenhum deles exporta, também, sua ideologia e seu modelo. O mais próspero e aberto deles, a China, aposta na sua capacidade de concorrência internacional com o Ocidente e é extremamente cautelosa em termos de Política Externa. 

O tal medo do comunismo, portanto, no Brasil e que motiva muitos a saírem do país numa espécie de sinistrose é fruto, primeiro, do desconhecimento do que é verdadeiramente comunismo e como ele, eventualmente, se alastra e, depois, desconhecimento do próprio Brasil.

Falava eu, neste encontro que mencionei acima, que o Brasil foi a China do século XX: Cresceu ininterruptamente de 1930 a 1980 a uma taxa de 6,5%ao ano transformando profundamente sua estrutura produtiva interna e sua inserção internacional. Neste tempo se definiu, no Brasil, o que é esquerda, favorável às mudanças estruturais rumo à industrialização e direita, sempre reacionária às mudanças e inclinada ao autoritarismo. Desde os anos 80 vive, com efeito, as contorções para corrigir as falhas desta modernização acelerada que não se traduziu na criação de uma ampla economia de massas baseada na capacidade de compra dos seus trabalhadores, mas num iceberg social de ¼ de apenas sua população que hoje viceja na classe média privilegiada e que, inclusive, teme as mudanças que visam eliminar a pobreza e fortalecer a classe trabalhadora. Daí a instabilidade política e a emergência de ideologias de extrema direita que realimentam o medo ao comunismo como estratégia reacionária às mudanças. O Brasil precisa, sim, retomar o impulso desenvolvimentista do século passado e incorporar dinamicamente a grande massa de sua população trabalhadora tanto no processo de construção de sua cidadania, com direitos inalienáveis ao trabalho, à moradia, á educação, saúde, previdência, como ao consumo. O Governo Lula é uma tentativa neste sentido, que dá continuidade ao que fizeram Vargas e JK no passado. É um governo progressista de amplo espectro ideológico e político sem qualquer inspiração autoritária parente do comunismo, embora, claro, tenha ramificações com movimentos sociais como Centrais Sindicais, Trabalhadores sem Teto e Sem Terra, Grupos Religiosos e de afirmação étnica e de gênero. Daí a dizer que é comunismo é mera ignorância. 

Comunismo, enfim, é um fantasma levantado por interesses escusos que tentam, por vários meios, impedir o Brasil de retomar o desenvolvimento com respeito aos valores cívicos de respeito às suas instituições. Medo do comunismo, uma infantilidade que serve à extrema direita em seu afâ de destruir liberdades e afirmar a vontade de uns poucos privilegiados. Mas que alimenta a sinistrose de querer abandonar um lugar amado por todos os estrangeiros que aqui chegam e constroem seus sonhos.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 20 MARÇO 23

Há 20 anos, a tragédia do IRAQUE

Os bons momentos a gente nunca esquece mas a própria memória humana sepulta a última tragédia diante da emergência de uma nova. Isso acontece hoje com a guerra na Ucrânia. Esquecemos o que passou na II Guerra Mundial, há menos de um século, incitada e promovida pela extrema direita articulada no EIXO – Alemanha, Itália e Japão; esquecemos até o que aconteceu na madrugada de 20 de março de 2003, há 20 anos: a brutal invasão do Iraque pelos Estados Unidos sob a alegação de que o “diabólico” Saddam Hussein, seu Presidente, detinha armas de destruição em massa que colocavam “o mundo” em cheque. Tudo invenção, sem aprovação da ONU, sem anuência de órgãos internacionais dedicados ao controle nuclear, dentre eles um chefiado por um diplomata brasileiro que acabou ameaçado de morte e com reticências de vários países ocidentais, como França. George Bush, então Presidente, foi implacável: Morreram 300 mil pessoas, dos quais 210 mil civis, Saddam foi enforcado, o país ficou literalmente destruído e alimentou com bandos fanáticos o DAESH, aquele exército radical muçulmano que ainda sobrevive em algumas partes do Orienta Médio O Iraque, enfim, foi ocupado por grandes empresas petrolíferas interessadas apenas nos seus lucros. Paradoxalmente, do ponto de vista politico seu governo atual se inclina cada vez para o Irã, alimentando o bloco China-Rússia-Síria. Um documentário a ser brevemente lançado no Brasil, dirigido por José Joffili vai nos trazer à tona toda esta tragédia, na verdade um crime contra a humanidade perpetrado pelos americanos. O Podcast FOLHA UOL de hoje, oportuna e convenientemente, nos traz uma reflexão sobre o episódio. 

Poucos anos mais tarde, em 19 março de 2011, outro país do Oriente Média seria destruído pelos americanos: a Líbia, tendo seu Presidente caçado e abatido como um animal. 

Então fica-se a pensar: Dá para acreditar nas boas intenções democráticas e humanitárias da atual campanha Ocidental na Ucrânia? Talvez daqui a 20 anos, ou 50 compreendamos melhor o que e por que UCRANIA 2022.

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 17 MARÇO 23

O NOVO ENSINO MÉDIO em debate: O NEM é a negação do que se havia avançado em termos de Educação no Brasil.

O Novo Ensino Médio foi uma mudança feita no sistema de educação no Brasil em 2017 pelo Governo Temer numa conjuntura marcada por grande turbulência política no país e sem que tivesse havido mobilização da comunidade voltada à questão educacional -  

5 polêmicas sobre a nova reforma do Ensino Médio - BBC 2016

https://www.bbc.com/portuguese/37463190  

Agora está em franco debate e há muitas razões para rejeitá-la. Professores, estudantes e analistas da área saem às ruas propondo a revogação da Lei que a institui. E o Ministro da Educação, Camilo Santana, propõe diálogo com a sociedade para reavaliar propostas e promete reformular o Conselho Nacional de Educação aí integrando representantes da sociedade civil (Leia mais). Manifestações em todo o país são feitas pela União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) com apoio de organizações como a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) e Fórum Nacional Popular da Educação – CNTE. O presidente da CNTE e coordenador do Fórum Nacional Popular da Educação, Heleno Araújo, divulgou um comunicado explicando a importância de lutar contra essa lei que alterou para pior a estrutura funcional do ensino médio, prejudicando milhares de estudantes, bem como, os profissionais do magistério público e privado.

Na nota, Heleno conclamou as entidades filiadas à CNTE a mobilizar, ajudar e estimular a participação no ato convocado pela UBES, em consonância com o calendário indicado pelo Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE). Cartilha explica, também, por que o NEM é prejudicial aos Alunos das Escolas Públicas e não benéfico, como tentam fazer crer Eis algumas razões contra o Projeto Temer, segundo Maíra Machado

1- O projeto de reorganização escolar mudará a vida de todos, porém não foi debatido com professores, pais, alunos e funcionários das escolas de forma democrática. Fomos informados pela televisão e nosso destino será definido por decreto.

2- O objetivo central da “reorganização” é corte de verbas. Centenas de escolas serão fechadas, já que o remanejamento de mais de 1 milhão de alunos é concentrar a demanda em determinadas unidades de ensino e fechar outras.

3- Os professores temporários serão demitidos, pois haverá ainda menos aulas para atribuir.

4- Trabalhadores terceirizados da merenda e limpeza, que possuem contratos de trabalhos mais frágeis, também serão demitidos.

5- Mais alunos por sala de aula. A realidade de aulas lotadas será ainda pior.

6- A reorganização é uma preparação para abrir a escola pública ainda mais para a iniciativa privada. Com a municipalização do ensino fundamental, parcerias públicos privadas na gestão escolar poderão ser implementadas.

7- Os alunos terão que estudar até 1,5 km da escola de origem, o que significa 3km entre uma escola e outra (se cada uma tiver na ponta do diâmetro) e em linha reta. Isso dificultará enormemente para os pais que tem filhos em ciclos diferentes.

8- Aumenta a evasão escolar, principalmente no ensino noturno, já muitos alunos organizam sua vida em função do trabalho, estudam até as 23hs e acordam muito cedo.

9- Reduzirá oferta pelo ensino noturno e os cursos de EJA ou torná-los extremamente precários.

10- Com o ensino em ciclos divididos por escola, a implementação do Ensino em Tempo Integral e a flexibilização do currículo serão facilitados, retirando disciplinas e esvaziando a escola de conteúdo.

https://www.esquerdadiario.com.br/10-motivos-para-ser-contra-a-reorganizacao-das-escolas-do-estado-de-Sao-Paulo 

Outros chegam a apontar 23 pontos negativos na Reforma que, desta feita, está condenada a ser revisada. - REVOGAÇÃO JÁ!

Anexo

 

Golpe contra o PÁTRIA EDUCADORA

O Golpe contra a “PATRIA EDUCADORA” e a farsa do NEM – Novo Ensino Médio | Luíz Müller Blog (luizmuller.com)

 

 

 

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Cartilha Explica por que o NEM é prejudicial aos Alunos das Escolas Públicas e não benéfico, como tentam fazer crer

A Marca do 2º Governo de Dilma Rouseff, que ela não conseguiu nem começar, era PATRIA EDUCADORA.

A Formação e qualificação Técnico Profissional estava incluída na Pátria Educadora, a partir da experiência do 1º Governo Dilma (2011/2014), quando 9 milhões de Jovens e Trabalhadores se matricularam em Cursos do PRONATEC e do Programa JOVEM APRENDIZ.

O PRONATEC e o JOVEM APRENDIZ garantiram que milhões de Jovens dos Programas Sociais pudessem ter seu 1º emprego com Carteira Assinada, e muitos assim seguem até hoje.

Mas a primeira ação do Golpista Governo Temer, foi acabar com o PRONATEC, que depois do sucesso da 1ª Etapa, de 2011 a 2014, previa que mais 12 milhões seriam Formados no período 2015/2018.

É ainda no Governo Temer que intelectuais a mando de Bilionários como Jorge Paulo Leman começam a construir o tal NEM – Novo Ensino Médio. Tudo feito sem ouvir a Comunidade Escolar, a sociedade e nem mesmo o empresariado produtivo do país, que não cansava de elogiar o PRONATEC e sua metodologia de identificação de demandas de mão de obra e de públicos dispostos a fazer os cursos adequados a estas demandas, como é possível ler no artigo “Efeito PRONATEC: Brasil ultrapassa Coréia do Sul e é campeão em Educação Profissional do Mundo todo“, de 2015.

Sob a mortal bruma da PANDEMIA, com a Educação sendo destruída por pastores e mercadores da fé nomeados por Bolsonaro para gerir o MEC, a Serpente avançou e o mal se instalou também na estruturas da Educação Brasileira. Assim como na Saúde, na Assistência Social e outras áreas, o objetivo do bolsonarismo era desmontar as estruturas e a visão Sistêmica e Universal que garantia direitos a todos, de acordo com suas condições.

Os Itinerários Formativos que supostamente formariam nossa juventude para o trabalho, não são exequíveis na maior parte de nossas escolas públicas, por que muitas vezes nem banheiro descente tem, que dirá equipamentos industriais de ponta para ministrar cursos que capacitariam para funções descentes no mundo do trabalho. Aí as escolas optam por cursos como “boleira, brigadeiro, RPG, empreendedorismo” entre outras, que não requerem grandes conhecimentos técnicos, que podem até garantir uma sobrevivência temporária, mas não não as bases para funções em Industrias, tecnológicas, etc…

É o contrário do que se estava construindo na PATRIA EDUCADORA da Presidenta Dilma. O itinerário Formativo Profissional sendo construído além do Nível Médio normal e não Sobre ele. Não se tratava de reduzir matérias de Ciências Humanas, mas de conectar a o Nível Médio com Cursos de Formação Profissional Adequados, oferecidos pelos Institutos Federais de Educação e pelo Sistema S, muitas vezes no Contra turno do Nível Médio, a exemplo do PRONATEC Jovem Aprendiz.

Não há como Reformar o tal NEM. É preciso revogá-lo . A Sociedade Brasileira pode e merece mais. Chamem a Sociedade para discutir e redesenhar a Educação Brasileira, mas em cima de Experiências Positivas Construídas e não submeter nossos filhos e netos a serem cobaias de um Projeto da Fundação Leman, que já mostrou com o Episódio Americanas, que nem de gestão entebde. Só de ganhar dinheiro explorando os outros.

No artigo acima há links para conteúdos e dados que merecem ser vistos. E merece ser lida também a Cartilha disponibilizada pelo 39º Núcleo do CEPERS SINDICATO tanto Impressa como digitalizada e em PDF, que podem ser acessadas nos links a seguir:

E em PDF no Link a seguir:

 

Relacionado https://luizmuller.com/2023/03/16/o-golpe-contra-a-patria-educadora-e-a-farsa-do-nem-novo-ensino-medio/ 

Estudantes revindicam: #RevogaNovoEnsinomédiomarço 16, 2023Em "Educação"

A Educação é o caminho pro Brasil avançar mais, diz Lula no evento em Defesa da Educação agosto 14, 2015Em "Educação"

Número de jovens negros no Ensino Médio dobra em 13 anosnovembro 21, 2015Em "Brasil"


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 16 MARÇO 23

O ALERTA PARA UMA CRISE BANCÁRIA MUNDIAL

A economia de mercado, por definição, opera com base em trocas e as trocas se fizeram, ao longo dos séculos, com o recurso a uma mercadoria capaz de funcionar como denominador comum de valores: Primeiro conchas, depois o sal – de onde os “salários”, mais tarde o boi, por fim os metais: prata e ouro. Neste último caso, a mercadoria de referência tinha a vantagem, além de funcionar como meio de troca, também como reserva de valor, pois não se degradava ao longo do tempo. Cumpriu, aliás, um importante papel para o enriquecimento de certas pessoas e grupos sociais. Com o advento dos Modernos Estados Nacionais os metais foram substituídos pelo papel moeda, através do compromisso dos Governos de honrarem “em ouro” aquilo que estes papeis supunham representar. Com o tempo, porém, este lastro vou desaparecendo. Em 1971 o Presidente Nixon, por exemplo, desvinculou o dólar do ouro... Claro que isso deu um poder imenso aos Estados como emissores de Moeda, embora os descuidos com a quantidade de moeda derramado num mercado restrito pudesse levar à inevitável desvalorização dela. Daí a preocupação de certos economistas, até, hoje com os Gastos Governamentais. Mais ainda quando os déficits governamentais começaram a ser preenchidos com a emissão de Títulos Governamentais, vendidos ao mercado sob o pagamento de uma certa remuneração compensatória à “poupança” dos investidores. Tudo isso tornou-se mais complexo ainda, com a criação de Bancos como lugares onde aqueles que detêm algum recurso líquido, seja em decorrência de salários ou outros rendimentos, seja em decorrência da venda de um bem, depositam, por segurança ou comodidade, este recursos. Estes Bancos acabam cumprindo um papel significativo no sistema econômico. Intermediam pagamentos, financiam operações de crédito, mobilizam capitais para investimentos. Bancos fazem tudo isso multiplicando os recursos depositados emprestando=os a terceiros, mediante uma pequena retenção para efeitos de segurança, enquanto aplica seus lucros e parte dos depósitos num lastro de ativos que lhes dá certa garantia patrimonial. Economistas chamam este processo como de criação de “moeda escritural”. Tanto que, se de uma hora pra outra. Todos os depositantes correrem aos caixas dos bancos para pegar seu dinheiro depositado, eles não têm como pagar imediatamente. Isso posto, o valor de suas ações em Bolsa, eis que são normalmente empresas abertas, despenca e entram em colapso. Se este colapso se irradiar, teremos uma crise de proporções gigantescas. O mundo financeiro, que já é fictício, eis que fundado em moedas sem lastro e em operações sem conexão com o mundo real da economia, desaba. Isso aconteceu em outubro de 1929, que arrastou vários países para uma crise sem precedentes, inclusive Estados Unidos. Outros mergulharam em profunda crise política que acabou na II Guerra Mundial. Mais recentemente, em 2008 e 2009, a crise se repetiu e repercutiu no mundo inteiro, com reflexos até hoje, exigindo vultosos recursos governamentais para que a economia não viesse abaixo. De lá para cá, alguns fatores do festim financeiro especulativo só o acentuou pois o imenso poder do segmento financeiro tem conseguido impedir a intervenção governamental corretiva e limitadora em seus mercados. A fórmula da governança mundial hoje, consagrada pelo chamado CONSENSO DE WASHINGTON é: “O Governo não é solução, é problema”, ditado pelo ex Presidente Reagan há 40 anos. Com isso, os mercados financeiros e o sistema bancário que lhe corresponde ficaram cada vez mais soltos e voláteis. Inúmeros economistas críticos não se cansam de anunciar o risco que isso representa, para não falar dos males que acarreta ao deslocar crescentemente investimentos que deveriam se dirigir à produção de bens e serviços para os ganhos fáceis da especulação financeira mundial. Hoje, elas são múltiplos cada vez maiores do investimento na economia real. Sem investimentos e sem recursos voltados à inovação tecnológica, capaz de enfrentar uma concorrência internacional cada vez mais acirrada, as economias ocidentais vão perdendo fôlego e perdendo posições no comércio internacional, hoje já dominado pela China. A queda do BANCO DO SILICONE VALE e mais outros dois bancos, já trouxe prejuízos imensos à banca europeia, inclusive CREDIT SUISSE. Já abalada por uma inflação elevada que intensifica as pressões sociais, a União Europeia vê sua moeda, o euro, desabar e corre o risco de entrar em colapso. Não por acaso, Reino Unidos enfrentou ontem uma vigorosa greve geral, que potenciou a greve do setor de saúde e a França se mobiliza de novo em busca da recuperação do poder de compra dos trabalhadores. Tudo muito confuso. Perigoso.

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Anexo - CAPITALISMO FINANCEIRO

Banco perdeu cerca de 30% do seu valor na bolsa de Zurique desde meados da semana passada. - NOTICIA-Banco Nacional-Suiça empresta 507 milhões e outras 

Outra vez o fantasma da banca - Manuel Carvalho – 

As crises financeiras são particularmente perigosas porque são imprevisíveis. Há muito que se sabe que assim é, e é por isso que as notícias da última semana são motivo para preocupação. Depois da falência de três bancos nos Estados Unidos e do choque do gigante Credit Suisse, que chegou a perder esta quarta-feira um terço do seu valor de mercado, é curial recear o regresso dos fantasmas da falência ao sector da banca. Estamos ainda muito longe de um fenómeno demencial como o que desencadeou a crise do “subprime”, em 2008, mas há no ar emoções que tornam tudo mais difícil de prever.do PÚBLICO.

 

LEIA O ARTIGO COMPLETO

Crise bancária e inflação criam novo dilema ao BCE = Entre a vontade de reforçar a luta contra a inflação e o risco de estar a dar combustível a uma nova crise financeira, o BCE decide esta quinta-feira o que fazer às taxas de juro na zona euro. –

 LEIA AQUI


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 15 MARÇO 23

Marielle Franco

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Cinco anos da morte de MARIELLE e até agora nada de mandantes

Ontem, em vários lugares do país, a consciência democrática lembrou o bárbaro assassinato da vereadora RJ, Marielle Franco e seu motorista. Os perpetrantes do crime estão presos mas há fortes suspeitas de que houve manipulação nas investigações para que não emergissem os mandantes. O Governo Federal federalizou, agora, estas investigações e promete resultados que garantam a expectativa de Justiça pela família e pela sociedade. 

Não deixemos Marielle morrer duas vezes. Lembremos sempre de sua primeira morte como uma ponte para um Brasil com mais tolerância e fraternidade. 

MARIELLE VIVE E VIVERÁ como um símbolo de resistência.

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Por RONALDO TADEU de SOUZA*

A sociedade que Marielle desejou ara os seus e para as suas irrompe na história – 

 

https://g1.globo.com/podcast/resumao-diario/noticia/2023/03/15/resumao-diario-505-entrega-do-ir-e-a-despedida-de-canisso.ghtml

 

“Até hoje, a história de toda a sociedade é a história das lutas de classes” (Karl Marx, Manifesto do Partido Comunista).

Marielle Franco foi assassinada do Rio de Janeiro no dia 14 de março de 2018. Há cinco anos o movimento negro e seus ativistas, os grupos de esquerda, a família Franco e todos e todas que verdadeiramente querem uma sociedade democrática e livre querem saber quem foram os mandantes do covarde e bárbaro extermínio de uma mulher negra, lésbica, socialista, vereadora de esquerda (PSol) e formada nos morros cariocas.

Se precisamos ser cuidadosos em certos textos e escrito – não é o caso aqui. Pois na medida em que os executores do crime foram dois policiais militares (que circunstancialmente eram aposentados), é mais do que evidente que seus mandantes são agentes do Estado: de uma maneira ou de outra, direta ou indiretamente, ou influenciando ou organicamente. Esses ainda não sabemos quem são.

Há uma passagem no livro Dez dias que abalaram o mundo, de John Reed, a mais notável narrativa da Revolução Russa de 1917 até hoje escrita, em que presenciamos a seguinte cena – “os pobres dos asilos estavam quase nus. Delegações de inválidos, caindo de fome, órfãos, com as faces encovadas e lívidas, assaltaram o edifício [da Assistência Pública]. [Aleksandra] Kolontai, com os olhos rasos de água foi obrigada a mandar deter […] [os burocratas] para obrigá-los a entregar as chaves das salas e dos cofres”. Nas “salas” e nos “cofres” estavam muitos dos segredos do Estado czarista-burguês, e a classe dominante russa fez de tudo para mantê-los assim, sem que o povo tivesse conhecimento de suas jogadas egoístas e auto interessadas que lançava a maioria esmagadora da população na mais profunda miséria. É evidente que estamos distantes, de um evento como o de 1917; e não queremos que até lá os mandantes do assassinato de Marielle fiquem ocultos nas salas e nos cofres de nosso Estado e das instituições públicas que o constitui.

Quando Marielle foi assassinada o Brasil passava por um dos momentos do que se pode chamar de sua “contrarrevolução”. Em 2008 o mundo enfrentou uma das maiores crises do sistema capitalista internacional. A eclosão dos subprimes acompanhada com a queda do Lehamnn Brothers nos Estados Unidos teve efeito em cadeia por toda a economia internacional. Quando a crise se abateu na vida material dos trabalhadores e trabalhadoras, diversos movimentos contra-hegemônico demonstraram as possibilidades (e a necessidade) de construirmos outra sociedade: Occupy Wall Street, Primavera Árabe, Syriza, Indignados e Podemos tomaram as ruas em suas respectivas sociedades deixando um rastro de fogo e esperança nos corações e mentes daqueles que querem uma humanidade livre do jugo do capital.

Na medida em que as respostas ao esfacelamento das finanças mundiais não foram à altura do esperado pelos mais afetados, houve um processo de rápido desgaste de boa parte dos movimentos que se apresentaram como alternativa opção política. As novas sociais-democracias, nos termos de Susan Watkins, enredadas pelas técnicas de governo das democracias liberais-representativas – essas que já vinham atravessando momentos de contestação por não realizarem suas promessas (Norberto Bobbio) – comprometeram não só a si enquanto atores e sujeitos sociais da suposta transformação desejada, a própria democracia perderia o que lhe restava de confiança.

Com o passar dos anos já não era vista como o único e exclusivo regime político. Dado a justaposição a esse cenário da Troika (Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI)), vale dizer, da reorganização de instituições internacionais de decisão no continente europeu o esvaziamento intencional e “planejado” do que restava de democracia teria efeitos devastadores. (Nos Estados Unidos, Barack Obama que governava para recuperar o sistema financeiro, afagar celebridades negras e capturar e/ou matar Osama Bin Laden.)

A combinação dialético-imanente dessas circunstâncias resultaria na ascensão do que chamamos hoje de a nova direita. Trump, Erdogan, Salvini, Johson, Orban, Duterte e Bolsonaro apareceram no horizonte político imediato. Eles foram a luva de aço do novo regime político e de acumulação do neoliberalismo; que Verônica Gago chama de acumulação por extração[3] – violência extrema contra os/as que trabalham, financeirização absoluta das formas cotidianas de vida, devastação da natureza e psique economicista-eficiente. As relações sociais necessárias exigiam além disso, racismo, machismo, homofobia assassina, xenofobia e fascistização da vida.

A desigualdade combinada da luta de classes fez com que esse quadro de referência histórica chegasse no Brasil em junho de 2013. Manifestações cobriram todo o país e um levante insurrecional, talvez, nunca presenciado por aqui. Junho de 2013 é o principal evento das últimas décadas na sociedade brasileira sem qualquer sombra de dúvida: nele expressou-se a realidade de uma transformação radical do Brasil. O que se seguiu a ele, de certa maneira, foi o que se seguiu na Europa e nos Estados Unidos – uma contrarrevolução preventiva.

As forças de direita se restabeleceram na fresta que se abriu; o balanço abrangente de 2013 ainda está para ser feito pela esquerda, seus e suas intelectuais, pesquisadores e pesquisadoras críticos. As fases da contrarrevolução brasileira podem ser, esquematicamente, estabelecidas da seguinte maneira: 2014 (desestabilização da eleição pela contestação do PSDB à vitória de Dilma Rousseff do PT); 2015 (intensificação das mobilizações da direita exigindo a deposição de Dilma organizadas por MBL, Vem pra Rua, Revoltados On-Line, sustentados por aparelhos privados ideológicos – Millenium, Institutos Liberal e Von Mises e toda a imprensa corporativa e financiadas por grupos econômicos interessados); 2016 (golpe contra a presidenta eleita em 2014, surgimento de Jair Bolsonaro anunciando a “volta” katecontica de Ustra e sua substituição por Michel Temer); 2017 (o programa econômico ponte-para-o-futuro que reposicionava o capitalismo brasileiro no “novo” regime de acumulação neoliberal que dissemos acima); 2018 (a ocupação do Rio de Janeiro, via GLO- Garantia da Lei da Ordem, dos militares sob o comando de Braga Neto).

É nesse contexto e/ou conjuntura que Marielle Franco foi assassinada a mando e cruelmente por Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz – o primeiro havia sido membro competente e eficaz, segundo Rodrigo Rodrigues Pimentel, das forças de elite BOPE-Batalhão de Operações Especiais da polícia militar do Rio de Janeiro e o segundo ex-sargento, também, da polícia militar carioca. Os detalhes do crime contra Marielle são dos mais sórdidos e nefastos – típico da elite branca dominante brasileira desde os dias da colônia em que praticavam, verdadeira caça, prisão e castigos infinitos contra os corpos negros que fugia em busca da liberdade e contestavam aquela ordem escravagista de então. Mas agora com toda a técnica e tecnologia disponíveis.

Segundo consta Marielle foi vigiada por mais de dois meses por Lessa e Queiroz, sua rotina estudada com precisão, os lugares que frequentava enquanto militante do seu povo, os momentos de maior oportunidade e facilitação para efetivar a emboscada covarde; as armas agora não são mais o chicote no açoite, o tronco e a forquilha na garganta – mas pistolas de alto calibre e de alto impacto; a perseguição não mais a cavalo e sim com veículos de última geração e a organização efetiva do extermínio “racionalmente” – segundo investigações Ronnie Lessa e Élcio Queiroz espreitaram Marielle durante a noite do crime como sicários brancos que são – elaborada para o dia de 14 de março de 2018.

O erro foi acreditar que fazendo desaparecer Marielle fariam desaparecer sua luta histórica e política. É a sempre presente arrogância e esnobismo dos de cima. Se esquecem que não é a primeira vez que figuras que luta autenticamente pelos de baixo – ativistas, militantes, intelectuais, políticos, revolucionários e revolucionárias – tem suas vidas retiradas pelas forças da ordem vigente. Foi assim com os e as líderes Quilombolas; com os resistentes de Canudos; na Comuna de Paris; na Argélia de Frantz Fanon, na Espanha de 1936, com Rosa Luxemburgo, com as personalidades destacadas dos Panteras Negras – e foi assim com Marielle Franco.

E desde então florescem novos movimentos, novos indivíduos para falar pelos que nada tem a não ser o suor do rosto, novas figuras radicais e destemidas, novos grupos e coletivos dos que resistem às agruras do modo de produção burguês. Em 14 de março de 2023 completam-se cinco anos do assassinato de nossa Marielle; não descaçaremos até que os poltrões, que a mandaram matar para que ela não fosse um obstáculo para seus interesses materiais, sejam revelados – até lá, e até que a sociedade que Marielle desejou para os seus e para as suas irrompe na história, ela mesma será a alegoria incandescente na busca incansável para o fim da exploração, opressão e violência contra os subalternos e subalternas e que a retirou de entre nós

*Ronaldo Tadeu de Souza é pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Ciência Política da USP.

 

Ver John Reed. Os dez dias que abalaram o mundo. Ed. Círculo do Livro, 1978, p. 258.

Ver Susan Watkins. Nuevas Oposiciones. New Left Review, nº 98, 2016.

Ver Verônica Gago. Para uma Crítica de las Operaciones Extractivas del Capital. Nueva Sociedad, nº 255, 2015, pp. 38-52.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 13 MARÇO 23

O Império Financeiro do mundo balança. Mas será que cai?

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Silicon Valley Bank: o que se sabe sobre a maior falência de um banco nos EUA desde 2008 - Especialistas em economia norte-americanos afirmam não acreditar que encerramento das atividades do banco cause um efeito dominó semelhante ao que levou à crise financeira de 2008.

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Desde que o Presidente Nixon desvinculou o dólar do ouro, em 1971, prática imperiosa para mantê-la como padrão monetário internacional sem riscos, os Estados Unidos passaram a emitir dinheiro para o mundo, sem limites. O dólar dinheiro em circulação no mundo não passa de um pedaço de papel impresso embora haja uma expectativa de que o emissor, o Tesouro Americano, o honre. Afinal, os Estados Unidos são uma potência econômica e oferecem suposta segurança aos que comerciam ou acumulam reservas em dólar. O campeão mundial destas reservas é a CHINA, com perto de US $ 4 trilhões em Títulos americanos. O Governo brasileiro é outro grande investidor em papeis americanos: Detém cerca de US$ 350 bilhões aplicados, embora isso lhe custe o que emitiu Títulos ORTN para comprá-los e aplicá-los. Afinal, os dólares não eram seus, eram dos exportadores. Mas constituem uma âncora cambial.

Esse poder americano de emitir para o mundo não está lastreado apenas no poderio econômico dos Estados Unidos. Também no seu poder estratégico militar assegurado pelo peso que tem na OTAN, como instrumento “de defesa” e nada menos do que 800 bases militares espalhadas pelo mundo. Uma rígida governança monetária do mundo inteiro é também vigiada pelo denominado ACORDO DE WASHINGTON, de 1989. “Escreveu não leu, pau comeu”, versão contemporânea das canhoneiras inglesas do século XIX que garantiam a hegemonia da Inglaterra e que já teve como antecedente a denominada política do BIG STICK (cassetete), do Presidente Ted Roosevelt, no início do século XX. Mas tudo isso custa caro: exércitos no exterior, armamentos, diplomacia etc. Só o apoio, agora, à UCRÂNIA, custará bilhões que dificilmente voltarão aos cofres americanos, tal como não voltaram os gastos no Vietname e Afeganistão. Assim, o rombo das contas públicas americanos vai se aprofundando cada vez mais e eles emitem dólares que são difundidos pelo mundo inteiro evitando pressão direta sobre os preços. A inflação em curso nos últimos anos tem mais a ver com os choques de oferta e interrupção das cadeias produtivas e de logística da pandemia, agravadas pela elevação do preço da energia com a Guerra na Ucrânia. 

Apesar, entretanto, dos cuidados governamentais com a Política Monetária sobre o dólar, a verdade é que o processo entrou há alguns anos numa espiral financeira mundial incontrolável. Primeiro os petrodólares criaram reservas em dólar jamais vistas, aumentando o poder dos bancos americanos. Depois, a INTERNET multiplicou as transações financeiras em escala geométrica criando, também, novos desafios à gestão financeira no mundo inteiro, além, claro, de produzir distorções no processo de distribuição mais equitativa das rendas obtidas. A riqueza se concentra cada vez mais no mundo. Para complicar a vida da economia americana a CHINA se tornou a maior potência comercial no mercado internacional, o que coloca a hegemonia americana e do dólar em risco. Não por acaso aumentam as tensões entre USA x CHINA a ponto de se temer uma escalada da competição para o confronto em pouco tempo. Tudo isso está associado à nova crise bancária anunciada com o fechamento de dois grandes bancos nos Estados Unidos na semana passada. O governo americano se apressa em evitar o contágio da crise e investe mais dólares para garantir depositantes. Tenta impedir a reedição da crise de 2008 e 2009 que custou trilhões de dólares. Conseguirá? Só Deus sabe. ABAIXO DESCRIÇÃO DA CRISE COM O BANCO DO SILICON VALEY no g1

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Silicon Valley Bank: o que se sabe sobre a maior falência de um banco nos EUA desde 2008

Especialistas em economia norte-americanos afirmam não acreditar que encerramento das atividades do banco cause um efeito dominó semelhante ao que levou à crise financeira de 2008.

https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2023/03/11/silicon-valley-bank-o-que-se-sabe-sobre-a-maior-falencia-de-banco-nos-eua-desde-2008.ghtml 11/03/

Autoridades americanas anunciaram na sexta-feira (10) o encerramento das atividades do Silicon Valley Bank (SVB), banco financiador de startups. A notícia da falência, a segunda maior do setor bancários dos EUA, provocou apreensão entre os clientes do SVB que não conseguiram movimentar o dinheiro aplicado no banco.

 

Falência de banco põe em risco empresas de tecnologia nos Estados Unidos

O impacto do fim do SVB ainda não está claro, mas especialistas em economia dos EUA afirmam não acreditar que a falência do banco cause um efeito dominó semelhante ao que levou à crise financeira de 2008.

O g1 explica abaixo o que se sabe sobre o caso e quais reflexos a falência pode ter nos EUA.

O que aconteceu?

Qual o tamanho e a importância do SVB?

A falência já impactou o mercado?

Os clientes terão acesso ao dinheiro aplicado?

O que aconteceu?

A mídia americana relata que um dos fatores que resultou na falência do SVB é o aumento na taxa de juros dos EUA, que passou de 0,25%, em 2020, para 4,75%, em fevereiro deste ano, em uma tentativa do Banco Central americano de controlar a inflação.

O SVB atendia principalmente startups e financiadores. Como o setor de tecnologia começou a desacelerar nos últimos meses, com os constantes aumentos na taxa de juros para frear a inflação, as empresas atendidas pelo SVB começaram a retirar dinheiro mais rápido do que o esperado.

Além da queda nos recursos, o SVB também viu novos investimentos minguarem. Com isso, o banco foi ficando sem dinheiro.

Para piorar a situação, o banco havia realizado uma série de investimentos no Tesouro dos EUA e em títulos de dívida pública ligados ao governo. Com o aumento da taxa de juros, os valores desses títulos foram caindo.

A imprensa americana relatou que, na quarta-feira (6), o SVB anunciou a venda de diversos títulos com prejuízo.

Em uma tentativa de equilibrar as contas, o SVB afirmou que venderia US$ 2,25 bilhões em novas ações. Entretanto, o anúncio gerou pânico em empresas de capital de risco, fazendo com que investidores retirassem dinheiro do banco.

Na quinta-feira (9), o presidente-executivo do banco, Greg Becker, pediu para os clientes manterem a calma. No entanto, muitos investidores não confiaram no pedido de Becker, e as ações despencaram 60%, fazendo o SVB perder quase US$ 10 bilhões, segundo a Bloomberg.

De acordo com a imprensa americana, houve uma corrida entre investidores para a retirada de dinheiro do banco nas últimas 48 horas, tornando o SVB praticamente insolvente.

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Qual o tamanho e a importância do SVB?

O SVB é a maior instituição a quebrar desde o colapso no sistema financeiro americano em 2008, que, à época, gerou uma crise mundial.

O Silicon Valley Bank tinha cerca de US$ 209 bilhões em ativos até o fim de 2022, o que o tornava o 16º maior banco dos EUA, segundo o Federal Reserve – o banco central norte-americano.

Além disso, o branco é credor fundamental para empresas em estágio inicial e é parceiro bancário de quase metade das empresas americanas de tecnologia e saúde apoiadas por capital de risco listadas nas bolsas de valores no ano passado.

A falência já impactou o mercado?

Após anunciar na quinta-feira (9) que estava tentando levantar US$ 2,25 bilhões (R$ 11 bilhões) para cobrir uma perda causada pela venda de ativos, as ações do SVB tiveram sua maior queda, de mais de 60%, em um dia.

Preocupações de que outros bancos possam enfrentar problemas semelhantes levaram à venda generalizada de ações de bancos em todo o mundo na quinta-feira e no início da sexta-feira.

Bolsas ao redor do mundo registraram quedas no final de sexta: a Nasdaq de 1,7%, S&P 500 1,4% e Dow Jones 1%. Os principais índices europeus e asiáticos também fecharam em baixa, com a FTSE 100 caindo 1,6%.

As ações de alguns dos maiores bancos dos EUA se recuperaram na sexta, mas os bancos menores continuaram sendo atingidos.

Os clientes terão acesso ao dinheiro aplicado?

A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), que normalmente protege depósitos de até US$ 250 mil, disse que assumiu o controle de cerca de US$ 175 bilhões (cerca de RS 900 bilhões) em depósitos mantidos no banco.

Os escritórios e agências do banco devem ser reabertos "até segunda-feira de manhã", quando clientes com depósitos segurados poderão ter acesso aos fundos. Ainda de acordo com a FDIC, o dinheiro obtido com a venda dos ativos do banco irá para depositantes não segurados.

Os funcionários do banco receberam neste sábado (11) uma proposta da FDIC para trabalharem por 45 dias de trabalho por 1,5 vez o salário. Os colaboradores foram instruídos a continuar trabalhando de forma remota, exceto trabalhadores essenciais e funcionários das filiais.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia10 março O pacto pela democracia 

O ano de 2022 foi um ano de luta pela defesa da democracia-entre-nós. Neste ano de 2023 vivemos o teste de sua sobrevivência. O mal se foi e está cada vez mais enleado na trama das joias da Arábia Saudita. O TCU, ontem, determinou que Bolsonaro nem pode usar nem vender os mimos que incorporou indevidamente ao acervo pessoaL. Juristas comentam que poderá responder por peculato e lavagem de dinheiro. Acima disso tudo, porém, está a luta pela neutralização interna das maldades deixadas pelo rastro do mal. O PACTO PELA DEMOCRACIA é uma rede que reúne 200 organização de defesa da democracia no Brasil e emite semanalmente um Boletim. Abaixo, o desta semana.

 

 

 

PACTO PELA DEMOCRACIA - Nossa curadoria de conteúdos semanais: artigos, reflexões, entrevistas e análises sobre a democracia e o trabalho da sociedade civil.

N. 229 | 09 de março de 2023 - https://us16.campaign-archive.com/?e=d5d7f63b6a&u=710d99a45384241aad810056b&id=9af5fb70fb 

 

Dia Internacional das Mulheres e a luta da sociedade civil por uma democracia com mais representatividade feminina. Ontem (08), no Dia Internacional das Mulheres, o Pacto pela Democracia reiterou a importância das organizações da sociedade civil que lutam pela igualdade de gênero e os direitos das mulheres: a democracia que sonhamos tem participação efetiva das mulheres para que políticas públicas contra a violência possam tornar o Brasil um país seguro e com igualdade de oportunidades para todas nós. Desde a redemocratização, somente 4 mulheres ocuparam os cargos de comando do Executivo, Legislativo e Judiciário. A falta de representatividade feminina na política reflete diretamente na formulação e efetividade das políticas públicas para combater a violência contra as mulheres. O levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, revelou um crescimento acentuado em todas as formas de violência no último ano. A subrepresentação das mulheres no poder público brasileiro é, por si, uma violência, como destaca Rachel Andrade, coordenadora de pesquisa na Elas no Poder.

 

A violência política de gênero foi alarmante durante as Eleições de 2022 e a pandemia afastou mulheres da disputa política. Um mapeamento publicado pelo Laboratório de Combate à Desinformação e ao Discurso de Ódio em Sistemas de Comunicação em Rede, da Universidade Federal Fluminense, fez um raio-x dos ataques online a 91 mulheres parlamentares durante as eleições do ano passado e revelou que 1 a cada 9 menções nas redes sociais são violentas. A sobrecarga durante a pandemia também afetou o desempenho das mulheres nos últimos pleitos. Uma pesquisa divulgada pela A Tenda das Candidatas mostra que 6 a cada 10 mulheres candidatas foram as responsáveis por tarefas de cuidados durante o período pandêmico. As desigualdades entre homens e mulheres na política brasileira e os caminhos para alcançar a representatividade são trazidos neste podcast, que entrevista Mônica Sodré, diretora executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade. A cientista política prioriza duas questões que devem ser o foco central de políticas públicas: a violência política e a distribuição de financiamento por parte dos partidos.

 

 Atualizações sobre tentativas de controlar a politização das Forças Armadas. O Ministério da Defesa anunciou nesta terça-feira (07) a apresentação de uma PEC que busca combater a politização das Forças Armadas com o veto para que militares retornem à ativa após disputarem cargos políticos. Também com foco no tema, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) começou a recolher assinaturas para a emenda constitucional que pretende modificar o artigo 142. O jornalista João Paulo Charleaux narrou em artigo a experiência das Forças Militares brasileiras no Haiti e a tentativa do Exército Brasileiro de dialogar com atores democráticos. Para conhecer esta e mais histórias sobre a relação entre militares e democracia, o jornalista Lucas Ferraz indicou 5 livros sobre o tema. 

 

Votação sobre abordagem policial racista. O Supremo Tribunal adiou ontem (08)a votação sobre a ilicitude da obtenção de provas em abordagens policiais racistas, o chamado perfilamento racial. Em texto publicado em parceria com a filósofa Sueli Carneiro, juristas da Conectas destacam ser inconcebível que, durante abordagens policiais, a cor da pele seja considerada elemento suspeito.

 

Reivindicação para indicação de pessoa negra ao STF. Com o início da especulação sobre as duas indicações possíveis para o STF pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram levantadas discussões sobre a possibilidade de nomeação de uma mulher negra ao cargo. A professora de direito da USP, Fabiana Severi, avalia como um insulto a indicação de mais homens para as vagas. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, declarou ser fundamental a indicação de uma mulher negra, ou uma pessoa negra ao STF. O diretor da Educafro, Frei David Santos, manifestou que pretende cobrar o presidente sobre a indicação de uma pessoa negra para substituir o ministro Ricardo Lewandowski.

 

Desdobramentos da responsabilização de agentes envolvidos nos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro. O ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, não deve comparecer hoje (9) à CPI da Câmara Distrital de Brasília sobre os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro. Luciana Silva Reis, pesquisadora do Laut, discorreu em artigo sobre a responsabilização jurídica de agentes públicos para a garantia da estabilidade democrática. À luz das ações de defesa da democracia empreendidas pela justiça brasileira, Oscar Vilhena, conselheiro da Comissão Arns, publicou artigo sobre o conceito de democracia militante.

 

 

 

Crises política, social e de direitos humanos na Nicarágua. Após não ter assinado declaração das Nações Unidas contra as acusações ao governo da Nicarágua, o embaixador brasileiro na ONU afirmou que o Brasil poderá acolher opositores expatriados pelo governo de Daniel Ortega. O histórico da relação entre o governo brasileiro e a ditadura de Ortega e o cenário atual de ameaça a opositores e à liberdade de expressão no país são temas deste podcast que conta com o relato de Paulo Abrão, assessor sênior da Artigo 19 e diretor do Washington Brazil Office.

 

 Conteúdos da rede em celebração à luta das mulheres. Como marco do mês da mulher, organizações da rede do Pacto pela Democracia lançaram conteúdos especiais sobre a luta das mulheres. A Revista Azmina, em parceria com a Antra, dedica o mês de março para a publicação de conteúdos sobre as mulheres trans Latino-americanas. O Instituto Update lançou no último sábado (6) o podcast Jogo de Cartas, uma série sobre a participação de mulheres no processo de escrita da constituição de 1988. Gabriella da Costa, colaboradora no Centro de Conhecimento Anticorrupção da Transparência Internacional, publicou um artigo onde lista os caminhos para a construção da agenda sobre gênero e corrupção no Brasil.

 

Inscrições abertas para cursos de organizações da rede. Estão abertas as inscrições para vários cursos promovidos por organizações da rede do Pacto pela Democracia. Eles tratam de participação cidadã, educação política, transparência de dados e estão listados nesta thread no perfil do Pacto no Twitter.

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 09 março

A SOLIDÃO DE BOLSONARO

O caso dos estojos com joias presenteadas pelo soberano autocrata da Arábia Saudita está virando crise política para o bolsonarismo. Ele, do seu “exílio”, começou dizendo que nada sabia do assunto. Provas documentais acabaram desmentindo-o. Ontem ele admitiu que um dos estojos, com relógio, abotoaduras e outros mimos, que passou ilegalmente na Alfândega de Cumbica SP está na posse dele como acervo pessoal. Vai ter que pagar os direitos alfandegários ou devolver o estojo ao Patrimônio Nacional. Não obstante, ele continua insistindo que jamais cometeu nenhuma irregularidade. Isso lembra uma famosa expressão: “Na prisão de SING SING que guarda os priores criminosos dos Estados Unidos, todos, lá se consideram inocentes”. Quanto ao outro estojo, com joias mais valiosas, no valor de R$ 16,5 milhões, ainda está retido. Vídeos comprovam que o então Ministro Bento Albuquerque tentou passá-lo despercebido na Alfândega numa atitude francamente vergonhosa para além de ser alta autoridade do país, ser um Almirante da Marinha. Triste episódio que mancha não apenas a já controvertida biografia de Bolsonaro, mas, agora, de militares, sempre tidos e havidos como patriotas. Lamentável. No Partido do Presidente o assunto vem sendo tratado com cuidados e remetido a uma crise conjugal no casal Bolsonaro. Michele, enfim, esposa do Presidente, declarou que jamais soube das jóias. Aparentemente, Bolsonaro não pretendia doá-las à esposa. Até o último dia de sua presença como Presidente tentou, inutilmente, tomar posse delas. Outras lideranças bolsonarista tampouco saem a campo para defende-lo em tão comprometedor caso. Se omitem. Até o famoso coronel que era seu braço direito, o Ajudante de Ordens que expediu ofício com timbre da Presidencia requisitando as jóias, acabou comunicando que Bolsonaro havia recebido , sim, o primeiro estojo com os mimos pessoais. Bolsonaro, enfim, parece que vai ficando cada vez mais só. Resta ver como ficará sua popularidade depois dessa.

Abaixo, palavras do jornalista REINALDO AZEVEDO

“- almirante Bento Albuquerque;

- tenente-coronel Mauro Cid;

- sargento da Marinha Marcos André Soeiro;

- sargento da Marinha Jairo Moreira da Silvia;

- contra-almirante da Marinha José Roberto Bueno Jr…

Eis alguns dos militares que atuaram no escândalo das joias. Vejam o que um “mau militar” (segundo Ernesto Geisel!) conseguiu fazer com as Forças Armadas. E sabemos o que se deu no 8 de janeiro.

O país tem de prosseguir na desmilitarização do poder civil e na, atenção!, “militarização dos militares”, q têm de se ater ao q define a Constituição.

Bolsonaro transformou as Forças Armadas em puxadinho de suas loucuras e de sua delinquência política, intelectual e penal.

Os militares que lhe deram suporte não se envergonham de ver tantos dos seus metidos num caso policial que mistura peculato, advocacia administrativa, descaminho, facilitação de descaminho e, a ver, corrupção passiva?

Isso é compatível com a defesa da pátria e da honra?

Um “militar bolsonarista” é uma impossibilidade dada pelos termos. Sendo uma coisa, não há como ser outra. Ou fatalmente se terá um “mau militar”.”

 

Reinaldo Azevedo


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 08 MARÇO 23

A celebração do Dia Internacional da Mulher frisa a importância da mulher na sociedade e a história da luta pelos seus direitos.

Débora Fernandes

No dia 8 de março de 1917 cerca de 90 mil operárias russas percorreram as ruas reivindicando melhores condições de trabalho e de vida, ao mesmo tempo que se manifestavam contra as ações do Czar Nicolau II. A greve geral das operárias russas que recebeu o apoio de operários do mesmo país ligados à indústria pesada, como a metalurgia. O exemplo dessa greve tornou-se tão notória à época que as feministas tomaram tal data com referência para suas bandeiras.

Esse evento, que deu origem ao Dia Internacional da Mulher, ficou conhecido como "Pão e Paz". Isso porque as manifestantes também lutaram contra as dificuldades decorrentes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Alguns anos antes, uma “data específica para as mulheres” já havia sido sugerida no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, que foi realizado em Copenhague, em 1910. A sugestão partiu de Clara Zetkin, então ligada ao Partido Social-Democrata da Alemanha, que disse à comunista russa Alexandra Kollotai, também participante do evento, da necessidade de um Dia Internacional da Mulher. Apesar de feita a sugestão, não houve de imediato um consenso sobre qual seria o melhor dia.

A proposta de um Dia Internacional da Mulher por Zetkin estabelecia que a data seria um dia de mobilizações de mulheres trabalhadoras em todo o mundo, que abordariam tanto a pauta da questão das mulheres no trabalho, como lutariam pelo sufrágio, o direito ao voto feminino. 

No ano seguinte, em 1911, aconteceria na cidade de New York uma tragédia na fábrica Triangle Shirtwaist Company. No dia 25 de março, 125 mulheres e 21 homens morreram carbonizados no interior da fábrica. A causa do incêndio foi as péssimas condições das instalações elétricas combinadas com materiais que da estrutura física da fábrica e que aceleraram o incêndio, como madeira seca e tecidos. Outro fator que contribuiu para a tragédia foi a ação dos dirigentes da fábrica de trancar os funcionários no galpão de serviço com correntes e cadeados. 

Reza a lenda que a cor do tecido que costuravam naquele dia era lilás, e seria a razão da cor ter sido adotada pelos movimentos feministas. Porém de acordo com a feminista Sylvia Pankrust, o lilás foi adotado pelas sufragistas inglesas, em 1908, na mobilização pelo direito ao voto. Elas escolheram o lilás que se inspirava na cor da nobreza inglesa, o branco que simbolizava a pureza da luta feminina e o verde a esperança da vitória.

 

O FEMINISMO NUNCA MATOU NINGUÉM, o machismo mata todos os dias

O feminismo é um movimento que luta pela igualdade social e de direitos para as mulheres e busca combater o modelo social baseado no patriarcado e os abusos e a violência contra as mulheres. 

A palavra vem do latim femĭna, significa “mulher”, é um conceito que surge no século XIX, o qual se desenvolveu como movimento filosófico, social e político.

Sua principal caraterística é a luta pela igualdade de gêneros (homens e mulheres), e consequentemente pela participação da mulher na sociedade.

Vale lembrar que em grande parte nossa cultura está alicerçada numa sociedade patriarcal, pautada na dominação masculina. O homem, além de ser o membro mais importante da família, desde muito tempo, tem sido o foco principal. Ele é aquele que possui privilégios em relação às mulheres, chamadas equivocadamente de “sexo frágil”.

Esse movimento, liderado por mulheres e que defende a igualdade de direitos, se expandiu por todo o mundo.

Atualmente os movimentos feministas atuam pela dignidade e segurança da mulher combatendo a violência de gênero, pelo reconhecimento ao trabalho e salários justos e igualitários ao homem, combater as desigualdades de classe, raça e gênero; pelos direitos reprodutivos, defesa da economia solidária, meio ambiente, contra as mudanças climáticas e por uma agricultura orgânica de acesso a todos e etc. 

 

PALAVRAS PARA CONHECER

Empoderamento – é capacidade do indivíduo realizar, por si mesmo, as mudanças necessárias para evoluir e se fortalecer. Para levar a vida que escolher.

Sexo – categoria que define o que é ser fêmea e o que ´ser macho a partir dos aspectos biológicos, ou seja, dos órgãos sexuais.

Sororidade - a prática de empatia, confiança, cooperação e acolhimento entre mulheres.

Gênero – Identidade construída socialmente para definir os papéis esperados dos indivíduos, determinados a partir das construções sociais que podem mudar.

Cisgênero – pessoa que sua identidade de gênero se identifica se identifica com seu biológico atribuído a ela no nascimento. 

Transgênero – pessoa que não se identifica com o gênero que foi atribuído a ela quando nasceu ou que não se encaixa em uma definição binária de identidade de gênero.

Patriarcado – Sistema que organiza a sociedade em torno de figuras de autoridade do sexo masculino.

Sexismo – Atitude de discriminação baseada em gênero.

Misoginia – Ódio, desprezo ou repulsa ao gênero feminino e às características a ele associadas.

Transfobia – Atitude de discriminação em relação às pessoas transgêneras 

Machismo – Atitude ou comportamento de quem não admite a igualdade de direitos para o homem e a mulher sendo, pois contra o feminismo.

Manterrupting – Man + interrupting. Comportamento comum em relações de trabalho, reuniões e palestras, quando uma mulher não consegue concluir sua frase porque é constantemente interrompida por homens. 

Gaslighting – violência emocional por meio de manipulação psicológica que leva a mulher a achar que enlouqueceu ou duvidar de seu senso de realidade, suas próprias memórias, percepção, raciocínio, etc. 

Bropriating – Brotter + appropriating. Quando um homem se apropria da ideia de uma mulher e leva o crédito por ela; 

Mansplaining – Man + explaining. Quando o Homem dedica seu tempo para explicar algo obvio e fala didaticamente como se a mulher não fosse capaz de compreender, afinal ´mulher.

 

AS CONQUISTAS BRASILEIRAS ATRAVÉS DA LEGISLAÇÃO 

1827 – Meninas são liberadas para frequentarem a escola, partir da Lei Geral – promulgada em 15 de outubro é que mulheres foram autorizadas a ingressar nos colégios e estudassem além da escola primária. - hoje em dia as mulheres brasileiras são a maioria no que se refere ao acesso à formação superior – 25% das mulheres no País ingressam nas universidades, enquanto o número de homens é apenas 18%.

1832 – A obra “Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens” é publicado, de autoria de Nísia Floresta, que desafiou as tradições e costumes da sociedade ao publicar seu livro Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens. Ela foi a primeira mulher brasileira a denunciar em uma publicação o mito da superioridade do homem e de defender as mulheres como pessoas inteligentes e merecedoras de respeito igualitário. Seu livro é considerado o pioneiro do feminismo brasileiro por reforçar que a mulher é tão capaz quanto qualquer homem de assumir cargos de liderança ou desempenharem quaisquer atividades na sociedade. 

1879 – Mulheres conquistam o direito ao acesso às faculdades, porém não impediu que o machismo estrutural da sociedade ainda oprimisse as mulheres que queriam estudar de realizarem seus objetivos, o preconceito ainda foi um mal muito presente na vida das jovens estudantes daquela época. 

1910 – O primeiro partido político feminino é criado, o Partido Republicano Feminino, surge como ferramenta de defesa do direito ao voto e emancipação das mulheres na sociedade. 

1932 – Mulheres conquistam o direito ao voto, o sufrágio feminino foi garantido pelo primeiro Código Eleitoral brasileiro: uma vitória da luta das mulheres que, desde a Constituinte de 1891, pleiteavam o direito ao voto. Essa conquista só foi possível após a organização de movimentos feministas no início do século XX, que atuaram intensa e exaustivamente no movimento sufragista, influenciados, sobretudo, pela luta das mulheres nos EUA e na Europa por direitos políticos.

1962 – É criado o Estatuto da Mulher Casada. Em 27 de agosto, a Lei nº 4.212/1962 permitiu que mulheres casadas não precisassem mais da autorização do marido para trabalhar. A partir de então, elas também passariam a ter direito à herança e a chance de pedir a guarda dos filhos em casos de separação. 

No mesmo ano, a pílula anticoncepcional chegou ao Brasil. Apesar de ser um método contraceptivo bastante polêmico, por influenciar os hormônios femininos, o medicamento trouxe autonomia à mulher e iniciou uma discussão importantíssima sobre os direitos reprodutivos e a liberdade sexual feminina.

1974 – Mulheres conquistam o direito de portarem um cartão de crédito, com a aprovação da “Lei de Igualdade de Oportunidade de Crédito”, para que clientes não fossem mais discriminados baseados no gênero ou estado civil.

Até então os bancos ditavam como as mulheres gastavam o próprio dinheiro. Mulheres solteiras ou divorciadas que solicitassem um cartão de crédito ou empréstimo eram obrigadas a levar um homem para assinar o contrato. A mulher não tinha liberdade de escolha e era vista como objeto que pertencia ao pai ou ao marido, sem voz ativa alguma. 

1977 – A Lei do Divórcio é aprovada no dia 26 de dezembro de 1977, o divórcio tornou-se uma opção legal no Brasil. Porém, anos após a validação da Lei nº 6.515/1977, as mulheres divorciadas permaneciam sendo vistas com maus olhos pela sociedade. Esta pressão social fez muitas mulheres optarem por casamentos infelizes e abusivos em vez de pedirem o divórcio. 

1979 – Mulheres garantem o direito à prática do futebol - “PÉ DE MULHER NÃO FOI FEITO PRA SE METER EM CHUTEIRAS! ”. Sim, essa era a manchete de um jornal em 1941.

No Decreto da Era Vargas, estava claro: as mulheres não podiam praticar esportes incompatíveis com as “condições de sua natureza”. O argumento era de que a prática feria a chamada “natureza feminina” e com isso, de 1941 até 1979, foi eliminada qualquer chance de atletas mulheres praticarem esportes. Apesar da proibição, as mulheres nunca pararam de jogar futebol. Sempre desafiaram a “essência feminina” e ocupavam campos de várzea e locais em que o Estado não chega. 

Após quatro décadas, a regulamentação do futebol feminino veio em 1983, mas devemos lembrar o quanto a proibição trouxe reflexos negativos no esporte até hoje, como o pouco incentivo ao futebol feminino e a falta de patrocinadores.

1985 – É criada a primeira Delegacia da Mulher ou Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (DEAM) - surge em São Paulo e, logo depois, outras unidades começam a ser implantadas em outros estados. Essas delegacias especializadas da Polícia Civil realizam, essencialmente, ações de proteção e investigação dos crimes de violência doméstica e violência sexual contra as mulheres.

1988 – A Constituição Brasileira passa a reconhecer as mulheres como iguais aos homens. Foi apenas na Constituição de 1988 que as mulheres passaram a ser vistas pela legislação brasileira como iguais aos homens. Somente após as pressões da pauta feminista, aliada com outros movimentos populares que ganharam as avenidas na luta pela democracia, é que conseguimos vencer uma realidade opressora e fomos incluídas legalmente como cidadãs com os mesmos direitos e deveres dos homens – pelo menos na Constituição. 

2002 – “Falta da virgindade” deixa de ser motivo para anular o casamento, Apenas no início do século XXI é que o Código Civil brasileiro extinguiu o artigo que permitia que um homem solicitasse a anulação do seu casamento caso descobrisse que a esposa não era virgem antes do matrimônio. Até este momento, a não virgindade feminina era julgada como uma justificativa aceitável para divórcios. 

2006 – É sancionada a Lei Maria da Penha

Maria da Penha, a farmacêutica que deu seu nome à lei, precisou ser vítima de duas tentativas de homicídio e lutar por quase 20 anos para que, finalmente, conseguisse colocar seu ex-marido criminoso atrás das grades. Definitivamente, essa é uma das conquistas do feminismo mais importantes para as mulheres brasileiras. A Lei nº 11.340/2006 foi sancionada para combater a violência contra a mulher.

2015 – É aprovada a Lei do Feminicídio. No dia 9 de março de 2015, a Constituição Federal reconheceu a partir da Lei nº 13.104/2015 o feminicídio como um crime de homicídio qualificado.

2018 – A importunação sexual feminina passou a ser considerada crime. Infelizmente ser mulher ainda é motivo para vivenciar situações de assédio e violência no dia a dia, no ônibus, em aplicativos de carros particulares ou numa simples ida ao mercado. A ocorrência deste tipo de prática contra as mulheres é tanta que a pauta feminista precisou incluir em suas ações a defesa da lei que caracteriza o assédio como crime (Lei nº 13.718/2018).

Apesar desta legislação garantir proteção às pessoas de todos os gêneros, a força do movimento feminista foi essencial para que ela se tornasse uma realidade em nossa sociedade. Não é como se hoje não sofrêssemos mais com o assédio, mas pelo menos agora temos um mecanismo legal para defender nosso direito de ir e vir! 

2021 – É criada lei para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher. A Lei 14.192/21 estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher ao longo das eleições e durante o exercício de direitos políticos e de funções públicas. É violência política contra as mulheres toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 07 MARÇO 23

Vindima trágica

Paulo Timm – Publ. A FOLHA, Torres RS 3/10 março 23, revisado

          Escravidão nas vinícolas: 'Se reclamasse, era espancado', diz vítima

          Dois grandes títulos imortalizam o papel das colheitas de vinho e outros produtos agrícolas no mundo: “Vinhas da Ira”, de John Steimbeck e “Vindima Trágica”, um filme de 1967. Agora a tragédia chegou à nossa vizinhança. O caso do trabalho análogo ao trabalho escravo em importantes e tradicionais vinícolas do Estado – Aurora, Salton e Garibaldi -, em Bento Gonçalves, seguido de esdrúxula nota da Associação a que pertencem estas empresas e do discurso de preconceituoso discurso contra os baianos de um vereador de Caxias repercutiu nacional e internacionalmente. Coincidindo com a presença do Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, em reunião em Genebra, este foi instado pela imprensa a se pronunciar criticamente sobre o assunto. Ruim para a imagem do Brasil que tenta retornar na atual gestão Lula III aos foros internacionais. Até a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se manifestou, embora indiretamente, sobre o caso, recomendando que vinhos utilizados nas missas não sejam oriundos de vinícolas mancomunadas com trabalho escravo...

 

A questão não é nova e não se restringe ao campo.

O Trabalho escravo persiste no Brasil após 20 anos de plano de erradicação: 'Naturalizamos o trabalhador em condições desumanas’. Mais de 48 mil pessoas foram resgatadas do trabalho análogo à escravidão desde 2003. Em 2022: mais de 2,5 mil pessoas foram resgatadas no Brasil. Conheça, a propósito, a Lei brasileira: O que é trabalho análogo à escravidão, segundo a lei brasileira | Trabalho e Carreira | G1 (globo.com):

O artigo 149 do Código Penal Brasileiro - "É caracterizado pela submissão de alguém a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou seu preposto."

Relatórios dão conta de que esta situação continua se repetindo em vários lugares do país, como, por exemplo, junto à confecções em São Paulo, estado mais rico do país. Por trás do glamour do estilismo e da moda repousam, aliás, no mundo inteiro, reinam condições de trabalho desumanas. Daí, aliás, o surgimento do FASHION WEECK, movimento de designers de moda e até modelos, com sede em Londres e hoje espalhado em vários países, de denúncia desta situação. 

Aqui no Brasil o recente caso das vinícolas continua repercutindo. O dito vereador, inominável, foi expulso do Partido a que pertencia, o PATRIOTAS. Agora está sendo questionado pela própria CAMARA DE VEREADORES de Caxias do Sul e talvez responda por xenofobia na Justiça. O Governador do Estado, Eduardo Leite, também se manifestou condenando o ato, desculpando-se junto à opinião pública e convidando governador e autoridades da Bahia para visitarem o Estado. Tergiversou, entretanto, ao comentar a corresponsabilidade das vinícolas com o crime. Mas a pronta e ampla resposta da sociedade brasileira, em especial do RS, se não apaga o odioso fato, atenua em parte a imagem negativa que o mesmo criou sobre a mentalidade do gaúcho. A cada dia, porém, vem à tona o caso dos baianos. Ontem o Comandante da Polícia Rodoviária Federal deu longa entrevista à GLOBONEWS relatando como veio a saber da situação dos mesmos através de informação dada da Bahia vindo a recolhê-los em estado precário em Caxias, de onde os transferiu ao abrigo da Polícia Federal e Ministério Público, honrando, aliás a imagem daquela corporação manchada pelo comportamento de seu antigo Diretor. 

Enfim, como dizia PAULO FREIRE: Não basta ler A UVA mas saber como ela é feita, para que serve, como são feitos o suco de uva e o vinho. 

Este o conselho do autor abaixo, juiz aposentado, que vai anexo a este Editorial como registro histórico:

“A SERRA GAÚCHA PRECISA REFLETIR SOBRE SUAS RAÍZES”

Edson Balestrin, juiz aposentado do RS

A SERRA GAÚCHA precisa refletir. Nós, nascidos, criados e moradores da região, precisamos parar, olhar para nossas origens e repensar o que somos, fazemos e queremos.

Excetuando-se, por ora, o apagamento da trajetória indígena, nossa região está às portas de completar 150 anos por conta da chegada dos imigrantes italianos. E sejamos objetivos quanto a nossos bisavós: eram póri can. 

Muitos de nós já tiveram a oportunidade de conhecer a casa natal dos antepassados, invariavelmente um casarão insalubre em que várias famílias dividiam áreas comuns nos poucos momentos em que não estavam trabalhando as terras de um senhor para receber a terça, e olhe lá. Analfabetos, mas sem culpa, pouco tinham como se defender num momento de intensa reorganização política, econômica e social pelo qual passava não só a Itália, mas praticamente toda Europa impactada pela Revolução Industrial.

Alguns até puderam dar-se ao luxo de decidir pela migração à ’Mérica, mas muitos foram expulsos porque eram um peso para a nação que se estabelecia. Além de que há registros de que alguns foram expatriados por crimes cometidos. Ma da romai i era tuti bona gente.

Os italianos que foram para São Paulo substituíram a mão de obra dos escravos negros quase nas mesmas horrendas condições, enquanto que os italianos chegados ao Rio Grande do Sul tiveram a sorte de poder fazer a própria sorte. Mas isso significava derrubar uma floresta, enfrentar animais, epidemias, entre mil outros medos. Com muito sparagnar e outro tanto de desprezo pela educação, aos poucos o capital se acumulou, bem como a discriminação, o racismo, a xenofobia. A região tornou-se uma potência de riqueza e de falso moralismo.”


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 03 MARÇO 23

ALERTA A BRASILEIROS QUE VÃO PARA A EUROPA

Entra em vigor lei que dá 'residência automática' a brasileiros que estão em Portugal

Novo modelo vai alterar o processo imigratório de muitos brasileiros que já moram no país europeu e de quem quer pedir residência.

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Tenho acompanhado, não de agora mas já há algum tempo, brasileiros que chegam a Portugal. Até escrevi um artigo chamando atenção sobre o que chamei de “sinistrose” de alguns brasileiros que desacreditam do Brasil e emigram falando, aliás, muito mal do próprio país. Verdade que já não vou à terrinha desde o começo da pandemia, mas sigo acompanhando as notícias de lá. Muitos brasileiros lá chegam sem qualquer noção de que estão chegando em outro país, com outra realidade cultural, outras leis, outras tradições. Por falarmos a mesma língua creem que estão chegando num outro “Estado”. Acabam se estranhando com os portugueses, que refletem sua vivência num país que até a inserção na União Europeia era uma aldeia. Choques acabam sendo inevitáveis. De resto, as condições econômicas em Portugal estão se tornando cada vez mais difíceis: inflação, perda de dinamismo de uma economia ancorada cada vez mais em serviços de turismo, relações de trabalho um pouco frouxas, o que acaba desiludindo muitos imigrantes brasileiros. Hoje, há até um movimento de apoio da comunidade “brazuca” para financiar o retorno deles ao Brasil. Antes, pois, de se pensar em sair do Brasil, já falei isso várias vezes, sempre melhor verificar as possibilidades de emprego e até de oportunidades de realização socioeconômica dentro do país. Há várias regiões, como Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e países do Centro Oeste com carência de mão de obra e em franca expansão econômica graças ao agro. De qualquer forma, se resolver ir para Portugal ou outro país da Europa, sempre bom saber qual a realidade destes países. Chega a ser caricato bolsonaristas saírem do Brasil porque tem um Presidente de esquerda sem saber que lá em Portugal a esquerda – PSP – está no poder desde 2015. De resto, os países europeus são herdeiros de cultural socialdemocrata, com forte presença do Estado e nos quais, mesmo sob o acicate de um extremismo de direita, bem menor do que no Brasil pós 2016, o debate ideológico e a alternância nos governos entre esquerda x direita nada tem de traumático. Aproveito, por exemplo, para juntar a este Editorial uma carta de uma brasileira residente na Alemanha:

“Carta de uma brasileira residente na Alemanha” – 

Tenho sido questionada pelo fato de morar na Alemanha e querer 'comunistas' governando o Brasil. Porque é óbvio, eu deveria estar em Cuba ou na Venezuela, não aqui.

Amores, vocês não entenderam.

Não só a Alemanha, mas toda a Europa. A Europa é um epicentro de comunistas petistas esquerdopatas a serviço do cramunhão. Para os vários bolsonaristas que chegam nos grupos de brasileiros na Europa pedindo dicas de como conseguir de ajuda do governo alemão (porque teta do governo alheio pode), deixo um aviso: fiquem no Brasil. Caso contrário, prepare-se para a seguinte realidade:

- Aborto legalizado nos primeiros meses de gestação e licença maternidade que pode chegar até, pasmem, 3 anos recebendo salário integral e sem correr o risco de perder o emprego nesse meio período;

- Homossexuais podem se casar e adotar crianças;

- Ensino público gratuito para todas crianças dentro do território alemão a partir dos 6 anos. Vocês aí querendo reduzir as disciplinas ao máximo, aqui crianças de 10 anos estão tendo aula de ética;

- Professores desde o jardim de infância treinados para trabalhar diversidade de gênero, sexual, étnica, religiosa e cultural. Seu filho certamente será doutrinado aqui (rs);

- Bolsa Família? Amado, aqui tem bolsa pra qualquer coisa. Tem criança? Recebe ajuda do Estado. Perdeu o emprego? O Estado paga seu aluguel e garante suas necessidades básicas até você achar outro trabalho. Precisa de ajuda para mobiliar a casa e tá quebrado? O estado também dá uma forcinha...

E apesar de tanta teta, a Alemanha é um dos países mais produtivos da Europa;

- A polícia é desmilitarizada e não pode sair sentando a mão em marginal, independente do crime cometido. Os presídios seguem a cartilha dos direitos humanos. Existem diversas penas para crimes leves que não envolvem encarceramento... e, em algumas cidades, os presídios chegam a fechar;

- As pessoas se preocupam com o meio ambiente e reciclam lixo. Ciclovias são realidade na maioria das cidades;

- Aqui nem família de classe média alta tem empregada doméstica. No máximo alguém que ajuda com algumas tarefas uma vez por semana. Quer alguém todos os dias? Sem problema, mas vai pagar todos direitos trabalhistas. Alguém limpando a tua sujeira é luxo, e luxo custa caro;

- Ricos pagam muito mais impostos que pobres. Ainda assim eles continuam ricos, não se preocupem;

- Homenagear ditador aqui pode te causar problemas;

- Não importa o posicionamento político da pessoa, aqui a ideia de garantir segurança pública armando civis é patética;

- Aqui nazismo é de extrema direita e isso não está aberto para discussão ou revisionismo histórico mal intencionado.

Acho intrigante essa gente que acha linda a social democracia na Europa, mas no Brasil vota pelo atraso, militarismo e conservadorismo. Se isso funcionasse, tínhamos saído da ditadura militar com índices de primeiro mundo. Sabemos que isso está longe da realidade.

Então não adianta vir pra Europa elogiar a limpeza e a segurança das cidades, mas no Brasil querer gente armada, encarceramento em massa e ciclovias fechadas.

Não adianta achar os europeus mais inteligentes e bem educados que os brasileiros, mas aí votam num cara que sugere ensino a distância e o fim do financiamento estudantil como solução para o nosso sistema educacional falido.

Não adianta achar a população daqui ordeira e civilizada, mas no Brasil dar carteirada em porteiro e garçom.

Não adianta gostar da ausência de pobreza nas ruas, mas aí reclamar que empregada doméstica quer direitos enquanto deveria agradecer pela merreca que ganha.

Conduzir uma sociedade é complexo e exige visão. Isso aqui funciona não por acaso, mas porque é um projeto.

População instruída, distribuição de riqueza e inclusão.

Custa caro, é verdade. Também não é perfeito, mas nada vai ser. Paga-se imposto pra tudo, há um certo controle e você tem que respeitar algumas regras. Mas depois de dois anos aqui, concluo que vale a pena. Nunca me senti mais à vontade pra fazer o que eu bem entender da minha vida. E liberdade é se sentir livre para escolher.

Enquanto tivermos uma população oprimida, ignorante e desmoralizada, nós sempre seremos controlados.

Então se o PT não salva a nação, pelo menos nos garantem a democracia.

E pra mim, democracia é inegociável."

Gabriela Lorenzon"


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 02 MARÇO 23

O caso do trabalho análogo ao trabalho escravo na Vinícola Garibaldi, Aurora e Salton

O caso do trabalho análogo ao trabalho escravo em importantes e tradicionais vinícolas do Estado, seguido de esdrúxula nota da Associação a que pertencem estas empresas e do discurso de preconceituoso discurso de um vereador de Caxias repercutiu nacional e internacionalmente. Coincidindo com a presença do Ministro dos Direitos Humanos em reunião em Genebra, este foi instado pela imprensa a se pronunciar criticamente sobre o assunto. A questão não e nova e não se restringe ao campo. Relatórios dão conta de que esta situação continua se repetindo em vários lugares do país, como, por exemplo, junto à confecções em São Paulo. Por trás do glamour do estilismo e da moda repousam, aliás, no mundo inteiro, condições de trabalho desumanas. Daí, aliás, o surgimento do FASHION WEECK, com sede em Londres e hoje espalhado em vários países de denúncia desta situação. Aqui no Brasil o caso das vinícolas continua repercutindo. O dito vereador, inominável, foi expulso do Partido a que pertencia, o PATRIOTAS. Agora está sendo questionado pela própria CAMARA DE VEREADORES de Caxias do Sul e talvez responde por xenofobia na Justiça. O Governador do Estado também se manifestou condenando o ato, desculpando-se junto à opinião pública e convidando governador e autoridades da Bahia para visitar o Estado. Esta pronta e ampla resposta da sociedade brasileira, em especial do RS, se não apaga o odioso fato, atenua em parte a imagem negativa que o mesmo criou sobre a mentalidade do gaúcho. A cada dia, porém, vem à tona o caso dos baianos. Ontem o Comandante da Polícia Rodoviária Federal deu longa entrevista à GLOBONEWS relatando como veio a saber da situação dos mesmos através de informação dada da Bahia vindo a recolhê-los em estado precário em Caxias de onde os transferiu ao abrigo da Polícia Federal e Ministério Público, honrando, aliás a imagem daquela corporação manchada pelo comportamento de seu antigo Diretor. Transcrevemos abaixo a ampla matéria hoje divulgada pela Rede Globo, para conhecimento e registro histórico:

 

Trabalho escravo persiste no Brasil após 20 anos de plano de erradicação: 'Naturalizamos o trabalhador em condições desumanas'

Mais de 48 mil pessoas foram resgatadas do trabalho análogo à escravidão desde 2003.

O resgate de mais de 200 trabalhadores escravizados em vinícolas da Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, contribuiu para expor a distância que o Brasil se encontra de sua meta para erradicar até 2030 o trabalho análogo à escravidão.

De acordo com o Observatório Digital de Trabalho Escravo no Brasil, mais de 48 mil pessoas foram resgatadas do trabalho análogo à escravidão desde 2003 – ano em que foi criado o primeiro plano de erradicação.

 

Trabalhadores resgatados em situação semelhante à escravidão em Bento Gonçalves — Foto: Reprodução/RBS TV

"O trabalho escravo existe em grande medida no Brasil porque a gente naturaliza essa forma de exploração. A gente naturaliza que o trabalhador possa estar em condições desumanas", afirma Natalia Suzuki, coordenadora do programa "Escravo nem pensar", o primeiro programa nacional de prevenção ao trabalho escravo.

Choques, spray de pimenta e espancamentos: veja relatos de trabalhadores resgatados que faziam a colheita em vinícolas no RS

Após as denúncias contra a Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda., empresa que oferecia a mão de obra para as vinícolas, uma entidade industrial de Bento Gonçalves tentou justificar a existência de trabalho escravo na região à "falta de mão de obra" e "sistemas assistencialistas".

Em Caixas do Sul, o vereador Sandro Fantinel (Patriota), pediu que empresas "não contratem mais aquela gente lá de cima", se referindo a trabalhadores vindo da Bahia, de onde saiu a maioria dos homens e mulheres resgatados das vinícolas.

O responsável pela empresa que escravizou os trabalhadores foi preso, mas vai responder em liberdade.

"O que espanta a gente nessa situação é que já há algum tempo, há algumas décadas, havia algum cuidado desse setores pra é proferir argumentos desse tipo. O que a gente nota é que cada vez mais, nesse último período – e talvez aí [esteja] relacionado com esse clima político, com essa onda crescente de discursos de extrema direita – isso aparece de uma forma muito escancarada", avalia Natalia.

 

O Assunto g1 dia 2 março - O caso das vinícolas e trabalho escravo

Presos sob o controle de uma empresa que atende a três grandes vinícolas da Serra Gaúcha, 207 trabalhadores foram libertados em uma ação da Polícia Federal e do Ministério Público do Trabalho. De acordo com a investigação, eles foram submetidos também a situações de tortura – espancados com choques e spray de pimenta – depois de serem aliciados na Bahia com a promessa de trabalho remunerado em Bento Gonçalves (RS). Não se trata de um caso isolado: em 2022, mais de 2,5 mil pessoas foram resgatadas em situações análogas à escravidão. Coordenador da Conaete (Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas), Italvar Medina conta a Natuza Nery os detalhes da operação. Natuza conversa também com Natalia Suzuki, coordenadora do programa “Escravo nem pensar”, o primeiro do tipo em alcance nacional. Neste episódio:

Italvar relata como foi o resgate dos trabalhadores da região produtora de vinhos no Rio Grande do Sul: “Foram constatados condição de trabalho degradante, servidão por dívidas e trabalho forçado, com agressões”;

Ele afirma que o episódio das vinícolas gaúchas não é caso isolado, e que em outros ramos de atividade também é comum que grandes empresas patrocinem mão de obra escrava;

Natalia reforça que o trabalho escravo é “recorrente e constitutivo da forma de produção” de vários setores: “Temos falhado em resolver este problema de forma muito séria”;

Ela comenta a fala “absurda, racista e preconceituosa” do vereador de Caxias do Sul, que culpabiliza os trabalhadores pela condição a que estavam submetidos: “Infelizmente, esse discurso é recorrente entre os empregadores”.

 

O que você precisa saber:

Tortura: relatos de choques, espancamentos e spray de pimenta

Depoimento: 'Se reclamasse, era espancado', diz vítima

Entidade: relaciona escravidão a "sistema assistencialista"

Vereador do RS: discursou contra baianos e é alvo de cassação

ApexBrasil: vinícolas do RS estão suspensas de exportações

Em 2022: mais de 2,5 mil pessoas foram resgatadas no Brasil

Lei brasileira: o que é trabalho análogo à escravidão


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 01 DE MARÇO DE 23

 

Cuidado com os números e metodologias 

Ultimamente, muitos economistas, dentre eles alguns NOBEL de Economia têm chamado a atenção para o fato de que sua “Ciência” não tem o mesmo caráter das Ciências da Natureza. Os fatos sociais, dominados pela interação entre humanos são sempre carregados de sensações e interesses, além do que variam conforme os “olhos de ver”. É sabido que em incidentes policiais com testemunhas estas são imediatamente isoladas e levadas a depoimento isoladamente. Por mais óbvio que tenha sido o dito “fato” ele é percebido diferentemente por cada observador. Outro fator que interfere na percepção dos acontecimentos humanos são as metodologias de captação e medida destes acontecimentos. Falou-se muito, por exemplo, quando da discussão sobre Previdência que a expectativa de vida do brasileiro vinha aumentando e que isso justificaria maior tempo em atividade. Ora, a expectativa média de vida pode ter aumentado em decorrência das melhorias de condições de vida de um segmento mais privilegiado da sociedade, hoje, no Brasil, em torno de ¼ de sua população. Para metade da população que ganha até 1 Salário Mínimo, porém, e que mora em condições sub-humanas nas periferias das grandes metrópoles isso não acontece. Pesquisa da FUNDAÇÃO ABRINQ, por exemplo, em São Paulo, demonstra que o morador da periferia vive, em média, 20 anos a menos do que o morador dos “Jardins”. Pesa sobre eles não só a penúria de emprego e renda mas de condições precárias de moradia e o pior: a violência. Violência que não se restringe ao crime mas que decorre, também, dos métodos de abordagem e intervenção policial nos morros e bairros. Outro exemplo, é o uso do PIB pelos economistas como medida da “Riqueza das Nações”, numa referência ao título da obra capital do fundador da Economia, Adam Smith. No seu tempo regia a Teoria Valor Trabalho para medir esta riqueza, sepultando as teoria anteriores que justificavam a pilhagem colonial como fundamento do Poder Nacional. A indústria, aí, como principal setor empregador passou a ser vista com origem da riqueza das nações. Mais tarde, atribui-se esta riqueza à valorização não só do Trabalho como também do Capital no processo produtivo e o PIB passou a ser entendido como a nova medida da riqueza das nações, medido como a soma de todos os salários pagos e remunerações do capital obtidas num período de tempo. Hoje discute-se muito este conceito, até porque grande parte do capital nem é mais produtivo, é simplesmente especulativo sem fronteiras, na sua forma dinheiro, circulando loucamente nas rodas da Internet ao redor do mundo. Mais ainda, há várias maneiras de conceituar este próprio PIB. O exemplo abaixo, de autoria do Economista gaúcho Carlos Paiva, mostra como, sob o conceito de PIB Poder de Compra, a China já superou os Estados Unidos e isso é decisivo para se compreender melhor as contorções contemporâneas da geopolítica mundial – o Poder Mundial mudou e os “atlantistas ocidentais” ainda não se deram disso conta:

“CHINA JÁ É A MAIOR POTÊNCIA ECONÔMICA DO MUNDO - Carlos Paiva - Há duas formas de avaliar o PIB dos países. Uma é a preços correntes (câmbio nominal). A outra é por paridade de poder de compra. Esta segunda forma é a correta (ou, pelo menos, a menos errada). Em PPP, o PIB da China já é maior que o dos EUA. A China está com pouco mais de 19,5% do PIB mundial e os EUA com algo como 15,8%. A diferença é a seguinte: 1) em PPP avalia-se a cesta de bens produzidos e multiplica-se pelo preço da cesta equivalente (em dólares) nos EUA; 2) em preços correntes, avalia-se o PIB na moeda nacional e converte-se para dólares à taxa de câmbio vigente. Neste segundo caso, se um país desvaloriza sua moeda (para deprimir as importações, que ficam mais caras na moeda interna, e ampliar as exportações, que ficam mais baratas em dólares), o PIB cai, mesmo que o produto real, os bens produzidos, se mantenha constante ou, até, aumente. Imagine um país com taxa de câmbio de 1:1 (moeda nacional X dólar) com PIB de 1 trilhão. Se ele desvalorizar sua moeda e a taxa for 2:1 (o dólar dobra de preço), seu PIB cairia para a metade, e seria de 500 bilhões de dólares. Ora, o PIB deve medir o quanto se produz, não a taxa de câmbio. Porém, quando se usa PPP, fica claro que o G-7 é menor que o Z-7 (China, Índia, Rússia, Indonésia, Brasil, Turquia e México). Então - evidentemente - todas as publicações ocidentais e dos sistemas de divulgação do FMI e Banco Mundial (que são presididos SEMPRE, o primeiro, por um europeu ocidental, e o segundo, por um estadunidense) privilegiam a primeira forma de medir. *Mas quem calcula o PIB em PPP é o próprio FMI. E usa em textos mais """"internistas"""") Como eu digo sempre, economista não precisa mentir para enganar. Ele usa o instrumento mais fácil de manipulação: os números. Há um mundo de complexidade por trás do cálculo de PIB e "tamanho" das economias. Bem como em índices de crescimento, taxa de emprego e desemprego, IDH, medidas de bem estar, nível de atividade industrial, produtividade, etc. É só escolher os números certos e provamos qualquer tese.”


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 28 FEVEREIRO 23

Governo Federal volta a cobrar tributos sobre combustíveis

A inflação disparou no mundo inteiro durante o COVID em função da paralização das cadeiras produtivas e interrupções na logística nos mercados globais, vindo a recrudescer com a Guerra na Ucrânia, em 2022. O Brasil não ficou de fora deste processo e pouco poderia ter feito para amenizar oi que foi, rigorosamente, um choque global de OFERTA. Não obstante, o ano eleitoral levou o Presidente Bolsonaro, candidato, a procurar formas artificiais para mitigar a elevação de preços que poderia lhe prejudicar na disputa à reeleição. Tentou várias vezes, sem resultado, interferir nos preços da PETROBRÁS. Então voltou-se para o corte de impostos federais sobre combustíveis e à pressões sobre o CONGRESSO para que reduzisse, também, o imposto estadual sobre combustíveis e energia. Conseguiu, ao preço de cortar cerca de R$ 25 bilhões de receitas dos Estados que agora necessitam destes recursos. O corte dos impostos federais, porém, associado às bondades eleitorais que ampliaram consideravelmente o AUXILIO BRASIL e bolsas generosas a taxistas e caminhoneiros produziu um rombo fiscal de R$ 400 bilhões nos cofres da União. Mais dia, menos dia, o rigor fiscal deveria ser restaurado. É o que anunciou ontem o Presidente Lula ao comunicar que os impostos federais sobre combustíveis voltarão a ser cobrados a partir de amanhã. Houve, até, uma disputa interna no Governo quanto à oportunidade desta reoneração. Setores políticos, PT à frente, temendo reflexos na popularidade do Governo, preferiam uma maior prorrogação das isenções. A área econômica, porém, se impôs pela necessidade de gerar recursos para enfrentar as novas ações sociais do Governo. Vai recolher, com a volta gradual dos impostos federais sobre combustíveis em torno de R$ 27 bilhões. Não será um retorno equivalente às isenções, nem homogêneo. A gasolina será mais onerada do que o álcool, dando aos proprietários de automóveis, na sua grande maioria com veículos flex, a opção mais barata do etanol e menos poluente. O diesel, enfim, e o gás, manterão os impostos mais baixos. Com isso o Governo acalma os ditos mercados, ao tempo em que fortalece seu compromisso com a Agende Verde, em pauta, nestes dias, com o representante americano para o clima J. Kerry. A expectativa, no entanto, quanto ao reflexo desta reoneração sobre a inflação, permanece. Haddad acredita que a PETROBRÁS, a partir do mês de abril poderá contribuir para um novo equilíbrio de preços através da revisão no sistema de formação de preços do petróleo, com menor ponderação dos preços seus preços internacionais nos preços do produto. Ver para crer. 


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 27 FEVEREIRO 23

Crescem preocupações com fakenews nas Redes: Em carta à Unesco, Lula pede a regulação das plataformas digitais

A Unesco está promovendo nesta semana a conferência Internet for Trust, que debate a definição de diretrizes para a regulamentação de plataformas digitais de informação como bem público. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, convidado para participar, enviou uma carta no último sábado, 18, que foi divulgada somente nesta quarta-feira, 22, a Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, agradecendo o convite, mas, sobretudo, reforçando sua opinião por uma regulamentação específica para as big techs, como Meta (dona de Instagram, Facebook e WhatsApp), Google e Apple.

Em seu texto, Lula fala da importância das plataformas digitais, em suas diferentes modalidades, como parte fundamental do “nosso dia-a-dia”, na forma das pessoas se comunicarem, se relacionarem e consumirem. Lembra que difundem conhecimento, facilitam o comércio, aumentam a produtividade, além de ampliarem a oferta de serviços e a circulação de informações.

Porém, de acordo com Lula, as plataformas fazem com que os benefícios sejam “distribuídos de maneira desproporcional entre as pessoas de diferentes níveis de renda, ampliando a desigualdade social. O ambiente digital acarretou a concentração de mercado e de poder nas mãos de poucas empresas e países. Trouxe, também, riscos à democracia. Riscos à convivência civilizada entre as pessoas. Riscos à saúde pública. A disseminação de desinformação durante a pandemia contribuiu para milhares de mortes. Os discursos de ódio fazem vítimas todos os dias. E os mais atingidos são os setores mais vulneráveis de nossas sociedades”.

Lula cita o ataque às sedes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Brasil por terroristas e vândalos no dia 8 de janeiro, um evento facilitado pelas plataformas, por onde circularam livremente desinformações e mentiras. “Em grande medida, essa campanha foi gestada, organizada e difundida por meio das diversas plataformas digitais e aplicativos de mensagens. Repetiu o mesmo método que já tinha gerado atos de violência em outros lugares do mundo. Isso tem que parar”, escreveu.

E continuou: “A comunidade internacional precisa, desde já, trabalhar para dar respostas efetivas a essa questão desafiadora de nosso tempo. Precisamos de equilíbrio”. O presidente brasileiro menciona a importância de se garantir a liberdade de expressão individual, mas, por outro lado, assegurar “o direito de a sociedade receber informações confiáveis, e não a mentira e a desinformação.”

A carta reforça que a regulação deverá “garantir o exercício de direitos individuais e coletivos”. “Deverá corrigir as distorções de um modelo de negócios que gera lucros explorando os dados pessoais dos usuários.”

Lula pede que a regulação seja feita com transparência e participação social. E no plano internacional deve ser coordenada multilateralmente.

O presidente brasileiro completa dizendo sobre a importância de se reduzir o fosso digital e promover a autonomia dos países em desenvolvimento nessa área. Propõe acesso à Internet para todos, e reforça que educar e fornecer as habilidades necessárias para que as pessoas saibam usar essa ferramenta de forma consciente e cidadã são elementos essenciais.

Repercussões

“Acho importante essa posição do Lula no sentido de tentar conseguir diretrizes mais gerais para todos os países na regulação das plataformas porque a Internet é uma rede e essas plataformas atuam em vários países. De qualquer maneira, cada país precisa de uma regulação própria, assim como estamos no debate do PL 2630”, comenta a advogada especializada em direitos do consumidor e direitos digitais, Flávia Lefèvre.

Lefèvre avalia a carta como um sinal positivo feito pelo presidente brasileiro em prestigiar iniciativas multilaterais entre países.

Rafael Pellon, advogado especializado em direito digital, sócio fundador Pellon de Lima Advogados e consultor jurídico do MEF, também vê como ponto interessante a postura brasileira de finalmente buscar a regulação multilateral, algo que seria mais alinhado com outros países e blocos regionais, “o que nos traria muito mais efetividade e eficácia, considerando que a Internet é global e não apenas local, exigindo dos países muito mais coordenação em foros globais para que se identifiquem formatos de combate à desinformação.”

Lefèvre, por outro lado, sentiu falta de uma menção à governança multissetorial. “Existe um consenso internacional de que a governança multissetorial é o caminho mais adequado e mais eficaz para se tratar das questões relativas à Internet.”

“Lula editou diversos decretos e portarias contemplando direitos digitais, políticas digitais, mas não mencionou nenhuma vez o Comitê Gestor da Internet (CGI.br). Essa não citação e o fato de não levar em conta o CGI.br durante as discussões de políticas digitais e de desinformação, me preocupa”, diz. “Espero que, com a nova posição do governo de que vai retomar os debates em torno do Projeto de Lei 2630, se olhe para o CGI.br.”

Outro ponto que fez falta para Lefèvre foi o fato de o Presidente Lula não ter citado na carta a adoção de medidas de enfrentamento do poder de mercado dessas empresas que atuam como oligopólios transnacionais. “Cada uma dessas plataformas tem mais de 2,7 bilhões de usuários espalhados pelo mundo. No Brasil, cada uma tem mais de 120 milhões de usuários. Um dos modos para enfrentarmos a desinformação é confrontar o poder de mercado dessas plataformas e esse ponto poderia ter ganhado mais destaque na carta”, reflete.

Para Pellon, o Brasil precisa decidir se vai seguir modelos regulatórios em que a liberdade de expressão é decantada em prol da proteção a valores democráticos, “elegendo e empoderando alguma forma de censura e retirada rápida de conteúdos infratores, ou combatendo a desinformação com mais informação e educação, trazendo mais velocidade e eficácia na distribuição de conteúdo para que a sociedade decida.”

A regulação das plataformas diz respeito ao modo como se distribuem “informações neste século, não sobre as tecnologias que facilitam isto. Regular plataformas obrigando-as a se tornarem censores ou responsabilizando-as por aquilo que se pratica em seu ambiente já está muito bem equilibrado no Marco Civil, que aliás também é modelo de regulação para o restante do mundo. Esse equilíbrio, duramente alcançado, precisa ser mantido nas atualizações futuras da legislação”, completa.


          Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 24 FEVEREIRO 23

GOVERNO FEDERAL EM APOIO AO RIO GRANDE: Ministros afirmam que municípios poderão receber recursos em 48 h

Uma comitiva de ministros do governo federal desembarcou nesta quinta-feira (23) no Rio Grande do Sul, dirigindo-se à cidade de Hulha Negra, na campanha, uma das mais atingidas pela seca que assola periodicamente o sul do Estado que ainda tem um lugar privilegiado na produção nacional de grãos. O resultado foi o anúncio de um apoio de R$ 430 milhões para enfrentar a estiagem. Pode não ser a salvação da lavoura, mas é um passo importante para amenizar o sofrimento de milhares de produtores familiares na região. O Governo do Estado, lamentavelmente, ainda parece não ter passado das análises ilustradas com Power point à ação. Quem sabe, agora, vai à luta.

Hulha Negra é uma cidade emblemática da metade sul do Rio Grande, desmembrada da histórica Bagé. Seu nome vem do rio que lhe banha e que lhe deu sua primeira denominação: Rio Negro, principal curso d’água do Uruguai. Cidade carbonífera, foi palco das grandes movimentações guerreiras que varreram os campos rio-grandenses nos séculos XIX e XX. Conta-nos Jorge Saes, natural da cidade e residente em Torres que Hulha Negra ficou conhecida como “Potreiro das Almas”, em decorrência de uma suposta degola de 300 combatentes da Revolução Federalista no dia 28 de novembro de 1893. Apesar do nome fluvial, o município, hoje, afirma Jorge Saes, carece de água potável.

Essa questão da seca no Rio Grande não é nova. Ela castiga as plantações e a população, particularmente nos anos de La Niña, embora já na safra passada 426 municípios gaúchos decretaram situação de emergência. Mais de 100 cidades se encontram agora em situação de carência de água, sendo que sete delas já em Estado de Calamidade. Esta irregularidade no regime de chuvas acaba sendo um dos fatores que expele muitos agricultores para o centro do país, onde as águas são mais regulares e a terra mais barata. Na verdade, exceto Litoral Norte, todas as regiões do Estado estão perdendo população. . Ganha o Brasil com a expansão da fronteira agrícola, embora sem os cuidados ambientais compatíveis com os critérios de sustentabilidade vigentes, mas perde o Rio Grande com este processo.

Daí porque muitos proponham urgentes programas de acesso à águas mais distantes. É o caso de Luiz Claudio Cunha, historiador, que pondera:

“Alguém tem dúvidas que a região de Bagé terá que resolver os seus problemas com estiagem buscando água potável através de aquedutos de regiões onde ela existe em abundância? Provavelmente essa água deverá ser do aquífero Guarani que aflora no município de Livramento. Da mesma forma a região norte e noroeste que perdem suas safras em razão da falta d'água devem construir reservatórios e/ou buscar água de outros lugares. É um absurdo dirão alguns, mas eu pergunto: Não são construídos quilômetros de oleodutos ou gasodutos para buscar matéria prima para produzir energia, então porque não começamos a pensar em uma solução mais definitiva para resolver esse problema da falta de água para o consumo humano e para a produção agrícola do nosso Estado?

Os Sumérios há mais de 5 mil anos domaram as águas dos rios Tigre e Eufrates, os egípcios desenvolveram projetos de drenagem e irrigação das planícies do Rio Nilo. Os Romanos na antiguidade construíram grandes aquedutos para levar água de fontes muitas vezes distantes de suas cidades e vilas e da mesma forma o império incas aqui na América do Sul.

O que não podemos mais é ficarmos reféns da água das chuvas e a cada dois anos termos que enfrentar uma grande estiagem no Rio Grande do Sul. Esse fenômeno se repete há décadas. Conhecemos a problemática mas não somos capazes de pensar numa solucionática?

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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 23 FEVEREIRO 23

 

Racismo Religioso

A diversidade étnica e cultural, portanto religiosa, no Brasil tem caráter histórico e é reconhecida pela Constituição. De uma forma geral estamos transitando de um país essencialmente católico para uma nação com forte presença de católicos romanos, neopentecostais e devotos de cultos afros. Católicos e evangélicos deverão empatar em números absolutos na próxima década. Temos poucos muçulmanos, poucos budistas, relativamente poucos judeus. E os ateus e agnósticos são ainda franca minoria. Não obstante, o Brasil sempre foi reconhecido como um lugar de tolerância religiosa, sem lutas internas entre as diversas confissões. Ultimamente, porém, a politização de grupos neopentecostais pela extrema direita, com sua rígida pauta de costumes e suposta defesa da família, vide Senadora Damares Alves à esta da bancada da Bíblia no Congresso, tem alterado este clima. Ataques a cultos afros tem se repetido em vários lugares exigindo maior rigor da Lei. O Podcast da Globo de hoje trata deste assunto. Transcrevemos:

O Assunto g1 dia 23 fevereiro: Racismo religioso – o ódio para além do culto

A punição para quem pratica o crime de intolerância religiosa está mais dura desde o meio de janeiro – a pena passou de 1 a 3 anos de prisão para até 5 anos para quem empregar violência contra manifestações ou práticas religiosas. Uma medida necessária para frear o crescimento acelerado de crimes de fundo religioso. Em 2022, foram mais de 1.200 ocorrências no Brasil, o que significa um aumento de 45% em relação a dois anos antes. Em entrevista a Natuza Nery, Magali do Nascimento Cunha, pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião, explica os motivos que levam ao aumento do número de casos. Natuza conversa também com o babalorixá Adailton Moreira, responsável pelo terreiro de candomblé Ilê Omijuarô. Ele fala sobre o impacto da violência na vivência das religiões de matriz africana. Neste episódio:

- Magali descreve como se construiu o “casamento entre grupos religiosos e grupos políticos” no Brasil, uma relação que se fortaleceu a partir de 2010 e culminou na eleição de Bolsonaro em 2018 e no combate ao que supostamente seria uma “cristofobia”;

- Ela explica o processo histórico no qual a “demonização” das religiões não cristãs se soma à intolerância racial para consolidar o que hoje se chama de “racismo religioso”;

- Adailton relata o crescimento dos ataques contra religiões de matriz africana nos últimos 4 anos e cobra do Estado a responsabilidade para proteger a liberdade religiosa;

- Ele conta como o racismo religioso e a violência “afetam profundamente” a todos que professam crenças de matrizes africanas: “Crianças não podem se manifestar, e isso é negar sua identidade e a sua cultura”.

O que você precisa saber: Nova lei: mais severidade para crimes de intolerância religiosa/ Brasil: três queixas de intolerância religiosa por dia em 2022/Em 2 anos: crimes em razão da religião cresceram 45% no Brasil/ Pesquisa: terreiros registram até 5 ataques nos últimos 2 anos


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 22 FEVEREIRO 23

“O NÓ DA TERRA: Se a gente desce, fica muito caro. Se a gente sobe o morro, é perigoso”

Tragédia no Litoral Norte
Mais de 2 mil moradias foram construídas em áreas de risco em São Sebastião
Doações começam a chegar às vítimas do temporal no litoral de SP
Tempestades no Brasil ficaram muito mais fortes nos últimos 2 anos

A tragédia no litoral norte de São Paulo reedita a tragédia no litoral da Bahia no ano passado – Veja matéria da bbc Brasil no Qr-code, que reeditam a tragédia no Rio de Janeiro há alguns anos e que se repetem em todos os verões chuvosos em várias cidades do Brasil: Os morros veem abaixo causando morte e destruição. Um filme triste que estamos condenados a assistir sem que medidas concretas sejam tomadas pelas autoridades competentes, neste caso as Administrações Municipais, encarregadas da gestão do solo em seus territórios. Acusam falta de recursos, o que se confirma pelo insignificante valor da rubrica federal destinada à obras urbanas nos últimos anos, para não falar do abandono da Política Habitacional para moradores de mais baixa renda. Mas se o problema são recursos públicos insuficientes, as causas do mal são mais profundas. No fundo a velha e conhecida má distribuição da riqueza e da renda no país: “Se a gente desce, fica muito caro. Se a gente sobe o morro, é perigoso”. Com o fortalecimento da classe média, nada desprezível em termos de poder aquisitivo e tamanho – em torno de 45 milhões – o grosso da população, hoje em torno de 215 milhões, grande maioria morando em cidades, é empurrada para as zonas periféricas dos municípios e acaba morando em encostas perigosas, áreas ribeirinhas sujeitas à enxurradas, zonas impróprias. Lá, distante dos centros de trabalho, sofrerão as agruras de uma vida sub-humana pautada pela violência, à qual não faltam o tráfico, os milicianos, a Polícia com seus métodos ultrapassados. Sobem a serra, como se diz. Como “arranhamos a costa como caranguejos” durante séculos, já comemos o principal bioma que lhe corresponde: A Serra do Mar, hoje reduzida a 15% do seu tamanho original. Nas horas trágicas todos se mobilizam, exceto, claro o ex Presidente Bolsonaro, que preferia ficar de férias em Santa Catarina passeando de jet-ski. Agora mesmo, em São Paulo assistimos a um edificante espetáculo de harmonia dos poderes federal, estadual e municipal, com apoio das forças de segurança civil e armadas. Oxalá se mantenha este espírito de cooperação pública ao qual se soma a colaboração da Sociedade Civil, sempre presente. Mas a tarefa do subdesenvolvimento, da injustiça social e pobreza vem de séculos. Não será fácil resolvê-la sem um grande esforço de recuperação do crescimento econômico acompanhado de políticas de valorização do trabalho capazes de mudar nosso perfil social. A China retirou 400 milhões de pobres em 30 anos e se prepara para retirar outro tanto nos próximos 20. Por que não podemos nós fazer o mesmo? Tempo, portanto, de mobilização de consciências e de recuperação do otimismo quanto ao nosso futuro. Ou isso, ou a repetição das tragédias de verão durante mais alguns séculos.

 


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 20 fevereiro 23

O PODER MODERADOR DAS FORÇAS ARMADAS EM QUESTÃO

É fato sabido e registrado por historiadores que as Forças Armadas, no Brasil, se substituíram, na Proclamação da República, em 1889, ao Poder Moderador do Imperador, passando a protagonizar, em caráter “salvacionista”, a vida política do país. À Proclamação, seguiram-se o florianismo, o tenentismo da década de 20, que desembocou na Revolução de 1930, a deposição de Vargas em 45 e o Golpe de 1964, que duraria 21 anos. Mais recentemente, uma advertência do Comandante do Exército, General Villas Boas, em 2018, ao STF, teria sido decisiva para a manutenção de Lula fora do pleito presidencial daquele ano, abrindo caminho para a eleição de Jair Bolsonaro que acabaria fazendo um governo claramente militarista., Há, entretanto, um erro nesta generalização, presente em vários analistas da nossa história, recentemente verbalizada pelo Ministro Fernando Haddad como crítica ao autoritarismo verde-amarelo: A equiparação dos militares positivistas, como Deodoro, Rondon, “tenentes” do Forte de Copacabana e da Marcha de Prestes, que se insurgiram contra o atraso político e econômico do país até o golpe de 64 e os militares influenciados pela Guerra Fria, depois de 1947, que acabaram se subordinando aos imperativos da Segurança Nacional para calar lideranças populares reformistas e, mais recentemente, a partir de 1989, do Consenso de Washington. Não por acaso a forte repressão do Golpe de 64 começou pelo expurgo de militares ditos nacionalistas com vistas à homogeneização das Forças Armadas. Embora todos possam ser identificados com o autoritarismo, os primeiros associaram-se à lideranças civis, como Vargas e JK, com vistas ao desenvolvimento nacional enquanto os segundos o fizeram com vistas à confirmação do Brasil como um país subordinado a interesses externos, voltando, crescentemente à posição de exportador de matérias primas e produtos agrícolas. Dois momentos destes últimos foram a afirmação do Ministro de Relações Exteriores do Presidente Castelo Branco, de que o que “era bom para os Estados Unidos era bom para o Brasil” e do Ministro desta pasta de Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo, de que seria um orgulho se o Brasil se tornasse um pária internacional. No fundo, porém, a identificação de uma tutela militar indiscriminada e indiferenciada ao longo da República esconde uma velha aspiração liberal, com epicentro em São Paulo, que teve em Oliveira Vianna seu principal intérprete, de contestar o autoritarismo com vistas à reafirmação de um liberalismo tão ou mais autoritário, embora civil, que o dos militares. O absurdo desta tese chegou ao ponto de defender que havia mais democracia no odioso II Império do que na República. Esquecem-se, como assinala Attilio Borón, sociólogo argentino, que o liberalismo latino-americano foi sustentáculo da escravidão, do genocídio dos povos originários e da subordinação colonial: “O feiticeiro da tribo: a farsa de Mario Vargas Llosa e do neoliberalismo na América Latina” - https://autonomialiteraria.com.br/o-liberalismo-sempre-foi-cumplice-da-escravidao-e-dos-regimes-nazifascistas/ ,De qualquer forma, hoje vivemos um outro momento da vida nacional. A Sociedade Civil, em todas as suas dimensões, encontra-se num patamar elevado de qualificação e organização e disso deu mostras, junto com as instituições do Estado de Direito Democrático, de inusitada capacidade de resistência ao golpe do Partido Militar comandado por Bolsonaro. Respiramos novas estruturas e novos ares. Já não se trata de opor autoritarismo x liberalismo mas de consolidar a democracia, aprofundando-a com a garantia do Estado de Direito Democrático. 

Sintonizado com esta nova conjuntura nacional o deputado federal Zaratini, PT/SP está propondo uma nova versão para o artigo 142 da Constituição, cujo texto foi largamente usado nos últimos anos como justificativa para a INTERVENÇÃO MILITAR. Eis o que frisa este artigo:

“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

“Em entrevista ao programa Estúdio I, na GloboNews, Zarattini disse que, entre outros pontos, a proposta pretende colocar na reserva os militares que assumirem cargos públicos e acabar com a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

A GLO é uma operação realizada por ordem do presidente da República e adotada em situações graves de perturbação da ordem.

De acordo com o parlamentar, entre as medidas que serão propostas pela PEC, estão:

- retirar do artigo 142, do caput, a possibilidade das Operações de Garantia da Lei e da Ordem;

- afastar qualquer possibilidade de interpretação de que as forças armadas possam ser um poder moderador acima dos três poderes;

- admitir que os militares possam participar de operações de defesa civil;

e introduzir um artigo proibindo a participação dos militares na política. O militar que assumir um cago civil terá que ir para reserva.”

A Emenda Constitucional de Zaratini é bem vinda e oportuna mas o Governo Lula a acompanha com cautela. O Ministro da Defesa, Múcio Teixeira, deverá encaminhar negociações com os chefes militares de forma a evitar confrontos ainda sensíveis. Questão de tempo. Tempo da Sociedade Brasileira, hoje muito mais preparada e amadurecida para os desafios do milênio, assumir seu próprio destino. Aos militares, a caserna.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 17 FEVEREIRO 23

 

Carnaval: Tempo do contratempo

Paulo Timm – Publ. A FOLHA, Torres 17/24 fev. 2023

 

A origem do carnaval é remotíssima e consta que celebrava a primavera com ritos pagãos em devoção à fertilidade. Mas se o povo se diverte no carnaval, os intelectuais tentam interpretá-lo em seus significados mais profundos. Recorro ao escritor Milton Ribeiro, de Porto Alegre, para assinalar dois estudiosos do carnaval: Mikail Baktin, célebre por seus. A Cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais e o antropólogo brasileiro Roberto Damata, autor de Universo do Carnaval. Ambos destacam a importância da troca de papéis no carnaval. Homem vira mulher, o povo se veste de reis e rainhas, a ordem é invertida para revelar, talvez, sua própria essência.

“Os espectadores não assistem ao carnaval, eles o vivem, uma vez que o carnaval, pela sua própria natureza, existe para todo o povo. Enquanto dura o carnaval, não se conhece outra vida senão a do carnaval. Impossível escapar a ela, pois o carnaval não tem nenhuma fronteira espacial. Durante a realização da festa, só se pode viver de acordo com suas leis, isto é, as leis da liberdade”, diz Baktin.

Roberto Damata é considerado um dos melhores conhecedores do Brasil. Todos os carnavais nos brinda com uma pérola na grande imprensa. A desta semana é impagável, merece boa reprodução:

“... O carnaval é constituído e constitutivo daquilo que chamamos de “Brasil” ou “realidade brasileira”. Pois o que seria o Brasil sem carnaval, sem cachaça, sem futebol, sem macumba, sem jogo do bicho, sem sua ladra politicagem, sem jeitinho, sem “não fazer nada” e sem salvacionismos? Sem esse punhado de instituições órfãs de pedigree político-acadêmico que nossos “caga-regras” conhecem como a palma de suas mãos?

...O carnaval é o rito de passagem temporal que nos ajuda a transitar do Advento e, largando a carne, aceitamos as penitências de Dona Quaresma. Ele é também o que Alexis de Tocqueville chamava, com Rousseau, de “hábito do coração”, e Nélson Rodrigues denominava “óbvio ululante” — essa coisa tão próxima que não é — ou não pode — ser vista.

Quem sabe você que olha sem ler estas linhas não gostaria de ouvir esse óbvio ululante do carnaval, simplesmente um grito para compreender o Brasil? Pois, para parafrasear Jorge Luís Borges, a despeito do sentimento derrotista, algumas pessoas descobriam verdades eternas no Rio de Janeiro e no Brasil.

No caso do carnaval, o óbvio ululante não é seu estudo como festa popular de feitio “alienado” e “pré-político”, prestes a ser comido pela indústria de comunicação e pelo discurso ainda mais fantasioso e cretino dos salvadores da pátria. Muito pelo contrário. É procurar vê-lo como um dos fios com que construímos o lado mais denso da nossa identidade.”

O Brasil mergulha, portanto, neste fim de semana estendido até a quarta-feira de cinzas em busca de si mesmo. Celebra-se em festas e requebres permissivos para desopilar das tensões de um período doloroso de pandemia que culminou num ano de hesitações que desembocou no 8 de janeiro. Acho que voltaremos revigorados semana que vem. Daí falaremos de coisas sérias como Presidencialismo de Coalizão, Âncora Fiscal, Genocídio dos Povos Originários e a indefectível corrupção envolvendo o escândalo do ouro que deveria ter sido controlado pelo Banco Central mas que correu solto pelos descaminhos da Amazônia. Por enquanto, vamos ao espírito carnavalesco que, para felicidade popular retorna aos blocos de rua no seu velho estilo do começo do século passado. Não em Torres, lamentavelmente, que perde com isso um ponto importante que bem poderia incrementar o turismo nesta época. Mas o mundo gira, a Lusitana roda e, como dizia Galileu à saída da Inquisição, onde negara o movimento da terra em torno do Sol: eppure se muove.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 16 FEVEREIRO 23

 

Educação: Novo ano letivo, velhos problemas

Semana que vem começam as aulas no Estado. Preocupações generalizadas dos pedagogos ao constatarem os graves problemas na educação básica depois da pandemia. Pesquisas demonstram situação crítica dos alunos mais pobres. Veja-se o impacto da pobreza sobre os mais pobres:

Pobreza, fome e desigualdade social: impactos na educação do Brasil - A pobreza e a fome vêm crescendo nos últimos anos no Brasil. Conheça dados sobre essa realidade no nosso país, como ela atinge crianças e adolescentes e se relaciona à não garantia do direito à educação e à manutenção das desigualdades - https://observatoriodeeducacao.institutounibanco.org.br/em-debate/pobreza-fome-e-desigualdade-social-impactos-na-educacao-do-brasil?gclid=Cj0KCQiAxbefBhDfARIsAL4XLRpf0UD5hldmUyjaJDX3D3N37eMnxfvYv5oT-702GjUf0GJXPvBE_LkaAnBPEALw_wcB 

 

Mas há preocupações, também, com o NOVO ENSINO MÉDIO.

Aprovada em 2017, a Lei que instituiu a reforma do ensino médio estabeleceu o novo currículo seria obrigatório a partir de 2022. Concluído o ano letivo que se passou, os primeiros problemas se apresentaram em escolas de todo o país. Agora, diante da ampliação do currículo prevista para este ano e para 2024, o chefe do Ministério da Educação tem sido pressionado para revogar o modelo vigente. (G1)

Em entrevista ao g1 hoje no ASSUNTO a pedagoga Anna Helena Altenfelder, doutora em psicologia da educação e presidente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) Afirma que é fundamental repensar o formato educacional, com mais liberdade de escolha aos alunos e levando em conta o mundo do trabalho. Lembra que o modelo já apresentava “lacunas importantes” desde o início;

Ela apresenta também os dois principais problemas do Novo Ensino Médio como está previsto: a desigualdade de oportunidades para os alunos e a falta de estrutura, apoio e treinamento para professores e gestores; A pedagoga explica por que a reforma traz o grande risco de estados trabalharem muito isoladamente – e sugere a criação de um sistema nacional de educação, nos moldes do SUS.

O que você precisa saber segundo o Podcast g1

Novo Ensino Médio 1: o que mudou a partir de 2022

Novo Ensino Médio 2: as mudanças passam a valer

Novo Ensino Médio 3: começa de forma desigual pelo país

Novo Ensino Médio 4: carga horária maior e mudança curricular


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 15 FEVEREIRO 23

Os Escandalosos Cartões Corporativos  

A imprensa trouxe à tona na semana passada a questão dos milhares de cartões corporativos usados por autoridades federais. O economista Ricardo Bergamini - www.ricardobergamini.com.br- faz este resumo destes escandalosos cartões no ano passado:

1 – Portadores dos malditos cartões corporativo: 6.567 iluminados indicados pelo governante de plantão.

2 - Gastos totais com esses malditos cartões corporativos: R$ 422,9 milhões.

3 - Gastos apenas com a presidência da república foram de R$ 26,5 milhões, sendo 13.498 movimentações, com valor médio de R$ 1.964,55 por movimentação, tendo sido apenas 40 iluminados portadores desses cartões para atender ao “guardião da moral e da ética da humanidade”. Cabe lembrar que essas despesas da presidência da república, em sua grande maioria são sigilosas, contrariando decisão do STF.

4 - Em 2018, a união gastou R$ 244,9 milhões com cartões corporativos. Em 2022, gastou R$ 422,9 milhões. Crescimento de 72,68%.

Aos que desejarem conhecer a orgia ampla, geral e irrestrita, clique abaixo:

Estudo completo clique aqui http://www.portaltransparencia.gov.br/cartoesorgia

Abaixo transcrevemos matéria do ESP sobre a matéria que escandaliza o brasileiro médio cujo salário não alcança R$ 3 mil mensais

Mourão: vice de Bolsonaro gastou R$ 3,8 milhões – ESP – Felipe Frazão – 13/02/23 

 

Repetem-se nos gastos do general da reserva despesas em supermercados – alguns deles gourmet –, peixarias e hotéis; Mourão disse que cartão não ficava em sua posse

 

BRASÍLIA - O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) gastou R$ 3,8 milhões com o cartão corporativo da Vice-Presidência da República ao longo dos quatro anos de mandato em que esteve ao lado de Jair Bolsonaro (PL). O general da reserva superou as despesas feitas por Michel Temer (MDB) no mesmo cargo. Somente em 2022, ano em que disputou e venceu a disputa para o Senado, os gastos de Mourão somaram R$ 1,5 milhão.

 

Os dados disponíveis nos registros do governo federal mostram despesas da Vice-Presidência entre 2013 e 2022. Mourão ocupou o posto de 2019 a 2022; Michel Temer de 2013 a 2016. Em valores corrigidos pela inflação, o vice de Bolsonaro gastou ao todo R$ 4.195.038,46, enquanto o vice de Dilma Rousseff, R$ 3.465.743,62. A diferença de despesas é de R$ 729.294,84.

 

Matéria completa clique abaixo: 

https://www.estadao.com.br/politica/cartao-corporativo-de-mourao-vice-de-bolsonaro-gastou-r-38-milhoes-em-4-anos-veja-com-o-que/

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 CAFÉ DA MANHÃ FOLHA UOL DIA 14 DE FEVEREIRO 23

Podcast folha uol dia 14 fevereiro 23

https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/02/podcast-como-a-crise-dos-ovnis-alimenta-as-tensoes-entre-eua-e-china.shtml 

Podcast: como a crise dos óvnis alimenta as tensões entre EUA e China. Caso de balão ganha corpo com novos objetos abatidos; Washington e Pequim trocam acusações e esfriam reaproximação

 

Veja os casos de objetos voadores não identificados que surgiram em vários países

Nos Estados Unidos, as autoridades já derrubaram três OVNIS que surgiram nos céus americanos. No Canadá, também apareceu um artefato desconhecido, assim como na China.

https://g1.globo.com/podcast/resumao-diario/noticia/2023/02/14/resumao-diario-485-lula-com-haddad-e-a-meta-da-inflacao.ghtml

 

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Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 14 FEVEREIRO 23

Poderio chinês: Tigre de papel?

As grandes guerras sempre estalam com um pequeno incidente. Na I GM foi o assassinato de um príncipe austríaco em Sarajevo. Na II GM, em 1939, com a ocupação alemã de Dantig. Saldo: mais de 100 milhões de mortos, fora a destruição material.

Agora estamos assistindo o incidente com balões chineses que sobrevoavam Estados Unidos e Canadá, tendo à retaguarda o apoio da China à Rússia na questão da Ucrânia, defendida como baluarte “ocidental”. Estaremos às vésperas de um novo conflito capaz de levar à “solução final” da humanidade?

O mundo dito Ocidental, que já teve um tamanho e força bem maiores, acostumou-se à hegemonia, hoje sob tutela americana. A Guerra Fria ficou para trás mas a possibilidade de um novo conflito mundial volta à baila, desta vez envolvendo a China. 

Do lado “deles”, Mao Tse Tung costumava dizer que o imperialismo (americano) era um tigre de papel. Não o levaram a sério. Hoje a China, com um PIB de US$ 180 trilhões, depois de retirar 400 millhões da pobreza e dominar o comércio mundial se prepara para ser a maior potência do mundo, deslocando o eixo da economia mundial do Atlântico para a Rota da Seda. Tem que ser levada a sério se se deseja a paz no mundo. Ela não deseja, mas não teme o confronto com o dito “Ocidente” que certamente ocorrerá quando decidir ocupar a província rebelde de Taiwan. (Taiwan, aliás, nem é um país independente, é uma espécie de protetorado dos Estados Unidos.) Isso por duas razões: Uma histórica, outra estratégica. A histórica pelo fato de que nesta ilha, que grande identidade com o continente, fala o predominante mandarim e faz parte da nação China, se refugiou o líder Chian Kai Chec depois de perder o controle na China para Mao em 1949. A estratégica, porque os Estados Unidos proibiram a exportação de chips de alta tecnologia para a China de forma a frear seu avanço tecnológico e militar e esta ilha, Taiwan, é a maior produtora deste insumo.

A propósito, circula nas Redes – 

https://sputniknewsbrasil.com.br/20230213/comparacao-do-poder-militar-da-china-e-dos-eua-27571395.html

A informação de que Estudo do Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos constatou que a China já ultrapassou os EUA em diversos quesitos de suas Forças Armadas, com destaque para os mísseis hipersônicos, tecnologia que os norte-americanos não dominam nem conseguirão fazê-lo nos próximos anos...

É preciso considerar, ainda:

1) Que os EUA têm os seus efetivos militares dispersos em 800 bases em todos os continentes, o que faz com que a superioridade chinesa no seu entorno seja ainda maior.

2) O crescimento do poderio militar chinês se dá a uma velocidade muito maior que a expansão estadunidense em razão da sua maior capacidade de investimento 

3) A aliança estratégica entre a China e a Federação Russa, com reforço de seu potencial nuclear.


 

Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia13 fevereiro 2023
LULA NOS STATES


A visita do Presidente Lula aos Estados Unidos na semana passado foi o grande assunto da Mídia Nacional. Ele fora convidado por Biden logo do anúncio de sua vitória mas preferiu ir, antes, aos vizinhos Argentina e Uruguai. Lula, experiente nestes encontros, saiu-se bem expressando o retorno do Brasil ao cenário internacional, avesso ao ex Presidente Bolsonaro desde que seu Ministro das Relações Exterior, inominável, afirmou taxativamente que se orgulhava de ver o Brasil como pária na comunidade das nações. Com efeito, retirou o Brasil dos foros multilaterais e acabou isolando o Brasil. Lula retoma o velho estilo da Política Externa profissional, ancorada no Itamaraty, procurando equilibrar-se entre gregos e troianos num cenário geopolítico cada vez mais dividido e tenso. A próxima viagem é China, onde emplacará Dilma Roussef como Presidente do BANCO BRICS, lá em Pequim...
O diálogo Lula/Biden que se encerrou nos pronunciamentos protocolares centrou-se no que os une: a defesa da democracia contra as ameaças e golpes da extrema direita. Para facilitar a compreensão dos americanos Lula foi claro em sua entrevista `a CNN: - “Bolsonaro é uma cópia do Trump”. Só não entende quem não quiser. Mas consagrou-se diante da mais famosa jornalista deste Canal , Cristiane Amanpour, que reconheceu, no ar, o fato de as instituições brasileiras terem sido mais rápidas e mais unidas na defesa da democracia do que nos Estados Unidos. O que é verdade. Se o golpe lá, sob Trump, foi melhor planejado, a reação à ocupação do CAPITÓLIO, em jan 6/2022, não foi – nem é !- unânime. Os republicanos e parte da corporação midiática ainda defende os vândalos e afirma que houve fraude nas eleições. No Brasil, até Bolsonaro e seu núcleo de fanáticos seguidores condenou o quebra-quebra.
Outro ponto de acordo LULA/BIDEN foi a economia verde. Biden aposta na reversão verde da economia americana com vistas a recuperar-lhe o ânimo. Está aplicando bilhões de dólares nesta aposta. Lula concorda com ele, mas em termos. Quer a cooperação americana para o FUNDO AMAZÔNIA sob soberania do Brasil. Tem uma visão mais social do verde como defesa, sim, da mata em pé e recuperação dos biomas já mortalmente atingidos pela devastação, como MATA ATLANTICA e CERRADO, mas sob a ótica da defesa dos Direitos Humanos dos povos ribeirinho e originários. Ao final, nenhum aceno concreto de BIDEN. Aliás, é costume da diplomacia americana mais ameaçar com os que não concordam com sua agenda do que discutir os termos de negociações. Americanos não abandonam dois princípios históricos de sua “diplomacia”: “Destino Manifesto”, como portadora de valores civilizatórios superiores que a credenciam à hegemonia mundial e “Douitrina Monroe” estendida para a defesa dos interesses americanos acima de qualquer outra coisa. Deles a afirmativa que Nações têm interesses, não amigos. Neste sentido, a visita de Lula, conquanto lhe tenha trazido muitos aplausos nada traz de concreto para o Brasil a não ser words, words, words...
Finalmente, a encrenca: UCRANIA. Os americanos não sabem muito bem como operar com a América Latina no seu enfrentamento com o Eixo China-Rússia-Irã/Síria. Antigamente aplicavam sumariamente o BIG STICK que data do início do século passado, sob a Presidencia de Ted Roosevelt quando iniciaram sua projeção mundial que acabaria lhe levando à Asia, com o inevitável conflito com o Japão. Durante o século XX , acobertados pelo princípio da Guerra Fria contra a URSS baixaram o pau em vários países latinoamericanos, com inúmeras invasões em países soberanos do continente, além da promoção de golpes contra governos nacionalistas, dentre os quais Vargas, Arbenz. na Guatemala, Perón, na Argentina, e o corolários de ditaduras sangrentas no Cone Sul. Hoje em dia, as sociedades latinoamricanas estão mais organizadas social e institucionalmente. Rejeitam os golpes. De resto, até pelas outras experiências americanas na Asia, como Vietname e Oriente Médio, mais recentemente, americanos já compreenderam que de nada adianta dizer que estão em MISSÃO LIBERTADORA, evocando valores ocidentais. Não cola. América Latina, já advertia S. Huntington no seu célebre GUERRA DAS CIVILIZAÇÕES não tem nada de “Ocidental” a não ser pela ferida colonizadores ainda mal digerida. Bolívia, Chile, Peru, países da AmérIca Central que o digam. O Brasil talvez seja um caso aparte, marcado, sobretudo no sul , pelo peso dos migrantes europeus. Mas a grande massa de brasileiros, com enorme peso de sertanejos e afrodescentes, para não falar do 1 milhão de indígenas, hoje em maioria na população, tem uma cultura muito própria, libertária, por certo, mas não enquadrada nos cânones ditos ocidentais. Pesquisas de opinião, aliás, demonstram que a China tem melhor imagem no continente do que Estados Unidos, talvez, até em razão da forte presença daquele país em grandes investimentos no continente. Veja-se o caso do lítio, na Bolívia: Empresa chinesa -- concorrendo com outras 20 -- venceu a concorrência para a exploração do lítio boliviano (23% das reservas mundiais) e fará investimentos superiores a 1 bilhão de dólares, inclusive em infraestrutura. Isso dinamizará a economia boliviana, que pretende iniciar a produção de baterias de lítio em 2025 - https://sputniknews.lat/20230211/china-bolivia-y-el-litio-un-nuevo-impulso-para-america-latina-1135664222.html?utm_campaign=mundo_newsletter&utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_content=11.02.2023
o Brasil, enfim, tem uma população imensa e uma complexa economia hoje articulada com vários países do mundo, inclusive China, principal parceira comercial, ainda que de produtos primários e em plena expansão, com um PIB de 18 trilhões de dólares e domínio do comércio mundial. . Com esta, ainda por cima, participa de um Bloco, o BRICS que se tem mantido à margem da influência americana. Até Bolsonaro, com sua devoção à bandeira americana tratou de guardar distância do conflito na UCRANIA. Lula, manterá este distanciamento, com mais razão ainda. Tudo indica, portanto, que com o agravamento da crise na UCRANIA, no qual a Russia está prestes a lançar ofensiva derradeira nas próximas semanas, Lula não será tão bem recebido em sua próxima vista aos EU, até porque o grande confronto já não será Russia, mas a própria China, sobre cuja área de influência a OTAN, como braço armado dos EU já vai se estendendo. 


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 10 fevereiro 23
Lula nos Estados Unidos: A volta à diplomacia.


Depois dos quatro anos de retrocesso na política externa brasileira, quando um mentecapto Ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro chegou a se jactar do fato do Brasil ser um “pária” no mundo, o ITAMARATY volta à cena, com as visitas de Lula à Argentina, Uruguai e hoje nos Estados Unidos nos foros multilaterais e nas relações com outros países. O encontro Lula – Biden se centrará na defesa da democracia contra os ataques da extrema direita fascista no mundo ocidental mas tropeçará, invevitavelmente, na questão da UCRANIA. O Brasil, sócio do BRICS opera com cautela diante da ofensiva comandada pelos americanos contra PUTIN e Rússia. O ASSUNTO de hoje do G1 trata desta visita:
PODCASTS

Lula e Biden: Amazônia e ameaça da extrema direita devem ser assuntos centrais do encontro
Líderes de Estado foram alvos de ataques antidemocráticos e partilham desafios externos e internos. Em entrevista ao podcast O Assunto, ex-embaixador do Brasil detalha o que esperar da reunião em Washington.
O Assunto g1 dia 10 de fevereiro - Lula com Biden, e a retomada da diplomacia -
https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/02/10/o-assunto-899-lula-com-biden-e-a-retomada-da-diplomacia.ghtml Desde que venceu a eleição em outubro do ano passado, o presidente discursa sobre a necessidade de dar uma guinada na política externa brasileira. Nos primeiros 40 dias de governo, Lula retomou o Fundo Amazônia, reforçou o compromisso com o Mercosul em visita à Argentina e, agora, está em Washington para um encontro bilateral com o presidente dos Estados Unidos.
Atendendo a um convite feito pelo próprio Joe Biden no pós-atentado golpista de 8 de janeiro. Para fazer a leitura dos novos rumos da diplomacia brasileira, Natuza Nery recebe Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior e ex-embaixador do Brasil em Washington e em Londres. Neste episódio:Rubens critica a relação de Bolsonaro com Donald Trump, na qual o brasileiro buscava “vantagens pessoais”, e afirma que o encontro Lula-Biden marca a “retomada da relação institucional” entre Brasil e EUA; Para ele, o tema central da agenda dos presidentes será o combate à extrema-direita e a manutenção da democracia: “Os EUA e o Brasil passaram pela mesma experiência”; O diplomata explica por que Lula está retomando a tradição “da política externa brasileira presidencial” e como ele tentará recompor as relações com diferentes blocos econômicos; E conta como o corpo de diplomatas do Itamaraty resistiu, nos últimos 2 anos, aos ataques do governo Bolsonaro à tradição diplomática brasileira.
O que você precisa saber:
• Washington: Lula chega aos EUA para se reunir com Biden
• Blair House: onde Lula vai ficar hospedado nos EUA
• Guerra: Rússia errou, mas 'Brasil não quer participar', diz Lula
• Argentina: 'relação não deveria ter sido truncada', afirma Lula
• Fundo Amazônia: R$ 3 bilhões já podem ser investidos

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CAFÉ DA MANHÃ FOLHA UOL DIA 10 FEV
https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/02/podcast-o-que-esperar-do-primeiro-encontro-de-lula-e-biden-nos-eua.shtml
Podcast: o que esperar do primeiro encontro de Lula e Biden nos EUA. Presidentes marcam reaproximação diplomática, e americanos preparam anúncio de entrada no Fundo Amazônia

 


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 9 FEVEREIRO 23

O precipício fiscal e a realidade

O grande debate econômico na atualidade foi desencadeado pelas críticas do Presidente Lula à autonomia do Banco Central, denominando-o como “bobagem” e responsabilizando=o pela vergonhosa taxa de juros SELIC confirmada em 13.75% na última reunião do COPOM. O assunto não é novo. Esquerda x Direita, historicamente, no Brasil, desde Getúlio Vargas, tem sido muito mais um debate sobre o papel do Estado na Economia, como promotor das transformações estruturais que conduziram à industrialização do que Socialismo X Capitalismo. Não por acaso os aliados de Lula atacam os juros altos defendendo a tese do DESENVOLVIMENTISMO. André Lara Rezende, economista, um dos pais do Plano Real ao tempo de FHC, em 1993, é o mais novo crítico do “fiscalismo”, corrente de opinião que coloca a questão do equilíbrio das contas públicas como crucial para o bom desempenho da economia. Eis seu último artigo:

 

O PRECIPÍCIO FISCAL E A REALIDADE

Independentemente dos fatos e da realidade, decide-se que o risco fiscal é alto - André Lara Resende, VALOR, 07.02.23

  

Depois de tanto ouvir os economistas e a mídia martelarem insistentemente o problema do déficit público, da insustentabilidade da dívida, que estaria numa trajetória explosiva, que o país estaria à beira de um abismo fiscal, saíram os números das contas públicas relativos ao ano passado. Pasmem: houve um superávit de R$ 126 bilhões, equivalente a 1,3% do PIB. A dívida pública bruta, aquela que os analistas insistem estar numa trajetória explosiva, caiu 1,1% em proporção do PIB, para 73,5%. Seria de se esperar que os arautos do abismo fiscal reconhecessem que, no mínimo, tinham exagerado o problema fiscal. Mas não, pelo contrário, voltaram com ênfase reforçada, impassíveis diante dos fatos e dos dados.

Vejamos o que diz a Carta Macroeconômica do Itaú divulgada agora em 31 de janeiro. O texto é em inglês para seus clientes e “investidores” estrangeiros. A tradução é minha: “Na nossa visão, o superávit primário e a queda da dívida pública em 2022 são devidos a fatores temporários, ou a aqueles que terão um menor impacto este ano, tais como o elevado volume de receitas extraordinárias, um forte crescimento, a alta inflação e o preço das commodities”. E para não correr risco de ser mal compreendido e perder a oportunidade de voltar a assustar, prossegue: “A implementação do PEC da Transição implica um significativo aumento do gasto público em 2023, confirmando a perspectiva da volta do crescimento da dívida pública. Na ausência de medidas corretivas, este cenário poderá levar a um novo ciclo de baixo crescimento, alta inflação e altas taxas de juros”.

Juros altos premiam os rentistas e inviabilizam os investimentos na expansão da capacidade produtiva

O Valor de 1 de fevereiro estampou a manchete: “Piora do risco fiscal leva juro real à maior taxa desde 2016”. No mesmo dia, o editorial da Folha de São Paulo, “Dívida alta, juro alto”, destaca em caixa alta: “Ataque a rentistas - a população que poupa e empresta ao governo - não resolverá o problema”.

Como dizia Nelson Rodrigues, antecipando o mundo dos “fatos alternativos”, se os fatos não confirmam, pior para os fatos, mas vamos aos fatos. A dívida pública brasileira não é alta. É muito mais baixa do que a dos países desenvolvidos e em linha com os países em desenvolvimento, mas com duas diferenças cruciais: é toda em moeda nacional, detida por residentes e o país ainda tem quase 20% do PIB em reservas internacionais.

 

O Brasil não tem dívida externa, só dívida interna, denominada em moeda nacional e carregada pelos rentistas, ou a população que poupa, como preferem alguns. Quem tem renda de ativos financeiros não é inimigo da pátria, mas faz parte da parcela privilegiada da população. Não são investidores, como gosta de denominá-los a mídia e os economistas do mercado financeiro, são rentistas, o que também não é crime, mas preciso distinguir entre quem aplica sua riqueza, herdada, conquistada ou poupada, em ativos financeiros para ter renda sem correr riscos e quem verdadeiramente investe em capital físico, organizacional e intelectual, e contribui para o aumento da capacidade produtiva do país.

A taxa de juros básica, que é piso e referência para todas as demais taxas de juros no país é determinada pelo Banco Central. Repito, a taxa básica é integralmente controlada pelo Banco Central. As taxas para prazos mais longos são fixadas pelo mercado, instituições financeiras que operam com a dívida pública, com base nas estimativas que fazem da trajetória futura da taxa básica a ser fixada pelo BC. Se quisesse, o BC poderia fixar toda a estrutura a termo das taxas da dívida, como já faz há anos o Banco do Japão, e acabar com as pressões alarmistas para elevar ainda mais a já injustificavelmente alta taxa básica, em nome de um “risco fiscal” inexistente.

A dívida pública interna é um passivo do Estado e um ativo - líquido e sem risco - do setor privado. Assim como a moeda, a dívida pública presta um serviço aos poupadores, às empresas, aos ricos, aos rentista e a todos os agentes na economia que precisam transferir poder aquisitivo no tempo sem correr riscos. Se o Estado se tornasse subitamente - ou milagrosamente como preferirão dizer seus críticos - superavitário e a dívida pública fosse integralmente resgatada, a economia teria sérias dificuldades para se manter saudável. Assim como no caso de uma súbita contração monetária, muito provavelmente, entraria em profunda recessão. A moeda e a dívida pública interna são um bem público indispensável ao bom funcionamento da economia.

Sei bem que essa não é a visão convencional e dominante, mas é a que corresponde à realidade do mundo com moeda fiduciária. Tem uma longa e admirável tradição intelectual desde Aristóteles. Na história recente do pensamento econômico, tem representantes na “banking school” inglesa do século 19, passando por Wicksell, Schumpeter, Ingham, Abba Lerner, Minsky, entre muitos outros, quase sempre mantidos à margem das ideias convencionalmente aceitas.

 

Aqueles que entenderam a moeda não como uma mercadoria, mas como um serviço público, uma unidade de conta fiduciária, como um ativo que poderia ser usado para pagar os impostos, deveriam ter finalmente sido vindicados pelo desaparecimento da moeda física e a desmoralização da relação entre quantidade de moeda e o nível de preços, depois do Quantitative Easing.

Eu poderia me alongar sobre os equívocos da visão convencional, tema que já tratei em diversos artigos ao longo dos últimos anos, mas não vale a pena. João Moreira Salles abre a introdução do seu recém publicado “Arrabalde: em busca da Amazônia” (Cia das Letras, 2022) afirmando que é difícil compreender quando não se presta atenção. Mais à frente, no livro, leitura obrigatória para entender o drama do descaso com a floresta, cita Simone Weil, a pensadora francesa, para quem a atenção é a forma mais rara e pura da generosidade.

No mundo contemporâneo, a atenção se tornou ainda mais difícil. Para os temas técnicos, que além da atenção exigem reflexão, sem parti pris, é praticamente impossível. Para falar da teoria monetária e da taxa de juros, tema que além de técnico é motivo de velhas controvérsias e de posições cristalizadas, é caso perdido. Perde-se o leitor já nas primeiras linhas.

Meu objetivo é mais modesto. Quero que o leitor se pergunte porque, mesmo diante de resultados muito mais favoráveis do que o esperado, os analistas e a mídia redobram sua histeria em relação ao tal do “risco fiscal” e clamam por juros ainda mais altos. A razão é a PEC da Transição, o terceiro governo Lula, dirão. A PEC da Transição autorizou despesas em torno de 2% do PIB. A alta da taxa básica de juros, promovida por canetadas do BC desde o início de 2021, custou quase o dobro desses 2% do PIB, só em 2022. Faz sentido?

Alguns dias depois da divulgação do resultado fiscal de 2022, o Copom decidiu manter inalterada a taxa básica em 13,75%. Como reportou o Valor, “com um tom mais duro em relação ao risco fiscal, disse que avalia manter a taxa por mais tempo”. O BC sustenta que a conjuntura “particularmente incerta no âmbito fiscal e as expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos” exigem a manutenção da taxa por mais tempo do que o previsto, ao menos até o final do ano.

 

Ou seja, mais uma vez, em nome do “risco fiscal” e da “ancoragem das expectativas”, a extraordinária taxa básica será mantida. O Brasil continuará a ter a taxa real, descontada a inflação, mais alta do mundo, quase 8% ao ano. A razão? A necessidade de ancorar as expectativas. Expectativas de quem? Do mercado financeiro, divulgadas pelos seus próprios analistas. Por que estariam desancoradas? Por causa do risco fiscal que eles mesmo decretaram ser muito alto e se encarregam de propagar por toda a mídia.

Ou seja, independentemente dos dados e da realidade, decide-se que o risco fiscal é alto. Estipula-se que o risco fiscal determina as expectativas de alta da inflação e que a alta dos juros irá reverter o quadro. Como? Não fica claro, dado que a alta dos juros aumenta o serviço da dívida e agrava o risco fiscal. Pouco importa, todo mundo sabe que expectativas desancoradas provocam inflação e que juros altos controlam a inflação. Portanto, é preciso manter os juros altos, premiar os rentistas e inviabilizar os verdadeiros investimentos na expansão da capacidade produtiva, na infraestrutura e na descarbonização da economia.

Como disse recentemente James Galbraith, que tem longa experiência no questionamento da teoria convencional, é impossível argumentar com base nos fatos e na lógica contra o que “todo mundo sabe”. Começo a achar que ele tem razão.


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 8 FEVEREIRO 23
Há um mês, o atentado frustrado


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Freud e a Psicologia das Massas –
https://www.youtube.com/watch?v=FDmNBzSCqCw
Terrorismo no DF
4 refeições, 2 horas de sol: saiba como é a rotina dos golpistas presos 1 mês após ataques de 8 de janeiro
920 bolsonaristas radicais seguem detidos em penitenciárias do DF após depredação às sedes dos 3 Poderes.

Veja quem são policiais militares presos pela PF suspeitos de colaboração ou omissão nos atos golpistas
Quatro militares são alvo da 5ª fase da Operação Lesa Pátria, deflagrada nesta terça-feira (7).

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Era um domingo, dia 8 de janeiro passado, uma linda manhã ainda festejava, em Brasília, a posse de Lula na Presidência da República. Parecia que o país caminhava para um estabilização política quando uma coluna de manifestantes, guarnecida por Policiais Militares do DF, em torno das três da tarde, começa a se deslocar de seu acampamento no Setor Militar Urbano da Capital em direção à Praça dos Três Poderes. Movia-se sem pressa, nem pressão, embora envolta em mistério: - O que pretendem estes manifestantes? Nos dias anteriores, centenas de ônibus haviam entrado na cidade conduzindo bolsonarista indignados com o resultado das urnas e embalados por consignas nas Redes Sociais para um ato de repúdio à posse de Lula, mas ninguém imaginava o que estava por vir. A coluna avançava. Milhares de pessoas. Nada desprezível. Mas compreensível, à vista da eleição apertada, da campanha polarizada e do não reconhecimento do resultado final por Bolsonaro, aliás ausente do país desde o dia 30 de dezembro. Opõs-se não só a passagem da faixa presidencial, mas a todos os ritos democráticos da transição de governo. Chegando à Praça dos Três Poderes, porém, pouco guarnecido, começam os primeiros confrontos com a pequena barreira de policiais que os impediam ao avanço sobre as portas do Congresso. Soube-se, depois, tratarem-se de jovens cadetes da Policia Militar. Nenhuma força tática de maior poder defensivo-ofensivo. Aí a coluna se converte em multidão e explode em irracionalidade, devidamente comandada por profissionais dispostos ao ataque que em uníssono derrubam as barreiras de proteção avançando sobre portas e vidraças do Congresso Nacional. Começava o patético horror que invadiria não só o Congresso mas também os Palácios do Planalto, sede do Poder Executivo e do Supremo Tribunal Federal, STF. Cadeias de TV e vídeos dos próprios terroristas testemunham o feito que prossegue em sua sanha destrutiva dos próprios públicos e seus patrimônios culturais sem qualquer reação repressiva da força pública. A quebradeira se consumava para espanto da Nação, das autoridades federais, dos políticos, do mundo inteiro que a assistia. Só ao final da tarde começaria a reação, forçando o refluxo da massa ao seu refúgio junto ao Setor Militar Urbano. Não faltou, neste momento, o dedo podre do envolvimento militar em todo este processo quando blindados se postam à entrada deste Setor numa clara indicação de proteção aos terroristas. Isso daria lugar, pouco depois, a uma tensa reunião, lá dentro, entre o Ministro da Justiça, o já indicado interventor federal sobre a Segurança Público do DF e comandantes militares. Por pouco não desaba, ali, a frágil e fugidia democracia. Um comandantes militar, indisposto, chegou a ameaçar o poder civil: - Nossa força é maior do que a de vocês! Inacreditável. Mas refez a serenidade e selou-se o acordo para que o acampamento, que deveria ser evacuado para a prisão, só seria desativada na manhã seguinte, o que realmente aconteceu, não sem que na madrugada muitos tivesse se evadido à sombra da proteção militar. Eram seus familiares e prováveis operadores táticos do quebra-quebra. No rastro de tudo isso, a confirmação de que tudo fora meticulasamente planejado para criar o caos e forçar uma intervenção militar, ante-sala de um golpe militar. Seguiram-se prisões, superiores a 1.500 terroristas, a instauração de processos, em curso, a revelação de uma minuta de golpe na casa do ex-Ministro da Jusiça de Bolsonaro, maior suspeito da articulação golpista, aliás, cautelarmente ausente do país naquele dia mas já nas malhas de Justiça e a substituição do Comandante do Exéricito. Desabava, assim, o último suspiro de uma longa e histórica função moderadora das Forças Armadas no processo político nacional. Instaura-se o império das instituições. A democracia se consolida, ao preço dos atos insólitos de Brasília há um mês.

 


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 07 de fevereiro


Depois do fim do Teto de Gastos agora é a vez da Autonomia do Banco Central
Lula ontem abriu baterias contra a tese da Autonomia do Banco Central, aprovada pelo Congresso Nacional no governo Bolsonaro, no contexto do receituário dito neoliberal de restringir a ação do Estado sobre a Economia que se impôs no Brasil desde a posse do Presidente Temer. Lembre-se que foi de iniciativa dele a aprovação da PEC 95, que estabeleceu um TETO DE GASTOS para a União, com vistas a diminuir a participação do Estado na Economia em 20 anos pela metade. Passaram-se quase 7 e o que se viu foi uma redução brutal dos recursos para saúde, educação, C & T, com o retorno do país ao Mapa da Fome, hoje com 33 milhões de brasileiros em aguda crise alimentar e outro tanto com sérias deficiências enquanto o ritmo da economia continua rastejante. A vitória de Lula representou uma mudança de rumos, não só na Política mas também nas Políticas de Governo. Espera-se para breve a apresentação de um novo modelo de regulação dos gastos governamentais em substituição ao Teto de Gastos, de resto ultrapassado várias vezes nos últimos anos. Agora, o foco de Lula é a inflação e ele vê na autonomia do BANCO CENTRAL em manter a SELIC em 13.75 sem qualquer viés de baixa. Para Lula esta taxa é uma “vergonha”.
O Banco Central reagiu imediatamente afirmando que a taxa de juros só baixará quando o governo der sinais “técnicos” que apontem para um maior controle dos gastos governamentais. O mercado financeiro e grande parte dos comentaristas acompanha o BANCO CENTRAL e critica o Presidente da República.
A polêmica é antiga no Brasil. Desde meados do século XX os economistas se dividem em conformidade com a grande divisão político-ideológica das lideranças nacionais entre uma proposta progressista de mudança estrutural calcada da industrialização, exigente de papel central do Estado, e a manutenção do país na sonolência da produção de bens primários para o mercado internacional, paralela à rígido equilíbrio nas contas públicas. Nos últimos tempos, esta preocupação tornou-se obsessiva. Dirigentes como Eduardo Leite, como Sartori antes dele, converteram seus governos em administração do déficit público, abandonando preocupações com desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Tentam, aliás, convencer a sociedade que esta é a única alternativa possível de governança, expressão, aliás, consagrada como TINA = There is no alternative pela ex Primeira Ministra britânica Margareth Tatcher em 1979. Não é. Esta é a alternativa conservadora que se identificou como neoliberal desde então e fortalecida pelo Consenso de Washington, firmado em 1989, como diretriz a todas as instituições financeiras mundiais que tem na defesa dos MERCADOS FINANCEIROS hegemônicos seu foco principal. Isso porque estes mercados dominam não só a esfera da economia como passam a exigir também dos governos fidelidade aos seus interesses. O mundo passou a girar, enfim, muito mais do que sobre a produção e o emprego para a garantia da reprodução indiscriminada em escala telemática global do capital financeiro. Neste processo, o horror à inflação, geralmente inevitável em países em rápido processo de mudança estrutural, passou a exigir o controle da política monetária por Bancos Centrais ditos independentes mas que respondem aos anseios deste complexo mercado.
A eleição de Lula estava fadada a trazer à tona esta tensão com o Presidente do Banco Central, afinado teoricamente com o neoliberalismo e obediente ao “realismo” do mercado. Não deve arrefecer. Mas a lua de mel de muitos liberais com Lula se tencionará pois este é um ponto crucial da divergência entre progressistas, comprometidos com a promoção do desenvolvimento, e liberais, sempre preocupados, de um lado, com o equilíbrio das contas públicas, de outro com a maior abertura do Brasil ao exterior.
Tudo indica que Lula não arrefecerá. Apesar do seu Governo de Frente Democrática são outros os tempos. No início de 2003, primeiro governo do Lula o mundo ainda estava embalado pelo glamour da globalização sob hegemonia do dólar de emissão desenfreada. A crise de 2008 ensinou muita coisa e hoje não só a globalização perdeu seu encanto, com os enfrentamentos com mundo muçulmano, com a Rússia e com uma China que tem papel predominante no comércio mundial, como o Brasil vem de um desastre sob administrações conservadoras. Quem deve ceder neste processo não é Lula, vencedor sobre fascismo, mas os liberais que apostaram nele como retomada da democracia. Não haverá democracia no Brasil sem investimentos em infraestrutura e setores sociais indispensáveis à legitimação em processo do voto contra tudo o que Bolsonaro representou: Teto de gastos, liquidação das políticas sociais, genocídio de povos originários, subordinação do Governo ao mercado financeiro.


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 6 de fevereiro 2023
O CHAT GPT


O Assunto g1 dia 6 de fevereiro - ChatGPT: a ferramenta com linguagem humana - Para entender como essa inteligência artificial funciona, seus mecanismos e suas deficiências, Natuza Nery conversa com Nina da Hora. Cientista da computação, Nina é pesquisadora e especialista em Inteligência Artificial e Cibersegurança no Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Varga = https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/02/06/o-assunto-895-chatgpt-a-ferramenta-com-linguagem-humana.ghtml

Nestas primeiras semanas do ano um assunto domina a grande imprensa: INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, com destaque para o aplicativo Chat GPT. Nova série ‘Robô Sapiens’, da GloboNews, no ar, até mostra os impactos e desdobramentos da inteligência artificial no mundo. Muitos, porém, contestam a própria expressão INTELIGENCIA ARTIFICIAL vez que ela só reproduz e processa informações alimentadas por humanos. Outros contestam dizendo que, se isso é verdade, os computadores e seus logaritmos acabam “pensando” por conta própria e daí retiram, inclusive, a distopia da revolta das máquinas contra os humanos. Não poucos documentários e filmes já evidenciam como os logaritmos moldam através das Redes Sociais a opinião pública, interferindo em importantes eleições como o BREXIT e vitórias de Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro, no Brasil, em 2018. Não vamos, ainda, discutir esta questão. Aproveitar, apenas, para transcrever as explicações da GLOBO, hoje publicadas, como sustentação do seu Podcast dedicado ao Chat GPT:
“ChatGPT não sabe como identificar fontes específicas, mas se recusa a contar uma mentira: g1 entrevistou robô conversador
Dispositivo de inteligência artificial funciona como um cruzamento sofisticado entre assistentes de voz como Siri e Alexa e o dispositivo de buscas do Google.
Por g1 - 06/02/2023 ______________
A OpenAI, criadora do robô conversador ChatGPT, lançou na semana passada uma ferramenta de software para identificar textos que foram escritos por inteligência artificial (IA).
O robô funciona como um cruzamento sofisticado entre assistentes de voz como Siri e Alexa e o dispositivo de buscas do Google. Ele dá respostas de texto detalhadas para perguntas complexas e utiliza fontes disponíveis na internet.
O ChatGPT surpreende pela fluência que imita o discurso humano — Foto: Luiza Tenente/g1
O chat GPT não é capaz de verificar, entretanto, a veracidade da fonte na qual sua resposta foi baseada. A afirmação foi feita pelo próprio dispositivo, que respondeu às perguntas do g1.
A repórter Isabel Seta também pediu que o robô contasse uma mentira, e a resposta foi: "Desculpe, eu não posso escrever uma mentira. É importante promover a verdade e a confiança em nossa comunicação".
ChatGPT: conheça o robô conversador que viralizou por ter resposta para (quase) tudo
A pesquisadora e especialista em inteligência artificial Nina da Hora alerta ainda que o dispositivo pode fazer com que os plágios sejam mais difíceis de serem identificados porque funciona como uma "colagem" de frases e estilos alheios.
"Ele está se baseando no que humanos escreveram... Então é basicamente uma colagem de informações que ele conseguiu absorver, conseguiu aprender em determinado período, e agora ele só tá compartilhando como se fosse algo criado independente do cérebro humano", explica Nina em entrevista a Natuza Nery no Podcast O Assunto.
Veja, a seguir, as perguntas e respostas do ChatGPT.
Você foi treinado com milhões de exemplos de textos, artigos, livros. Todos foram escritos por humanos?
Sim. A maior parte do material de treinamento utilizado para meu treinamento foi escrito por humanos, incluindo artigos de jornais, livros, posts em blogs, conversas em fóruns online e outros tipos de conteúdo textual disponível na Internet.
E como ficam os direitos intelectuais de propriedade de todos esses textos?
A questão dos direitos autorais é complexa e varia de acordo com as leis de cada país. No caso do treinamento de modelos de linguagem como eu, é comum que os dados de treinamento sejam obtidos a partir de fontes públicas na Internet, que podem incluir conteúdo sob direitos autorais.
Então, se eu te pedir para escrever um texto sobre inteligência artificial, você é capaz de indicar quais fontes usou?
Não. Eu não sou capaz de indicar quais fontes específicas foram usadas para me treinar em um determinado assunto, pois fui alimentado com milhões de exemplos de texto e não tenho consciência da origem específica de cada exemplo.
No entanto, é possível que eu reflita informações e conhecimentos disponíveis em fontes públicas, como artigos científicos, notícias, livros e outras fontes na Internet.
Além disso, é importante lembrar que, como modelo de linguagem baseado em probabilidades, eu não tenho a capacidade de afirmar com certeza a veracidade de uma informação.
Em vez disso, baseio minhas respostas em dados e informações apresentados durante meu treinamento, mas isso não garante a precisão ou verificabilidade dessas informações. É sempre importante verificar a informação com fontes confiáveis antes de tomar decisões ou ações importantes”

 


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 03 fevereiro 2023
UCRÂNIA – A ESCALADA RUMO A UM CONFLITO MUNDIAL


Guerra na Ucrânia entra em nova fase com envio de tanques de EUA e Alemanha: 'Existe uma percepção de que é agora ou nunca' diz especialista
Em entrevista a Natuza Nery, Tanguy avalia que a percepção de risco dos países apoiadores da Ucrânia diminuiu com o passar do tempo. - https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/

O Assunto g1 dia 3 de fevereiro - Guerra na Ucrânia - o reforço de EUA e Alemanha
https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/02/03/o-assunto-894-guerra-na-ucrania-o-reforco-de-eua-e-alemanha.ghtml
No momento em que o conflito chega a um novo momento decisivo, Volodymyr Zelensky reassegurou o apoio de seus aliados ocidentais. Diante de mais uma ofensiva russa, Kiev recebe nesta sexta-feira (3) uma cúpula com a presença de líderes europeus, um movimento de “renovação de votos” em favor da Ucrânia. Mais importante ainda é a decisão de Joe Biden e Olaf Scholz de enviar mais tanques e munição para abastecer o exército ucraniano – o que, de acordo com Vladimir Putin, configura interferência externa e pode levar o conflito “a outro nível”
A assim denominada “intervenção especial” da Rússia sobre a Ucrânia chegará, no próximo dia 24 a um ano de verdadeira guerra, embora ainda convencional. Por convencional se entende um confronto com homens em armas, tanques e combates aéreos. Todo mundo sabe que a primeira vítima de qualquer guerra é a verdade, daí ser difícil dizer quantos somam os mortos e feridos de cada lado. A dura realidade, porém, é que a UCRÂNIA está sendo destruída e que jamais voltará a ser, em termos de unidade territorial, organização política, economia e população o que era antes. Voltam a circular, também, informações sobre a corrupção generalizada na alta cúpula do governo chefiado por Zelenski e seu enriquecimento súbito com várias propriedades em seu nome em vários países ocidentais -
No momento em que o conflito chega a um novo patamar – decisivo -, Volodymyr Zelensky reassegurou o apoio de seus aliados ocidentais. Diante de mais uma ofensiva russa, Kiev recebe nesta sexta-feira (3) uma cúpula com a presença de líderes europeus, um movimento de “renovação de votos” em favor da Ucrânia. Mais importante ainda é a decisão de Joe Biden e Olaf Scholz de enviar mais tanques e munição para abastecer o exército ucraniano – o que, de acordo com Vladimir Putin, configura interferência externa e pode levar o conflito “a outro nível”. A UCRÂNIA segue sendo vitimada como baluarte da liberdade na imprensa ocidental e apoiada financeira e militarmente por Estados Unidos e países da União Europeia. A maior parte do mundo, porém, na qual se destaca a China, mas também Índia, África do Sul e países muçulmanos veem compensando, do ponto de vista do mercado, as sanções ocidentais contra a Rússia. Não defendem a ocupação militar, mas não seguem o roteiro ocidental. Graças a isso, a economia russa está se recuperando e Putin continua firme no comando do seu país. O rublo se estabilizou e o PIB deve crescer pouco menos do que 1% neste ano, refletindo a capacidade de resposta da economia russa às ditas sanções econômicas. Com isso, é o Ocidente que vem pagando um preço alto nesta guerra, sobretudo pela elevação dos preços da energia, com taxas de inflação perto de 10% não vistas desde a II Guerra. Nos Estados Unidos o Federal Reserve aumentou novamente a taxa básica de juros na tentativa de frear os preços internos. Já está perto de 5%, com prejuízos nos mercados de capitais para os países em desenvolvimento que ficam na obrigação de oferecer taxas ainda mais altas para atrair estes capitais para seus títulos. No Brasil, o COPOM acaba de confirmar a SELIC em 3,75%, avisando que não a reduzirá tão cedo. A guerra, enfim, está fazendo mal ao mundo inteiro, exceto Rússia e aliados. Não obstante, ela chegou semana passada a um novo nível, com a remessa de mais tanques e material bélico. Putin não se intimida. Pelo contrário, em cerimônia comemorativa, ontem, ao 80º. Aniversário da Batalha de Stalingrado, AVISOU que resistirá a ofensiva, para ele do “Ocidente” alinhado com Estados Unidos com todas as armas disponíveis pelo arsenal russo, inclusive nuclear. Nesta madrugada aumentou os bombardeios na capital, Kiev. Ele não fala em vão. De 2014 a 2022, deu sucessivos avisos que iria reagir às ofensivas da OTAN sobre territórios que considerava de segurança estratégica para a Rússia. Ninguém o ouviu. Ele ocupou a Criméia e depois o território ucraniano. E se ele começar a usar, agora, como promete, armas nucleares de menor poder ofensivo? E se avisar ao Governo da Ucrânia que atacará com estes artefatos? O Ocidente estaria disposto ao confronto nuclear global que pode significar o holocausto definitivo. É grave a situação internacional e parece que poucos se dão conta disso. América Latina em peso está sendo pressionada a se posicionar com mais convicção e gestos ao lado dos Estados Unidos e União Europeia. A isso veio a visita do chanceler alemão OLAVO SHOLZ, mas, seja à direita ou à esquerda, titubeia. Teme ser envolvida num conflito que não lhe diz respeito, colocando, inclusive, no caso do Brasil e Argentinas as importações russas de petróleo e fertilizantes em risco. Atenção, pois! Estamos por um fio. Um fio de esperança para que o conflito na UCRANIA seja resolvido diplomaticamente pois, pelas armas, não haverá vitoriosos. Todos seremos derrotados.

 


 

Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 1º. Fevereiro 23

Eleições no CONGRESSO NACIONAL
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http://gilvanmelo.blogspot.com.br/
Merval Pereira - Um poder relevante
https://gilvanmelo.blogspot.com/.../merval-pereira-um...

CAFÉ DA MANHÃ 1º.. FEVEREIRO 2023
https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2023/02/podcast-como-a-eleicao-dos-presidentes-do-congresso-impacta-o-governo-lula.shtml
Podcast: como a eleição dos presidentes do Congresso impacta o governo Lula. Petista tenta evitar derrota de Pacheco no Senado e garantir base na Câmara com Lira
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Hoje tomam posse em Brasília os Deputados Federais e Senadores eleitores no ano passo e, ato contínuo, elegem a Mesa Diretora destas duas casas do Congresso Nacional. Várias perguntas, algumas reflexões sobre este fato:
Primeira pergunta: Por que duas Casas, Câmara e Senado? Não poderia ser apenas uma?
A tradição, mais do que considerações de ordem teórica e, sobretudo, prática definem o papel de cada uma destas Casas: O Senado seria – ou é – uma representação do Poder Federativo dos Estados no contexto da República, expressando um contraponto, tanto ao próprio Poder Executivo, quanto à CÂMARA DOS DEPUTADOS, já que esta reflete diretamente o interesse popular. Há países, como Peru, que já dispensaram, por iniciativa, aliás, de um ditador, Fujimore, o Senado. Neste caso o Congresso é unicameral. Venezuela também não tem Senado. Nem Cuba. Países unitários, como a França, têm, paradoxalmente Senado; outros não, já que o Senado é uma perna do federalismo. O Senado é uma espécie de relicário oriundo da experiência da antiga Roma quando ali o patriciado tinha 300 assentos e dominava a vida pública do Império. A Inglaterra aproveitou o modelo para criar a CÂMARA ALTA, cujas funções, lá, são cada vez mais decorativas. Dela faz parte um seleto grupo de velhos aristocratas. Aqui no Brasil há pouca contestação ao Senado. Não existe um Movimento pela sua extinção em benefício de um Congresso Unicameral. Cada vez que alguém fala nisso lá vem uma catilinária de justificações teóricas e sobre os “relevantes serviços” prestados ao Senado no Congresso Nacional. Sobre a argumentação teórica, a principal sustentação é de que o Senado representa os Estados, enquanto a Câmara, o povo, daí sua eleição ser majoritária e dos deputados, proporcional. Tudo narrativa. Se assim fosse, por que os Estados, então, não elegem apenas 1 Senador. E por que os próprios Governadores eleitos não representam seus próprios Estados? Nada muito claro. Aliás, o Presidente Lula acaba de criar, em ato em Brasília com 27 Governadores, um Conselhão da República, composto por Governadores e representantes de Prefeitos, uma boa ideia que poderá, se frutificar, colocar em questão a existência do Senado.
Mas, enfim, hoje teremos novos Presidentes do Senado e CÂMARA. Os atuais disputam a reeleição. Lyra , na CÂMARA, tem o resultado garantido. Graças ao Orçamento Secreto que garantiu gordas verbas aos reeleitos – e não foram poucos - , num processo em que se transformou no verdadeiro Ministro dos Gastos do governo Bolsonaro, terá mais de 400 votos, inclusive da base de apoio a Lula. Pacheco, no Senado, que teve até um posicionamento mais crítico diante dos arroubos autoritários de Bolsonaro, enfrenta, hoje, um forte aliado seu. Embora seja o preferido nada garante o resultado e isso terá consequências graves para o governo Lula. Um competente e atuante Presidente do Senado, com funções, também, de Presidente do Congresso Nacional lhe poderá causar muitos problemas.
A segunda pergunta é: Para que serve o próprio Congresso Nacional, muitas vezes vilipendiado pela opinião pública em virtude dos privilégios acumulados pelos seus membros, com altos salários, assessorias especiais, verbas parlamenteares, benefícios sociais etc. Diz a Constituição que o Congresso tem três funções básicas: Representação, Elaboração das Leis e Fiscalização do Poder Executivo. Esta função se destaca, sobretudo como direito da minoria interna, para a convocação de Comissões Parlamentares de Inquérito, como se viu, a propósito, na CPI do COVID. A função Representação, entretanto, é a que tem maior substância democrática, eis que no Congresso estão presentes não só as forças da maioria, expressa no Poder Executivo, como todas as correntes organizadas de opinião pública. Por isso mesmo, as eleições para as Mesas Diretores do Senado e Câmara revestirem caráter diferente dos pleitos para Presidente, Governador ou Prefeito. Elas, em geral, não são plebiscitárias, nem reverberam diretamente os embates ideológicos dos pleitos universais. As Mesas Diretoras da CÂMARA e SENADO são compostas por todas as correntes partidárias presentes nas Casas. São pluripartidárias, embora a cabeça destas Direções, como agora está acontecendo no Senado, dado como quarto turno das eleições de 2022, possa trazer à tona o confronto político do país. A função Representação atribui, também, ao Presidente da CÂMARA e do Senado, nesta ordem, a substituição do Presidente da República em caso de interinidade ou vacância do cargo e quando o Vice Presidente da República também esteja impedido ou ausente. Nada desprezível...
As funções Elaboração das Leis e Fiscalização do Poder Executivo vem sofrendo concorrência, ultimamente, com outros Poderes. O proclamado ativismo judiciário vem dando ao Supremo Tribunal Federal um poder inusitado de interferência no processo legislativo, além de que a disseminação do uso das Medidas Provisórias, com força de lei, do Poder Executivo criarem, também, um cipoal neste processo. Quanto, enfim, as funções de Fiscalização, o Congresso praticamente capitulou, diante da criação de Agências como a CGU e Tribunal de Contas com muito maior capacidade técnica para este ofício.
Tudo isso, enfim, funções obstruídas, privilégios excessivos dos membros do Congresso e distância da vida real dos eleitores faz do Congresso uma instituição vulnerável dos sistemas políticos, não só no Brasil, mas em todo o Ocidente. Iniciativas contemporâneas procuram redefinir estes papeis, reduzir a majestade dos representantes do povo, dar maior papel às corporações da Sociedade Civil na articulação das Políticas Públicas. Nada, entretanto, consagrado como novo modelo de organização dos sistema tripartite oriundo de Montesquieu para as Repúblicas contemporâneas.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia

A Democracia Fugidia

O título acima não é de minha autoria. Vem-me de um artigo que li há algum tempo e releio sempre de Fred Dalmayr intitulado “Para além da democracia fugidia” no qual destaca o caráter fugaz da práxis democrática ao longo da história. Ontem, dois artigos me chamaram a atenção na grande imprensa: 

Angela Alonso* - Lições da História

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../angela-alonso-licoes...

e

Antonio Lavareda* - Os ataques e a leniência militar

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../antonio-lavareda-os...

Neste último, o autor faz uma resenha das tentativas de golpe ao longo do período republicano, começando, claro, pela “Proclamação”, e , ao final, traça dois caminhos para o bolsonarismo: a auto-exclusão do sistema político na exacerbação da pauta anti-stablishment ou docilização da pauta golpista. Pela importância do artigo o transcrevo abaixo.

Já Angela Alonso foca na comparação, a meu juízo infeliz, entre o florianismo e o bolsonarismo. Pretente serem as duas de igual teor e práxis, no que discordo. O Florianismo, no começo da República tem, claro, forte nuance autoritária, mas reflete, como nos ensino Nelson Werneck Sodré, as expectativas de mudança no país suscitadas pela campanha abolicionista. Frustrada a República em levar adiante a pauta mudancista, atropela que foi pelo conservadorismo imperial que se renova na República nascente e se consolidará, como o Golpe da Maioridade antes, com a Presidência de Campos Sales.  

Os dois autores contribuem, porém, para a discussão da questão democrática no Brasil. Até poderia acrescente outro artigo, Ana Cristina Rosa - Guerras do Brasil Folha de S. Paulo- https://gilvanmelo.blogspot.com/.../ana-cristina-rosa..., que também trata da difícil construção da democracia-entre-nós e, talvez, tantos mais que se tem sucedido na Imprensa e na Academia nestes primeiros 30 dias da gestão Lula III sobre este desafio. As tentativas de golpe de Bolsonaro, a fraca disposição democrática entre os militares, o horror do genocídio de povos originários e jovens negros nas grandes cidades do país demonstram que andamos, apesar das ditas instituições, em terreno pantanoso. Caberá a todos nós uma atitude mais ativa, doravante, diante do cenário nacional. Já não basta o voto na urna. Faz-se necessária uma mobilização da consciência democrática no país inteiro capaz de criar bases mais sólidas para a ação das lideranças. 

Antonio Lavareda* - Os ataques e a leniência militar

Ilustríssima / Folha de S. Paulo 30 de janeiro de 2023

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../antonio-lavareda-os.. 

[RESUMO] O Brasil sofreu 13 investidas golpistas desde a Independência, entre as quais o ataque aos três Poderes no último dia 8. A ação dos bolsonaristas guarda semelhanças com o levante da AIB (Ação Integralista Brasileira) em 1938. Nesses episódios, os golpistas encontraram a residência e a sede da Presidência desguarnecidas, as forças de segurança demoraram a chegar e houve omissão de setores do Exército. Resta saber se o futuro da nova extrema direita será melhor que o do fascismo tropicalizado dos anos 1930, que entrou em declínio após a Segunda Guerra.

Alguns fenômenos políticos, sobretudo quando inusuais e estrepitosos, ao ocorrerem tornam irresistíveis os exercícios comparativos. É quando a leitura dos fatos os coloca em perspectiva, permitindo identificar singularidades, de um lado, e constantes históricas, de outro.

O 8 de Janeiro, que despertou estupor no mundo, por certo demandará um olhar assim quando as investigações descortinarem toda a sua tessitura, incluindo, além dos vândalos, a autoria intelectual e os apoiadores explícitos e ocultos e esclarecendo como se dava a relação entre os quartéis e os acampados à sua frente.

Nós não temos, que eu saiba, um estudo comparativo suficientemente amplo desses processos de tomada violenta do poder na América Latina, embora o continente seja pródigo deles. Nem mesmo das revoluções havidas —do que, aliás, já reclamava Joaquim Nabuco (1849-1910) em sua releitura do fim trágico do presidente chileno José Manuel Balmaceda— e muito menos no Brasil, onde, desde a Independência, tivemos 13 golpes de Estado, exitosos ou não.

Eles se distinguem dos movimentos separatistas, como a Confederação do Equador (1824) ou a Guerra dos Farrapos (1835-1845). Diferem também de outros conflitos como a Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932) e mais ainda dos movimentos revoltosos tenentistas, incluída a Coluna Prestes (1924).

Golpes ou autogolpes implicam o assalto direto aos Poderes e objetivam a ruptura constitucional. Foram de iniciativa palaciana os de 1823 (dissolução da Assembleia Constituinte), 1840 (Golpe da Maioridade), 1891 (Deodoro fecha o Congresso) e 1937 (Estado Novo). O de Marechal Deodoro durou apenas 20 dias.

Todos os demais tiveram como objetivo a destituição ou o impedimento dos então chefes de Estado. Começando pela implantação da República (1889), depois pela Revolução de 1930, que culminou com o golpe militar que depôs Washington Luiz, pela Intentona Comunista (1935), pelo Levante integralista de 1938, pela deposição de Vargas (1945), pelo chamado contragolpe legalista do marechal Lott (1955), pela adoção forçada do parlamentarismo (1961), pelo golpe militar de 1964, que inaugurou a Quinta República, e pelo assalto às sedes dos três Poderes em janeiro de 2023. Golpes e autogolpes vitoriosos foram 70% deles.

Houve movimentos com menor ou maior participação popular, mas a constante irrefutável é a participação de "cidadãos armados", os militares. Nunca foi minimamente plausível subverter o regime sem a sua participação, e o tamanho da adesão dos mesmos sempre foi a principal variável explicativa do êxito ou do fracasso dessas iniciativas.

A breve compilação acima dos eventos anteriores de igual natureza nos permite identificar um único episódio que guarda alguma similaridade com o golpe frustrado do início deste ano: o putsch da AIB (Ação Integralista Brasileira), o fascismo tropicalizado, em 11 de maio de 1938, uma semana após o fechamento da entidade pelo governo Vargas.

Os que atacaram, 85 anos atrás, o Palácio Guanabara, residência presidencial à época, também o encontraram desguarnecido, tal como se deu em Brasília nos prédios do Planalto, Congresso e Supremo, quando horas foram decorridas até que os responsáveis pela segurança enfrentassem os invasores.

Como lembra Lira Neto, no golpe integralista eram poucas dezenas de atiradores, mas não se via inicialmente qualquer mobilização dos milhares de militares acantonados no Rio de Janeiro para sufocar o levante, que era enfrentado na madrugada pelos funcionários do Palácio, alguns militares leais ao presidente e por Vargas e seus familiares empunhando armas.

O tenente Júlio Barbosa, oficial do dia, facilitou a entrada, por um portão lateral, dos invasores chefiados pelo também tenente Severo Fournier. Ele também restringiu propositalmente a munição da tropa incumbida da guarda, que terminou se rendendo aos golpistas.

Mesmo comunicada, a polícia demoraria horas para enviar reforços e foram visíveis as omissões de setores do Exército e da Marinha, cujo prédio também foi ocupado. Os atacantes só foram rechaçados após a chegada decisiva do general Dutra, então ministro da Guerra, cuja presença sinalizou o apoio da cúpula das Forças Armadas ao presidente. A lógica da operação estava desfeita.

O objetivo era eliminar fisicamente o presidente e, no vácuo político, abrir caminho para os militares, entre os quais havia um sem número de simpatizantes do integralismo, tomarem o poder. Suspeitos de envolvimento ou simpatia foram, entre outros, o almirante Guilhem, o general Góis Monteiro, admirador confesso de Hitler, e Filinto Müller, o chefe de polícia famoso pela repressão sanguinária. Mas Vargas, ditador dependente dos aliados militares, não quis esclarecer a participação deles. Anos depois seria deposto por Góis.

Quanto à autoria intelectual, esse papel coube a Plínio Salgado, depois preso e exilado em Portugal. Líder do movimento que chegou a contar com 1,5 milhão de adeptos por todo o Brasil, ele se sentiu traído por Getúlio, que mandara fechar as sedes da AIB, colocando-a na ilegalidade, após ter contado com seu apoio no combate aos comunistas e na criação do Estado Novo. Ou seja, o golpe de 1938 foi urdido por um movimento político, o integralismo, com apoio na sociedade civil e ramificações incontroversas nas Forças Armadas e na polícia do Rio de Janeiro.

A lógica da tentativa de golpe de 2023, mesmo sem tiroteios como seu congênere da Terceira República, foi basicamente a mesma. Visava surpreender e desarticular o sistema político, promovendo um cenário caótico nas sedes dos três Poderes, o qual, transmitido pelas redes sociais e repercutindo nas TVs, obrigaria, no entendimento dos seus idealizadores, a "intervenção militar" reclamada desde a vitória do novo presidente pelos acampamentos à frente dos quartéis, com milhares de radicais que imaginavam ter suas teses acolhidas, interpretando dessa forma a leniência dos chefes militares que admitiram essas concentrações, não o bastante suas faixas e redes sociais afrontarem a Constituição.

Lembrando que a ideia de intervenção no TSE, no último mês do mandato de Bolsonaro, na prática um autogolpe como a famosa minuta do decreto evidenciou, provavelmente foi descartada por insuficiência de adesão das altas patentes.

Os participantes de agora foram extraídos de um movimento antissistema de extrema direita que, ao invadir e destruir os prédios que simbolizam a República, removeram as últimas dúvidas sobre o caráter regressivo de sua liderança, movida pela nostalgia do regime militar de 1964.

O bolsonarismo, no segundo turno do ano passado, aproximou-se da metade da votação presidencial válida, e o partido que o abrigou (PL) logrou eleger a maior bancada da Câmara Federal. Tal como a antiga AIB, tem conexões internacionais —é o capítulo local da nova direita mundial— e se mostrou bem mais enraizado que seu predecessor da primeira metade do século 20.

Em expansão no mundo, o futuro dessa vertente não parece comprometido, como se deu com as ideias fascistas que, após empolgarem porções significativas do Ocidente, entraram em derrocada juntamente com o Eixo na Segunda Guerra. Nadando nessa raia, o integralismo brasileiro declinaria durante o conflito e nunca se recuperou da mancha de 1938. Quando sobreveio a redemocratização, tampouco conseguiria reaver a força original.

Ao disputar finalmente a Presidência, em 1955, Plínio Salgado só alcançou 8,3% dos votos. Somente na região Sul chegou aos dois dígitos (14,2%). Em toda a República do Pós-Guerra, a direita seria representada pela UDN, que terminaria encapsulando o populista Jânio Quadros para finalmente ganhar a eleição de 1960. Plínio continuaria sua caminhada com horizonte mais modesto. Seria deputado por São Paulo, apoiador do golpe militar de 1964 e depois vice-líder da Arena na Câmara dos Deputados.

Não é fácil divisar o futuro do bolsonarismo. Vai depender do aprofundamento das investigações e da eventual responsabilização e inelegibilidade de Bolsonaro, sobre o qual pesam suspeitas de participação no possível autogolpe de dezembro e no golpe de janeiro. Também dependerá do posicionamento que seus líderes —o ex-presidente e parlamentares— venham a adotar.

Para qualquer evento futuro, sempre haverá no mínimo duas rotas possíveis para os personagens, como Churchill nos mostrou escrevendo o perfil de Hitler em 1935.

Prevalecerá a retórica antissistema, baseada no mito da fraude nas urnas? Ou essa página será virada, como aliás já fizeram os governadores desse campo, e o enfrentamento se dará como oposição "normal"?

Na primeira hipótese, o movimento, uma vez inviabilizado legalmente o líder, apresentaria uma candidatura do clã. Perderia certamente densidade eleitoral, deixando de ser competidor efetivo pelo poder nacional.

Já na segunda opção, novos nomes disputariam o espólio bolsonarista, distanciando-se do fantasma do 8 de Janeiro, embora sempre equilibrando-se para contar com as bênçãos do ex-presidente e tentar, assim, manter a hegemonia à direita no espectro ideológico.

*Antonio Lavareda. Doutor em ciência política e professor colaborador da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Presidente de honra da Abrapel (Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais)


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 30 janeiro 23

OS PRIMEIROS PASSOS DE LULA NA POLÍTICA EXTERNA

Ver Uruguai, por Paulo Timm - https://files.comunidades.net/torrestv/Uruguai.pdf 

O Brasil é reconhecido internacionalmente por ter um corpo diplomático profissional de primeira ordem: O Itamaraty. Nosso corpo diplomático começa com um rigoroso exame de ingresso na carreira que se inicia pela formação no Instituto Rio Branco, hoje sediado em Brasília. Mas a que serve o Itamaraty? Ele não só contribui para a formulação das bases da Política Externa dos sucessivos governos como para preencher as funções de representação do Brasil em vários países com os quais temos relações, além das inúmeras representações em organismos multilaterais dos quais participamos como a ONU. O Patrono desta respeitável instituição é o Barão do Rio Branco, nosso Ministro das Relações Exteriores nos primeiros anos da República. Ele foi o principal responsável pela virada da nossa inclinação da Europa para os Estados Unidos. O alinhamento com os americanos, porém, do Brasil, salvo em alguns momentos, como logo após o golpe militar de 64 e mais recentemente no governo Bolsonaro, nunca foi automático e total. Sempre esteve sujeito às particularidades das coligações dominantes no Governo Federal e às preferências e idiossincrasias dos Presidentes da República. De uma forma geral, entretanto, somos identificados como defensores de negociações de paz em situações de conflito de respeito à autodeterminação dos povos, desde que suas lideranças tenham o controle efetivo das respectivas capitais e aposta no multilateralismo. Jânio Quadro impulsionou a Política Externa Independente e, mesmo sendo um Presidente eleito pela direita, condecorou Che Guevara, em 1961, com uma das mais elevadas distinções da República No Governo Geisel, por exemplo, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a Independência de Angola, eis que sempre mantivemos distância do regime colonial português. Nos dois primeiros governos de Lula e Dilma Roussef, ampliamos nosso relacionamento com a América Latina e África, apostando num protagonismo do Brasil nos países do hemisfério sul, mantendo uma distância prudente dos Estados Unidos. Agora Lula volta ao governo e faz sua primeira visita ao exterior na Argentina e Uruguai. Este é um sinal inequívoco de que o atual governo voltará a apostar na unidade continental para melhor se posicionar no mercado mundial em articulação com os chamados BRICS, organização internacional que tenta unificar interesses do Brasil, Rússia, India, China e África do Sul. Trata-se de um movimento contraditório pois ao mesmo tempo em que procura afirmar, com o fortalecimento dos países da America do Sul e Caribe, com o SELAC, uma espécie de reedição do antigo Movimento dos Não Alinhados, que se situava como mediação aos polos hegemônicos Estados Unidos x Rússia, na Guerra Fria (1947/91), aproxima-se audaciosamente de países que hoje estão contra o Polo Ocidental sob controle americano: China, Rússia e India. Alimentando o panamercanismo, Lula, em sua viagem citou Darcy Ribeiro:

Lula usou a viagem à Argentina e ao Uruguai para reconstruir pontes dinamitadas por Jair Bolsonaro. O presidente oficializou a volta do Brasil à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. O capitão havia rompido com a entidade em 2020, num ato de hostilidade aos países da região.

No retorno à Celac, Lula prometeu solidariedade, diálogo e cooperação — três itens em falta na diplomacia bolsonarista. Ele encerrou o discurso com uma homenagem a Darcy Ribeiro. Definiu-o como “um brasileiro extraordinário, que se dedicou a repensar nossa região quando uma comunidade latino-americana e caribenha ainda era uma miragem”. “Tendo vivido o exílio nos anos 60 e 70, foi dos primeiros a falar da nossa unidade na diversidade”, lembrou.

...Em “América Latina: A pátria grande”, o antropólogo desconstrói a ideia de que a região seria fadada ao atraso. Lembra que as elites sempre tentaram atribuir nosso subdesenvolvimento a fatores naturais ou externos: o clima tropical, a mestiçagem, a religião católica, a herança ibérica.

Bernardo Mello Franco - A América de Darcy - O Globo - domingo, 29 de janeiro de 2023

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../bernardo-mello-franco...

 

A visita de Lula â Argentina foi mais simples. Há uma identidade ideológica entre ele e Fernandez, peronista, Presidente daquele país. A ele Lula prometeu reeditar a política de financiamento das exportações do Brasil, prática costumeira em todos os países desenvolvimentos, embora mal compreendida no Brasil pela Oposição que vê neste movimento uma aplicação de recursos que poderiam ser aplicados no Brasil. Bobagem. Faz parte do receituário de mercado. Mais controverso será o financiamento do gasoduto argentino. Já há dicções dando preferência a um gasoduto nacional a partir dos poços do pré sal para o continente, que evitaria a devolução àqueles poços da maior parte do gás lá extraído com o petróleo. 

Na viagem ao Uruguai, Lula tropeçou não apenas com um Presidente liberal, como com toda uma tradição daquele país em busca de abertura externa, ao contrário do Brasil e Argentina, mais industrializados, maiores e mais protecionistas e ao espírito do MERCOSUL como Aliança Aduaneira. O Uruguai, enfim, tem um PIB de US $ 59 bilhões, em 2021, que é metade do PIB do RS e tem um mercado interno de menos de 4 milhões de consumidores. Precisa abrir-se, tal como se abriram os Tigres Asiáticos no final do século XX. É sabido, a partir da experiência da União Europeia os efeitos negativos destes blocos para economias menores. Vide casos de Portugal e Grécia. O que é bom para Brasil e Argentina não necessariamente é bom para o Uruguai... Há tempos os sucessivos governos uruguaios, tanto á esquerda como à direita, procuram maior dinamismo internacional, tanto que é, hoje, um disfarçado paraíso do dólar, embora campeão na produção de alta tecnologia. Empenhados num acordo bilateral com a China, prestes a ser assinado, em oposição ao espírito do MERCOSUL, do qual faz parte, o Uruguai exigiu de Lula uma promessa de incorporar todo o Bloco nas negociações com a China para não assiná-lo agora. Mas quer urgência. Não será tarefa fácil para Lula e o Itamaraty.

Hoje, dia 30, Brasília recebe a visita do chanceler da Alemanha, Olaf Sholtz, país alinhado incondicionalmente aos Estados Unidos na consolidação do dito Bloco Ocidental, uma fração monolítica da economia mundial em franca e acirrada competição com a China, que abarca, além de sua potência econômica, mais da metade do mundo, incluindo países da Ásia, com exceção do Japão e adjacências, Rússia, Irã e grande parte dos países árabes. Diz Sholtz que vem amarrar negociações comerciais e ambientais mas sabe-se que traz na bagagem uma pressão para que o Brasil se afaste de Putin no conflito da Ucrânia. Recentemente, Lula proibiu a venda de munição para os tanques que estão sendo enviados em socorro aos ucranianos. Tal como Bolsonaro, Lula sabe que o Brasil deve se comportar com cuidado numa questão que afeta a importação de petróleo e fertilizantes da Rússia. Deverá esquentar com o chanceler alemão os entendimentos quanto à defesa da Amazônia e avanço das negociações MERCOSUL/União Europeia, evitando a questão ucraniana. De resto, está no bloco BRICS, do qual a Rússia, com ou sem Putin faz parte e que, hoje, mesmo condenando a invasão militar da Ucrânia, não apoia o envio de armas que alimentam a Guerra. 

Lula, enfim, mal começando seu terceiro governo e mesmo antes de definir com maior clareza sua política econômica interna, vê-se constrangido a grandes desafios externos. Conta, para isso, com a valiosa experiência do ex Ministro Celso Amorim, como consultor e de um Itamaraty que se renova em busca de suas melhores raízes profissionais depois dos estragos feitos por um de seus obscuros quadros no governo anterior que tudo fez para transformar o Brasil em pária internacional.


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 27 de janeiro 2023.


O anúncio de que a Dívida Pública da União chegou a R$ 6 trilhões, aproximando-se, cada vez mais, do valor do PIB anual do país, impõe reflexões.
A dívida pública em si não é o maior problema. Há países que a dívida supera em muito o PIB. O caso mais clássico é Estados Unidos que tem a maior dívida do mundo. Mas isso não abala sua economia porque eles, desde 1971, quando o Presidente Nixou desvinculou o dólar do ouro, emitem para o mundo inteiro. São “o banco” do mundo. Sua moeda, o dólar, embora não tenha nenhum valor em si mesmo, como de resto todas as moedas-papel, cumpre funções que determinam sua elevada demanda no mundo inteiro, seja como meio de referência nas trocas, seja como reserva de valor. Agora mesmo vimos o Presidente Lula anunciar na Argentina a criação de uma moeda comum para estimular o intercâmbio entre os dois países. Na verdade, há muito isso já é feito. Mas como cada uma de suas respectivas moedas está referenciada ao dólar, pouco resultará como independência desta moeda. A questão da dívida pública, no Brasil, preocupa porque a taxa de juros na sua rolagem é muito alta, superior à Taxa Selic, hoje fixada pelo BANCO CENTRAL em 13.75% ao ano. A cada 45 dias, ela vira notícia em todo o Brasil – seja por ter aumentado, diminuído ou se mantido estável após a reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central. Em dezembro de 2022, por exemplo, a Selic se manteve em 13,75% ao ano vigente hoje.
Tomemos por exemplo, como hipótese que a dívida de 6 trilhões é rolada a um juro anual de 15% : Isso significa um custo em juros para a União de R$ 900 bilhões. Um absurdo à vista da própria arrecadação federal de impostos e taxas, pouco superior a R$ 2 trilhões. Valor, aliás, muito superior ao da dotação orçamentária de várias Ministérios. Com um agravante: De acordo com a CONSTITUIÇÃO estes juros são pagos prioritariamente, antes de qualquer outra despesa. Um privilégio para os detentores dos Títulos do Governo. Por isso estas despesas nem são consideradas como GASTO. Outro absurdo recentemente denunciado pelo Presidente Lula que disse não compreender isso. Juros da dívida não é gasto, nem fica dentro do TETO DE GASTOS fixado pela PEC 95, mas educação, saúde e previdência são gastos que devem ser cortados para que se cumpra este Teto.
Tudo, enfim, sob o rigoroso enunciado de conceitos reverberados por economistas e comentaristas da Grande Mídia como algo normal e natural. Oressa, trata-se não de conceitos nem de teoria econômica mas de interesses. Os interesses dos detentores de títulos, aliás os de maior renda no país, têm maior capacidade de influenciar decisões públicas e são, por isso, beneficiados. Aliás, além dos juros de suas gordas “poupanças”, eles também têm aplicações na Bolsa e quase sempre são titulares de grandes empresas nas quais ainda recebem pró-labore, quando as dirigem, e dividendos sobre os lucros, não tributados.
Muitos acham que esta atenção aos mais ricos é um desserviço à economia do país, quando não um desvio de caráter. “Deixem-os viver com seus milhões e cuide cada um de sua própria vida. O problema é que podemos chegar a um ponto em que esta paralização propiciada pelo dinheiro de aluguel acaba comprometendo o ritmo dos investimentos e com isso a pulsação da economia, com sérios prejuízos não só à renda e emprego de muitos, mas o dinamismo de toda a cadeia de produção.
Ler:
Juros levam 23% das receitas: https://aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/8657-juros-levam-23-das-receitas-e-derrubam-economia-do-brasil
O Brasil caminha para um abismo fiscal – J.L.Oreiro –
https://www.facebook.com/photo/?fbid=5877947742251566&set=a.159583107421420 


 

Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 26 de janeiro
AFINAL, O QUE É GENOCÍDIO?

Como Bolsonaro pode ser responsabilizado pela tragédia humanitária em terras indígenas
Para Eloísa Machado, professora de direito constitucional na FGV-SP e uma das advogadas que atuam na denúncia contra Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional, o governo do ex-presidente adotou uma política anti-indígena que mostrou intenção de destruir esses povos.

A crise humanitária dos Yanomamis tem recebido um clamor para que seja tratada como CRIME DE GENOCÍDIO. O termo "genocídio" não existia antes de 1944; ele foi criado como um conceito específico para designar crimes que têm como objetivo a eliminação da existência física de GRUPOS nacionais, étnicos, raciais, e/ou religiosos. Por genocídio entende-se quaisquer dos atos abaixo relacionados, cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial, ou religioso, tais como:
(a) Assassinato de membros do grupo;
(b) Causar danos à integridade física ou mental de membros do grupo;
(c) Impor deliberadamente ao grupo condições de vida que possam causar sua destruição física total ou parcial;
(d) Impor medidas que impeçam a reprodução física dos membros do grupo;
(e) Transferir à força crianças de um grupo para outro.”
https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/what-is-genocidehttps://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/what-is-genocide
O crime de genocídio não se esgota nas fronteiras de um Estado onde foi ou é cometido. Em 9 de dezembro de 1948, as Nações Unidas aprovaram a Convenção para a Prevenção e Punição de Crimes de Genocídio. Esta Convenção estabeleceu o "genocídio" como crime de caráter internacional, e as nações signatárias da mesma comprometeram-se a "efetivar ações para evitá-lo e puní-lo”. Daí porque as denúncias, quando não amparadas pelo Estado onde ele ocorre acabem desembocando no Tribunal Internacional de Haia, sob os auspícios da ONU.
Este tipo de crime, portanto, está bem definido. Resta saber se o caso dos Yanomamis se enquadra como tal e se as autoridades brasileiras assim o tratarão. Enquanto isso, ele foi objeto de denúncia internacional e dificilmente os responsáveis escaparão ilesos. Isso acarretará, por certo, tensões não só com membros do Governo Bolsonaro, sob o qual a crise humanitária dos povos indígenas se agravou, chegando ao ponto crítico da sucessão de mortes apontadas, como também com os militares, que embora tenham no Marechal Rondon o arauto da política de proteção aos índios no Brasil, acabaram negando-a em nome de um ultrapassado conceito de progresso material e garantia de fronteiras. Veja-se:
Contragolpe | Holocausto Yanomami é projeto militar
Imagens dos Yanomami em pele e osso remetem ao extermínio dos povos originários na ditadura e aos campos de concentração da Alemanha.
Qualquer assunto a ser tratado por esta coluna tornou-se secundário diante das fotografias aterrorizantes que o mundo viu de bebês, crianças e idosos Yanomami em pele e osso, divulgadas na semana passada. Não temos como apagar da retina as imagens de seres humanos desnutridos, cadavéricos, desmoralizados por uma política de tortura, que só havíamos visto em cenas de indigência extrema em países paupérrimos da África, em filmes sobre o holocausto judeu, ou durante seca no Nordeste no século 20.
O planeta inteiro viu nitidamente como o Brasil comete o genocídio de sua comunidade indígena. O Instituto Brasil Israel comparou o genocídio dos Yanomami com os judeus presos na Alemanha nazista. “Sim, estamos fazendo comparações com campos de concentração. Devemos usar o Holocausto como um exemplo que jamais deve ser seguido. Infelizmente, parece que parte do mundo não aprendeu o verdadeiro significado de 'nunca mais'”, escreveu o IBI.
Nossa bolha bem-informada sabia o que estava acontecendo há muito tempo. Os leitores do Intercept leram em agosto que o governo Bolsonaro havia ignorado 21 pedidos de socorro do povo Yanomami. Jornais como Amazônia Real, O Eco, Repórter Brasil, De Olho nos Ruralistas, Agência Pública e, mais recentemente, Sumaúma, vinham denunciando exaustivamente esse quadro chocante, que inclui os estupros praticados por garimpeiros. Mas as palavras já não são suficientes para alcançar a atenção das pessoas na assustadora era da informação. Nos tempos de multiverso, era preciso enxergar a realidade a cores, com todas as suas texturas e rostos cadavéricos, para que muita gente finalmente compreendesse o que é a tortura e o cinismo do estado brasileiro.
Especialmente, quando há um mecanismo milionário de distribuição de mentiras em redes sociais, amplificado por parlamentares de má-fé, para apagar a luta dos indígenas e favorecer ruralistas em troca de influência e financiamento de campanhas eleitorais. Vários desses políticos estarão assumindo seus mandatos no Congresso na semana que vem, e é inadmissível ignorar suas digitais neste morticínio: nós sabemos onde vocês estavam no governo passado. Como o senador Hamilton Mourão poderá negar sua conivência, tendo ocupado a presidência do Conselho Nacional da Amazônia Legal por três anos? O órgão foi formado por 19 militares e ninguém da Funai ou do Ibama.
A ditadura militar foi pródiga em dizimar indígenas em nome do "progresso" — o bolsonarismo foi só sua extensão. Há relatos de militares que enriqueceram no passado com o desenvolvimento econômico a qualquer custo, comprando terras na Amazônia a preço de banana. Há milhares de indígenas e quilombolas mortos silenciosamente pelos governos militares que não são contabilizados pela história oficial e, também por isso, o imaginário da "ditabranda" segue firme.
O povo Wajãpi, no Amapá, quase desapareceu em sua totalidade nos anos 1970, contaminado pelo sarampo, que chegou com madeireiros e garimpeiros. Eram bebês, idosos e crianças morrendo a esmo diariamente. Ouvi esse relato do cacique Kasiripinã Wajãpi em 2017, quando estive em sua aldeia. Emocionado, ele lembrava desse passado triste enquanto denunciava o plano do então governo Michel Temer de abrir a Reserva Nacional de Cobre e Associados à exploração de mineradores, atingindo diretamente as terras demarcadas de seu povo.
Os Wajãpi venceram aquela batalha. Mas o cacique não resistiu aos anos Bolsonaro e morreu de covid-19 em janeiro do ano passado.
Somos completamente ignorantes sobre nossos ancestrais. Aprendi nos meus tempos de escola (particular) a cantar mais hinos militares, como a Canção do Expedicionário, do que cantigas oriundas da cultura indígena. Foi essa formação que forjou o imaginário brasileiro que legitima os militares como heróis e apaga o sofrimento imposto aos indígenas.
Gostamos de exibir e destacar a nossa ascendência italiana, portuguesa, espanhola, e escondemos nossas raízes indígenas, ciganas, negras. Qual a diferença entre os brancos que escondem esses antepassados e os negros, como o jornalista Sergio Camargo, o ex-presidente da Fundação Palmares que não reconhecia a história de seus ancestrais?
A memória do morticínio indígena está impregnada não só no Brasil, como nos demais países latino-americanos. Foi a forma violenta como a exploração europeia nos atravessou. Não é uma exclusividade brasileira. A Argentina, o Chile, o Peru e a Bolívia também têm suas divisões de classe, levando os descendentes de colonizadores europeus a se julgarem superiores aos povos originários. Arrisco a dizer que no Brasil é pior, porque a cultura de morte aqui é muito mais aceita do que nos países vizinhos — e o conhecimento indígena está muito mais presente nas escolas e na cultura de países de língua hispânica.
O governo do PT está fazendo sua parte, mas não é totalmente inocente, com seus Programas de Aceleração do Crescimento e planos de hidrelétricas na Amazônia – como a Usina de Belo Monte, que condenou populações à violência urbana e à contaminação dos rios que antes eram sua fonte de alimento. Foram as contrapartidas entregues às bancadas ruralistas e os falsos cristãos evangélicos. Nada, obviamente, comparável à crueldade da era bolsonarista e sua legião de parasitas. Damares Alves e sua hipócrita cruzada mitômana que o diga.
Ainda estamos expurgando esses horrores. Não cabe aqui a politização rasa do assunto. Temos uma grave crise de identidade a encarar, e não podemos fugir. Somos nós os cidadãos de segunda classe, e não eles.
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 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 24 de janeiro

O NOME DOS BOIS

Aos poucos, à medida que avançam as investigações da POLICIA FEDERAL, vão aparecendo os protagonistas das dantescas cenas do 8 de janeiro em Brasília. Ainda não apareceram os grandes financiadores. Nomes que emergem das catacumbas ainda são a arraia miúda do golpe: um bombeiro aqui, um caminhoneiro acolá, gente que pode ter até sido intermediária no processo de aliciamento de pessoas e aluguel dos ônibus da “Festa em Selma”, senha que indicava as más intenções do movimento. As marchas de Selma a Montgomery (usa) de 1965, atacadas por supremacistas brancos, racistas, foram três manifestações, sendo a primeira conhecida como “Domingo Sangrento” (“Bloody Sunday”, em inglês), do movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos que conduziram à aprovação da Lei dos Direitos ao Voto de 1965, uma conquista histórica do movimento negro da década de 1960. Na verdade, os mentores e financiadores do fatídico dia 8 ainda estão nas sombras. Mas pagarão pelo que fizeram.

Enquanto isso, a Polícia vai identificando outros personagens do crime. Crime, aliás, tanto de destruição do patrimônio, onde não faltaram atentados à obras de arte, como político, na medida em que imaginavam criar um caos para justificar a intervenção das forças armadas contra a democracia. Todos recordam da imensa faixa aberta sobre o prédio do Congresso Nacional com os dizeres: INTERVENÇÃO. Ora, intervenção militar...E se dizem libertários! O fundamento da liberdade é a Lei que a sustenta e garante. Sem democracia não há liberdade nenhuma. E democracia é a prática da Lei sob um Estado organizado, com Poderes equilibrados nos quais o último a errar é o guardião da Constituição: O Supremo. Uma das primeiras vândalas a ser identifica foi uma pobre e infeliz senhora aqui do sul, pilhada em atos de vandalismo e escatalogia naquele dia. Nem vale dizer-lhe o nome, só lembrar que é uma notória marginal da sociedade, com vários processos nas costas, inclusive tráfico. Ontem foi identificado o que destruiu o relógio , presente de Dom João VI ao Brasil. Outro marginal. Sorte deles viverem numa democracia. Terão direito a processo com todas as garantias de defesa. Numa ditadura, dificilmente sairiam vivos. Ainda assim, a ação do Estado não deve se esgotar na punição a estes vândalos fascistas. Deve procurar conhecer melhor sociologicamente todo este processo que resultou da manipulação da opinião pública por meios tradicionais e eletrônicos, além de refletir uma clara insuficiência de nossa educação básica para a formação da cidadania. A ignorância dos bolsonarista, que começa pelo seu mitificado chefe, é assustadora. Chocante. Prova de que não bastam apenas aulas de português e matemática na rede de ensino. Há que preparar nossos jovens para o exercício da cidadania num regime democrático. E isso passa pela travessia sobre o analfabetismo político de grandes massas da nossa sociedade. Tarefa histórica, muito mais difícil do que colocar estes vândalos e seus inspiradores na cadeia. 

                                                                *

“Saiba quem é o vândalo que destruiu o relógio de Dom João VI em Brasília

O golpista que foi revelado em imagens exibidas com exclusividade pelo Fantástico foi identificado. O Fantástico foi até Goiás para mostrar quem ele é.

Por Fantástico - 22/01/2023 21h30 Atualizado há um dia

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Vândalo que destruiu relógio de Dom João VI é identificado

 

No último domingo (15), o Fantástico exibiu imagens exclusivas do ataque às sedes dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro. Entre as cenas que provocaram indignação, uma se destacou: o flagrante de um golpista atirando ao chão o relógio trazido ao Brasil em 1808, por Dom João VI. O criminoso foi identificado e o Fantástico foi a Catalão, em Goiás, para mostrar quem é esse vândalo.

Ele se chama Antônio Cláudio Alves Ferreira, tem 30 anos e, pelo menos até esta semana, morava na cidade de Catalão, a cerca de 260 km da capital de Goiás. O Fantástico localizou em Catalão um parente dele. Esse parente, que não quis gravar entrevista, afirma que identificou Antônio Cláudio Alves Ferreira quando viu a cena do ataque ao relógio.

 

Veja imagens inéditas de vandalismo golpista registrado pelas câmeras de segurança do Palácio do Planalto

 

Veja como ficou relógio raro, do século 17, destruído em ataque terrorista no Palácio do Planalto

Imagens exclusivas mostram vandalismo contra patrimônio cultural; ciência ajuda a identificar envolvidos

Conheça alguns dos extremistas dos ataques golpistas em Brasília

Nossa equipe conseguiu uma cópia da carteira de habilitação do vândalo e mostramos ao parente, que disse que essa é a identidade de Antônio Cláudio. O Ministério da Justiça confirmou a identificação e informa que ele é considerado foragido.

 

As investigações sobre a invasão e o vandalismo ocorridos no dia 8 de janeiro são atribuição da Polícia Federal. Mas a Polícia Civil de Goiás diz que chegou a levantar informações sobre Antônio Cláudio a partir de denúncias anônimas recebidas dois dias depois da exibição da reportagem do Fantástico.

 

"A Polícia Civil de Catalão recebeu duas ligações na terça-feira pela manhã, de maneira anônima, nas quais duas pessoas diziam que sabiam quem era o indivíduo que havia danificado aquele objeto nas manifestações em Brasília. A polícia civil realizou uma checagem nos nossos sistemas internos, conferimos é a existência desse indivíduo com o nome completo, com todos os seus dados e registros”, explicou o delegado Jean Carlos Arruda.

 

Antônio Cláudio Alves Ferreira tem passagens pela polícia, mas os processos foram arquivados. Pra identificar os golpistas, a Polícia Federal está usando programas de computador a partir das imagens das câmeras de segurança do Congresso Nacional, do STF - Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto, e também imagens postadas nas redes sociais pelos próprios bolsonaristas extremistas.

 

“Em um primeiro momento nós estamos fazendo a comparação da imagem que foi captada durante as manifestações com imagens das pessoas que nós temos em bancos de dados. A partir desses softwares que fazem o cruzamento, a gente faz um complemento pra identificar corretamente as pessoas”, afirma Ricardo Saadi, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção - PF

 

Segundo a Polícia Federal, o homem que atacou o quadro de Di Cavalcanti no Palácio do Planalto também foi identificado.” 

https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2023/01/22/saiba-quem-e-o-vandalo-que-destruiu-o-relogio-de-dom-joao-vi-em-brasilia.ghtml


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia23 janeiro 2023
A BANALIDADE DO MAL


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Um governo que trabalhou contra o povo, não apenas quando do combate à Covid-19. Omissão e descaso outros e propositais levaram à morte 570 crianças yanomamis. Uma catástrofe humanitária que escancara de vez o ex-presidente e sua equipe como genocidas. O relato de hoje em virtualidades.blog tem algumas fotos que mostram como foi encontrada uma população que Bolsonaro gostaria de ver aniquilada. Para ter acesso, basta clicar sobre a imagem ou no link
https://wp.me/p1jFYb-1kl
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A expressão acima foi imortalizada numa obra da Filósofa Hanna Arendt depois dela acompanhar, em Israel, o processo que aquele país mover contra o carrasco nazista H.Eichman, sequestrado por agentes israelenses em sua tranquila morada em Buenos Aires. O assunto moveu a opinião pública no ano de 1961. A comunidade judaica esperava de Hanna palavras de condenação cabal ao carrasco, já que ela era também judia. Ela, contudo, acabou escrevendo que ele não era nenhum monstro, apenas um homem normal preocupado em cumprir com eficiência seu trabalho, aliás, mórbido: Matar judeus. Daí a expressão banalidade do mal. Os perpetradores de genocídios, ao contrário do que se poderia pensar, são país de família que beijam a esposa antes de sair de casa, cumprem suas rotinas, vão aos cultos religiosos e leem livros sagrados mas não têm a menor ideia, quase sempre, das consequências de seus atos.
O Brasil foi sacudido neste começo de ano com dois fatos estarrecedores: o quebra-quebra em Brasília, cada vez mais visto como parte de um plano frustrado de golpe à democracia, principalmente depois da confissão de um dos terroristas que plantara uma bomba num caminhão de combustível no Aeroporto de Brasília, e a visita do Presidente Lula ao território yanomani. Os terroristas de Brasília estão presos, respondem a processo e serão punidos. Contudo, acham-se perseguidos. Reclamam-se heróis. Levarão muito tempo para se darem conta que foram manipulados, na sua grande maioria, por líderes ensandecidos com ideias extremistas interessados no próprio poder. E os responsáveis pela tragédia yanomani?
O governo informou que pelo menos 570 crianças morreram de desnutrição, diarreia e outras causas evitáveis nos últimos anos. Somente entre os dias 24 e 27 de dezembro foram três óbitos registrados. Em 2022 foram mais de 11,5 mil casos de malária entre os povos. Quem é o responsável por isso?
O PT já entrou na Justiça contra autoridades do Governo anterior acusando-os de prática de genocídio contra a população indígena. O assunto, com fotos chocantes, vai repercutir internacionalmente. Diante disso o Bolsonaro , de seu refúgio nos Estados Undiso, já se explicou e lavou as mãos. Mas o mal está à vista de todos e alguém terá que ser responsabilizado aos que muitos dirão: - “Ora, eram apenas ´ndios...!” E aqui um registro: Todo este continente era habitado por povos originários há 10 mil anos que viviam os dilemas de suas vidas até que aqui aportaram “los conquistadores”. O México tinha uma civilização superior à Europeia com 20 milhões de almas. Um ano depois havia pouco mais de 1 milhão e aquele país, até hoje, tem população inferior á do Brasil. A colonização espanhola foi descendo até os confins do sul do Chile arrasando povos e culturas. No Brasi, calcula-se que 6 milhões de indígenas viviam nesta vasto território. Em meados do sec. XVII o Pe. Vieira já diziam que metade havia morrido. Hoje, depois de grande esforço , não há mais do que 1 milhão, vivendo, como se vê entre os yanomanis, em situação precária. Aqui no RS, à época da destruição das Missões, 300 mil indígenas viviam no que um historiador, DECIO FREITAS, denominou seu COMUNISMO MISSIONEIRO, distribuídos numa rede de cidades que chegavam a ter 10 mil habitantes, número maior do que Rio e Salvador em 1756/7. Foram destruídos pela sanha colonizadora e só escaparam porque mais de mil deles ofereceu-se como escudo em holocausto enquanto a maioria atravessava o Rio Uruguai em busca de refúgio. Restaram os “índios vagos” que percorreriam os campos rio-grandenses como párias, muitos se confundindo com a figura do gaúcho. Todos estes povos originários são o fundamento ancestral de nosso futuro. Apesar das correntes migratórias de trabalhadores livres ou escravizados que se superpuseram em número à população indígena, eles constituem o núcleo central da brasilidade. Respeitá-los e defende-los era a máxima do Marechal RONDON, pioneiro do indianismo no país: “Morrer se for preciso, matar nunca!”


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 20 janeiro 

 

/OS MILITARES NA BERLINDA

Hoje, pela manhã, o Presidente Lula, Comandante das Forças Armadas, se reúne no Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo da República, com a alta cúpula militar. A convocação de Lula se pauta pela apresentação, pelos militares, de seus projetos para as respectivas armas, mas o Presidente deixará claro que espera a despolitização da tropa. Isso porque, no governo anterior, houve uma contaminação muito grande dos militares com ideias extremistas, associando-se a próprios do então Presidente em seu projeto continuísta. Projeto que se consubstanciou com um discurso regressista de negação histórica da ditadura militar dos anos 64/85 e no recrutamento de milhares de militares para funções de governo. De resto, consolidou-se com o tratamento privilegiado dos militares na Reforma da Previdência: Eles trabalham menos tempo que o setor privado e conservam a paridade salarial na aposentadoria com os da ativa, garantindo-lhes, ademais, reajustes. Ou seja, criou as condições para a transformação de uma instituição estatal numa espécie de Guarda Pretoriana para sua própria defesa. Já é inequívoca a participação dos militares na proteção aos bolsonarista nos acampamentos que desembocaram no patético assalto terrorista ao centro do poder em Brasília no último dia 8. O próprio Lula denunciou a conivência de membros da segurança os Planalto que teriam aberto as portas – sem sinais de arrombamento - do Palácio aos golpistas e se diz desconfiado com os militares. Aliás, dispensou nesta semana mais de 50 deles, dos 1.200 que operam em funções no Palácio, do Gabinete de Segurança Institucional. Há, portanto, um mal estar entre Lula e Forças Armadas. Não se sabe bem como poderá acabar esta reunião. Há apreensões da parte do Presidente. Há ressentimentos da parte dos militares. Estes, além dos projetos concretos para suas pastas, fecharão uma posição considerada corporativa por eles: Não querem interferência “política” nas promoções nem no ensino, aliás obsoleto e tendencioso, nas escolas militares. 

Os militares, tradicionalmente, são bem avaliados em pesquisas de opinião sobre instituições e profissionais. Não se sabe bem o que pensam os brasileiros sobre eles hoje, depois das eleições e , sobretudo, depois dos incidentes em Brasília no dia 8. Há uma percepção qualitativa de que sofreram desgastes. A grande imprensa, sempre aliada da suas instituição, tem levantado dúvidas sobre o compromisso democrático dos militares. Até hoje não se pronunciaram sobre o resultado das urnas. Isso, naturalmente, levantará questionamentos no Congresso. Aliás, um deputado já está com Projeto para acabar com o recrutamento obrigatório (*), um dos elementos que sustenta a tese de “um povo em armas”. Há inquietação, também, quanto ao silêncio dos militares na questão do armamento da população, estimulada por BOLSONARO, sob o argumento de que um povo em armas jamais será escravo de ditaduras. Oressa, quase acaba escravo de suas próprias ambições, pois a servidão ideológica, resultante da transformação da Política em seita, como fizeram Mussolini, Hitler e contemporaneamente Trump e aliados do extremismo internacional é mais escravizante do que o regime das galés. O Brasil tem hoje 673 mil CACs armados até os dentes, depois de quatro anos de cerca de 600 registros diários, um contingente que é o dobro do número de militares em funções e estes nada dizem sobre o assunto. 

Tudo isso leva, pois, às preocupações quanto ao encontro de hoje, que corre o risco de ser um confronto diante da reconstrução da democracia-entre-nós.

• Luiz Carlos Azedo - Uma reforma militar será inevitável

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../luiz-carlos-azedo-uma...

Correio Braziliense

Reforma militar pode ganhar apoio da sociedade, principalmente da juventude, em razão dos últimos acontecimentos envolvendo as Forças Armadas

Recém-eleito, com 288 mil votos, o jovem deputado Amom Mandel (Cidadania), de 21 anos, o mais votado no Amazonas para Câmara dos Deputados, antes mesmo de tomar posse, iniciou uma campanha para acabar com o serviço militar obrigatório, um verdadeiro tabu para as Forças Armadas. “Estou preparando um projeto para propor o fim do alistamento militar obrigatório. Qual a sua opinião?” — anunciou no Twitter, a sua principal ferramenta de intervenção política. A proposta provocou 3.567 comentários e teve 1.538 compartilhamentos, o que já é suficiente para se tornar uma causa com ressonância na sociedade e posicionar seu mandato junto à opinião pública.

Se aprovada, a proposta será o ponto de partida para uma reforma militar, que pode ganhar apoio da sociedade, principalmente da juventude, em razão dos últimos acontecimentos envolvendo as Forças Armadas, principalmente a omissão quanto à invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Não é uma ideia nova, mas o ambiente político agora é mais favorável a sua aprovação. A proposta de Amom está na contramão do Projeto de Lei 557/19, já aprovado pelo Senado, para que jovens morando em instituições de acolhimento familiar ou institucional tenham prioridade no processo seletivo para o serviço militar obrigatório.

Atualmente, a seleção para as Forças Armadas tem três etapas: alistamento (no ano em que o jovem completa 18 anos), seleção e incorporação. Pela proposta, de autoria do senador bolsonarista Eduardo Girão (Podemos-CE), a preferência pelos jovens egressos de abrigos será complementar a critérios definidos previamente pelo Exército, pela Marinha ou pela Aeronáutica. O Ministério da Defesa seleciona os jovens a partir da combinação de vigor físico e capacidade analítica, medida de forma independente do nível de informações ou da formação cultural dos candidatos.

O projeto tramita em caráter conclusivo na Câmara, mas tem um longo caminho a percorrer: as comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; de Seguridade Social e Família; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. A proposta de Amom coloca em xeque o conceito adotado na criação do serviço militar obrigatório, cujo objetivo é fazer com que as Forças Armadas sejam a representação do “povo em armas”, com base no mito fundador do nosso Exército, a vitória na batalha de Guararapes (PE), decisiva para expulsão dos holandeses.

Ocorrida entre 1648 e 1649, houve muitos combates entre as tropas holandesas e as brasileiras, com apoio dos portugueses, na região dos Montes Guararapes, localizada próximo à cidade de Recife. Derrotados pelos militares luso-brasileiros, os holandeses fugiram para a cidade de Recife, local em que resistiram até janeiro de 1654. Muitos índios e negros lutaram ao lado das forças luso-brasileiras para expulsar os holandeses, sob comando do general português Francisco Barreto de Meneses; do paraibano André Vidal de Negreiros; do negro Henrique Dias, filho de escravos libertos; e do líder indígena potiguar Felipe Camarão, todos militares.

Profissionalismo e tecnologia

O surgimento de exércitos de massa no Ocidente está associado à formação do Estado-nação e ao uso de mosquete, que facilitou a instrução militar. A falta de precisão das armas de fogo da época obrigava a formações maciças de atiradores. Com a Revolução Francesa, o Exército de Napoleão Bonaparte, que conquistou a Europa e obrigou Dom João VI e a família real a fugirem de Portugal para o Brasil, consolidou o conceito de exército popular, com forte identidade patriótica, para se contrapor aos exércitos profissionais, muitas vezes formados por mercenários. A conscrição permitiu à França revolucionária formar o exército que Napoleão Bonaparte considerava “a nação em armas”.

Entretanto, esse conceito vem sendo contestado no Ocidente desde os protestos maciços nos Estados Unidos contra a conscrição para a Guerra do Vietnã. Com o final da Guerra Fria, a maioria dos países do Ocidente passou a dar prioridade aos soldados profissionais, ao treinamento de alta performance, à criação de forças especiais e ao uso de tecnologia de última geração. A guerra da Ucrânia, por exemplo, está servindo de terreno para um confronto entre modernos armamentos da Otan e as tropas russas equipadas com armamentos convencionais.

O projeto do jovem Amom Mandel abre um debate na sociedade sobre as Forças Armadas que queremos, num momento em que a questão militar voltou ao centro das preocupações políticas. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que pretende discutir com os comandantes militares a modernização das Forças Armadas. Recém-empossado, Lula está convencido de que no dia 8 de janeiro havia um golpe em marcha, que somente não ocorreu devido à intervenção civil na segurança pública do Distrito Federal.

Há uma desconfiança recíproca entre Lula e os militares, uma vez que o bolsonarismo contaminou grande parte dos efetivos militares. Ao contrário do que aconteceu na Argentina e na Espanha, como no Chile, a volta aos quartéis dos militares brasileiros foi uma retirada em ordem, embora tenham sido politicamente derrotados. A vitória de Bolsonaro em 2018 representou uma volta ao poder pelas urnas, levando à militarização da administração federal, numa proporção maior até que a do regime militar.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 19 janeiro 23

UM CONSELHO DE DEFESA DA DEMOCRACIA

O quebra-quebra do dia 8 em Brasília não pode ficar restrito à denúncia do ato e do golpe. Pelas suas proporções ele demonstra um processo mais profundo e mais complexo da Política Nacional contaminada por ideologia extremista tóxica de direita: o bolsonarismo, muito similar ao que ocorreu na Itália, com o fascismo, na década de 1920, ou com o nazifascismo, na Alemanha sob o discurso de Hitler. Uma mistificação sedutora capaz de sensibilizar grandes massas e até mesmo instituições. Diante disso, precisamos urgentemente de um PLANO DE DESBOLSONARIZAÇÃO do país. Não basta a ação jurídica contra os golpistas. A SITUAÇÃO É MAIS GRAVE, até porque a construção da democracia não se esgota no campo jurídico embora o seu princípio apareça como núcleo de um sistema de direitos (e deveres), como ensina Jurgen Habermas. Mesmo quando o extremismo é derrotado por uma guerra, como foi na II Guerra Mundial, ele deixa suas marcas. 

 Os americanos viveram esse dilema na ALEMANHA depois da guerra. Precisaram criar um Programa de Desnazificação da Alemanha ocupada. 

Desnazificação (do alemão Entnazifizierung) é o termo que designa a iniciativa dos Aliados após a vitória sobre a Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial e reforçada pelos Acordos de Potsdam que buscava a limpeza da sociedade, cultura, imprensa, justiça e política da Alemanha e da Áustria de toda influência nazista.

Urge, pois, no Brasil, neste momento a criação de um CONSELHO DE DEFESA DA DEMOCRACIA com ampla participação da Sociedade Civil voltado à valorização dos valores, instituições e processos democráticos. 

Desnazificação

https://www.infoescola.com/historia/desnazificacao/

 

Por Antônio Gasparetto Junior

Mestrado em História (UFJF, 2013) - Graduação em História (UFJF, 2010) - Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/desnazificacao/

 

Desnazificação é o termo utilizado para identificar a eliminação da influência cultural nazista após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

O regime totalitário mais conhecido da história da humanidade é o nazismo, que teve como grande representante Adolf Hitler. Após a Primeira Guerra Mundial, Hitler começou a se aprofundar no mundo político, espalhando suas ideias e conquistando admiradores. Durante a década de 1920, ele tentou um golpe que o levaria ao comando político na Alemanha que, no entanto, foi mal sucedido. Seu fracasso nessa tentativa o levou a viver longos anos na prisão. Mas foi justamente na prisão que Adolf Hitler escreveu a obra que daria base para todo o regime que implantaria na Alemanha. O livro Minha Luta é um relato de seus anos como prisioneiro, mas também uma cartilha ideológica que serviria para influenciar muitos alemães. Ao ser liberto, Hitler encontrou uma Alemanha quebrada em função de dois grandes fatores. O primeiro deles foi a própria Primeira Guerra Mundial que rendeu a Alemanha grandes punições, deixando o país fragmentado em sua estrutura e economia. O segundo fator que traria graves consequências foi a grande crise do capitalismo ocorrida em 1929. Este intensificou muito o já estado de debilidade que o país vivia. A população passava fome, não tinha emprego e as perspectivas de futuro eram péssimas. Foi nesse cenário que Adolf Hitler conquistou vários seguidores através de seus discursos que encorajavam a nação. Em um momento de grandes dificuldades, seus discursos apresentavam esperança para a população.

A definitiva chegada ao poder em 1933 iniciou uma profunda transformação ideológica na Alemanha. O Partido Nazista estabeleceu toda uma estrutura de dominação do Estado e de controle da sociedade. Criou-se um regime totalitário, no qual todo o poder está no Estado e, especialmente, em um representante, Adolf Hitler. Logo a máquina nazista estabeleceu seus meios de divulgar a cultura nazista, doutrinando todos desde cedo de acordo com seus preceitos. Uma das características mais marcantes desse regime foi a crença em uma raça superior, os arianos. Hitler semeou a ideia de que os alemães representavam a raça mais pura no planeta e, por outro lado, os judeus seriam a grande praga da humanidade. Assim estabeleceu-se uma intensa caça aos judeus que foi absorvida por boa parte da população alemã. Em 1939, a Alemanha invadiria a Polônia iniciando o mais terrível conflito da história da humanidade, a Segunda Guerra Mundial. Outros países governados por regimes totalitários, como Japão e Itália, se alinhariam com Hitler e este promoveria um grande processo de expansão em nome da raça ariana e da eliminação do povo judeu. Até o final da guerra, em 1945, mais de seis milhões de judeus seriam assassinados nos campos de extermínio.

A Alemanha conquistou muitos territórios durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi derrotada pelos países Aliados e seu líder, Adolf Hitler, cometeu suicídio em 1945. Imediatamente após o término do conflito, a Alemanha foi dividida em quatro zonas que seriam controladas a partir de janeiro de 1946 pelos países vencedores, Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética. O território da Áustria também foi dividido da mesma forma, porém a Alemanha esteve sob ocupação até 1948, enquanto a Áustria permaneceu ocupada até 1955. O objetivo dessa divisão e ocupação era eliminar todos os vestígios do regime nazista. Mais de 200 mil nazistas foram aprisionados. Os Acordos de Potsdam reforçaram a proposta de limpeza da sociedade, da cultura, da imprensa, da justiça e da política de toda influência nazista. Ainda em 1945, os principais líderes vivos do nazismo começaram a ser julgados em Nuremberg, onde 24 pessoas foram condenadas e também seis associações julgadas criminosas. Essa divisão do território alemão e austríaco daria base para o novo conflito que duraria mais algumas décadas, a Guerra Fria, colocando em oposição Estados Unidos e União Soviética.

A Desnazificação se encarregou de eliminar um dos regimes mais bárbaros do mundo. No entanto, ainda hoje existem pessoas e grupos que alegam seguir a ideologia nazista, defendendo o preconceito e o extermínio de outros povos. Os neonazistas são uma realidade triste para o mundo, mas que, felizmente, hoje, são minoria e não possuem poderes expressivos.

Fontes:

http://www.dw.de/1948-fim-oficial-da-desnazifica%C3%A7%C3%A3o/a-301967 

http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Desnazificacao-na-Alemanha-passado-presente-e-futuro/20690http://www.encontro2010.historiaoral.org.br/resources/anais/2/1270045282_ARQUIVO_Artigorecife2.pdf 

http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.0713.pdf


 

Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 18

A democracia em risco: Questão de educação para a cidadania
A crise das democracias parlamentares no Ocidente vem sendo objeto de inúmeros livros nos últimos anos. Ao que tudo indica, seus efeitos, agora, chegaram com muita força no Brasil. Prova-o a intensidade dos ataques aos centros do Poder Republicano no país no dia 8 último. As atenções têm se voltado mais para os ataques em si mesmo, brutais, do que para os atacantes. Quem são, de onde saíram, o que pensam, o que pretendem? Chama a atenção as dicções de presos que, simplesmente, não compreendem por que estão presos. Acham-se heróis. Não obstante, as prisões de terroristas que colocaram uma bomba num caminhão tanque em Brasília, bem como vários ataques a torres de energia em alguns Estados, a par de revelação do Decreto que instituiria uma ditadura militar no país, demonstram que as concentrações em várias capitais, sob o manto protetor de quartéis, não tem nada de “passeio no parque”. É evidente que há, por trás do quebra-quebra em Brasília uma articulação, com mentores, financiadores e beneficiários, a qual arrasta a seus propósitos todo tipo de gente. O pior: muita gente. Basta ver o número de votos conferidos a Bolsonaro nas eleições. Seria este contingente, todo, realmente fascista e militante de uma virada ditatorial militar no Brasil? Dificilmente. Trata-se de um contingente que, frustrado com o funcionamento da democracia, se joga, estimulada por um discurso de ódio perpetrado nos últimos anos, se joga contra os baluartes da República. São tantos os presos em Brasília que já há um temor de que a Justiça não dê conta das ações contra eles. E o processo não se encerrou. Políticos de extrema direita, militares saudosistas do regime 64/85, parte da imprensa e, sobretudo, Redes Sociais, continuam estimulando a polarização e negando a legitimidade das urnas. O esforço, portanto, para a pacificação do país, na qual as distintas correntes de opinião se tolerem e se respeitem, vai muito além do castigo, necessário, aos “revoltosos” de Brasilia. Exige, talvez, a criação de um COMITÊ NACIONAL DE SALVAGUARDA DA DEMOCRACIA, com representantes da Sociedade Civil, que elabora e implemente um Plano de Ação em defesa dos valores, instituições e processos democráticos. Dado o nível de intolerância a que chegamos, não será tarefa fácil. Mas imprescindível. A propósito, selecionei como reflexão este post, ontem, de atento analista:
“Opinião do dia 17 jan– Luiz Sérgio Henriques-*Tradutor, ensaísta. É um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil. “A democracia como valor universal”. Blog Democracia Política e novo Reformismo, 15/1/2023.
“Trata-se, no fundo, de reivindicar para nosso país a plena inserção no Ocidente democrático – um conceito que nada tem de geográfico nem se limita à repetição de ritos e instituições de países ditos desenvolvidos. Antes, ele corresponde a um sistema articulado e flexível de formas políticas e sociais assentadas na tolerância, no pluralismo de valores e nos direitos humanos em todas as suas dimensões. E daí, precisamente, retira sua aspiração à universalidade ou, numa definição menos eloquente, à condição de barreira, sempre frágil e necessitada de reparos, contra a fúria destrutiva que de tempos em tempos acomete as sociedades, como ainda há poucos dias pudemos ver entre atônitos e horrorizados.”
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Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 17
Transcrevo, abaixo, o Editorial da FSP do dia 16 janeiro passado, sobre CARTÕES CORPORATIVOS, por oportuno:
“Tapioca e sorvete - Folha de S. Paulo Editorial
Cumpre apurar cartão corporativo de Bolsonaro, que evoca abuso passado sob Lula
A compra de uma reles tapioca se tornou o episódio mais conhecido de um escândalo envolvendo cartões corporativos —entregues a autoridades para despesas de governo— na segunda administração de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em 2007, o então ministro do Esporte gastou R$ 8,30 (preço da época) no quitute e precisou explicar por que utilizou o cartão. Foi um engano, defendeu-se. Em depoimento a uma CPI no ano seguinte, argumentou que, antes mesmo de o assunto chegar à mídia, tinha devolvido o valor aos cofres públicos.
Não se imagina que, por conta própria, Jair Bolsonaro (PL) adote atitude parecida. Mas, agora que foram divulgados os gastos do ex-presidente com o cartão corporativo, espera-se que os órgãos de controle esmiúcem as planilhas e investiguem a pertinência das cifras ali registradas.
Motivos não faltam. Há, por exemplo, uma nota de R$ 109 mil num restaurante de Roraima especializado em marmitas. Também há R$ 13,7 milhões em hotéis, dos quais R$ 1,4 milhão num único local de Guarujá (SP), além de R$ 581 mil em padarias, onde algumas compras passaram de R$ 10 mil.
Em montante menor, mas nem por isso insuspeito, Bolsonaro despendeu R$ 8.600 em sorvetes —em lojas da mesma Brasília onde Orlando Silva se regalou com a tapioca.
A culpa não é do cartão. Criado em 2001 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o instrumento deu agilidade e facilitou a prestação de contas, antes feita por meio de notas fiscais.
Seu uso deve respeitar os princípios da administração pública, entre os quais legalidade, moralidade e eficiência, e pode ocorrer diante de cifras pequenas e de despesas eventuais, inclusive em viagens ou serviços especiais, ou quando o gasto precisar ser feito sob sigilo.
É difícil ver como essas condições se encaixam em dispêndios que somam ao menos R$ 4,7 milhões em dias nos quais Bolsonaro não tinha agenda de trabalho, assistia a jogos de futebol ou participava de motociatas.
Graças à agência Fiquem Sabendo, que usou a Lei de Acesso à Informação, os gastos do cartão corporativo podem ser examinados por todos. Sabe-se que o ex-presidente fez pagamentos de R$ 27,6 milhões em quatro anos, o que, se considerados valores corrigidos pela inflação, está abaixo dos padrões das administrações petistas.
Montantes, porém, importam menos que finalidades. Dar máxima transparência aos atos de governo, como se vê, é o meio mais evidente de prevenir e, se necessário, investigar desmandos.”


 

Brasília: Da festa da democracia à fúria “libertária”

                       Paulo Timm – Publ. A FOLHA, Torres, 13/20 janeiro 2023

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POR QUE A CIA TENTOU UM "GOLPE MAIDAN" NO BRASIL? PEPE ESCOBAR [30]

(...). Essa interpretação, se verdadeira, poderá mudar, assazmente, a correlação de forças do bolsonarismo com o governo Lula ou, de forma ampla, com as forças progressistas do país. O artigo do link abaixo poderá ser uma luz para maiores reflexões.  

https://www.engd.org.br/post/por-que-a-cia-tentou-um-golpe-maidan-no-brasil-pepe-escobar

César Cantu - São Paulo, 12/01/2023

[Se julgar pertinente contribuir para o incremento da consciência popular, faça seus comentários e repasse].

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JBr News 2023 #009 – A arquitetura do caos

Politica por RED - 12/01/2023 13:58

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A invasão dos três principais prédios da República foi um plano minuciosamente arquitetado, que tinha por objetivo criar o caos no país.

A invasão dos três principais prédios da República foi um plano minuciosamente arquitetado, que tinha por objetivo criar o caos no país para justificar uma intervenção militar e o início de um golpe de Estado. No JBrNews de hoje, Alexandre Jardim e Rudolfo Lago detalham a apuração de como foi construída essa arquitetura do caos. Que felizmente não deu certo porque as invasões do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) fugiram do controle e se transformaram em atos de depredação e violência. Extraído de: https://jornaldebrasilia.com.br/jbr-tv/jbr-news/jbr-news-2023-009-a-arquitetura-do-caos/

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AQUI O PLANO GOLPISTA, POSTADO NAS REDES PELOS TERRORISTAS BOLSONARISTAS, SOB A DENOMINAÇÃO DE "FESTA DA SELMA".

O "MAPA DA MINA" AJUDARÁ A RESPONSABILIZAR ESSES FASCÍNORAS, QUE PAGARÃO PELOS SEUS CRIMES!

Agiram de forma premeditada, deixaram rastros que configuram prova robusta de que o objetivo principal era promover o caos, a desordem pública e a violência extrema cuja finalidade era dar um golpe de Estado pra derrubar a República e interromper o Estado Democrático de Direito.  

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2023/01/11/mapa-online-onibus-brasilia-ato-golpista-8-janeiro-preparacao-confronto.htm


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 Lula e o seu Rubicão –Roberto Amaral* www.ramaral.org

Coronéis e Generais nas manifestações golpistas

Artigo por RED - 11/01/2023 05:53 • MARCELO PIMENTEL - oficial ref. do Exército

https://red.org.br/noticia/coroneis-e-generais-nas-manifestacoes-golpistas/

 

 

USAR A FORÇA CONTRA A FORÇA - Vladimir Safatle -

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid0jnmje4WPxNvSkddT7YdvBYvzNTJdwbm3BhauPvSmTQNgbjXKSgtut1XeDaLvqWYnl&id=100007502081132&mibextid=Nif5oz

 Nota do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito https://red.org.br/noticia/nota-do-comite-em-defesa-da-democracia-e-do-estado-democratico-de-direito/

Por que Lula não aceitou a "GLO" que Múcio lhe propôs em nome dos militares https://luizmuller.com/2023/01/11/por-que-lula-nao-aceitou-a-glo-que-mucio-lhe-propos-em-nome-dos-militares/

grupo expõe a lista de financiadores dos atos do dia 08

                                                                        https://etersec.com/pt-br/financiadores-do-caos/

 

Terrorismo nos trópicos – A. Niskier

Terrorismo nos trópicos -https://www.chumbogordo.com.br/423678-terrorismo-nos-tropicos-por-arnaldo-niskier/?utm_campaign=shareaholic&utm_medium=facebook&utm_source=socialnetwork&fbclid=IwAR3VXjrRsl1n357S0RAMA6fQSyjUBNbW41U94uJoBhwf3GXxvsj2oE_VE-E

LULA, ASSUMA O COMANDO!

Manuel Domingos Neto - https://www.viomundo.com.br/politica/manuel-domingos-neto-lula-assuma-o-comando.html

 

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Aqui registrei, semana passada, a festa que Brasília celebrou por ocasião da posse do Presidente Lula, no último dia primeiro. Bastou uma semana, eu ainda na capital, para assistir ao contraponto funesto daquela celebração: O bárbaro assalto da horda de extrema direita, isto é, fascista,  aos centros do Poder Republicano na cidade. Justificativa: Liberdade ... Oressa...! Um horror, que todos puderam ver graças à burrice dos próprios terroristas ao se vangloriarem, pretendendo-se heróis “patrióticos”, distribuindo fotos e vídeos pelas redes. Eles próprios, saídos em sua maior parte do acampamento que montaram junto ao Quartel General do Exército no Setor Militar Urbano de Brasília, transformado em incubadora da intolerância com a democracia, deixaram seus rastros. Já são, agora, cerca de 1.500 deles, presos e sujeitos às penas da Lei. Perderão empregos, serão estigmatizados pela sociedade, que condena os atos por eles praticados, gastarão com advogados, muitos ficarão presos por penas que poderão chegar a 20 anos. Oxalá aprendam. Com efeito, é uma máxima, aliás liberal: há que ser intolerante com os intolerantes para que eles não venham a subverter a democracia. Queriam um golpe, acabaram golpeados pela Lei. Achavam que estavam defendendo a liberdade, como direito constitucional à livre manifestação e organização do pensamento. Esqueceram-se que a liberdade não existe no ar, como um direito indiscriminado de qualquer um a dizer, fazer, ou ir aonde quiser, como quiser. Ela é condicionada à Lei que substitui a Direito da Força pela Força do Direito, depositada como um pão sagrado no tabernáculo das instituições estatais. É a democracia que garante a liberdade, não o contrário. É ela que cria e garante direitos, através do Estado, que não se confunde com Governo, sempre transitório. Daí a importância, arduamente conquistada através dos séculos, da sua arquitetura submetida à separação, de um lado,  entre Estado e Sociedade Civil, esta responsável, em última instância pela rotatividade do poder através de eleições livres, diretas e secretas, além da ativa participação no espaço público : de outro, por um sistema interno  de freios e contrapesos representado pela tripartição do Poder entre Legislativo, Judiciário e Executivo, de forma a que nenhum tirano dele se aproprie monocraticamente.

O que passou no último domingo, passou. Foi um susto que prendeu a respiração dos brasileiros por algumas horas na expectativa do que poderia acontecer. Ainda mantém uma certa inquietação no ar. O “Perigo do golpe não passou - Ricardo Noblat - https://semanaon.com.br/especial/o-perigo-nao-passou/-.  Provou, contudo,  ter sido um tiro no pé dos golpistas, hoje completamente isolados e já dissolvidos dos acampamentos, nos quais urdiam seus planos diabólicos. Felizmente, pesquisa Datafolha de opinião demonstra que  93% dos brasileiros concorda com sua prisão. Prisão, aliás, que deve obedecer aos rigores da Lei, garantindo-lhes o direito de responder, com todas as garantias de defesa, em liberdade.  Resta agora, definir responsabilidades. É óbvio que foi o resultado de uma conspiração orquestrada, com conexões internacionais, para criar um caos e justificar uma intervenção militar. Um crime grave, independentemente dos estragos.

De outra parte, há que se reconhecer que tudo aconteceu porque o Governo  Federal deu uma cochilada. Foi colhido num intervalo da troca de guarda, quando os encarregados da Segurança Pública não estavam a postos. Uma pequena ação de interdição da Praça dos Três Poderes, já várias vezes praticada desde a inauguração da cidade, com um pequeno contingente devidamente armado para a garantia da Lei e da Ordem,  poderia ter evitado o desastre. Falhou

A maior responsabilidade, porém, foi do Governo do Distrito Federal, um ente particular da Federação, vazado de substância federativa e mantido a peso de ouro pela União através do Fundo de Desenvolvimento do Distrito Federal, que assegura os melhores salários a seus funcionários no país inteiro. O Governador do D.F. também falhou. Suspeita-se de conivência com a tentativa de golpe, eis que foi sempre aliado do bolsonarismo; se não foi conivente, foi omisso; se não foi omisso foi incompetente. Já está afastado do cargo e responderá judicial e politicamente. A propósito, abrir-se-á, doravante, um debate sobre os limites políticos e administrativos do D.F., conquistado apressadamente na Constituição de 1988. Doutrinameriamente o D.F., copiado da Constituição dos Estados Unidos, é um território vazado de substância federativa justamente para garantir, num território, a soberania federativa dos Estados Membros sob hegemonia da União. Hora, pois, de repensar os limites da autonomia do Distrito Federal.

Além disso, não há como se esquivar de uma indagação sobre o comportamento das Forças Armadas, particularmente o Exército - e as Polícias Militares estaduais - ao longo nestes últimos anos. Houve uma contaminação ideológica destes contingentes pelo bolsonarismo que os coloca sob suspeita. É inadmissível que se tenham registrado flagrantes de policiais militares do DF instigando os terroristas à ação no dia 8. E incompreensível que oficiais do Exército e familiares tenham participado da desordem. Isso é preocupante e evidencia, mais além da punição, a necessidade de:

  1. Desmilitarizar órgaõs da administração pública federal ligados à inteligência e segurança nacional, pública e civil.
  2. Elaborar plano de reeducação democrática em todas as instâncias de policiais e militares no país Tarefa árdua e delicada, mas indispensável à recolocação destas forças como instituições de Estado a serviço do cumprimento da Constituição.

 

Finalmente, os meios de comunicação e redes sociais: hora de abrir um grande debate nacional sobre concessões, regulação e  responsabilidades.- veja https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fosdivergentes.com.br%2Fhelena-chagas%2Freocupacao-democratica-passa-por-conquista-das-redes%2F%3Ffbclid%3DIwAR1f8YQldk3c2Rv5i6r3ejyLDGoxe3t7nB8TQuXibZWtDlMopM7UYJB-Po0&h=AT2WQtTlHiQJtSWkENRenqdE5EjKI71VaU3m5DBOwo_xgMfO5WhAl8QIVuWMTOKNAd7SrNDZ_A2JZUkEQt9Mbuz7VAKXNynN6dOeMksCdEMAIdBT1lad2EmMExGidK1RCD8Q&__tn__=%2CmH-R&c[0]=AT1QOL2XY9yfaGQ4qWDsHlgpH-rL82i_uPG9ByCkhhBvaeymwC6D3JHJh0uc5OTD1KTu96XQ12VLhirh5A4zzNMlUYEjoe1LmLRga4TWR92DrBh6LpOTFaMyJrCRlntdflNzurSVYiCSS5053JpaGaHCqJ0wd6vR3bArfc1Jnobh23dSrI8pKLemj1O8kxZ8T9tGg1FavpYxykDfZVy_R4s

“Democracia sempre!”


PORTO ALEGRE 250 ANOS ...
Paulo Timm – Porto Alegre, 25 de dezembro 2022
“Só a Antropologia nos une” , in Manifesto Antropofágico
O Manifesto Antropofágico foi publicado em 1928 pelo poeta e polemista brasileiro Oswald de Andrade,
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Vivi quase quatro décadas em Brasilia participando ativamente de sua consolidação, seja como técnico, encarregado da definição de sua escala regional, seja como cidadão, na construção de sua escala política, seja como poeta encantado com suas virtudes. Três saudades: Luiz Carlos Sigmaringa Seixas, a quem reservei o Prefácio de um livro que ele não chegou a escrever, Newton Rossi, a quem devo minha iniciação à Poesia e Miltão Gontijo, o amigo do peito, com quem aprendi a ser mineiro. Da vivência na Capital da República aprendi a ler as funções das cidades, sobretudo quando acumulam papéis funcionais e simbólicos: a “urbs e a civitas”. Ocorre-me isso, hoje, quando saio cedo neste melancólico final de 2022, ao ver o centro de Porto Alegre. Onde está a civitas portoalegrense? Como está organizada? Qual seu nível de integração com a cidade? Está preservada? É cultuada como tal?
Para muitos o coração cívico da cidade está em torno da Praça da Matriz que ostenta um fulgurante monumento a Júlio de Castilhos, meu grande líder. Com efeito, a linha da Rua Duque de Caxias foi o eixo originário da ocupação da cidade, cujos limites iram até a Praça do Portão – portal da cidade. Ali estão as sedes dos Poderes do Estado. Daquela elevação, ocupada por mansões imponentes, das quais sobrevive apenas o Solar dos Câmara, a sociedade descia, de um e outro lado, em degradés urbanos e sociais, até as margens do Guaíba. Sou do tempo em que o cordão que enfeixava todo esta colina se estendia dos bordéis da Pantaleão Teles à Sete de Setembro. A intensa atividade do Porto alimentava a degradação. Meu prédio, à Riachuelo 407, na confluência do pecado, ainda guardava nas manhãs o perfume pesado das “damas da noite” mais elegantes. Conheci-as melhor na adolescência precoce típica dos anos 50... Eu, contudo, prefiro situar a civitas de Porto Alegre em torno da Praça da Alfândega, seja pela monumentalidade da paisagem que se desdobra até as margens do Rio, onde ainda se pode ver de longe, a mal conservada arte em ferro dos portões do porto, seja pela intercorrência, ali, de grandes acontecimentos históricos que marcariam, na segunda metade do século XIX, a transformação do pacato e pobre Porto dos Casais em cabeça do Rio Grande . Ali, na esquina da Caldas Jr com Andradas, estava o Grande Hotel e dali, até a Livraria do Globo, adensar-se-ia o republicanismo radical rio-grandense que sacudiria a Velha República em 1930. Consta que foi Getúlio Vargas, quando governador em 1928, quem sugeriu a publicação da Revista do Globo, signo do iluminismo portoalegrino. Foi dali, também, que um alfaiate subiu a ladeira em 1891 para depor Júlio de Castilhos, que, não obstante, voltaria nos braços do povo, pouco depois, para um “mandato” sob suas rédeas ou influência que perduraria muitas décadas, à custa de duas guerras civis. Ali, cafés e barbearias fervilhavam. Da Praça da Alfândega até o porto estende-se a Avenida Sepúlveda ladeada por quatro prédios históricos, além do atual Itaú: O Museu Antropológico, o MARGS, a Secretaria da Fazenda e o antigo prédio da Alfandega, hoje ocupado por uma unidade regional do Ministério da Saúde. Faltam-me elementos para melhor caracterizar tais edificações. Se minha querida amiga Briane Bicca estivesse viva fá-lo-ia pra mim. Caminho nesta curta mas majestosa avenida em busca do monumento ao fundador da cidade, em 1752, que lhe dá o nome, aliás, apelido, Sepúlveda: José Marcelino de Figueiredo. Já não o encontro. Sumiu. Pasmem! Ao final da rua, encontro apenas o pequeno mas significativo obelisco oferecido pela colônia portuguesa na celebração do centenário da Revolução Farroupilha. Volto em busca de outros monumentos e encontro, defronte ao Museu Antropológico uma oferenda da Guarda Nacional ao Barão do Rio Branco, assinalada pela sua frase “Em todo lugar lembro-me da Pátria”; ao lado do monumento, soltas, estas palavras meio apagadas: Acre Mirim, Missões. Pergunto-me: O que está fazendo aí o digno Barão? Até sei que Rio Branco teve um certo protagonismo na questão do Acre, com o Tratado de Petrópolis, mas cuja conquista, na verdade, se deve a dois bravos gaúchos: Orlando Corres Lopes, poeta do Itaqui radicado no Rio e que, lá por 1900, reuniria um grupo de anarquistas para a fundação no que é hoje o Acre, então cobiçado por americanos, a “República dos Poetas” e Plácido de Castro, seu amigo, que correu em seu socorro militar: ao largo, dois marcos: À direita, uma efígie de Artigas, grande líder uruguaio, sem qualquer explicação de seu verdadeiro vulto, com os dizeres: “Aos irmãos gaúchos, do povo uruguaio”. Tudo excessivamente singelo e pouco esclarecedor. À esquerda, cercado num pequeno canteiro, outra homenagem, desta vez dos Tiros de Guerra a um eminente desconhecido: Carlos Lopes. Desolado, volto à Praça, inconformado com a insuficiência de cuidados com este sítio simbólico essencial da cidade e me prostro diante da monumento equestre do General Osório, Patrono da Cavalaria, grande comandante na Guerra do Paraguai. Desde menino gostava de ver e ler o legado deste nobre combatente: “A notícia mais feliz de minha vida seria aquela que me dissessem que os povos civilizados confraternizavam queimando seus arsenais”. Oxalá, General! Mas estamos ainda longe disso. Finalmente, reencontro, imortalizado em bronze, num dos bancos da Praça meu querido poeta Mário Quintana. Lembro-me de Cecília Meireles: “Não sou alegre nem triste, sou poeta”. Mas verto uma lágrima. O cuore simbólico da capital de todos os gaúchos só presta homenagem à História com a “Carta Testamento” de Vargas ali encravada, muitas vezes roubada. Mas nenhum plano de valorização de personalidades locais de projeção pública local. Nada do Brizola, nada do Loureiro da Silva, o grande Prefeito dos anos 1940, nada de Alberto Bins, nada de Lupicínio Rodrigues. Nenhuma homenagem aos açorianos. Nada sobre os negros, salvo a arte em pedra e metal da Pegada Negra . Nenhuma mulher...E o Partenon Literário...? E o Forum Social Mundial, que projetou internacionalmente a cidade...? Perdeu, meu velho amigo Prefeito, Guilherme Sociais Villela, que deixou numa lápide o registro de sua obra de reestruturação da Praça da Alfândega, em 1978, a oportunidade de ter desenhado, junto da arquitetura, um plano simbólico digno do centro cívico de Porto Alegre. Quem o fará no futuro? O atual Prefeito, um néscio, apedeuta, aliás forâneo, não tomou conhecimento dos 250 anos da cidade. Quase nada aconteceu nem foi lembrado. Não obstante, junto com Adeli Sell, ex vereador e escritor sensível aos marcos da cidade não desistimos. Breve lançaremos um Portal “Porto Alegre 250 anos” com informações memoráveis em forma de “cronoletes” (verbetes cronológicos) sobre a cidade. Muito pouco, mas sensíveis “à esta estranha forço que nos leva a cantar...”
Retorno à minha experiência em Brasília: Lá aprendi, lendo Gilberto Freire, que o passo da montagem de cidades de engenheiros para arquitetos, foi capaz de realizar um sonho poético, mas ainda falta a submissão de ambos à antropologia para que demos o salto ético capaz de produzir a estética do futuro. Crítico à construção de Brasília em meados do século passado, ele sugeriu a JK uma consulta prévia a Lewis Mumford. Sentia a necessidade de partir não do zero apenas, mas do que lá existia antes do “gesto inaugural”. Tinha razão. Brasília é tão estranha ao Cerrado quanto `a Goiás... 


    

Uruguai

Paulo Timm – Dezembro, 29 – 2022

 

Introdução

Visito Montevidéu nestes últimos dias de 2022 em memorável retorno a esta cidade onde estive, da última vez, há 50 anos. O tempo voa. E nos carrega como um pluma no seu dorso. Tenho pela cidade um encanto de juventude. Aqui vim pela primeira vez em julho de 1959 numa excursão da turma do quarto  ginasial do “Julinho”. Ó tempos! Lembranças cada vez mais vagas de amigos fraternos como João Morais, Telmo Yurgel e Asdrúbal. Estarão vivos...? O tempo voa e também dispersa. ”Sôbolos rios que vão”...Foi tal meu deslumbramento naquela viagem , eis que Porto Alegre era uma província àquela época e o Brasil ainda um Projeto de Modernização Industrial, que passei um ano sonhando em voltar. Não deu. Só na década seguinte, em minhas várias idas ao Chile, voltaria à cidade. Agora reencontro uma outra Montevidéu, impávida sobre o Rio da Prata, mas cansada de guerra. O oposto de Santiago do Chile, que também visito ocasionalmente, mais febril e excitante, também menos solidário. Resultado do mergulho profundo na águas do neoliberalismo radical introduzido pelo General Pinochet.

O Uruguai nasceu país, primeiro,  em luta acirrada contra os povos originários ali estabelecidos, quase exterminados, depois, como um tigre acossado por dois leões vorazes: Brasil e Argentina, herdeiros, por sua vez, das potências coloniais que lhe deram origem. Foram os portugueses os primeiros europeus a aqui chegarem em 1512, seguidos de perto pelos espanhóis, em 1516. Foram os portugueses que iniciaram também a colonização com a criação da Colônia do Sacramento, depois de ronda a região durante os anos precedentes, em 1680, de olho na prata explorada em Potosi, na Bolívia, e que se transformaria na grande riqueza do período, maior parte depositado, por fim, na China. Montevidéu seria fundada por espanhóis como fortaleza militar bem mais tarde, início do século XVIII. A disputa entre estes e os portugueses  pela região perduraria por décadas e a renhida disputa por Colonia se transformaria numa saga inserida na literatura universal. Afinal, no Tratado de Madrid, de 1750, ratificado em 1777 pelo de Santo Ildefonso,  foi reconhecida como pertencente à Espanha, em troca da Região das Missões, no Rio Grande do Sul, que caberia a Coroa Portuguesa. Deste acordo, as Guerras Guaraníticas, que transcorrem em 1756/7 e que acabariam destruindo o maior e mais civilizado núcleo populacional da época na América do Sul, por onde gravitaram, segundo estudiosos, perto de 2 milhões de índios guaranis, 300 mil aglutinados nos Sete Povos do lado brasileiro, quando do ataque das tropas reunidas das duas coroas ibéricas.  Diante do grotesco, um comandante castelhano teria exclamado: “Então estamos trocando aquele povoado de Colônia por tudo isso...?”. Um genocídio, pouco comentado como quase todos os que os europeus levaram a cabo no continente, senão diretamente, por procuração, quando financiavam os ditos “bandeirantes” à preação indiscriminada de povos indígenas pelo interior do Brasil. Despovoaram o Rio Grande do Sul deixando apenas o gado como repasto. Anexado, enfim, à Espanha, o Uruguai viveria sua saga nacional quando da extinção do Vice Reinado do Prata, no começo do século XIX, e início da formação nacional da Argentina, tudo no bojo das guerras napoleônicos que sacudiram a Europa e T e que acabariam, inclusive, levando os ingleses a tentarem ocupar Buenos Aires e Montevidéu, o que conseguiram, neste caso, de fevereiro a setembro de 1807.  Havia sido anexado a Portugal na vinda de D.João VI e integrado o Império Brasil como Província Cisplatina mas lutava pela Independência desde 1810. Conquistou-a, após vários embates  que envolveram EspanhaPortugalArgentina, além do próprio Brasil, em 1828. A história do início do século XIX do Uruguai foi moldada, portanto,  por lutas pelo domínio na região platina entre forças coloniais britânicas, espanholas e portuguesas, continuando, posteriormente, com as respectivas independências do Brasil e Argentina.. Neste processo, um nome se destaca: Artigas.

José Gervásio Artigas (1764-1850) não foi apenas o grande líder da Independência do Uruguai. Ele tinha uma concepção bolivariana da união dos povos do extremo sul e acabou criando a Liga dos Povos Livres constituída pelas províncias de CórdobaCorrientesEntre RíosProvíncia OrientalSanta FéMisiones e, por um periodo, as Missões Orientais do Rio Grande do Sul, ocupadas por Borges do Canto para  Portugal, em 1801. A região missioneira dos dois lados do Rio Uruguai estava aglutinada, porém, sob o comando de Andrés Guazurary (que muitos historiadores consideram possível ser um Guarani filho de Artigas). Lamentavelmente A Liga acabou dissolvida  após atacada por invasores do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e por forças espanhóis do recém criado Províncias Unidas do Rio da Prata, que daria origem à Argentina. Mas é importante que se registre que se tratava de uma inspiração progressista e que teria contado com os morenistas, grupo jacobino de Buenos Aires, além de ter, provavelmente, influenciado lideranças missioneiras que, mais tarde, se aliariam a outros movimentos libertários.

Do ponto de vista cultural muitas são as expressões uruguaias mas dois nomes se destacam na literatura: José Enrique Rodó (1871-1917) e Eduardo Galeano (1940-2015) , o  mais conhecido, autor de As Veias Abertas da América Latina (1971, em portuguêsAs Veias Abertas da América Latina) e da trilogia Memoria del fuego (1982-1987; Memória do Fogo).  . Ver artigo principal: Literatura do Uruguai

José Enrique Rodó (1871-1917), um escritor modernista, é considerado a figura literária mais importante do país. O seu livro Ariel (1900) lida com a necessidade de manter os valores espirituais, enquanto prossegue o progresso material e técnico. Além de sublinhar a importância de defender os valores espirituais sobre os materialistas, também salienta a resistência contra a dominação cultural exercida pela Europa e pelos Estados Unidos. O livro continua a influenciar jovens escritores.

Dele, disse Galeano no seu Memória do Fogo III – pg.04

“O Mestre, estátua que fala,lança seu sermão às juventudes da América.José Enrique Rodó reivindica o etéreo Ariel, espírito puro, contrato selvagem Calibã, o bruto que quer comer. O século que nasce é o tempo dos quaisquer. O povo quer democracia e sindicatos; e Rodó adverte que a multidão bárbara pode pisotear os topos do reino do espírito, onde têm sua morada os seres superiores. O intelectual encolhido pelos deuses, o grande homem imortal, bate-se na defesa da propriedade privada da cultural. Rodó também ataca a civilização norte-americana, fundada na vulgaridade e no utilitarismo.Opõe a esta civilização a tradição aristocrática espanhola, que despreza o sentido prático, o trabalho manual, a técnica e outras mediocridades.”

 

 

 

Independência - wiki

Ver artigos principais: Banda Oriental do UruguaiLiga dos Povos LivresCisplatina (província) e Guerra da Cisplatina

Em 1811, José Gervasio Artigas, que se tornou o herói nacional do Uruguai, iniciou uma revolução bem sucedida contra as autoridades espanholas, derrotando-as em 18 de maio, na Batalha de Las Piedras.[27]

Em 1813, o novo governo de Buenos Aires convocou uma Assembleia Constituinte, onde Artigas emergiu como campeão do federalismo, exigindo autonomia política e econômica para cada área e para a Banda Oriental, em particular. No entanto, a assembleia se recusou a aceitar os delegados da Banda Oriental e Buenos Aires optou por um sistema baseado no centralismo unitário.[28]

Como resultado, Artigas rompeu com Buenos Aires e Montevidéu foi sitiada a partir de 1815. Logo que as tropas de Buenos Aires se retiraram, a Banda Oriental nomeou seu primeiro governo autônomo. Artigas organizou uma Liga Federal sob sua proteção, que consistia em seis províncias, quatro das quais, mais tarde, se tornaram parte da Argentina.[28]

Em 1816, uma força de 10 mil soldados portugueses invadiu a Banda Oriental vinda do Brasil e tomou Montevidéu em janeiro de 1817.[28] Depois de quase quatro anos mais de luta, o Brasil Português anexou a Banda Oriental como província sob o nome de Cisplatina.[28] O Império do Brasil tornou-se independente do domínio português em 1822. Em resposta à anexação, os Trinta e Três Orientais, liderados por Juan Antonio Lavalleja, declararam a independência uruguaia em 25 de agosto de 1825, com o apoio das Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina).[27] Isto conduziu à Guerra da Cisplatina, que durou 500 dias. Nenhum dos lados venceu o conflito e, em 1828, o Tratado de Montevidéu, promovido pelo Reino Unido, deu origem ao Uruguai como Estado independente. A primeira constituição do país foi adotada em 18 de julho de 1830.[27]

 

Instabilidade e crise

A Declaração de Independência em 1825, reconhecida pelo Brasil em 1828, não foi suficiente, porém, para estabilizar politicamente o Uruguai. Fortemente influenciados pelo curso político na Argentina, num país pequeno e com uma população em torno de 75 mil pessoas,  as lideranças uruguaias se dividiram internamente em dois grupos: blancos, mais conservadores, liderados por Manuel Oribe, no interior, pouco povoado e dominado por grandes estâncias  e colorados, com maior presença na capital e junto aos comerciantes,  liderados por Fructuoso Rivera. Ainda hoje o Uruguai tem uma população pequena, estimada em 3,5 milhões de habitantes, sendo que 1,8 milhão concentrado na capital.

“O Colorados favoreceu os exilados e liberais Unitários argentinos, muitos dos quais se refugiaram em Montevidéu, visto que o presidente Manuel Oribe Blanco era um amigo próximo do governante argentino Manuel de Rosas. Em 15 de junho de 1838, um exército liderado pelo líder colorado Rivera derrubou o presidente, que fugiu para a Argentina.[29] Rivera declarou guerra a Rosas em 1839. O conflito duraria 13 anos e tornou-se conhecido como a Guerra Grande.[29]

Em 1843, o exército argentino invadiu o Uruguai em nome de Oribe, mas não conseguiu tomar a capital. O cerco de Montevidéu, que começou em fevereiro de 1843, duraria nove anos. Os uruguaios sitiados pediram ajuda a residentes estrangeiros, o que levou à formação de uma legião francesa e uma italiana, esta última liderada pelo exilado Giuseppe Garibaldi.[30]

Em 1845, o Reino Unido e a França intervieram contra as forças de Rosas para restaurar os níveis normais de comércio na região. Seus esforços se mostraram ineficazes e por 1849, cansados da guerra, ambos os países se retiraram depois de assinar um tratado favorável a Rosas. Quando parecia que Montevidéu finalmente iria cair, começou um levante contra Rosas, liderado pelo governador Justo José de Urquiza, da província argentina de Entre Ríos. A intervenção brasileira de maio de 1851, em nome dos Colorados, combinada com o levante, mudou a situação e Oribe foi derrotado. O cerco de Montevidéu acabou e a Guerra Grande finalmente chegou ao fim. Montevidéu recompensou o apoio do Brasil ao assinar tratados que confirmaram o direito do Brasil de intervir nos assuntos internos do Uruguai.  (...). Em 1865, a Tríplice Aliança foi formada pelo imperador do Brasil, o presidente da Argentina e pelo general colorado Venâncio Flores, chefe de governo uruguaio a quem ambos os países ajudaram a ganhar poder. 

 

Artigas e a Liga dos Povos Livres – wiki

Liga dos Povos Livres (1815 – 1820), Liga Federal ou União dos Povos Livres, era uma confederação de províncias aliadas onde hoje é o oeste do Rio Grande do Sul, centro e norte daArgentina, metade do Paraguai, e o Uruguai, que foi criada após a queda do Vice-Reino Espanhol do Rio de la Plata. Foi liderado por José Gervasio Artigas, governador da Província Oriental (a maior parte da qual é hoje a República Oriental do Uruguai ), que assumiu o título de protetor dos povos livres.

A Liga era constituída pelas províncias de CórdobaCorrientesEntre RíosProvíncia OrientalSanta FéMisiones e, por um periodo, também fez parte da Liga dos Povos Livres as região das Missões Orientais do Rio Grande do Sul, ocupadas por Portugal em 1801. A região missioneira dos dois lados do Rio Uruguai estavam aglutinadas sob o comando de Andrés Guazurary (que muitos historiadores consideram possível ser um Guarani filho de Artigas). A Liga foi dissolvido após ser atacado pelos invasores do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e por forças espanhóis do recém criado Províncias Unidas do Rio da Prata.

Conceito

A Liga Federal foi criada, entre 1814 e 1815, no quadro das guerras civis entre partidários do Federalismo (Artigas desenvolveu uma ideia de federalismo adaptada à região)[1] contra partidários do governo central de Buenos Aires. Tal liga, também chamada de União dos Povos Livres. A Liga Federal foi combatida pelo governo nacional centralista e unitário de Buenos Aires, que buscava padronizar o sistema de governo durante a guerra de independência.

Não haviam instituições de governo centrais, os lideres federais eram reunidos em torno do comando militar e o prestígio de Artigas, que era chamado de Protetor dos Povos Livres. Para tratar de suas relações com Buenos Aires em 29 de junho de 1815, Artigas reuniu-se com o Congresso do Oriente em Concepción del Uruguay, sobre o qual uma linha historiográfica tem conjecturado que nele foi feita uma declaração de independência nacional, o que não é confirmado por nenhum documento histórico.

Para medir a magnitude da Liga, lembre-se que naquelas datas — entre 1814 e 1820 — o território das Províncias Unidas do Río de la Plata, da qual a atual Argentina é uma continuidade histórica, tinha menos de quatorze províncias, das quais seis entraram para a Liga[2][3]. A Liga Federal atingiu seu apogeu após a queda do diretor supremo Carlos María de Alvear em 1815.

Histórico

Inicio do Federalismo na região do Prata

O federalismo na região do Rio da Prata teve origem confusa. No final de 1810, Cornélio Saavedra procurou obter apoio do "Interior" e se opor aos morenistas "jacobinos" da cidade de Buenos Aires; por isso, contou com os representantes das cidades do interior para substituir a Primeira Junta de Governo pela Grande Junta, da qual logo depois expulsou os mais notórios morenistas. A reação centralista na capital levou à formação de vários governos efêmeros e depois ao chamado Diretório, um grupo unitário, centralista e elitista, cujos expoentes mais destacados foram Alvear e Pueyrredon.

Em resposta ao centralismo exclusivista que percebiam nos governos de Buenos Aires, surgiu nas cidades e no campo das províncias do interior o desejo de autogoverno, buscando que o governo central fosse um representante dos "povos", em vez de receber governos nomeados de dentro do capital sem participação local. O primeiro líder político do movimento foi o então Coronel José Artigas, líder popular e militar da Província Oriental, que propôs o sistema federal como modo de governo da nova nação no Congresso de abril de 1813, antecipando a organização da nação antes da terminou a guerra de independência da Espanha. No entanto, deixou claro que

Não é de forma alguma uma separação nacional.

O que o caudilho queria era integrar sua recém emancipada Província Oriental ao movimento revolucionário de Buenos Aires, que propunha a criação das Províncias Unidas do Río de la Plata. A Província Oriental enviou representantes à Assembléia Constituinte que deliberou em Buenos Aires, com instruções que refletiam as bases teóricas sobre as ideias de Artigas, resumidas em três pilares fundamentais: Independência, República e Federação.

No entanto, a assembléia não admitiu os deputados orientais, sob o pressuposto de que eles foram mal escolhidos de acordo com seu sistema eleitoral, que Artigas considerou inadequado. De fato, argumenta-se que essa rejeição teve motivos políticos: Buenos Aires via o federalismo como uma teoria discordante, enquanto Artigas o considerava, ao contrário, como garantia da unidade de uma nação. A rejeição de suas propostas e dos representantes da Província Oriental na Assembléia do Ano XIII levou à ruptura política com o governo central em janeiro de 1814, momento em que começaram as guerras civis argentinas.

A Liga dos Povos Livres nasce

Em pouco tempo, Artigas controlava as províncias de Entre Ríos, Oriental e Corrientes; pouco depois, incorporou também Santa Fé e favoreceu uma revolução em Córdoba, província que se comportaria mais como aliada.

O sistema idealizado por Artigas propunha que a futura nação a ser concebida fosse composta por províncias autônomas, ligadas por acordos interprovinciais. Ou seja, um governo local competente em cada província, que cuidaria de seus assuntos internos, pois acreditava que este era o aspecto essencial para proteger a “ soberania particular dos povos ”. Cada província também deveria ter seu próprio exército, pois Artigas acreditava no "direito dos povos de manter e ter armas".

As "cidades livres" formaram o que começou a ser chamado de Liga Federal. Em teoria, Artigas não tinha poder sobre os governos autônomos das províncias, nem mesmo sobre os orientais, mas usava o título de "Protetor dos Povos Livres", e era responsável pelas relações exteriores e com o governo central, e pelo direção da guerra.

Enquanto isso, Artigas apoiou as massas camponesas que o seguiram com seu Regulamento Provisório para a Promoção da Campanha e Segurança de seus Latifundiários, de 1815, no qual foi autorizada a expropriação de terras aos "maus europeus e piores americanos", para posteriormente ser distribuído entre os pobres rurais que o seguiram, sob o lema de que "os mais infelizes serão os mais privilegiados". Além disso, defendeu a ideia da universalidade da educação sem distinção de classes sociais ou etnias, e até tentou criar reservas indígenas autônomas, governadas por seus habitantes.

O avanço do domínio federal foi combatido militarmente pelo Diretório; depois de sucessivos fracassos em suas tentativas de esmagar as autonomias provinciais, o general José de San Martín — que havia iniciado a libertação do Chile — recebeu a ordem de "esmagar as tropas federais e artiguistas com as tropas sob seu comando", San Martín desobedeceu ao governo central, completando a campanha do sul do Chile e iniciando a campanha que resultaria na independência do Peru e do Equador.

Do lado de Manuel Belgrano, esse general patriota ainda enfrentava diretamente os monarquistas, por isso sempre considerou o federalismo desastroso para a organização de seu exército, e tentou adiar a discussão sobre a forma de organização do Estado. No entanto, no final da década ele alertou que

"Há muito equívoco nos conceitos: não existe essa facilidade para acabar com esta guerra; se seus autores não querem acabar com ela, ela nunca vai acabar... O exército que eu comando não pode acabar com ela, é impossível. Seu único propósito deve ser por um acordo... ou veremos o país se transformar em puros selvagens..."

A guerra contra os unitários e o Período da Anarquia

Em agosto de 1816, numerosas tropas luso-brasileiras invadiram a Banda Oriental, iniciando uma guerra contra Artigas e suas forças. Em 4 de janeiro de 1817, Montevidéu caiu em mãos portuguesas. Artigas foi sendo enfraquecido após acordos entre os centralistas de Buenos Aires, os luso-brasileiros e alguns ex-líderes menores do artiguismo. Assim, sua grande derrota na Batalha de Tacuarembo em 22 de janeiro de 1820 também significou a derrota de sua ala, mais radical, dentro do movimento Federalista.

Poucos dias depois, em 1.º de fevereiro de 1820, foi travada a Batalha de Cepeda, na qual os demais líderes federais (Estanislao López e Francisco Ramírez, de Santa Fé e Entre Ríos), derrotaram as forças unitárias de Buenos Aires, causando a dissolução do Diretório, do Congresso e o desaparecimento do poder a nível nacional, levando a um período em que diversas provincias foram obtendo e mantendo autogoverno local, semq qualquer centralização entre uma e outra, conhecido como o Período da Anarquia.

Dissolução da Liga e exílio de Artigas

Pouco após Posteriormente os caudilhos vitoriosos assinaram junto com o governador de Buenos Aires o Tratado do Pilar. Artigas havia imposto como condição prévia a qualquer compromisso a obrigação de Buenos Aires declarar guerra a Portugal para libertar a Banda Oriental, ocupada desde 1816. No entanto, López e Ramírez não atenderam ao pedido de Artigas e desconsideraram sua autoridade, uma vez que consideraram mais urgente a reorganização de suas províncias e abandonar por enquanto a guerra contra os luso-brasileiros. Artigas considerou isso uma traição à causa dos Povos Livres e o levou a uma breve guerra contra Ramírez, na qual acabou derrotado. Foi para o exílio no Paraguai e não voltou a participar da vida política.

 

Desta forma, com a Província Oriental ocupada pelos luso-brasileiros, e as províncias de Santa Fé e Entre Ríos desrespeitando a autoridade de Artigas, a Liga dos Povos Livres foi dissolvida, embora estas duas últimas províncias continuassem sendo federais.


Na sequência de um acordo para derrotar Artigas Artigas ficou desprovido de reforços e foi derrotado na Batalha de Tacuarembó em 1820 pelos luso-brasileiros, que mais tarde ocuparam toda a Província Oriental. O poder de Artigas diminuiu antes da ascensão de seus subordinados Francisco Ramírez e Estanislao López, que derrubaram o Diretório depois de triunfar na Batalha de Cepeda e depois se voltaram contra Artigas.

Ao final da Guerra da Cisplatina, a Província Oriental tornou-se um estado-tampão independente em 1828, enquanto o sistema federal foi imposto nominalmente às demais províncias da Argentina a partir do Pacto Federal de 1831 e da posterior criação da Confederação Argentina em 1835 sob a liderança de Juan Manuel de Rosas.

O Pacto Federal

Depois que a Província Oriental foi ocupada pelos luso-brasileiros e depois pelos brasileiros, dando origem à Guerra do Brasil, o sistema de equilíbrio mudou. Após a guerra, e após a independência da Província Oriental em 1828, a Província de Buenos Aires adotou um federalismo singular, propiciando em 1831 o Pacto Federal com as províncias de Entre Ríos e Santa Fé. Posteriormente, a província de Corrientes aderiu ao pacto. Entre 1831 e 1832 estavam ocorrendo as adesões das demais províncias. Em 1835 o Pacto Federal foi transformado na Confederação Argentina.

Ver Também

Referências

  1. Bárbara Díaz; Mónica Salinas. Diálogo con el historiador Reyes Abadie (PDF). [S.l.: s.n.] Consultado em 28 de maio de 2012

 

O Uruguai no século XX

Artigas viveu muito, veio a falecer em 1850 já sem a aura que cercava no início do século. O fim da Guerra do Paraguai trouxe novo alento para o Uruguai com preços melhores para a carne, seu principal produto. Com as duas grandes guerras mundiais de 1914-18 e 1939-45 o Uruguai se consolidou politica e economicamente ganhando crescente reconhecimento internacional. No pós-guerra se transformaria numa das Terras da Promissão para muitos idealizadores de uma vida mais tranquila e eram comuns casas de celebridades do cinema americano na Praia de Punta del Este.

 

Até a década de 1960, o Uruguai era conhecido por ter um perfil de país desenvolvido, com altos índices sociais e estabilidade política. Após a década de 1970, a escassez de recursos minerais e energéticos, a carência de tecnologia e a queda do preço da  e da carne no mercado internacional contribuíram para a desestabilização econômica no Uruguai. O presidente Jorge Pacheco declarou estado de emergência em 1968, seguido de uma suspensão das liberdades civis em 1972. Em 1973, em meio à crescente crise econômica e política, as forças armadas dissolveram o Congresso e estabeleceram um regime civil-militar.[27] Cerca de 180 uruguaios são conhecidos por terem sido mortos durante o regime militar de 12 anos, de 1973 a 1985.[39] A maioria foi morta na Argentina e em outros países vizinhos, sendo 36 deles mortos no Uruguai.[40]

Retorno à democracia

Uma nova constituição, elaborada pelos militares, foi rejeitada em referendo em novembro de 1980. Após o referendo, as forças armadas anunciaram um plano de retorno ao regime civil e eleições nacionais foram realizadas em 1984.[27] Julio María Sanguinetti, líder do Partido Colorado, conquistou a presidência e governou entre 1985 e 1990. A primeira administração Sanguinetti implementou reformas econômicas e a democracia foi consolidada após anos sob o regime militar.[27]

Comemorações do Bicentenário do Uruguai em 2011. A imagem mostra 500 crianças e adolescentes de 19 escolas de todo o país que se reuniram em frente ao Palácio Legislativo, em Montevidéu

Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional, ganhou a eleição presidencial de 1989 e a anistia aos violadores dos direitos humanos foi aprovada por referendo. Sanguinetti foi, então, reeleito em 1994. Ambos os presidentes continuaram as reformas estruturais econômicas iniciadas após o restabelecimento da democracia, além de outras reformas importantes terem sido promovidas para melhorar o sistema eleitoral, a segurança social, a educação e a segurança pública.[41]

As eleições nacionais de 1999 foram realizadas sob um novo sistema eleitoral estabelecido por uma emenda constitucional de 1996. O candidato do Partido Colorado, Jorge Batlle, auxiliado pelo apoio do Partido Nacional, derrotou candidato da Frente AmplaTabaré Vázquez. A coligação formal terminou em novembro de 2002, quando os Blancos retiraram seus ministros do gabinete,[27] embora continuassem a apoiar os Colorados na maioria das questões. Os baixos preços das commodities e dificuldades econômicas nos principais mercados de exportação do Uruguai (no Brasil, com a desvalorização do real e, em seguida, na Argentina, durante a crise de 2002), provocaram uma severa recessão econômica de 11%, o desemprego subiu para 21% da população e o percentual de uruguaios que vivem na pobreza aumentou para mais de 30%.[42]

Em 2004, os uruguaios elegeram Tabaré Vázquez como presidente, dando à Frente Ampla a maioria em ambas as casas do parlamento. Como os preços das commodities dispararam e a economia se recuperou da recessão, o governo Vázquez triplicou os investimentos estrangeiros, reduziu a pobreza e o desemprego, diminuiu a dívida pública de 79% para 60% do PIB, enquanto a inflação se manteve estável.[43]

Em 2009, José Mujica, um ex-militante de esquerda que passou quase 15 anos na prisão durante o governo militar do país, surgiu como o novo presidente.[44] Em 2012 , o direito ao aborto foi legalizado no país. Em 2013, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o cultivo, a produção e a venda da cannabis foram aprovados, tornando o país pioneiro mundial na legalização desse psicotrópico.[20]

 

Hoje o país tem uma estrutura federativa, com 19 departamentos, todos com representação eleita pelo voto para Poderes Regionais Executivo e Legislativo.

Subdivisões

Ver artigo principal: Subdivisões do Uruguai

O Uruguai é dividido em 19 departamentos, cujas administrações locais replicam a divisão dos poderes executivo e legislativo. Cada departamento elege suas autoridades por meio de um sistema de sufrágio universal.[76] O poder executivo departamental reside em um superintendente e na autoridade legislativa de um conselho departamental.[76]

Departamento

Área (km²)

População*

Capital

Artigas

11 928

78 019

Artigas

Canelones

4 536

485 028

Canelones

Cerro Largo

13 648

86 564

Melo

Colônia

6 106

119 266

Colônia do Sacramento

Durazno

11 643

58 859

Durazno

Flores

5 144

25 104

Trinidad

Florida

10 417

68 181

Florida

Lavalleja

10 016

60 925

Minas

Maldonado

4 793

140 192

Maldonado

Montevidéu

530

1 326 064

Montevidéu

Paysandú

13 922

113 244

Paysandú

Río Negro

9 282

53 989

Fray Bentos

Rivera

9 370

104 921

Rivera

Rocha

10 551

69 937

Rocha

Salto

14 163

123 120

Salto

San José

4 992

103 104

San José de Mayo

Soriano

9 008

84 563

Mercedes

Tacuarembó

15 438

90 489

Tacuarembó

Treinta y Tres

9 676

49 318

Treinta y Tres

                

Sociedade e Economia

Com a prática liquidação da população originária que habitava os campos e vaquerias uruguaias pelo colonizador, o Uruguai é o país com menor presença visível  deles e descendentes em sua população, variando de 1%, em Montevidéu, a 20% conforme a região, numa média de 10% para o conjunto populacional.. O DNA mitocondrial indígena chega a 62% em Tacuarembó, onde ostenta uma média de 20% dos habitantes. . Neste sentido, pode-se, talvez, afirmar que o Uruguai é o menos latino-americano dos países do continente, fruto não só da hegemonia colonial do espanhol mas da intense imigração. A presença de afrodescendentes tampouco é visível mas está presente como provável resultado do uso de mão de obra escrava nos “saladeiros” no século XIX. Tem, ainda, a particularidade de ter uma forte presença de idosos na sua população. E um fato marcante e diferenciador do restante da América Latina: O número de ateus e sem religião alcança o mesmo percentual de católicos no país: 45%, sendo muito pequena a presença de outros cultos.

Um estudo genético de 2009, publicado no American Journal of Human Biology, revelou que a composição genética do Uruguai é principalmente europeia, mas com contribuição indígena (que varia de 1% a 20% em diferentes partes do país) e significativa contribuição africana (7% a 15% em diferentes partes do país).[65]

Um estudo genético de 2006 encontrou os seguintes resultados para a população de Cerro Largo: contribuição europeia de 82%, contribuição indígena de 8% e contribuição africana de 10%. Esse foi o resultado para o DNA autossômico, o que se herda tanto do pai quanto da mãe e permite inferir toda a ancestralidade de um indivíduo. Na linhagem materna, DNA mitocondrial, os resultados encontrados para Cerro Largo foram: contribuição europeia de 49%, contribuição indígena de 30%, e contribuição africana de 21%.[67]

(...)

Outro fator chave para compreender o dinamismo da população uruguaia é a migração. A imigração europeia se radicou no Uruguai desde os finais do século XIX até meados dos anos 1960. Desde a perspectiva da imigração internacional, na segunda metade do século XX, o Uruguai começou a se consolidar como um país emigratório, seja por motivos políticos ou econômicos, fenômeno que tem influenciado o crescimento populacional do país nas últimas décadas. A emigração é principalmente para a Europa, Argentina e Estados Unidos. Na Europa, o principal destino dos uruguaios é a Espanha, mas também emigram para a ItáliaFrança e Alemanha.[59]

 

A conformação e estrutura da população uruguaia se distingue em relação aos demais países da América Latina. O Uruguai se antecipou ao menos trinta anos em relação aos demais países latino-americanos quanto à transição demográfica, onde em sua maioria o processo se iniciou entre as décadas de 1950 e 1960. Estima-se que em 1900 a taxa de fecundidade era de seis filhos por mulher, em 1950 esta média teria caído para três e em 2008 esta média seria ainda menor (2,1 filhos por mulher), segundo o INE. Por sua vez, destaca-se por ser o país com a maior população longeva na região, onde o coletivo de pessoas com mais de 60 anos era de 17,7% em 2008. As mudanças na fecundidade também se vislumbram pelo aumento da esperança de vida, que atinge os 76 anos (72,4 para os homens e 79,7 para as mulheres). A taxa da urbanização é alta e chega a 96,1% da população.[57][58]

A condição social dos uruguaios é, certamente, um pouco melhor do que no conjunto da América Latina. Não obstante, também se verifica, aqui o que uma autora brasileira denomina “A favelização do planeta” -  . A “linha de indigência” é relativamente baixa, em torno de 13% da população, em 2013 e obrigada a viver em casas nem próprias, nem apropriadas. Comunidade inteiras se disseminaram pelo país nas últimas décadas, num fenômeno similar às "Favelas" no Brasil"Villas Miseria" na Argentina"Barrios" na Venezuela, "Invasiones" na Colômbia, "Arrabales" na Espanha"Poblaciones allampa" no Chile e "Jacales" no México. Além disso há diferenças salariais substanciais entre homens e mulheres, como também, entre brancos e negros. O salário médio da mulher em 2002 no Uruguai equivalia a 71,8% do salário do homem da mesma atividade. O salário médio dos descendentes de africanos equivalia a 65% do dos descendentes de europeus.

 

 

 

 

Um recente relatório usou dois indicadores para estimar o número de pessoas vivendo em estado de pobreza no país. Esses indicadores são a "linha de indigência", abaixo da qual o salário da família não é o suficiente para o consumo básico de alimentos, e a "linha da pobreza", abaixo da qual o salário da família não é o suficiente para o consumo básico de alimentos, roupas, saúde e transporte. Em 2013, cerca de 12% da população uruguaia era classificada como pobre pelo governo

Coerente com a tradição republicana radical o Uruguai é um modelo de organização constitucional detendo a mais elevada preferência da população no regime democrático da América Latina, em torno de 75%, em consonância com os baixos níveis de corrupção no país. A saúde é universalizada e a educação pública e gratuita garantida pelo Estado em todos os níveis de ensino: primário, secundário e superior. Desde o Governo popular de Pepe Mojica todos os alunos têm computador e acesso à Internet. O país faz parte do  One Laptop per Child (OLPC) e em 2009 tornou-se o primeiro país do mundo a oferecer um laptop para cada aluno da escola primária  como parte do Plano Ceibal. Durante o período entre 2007 e 2009, 362 mil alunos e 18 mil professores estiveram envolvidos no programa. Cerca de 70% dos laptops foram entregues a crianças que não têm computadores em casa e o programa OLPC representa menos de 5% do orçamento para a educação do país.

 

Ver artigo principal: Educação no Uruguai

educação no Uruguai é secular, livre[129] e obrigatória por 14 anos, a partir dos 4 anos de idade.[130] O sistema é dividido em seis níveis de ensino: jardim de infância (3-5 anos); primário (6-11 anos); secundário (15-17 anos); superior (18 e acima) e pós-graduação.[130]

educação pública é a responsabilidade primária de três instituições: o Ministério da Educação e Cultura, que coordena as políticas de educação; a Administração Nacional da Educação Pública, que formula e implementa políticas educacionais dos ensinos primário e secundário; e a Universidade da República, responsável ​​pelo ensino superior.[130] Em 2009, o governo planejava investir 4,5% do PIB em educação.[129]

O Uruguai consegue bons resultados no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) em nível regional, mas ainda está abaixo da média dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e também está abaixo alguns países com níveis semelhantes de renda.[129] No teste PISA de 2006, o Uruguai teve uma das maiores diferenças de pontuação entre as escolas, o que sugere uma variabilidade significativa da qualidade da educação pelo nível sócio-econômico.[129]

 

Economia

A economia uruguaia é essencialmente agrícola, com base em grandes propriedades espalhadas pelo interior.

As estatísticas oficiais do Ministério da Agricultura e Pecuária do Uruguai indicam que a carne e criação de ovinos ocupam 59,6% do território. Os percentuais aumentam para 82,4% quando a pecuária está ligada a outras atividades agrícolas, como laticíniosforragem e rotação de culturas de arroz . Em 2007, o Uruguai tinha rebanhos bovinos no montante de 12 milhões de cabeças, o que o torna o país com o maior número de animais per capita, em 3,8. No entanto, 54% deles estão nas mãos de 11% dos agricultores, que têm um mínimo de 500 cabeças. No outro extremo, 38% dos agricultores exploram pequenos lotes e têm rebanhos com média abaixo de cem cabeças.

 Em 2010, o setor agrícola orientado para exportação do Uruguai contribuiu com 9,3% do PIB e empregava 13% da força de trabalho do país.[24] 

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Uruguai é um dos maiores produtores mundiais de soja (9°), de  (12º), carne de cavalo (14°), cera de abelha (14°) e marmelos (17°). A maioria das fazendas uruguaias são de gestão familiar, sendo que a carne e lã representam as principais atividades e a principal fonte de renda para 65% delas, seguido pelo cultivo de vegetais com 12%, a produção leiteira com 11%, criação de porcos e de aves, com 2% cada. A carne bovina é o principal produto de exportação do país, totalizando mais de 1 bilhão de dólares em 2006.[110]

economia do Uruguai depende ainda  fortemente do comércio, particularmente das exportações agrícolas, deixando o país vulnerável às flutuações nos preços das commodities. Não obstante, vem desenvolvendo um setor de alta tecnologia, sendo em 2005, o maior exportador de software na América do Sul.[100] Isso permitiu um crescimento do PIB a uma taxa anual de 6,7% durante o período 2004-2008.[104] com simultânea diversificação dos  mercados de exportações e consequente redução da  dependência de Argentina e Brasil.[104] A pobreza foi reduzida de 33% em 2002 para 21,7% em julho de 2008, enquanto a pobreza extrema caiu de 3,3% para 1,7%.

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(*) Os registros em itálico são da wikipedia


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 23/XII-22

NATAL

Paulo Timm – Publ. A FOLHA, Torres RS 23/30 dez- 22

Chegamos ao Natal. Ano 2022, significativo para o Brasil por celebrar seu segundo centenário da Independência numa renhida disputa eleitoral que acabou se traduzindo como uma vitória dos valores democráticos e republicanos. Há cem anos, em 1922, abrimos um ciclo de grandes mobilizações que acabaram desembocando na Revolução de 1930. À sua testa, Vargas mudou o Brasil de um país agroexportador, herdeiro da escravidão negra, para um moderno país estruturado por instituições estatais fortes voltadas à industrialização e à afirmação da soberania nacional. Vamos ver o que nos espera a seguir. Pesquisas de Opinião demonstram que queremos mais soberania popular e mais desenvolvimento. Enquanto isso, confraternizemos entre os sobreviventes de um período difícil que se mostrou mortífero para quase 1 milhão de brasileiros que pereceram sob o COVID; mais de 20 milhões ainda padecem diante da crise econômica e cerca de 33 milhões de famintos nada terão à ceia de Natal, senão esperança de dias melhores. E nunca esqueçamos que 120 milhões de brasileiros, ativos e inativos, ganham até um salário mínimo. A eles, todos, nossa solidariedade e expectativas de que um dia possamos gritar a todos os cantos que Torres é um exemplo para o Brasil: uma bela cidade na qual ninguém padece de fome, nenhuma criança está fora da escola, nenhum adolescente desamparado como nem-nem, nenhum idoso abandonado. Afinal, não é esta a Boa Nova de Cristo inscrita nos evangelhos? Evangelhos que se constituem na ruptura com o Velho Testamento judaico e que enfatiza a ideia de que “Deus é Pai”, do qual todos descendemos, sem distinção, como irmãos. Foi São Paulo, aliás, quem consagrou esta máxima como fundamento da fraternidade universal e que levaria, no Renascimento, à compreensão da dignidade humana como princípio da Doutrina dos Direitos Humanos, reiterada na Declaração dos Direitos do Homem na Revolução Francesa, em 1789, ratificada pela Declaração dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, depois da vitória Aliada contra a ameaça da extrema direita nazifascista. O cristianismo, como outras doutrinas religiosas que o precederam, como o zoroastrismo, entre os persas, e o budismo, entre os hindus, são todos igualmente humanistas e rejeitam as discriminações e uso da violência contra um suposto “Outro”. Em todos eles germina o cultivo do perdão em substituição à vingança e a prática da concórdia como regra de convivência.

Importante, pois, lembrar neste momento Natalino, que para o cristianismo que tem na Bíblia seu livro sagrado, há um Velho Testamento, um conjunto de 39 livros escrito originalmente em hebraico, com exceção dos trechos bíblicos que foram escritos em aramaico: Ed 4. 8-6, 18; Ed 7. 12-26; Dn 2. 4-7, 28 e Jr 10. 11 e o Novo Testamento, escrito majoritariamente em grego, com 27 livros, consubstanciado nos Evangelhos com ensinamentos de Jesus Cristo, nos quais esta ideia do amor ao próximo se destaca, abrindo caminho na Idade Média para reformadores sociais como Joaquim de Fiore (1135 – 1202) e John Huss ((1396 -1393), os quais acabariam irrigando os ideais do Iluminismo no século XVIII. Das escrituras nessas línguas originais surgiram as traduções bíblicas em diversas línguas faladas pelo mundo. Hoje calcula-se que 100 milhões de exemplares da Bíblia já tenham sido impressas, sendo o livro mais lido no mundo. A tradução para a língua inglesa foi feita por William Tyndale (1484 - 1536) coincidindo com a criação da Imprensa por Guttemberg, tendo ele próprio feito 180 cópias, 135 em papel e 45 em pergaminho, muitas ainda guardas em museus. 

Quatro foram os evangelistas: Marcos e Mateus, primeiro e mais tarde Lucas, supostamente o mais bem escrito e que teria se informado com Maria e outros parentes de Jesus e, finalmente, João, para quem “No princípio era o verbo”; Temos ainda os evangelhos sinópticos, o livro de Atos dos Apóstolos que forma uma ponte entre o registro da vida de Jesus Cristo e os ensinamentos nos quatro evangelhos e os escritos e as obras de Seus apóstolos. E as vinte e duas Epístolas em sendo treze de Paulo e o Apocalipse de São João. Evangelhos Sinóticos, ou Evangelhos Sinópticos, são aqueles que narram a vida e ministério de Jesus Cristo sob o mesmo ponto de vista. Assim, os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são os chamados Evangelhos Sinóticos. Todos eles coerentes com a máxima da Boa Nova. Verdade, também, que o Novo Testamento foi o resultado do Concílio de Niceia – 325 DC, realizado sob a égide do Imperador Constantino, o qual conduziu à seleção dos textos ali subsistentes até hoje, estigmatizando os “apócrifos” que acabaram excluídos da tradição cristã e conduzindo à proliferação de seitas condenadas pela Igreja. 

De outra parte, o cisma da Reforma Religiosa no século XVI, seguido da expansão do cristianismo para o Novo Mundo, África e Ásia traria novas inspirações ao cristianismo. O neopentecostalismo norteamericano, por exemplo, revaloriza o Velho Testamento, fenômeno que se estende às confissões brasileiras que os combinou com práticas da matriz africana num peculiar modelo de valorização individualista. De resto, um rico sincretismo do cristianismo com outras tradições religiosas nos territórios ocupados pela colonização europeia irá nacarando sua matriz original, sem contudo desfalecer em sua mensagem humanística. 

Que o Natal ilumine, pois, nossas consciências no sentido da Boa Nova como amor ao próximo. Esta a principal mensagem da data. “Por isso uma força me leva a cantar” ...


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 22/XXII

 

A OPOSIÇÃO NO FUTURO GOVERNO. O DESTINO DO BOLSONARISMO, COM OU SEM BOLSONARO?

Lu Aiko Otta - A trincheira liberal-democrata

Valor Econômico - https://gilvanmelo.blogspot.com/.../lu-aiko-otta... 21/XII

Reforma tributária deverá ser ponto de embate

Eleito com 13,5 milhões de votos para comandar a maior economia do país, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) quer estabelecer em São Paulo uma trincheira do pensamento liberal-democrata. Com friso na palavra “democrata”.

Seu plano é projetar o Estado como um ator de peso no debate nacional, informou a esta coluna o coordenador da transição paulista, Guilherme Afif Domingos. Não será uma oposição pura e simples. Poderá haver convergência com o governo federal em alguns temas, como a atração de investimentos. Em outros, São Paulo deverá atuar como contraponto.

Não por acaso, é lá que estará o ministro da Economia, Paulo Guedes, a partir do dia 1º de janeiro. Atuará como conselheiro numa equipe formada por outros ex-integrantes de seu time no Ministério da Economia, como o próprio Afif e o futuro secretário de Fazenda, Samuel Kinoshita.

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RUMO AO BOLSONARISMO SEM BOLSONARO?

Le Monde Diplomatique BRASIL –oct 22

O primeiro turno das eleições de 2022 escancarou o óbvio: o Brasil é um país profundamente conservador. Esse conservadorismo tem tintas reacionárias bastante evidentes, pois o repúdio às chamadas “pautas progressistas” - como a equidade de gênero, o combate ao racismo e a preservação ambiental - é marcado por valores que não apenas pretendem conservar o que existe, mas também idealizam a volta a modelos de sociedade de períodos reconhecidamente violentos do passado nacional, como a ditadura militar e o Brasil Império.

O Brasil é, de fato, uma “geleia geral”, como cantaram os tropicalistas, país extremamente complexo com sua mescla de povos, crenças e éticas. Mas essa composição não corresponde à mestiçagem benévola descrita por Gilberto Freyre, tampouco gerou a sociedade inclusiva, acolhedora e harmônica que tantos e tantas esperavam. O Brasil de hoje é o retrato cru e cruel de suas assimetrias e conflitos e dos séculos de coexistência violenta entre diferenças. A utopia da brasilidade foi cantada pelo Modernismo, foi apropriada e retorcida pela ditadura do Estado Novo, atualizou-se na Tropicália, resplandeceu na obra e na práxis de Darcy Ribeiro e segue ainda hoje perceptível em belos vislumbres, como o esperançoso jingle de Lula.

No entanto, como se não houvesse poucos exemplos cotidianos da distopia brasileira, a última década tornou impossível continuar crendo no Brasil do “amor, do sorriso e da flor”. Recentemente, em provocativo ensaio, o professor emérito da USP Paulo Arantes refletiu sobre a convulsionada sociedade brasileira desde as manifestações de massa de 2013 até os dias atuais, elaborando uma análise nada mecânica sobre chamada “ascensão da ultradireita” no país. Para Arantes, ela não resultou da mera incapacidade das instituições políticas de capar os anseios e insatisfações populares, tampouco da inabilidade das forças progressistas em capitalizar sobre tais insatisfações. Para o filósofo, foi precisamente o “manifestante ordeiro” saído de 2013 – e não o “baderneiro black bloc” - que assumiu a vanguarda de uma sublevação poderosa: aquela protagonizada pelo “cidadão de bem”, figura que, com coreografia ensaiada, camisa amarela, bandeira do Brasil e fetiche pelo militarismo, apropriou-se das ruas do país pedindo o impeachment de Dilma Rousseff, urrando pela punição aos corruptos da Lava Jato e, por fim, louvando deu “mito”.

O cidadão de bem” defende uma “ordem” que, necessariamente, não o beneficia materialmente. É um indignado e um sublevado contra o “globalismo” e as supostas conspirações globais que ameaçariam os valores que professa ou que assume para si. Apesar disso, não passa de um mímico do modus vivendi das elites, para as quais olha com louvor. Por isso, o bolsonarismo apresenta tamanha capacidade de mobilização, convocando adeptos em todos os segmentos sociais e articulando signos “rebeldes” numa luta contra o “sistema”. Envoltos nas cores nacionais, os bolsonaristas emergiram como revolucionários, aparente paradoxo próprio do fascismo, Paroxismo que foi bem explorado por Umberto Eco, em um breve e contundente ensaio recentemente publicado no Brasil.

Para o pensador italiano, o nazifascismo surgido na Europa do período entre guerras foi um (re)arranjo peculiar e inovador de caracteres ético-políticos historicamente constitutivos das sociedades em que despontou. Atualizando e impulsionado pelos meios materiais de seu tempo e moldado pelo choque entre forças político-ideológicas de então, o nazifascismo produziu uma alternativa a um mundo visto como “decadente”. A utopia fascista foi um projeto escatológico e revolucionário baseado, paradoxalmente, no reacionarismo mais fanático. Quem disse que “revolucionário” se aplica apenas aos movimentos de esquerda?

Para eles, o “novo mundo” sairia como fênix renascida dos escombros de uma ordem moribunda a ser destruída a ferro, fogo e genocídio. Umberto Eco chamou de “fascismo eterno” esse complexo de valores e atitudes políticas que deram forma aos regimes de Mussolini e Hitler, mas que não se limitaram a eles. O “fascismo eterno” de Eco é uma espécie de tipo ideal a nomear o pensar, o sentir e o agir dessa categoria de “rebeldes revolucionários”; uma ética e uma política que caminham, se camuflam, se rearranjam e reaparecem quando as condições políticas, econômicas e subjetivas assim o permitem.

No Brasil, o composto tenebroso formado pela combinação de patriarcalismo, moralismo nos costumes, desprezo pela vida das classes trabalhadoras, racismo e religião praticada como obscurantismo recebeu variadas designações ao longo da história, como “integralismo” e “anticomunismo”. Agora, atende por “bolsonarismo”, encontrando no ex-capitão seu “duce” ou sem “Führer”, porque, afinal, cada povo tem o caudillo que merece.

Os resultados do primeiro turno das eleições, para desânimo de muitos do progressismo nacional, evidenciaram o que agora parece tão óbvio: o bolsonarismo pode e deverá continuar após Jair Bolsonaro. E isso é possível justamente porque o bolsonarismo é a versão atual-neoliberal e necropolítica-do “fascismo eterno” brasileiro, mácula constitutiva de nossa sociedade.

Representante de uma “ralé” que aparelhou o Estado, Bolsonaro e os seus não são apreciados pelas oligarquias e pelas elites tradicionais brasileiras. A parte mais estridente do PIB que o apoia é formada por donos de redes de restaurantes e de academias de ginástica, além de agroempresários e comerciantes que enriqueceram com suas megastores. São cafonas, grosseiros e fazem – assim como o “mito” - “o Brasil passar vergonha internacional”. No entanto, as medidas liberalizantes que o governo Bolsonaro fez aprovar, com o apoio garantido no Congresso pelo toma-lá-dá-cá que agora se chama “orçamento secreto”, agradaram também ao grande e refinado capital. Porém, para o capital chic, o ideal seria uma “terceira via”, uma “direita civilizada”. Todavia, não foi ainda em 2022 que ela apareceu. Seus esboços, no entanto, estão despontando, com Simone Tebet em destaque.

Não foi apenas o grande capital – e o capital marrom – que apreciou o governo bolsonarista. A classe média empobrecida e amplos setores das classes populares também se viram representadas por Bolsonaro. Do contrário, como entender que mais de 51 milhões de brasileiros tenham votado nele no dia 2 de outubro – contra os mais de 57 milhões de Lula – depois da catástrofe sanitária da pandemia de Covid-19, da destruição desbragada da Amazônia, da falta cotidiana de respeito à liturgia do cargo, do colapso econômico?

Como interpretar que em dois dos principais colégios eleitorais do país - São Paulo e Rio de Janeiro – Bolsonaro terminou na frente (como em 2018)? Como entender que bolsonaristas como a ministra que atentou contra os direitos humanos, o ministro/ex-juiz que julgou com parcialidade, o ministro que geriu a destruição ambiental, o ministro que gerenciou o desmonte da ciência e da tecnologia, o general vice-presidente e o ministro que (des)governou a resposta à pandemia tenham sido eleitos para o Senado e para a Câmara Federal com votações expressivas? Como compreender, entre outras coisas, que o governador do Rio de Janeiro, com o currículo de chacinas policiais, vínculos milicianos e apoio explícito de Bolsonaro, tenha vencido o candidato do progressismo moderado já no primeiro turno?

A explicação, como o Brasil, não é simples nem unilateral. Afinal de contas, valores morais e posições políticas não são dados, mais construções que se dão no incessante conflito entre interesses e visões de mundo que acontece na vida social. Sendo assim, é difícil analisar o Brasil de hoje sem se lembrar dos ensinamentos de Antônio Gramsci, ele mesmo uma pessoa assombrada pela experiência de ser um socialista vivendo numa Itália, a os anos 1920 e 1930, que produzia e abraçava Mussolini e o fascismo.

Gramsci teve a plasticidade analítica para compreender que a classe social e as condições materiais objetivas eram fundamentais, mas não determinantes, para moldar uma visão de mundo. Por isso, ser um trabalhador assalariado, vivendo em condições adversas e sob a exploração do empregador não garantiria, por si só, o florescer de uma consciência revolucionária. Tampouco era apenas pela força física que se manteria a sujeição do oprimido pelo opressor. Para Gramsci, o grupo social dirigente consegue sê-lo porque combina repressão violenta à oposição com o cultivo de identificações ideológica e axiológica (valores) com os grupos a serem dirigidos.

Ódio, medo e fascínio são paixões poderosas que se relacionam de modo complexo e dialético sobre o campo de batalha da subjetividade dos indivíduos. Corações e mentes são conquistados com vantagens materiais e com remunerações imateriais – por exemplo, o sentimento de pertencimento, a aprovação dos pares, a identificação com superiores hierárquicos, a reprodução (mesmo que empobrecida) de padrões culturais e de consumo das classes dominantes, a defesa da ideologia da classe dirigente etc. Enfim, o “pobre de direita” não é um idiota, prestígio e validação social, mesmo que suas opções político-ideológicas lhe tragam dificuldades materiais.

A utopia fascista foi um projeto escatológico e revolucionário baseado, paradoxalmente, no reacionarismo mais fanático

Ser “cidadão do bem”, portanto, é um elemento poderoso de inserção social numa sociedade de exclusão como a brasileira. A indignação contra os efeitos negativos do sistema de produção e de distribuição capitalistas é, então, redirecionada contra outras vítimas, e não contra os verdadeiros algozes. O mendigo, o morador de rua, o pobre, o favelado, o migrante, o refugiado, o negro, as trans são os responsabilizados pela penúria individual e geral. Assim, o “cidadão de bem” não culpa o neoliberalismo por seu endividamento e subemprego, mas as leis de cotas, os direitos de minorias, os direitos reprodutivos, o “politicamente correto”, ou tudo isso reunido sob o nome de “comunismo”.

A emergência desse fenômeno não é exclusividade brasileira, como sabemos. De Donald Trump, nos Estados Unidos, e Viktor Orban, na Hungria, até a recente vitória de Giorgia Meloni, na Itália, repúdio, medo e interesses materiais constroem grandes coalizões políticas e ideológicas que reúnem pessoas de todas as classes sociais. Trata-se de uma argamassa material e subjetiva poderosa. Então, conceitos frágeis, argumentos incoerentes e ideias estapafúrdias são suficientes para que os intelectuais orgânicos desses movimentos deem uma forma aparentemente culta e informada a velhos preconceitos e posturas ético-políticas que já fazem parte há muito tempo do repertório formativo do ultradireitista contemporâneo. Na atual sociedade dos fluxos de informação, esses intelectuais são blogueiros, âncoras de TV, podcasters, instagramers, tuiteiros, tiktokers, gurus de WhatsApp e “filósofos” charlatões.

As urnas levaram Jair Bolsonaro para o segundo turno, e os cálculos das empresas de pesquisa eleitoral – apesar do desprestígio com que saíram do primeiro turno – indicaram a vitória de Lula. Todavia, as mesmas urnas revelaram a composição de um Senado ultraconservador, no qual o Partido Liberal de Bolsonaro garantiu a maior bancada (treze senadores, contra nove do Partido dos Trabalhadores). Uma olhada sobre os demais partidos presentes no Senado confirmará o maior peso dos partidos agrupados em torno do bolsonarismo.

Dessa forma, o bolsonarismo continuará entranhado no Legislativo federal, assim como estará bem representado nas assembleias e governos estaduais e distrital. Isso sem mencionar sua presença entre as polícias e as Forças Armadas. O “mito” em si pode ser defenestrado sem que o bolsonarismo seja desmobilizado. Isso acontecerá não apenas pela presença de bolsonaristas e aliados em governos, tribunais e parlamentos, mas porque os valores e visões de mundo partilhados e praticados por esse campo ideológico repercutem o “fascismo eterno” que está nas estruturas da sociedade brasileira. O bolsonarismo sem Bolsonaro é uma viabilidade histórica que desponta no horizonte.

Então, só nos resta o pessimismo ou o aeroporto? Voltemos a Gramsci: sucumbir à imobilidade e à desesperança é desrespeitar o princípio de que as pessoas e os povos podem intervir sobre seu destino e que não existe nada predeterminado ou inevitável na vida político-social humana. Gramsci, preso por Mussolini em 1926, nos deixou reflexões em seus “cadernos”, escritos quando, no cárcere, a escuridão à sua volta era total. Ele faleceu em 1937, sem jamais ter voltado à liberdade e ainda ao som histriônico do Duce falastrão. Nem por isso deixou pensar alternativas para a construção de maiores e melhores espaços de liberdade em meio aos tempos difíceis.

Diante dos representantes da ultradireita eleitos em 2022, erguem-se também pastores progressistas, policiais antifascistas, mulheres e homens periféricos, negros e negras, mulheres indígenas, o povo LGBTQIA+, mulheres trans e travestis eleitos e eleitas com novas pautas e muita coragem. Novos e novas líderes despontam, e uma profusão de jovens desperta para política. O resultado do jogo político não está dado e, pelo menos enquanto a Amazônia não tiver sido irremediavelmente destruída, as correlações de força estarão ativas e as chamas da liberdade seguirão atiçadas nesta geleia geral chamada Brasil.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 21/XII-22

A LAVA JATO – 

Transcrevo, pela importância histórica, o Editorial O ESTADO SÃO PAULO de ontem – DIA20/XII , sobre as ilusões e realidade da Lavajato:

“Discurso e realidade da Lava Jato - O Estado de S. Paulo.

Além de escancarar a precariedade dos métodos da Lava Jato, a revogação da prisão de Sérgio Cabral lembra que, na República, o caminho é a lei, e não extravagâncias messiânicas

Durante muito tempo, a Lava Jato foi apresentada como uma robusta e implacável operação policial contra grandes esquemas de corrupção operados por políticos e empresários. O discurso tinha ares encantadores. Depois de várias operações anteriores frustradas, finalmente Polícia Federal, Ministério Público Federal e Poder Judiciário tinham aprendido a lição e estavam agora fazendo um trabalho investigativo da forma mais séria e rigorosa possível. Não havia como dar errado.

Nos últimos anos, a divergência desse discurso com a realidade foi exposta diversas vezes, a começar pela interpretação amplíssima que a 13.ª Vara Federal de Curitiba deu a respeito de sua própria competência, o que acarretou várias nulidades. Mais recentemente, a utilização da Lava Jato para fins político-partidários pelo ex-procurador Deltan Dallagnol e pelo exjuiz Sérgio Moro – que se valeu de sua atuação no caso até para eleger a mulher como deputada federal por São Paulo – evidenciou uma nuvem pouco republicana sobre a famosa operação. “A contradição é notória”, dissemos neste espaço sobre o uso eleitoreiro da Lava Jato (E o lavajatismo chegou lá, 10/10/2022). “Uma operação estatal cujo objetivo era apurar diferentes modalidades de desvio de recursos públicos para fins particulares – pessoais ou partidários – tornou-se ela mesma instrumento para promover objetivos particulares: a eleição de ex-funcionários públicos e seus parentes.”

Agora, mais uma camada da realidade da Lava Jato foi exposta. No dia 16 de dezembro, na conclusão do julgamento pela 2.ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de um habeas corpus impetrado em favor de Sérgio Cabral, o País se deu conta de que o ex-governador do Rio de Janeiro estava preso simplesmente em razão de uma ordem de prisão preventiva decretada pela 13.ª Vara Federal de Curitiba em novembro de 2016 por fatos ocorridos em 2008 e 2009. Ora, uma prisão nesses moldes é ilegal.

A prisão preventiva tem finalidades e requisitos precisos. Como estabeleceu o Congresso na legislação processual, essa medida restritiva não pode ser utilizada como “antecipação de cumprimento de pena”, tampouco é “decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia”. Ao decretar uma prisão preventiva, a decisão judicial “deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada”. Fatos ocorridos há mais de 10 anos não servem para justificar uma prisão preventiva. Por isso, ao revogar a prisão de Sérgio Cabral, a 2.ª Turma do STF agiu corretamente. Fechar os olhos à ilegalidade de uma prisão preventiva que vinha se prolongando indefinidamente no tempo seria descumprir, de forma contundente, a Constituição.

No julgamento do habeas corpus, os ministros do Supremo salientaram que não estavam avaliando “o mérito das denúncias” contra Sérgio Cabral nem era um “juízo de valor sobre a gravidade dos fatos supostamente praticados pelo acusado”. O tema era outro. Tratava-se tão somente de verificar a legalidade de uma prisão preventiva que durava mais de seis anos. A Lava Jato não passou no teste.

A revogação da prisão do ex-governador do Rio de Janeiro é muito simbólica. Até mesmo aquele que era apontado como o único político atualmente preso pela Lava Jato estava na prisão em função de uma ordem inequivocamente ilegal. Ou seja, a alegada robustez da operação era, na realidade, uma tremenda precariedade, rigorosamente incapaz de produzir a consequência tão prometida à população: a devida responsabilização dos culpados pelos escândalos revelados.

A cada novo capítulo da história da Lava Jato, a lição republicana torna-se mais cristalina. É uma grande enganação achar que se defende a lei, que se combate a criminalidade ou que se reduz a impunidade com órgãos públicos atuando fora da lei. Não serve rigorosamente para nada. O caminho é a lei, e não as extravagâncias messiânicas de quem se considera acima do Estado.”


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 20/XX


O FIM DO ORÇAMENTO SECRETO ABALA O PODER DE LIRA


Analistas discutem na CNN sobre decisão do STF de tirar o B.Família do Teto de Gastos               -https://www.google.com/search?q=CNN+BRASIL+DISCUTE+DECIS%C3%83O+DO+SUPREMO+SOBRE+BOLSA+FAMILIA+-+Lenio+Streck&oq=CNN+BRASIL+DISCUTE+DECIS%C3%83O+DO+SUPREMO+SOBRE

+BOLSA+FAMILIA+-+Lenio+Streck&aqs=chrome..69i57.32725j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8#fpstate=ive&vld=cid:63ac73c7,vid:ur2iB7GqI5s
Decisão de Gilmar Mendes sobre renda mínima: o que se sabe e o que falta esclarecer. Ministro do STF decidiu que recursos para pagamento de benefícios estão fora do teto de gastos. g1 elaborou perguntas e respostas sobre o tema; veja.
Jornal GloboNews - 'Decisão do Supremo é uma vitória da opinião pública', diz Gabeira sobre derrubada do orçamento secreto. Orçamento secreto: Fernando Gabeira analisa que a derrubada encerra um desequilíbrio nas relações entre o Congresso e o executivo
STF declara 'orçamento secreto' inconstitucional. 'Orçamento secreto' é como ficaram conhecidas as emendas parlamentares de relator, cujos critérios de distribuição e transparência foram questionados no STF.
O Supremo Tribunal Federal, em decisão plenária, com resultado de 6 X 5 votos, enterrou, ontem o Orçamento Secreto. Dias antes, em decisão monocrática, o Ministro Gilmar Mendes já havia tomado uma decisão inédita ao deixar o Bolsa Família fora do Teto de Gastos instituído a pedido do Presidente Temer pela PEC da Fome, 95/2016. Duas decisões que reiteram, para preocupação de muitos, o protagonismo político do Judiciário na atual quadra da vida pública brasileira. Outros, porém, consideram que esta quadra, iniciada pelo controvertido impeachment de Dilma Roussef, acompanhado pela decisão de Lavajato de excluir Lula do pleito de 2018, com a posterior eleição de Bolsonaro, criou uma situação política extraordinária no Brasil, à qual teria conferido ao Supremo Tribunal Federal um papel de Poder Moderador excepcional como contrapeso às investidas autoritárias dos Poderes Executivo e Legislativo. As do Executivo foram explícitas nos vários embates entre o Presidente da República e o Judiciário, culminando na condenação às urnas eletrônicas e no não reconhecimento da vitória de Lula em outubro passado, fora as ameaças de continuísmo de Bolsonaro ao dizer que “só Deus o retiraria do cargo”. As investidas autoritárias do Legislativo foram mais sibilinas e acompanhadas de momentos de inflexão democrática como na negação para o retorno do voto impresso, mas recobertas de vantagens corporativas aos membros do Congresso Nacional, dentre elas a adoção do famigerado Orçamento Secreto alimentado com “Emendas de Relator” que acabaram pressionando despesas ordinárias para saúde, educação e social para gerar recursos para esparsas e dirigidas emendas anônimas. O instituto das emendas parlamentares é lícito e usado há muitos anos, através de emendas dos deputados e senadores ao Projeto de Lei Orçamentária, podendo assumir a forma de emendas individuais deles e dos Líderes de Bancadas nas respectivas casas. O Orçamento Secreto, porém, criou as ditas Emendas do Relator do Orçamento, aí incluídas a pedido não registrado. Instado o Presidente da CÂMARA, por solicitação do Supremo, a dizer em nome de quem tais emendas eram acrescentadas ao Orçamento, respondeu, simplesmente, que não havia tais registros. Uma verdadeira calamidade. O problema destas Emendas é que não só não se enquadram nas estratégias prioritárias de investimentos e gastos do Plano Nacional de Desenvolvimento, sob a égide do Poder Executivo, como acabaram crescendo em valor que ultrapassam o orçamento de alguns Ministérios. Matéria divulgada ainda ontem pela imprensa dá conta que só cada um dos Presidentes das casas do Congresso dispõe de R$ 1,4 bilhão como emenda, valor superior ao orçamento de 14 Ministérios. Ora, isso não era apenas uma farra, mas uma verdadeira dispersão de recursos à disposição dos detentores de mandato, favorecidos, naturalmente, pelo papel que cumprem no regime de coalização presidencial fortemente controlado pelos Presidentes daquelas casas. Artur Lira, Presidente da CÂMARA chama “isso” de municipalização do Orçamento Federal, sob o slogan de menos Brasília, mais Brasil. Truísmo que esconde, na verdade, um Poder exacerbado não só do CONGRESSO como instituição mas de seus dirigentes e membros frente ao que deve presidir o princípio da representatividade que o consagra: Equidade. Os detentores de mandato, senhores de parte significativa do orçamento público, acabando se eternizando em reeleições graças aos fartos recursos públicos com que irrigam suas trajetórias políticas. Pois bem, ontem o SUPREMO, parece que deu fim á farra. Haverá tensões e reclamações, sobretudo quanto ao protagonismo moderador do Judiciário mas é sempre bom lembrar que tempos extraordinários exigem medidas extraordinárias. Obrou bem o Supremo. 


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 19/XIX
Vai-se o mal. E a maldade, como fica?


Depois do caminhão de mudança no Alvorada, Palácio do Planalto recebe mutirão de limpeza antes da posse de Lula - Posse será no domingo (1º). Pisos foram lavados e rampa recebeu tinta nova.
Á medida que os dias voam e se aproxima o dia da posse de Lula na Presidência da República, acumulam-se análises sobre o futuro do “bolsonarismo” na vida pública do país. Sua maior referência, Bolsonaro, sai do primeiro plano da cena, visivelmente abatido pela derrota que jamais imaginou. Sempre dizia que só Deus o tiraria do cargo e demonizava as urnas eletrônicas como diabólica conspiração. Nada funcionou. Perdeu em votos e não obteve apoio suficiente do “seu” Exército para um autogolpe. Mas o bolsonarismo ultrapassou seu criador e se transformou num inédito movimento de massas, cuja dinâmica e destino desafia os analistas. Para onde irá? Muitas variáveis conformarão este processo: O comportamento do próprio Bolsonaro, a resposta do Governo Lula ao Movimento, as divisões com disputas internas neste Movimento.
Antes de mais nada é importante se observar que aquilo que denominamos como “bolsonarismo” é parte de uma reação internacional às transformações estruturais da economia ocidental no último meio século. O Pacto Social Democrata que se seguiu ao final da II Guerra Mundial, propiciando progresso econômico com garantias sociais à base da redistribuição dos aumentos de produtividade entre o Capital e o Trabalho, com forte mediação do Estado esgotou-se. A economia ocidental financeirizou-se ao mesmo tempo em que deu saltos tecnológicos inusitados com a revolução eletrônica gerando perdas de emprego, renda e segurança para amplas camadas de trabalhadores. O exemplo de Detroit, nos Estados Unidos, antigo centro da produção automobilística, é apenas um exemplo de outros casos que se repetem na Europa e América Latina. Isto foi acentuado pelo deslocamento em larga escala de plantas industriais para países com salários mais baixos e menores rigores legais à produção, sobretudo para a China, convertida depois de 1980 em Fábrica do Mundo. Ao mesmo tempo, outros países do Terceiro Mundo, excluídos desta nova divisão internacional do trabalho e acossados por dívidas externas avassaladoras, na Ásia, África e mesmo América Latina, acabam expulsando grandes contingentes migratórios em busca de oportunidades em centros mais desenvolvidos, gerando novas ondas de chovinismo nacionalista. No Brasil, a esse cenário somou-se uma explosão demográfica que dobrou o tamanho da população, superconcentrada e absolutamente desprotegida nos centros metropolitanos, entre 1970 e 2000, coincidindo com o período da redemocratização. O resultando, tanto no mundo ocidental quanto no Brasil foi a exposição de imensos contingentes populacionais, desligados da cultura política anterior suscetíveis a novos acenos quanto à sua efetiva integração à cidadania e mercado. Daí a emergência do aceno direto às massas de lideranças carismáticas, com farto recurso às novas mídias eletrônicas, hoje disponíveis a toda a população através dos celulares, para se insinuarem no sistema político capturando-o em seu benefício. Assim fez Trump, nos Estados Unidos, tanto quanto outros líderes europeus e o próprio Bolsonaro no Brasil.
Estudiosos situam nas manifestações de 2013 o nascimento do clamor anti-stablishment que desembocaria no bolsonarismo, soterrando a tradicional mediação conservadora de Partidos como MDB e PSDB. Bolsonaro teria tido a habilidade de juntar, numa geleia geral, em sua candidatura, em 2018, sob o impacto de um discurso autoritário, lideranças religiosas evangélicas contrariadas com a Agenda identitária da esquerda, lideranças militares saudosistas do regime de 64, sobressaltadas com a Comissão da Verdade no Governo Dilma, liberais sequiosos pela liberação de recursos públicos em seu benefício e uma baixa classe média despolitizada, meio perdida diante das mudanças ao seu redor e alarmada pela Lava Jato.
“A utopia fascista foi um projeto escatológico e revolucionário (sim!) baseado, paradoxalmente, no reacionarismo mais fanático... O mendigo, o morador de rua, o pobre, o favelado, o migrante, o negro, os trans são os responsabilizados pela penúria individual e geral...Assim, o “cidadão de bem” não culpa o neoliberalismo (com a financeirização que o leva à ficha suja) por seu endividamento e subemprego, mas as leis de cotas, os direitos de minoria, os direitos reprodutivos, o “politicamente correto”, ou tudo isso reunido sob o nome de “comunismo”.
(Thiago Rodrigues in Rumo ao Bolsonarismo sem Bolsonaro-Monde Diplomatique – out 2022)
Este amplo movimento, curiosamente, consolidou-se na gestão de Bolsonaro e chega às urnas com 58 milhões de votos, a despeito do descalabro administrativo de sua gestão, cujo mais odioso indicador foram 700 mil mortes por COVID, numa relação de 11% dos óbitos pela doença no mundo quando detemos apenas 2% da população mundial.
Há evidências, agora, de que o Movimento venha a se redividir, principalmente depois da persistência de grupos pendurados em quartéis reivindicando INTERVENÇÃO militar, federal e até sideral, e da eclosão de grupos terroristas articulados em conspiração nacional. Nada, porém, é certo. Tudo dependerá de como se comportarão os agentes políticos depois do dia primeiro de janeiro, principalmente Bolsonaro e Lula e seu Governo.
A Nação espreita ansiosa pela retomada de um mínimo de paz e retorno à normalidade. Eis dois prognósticos:
A retirada do apoio de massas ao extremismo supõe um sistema partidário articulado que exclua a lógica binária entre esquerda e (extrema) direita, amigos e inimigos, uma lógica que imobiliza a imaginação e não faz jus à complexidade do País, para não dizer que literalmente impede qualquer hipótese mudancista. É certo dizer que aquele sistema não existe e, portanto, seguimos privados de uma das mais eficientes barreiras de contenção do extremismo. Não menos certo, porém, é que muita coisa agora depende de palavras e ações da esquerda no poder, da sua capacidade de lançar pontes e fazer alianças, diminuindo as razões, ou desrazões, que levaram tantos a escolher a regressão e, em alguns poucos casos, até a violência política.
Luiz Sérgio Henriques* - O reacionarismo de massas em questão
https://gilvanmelo.blogspot.com/.../luiz-sergio-henriques...
Os manifestantes mobilizados nos quartéis estão agora visivelmente isolados. Isso não tem apenas impacto no seu moral baixo, mas também fere de morte a capacidade do bolsonarismo de sustentar um discurso populista do tipo “o povo contra as elites”. Isso não significa que o bolsonarismo morrerá, mas mostra que será obrigado a se reinventar, não apenas como oposição, mas também com a amarga suspeita de ser uma minoria
Pablo Ortellado - Bolsonaristas perderam ilusão de falar pelo povo
https://gilvanmelo.blogspot.com/.../pablo-ortellado...
Sábado, 17 de dezembro de 2022 


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 16/XII

O ETERNO RETORNO

Paulo Timm – Publ. A FOLHA, Torres RS = 16 dez 22

 

A delinquência bolsonarista em Brasília

https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/12/14/terror-do-inss-idoso-de-121-anos-e-reconhecido-na-rua-e-atende-pedidos-de-fotos-diz-neta.ghtml  

A inoperância caótica do Poder Executivo em Brasília é a maior notícia da temporada. Não obstante, quase não há reportagens a respeito

O noticiário só tem olhos e ouvidos para o futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin. 

Olhando para os jornais e para os telejornais, a gente até esquece que ainda existe um presidente da República lá, um tal que não se chama Lula. O estranho é que o sujeito sumiu, deu um perdido. Talvez devesse responder por abandono de emprego. Para complicar o quadro, jamais declarou que admite o resultado eleitoral. Em vez disso, emite sinais de soslaio para insuflar o pessoal que bloqueia rodovias e se ajoelha na frente de quartéis rogando por um golpe militar. Pois este mesmo cidadão ainda é o chefe de Estado e o chefe de governo deste país aqui.

...o atentado incendiário que explodiu nas avenidas brasilienses tem parte com o Palácio da Alvorada. O mandatário em questão não faz nada contra a violência política que se espalha. Age por omissão. É responsável porque se omite – no mínimo.

Eugênio Bucci * - O final e o depois = O Estado de S. Paulo

https://gilvanmelo.blogspot.com/.../eugenio-bucci-o-final... 

 

Meu amigo Pedro Pinho, Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, no Rio de Janeiro, um dos últimos defensores do nacionalismo como bandeira para o que denomina “Consenso de Brasília”, um Programa ideal para o Brasil entre os “Consenso” e “Dissensos” de Washington, estes últimos ainda dispersos por Pequim, Moscou, Iran e Cuba mas francamente antiamericanos, me lembrou o que segue: 

“Em 29 de março de 1549 Tomé de Sousa chegou a Salvador, atual capital do estado da Bahia. Trazia com ele o Regimento Régio de 17 de dezembro de 1548, com orientações precisas sobre a organização do poder público na Colônia: fazenda, justiça e defesa. Também se fazia acompanhar de aproximadamente 1000 homens (soldados, profissionais, funcionários públicos) e seis jesuítas, chefiados pelo Padre Manuel da Nóbrega. Duas lições deveriam os entrevistadores televisivos tirar do fato que vivenciavam, se tivessem um resquício patriótico, se interessassem em ampliar os horizontes intelectuais, e, fundamental para sua profissão, conhecessem a história do Brasil. Primeiro, que a organização estabelecida no Portugal quinhentista durou quase quatro séculos. Toda estrutura de governo que teve o Brasil, entre o 1º governador-geral e o Governo Provisório da Revolução de 1930, fundou-se no tripé: defesa, segurança e finanças.”

Curiosamente, o Presidente eleito e diplomado, Lula, também começou as indicações do seu terceiro governo por este mesmo tripé: Haddad para a Fazenda, Flávio Dino para a Justiça, a qual está afeta a Polícia Federal e José Múcio, um obscuro mas articulado ex deputado federal, conservador, para o Ministério da Defesa. Como dizia o Príncipe Salinas, personagem antológico de um filme do Diretor italiano Luchino Visconti – “O Leopardo” -, pilhado colocando suas fichas tanto na manutenção da Monarquia, quanto na República emergente em seu país no século XIX: “As coisas têm que mudar para ficar como estão...”. Ou, como prefere o dito popular: “É no andar da carroça que as abóboras se ajeitam”. Nada mais republicano...

As sociedades, conquanto não sejam orgânicas como os seres vivos, parece que também tendem à homeostase. Equilíbrio. A vitória de Lula não só surpreendeu muita gente, começando pelo seu adversário, o Presidente Bolsonaro, ainda meio catatônico em seu silêncio, como os levou à indignação militante. Saíram às ruas em manifestações, infestaram as Redes conclamando à revolta, obstruíram estradas e até se penduraram em paredes de quartéis rogando por “intervenção” militar, federal, até sideral. No dia 12 (dezembro/22) foram às vias de fato em Brasília, promovendo incêndios em veículos, atacando delegacia de polícia e tentando ocupar a sede da Polícia Federal. Foi o clímax da “resistência” ao resultado das urnas que, naquele mesmo dia, levava à diplomação Lula e seu vice Alkmin pelo Tribunal Superior Eleitoral. Dois dias depois começou-se a sentir o longo braço da Lei e da Ordem, tal como, aliás, havia advertido o Presidente deste Tribunal, Ministro Alexandre de Moraes, e já se anunciam prisões de bolsonaristas extremados em vários Estados: 81 mandatos cumpridos pela PF, resultando na apreensão de armas de grosso calibre e munições. Indícios de sedição armada. Paira, ainda, sobre o Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General Heleno, suspeita, resultado da denúncia feita à Imprensa por um policial de serviço no Palácio do Planalto, de estar envolvido na trama. Tudo isso, enfim, parece sugerir ao futuro Presidente muita cautela. E nada mais cauteloso do que trilhar neste terreno minado com a sabedoria centenária da velha fórmula do Poder: Defesa, Segurança, Finanças. Os jesuítas, enfim, parece não fazerem mais falta.

Cairá muita água neste verão. Os reservatórios voltarão a se encher. Os poetas continuarão a contar estrelas e a vida seguirá seu curso. Depois da tempestade, a bonança. O eterno retorno ao equilíbrio que, nas democracias republicanas, repousa sobre a Lei e as Instituições. “Duela a quién duela”.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 14/XII

A cara econômica do Lula III

Desde a proclamação da vitória de Lula para seu terceiro mandato democrático, os analistas de economia se voltam à indagação do que será sua Política Econômica. Nem precisava. Bastava verificar o que correspondia, no cenário eleitoral, um nome do Partido dos Trabalhadores, Lula, como herdeiro, no Brasil, da linha que, desde Getúlio Vargas, passando por JK, Jango, ele próprio entre 2003-2010 e Dilma Roussef para saber o que viria: desenvolvimentismo com base no tripé, defendido até pelos Presidentes militares até Ernesto Geisel: Estado, Iniciativa Privada Nacional e Capital Estrangeiro não especulativo. Ocorre que temos um cacoete de afirmar que, no Brasil há partidos demais e ideologia de menos. Muitos se atrevem a dizer que jamais tivemos Partidos Políticos. Ora, talvez haja até muitas siglas, mas desde 1930, há quase um século, nos debatemos com duas propostas antagônicas para o país: De um lado, o desenvolvimentismo ancorado, sim, no Estado como produtor das condições para a acomodação do capital, seja no campo produtivo, seja no campo das relações de trabalho, de outro, o “mercadismo”, defensor da ideia de a naturalizada mão invisível das forças do mercado resolvem tudo, esta identificada nas últimas décadas como “neoliberal”. No fundo, desenvolvimentistas e neoliberais constituem, mais do que esquerda x direita, o cerne do debate ideológico contemporâneo no Brasil, embora se possa atribuir aos desenvolvimentistas o caráter de “esquerda”, não porque propugnem o socialismo ou o comunismo, mas porque assumem, historicamente o papel de promover a modernização econômica do país com eixo na indústria tendo como força motriz o mercado interno. Ora, Lula segue, com as inevitáveis adaptações históricas e conjunturais, a cartilha. Opta por um Ministério e auxiliares na área econômica comprometidos com essa ideia básica agora centrada no par reindustrialização, visto que o setor vem declinando progressivamente nos últimos anos na sua participação no PIB, e fortalecimento da capacidade de consumo das famílias, daí os nomes de Haddad para a Fazenda e Mercadante para o BNDES. Passo preliminar para isso serão: 1. Pagamento do Bolsa Família a cerca de 20 milhões de brasileiros; 2. Reabilitação do crédito de mais de 60 milhões empenhados no SERASA; 3. Fortalecimento do BBRASIL e CEF como instrumentos de acesso de pequenos e médios empresários e consumidores ao crédito. Então se perguntam os analistas e comentadores de economia habituados com a catilinária do déficit público: - “E o Teto de Gastos? E as Contas Públicas? E a Dívida?”. A todas elas a resposta é: Obediência ao senso de responsabilidade fiscal do Governo, aliás, determinado em última instância pela Lei de Responsabilidade Fiscal da época de FHC. Não haverá mais, portanto, o delírio das privatizações como mecanismo de redução do Estado, de resto, salvo pequenas distorções absolutamente dentro dos parâmetros internacionais. Até porque todas as privatizações realizadas até agora não trouxeram nenhum alívio à dívida pública. As palavras de ordem, daqui por diante, serão crescimento econômico com distribuição de renda, emprego e fortalecimento da capacidade do Brasil como player internacional, seja na economia, pelo papel que já cumpre na produção de grãos e proteína, além da produção de energia, seja no cenário geopolítico, onde deverá se voltar às relações sul-sul, com destaque para melhor integração da América Latina. 

E para não dizer que isso tudo é discurso ideológico da esquerda, basta ler e ouvir, hoje, o que diz uma insuspeita economista de formação liberal mas atenta ao que vai pelo mundo e às exigências contemporâneas da economia brasileira. Vejam:

‘Reação do mercado é ideológica', diz Monica de Bolle sobre alta do dólar após fala de Lula

'Quando teve a PEC Kamikaze, que foi a maior licença para gastar, o mercado nem se mexeu. Com o Orçamento secreto, não fez quase nada', critica professora da Universidade Johns Hopkins - Por Vitor da Costa — Rio

11/11/2022 04h30 https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2022/11/reacao-do-mercado-e-ideologica-nem-se-mexeu-com-orcamento-secreto-diz-monica-de-bolle.ghtm l 

Economista Monica de Bolle Alicia Vera / Bloomberg

A economista e professora da Universidade Johns Hopkins, Monica de Bolle, criticou a reação do mercado às declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que o sobe-e-desce do dólar e da Bolsa não quer dizer nada. Em uma rede social, ela disse esperar que ele não atrapalhe a transição.

• Análise: 'Apontar incompatibilidade entre social e fiscal é um erro brutal. E Lula é a prova', diz Sardenberg

Como vê as declarações do mercado em relação às falas do presidente eleito?

O mercado está sempre com posições compradas e faz esses movimentos de Bolsa e dólar para ganhar dinheiro. Esses movimentos não querem dizer nada. O que realmente importa é a discussão macroeconômica por vir. Os economistas do mercado têm uma visão míope e estão com ela há muito tempo. O pessoal está olhando o Brasil há bastante tempo com certa condescendência. 

Se ele tivesse alguma racionalidade, teria tido uma reação muito forte a todas as alterações feitas no atual governo no teto de gastos. Quando teve a PEC Kamikaze, que foi a coisa mais populista e gastadora, a maior licença para gastar, o mercado nem se mexeu. Foi uma cosquinha. Com o Orçamento secreto, não fez quase nada.

O teto de gastos já não existe há bastante tempo, basicamente desde que foi criado. Foi modificado em praticamente todos os anos do governo Bolsonaro. Quando você pega o conjunto de mudanças ocorridas, foi uma regra fiscal para jogar no lixo. A reação do mercado é ideológica.

O que deve ser feito com o teto?

O momento é de revogar e fazer um teto novo. Tem que ser algo que funcione e não pode ser feito às pressas.

Tem o pessoal do fetiche do teto e o pessoal que acha que não precisa de regra fiscal nenhuma. Discussão racional não é feita dessa maneira. O Brasil precisa de uma regra fiscal sim. A regra do teto é bem melhor do que uma regra de superávit primário. Isso é incontestável.

O que seria um bom teto?

Uma regra fiscal bem feita não pode ter um horizonte de curto prazo, como no Brasil. Geralmente são de dois a três anos. Uma boa regra tem de ter previsibilidade para se adequar a momentos ruins. O nosso regime de inflação tem flexibilidade. O mesmo tipo de coisa vale para uma regra de teto de gastos.

Um horizonte mais estendido, que é a boa prática internacional, funciona muito bem para isso. Você ter um horizonte de dois a três anos, por exemplo, em vez de cumprir algo anualmente.

E quando você trabalha em um horizonte mais longo, você consegue construir uma regra que aguente em momentos contra cíclicos.

Essas mudanças de desenho tornam o teto realista, permitem que você tenha um mecanismo de amortecimento quando você precisa. E permite que tenha uma regra com flexibilidade suficiente para não ser alterada o tempo todo, o que afeta a credibilidade. Ninguém está falando aqui em licença para gastar.

Alguns economistas defendem que gastos do Bolsa Família fora do teto trazem impacto na inflação...

Isso demonstra total desconhecimento de como a economia funciona. O gasto social com as famílias mais pobres vai para o consumo. Inflação não é causada por um grupo de pessoas de baixa renda consumindo. Isso é uma espécie de economia simplória. Quando você permite e aumenta o gasto, como fizemos no Auxílio Emergencial, as pessoas consumiram e isso gerou crescimento.

• Salário mínimo: Entenda a proposta de Lula para o piso salarial

A economia brasileira não teve recessão como outras por causa do auxílio. Vimos inflação não em 2020, mas em 2021 pela gestão Bolsonaro, com o fim dos estoques reguladores por causa da inflação dos alimentos. O Brasil acabou com estoques reguladores em 2019 para agradar ao agronegócio. E, em 2021, quando veio o choque de preços, não tinha mecanismo para usar.

Só pegando esse exemplo, você ilustra todas as falácias desse argumento. Não são os mais pobres que geram a inflação. Eles movem a economia. Você está falando de pouquíssimo dinheiro para gerar inflação.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 13/XII

A fala de Lula em sua diplomação pelo TSE

A cerimônia, ontem, de diplomação de Lula e Alkmin, no salão nobre do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, foi breve e significativa pelos pronunciamentos dele e do Presidente do TSE, Ministro Alexandre de Moraes, que prometeu punir os extremistas que atacaram as urnas, o Judiciário e seus membros durante a campanha eleitoral. No discurso de 15 minutos, Lula foi mais agressivo em relação à atual gestão do que fora nos discursos de campanha. Disse que houve um projeto de destruição do país, citou a disseminação de fake news e defendeu as urnas eletrônicas. Cumprimentou o povo brasileiro pela opção democrática e destacou o que chamou de "coragem" do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Afirmou que há ataques à democracia em outros países e lembrou que o mundo todo acompanhou o processo eleitoral por aqui. Chorou ao lembrar que não tinha diploma universitário e, por isso, foi criticado em 2002. 

Veja íntegra do discurso de Lula que, pela importância histórica, aqui reproduzimos:

Em nome do meu partido, eu quero que vocês saibam que esse diploma que eu recebi não é um diploma do Lula presidente. É um diploma de uma parcela significativa do povo que reconquistou o direito de viver em democracia nesse país. Vocês ganharam esse diploma.

Em primeiro lugar, quero agradecer ao povo brasileiro, pela honra de presidir pela terceira vez o Brasil. Na minha primeira diplomação, em 2002, lembrei da ousadia do povo brasileiro em conceder – para alguém tantas vezes questionado por não ter diploma universitário – o diploma [se emociona].

Eu quero pedir desculpas a vocês pela emoção. Porque quem passou pelo que eu passei nesses últimos anos, estar aqui agora é a certeza que Deus existe, e de que o povo brasileiro é maior que qualquer pessoa que tentar o arbítrio neste país. Eu sei o quando custou, não apenas a mim, o quanto custou ao povo brasileiro essa espera para que a gente pudesse reconquistar a democracia nesse país.

Reafirmo hoje que farei todos os esforços para, juntamente com meu querido companheiro Geraldo Alckmin, cumprir o compromisso que assumi não apenas durante a campanha, mas ao longo de toda uma vida: fazer do Brasil um país mais desenvolvido e mais justo, com a garantia de dignidade e qualidade de vida para todos os brasileiros, sobretudo para as pessoas mais necessitadas.

Quero dizer que muito mais que a cerimônia de diplomação de um presidente eleito, esta é a celebração da verdadeira democracia.

Poucas vezes na história recente deste país a democracia esteve tão ameaçada. Poucas vezes na nossa história a vontade popular foi tão colocada à prova, e teve que vencer tantos obstáculos para enfim ser ouvida.

A democracia não nasce por geração espontânea. Ela precisa ser semeada, cultivada, cuidada com muito carinho por cada um, e a cada dia, para que a colheita seja generosa para todos.

Mas além de semeada, cultivada e cuidada com muito carinho, a democracia precisa ser todos os dias defendida daqueles que tentam, a qualquer custo, sujeitá-la a seus interesses financeiros e ambições de poder.

Felizmente, não faltou quem defendesse, neste momento tão grave, a nossa democracia.

Além da sabedoria do povo brasileiro, que escolheu o amor em vez do ódio, a verdade em vez da mentira e a democracia em vez do arbítrio, quero destacar a coragem do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que enfrentaram toda sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular.

Cumprimento cada ministro e cada ministra do STF e do TSE pela firmeza na defesa da democracia e da lisura do processo eleitoral nesses tempos tão difíceis.

A história há de reconhecer sua coerência e fidelidade à Constituição.

Essa não foi uma eleição entre candidatos de partidos políticos com programas distintos. Foi a disputa entre duas visões de mundo e de governo.

De um lado, o projeto de reconstrução do país, com ampla participação popular. De outro lado, um projeto de destruição do país ancorado no poder econômico e numa indústria de mentiras e calúnias jamais vista ao longo de nossa história.

Não foram poucas as tentativas de sufocar a voz do povo e a democracia.

Os inimigos da democracia lançaram dúvidas sobre as urnas eletrônicas, cuja confiabilidade é reconhecida há muito tempo em todo o mundo.

Ameaçaram as instituições. Criaram obstáculos de última hora para que eleitores fossem impedidos de chegar a seus locais de votação. Tentaram comprar o voto dos eleitores, com falsas promessas e dinheiro farto, desviado do orçamento público.

Intimidaram os mais vulneráveis com ameaças de suspensão de benefícios, e os trabalhadores com o risco de demissão sumária, caso contrariassem os interesses de seus empregadores.

Quando se esperava um debate político democrático, a nação foi envenenada com mentiras produzidas no submundo das redes sociais.

Eles semearam a mentira e o ódio, e o país colheu uma violência política que só se viu nas páginas mais tristes da nossa história.

E no entanto, a democracia venceu.

O resultado destas eleições não foi apenas a vitória de um candidato ou de um partido. Tive o privilégio de ser apoiado por uma frente de 12 partidos no primeiro turno, aos quais se somaram mais dois partidos no segundo turno.

Uma verdadeira frente ampla contra o autoritarismo, que hoje, na transição de governo, se amplia para outras legendas, e fortalece o protagonismo de trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais, cientistas e lideranças dos mais diversos e combativos movimentos populares deste país.

Tenho consciência de que essa frente se formou em torno de um firme compromisso: a defesa da democracia, que é a origem da minha luta e o destino desse país.

Nestas semanas em que o gabinete de transição vem escrutinando a realidade atual do país, tomamos conhecimento do deliberado processo de desmonte das políticas públicas e dos instrumentos de desenvolvimento, levado a cabo por um governo de destruição nacional.

Soma-se a este legado perverso, que recai principalmente sobre a população mais necessitada, o ataque sistemático às instituições democráticas.

Mas as ameaças à democracia que enfrentamos e ainda haveremos de enfrentar não são características exclusivas de nosso país.

A democracia enfrenta um imenso desafio ao redor do planeta, talvez maior do que no período da Segunda Guerra Mundial.

Na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, os inimigos da democracia se organizam e se movimentam. Usam e abusam dos mecanismos de manipulações e mentiras, disponibilizados por plataformas digitais que atuam de maneira gananciosa e absolutamente irresponsável.

A máquina de ataques à democracia não tem pátria nem fronteiras.

O combate, portanto, precisa se dar nas trincheiras da governança global, por meio de tecnologias avançadas e de uma legislação internacional mais dura e mais eficiente.

Que fique bem claro: jamais renunciaremos à defesa intransigente da liberdade de expressão, mas defenderemos até o fim o livre acesso à informação de qualidade, sem mentiras e sem manipulações que levam ao ódio e à violência política.

Nossa missão é fortalecer a democracia – entre nós, no Brasil, e em nossas relações multilaterais.

A importância do Brasil neste cenário global é inegável, e foi por esta razão que os olhos do mundo se voltaram para o nosso processo eleitoral.

Precisamos de instituições fortes e representativas. Precisamos de harmonia entre os Poderes, com um eficiente sistema de pesos e contrapesos que iniba qualquer aventura eleitoral ou autoritária.

Precisamos de coragem.

É necessário tirar uma lição deste período recente em nosso país e dos abusos cometidos no processo eleitoral. Para nunca mais esquecermos. Para que nunca mais isso aconteça.

Democracia, por definição, é o governo do povo, por meio da eleição de seus representantes. Mas precisamos ir além dos dicionários. O povo quer mais do que simplesmente eleger seus representantes, o povo quer participação ativa nas decisões de governo.

É preciso entender que democracia é muito mais do que o direito de se manifestar livremente contra a fome, o desemprego, a falta de saúde, educação, segurança, moradia. Democracia é ter alimentação de qualidade, é ter emprego, saúde, educação, segurança, moradia.

Quanto maior a participação popular, maior o entendimento da necessidade de defender a democracia daqueles que se valem dela como atalho para chegar ao poder e instaurar o autoritarismo.

A democracia só tem sentido, e será defendida pelo povo, na medida em que promover, de fato, a igualdade de direitos e oportunidades para todos e todas, independentemente de classe social, crença religiosa ou orientação sexual.

É com o compromisso de construir um verdadeiro Estado democrático, garantir a normalidade institucional e lutar contra todas as formas de injustiça, que recebo pela terceira vez o diploma de presidente eleito do Brasil – em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo brasileiro.

Muito obrigado.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 12/XII

Marrocos na COPA. A GN Internacional tratou, ontem, do Marrocos. Com muitas falhas. Eis o que devemos saber:

 

Conflitos históricos viram assunto nas redes após Marrocos eliminar Espanha e Portugal na Copa; entenda

Em uma analogia ao passado, internautas falaram em 'retomada' da Península Ibérica após país africano derrotar europeus no mata-mata do Mundial.

 

RASD – wikipedia –

https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_%C3%81rabe_Saaraui_Democr%C3%A1tica  

 

República Árabe Saharaui Democrática | Poder360

https://www.poder360.com.br .. 

 

O Saara Ocidental constituía uma colônia de Espanha 1884 a 1975

No final de seu Governo, Franco, para evitar que o país, sob o comando da FRENTE POLISÁRIO, fizesse sua independência entregou o SAARA ESPANHOL num controvertido acordo para Marrocos e Mauritânia. Os nacionalistas revidaram e levaram a guerra de descolonização adiante chegando, inclusive, ás portas da capital de Mauritânia, que desistiu de sua presença na região. O Marrocos, entretanto, apoiado pelo Ocidente, entenda-se Europa Ocidental e Estados Unidos manteve irregularmente suas pretensões contrariando a ONU. Travou-se uma guerra dura mas que permitiu a Declaração da Independência da República Árabe Saharaui Democrática RASD em 1976, respeitando os dois princípios do Direito Internacional: Autodeterminação e respeito à geografia herdada do período colonial, princípio conhecido como intangibilidade das fronteiras coloniais. Convidado, participei do seu décimo aniversário sob intensa pressão da guerra. Atualmente, acuados pelo MARROCOS os saharauis estão confinados numa faixa entre o Sahara e Argélia reunidos em imensos campos de regugiados de seus lares ocupados pelos Marroquinos. Uma característica: É o único país árabe governado quase exclusivamente por mulheres pois os homens estão permanentemente mobilizados para a guerra ou para funções diplomáticas no Exterior

Poder Judiciário foi usado como ponta de lança para intervenção dos EUA no Brasil, revela advogado

Publicado em 09/12/2022 (matéria retirada do boletim da AEPET / PETROBRÁS)


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 8 XII

A queda do Presidente do Peru

A queda de um Presidente latino-americano é sempre um fato lamentável e que compromete o encaminhamento da construção democrática no continente. Ontem foi a vez de Pedro Castillo, Presidente do Peru. Em seu lugar assumiu a Presidência sua Vice, Dina Boluarte, 1ª mulher a governar o Peru.

Como Dina chegou ao poder-g1

Dina Boluarte chegou ao poder depois que o Congresso aprovou o impeachment de Castillo. Ele foi destituído após uma tentativa de dissolver o Legislativo e decretar estado de exceção e toque de recolher no Peru. A reação no país fui rápida: a Suprema Corte chamou a decisão de golpe de Estado, assim como a polícia, as Forças Armadas e o Ministério Público. Após a aprovação do impeachment, os deputados convocaram Dina Boluarte para assumir a presidência no próprio Congresso. Os deputados aguardaram a chegada dela.

Saiba quem é Dina Ercilia Boluarte, a nova presidente do Peru

 Mais um capítulo trágico na história deste país Hermano vítima de três décadas de crise e um insano governo ditatorial, de Fujimore, hoje preso mas com influência política através de sua filha, ex candidata bem votada para a Presidência. 

Três décadas de crises g1: Relembre presidentes do Peru que caíram ou foram presos desde 1990 - Dos últimos 11 presidentes, 8 foram presos ou são investigados e 3 sofreram impeachment

 

 Autodefinido como de esquerda de inspiração marxista, Castillo é um controvertido professor provinciano que paralisou o país numa greve histórica da categoria, vindo, daí eleger-se Presidente por um Partido sem maiores raízes históricas. Jamais teve maioria no Congresso e mesmo no Governo passou por diversas crises internas. Diante de uma nova ameaça de impeachment pelo Congresso, Castillo precipitou-se em inusitado e injustificável voluntarismo e tentou um auto-golpe dissolvendo o Congresso unicameral. Não funcionou. Desconhecendo seu ato os deputados – lá não existe Senado – mantiveram-se reunidos e o depuseram. Seu próprio Partido não reconheceu o golpe, condenando sua atitude, no que foi seguido por vários Ministros que, sucessivamente foram renunciando a seus cargos. Castillo acabou preso e se desconhece seu destino. A verdade completa sobre a queda dele não esgota, porém, no seu desconcertante ato. Forças conservadoras do Peru vinham, desde sua eleição conspirando contra seu governo que, embora embaralhado por sua inexperiência político-administrativa, tinha sentido popular. Castillo tinha ideias progressistas no campo social mas era extremamente retrógrado nos costumes, condenando veementemente o que se denomina Agenda Identitária de defesa de minorias. Sua queda, como disse, é , apesar de tudo, e reconhecendo-se sua forte rejeição popular, superior a 80%, lamentável. Denúncias de corrupção que acompanharam o declínio de sua popularidade devem ser, sempre, tomadas com cautela. Este tem sido sempre um expediente dos conservadores para atacar lideranças progressistas. Foi assim aqui no Brasil, com a campanha do “Mar de Lama” no Governo Vargas, na década de 1950; foi assim com JK, a seguir, sempre identificado pela grande imprensa corporativa como a “Sétima maior fortuna do mundo”, fato desmascarado pelo jornalistas Sebastião Néry anos mais tarde; foi assim com Lula na “Lava Jato” e tudo indica que assim está sendo contra La Kirchner , agora, na Argentina. O tempo nos dirá melhor do processo peruano em curso. Veja-se como a Globo trata do assunto:

 

“Pedro Castillo: entenda por que presidente do Peru não conseguiu aplicar 'autogolpe' e acabou preso. Manobra para evitar impeachment estava 'condenada ao fracasso', avalia Ariel Palacios em entrevista a Natuza Nery. 

Pedro Castillo: entenda por que presidente do Peru não conseguiu aplicar 'autogolpe' e acabou preso

O presidente do Peru, Pedro Castillo, foi destituído do cargo e preso nesta quarta-feira (7), após tentar dissolver o Congresso, anunciando um "governo de transição" e toque de recolher.

A manobra foi uma resposta ao pedido de impeachment aberto, mas estava "condenado ao fracasso", avalia Ariel Palacios em entrevista a Natuza Nery.

 

O Parlamento ignorou a dissolução e se reuniu para aprovar o pedido de impeachment do presidente. Em um ano e meio no poder, Pedro Castillo já havia sofrido outros dois pedidos de impeachment.

A situação de Castillo, segundo Palácios, era de "total fraqueza política". Seu nome estava indiretamente ligado a uma "saraivada" de casos de corrupção envolvendo parentes da primeira-dama Lilia Paredes.

"Os ministros e secretários que não estavam envolvidos em casos de corrupção, estavam envolvidos em escândalos", relata Palácios, destacando o fato de que Castillo teve seis primeiros-ministros em apenas um ano e meio.

"[Castillo] só se segurava no poder devido a fragmentação da oposição. Com o autogolpe ele conseguiu unificar a oposição. Esse foi o grande erro de Castillo."

Ouça a entrevista completa no podcast O Assunto.: 

O Assunto g1 dia 8 de dezembro 22: Peru - o caos que derrubou Pedro Castillo”

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2022/12/08/o-assunto-851-peru-o-caos-que-derrubou-pedro-castillo.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 7 XII

ORÇAMENTO SECRETO COMO NOVO MENSALÃO – Econ. P.Timm

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O Bolsa Reeleição: Orçamento Secreto – O Assunto g1

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2022/09/21/o-assunto-798-para-entender-a-eleicao-no-congresso.ghtml 

CAFÉ DA MANHÃ PODCAST FOLHA UOL DIA 7 DEZEMBRO 22

https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2022/12/podcast-o-que-esta-em-jogo-no-julgamento-do-stf-sobre-as-emendas-de-relator.shtml 

Podcast: o que está em jogo no julgamento do STF sobre as emendas de relator. Decisão da corte pode impactar xadrez da relação entre governo eleito, Congresso e Judiciário

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O Assunto g1 dia 7 de dezembro 22 - Orçamento Secreto no STF – o julgamento- https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2022/12/07/o-assunto-850-orcamento-secreto-no-stf-o-julgamento.ghtml  

 

 

A presidente do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber pautou para esta quarta (7) o julgamento das ações que questionam a constitucionalidade do pagamento das emendas do relator. Para entender a importância da decisão, Natuza Nery conversa com Breno Pires, repórter da revista Piauí, um dos jornalistas que revelaram, no jornal O Estado de S.Paulo, a existência do esquema

Orçamento secreto: entenda o que está em jogo se medida for anulada pelo Supremo

STF começa a julgar ações que contestam medida, garantindo maior governabilidade na gestão do presidente eleito.

A transição do orçamento secreto | Carlos Andreazza | O Globo

oglobo.globo.com/opiniao/carlos-andreazza/coluna/2022/11/a-transicao-do-orcamento-secr…

O orçamento secreto, que comprou, na forma do pacotão de bondades, o financiamento à competitividade de Bolsonaro no esforço pela reeleição e que ora vende facilidades — em troca de permanecer — à aprovação de quantos bilhões extras o novo governo quiser.

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A economia de um país tem várias dimensões: a produção de bens e serviços, do lado privado, e o Estado, como guardião da Lei e promotor do desenvolvimento e da cidadania, por outro. Para muitos economistas, sobretudo ortodoxos radicais da direita e da esquerda, o Estado é uma âncora pesada que onera a economia privada. Para outros, porém, ele é indispensável não só à manutenção da Lei e da Ordem, mas para a formulação de Políticas Públicas do interesse da Sociedade. Para cumprir este papel o Estado cobra impostos, monta uma vigorosa máquina administrativa e prevê seus gastos na Lei do Orçamento, sempre com vistas à uma estratégia governamental, que pode ser da União Federal, dos Estados ou de cada Município. Em alguns países, mais desenvolvidos, nos quais a função do Estado de promoção do desenvolvimento e da cidadania é menor do que no Brasil, a dita carga estatal, expressa pela participação do Estado no PIB, medida da riqueza de uma nação, é menor do que aqui. Aliás, na época do Império, no Brasil, esta participação era na ordem de 2,5% do PIB, hoje chega a 33%, sendo o maior peso da União. Daí ser tão importante saber não só como os impostos são arrecadados, quem verdadeiramente os paga e qual o preço deste processo para os distintos segmentos de renda da população, como também para onde vai este dinheiro todo. Importa registrar, de passagem, que a principal fonte dos impostos no Brasil é o consumo e como são os assalariados que mais consomem, pois gastam tudo o que ganham para sobreviver, são eles que pagam a maior parte dos impostos. As empresas apenas recolhem estes impostos, ditos indiretos, mas quem paga é o consumidor. Os impostos diretos, dado que somos um país de grande disparidade de renda e considerado um dos mais injustos do mundo, contribuem menos para o erário público. Dividendos são isentos. Assim, formado o bolo tributário, o Estado é obrigado a prever suas despesas através de um instrumento que se chama Orçamento Público, aprovado por Lei em cada instância da federação – União, Estados e Municípios. Mas como este Orçamento é apreciado pelos respectivos legislativos, os parlamentares podem sugerir mudanças na proposta orçamentário oriundo do Poder Executivo respectivo de forma a ajustar, eventualmente, os objetivos deste Poder com interesses de seus eleitores. Este exercício, porém, tem levado à uma interferência cada vez maior do Parlamento na definição destes gastos. No Brasil, ultimamente, se fala até na municipalização do Orçamento Federal em consequência do volume de Emendas feitas por deputados federais e senadores na Lei Orçamentária. As emendas podem ser:

• individuais: cada parlamentar decide onde alocar o dinheiro;

• de bancada: emendas coletivas, elaboradas por deputados do mesmo estado ou região;

• de comissão: emendas coletivas de comissões permanentes da Câmara ou do Senado.

Uma nova modalidade, entretanto, adveio, desde 2019, com Emendas do Relator do Orçamento, a pedido, sem registro, de algum parlamentar. Nos sistemas do Congresso, não aparecem os nomes dos parlamentares que são beneficiados, somente o nome do relator. Daí a expressão orçamento secreto, sobre cuja constitucionalidade o Supremo Tribunal Federal hoje deve se pronunciar, pois os 

os critérios de distribuição desse dinheiro têm pouca transparência e dependem de negociação política, operando como verdadeiro mensalão em benefício de apoio ao Governo . Em 2021 e 2022, o Planalto destinou bilhões de reais para essas emendas de relator — o que foi interpretado como uma forma de fazer barganha política com o Legislativo. Para 2023 estão aí previstos R$ 19 bilhões, valor superior a de alguns Ministérios. Com isso, o Presidencialismo de coalização entre os Poderes Executivo e Legislativo criou, por uma lado, uma camisa de força para a execução de uma verdadeira Política Nacional de Desenvolvimento, orientada pelo Executivo, sua subjugação, na realização de objetivos políticos a interesses menores dos parlamentares. Imbroglio de difícil solução para o futuro Presidente Lula.


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 5.XII


A INFÂNCIA COMPROMETIDA


Transcrevo, abaixo, a matéria do Podcast g1 de hoje, produzido por Natuza Neri, sobre a questão da fome de crianças no Brasil. Leia antes os títulos que ilustram o texto:
O que você precisa saber:
• Merenda escolar: governo veta reajuste pelo 5º ano seguido
• 30%: famílias não conseguem comprar comida suficiente
• Desnutrição: 700 mil crianças com menos de 5 anos no Brasil
• 14 anos: desnutrição provoca a maior hospitalização de bebês
• Fome: atraso no desenvolvimento em cada etapa da vida
Nível de pobreza no Brasil bate recorde, segundo IBGE = Cerca de 62,5 milhões de pessoas estavam na linha da pobreza em 2021, equivalente a 29,4% da população do país. Desse montante, 17,9 milhões – ou 8,4% da população – estavam na extrema pobreza. Em ambos os casos, foram os maiores números e os maiores percentuais apurados desde o início da série, em 2012; O Banco Mundial adota como linha de pobreza os rendimentos per capita US$ 5,50 PPC, equivalentes a R$ 486 mensais per capita. Já a linha de extrema pobreza é de US$ 1,90 PPC, ou R$ 168 mensais per capita. https://red.org.br/noticia/nivel-de-pobreza-no-brasil-bate-recorde-segundo-ibge/

“Entre 2020 e 2022 dobrou o percentual de casas que não conseguem garantir alimentação básica para menores de até 10 anos. Hoje, 3 em cada 10 famílias brasileiras sofrem com a subalimentação infantil – uma crise social cujas consequências poderão ser vistas e sentidas daqui a décadas, diante de uma população com déficit de aprendizado e problemas crônicos de saúde. E os recursos federais para a merenda escolar, única refeição garantida de milhões de crianças e adolescentes, perdem valor de compra ano a ano desde 2017, data do último reajuste: o repasse por aluno, atualmente, varia entre R$ 0,36 e R$ 1,07. Para entender os impactos da falta de comida no desenvolvimento infantil e o lugar da escola na garantia de segurança alimentar, Natuza Nery conversa com a sanitarista Márcia Machado, professora da Universidade Federal do Ceará, e com a nutricionista Gabriele Carvalho, do Observatório da Alimentação Escolar e da Fian Brasil. Neste episódio:
• Márcia descreve como a fome compromete a interação social, o desenvolvimento cognitivo e afeta a incidência de violência dos jovens: “é um desastre como civilidade”;
• Ela fala dos riscos que envolvem uma dieta baseada em alimentos ultra processados. São produtos, afirma, que não têm “as qualidades nutricionais que as crianças precisam” e podem causar obesidade;
• Gabriele explica a importância do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) como garantia legal para que crianças, jovens e adultos estudantes acessem alimentação de qualidade – e também como forma de financiamento à agricultura familiar;
• A nutricionista explica por que o repasse anual de R$ 3,9 bilhões do governo federal para as escolas é insuficiente e reduz profundamente a qualidade da comida servida. ‘Para recompor as perdas, o valor do programa para 2023 deveria corresponder a R$ 7,9 bilhões’. “


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia22 dezembro
PERFIL DO LULA III
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O que espera do terceiro mandato de Lula?
Mangabeira Unger – Entrevista - https://www.estadao.com.br/politica/mangabeira-unger-nao-da-para-inferir-nada-nesse-teatro-da-transicao/
Espero uma inflexão do caminho. Que surja um novo projeto capaz de levar ao desenvolvimento brasileiro. Esse projeto precisa superar a mediocridade e o primarismo produtivo e educacional. Estamos escondidos atrás do escudo das nossas facilidades naturais em um modelo baseado no divórcio entre a inteligência e a natureza. Espero que Lula não repita o que fez antes no primeiro e segundo mandatos. E que ele abrace a causa produtivista.
J.L.Fiori – A volta de Lula - Entrevista
https://fpabramo.org.br/focusbrasil/2022/11/25/entrevista-jose-luis-fiori-a-volta-de-lula-e-um-alento-para-a-america-latina/
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A passagem do novembro para dezembro sempre traz, no Brasil, novos ares. É o Natal se anunciando, as compras retomando novo ritmo, famílias se reencontrando e, sobretudo, o verão chegando. Tempo de distensão. Sol, mar e muita cerveja gelada. O ano eleitoral, fortemente carregado por acirradas disputas, vai cedendo lugar à acomodação do terreno. Ainda há recalcitrantes à espera de um terceiro turno, mas, aos poucos vão caindo na real. O Presidente, derrotado, não tem nada mais a fazer senão entregar a faixa presidencial ao seu sucessor. Dia primeiro de janeiro próximo, Lula. Dia primeiro de janeiro de 2027, qualquer um de nós, vencedor em 2026, talvez até o próprio Bolsonaro, se souber capitalizar a seu favor, impondo-se aos novos astros de sua própria constelação. O Brasil do ano 2022 se impôs. Não é, enfim, nem o Brasil de 1889, nem o de 1964, sujeito a golpes de espada. Em 1977, a propósito, o General Presidente Ernesto Geisel, assim o dispôs ao depor seu Ministro da Guerra golpista e reafirmar o caminho da redemocratização. Aliás, o mundo também mudou. No final do século XIX esvaiam-se os últimos Impérios; em meados do século XX vivíamos a concorrência bélica entre duas potências nucleares; agora a geopolítica acompanha um mundo de competição e concorrência econômica, ainda que à sombra de uma “guerra híbrida”. Mudou o mundo. Mudamos nós. Uma densa sociedade civil organizada e instituições consagradas pela Lei trazem à tona novas exigências e protagonismos para a construção de nossos destinos. Os próprios militares, um pouco arredios aos compassos da Política, ora mais à esquerda, ora à direita, parecem compreender a importância de se recolherem aos quartéis. Já estão muito imbricados na nova trama que envolve a vida brasileira, longe dos tempos em que ficavam confinados à caserna. Fazem cursos no exterior, têm filhos engenheiros, filhas pesquisadoras, netos que convivem diariamente com o Brasil de todos. Sabem que não há espaço para aventuras.
A diplomação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está marcada para o dia 12 de dezembro. E a posse, acompanhada de muitos shows tomará conta de Brasília neste dia, inaugurando uma espécie de retomada do curso normal da vida política do país. Diante disse, todos se perguntam: - Como será o Lula III, o terceiro governo do Lula? Uma coisa é certa, não há reedições na História. Tudo flui. São outros tempos lá e cá. Aqui, a principal diferença quanto ao primeiro governo Lula é que, apesar da boa âncora cambial, formada, aliás, nos anos 2000, na ordem de US $ 350 bilhões aplicados em Títulos do Governo dos Estados Unidos, que inexistiam àquela época quando andávamos às votas com o FMI, a economia interna está mais desarranjada, com uma inflação alta, dívida pública do tamanho do PIB, altos níveis de informalidade no mercado de trabalho e 33 milhões de famintos. Esta âncora é uma espécie de Poupança que pode ser acionada, eventualmente, se a crise se agravar, como impulso a um Programa de Investimentos. A situação mais crítica, porém, com raras exceções, é interna à própria administração federal, um campo entregue a fiéis escudeiros da ideologia extremista de Bolsonaro, pouco afeito às lides burocráticas. Sempre preferiu o palanque eletrônico em busca da reeleição que acabou não conseguindo. Relatos da Equipe de Transição dão conta de verdadeiros descalabros nas áreas de cultura, educação, saúde, meio ambiente e tecnologia. Nesta semana os grupos temáticos desta Equipe entregaram ontem os primeiros relatórios de trabalho com sugestões para mudanças nas estruturas governamentais. Tudo começa pela PEC que deverá prover o Orçamento de 2023 dos recursos para o funcionamento do país nos marcos do novo Governo. E prosseguirá com recomposição de vários Ministérios, tanto na área econômica, como nas áreas sociais. Teremos, felizmente, de volta, o Ministério da Previdência onde uma fila de milhões aguarda decisões que afetam suas vidas. Mulheres, negros e indígenas, receberão, também, maiores cuidados. Eu estarei em Brasília no primeiro dia de governo pedindo mudanças no Estatuto do Idoso...
Na consecução deste novo perfil há um grande concurso da sociedade civil, praticamente alijada das decisões bolsonarianas, marcadas pelas preferências pessoais do Presidente: uso de armas, desincentivo à fiscalização pública, regras de trânsito etc. Os diversos Conselhos Nacionais congelados deverão voltar a funcionar, dentre eles o de Desenvolvimento Econômico. Mais de 80 entidades da sociedade civil, publicaram, aliás, uma carta intitulada A Democracia que Queremos, entregue à equipe de transição do novo governo eleito. Dentre as demandas estão o combate à violência contra mulheres, pessoas negras e LGBTQIA+ e o desarmamento de cidadãos. Outras 35 entidades que compõem a Articulação contra o Ultraconservadorismo na Educação lançaram uma carta com medidas emergenciais e propostas para a área educacional, destinada ao Coordenador do Núcleo de Educação da Equipe de Transição, Henrique Paim. A Confederação Nacional da Indústria está ultimando um documento exigindo a reindustrialização da economia, com base em investimentos em economia verde e alta tecnologia, apontando, talvez para a presença do Brasil na exploração espacial e mudança radical na indústria automobilista com vistas ao carro elétrico.
Agora, é esperar. Quem viver, verá. E votará novamente para Presidente em 2026. Estou, até, pensando em me candidatar....Por que não eu...? Afinal, teria apenas 82 anos de idade. Um guri! Ou qualquer um de nós, nos marcos de republicanismo? 


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 01 dezembro.

Um Editorial histórico


O Editorial de o ESP, o Estadão, de ontem, fica para a História como o registro de um final melancólico de um governo medíocre. Vale ressaltar que o ESP é um jornal conservador da Mídia Corporativa que expressa o estado de espírito de um eleitorado que acaba de eleger um candidato bolsonarista no qual o petismo jamais conseguiu se consagrar. Nada a ver, portanto, com inclinação à esquerda deste Jornal. Depois de analisar a catástrofe do legado de Bolsonaro sobre a Administração Federal o próprio Editorial se pergunta “como Bolsonaro conquistou quase metade dos votos na disputa presidencial, bem como refletir sobre o que isso revela sobre as noções brasileiras de cidadania e coesão social.” Um enigma. Ei-lo:
Os inimigos do Estado - Editorial Estadão - 30/11/2022
Dados reunidos pela equipe de transição sobre o governo Bolsonaro expõem mais que cortes orçamentários: trata-se de profunda desestruturação do Estado em suas várias dimensões
"A derrota de Jair Bolsonaro parece ter livrado o País das amarras que o modus operandi do presidente impunha ao funcionamento das instituições de Estado. Já se sabia dos efeitos do descalabro bolsonarista em políticas públicas voltadas ao meio ambiente, educação, ciência e cultura, mas o que surpreende é o quão bem-sucedido o governo foi em destruir áreas que não pareciam estar na mira presidencial, como saúde e assistência social.

Ainda na campanha, a apresentação do Orçamento de 2023 já era um prenúncio de tempos difíceis, com tesouradas brutais em programas como o Farmácia Popular e a ausência de recursos para garantir o piso do Auxílio Brasil. O gabinete de transição do futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, tem sido alimentado com relatos diários sobre o caos generalizado que terá de enfrentar no que diz respeito ao provimento de serviços públicos essenciais.

Com quase 700 mil mortes, uma nova onda de casos e cobertura vacinal insuficiente, o País pode ter de descartar 13 milhões de doses de imunizantes contra a covid-19 com prazo de validade prestes a expirar. O prejuízo, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), pode chegar a quase R$ 2 bilhões. Alegando tratar-se de informações reservadas, o Ministério da Saúde resiste ao pedido de informações dos integrantes do governo eleito sobre o estoque de medicamentos na rede pública, desde analgésicos a antirretrovirais para o tratamento de HIV. A pasta tampouco apresentou dados sobre a fila de pessoas em busca de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre a previsão de aquisição de vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

A equipe de transição recebeu a informação de que há 5 milhões de processos referentes a benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com análise atrasada. O jornal Valor mostrou que beneficiários do Auxílio Brasil têm tido os pagamentos bloqueados sem motivo aparente. Solucionar o problema exige meses de espera para agendar um atendimento presencial nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) – filas que devem explodir com a tardia investigação sobre o crescimento de famílias unipessoais no Cadastro Único (CadÚnico), convenientemente iniciada somente depois do segundo turno.

Há muitos outros casos a confirmarem o quadro, e talvez não seja por acaso que o gabinete de transição tenha reunido mais de 400 pessoas – a imensa maioria trabalhando sem remuneração – dispostas a fazer um diagnóstico das urgências a serem enfrentadas em 2023. A substituição da figura agressiva, vingativa e desagregadora de Bolsonaro pelo vulto apático que o revés eleitoral evidenciou parece ter encorajado muitos servidores até então silenciados a colaborar na descrição das consequências práticas da balbúrdia a que o País foi submetido nos últimos quatro anos.

Toda a prioridade do governo eleito tem sido dada à construção de acordos pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, solução escolhida para recompor a verba de programas prioritários do Orçamento de 2023. As informações reunidas pelo gabinete de transição revelam mais do que simples cortes de verbas e necessários remanejamentos orçamentários, mas uma profunda e generalizada desestruturação do Estado em suas mais diversas dimensões – em especial das raras políticas públicas que venciam todos os obstáculos até chegar efetivamente às famílias mais carentes.

“Quanto mais Estado, pior”, vaticinou o presidente, em uma entrevista que concedeu à revista Veja entre o primeiro e o segundo turno da eleição. Em vez de proporcionar mais foco, prioridade, eficiência e qualidade ao gasto público, o bolsonarismo apostou em uma sociedade quase feudal, em que cada um deve lutar pela sobrevivência literalmente com suas próprias armas. Diante dos péssimos resultados que o País colheu, cabe perguntar como Bolsonaro conquistou quase metade dos votos na disputa presidencial, bem como refletir sobre o que isso revela sobre as noções brasileiras de cidadania e coesão social.

 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 30 de Novembro

Lula e os militares

A forte presença dos militares na vida pública do país nasceu com a Proclamação da República em 1889. Desde então eles têm preenchido o papel de Poder Moderador, muitas vezes intervindo no curso da Política, como em 1930, 1945,1955, 1964 e depois de 1974 na administração pelo Presidente General Geisel na “lenta, segura e gradual redemocratização” do país. Depois da Constituição de 1988 eles se recolheram às funções institucionais e até conviveram bem com os Governos FHC, que eles consideram de esquerda porque foi expurgado por Ato Institucional e ativo participante da redemocratização, e mesmo Lula, de 2003 a 2010. Na gestão Dilma Roussef começaram as tensões entre Governo e militares. Primeiro, porque Dilma fora presa política e assumidamente de esquerda e, depois, por seu apoio à Comissão da Verdade, que trouxe à tona os crimes dos subterrâneos da ditadura militar, incriminando um de seus principais algozes, o Cel. Ustra, mas também porque retirou dos comandos militares a gestão das promoções ao generalato. Desde a ascensão de Temer e, sobretudo, depois de Bolsonaro, os militares voltaram à cena política. Ficou para a História a pressão do Comandante do Exército sobre o Sumpremo no sentido de manter Lula preso e fora do pleito de 2018. Com o proselitismo militarista de Bolsonaro e sua defesa do regime militar a tutela das forças armadas ganhou novo fôlego na vida do país. Agora, diante da eleição e posse de Lula III ameaça se converter em crise institucional, admitida pelo ex senador .... (PT). Ainda ontem um alto oficial com peso no Palácio do Planalto chegou a afirmar sem qualquer cerimônia e respeito à Constituição que “Lula não subirá a rampa do Planalto”. Post de um general reformado circulando nas Redes chega a lembrar os bons tempos, em 1955, quando o Presidente da República ligou ao Ministro da Guerra com o intuito de demiti-lo recebendo em troca daquele Ministro, o Genwral Henrique Teixeira Lott a lacônica resposta de que era ele, o Presidente, que estava demitido. Tratava-se do chamado Golpe de Novembro de 1955 quando Lott desmontou, com sua autoridade e poder, uma conspiração que grassava nos bastidores palacianos com vistas à impedir a posse do Presidente eleito JK. Ou seja, foi, sim, um ato de força do Poder Moderador do Exército, mas paradoxalmente, de caráter democrático e não antidemocrático. Lott não deu o golpe para entregar o Poder aos militares, como ocorreria em 1964, ou como o Ministro do Exército, Silvio Frota, tentaria mais tarde, em 1977, contra a redemocratização geiseliana. Tanto que, em 1960 Lott foi o candidato à Presidente da República com o apoio das forças democráticas, inclusive da esquerda. Perdeu para o Jânio Quadros, outro alucinado usado pela direita e que governaria apenas sete meses em 1961. Isso tudo, enfim, se traduz, agora, na lacuna na Equipe de Transição de nomes para a Defesa e Segurança. Não há nomes indicados, apenas cogitações. E há preocupações sobre o comportamento militar neste interregno até a posse de Lula em primeiro de janeiro. Soube-se, ontem, também, de uma intenção claramente insubordinada dos comandantes militares de entregarem seus cargos antes da posse, criando um vazio delicado de comando. Sabe-se, entretanto, que grande parte do alto oficialato já se distancia de Bolsonaro e que jamais apoiaria uma aventura dele, ainda possível, segundo vários analistas políticos, dentre eles Jânio de Freitas e o Professor Marcos Nobre, em recente artigo na Revista Piaui. Fica, portanto, pairando no ar uma atmosfera densa e pouco confortável para a consolidação da democracia-entre-nós, como gostava de dizer Florestan Fernandes, como meio adequado de resolver suas próprias contradições e problemas. Sejamos otimistas: Lula subirá a rampa e governará. E já tem um plano para despolitizar e despartidarizar as Forças Armadas, que ainda exigem total controle sobre o ensino nos Cursos de Formação, promoções e vantagens corporativas como equiparação ativa/reforma, já extinta para os civis, que desde Dilma têm o teto do INSS ao se aposentarem, e tempo menor em atividade - https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/brasil/77875/para-driblar-insubordinacao-das-forcas-armadas-lula-acelera-transicao-na-defesa?utm_campaign=boletim_diario_2911&utm_medium=email&utm_source=RD+Station O Brasil, entretanto, mudou em um século e já não admite improvisações humorais da caráter autoritário. As FFAA devem se ater às funções constitucionais. As próprias medidas duras, hoje, do Ministro Alexandre de Moraes, que até se assemelham ao gesto de Lott, na defesa da democracia, demonstra que se há Poder Moderador, hoje, ele é e deve continuar a ser desempenhado pelo Judiciário. Já não são atos autoritários como os do passado, mas gestos da Lei, pela Lei e para a Lei.


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 29 novembro


Bresser-Pereira: mercado não precisa estressar. ‘Teto de gastos é falácia liberal, fruto de golpe e nunca funcionou’ = Ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira explica carta de apoio de economistas a Lula para que cumpra seus compromissos sociais. Para ele, histeria do mercado é tão inútil quanto o teto de gastos - https://www.redebrasilatual.com.br/economia/bresser-pereira-teto-de-gastos-falacia-liberal-fruto-de-golpe-nunca-funcionou/?fbclid=IwAR307idJt7hBeI6hPCd0V4BlG9ETNcq9oqmSysnUo_8kuPwBkLiSc1yEtaI
O problema mais urgente do Brasil é a ruptura entre autoridade e poder https://red.org.br/noticia/o-problema-mais-urgente-do-brasil-e-a-ruptura-entre-autoridade-e-poder/
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O Brasil não é nem nunca foi um país pobre. É injusto. Tanto que tem um "Poupança" de US $ 350 bilhões aplicada em títulos do Tesouro Americano. Lá somos um dos grandes investidores mundiais. Um trunfo nestes tempos de crise e aperto orçamentário. Mas se usarmos U$ 50 bilhões por ano destas Reservas Internacionais para um Programa de Investimento, Lula faria 40 anos em 4. Algo que JK fez na década de 50 ao romper com FMI. Naquela época não havia Teto de Gastos, malfadada criação de Temer em 2016, condenada por vários economistas ditos heterodoxos, de formação keynesiana e inspirados nas experiências latino-americanas de industrialização, mas os conservadores já condenavam o uso do déficit público como instrumento de promoção da economia, sempre insistindo na tese de que são inflacionários e desorganizam as finanças públicas e o “mercado” ... Mas no caso do uso das reservas internacionais, isso nem significaria ampliação do déficit público mas um recurso extraordinário para sair da crise. E ainda sobraria uma âncora cambial de US 150 bilhões, montante, aliás, que o FMI considera razoável para o Brasil. Se o Congresso continuar catimbando para retirar os GASTOS SOCIAIS do famigerado Teto, Lula ainda tem esta bala de prata. Consequências...? Retomada do crescimento, emprego, diminuição da dívida, pois evita elevar ainda mais seu montante atual que, com o crescimento do PIB, diminuiria aí seu peso. Na verdade, ou Lula opera com cuidado mas ousadia, a favor do desenvolvimento e dos interesses populares, ou acabará se empantanando no Presidencialismo de coalização de difícil reedição na conjuntura atual. Como diz um analista abaixo, ele é refém de uma situação em que É PROIBIDO GOVERNAR, tal as limitações não só do orçamento, mas da ideologia que hoje cerca o pensamento econômico. Veja-se:
É proibido governar
27/11/2022 - IGOR GRABOIS* -
https://aterraeredonda.com.br/e-proibido-governar/?fbclid=IwAR3TnV55VKMjpZ0RSXAqQyvH0RKU9DY30KOrK0KvyVLZfBS6J3cEu3sKf1w

Considerações sobre a captura pelo neoliberalismo da máquina pública
Impressionante o que o neoliberalismo fez com a máquina pública brasileira. O presidente eleito tem, na prática, de pedir para governar. E não estou falando de aprovação de leis no Congresso e que tais. Estou falando das atribuições do Poder Executivo.
Uma série de órgãos públicos tem “mandato”, que blindam seus dirigentes do voto popular. O Banco Central independente – deve ser do pai e da mãe, porque é dependente do mercado – é o caso mais gritante. Bob Fields Neto, parça do sinistro Paulo Guedes, tem dois anos ainda para sabotar a política econômica do governo.
A Aneel, a agência capturadíssima pelos regulados, as empresas do setor elétrico, avisa o governo de transição que a energia vai aumentar 5,3%, em algumas distribuidores mais de 10%. Por cálculos que ninguém sabe quais. Bastaria trocar os dirigentes da Aneel e implantar a modicidade tarifária. Só que não. A Aneel tem “mandato”. O setor está todo privatizado e é necessário “respeitar os contratos”. Danem-se os consumidores residenciais e empresariais.
A situação se repete em um monte de outros setores como aeroportos, telefonia, portos. Até a Embratur tem “mandato”. Bozo nomeou o Sanfoneiro Gilson para quatro anos (!) de mandato. O próximo governo está impedido, de fato, de implantar uma política para o turismo. O Sanfoneiro Gilson, é de conhecimento geral, acha que turismo é jogo e turismo sexual.
Na Petrobras, com um estatuto que favorece os acionistas minoritários, o presidente da empresa, ex-secretário de Paulo Guedes, anuncia que ficará até abril de 2023, até a nova Assembleia de acionistas. Vai aproveitar para vender mais alguns pedaços da companhia.
O vice-presidente Geraldo Alkmin negocia com o Sebrae para que adie a eleição de sua direção para fevereiro. O Sebrae faz parte do sistema S, mas recebe caminhões de dinheiro público para não apoiar, com medidas concretas, a micro e pequena empresa.
A maioria do povo não sabe disso. O aumento da energia elétrica vai para o colo do novo presidente. O aumento de juros e política monetária contracionista vão fazer o Tesouro e a política fiscal enxugar gelo, com efeitos devastadores nos preços e nos empregos. A conta também será paga por Lula.
O tal mercado tem as agências, o Banco Central e os tais “contratos” que só beneficiam as empresas. E ainda querem impor um nome de seu agrado no Ministério da Fazenda e ditar a política fiscal. A política fiscal é a única que o presidente, no momento, pode implementar, já que a monetária e a cambial estão a cargo do Banco Central “independente”.
Para implantar o programa escolhido pelas urnas é mandatório que os arranjos institucionais implantados desde o governo FHC sejam rediscutidos, com o retorno para os ministérios o poder usurpado pela miríade de agências regulatórias que trabalham a favor dos regulados privados.
*Igor Grabois é economista.

 


 

Editorial – CULTURAL FM
Armas: Meia volta, volver!

 

'Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução', diz, em carta, mãe de menina que morreu em ataque a escolas em Aracruz. Mãe da estudante diz que filha "estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina”.

'Fiquei estraçalhado, arrasado', diz pai de adolescente baleada na cabeça em ataque a escolas em Aracruz
Thais Pessotti da Silva, de 14 anos, passou por cirurgia e segue internada em estado grave na UTI. Informação foi confirmada ao g1 pelo pai da estudante.

O Senador eleito Flávio Dino (PSB/MA), cotado para ser o futuro Ministro da Justiça foi o convidado, ontem, do Canal Livre da BAND e não tem poupado críticas à política armamentista de Bolsonaro. Hoje estas críticas são objeto de discussão no Podcast da Globo, o Assunto. Dino afirma que Bolsonaro contrariou o Estatuto do Desarmamento através de Decretos e Portarias que, agora, deverão ser revogados. O debate sobre armamentismo vem crescendo no país em virtude do que se vê, ultimamente, em atos de brutal violência praticados nos Estados Unidos e mesmo no Brasil, atacando e matando desde professores e estudantes em Escolas, como frequentadores de clubes e shoppings. A banalização destes atentados nos EU é de tal ordem que a grande imprensa já nem lhe concede maior importância nas suas páginas. No Brasil, o último atentado em Aracruz, ES, chocou o país: Um jovem de 16 anos, usando arma do paí policial militar e portando símbolos nazistas que agora diz desconhecer o sentido, mas certamente associado à violência, atacou escolas e fez cinco vítimas fatais e deixou vários feridos. O desabafo pungente da mãe de uma das vítimas, uma jovem adolescente, foi ao centro da questão do desarmamento: - Por que tanto ódio, meu Deus! O amor é o caminho. Isso tem que acabar. Com efeito, vários especialistas associam a violência destes atentados à disseminação dos discursos de ódio que têm se disseminado no mundo inteiro numa fase de visível desencanto. Abaixo, a transcrição do ASSUNTO g1 de hoje:
“Os últimos 4 anos escancararam a política de “todo mundo armado”, exposta ao público por Bolsonaro (PL) na reunião ministerial de abril de 2020. Dezenas de decretos e portarias assinadas pelo presidente reduziram o controle, o rastreio e a fiscalização de armas e munições. E a flexibilização de requisitos para o registro de CAC (caçadores, atiradores e colecionadores) ampliou para cerca de 700 mil pessoas o direito de comprar até 60 armas (30 delas de uso restrito) e 180 mil balas anualmente. O governo eleito e o grupo de transição responsável pela Justiça e Segurança Pública já anunciaram que uma das prioridades a partir de 1º de janeiro será reverter o “liberou geral” de Bolsonaro para armas de fogo e recuperar normas de controle do Estatuto do Desarmamento, de 2003. Natuza Nery conversa com Flávio Dino (PSB), senador eleito pelo Maranhão e integrante do GT de Justiça e Segurança Pública, e com a advogada e socióloga Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz. Neste episódio você ouvirá:
• Flávio Dino aponta para a “grande ameaça” que é o crescimento desenfreado de CAC’s desde 2019 - já são mais pessoas com o registro do que policiais militares e do que membros do Exército em todo o país;
• O senador eleito reforça a posição do próximo governo sobre o aumento de fiscalização de combate ao armamento, que, afirma, “deve ser restrito às forças de segurança”;
• Carolina Ricardo alerta para a destinação de armas de fogo de alto poder destrutivo: fuzis chegam às mãos de grupos criminosos via “cooptação de laranjas ou falsificação de cadastro”;
• Ela sugere que, para reduzir a quantidade de armas nas mãos dos civis, será necessário estabelecer novas e mais rígidas regras – mas descarta a ideia de confisco.
O que você precisa saber:
• CAC’s: registros no governo Bolsonaro triplicam
• Em 3 anos: armas registradas por CAC’s chegam a 1 milhão
• Flávio Dino: defende revogação de decretos sobre armas
• Transição: equipe estuda recompra de armas pelo governo


O Populismo de Extrema Direita será longevo entre nós?
Postado por Elimar Nascimento | nov. 25, 2022 |
https://revistasera.info/2022/11/o-populismo-de-extrema-direita-sera-longevo-entre-nos/

A editora Record traduziu e publicou em 2020 o livro dos professores britânicos de política Roger Eatwell, da Universidade de Bath, e Matthew Goodwin, da Universidade de Kent: Nacional-populismo. A revolta contra a democracia liberal, publicado originalmente (National Populism) em 2018. Não foi um livro muito comentado, nem de grande repercussão, provavelmente por causa das teses que defende, pouco aceitáveis por parte dos democratas liberais.
A primeira tese dos autores é menos assustadora para os democratas liberais, e mais sofisticada. Os autores defendem que a ascensão do nacional-populismo, como eles denominam as novas expressões da extrema-direita, não resulta da crise de 2008/2009, mas tem suas raízes no final do século passado, portanto, há mais de um quarto de século. Para os professores ingleses, o nacional-populismo é a expressão de “quatro mudanças sociais profundamente enraizadas”. A mutação original, que adveio da democracia liberal, versa sobre a desconfiança de grandes segmentos da população em relação aos políticos e às instituições democráticas. Isso seria se de esperar, na medida em que a democracia liberal sempre buscou minimizar a participação social. A segunda mudança aborda o mal-estar com a imigração e com as ameaças de mudanças étnicas, sobretudo entre as populações europeias e norte-americanas estabelecidas. Em continuidade, a terceira sucedeu devido à globalização, visto que o mundo globalizado criou uma profunda desigualdade social e regional inter e intra países, provocando o que os psicólogos denominam de sentimento de privação relativa, ou seja, determinados grupos sociais sentem que estão perdendo posições para outros grupos. Neste quesito, observa-se que o sentimento de inferioridade advém de uma sensação de serem esquecidos pelo progresso econômico, mesmo entre aqueles que têm emprego e diploma. Por fim, a quarta mudança social, segundo os autores, trata do crescente desalinhamento entre partidos e massas, eleitos e eleitores, representantes e representados. Isso torna os sistemas partidários mais voláteis, fragmentados e imprevisíveis. Enfim, trata-se da crise de representatividade que o cientista norte-americano, originário da Polônia, Adam Przeworski, analisa em seu livro mais recente (Crises da democracia, Zahar, 2020).
Os autores Eatwell e Goodwin previnem aos mais apressados que nenhuma dessas mudanças explica isoladamente o fenômeno da ascensão do nacional-populismo. Eles argumentam que levar em conta essas mudanças em conjunto promove uma compreensão muito distinta, e melhor, do que as explicações que se prendem aos fatos imediatos e circunstanciais. Exasperam-se, os autores, com as ilações de jornalistas e cientistas políticos sobre eventos imediatos e circunstanciais como causas do novo populismo.
A segunda tese, porém, não agrada aos democratas liberais. Nela, os professores britânicos de política supracitados, afirmam que “o nacional-populismo possui um sério potencial de longo prazo”. Em outras palavras, conforme os autores, não estamos assistindo ao fim de uma era, mas ao começo de uma nova era, a era do nacional-populismo, que é a “expressão de uma revolta permanente contra a política e os valores liberais convencionais”. Esta tese lembra o livro de Pierre Rosanvallon (O século do populismo. Ateliê de Humanidades, 2021), embora ele caracterize o novo populismo de maneira distinta, compreendendo-o como a expressão da maior ameaça que a democracia conheceu desde a Segunda Guerra Mundial.
Ademais, a visão dos autores sobre o nacional-populismo é muito distinta da de autores mais conhecidos, como Steven Levitsky e Daniel Ziblat (Como as democracias morrem, Zahar, 2018) e Manuel Castells (Ruptura. A crise da democracia liberal, Zahar, 2018). Ela difere também de outras visões, menos conhecidas, porém peremptórias na condenação do novo populismo, como Giuliano Da Empoli (Os engenheiros do caos, Vestígios, 2020) ou Benjamin Teitelbaum (Guerra pela eternidade. O retorno do tradicionalismo e a ascensão da direita populista, Editora da Unicamp, 2020). Todos condenam veementemente o novo populismo, o que Eatwell e Goodwin não o fazem.
Contudo, os autores do Nacional-populismo não estão sós. Simon Tormey (Populismo. Uma breve introdução, Cultrix, 2019) e Yascha Mounk (O povo contra a democracia, Cia das Letras, 2019), entre outros, partilham da ideia de que o populismo é uma revolta contra os malefícios que a democracia liberal provocou nos países desenvolvidos. Esses autores veem no populismo contemporâneo um movimento que pode arejar a velha democracia liberal, aproximando o povo das instituições democráticas, que necessitam de renovação.
Além dos prós e contras, a literatura recente sobre o novo populismo de direita pode, de forma um pouco simplória, dividir-se em duas vertentes:
(i) Aquela que define o novo populismo como uma expressão política passageira e condenada a desaparecer, porque suas bases sociais são formadas por grupos sociais minoritários e declinantes[1];
(ii) a que defende a tese de que as mudanças sociais em curso devem persistir por algumas décadas, porque suas bases estruturais são vigorosas, como Roger Eatwell e Matthew Goodwin afirmam.
Quem tem razão? Só o tempo dirá.
Uma coisa é certa, o populismo já convive conosco no Ocidente há mais de um quarto de século, com feições diferenciadas, mais extremas ou menos extremas, dependendo do lugar e do momento. Nesse período, seu movimento tem sido errático: ascendendo aqui, descendendo acolá, e vice-versa. Assumiu de fato o poder em três países, porém eles têm pouca tradição democrática: Polônia, Hungria e Turquia. Sua ascensão na Itália ou nos países escandinavos é muito recente e não se pode dizer ainda que esses países caminhem para um regime autoritário. Em outros países desenvolvidos, como Áustria e Holanda, eles ascenderam ao poder, mas caíram logo em seguida. Em outros, como França, Alemanha e Bélgica, o novo populismo é relevante, mas secundário, porque nunca chegou ao poder. Em vários países, como Alemanha, França e Reino Unido, recentemente, o populismo perdeu força.
No caso do Brasil, onde o novo populismo emergiu nas manifestações de 2013/2014 contra a corrupção e galgou o poder rapidamente em 2018, ele sofreu uma derrota eleitoral logo em 2022, apesar do crescimento no Legislativo. Contudo, não se pode dizer que tenda a desaparecer. Afinal, seu líder, o capitão Jair Bolsonaro, teve 58 milhões de votos, e alguns de seus adeptos, até o momento em que escrevo estas notas (15/11), acampam em frente a quartéis, em particular o Quartel General do Exército (QGEx), em Brasília. Outrossim, as razões que explicam a ascensão do populismo de extrema direita na Europa não se aplicam ao Brasil. Não temos o problema da migração; nem nunca tivemos partidos sólidos e enraizados na sociedade; desigualdade não é novidade, é estrutural entre nós, habita o Brasil desde sua criação como nação, ao inverso dos países desenvolvidos da Europa.
De toda forma, não sabemos do futuro do movimento bolsonarista. Ele pode se enfraquecer ou mesmo crescer. Tudo depende da conformação política do próximo governo, de suas políticas e iniciativas. Estas serão eficientes se compreendermos a natureza da base social do bolsonarismo. Uma base eclética, composta de um amálgama de grupos sociais os mais diversos, pobres e ricos, cristãos das igrejas evangélicas e empresários do agronegócio. O bolsonarismo demonstrou ter raízes profundas nas classes médias; reúne grupos contraditórios, desde os defensores do retorno da ditadura militar aos defensores do capitalismo liberal; inclui grupos conservadores, que defendem costumes tradicionais, e armamentistas, que defendem um individualismo radical. Ante o panorama sociopolítico brasileiro, é preciso contabilizar também aqueles que votaram no bolsonarismo por ódio ao PT, ou por motivação bem mais pragmática, na esteira dos bilhões de reais que foram gastos para ampliar os eleitores do Bolsonaro. Diga-se de passagem, dinheiro público.
As ciências sociais, à vista disso, têm um grande desafio pela frente: decifrar as motivações dos segmentos humanos que participam das bases sociais do bolsonarismo, as razões de sua identidade com uma figura aparentemente tão medíocre, por vezes levianamente definidas como neofascistas. O que sabemos com certeza, hoje, é que elas são bem mais do que isso. E, diga-se de passagem, já há vários pesquisadores debruçados sobre estas questões. Sua compreensão, por si só, evidentemente, não irá desmontar o bolsonarismo, mas será uma contribuição relevante para permitir a formulação de estratégias de enfrentamento eficientes.
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[1] Trata-se de idosos, trabalhadores manuais, pequenos centros urbanos e “brancos sem diploma”, No caso dos Estados Unidos, esses grupos não são nem declinantes, nem minoritários; do ponto de vista da humanidade, os idosos não são nada declinantes, bem ao contrário.
[2] Ver a respeito. Elimar Nascimento. Reatar os laços In Será? 4.11/2022. https://revistasera.info/author/elimar/

 


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 25


Responsabilidade fiscal ou teto de gastos?

FSP – 23 nov22 https://www.bresserpereira.org.br/22.11-carta-ao-presidente-lula-sobre-teto-fiscal.pdf
Carta ao presidente Lula Em réplica a Fraga, Malan e Bacha, economistas afirmam ser uma falácia ideia de que o teto de gastos é fundamental para garantir disciplina fiscal José L. Oreiro, Luiz Fernando de Paula, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Kalinka Magalhães, Luiz C. Magalhães
Reinaldo Azevedo: HOTEL CALIFORNIA - A carta de Bacha, Malan e Armínio - https://www.youtube.com/watch?v=a6oWoBiUI5g
Fernando Exman - Uma nova arquitetura para o teto de gastos
https://gilvanmelo.blogspot.com/.../fernando-exman-uma...
José Serra* - O novo arcabouço fiscal está na LRF
https://gilvanmelo.blogspot.com/.../jose-serra-o-novo...
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Folgo em perceber que se fala cada vez menos, com exceção de provincianos economistas ortodoxos, em TETO DE GASTOS e mais em RESPONSABILIDADE FISCAL. Carta do ex Ministro Bresser Pereira e outros economistas heterodoxos publicada na FSP dia 23 passado respondeu ás advertências mais ortodoxas dos Pais do Real. Ontem a conceituada economista Mônica de Bolle, de formação liberal, deu seu recado criticando o teto de gastos e o Sen. José Serra, um dos país do princípio da Responsabilidade Fiscal no Governo FHC, lembra a diferença entre a Lei de Responsabilidade Fiscal e a PEC 95 do Teto de Gastos.

Eis o que diz MONICA DE BOLLE:
"A economista Monica de Bolle fez duras críticas à pressão exercida pelo mercado sobre o Congresso e a equipe de transição do governo Lula (PT) para que o chamado “teto de gastos” seja mantido pelo futuro governo. Ela também questionou a cobertura do jornalismo econômico ao longo da gestão Bolsonaro à frente do Palácio do Planalto e lembrou que o “mercado” não representa os interesses da maioria da população:
Os assédios do mercado para manter o Teto iníquo e moribundo nesse momento de reconstrução do País é imoral e irresponsável. Esse tipo de assédio precisa acabar e todos precisam entender que o “mercado” em sua maioria é curtoprazista e fútil.
Não é o mercado que representa os interesses da população. Só no Brasil ainda é dado esse poder a quem se beneficia de fetiche. Chega de atraso.
O mercado passou 4 anos conivente com a pior gestão econômica que o País já teve. Teceu louvores a Guedes, aceitou o orçamento secreto, e nada disse das 4 modificações do Teto — a última populista e eleitoreira. A credibilidade do “mercado” se foi. Que não atrapalhem a transição.
E que esses últimos 4 anos sirvam para mostrar ao jornalismo econômico que sua relevância depende do entendimento de que a população que não trabalha no mercado não está interessada em análise econômica de elevador e sem compromisso com o País".
É, pois, sob este fogo cruzado a favor e contra a PEC 95, de 2016, com o pano de fundo de um Congresso inequivocamente conservador, que Lula hesita em formalizar um novo instrumento para viabilizar seu Governo com o cumprimento das promessas de campanha, sobretudo o Bolsa Família de R$ 600. A verdade é que o rombo das contas públicas no período Bolsonaro foi imenso e que não há recursos orçamentários, sequer, para manter a máquina pública até o fim do ano e sua proposta Orçamentária, ainda em discussão na Câmara dos Deputados, é inconsistente. Lula, a esquerda e os economistas ditos heterodoxas defendem a RESPONSABILIDADE FISCAL mas rejeitam o TETO. Querem os gastos sociais com Bolsa Família definitivamente fora do teto de gastos, tal como, aliás, estão os juros da dívida pública, hoje na ordem de R$ 500 bilhões anuais, correspondentes ao montante devido na ordem de R$ 6 trilhões. Mas talvez sejam obrigados a negociar essa liberação para apenas um ou dois anos. Isso, enfim, é o que está em discussão e retardando a apresentação da proposta final.

 


Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 24

O CATAR E A COPA


Você sabia que nas obras da Copa do Catar morreram quase seis mil trabalhadores!!!! Houve indenizações? Como estão suas famílias? Ninguém fala e a grande imprensa se cala, enquanto os torcedores milionários que para lá viajaram se comprazem com as visões do paraíso? Por acaso têm ideia sobre o que é o CATAR? Que regime adota? Qual a origem de sua riqueza? https://jc.ne10.uol.com.br/cultura/2022/11/15125019-copa-do-mundo-2022-quantos-trabalhadores-morreram-no-catar-pais-e-alvo-de-critica-por-violacoes-de-direitos-humanos-devido-a-copa-do-mundo.html
Entenda por que o Catar é tão rico: País tem a terceira maior reserva de gás natural do mundo, e o território é menor que o do estado de Sergipe. Seu PIB per capita é o 6º do mundo.
Enquanto isso outras questões rolam na COPA. Eis este post de um observador mais atento:
Antes do jogo de abertura da copa a seleção equatoriana concedeu uma protocolar coletiva de imprensa.
Num dado momento um repórter dirigiu, em inglês, uma pergunta ao jogador Caicedo, 21 anos: "O que você acha das violações dos direitos humanos aqui no Catar?"
Pergunta capciosa e repleta de covardia.
Capciosa pois era uma arapuca. Qualquer resposta colocaria o jogador em péssimos lençóis com o Catar, FIFA, federação equatoriana, ou com patrocinadores e "comunidade internacional".
Covarde pois, duvido que o repórter tenha coragem de ir perguntar a quem realmente tenha responsabilidade sobre o assunto, o Emir ou um de seus representantes, ou até o presidente da FIFA.
Muito perspicaz, o técnico equatoriano assumiu a resposta e tirou o foco do rapaz.
E aí temos uma situação que os jornalistas terão de ponderar, ninguém fica perguntando pros jogadores ingleses como é ter toda uma seguridade social e boas condições econômicas devido aos roubos, massacres e escravização da África, Ásia e América. Assim como ninguém pergunta pra um jogador espanhol como é viver num país desenvolvido que chegou a tal condição via exploração sanguinária nas Américas. Também não vejo perguntas ao selecionado dos EUA sobre o país matar tantos civis fora de suas fronteiras.
Caicedo é um jogador dum país pobre, explorado até a alma por europeus e estadunidenses, sua cidade é uma representação de toda a América Latina, origem indígena e que recebeu povos escravizados da África. Caicedo entende mais que qualquer europeu o que significa direitos humanos, não precisa dar palestrinha pra repórter lucrar individualmente."

 


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 23

Valdemar Costa Neto, lamentável personagem da cena Política nacional

 

PL apresenta relatório e pede invalidação de votos sem apresentar provas de fraude; TSE ordena que partido se manifeste também sobre o 1º turno

Partido do presidente Jair Bolsonaro alegou irregularidades com identificação digital de 60% das urnas e quer excluí-las só do resultado do segundo turno. TSE lembrou que as mesmas urnas foram usadas no primeiro turno.

CAFÉ DA MANHÃ FOLHA UOL DIA 23 DE NOVEMBRO 22

https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2022/11/poast-a-reclusao-de-bolsonaro-e-a-atmosfera-golpista-no-pais.shtml 

Podcast: a reclusão de Bolsonaro e a atmosfera golpista no país. Persistência de atos em estradas e quartéis e falas de aliados do presidente mantêm temor de ameaça à democracia

Ver também declarações de Nardes -https://oantagonista.uol.com.br/brasil/esta-acontecendo-um-movimento-muito-forte-nas-casernas-questao-de-horas-dias-diz-ministro-do-tcu/?utm_campaign=SEG_MANHA&utm_content=link-866552&utm_medium=email&utm_source=oa-email  

 

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Valdemar da Costa Neto, Presidente do PL, um dos partidos do chamado “Centrão”, um conjunto de parlamentares “oportunistas” que operam no Congresso em função de interesses particulares, é um personagem conhecido da vida partidária no país. Ele tem estado no centro dos acontecimentos nas últimas décadas e, desta vez, com ares menos comprometedores do que na época em que foi preso com pena de 7 anos por envolvimento em lavagem de dinheiro no Processo do Mensalão em 2006 - https://br.noticias.yahoo.com/de-boy-de-mogi-a-prisao-quem-e-valdemar-costa-neto-cacique-do-novo-partido-de-bolsonaro-134244255.html?guccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuZ29vZ2xlLmNvbS8&guce_referrer_sig=AQAAAECQ046LxHjPnJRAX39Jav4gkQh8nDfdP_kf-0--t7qPuPCJnEz_IKN2L3mUuL4T7SgjDxVsAsV0h8kx1mw4JqZiD6VgboJgDQKkdCUolKI1Dg2uLHBRU2l9-3SirkaqXmcQ4IqA029tYNYcFGht6Cl1UJnCpsLzgmoLBkZIP9SD . Ofereceu a “sua” legenda para a candidatura de Bolsonaro e, graças a isso, conseguiu fazer perto de 80 deputados federais, todos religiosamente amparados por polpudas verbas do Orçamento Secreto, dentre outros favores governamentais. Diante da derrota de Bolsonaro no segundo turno, Valdemar apressou-se em reconhecer a vitória de Lula – é um político “pragmático”- , mas afirmando que se manteria na Oposição. Desde então, porém, vem sofrendo pressões para questionar o resultado das urnas. Uma primeira tentativa, aliás, de contestar as urnas foi feita pelo PL ao entrar no TSE denunciando o não cumprimento de várias rádios do Nordeste quanto aos programas eleitorais gratuitos. Estariam deixando de levar ao ar os programas de Bolsonaro. Não vingou. Ficou claro que o PL não tinha competência para tal denúncia e vários bolsonarista se apressaram em denunciar a ação como tentativa de contestação ao processo democrático. Caiu no ridículo. Agora, Valdemar, `como Presidente do PL e com apoio de Bolsonaro - e à testa de aliados como PR e PP- volta à carga denunciando as urnas eletrônicas no segundo turno – (o primeiro, que elegeu seu correligionário governador do Rio e a maior bancada na CÂMARA é inquestionável!) em razão da duplicação do número de registro patrimonial em várias delas. Tão logo o PL deu entrada no TSE de sua contestação o Presidente da Corte deu 24 horas para que o Partido informasse sobre a mesma ocorrência no primeiro turno. A Presidente do PT, imediatamente, também denunciou a ação como “catimba”. Ganhar tempo. Vários outros líderes também condenaram mais esta tentativa do PL e seu Presidente de animar a contestação às urnas disseminada em vários movimentos espalhados pelo país, todas elas exigindo intervenção militar, muitas já ultrapassando os limites do direito de expressão e manifestação e se convertendo em grupos de obstrução do direito de ir e vir nas estradas, com lances terroristas de provocação de incêndios e ameaças a caminhoneiros que nada mais fazem que transportar suas cargas. A PF, PRF e PGR já mapearam os responsáveis por estes atos e intensificaram ações para limpeza das estradas. Tudo indica que a ação do PL contribui para animar o clima de contestação ao resultado das eleições e, com isso, ganhar tempo à espera de alguma aventura, milagre ou até intervenção extraterrestre que possam impedir a posse de Lula dia primeiro de janeiro próximo. Tal como a ação sobre as rádios, esta ação também está condenada a fracassar e, em poucos dias, passar a ser mais um gesto impensado de Valdemar, vítima, enfim de pressões que o colocam em difícil situação. Sua ex mulher, aliás, residente nos Estados Unidos, já advertiu que abrirá baterias contando graves malfeitos ao longo de sua vida pública. Ele próprio, aliás, ao entregar ontem a ação no TSE mostrava-se ambíguo e inseguro, afirmando que não estava ali contestando a democracia e que, pessoalmente, nem estaria de acordo com a petição. Simplesmente patético...


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 18

Questão de confiança: De quem...? 

“Governo Bolsonaro furou teto de gastos em R$ 795 bilhões em quatro anos. Em 2021 e 2022, os gastos fora do teto chegaram a R$ 233,4 bi, em uma ação que tentou "impulsionar a reeleição de Bolsonaro", segundo economista da FGV

247 - Representado pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), o governo Lula (PT) apresentou ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), nesta quarta-feira (17) a minuta da PEC da Transição, que prevê "excepcionalizar" do teto de gastos R$ 175 bilhões para o pagamento do Bolsa Família a partir de 2023 no valor de R$ 600, com adicional de R$ 150 por criança, sem um prazo determinado.

Também consta na proposta uma autorização para que parte das receitas extraordinárias fique fora do teto e possa ser redirecionada para investimentos, em um limite de R$ 23 bilhões.

Representantes do mercado, assim como parte da imprensa, têm criticado o governo eleito pela disposição em furar o teto, mas o governo de Jair Bolsonaro (PL) também extrapolou - e muito - o limite.

Segundo levantamento do economista Bráulio Borges, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), feito a pedido da BBC News Brasil, os gastos do governo Bolsonaro acima do teto somam R$ 794,9 bilhões de 2019 a 2022. Foram R$ 53,6 bilhões em 2019, R$ 507,9 bilhões em 2020, R$ 117,2 bilhões em 2021 e serão R$ 116,2 bilhões em 2022.

Segundo a reportagem, "a maior parte dos quase R$ 800 bilhões acima do limite constitucional gastos pelo atual governo foram empregados em 2020, ano em que o Congresso liberou amplamente as despesas devido à pandemia de covid-19. Mas a flexibilização da regra começou já no primeiro ano de governo e continuou após o arrefecimento da pandemia. Neste último ano, os furos no teto impulsionaram a expansão de benefícios sociais pouco antes da eleição, em uma ação que tentava impulsionar a reeleição de Bolsonaro, na visão de Borges".

"Aos críticos vai aí uma informação. Orçamento de 2023 de Bolsonaro não tem recurso previsto para merenda escolar, Farmácia Popular, creches e auxílio de R$ 600. Estamos trabalhando para reverter a terra arrasada que estamos encontrando e colocar o povo no orçamento", afirmou a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, ao defender a proposta do governo Lula para a ampliação dos gastos.”

Diante disso Lula afirmou ontem na COP 27, no Egito, que vai insistir no furo do teto de gastos e se o dólar subir e a Bolsa cair, paciência. Seu vice eleito, Alkmin, entretanto, depois de tensões entre economistas do grupo da transição, que resultaram na saída do ex ministro Mantega do grupo, diz que a medida é circunstancial e necessária. Economistas liberais consagrados como Malan, Bacha e outros, porém, que apoiaram Lula no segundo turno, criticam o furo no teto e advertem para os riscos da perda de “confiança” no mercado.

A verdade é que o custo da dita confiança no mercado tem se revelado muito alto. A Constituição de 88, num artigo considerado espúrio por muitos e denunciado em livro do ex constituinte Hermes Zanetti, IMPÕE O PAGAMENTO DOS JUROS DA DÍVIDA como prioritário para a União e acabou ficando fora do teto de gastos na PEC/Temer 95/2016. Hoje representa um ônus de 30% do total de impostos arrecadados pelo Governo. Algo em torno de 15% ao ano sobre uma dívida pública de R$ 5 trilhões.Insuportável. O novo Governo , eleito, pretende, agora, colocar os gastos sociais, também fora do teto, como uma compensação aos menos favorecidos, garantindo-lhes os recursos para sobrevivência e promoção da cidadania. Ninguém nasce cidadão. Faz-se através e pelo papel do Estado num longo processo de inserção do indivíduo na sociedade e no mercado. Contra, isso, porém, levantam-se vozes dissidentes preocupadas , dizem, com a desconfiança que pode abalar os investimentos privados. Pior será, entretanto, a desconfiança do povo na democracia como processo de consolidação de seus direitos e garantia de construção social.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 17 XI

Coincidindo com o anúncio de que chegamos a 8 bilhões de humanos sobre o planeta, Lula fala na COP 27 e propõe um pacto para a eliminação da miséria no mundo, hoje afetando mais de 2 bilhões de pessoas. A China cumpriu seu dever de casa. Diminui o ritmo de crescimento de sua população ao mesmo tempo em que criou uma classe média de 400 milhões de consumidores. Dentro de 30 anos este número chegará a 800 milhões enquanto o ritmo de crescimento da população do mundo também irá diminuindo. Levamos 10 anos para crescer 1 bilhão, mas deveremos estabilizar a população mundial em 2080 em 10 bilhões. Lula cobra dos ricos maior empenho neste processo. Aqui no Brasil orientou o Vice eleito a apresentar ao Senado PEC que prevê quebra do teto de gastos em torno de R$ 200 bilhões destinados ao Bolsa Familia, Farmácia Popular, Recursos para Universidades e 23 bilhões em investimentos. Se até aqui, desde a Constituição de 88 os gastos com juros eram prioritários e apenas eles ficaram fora do TETO DA PEC 95, de Temer, com Lula, agora, GASTOS SOCIAIS seguem o mesmo rumo. Ficarão fora do teto. Resta saber se por quatro anos ou permanentemente. É o resultado da mudança de rumos na Política. O neoliberalismo perdeu, o centro ganhou sob a liderança de um Partido de centro-esquerda que exige, agora, colocar os Gastos Sociais na mesma situação que os juros da dívida, aliás prioritárias e sem teto desde a Constituição de 88. É um novo Pacto.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 16/11/2022


La nave va...


Já somos 8 bilhões de humanos no mundo. Leia Hélio Schwartsman - 8 bilhões em ação. https://gilvanmelo.blogspot.com/.../helio-schwartsman-8... Crescemos 1 bilhão nos últimos sete anos, mas, doravante, o crescimento será mais lento. Levaremos 15 anos para chegar a bilhões e só chegaremos a 10 bilhões em 2080. Há planeta não só para alimentar toda essa gente, como para suportes seus rejeitos orgânicos e de consumo. Daí a importância da sustentabilidade e o relevo da realização COP 27 , nestes dias, no Egito, à qual comparece o Presidente eleito Lula da Silva com a promessa de colocar o Brasil, novamente, como um protagonista estratégico da luta pela defesa do meio ambiente. Leia Luiz Carlos Azedo - Questão ambiental reposicionará o Brasil no mundo-https://gilvanmelo.blogspot.com/.../luiz-carlos-azedo... Entre a COPA e a COP 27, país dá mais atenção ao meio ambiente do que ao futebol. Leia Alvaro Costa e Silva - Refém da política, Copa do Mundo está banalizada- https://gilvanmelo.blogspot.com/.../alvaro-costa-e-silva... Auxílio voltará a ser chamado de BOLSA FAMÍLIA como Programa de Estado e deverá ter garantia de R$ 600 por 4 anos. Mas economistas heterodoxos, presentes na Equipe de Transição do Governo Lula continuarão defendendo seu caráter permanente “fora do teto de gastos”. Explica-se: O "tal Mercado" apostou no Bolsonaro. Deu no que deu. O país se dividiu e daí houve eleições e a corrente adversária ganhou numa Frente Ampla de inspiração social democrática. Agora é negociação. Se o pagamento dos juros da dívida pública são tão prioritários que ficaram fora do Teto PEC 95, atendendo, justamente o "tal Mercado", agora há que compensar esta exceção com a contrapartida dos GASTOS SOCIAIS EMERGENCIAIS a favor do "tal mundo do Trabalho", também fora do TETO. O clima, entretanto, continua sendo de grande expectativa quanto ao futuro Governo Lula. Leia: Merval Pereira -O futuro em discussão - https://gilvanmelo.blogspot.com/.../merval-pereira-o...
Míriam Leitão - País entre o vácuo e a expectativa - https://gilvanmelo.blogspot.com/.../miriam-leitao-pais...
Carlos Andreazza – Expectativas - https://gilvanmelo.blogspot.com/.../carlos-andreazza...
Enquanto isso, no Brasil, o Diretor da PRF é afastado do cargo a pedido, um pouco tardio, da PGR e empresários catarinenses são identificados por financiarem atos antidemocráticos. Leia:
Ministério Público Federal pede afastamento do diretor da PRF por 90 dias e condenação por improbidade administrativa E nazistas são presos em SC:
Oito pessoas são presas após polícia acabar com encontro de neonazistas em sítio de SC
Em Torres OAB condena publicação de listas de empresas simpáticas ao voto em Lula.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 10/11/2022


TERRA `A VISTA!


Do alto da gávea das naus que se aventuravam ao Atlântico nas Grandes Navegações, em meio à incertezas, superstições e precários instrumentos de orientação e depois de semanas `as águas, este grito de esperança ressoava nas tripulações e renovava as energias dos marinheiros. Vivemos, no mundo inteiro, um ano turbulento: Guerra na Ucrânia, Inflação insuportável, pela elevação dos preços da energia e dos produtos agrícolas, acirradas disputas eleitorais de midterms nos Estados Unidos e um confronto épico entre dois Projetos de Brasil, representado por Bolsonaro versus Lula. Nos ares do mundo a nebulosidade de uma recessão brutal na Economia em 2023 e uma incerteza dos valores ocidentais diante das pressões da democracia digital. Mas parece que, por aqui, há terra à vista, embora enlutados pelo registro no diário de bordo da perda em viagem de duas lendas nacionais: Gal Costa e Rolando Boldrin.
Lula venceu por pouco. Mas venceu. Na verdade, do ponto de vista do jogo democrático não faz diferença se o placar é 7 x 1 ou 2 x 1. Ganha quem faz mais gols, isto é, votos na urna. Houve, contudo, reações. Alguns excessos nos bloqueios de estradas. Apelos aos quartéis nas capitais. Aos poucos, porém, a normalidade institucional e política do país vai se impondo e o próprio Presidente Bolsonaro parece ir se preparando para, como fez Trump nos Estados Unidos, continuar liderando a direita no país com base no capital acumulado de 58 milhões de votos. Estes são mais importantes do que os indignados, agora sob o crivo da Polícia Federal sob suspeita de conspiração. O desafio será manter uns e outros sob seu comando, num contexto em que emergem novos nomes nacionais no Congresso e nos Estados, como o Governador eleito em São Paulo, Rodrigo ///
Ontem, dia 9 de novembro, o Presidente eleito, Lula, esteve em Brasília e cumpriu os rituais que acompanham o itinerário de sua posse, em janeiro. Dentro em breve será diplomado. Ele visitou os Presidentes dos Poderes Judiciário e do Legislativo, onde foi homenageado, anunciou um Conselho Político no qual ressaltam nomes que tiveram papel ativo na CPI do COVID, como os Senadores Omar Azis, do PSD e Renan Calheiros, do MDB, no rumo de um Governo de União Nacional, e consagrou nomes como Simone Tebet na Comissão de Transição, que vai de liberais à Guilherme Boulos, do PSOL, quem deverá ocupar um Ministério, passando por Márcio França, PSB, que declinou de sua forte candidatura ao Governo de São Paulo a favor de Haddad, enfim derrotado e o deputado Janones (Avante) Em contrapartida, o Presidente do PL, Partido que acolheu Bolsonaro, reafirma que estará na Oposição e procura consolidar aliança com o PR e PP, com vistas a evitar deslizamentos adesistas, com o que garantirá em torno de 150 deputados federais, dos quais, entretanto, 1/3 já manifestou interesse em se compor com Lula. “Alta infidelidade”... Entre a bancada de apoio a Lula, também em torno deste número (150) e esta Oposição, gravita o tradicional Centrão, um bloco de 200 parlamentares “oportunistas” e mais alguns independentes do Cidadania e PSDB, indispensáveis á governabilidade futura.
No mesmo dia (09), foi divulgado o esperado Relatório do Ministério da Defesa sobre o processo eleitoral. Embora tenha registrado que não teve acesso integral à metodologia afirmou que não houve fraude: “De todo o trabalho realizado, observou-se que, devido à complexidade do SEV [Sistema Eletrônico de Votação] e à falta de esclarecimentos técnicos oportunos e de acesso aos conteúdos de programas e bibliotecas, mencionados no presente relatório, não foi possível fiscalizar o sistema completamente, o que demanda a adoção de melhorias no sentido de propiciar a sua inspeção e a análise completas”, afirma o documento. O relatório também afirma que o sistema não está isento de um suposto “código malicioso” que poderia alterar o funcionamento das urnas — as quais, convém destacar, não ficam conectadas à internet durante a votação. “Na vertente dos mecanismos de fiscalização do sistema no momento da votação, a incapacidade de o Teste de Integridade e do Projeto-Piloto com Biometria reproduzirem, com fidelidade, as condições normais de uso das urnas eletrônicas que foram testadas não permite afirmar que o SEV está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar seu funcionamento”, diz o documento. Mas conclui: “Em ambos os turnos, não se verificou divergências entre os quantitativos registrados no BU [Boletim de Urna] afixado na seção eleitoral e os quantitativos de votos constantes no respectivo BU disponibilizado no site do TSE”, afirma o relatório em sua página 16. Mais adiante, na página 17, diz o seguinte: “Conclui-se que a verificação da correção da contabilização dos votos, por meio da comparação dos Boletins de Urna (BU) impressos com os dados disponibilizados pelo TSE, ocorreu sem apresentar inconformidade”. Selou-se, pois, institucionalmente, a discussão sobre as urnas que ainda pairava entre os renitentes. Diante disso o Ministro Alexandre de Moraes, Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, afirmou em Nota que recebeu com satisfação o relatório e que, “assim como todas as demais entidades fiscalizadoras, não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”. Moraes também afirmou que “as sugestões encaminhadas para aperfeiçoamento do sistema serão oportunamente analisadas”. E conclui dizendo que as urnas eletrônicas “são motivo de orgulho nacional, e as eleições de 2022 comprovam a eficácia, a lisura e a total transparência da apuração e da totalização dos votos”.


 Editorial – CULTURAL FM – Bom Dia, Torres RS – Dia 8/XI

A questão fiscal 

Os primeiros dias da equipe de transição do novo Governo Lula em Brasília tem se dedicado à encontrar os meios para garantir, já em 2023, o cumprimento das promessas de campanha do petista, principalmente a manutenção do Bolsa Família, que voltará a ter essa denominação, e o do salário mínimo. Não é fácil. De um lado há um rombo de R$ 400 bilhões já neste ano em consequência das “bondados” eleitorais administradas sob a égide de Bolsonaro. De outro, as consequências da PEC dos Precatórios, que deixou de pagar vencimentos neste ano, transferindo-os para os vindouros. Alie-se a isso a administração do Orçamento Secreto, um valor considerável do Orçamento da União, na ordem de R$ 20 bilhões, a título de Emendas do Relator que, somadas `a outras e tradicionais “emendas parlamentares”, beiram os R$ 40 bilhões, valor superior ao do Orçamento de alguns Ministérios. Como resolver isso? Tudo indica que será aprovada, ainda neste ano, uma nova PEC para permitir o furo no TETO DE GASTOS e, com isso, gerar recursos para o governo Lula 23. Isso implica, claro, aumento da dívida pública, já em torno de 80% do PIB, com o inevitável aumento das taxas de juros para sua rolagem e, portanto, mais custos financeiros para a União. Estes juros da dívida, entretanto, correm por fora do TETO, prioritários e soberanos. Tudo isso aponta para a chamada QUESTÃO FISCAL que consiste em se saber como o Governo financia seus compromissos e como e para quem paga. Para se ter uma ideia do valor dos impostos federais, tome-se o fato de que eles representam algo como 30% do PIB. Se o PIB é, grosso modo, de R$ 6 trilhões, estes impostos, que garantem o pagamento dos gastos de União com Investimentos, Custeio, Salários e Pensões e o pagamento dos juros da dívida. Ora, só essa, custa algo como R$ 500 bilhões anuais, que são pagos aos poucos detentores de títulos da dívida: Milionários brasileiros, fundos estrangeiros e fundos nacionais de pensões. Como nunca sobra dinheiro para pagar esta conta, o governo aumenta a dívida para pagá-los. Sobra, pois, um orçamento engessado por várias exigências para sua aplicação que deixa pouca margem para novos investimentos. Aí entra , então, a pergunta? O que fazer?

A resposta divide os economistas. Os mais liberais defendem um TETO DE GASTOS, nunca superior aos gastos do ano passado mais a inflação do ano. Os heterodoxos destacam que ainda que deva haver um princípio de RESPONSABILIDADE FISCAL, isso não pode obedecer a um TETO fixo, muitas vezes, como é o caso do TETO fixado pela PEC 95, dita da “fome”, ao tempo de Temer, mal concebido e mal administrado. O debate sai da Academia e entra, agora, para a equipe de transição de Lula onde pontificam tanto velhos economistas liberais, como os Pais do Real, geralmente ligados ao PSDB, e heterodoxos, em grande parte oriundos da Universidade de Campinas, SP. Até mesmo alguns nomes liberais já admitem uma revisão da PEC do TETO, considerando-o muito rígido. É o caso de MONICA DE BOLLE , hoje entrevistada pelo Assunto g1:

O Assunto g1 dia 8 de novembro - Teto de gastos - o que virá depois dele

Meia década atrás, em resposta à escalada da dívida pública, o Brasil adotava uma nova âncora fiscal, que limita o crescimento da maior parte das despesas da União à inflação do ano anterior. De lá para cá, essa construção balançou e sofreu muitos remendos. Meia década atrás, em resposta à escalada da dívida pública, o Brasil adotava uma nova âncora fiscal, que limita o crescimento da maior parte das despesas da União à inflação do ano anterior. De lá para cá, essa construção balançou e sofreu muitos remendos, diante de realidades como a pandemia e o vale-tudo da campanha pela reeleição. “Estamos no limite do teto há muito tempo”, afirma Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for Internacional Economics e professora da universidade Johns Hopkins. E os seguidos truques para burlá-lo acabam por “minar sua credibilidade”. Na conversa com Renata Lo Prete, a economista credita parte do problema ao “desenho” definido no governo Temer, rígido demais e sem “válvulas de escape” para usar quando a situação do país exigir. Para ela, a largada de um novo governo “abre boa oportunidade” para que se estabeleça uma regra fiscal melhor, não sem antes atender ao imperativo de “reconstruir a base dos programas sociais”.- https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2022/11/08/o-assunto-831-teto-de-gastos-o-que-vira-depois-dele.ghtml

 

 

Importa registrar que o debate não se circunscreve à equipe de transição de Lula, mas chega aos analistas da Mídia Corporativa, em sua unanimidade alinhados com a visão ortodoxa do teto de gastos da PEC 95. Começa a haver discussões no ar sobre estes analistas, alguns já sensibilizados com a percepção, aliás correta, de que não se pode comparar Governo com Famílias, tal como geralmente costumavam fazer. O Governo tem, além de outras funções e compromissos, alheios à família, fontes de geração de recursos e mesmo endividamento que são completamente diferentes. Fica, pois, no ar o debate sobre como Lula, enfim, terá que administrar, agora, esta nova fase de debate e gestão da questão fiscal...A ideia de TETO, certamente, virá abaixo, substituída por uma visão mais realista e flexível de RESPONSABILIDADE FISCAL, titulo, aliás, e instituto legal, que vem do Govereno FHC mas que remonta a governos tão antigos como o de Vargas que foi sempre marcado pela austeridade fiscal.


 Editorial – Cultural FM – BOM DIA, TORRES – dia 7 de novembro 2022.


O I FORUM LIVRE DE CULTURAL DE TORRES. Torres além veraneio...


Neste sábado, dia 5 de novembro, realizou-se o Fórum de Cultura de Torres, que se propõe a dar início à estruturação do Sistema Municipal de Cultura. O Fórum teve ampla participação de produtores e promotores da Cultura na cidade e ocorreu no auditório da Universidade de Caxias do Sul (UCS-Torres – Av. José Bonifácio, 793), e foi organizado inteiramente pelos coletivos de cultura de Torres. “Esta foi a alternativa encontrada diante da inação da Prefeitura Municipal e da falta de resposta da mesma em relação a demandas e insatisfações de comunidade cultural”, ressaltaram os organizadores.
Recentemente, a Comissão de Educação e Cultura da Câmara Municipal, sensível a estes apelos da comunidade cultural, organizou uma audiência pública para debater o tema. Durante esta audiência pública, ficou evidenciado o quanto a comunidade artístico-cultural de Torres é rica e plural, e o quanto alguns segmentos sentem-se desamparados pela Prefeitura Municipal. Foi deste importante encontro que nasceu então a ideia da realização do Fórum da Cultura, organizado inteiramente pelos coletivos de cultura.
Os organizadores do Fórum Livre da Cultura entendem que o evento é o ponto de partida para que finalmente se inicie a organização dos mecanismos de fomento à cultura em Torres.” Na pauta do Fórum estão reiteradas reclamações do setor cultural, das quais se destaca a necessidade imediata de constituir-se um Conselho Municipal de Cultura representativo, transparente e eleito democraticamente. A constituição deste Conselho é a condição básica para a regulamentação do Fundo Municipal de Cultura, única ferramenta capaz de fomentar financeiramente, de forma transparente e ágil, as iniciativas da comunidade”, ressaltam.
Outro ponto de pauta é a insatisfação de agentes culturais de Torres diante da ausência de espaços públicos para a manifestação da arte e da cultura – destacando-se aí a situação do Museu Histórico que, após poucos meses aberto, está mais uma vez fechado para uma reforma (desde o dia 26 de maio). Ultrajante, também, a inexistência, em Torres de uma CASA MUNCIPAL DE CULTURA, onde, além de espetáculos poderiam ser organizadas atividades de fomento às várias expressões culturais. Tal Casa, por exemplo, em Sombrio, aqui ao lado tem, hoje, 600 jovens matriculados em distintos cursos que vão da música a jogos marciais.
Dezenas de agentes culturais da cidade participaram do Fórum Livre da Cultura de Torres, expondo suas demandas e propostas. Foi um momento importante para a vida cultural da cidade.
Outro importante evento cultural ocorre entre 13 e 15 deste mês: O FAROL LITERÁRIO que se combinará, neste ano, com a I FESTA LITERÁRIA DO VALE SAGRADO DO MAMPITUBA, graças à colaboração da Associação dos Municípios do Sul Catarinense – AMESC. Dois painéis animarão este FAROL LITERÁRIO: Centenário da Semana de Arte Moderna, a partir de exposição do Prof. L.A. Fischer, no dia 14 pela manhã, e Economia Criativa/Distritos Criativos, com a participação de Jorge Piqué, promotor dos distritos criativos em várias cidades do Estado. Carlos Nejar é o Patrono do Farol Literário que homenageia neste ano a poeta Ney Azambuja, quem dá o nome da Biblioteca Pública de Passo de Torres. O Farol está , também, promovendo a assistência ao filme O REENCONTRO em algumas escolas do Vale do Mampituba, uma curiosa história sobre a importância da imaginação para a Literatura.


ACABOU AS ELEIÇÕES

 

Paulo Timm – Publicado A FOLHA, Torres RS – 4/11novembro 22

Acabou! A palavra saiu da boca do Presidente Bolsonaro aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no final da tarde do dia primeiro de novembro (2022). Já a essas alturas as estradas começavam a ser obstruídas por seguidores seus, inconformados negando as urnas. Todos conhecem a fábula do médico e o monstro, que assombra, inclusive, hoje, os cientistas com medo da revolta dos robôs humanizados. Bolsonaro criou o bolsonarismo e parece ter chegado um momento em que nem ele o controla mais. Virou uma distopia à solta a serviço da irracionalidade contra a realidade da Lei, da Ordem e das instituições. No dia 2, Finados, várias capitais foram ocupadas com fileiras de gente rodeando quartéis, clamando por intervenção militar contra o resultado das urnas. Diante disso proliferaram notas de diversas entidades da sociedade civil exigindo providências das autoridades para conter a irrupção antidemocrática. Assim o fizeram 186 Procuradores da República que exigiram pronunciamento do Procurador Geral da República, afinal levado ao ar. Entidades representativas de policiais federais, policiais rodoviários federais condenaram igualmente o movimento, bem como associações nacionais representativas de caminhoneiros. Empresários, enfim, também se manifestaram evidenciando os prejuízos já registrados pelo desabastecimento, afora problemas de oxigênio e medicamentos em hospitais. Mais um vez, então, o Presidente foi instado por conselheiros e sociedade a se manifestar com mais clareza e condenação aos caminhoneiros. Fê-lo no início da noite do mesmo dia 2. Pediu que desobstruíssem as estradas. Na verdade elas já vinham sendo desobstruídos por forças estaduais, depois de autorizadas pelo Supremo, não só pela multa de R$ 100 mil reais aos recalcitrantes, como até pelo uso de forças de choque. Na manhã do dia 3, entretanto, um balanço da Polícia Federal ainda mostrava mais de cem pontos de obstrução. Isso demonstra que o movimento corre o risco de ultrapassar seu criador, que tentará, na planície, recompor sua liderança. É certo que não tem ele, por exemplo, a força de um Trump, montado numa grande fortuna pessoal e no prestígio junto a um dos dois maiores Partidos americanos, o Republicano. Mas Bolsonaro demonstrou capacidade de penetração popular e não é impossível que ainda venha a ter algum protagonismo nacional. A dúvida que paira no ar é o destino não dele, mas da sua criatura: o bolsonarismo. Permanecerá sintonizado com “O Chefe”, ou se dispersará em torno de novos líderes, mesmo de direita, que doravante pontificarão no Congresso Nacional e nos Estados? Qual o elo de ligação entre os vários componentes deste bolsonarismo e os 58 milhões das urnas? Parte destes votos, influenciados pelo Pacote de Bondades do Governo, refluirá para o novo Governo Lula? Muitas perguntas, poucas respostas. Só o tempo as ditará.

Enquanto isso muitos se perguntam sobre a recuperação da normalidade nas estradas e nas cidades. Haveria alguma chance real de golpe militar? A resposta é um rotundo NÃO! O Brasil passou da era da moderação, feita pelo Imperador na época do Império, substituída pelo Exército que o derrubou no 15 de novembro de 1889 e que, de uma ou outra forma, de um lado e de outro, definiu rumos para o país e se prolongou até 1985 para um novo patamar civilizatório: O Império da Lei. Na Proclamação precisamos de um Deodoro; em 1955 de um General Teixeira Lott, que garantiu a posse de JK; em 1974 de um General Geisel com seu projeto de “Lenta, Segura e Gradual” redemocratização. Agora tivemos como Xerife um Ministro da Suprema Corte, Alexandre Moraes. Sinal não só dos tempos, mas de tempos de mudança. De nada adiantará estimular as vivandeiras de quartéis em busca de intervenção. O civilismo, tão apregoado, sem êxito, por Ruy Barbosa, vingou. A Constituição será obedecida. A normalidade da Lei restituída.

O que se espera, pois, é um refluxo dos ressentimentos cultivados durante o pleito e uma autocontenção dos dois lados. Nem soberba dos vitoriosos, que oxalá se comportem como prometeram na campanha, como um governo de transição sem afirmações polarizadas, nem intolerância dos vencidos, que devem se preparar para um novo embate democrático em futuro próximo. Que a harmonia, enfim, volte a reinar na imensa família brasileira povoada de tantas diferenças étnicas, culturais e políticas, mas vestida orgulhosamente pela mesma bandeira. VIVA O BRASIL!

 


ACABOU!

 

Paulo Timm – 2 nov 2022

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"STF cobrou discurso da derrota antes de reunião com Bolsonaro” l Mônica Bergamo https://youtu.be/cqMFqnP2Y9w 

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A palavra saiu da boca do Presidente Bolsonaro, o pior de todos os tempos republicanos passados e talvez vindouros, aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no final da tarde do dia primeiro de novembro (2022). Tinha que ser ao entardecer, como naqueles velhos filmes em que os duelos eram marcados à las seis de la tarde, para dar um tom de dramaticidade ao feito. Pastelão... Depois de falar dois curtos e elípticos minutos á Nação de sua residência, no Alvorada, Bolsonaro dirigiu-se à Praça dos Três Poderes, praticamente sozinho, sorridente e brincalhão dizendo que entregava os pontos. Simplesmente patético! Voltou para casa e foi ter com os filhos, os quais continuavam a disparar torpedos incentivando a “resistência” nas Redes Sociais na tentativa de manter a esperança dos seguidores fanatizados de que ainda há cartas na manga. Não há. Há apenas um entulho bolsonariano ocupando algumas estradas e que, na forma da Lei da Ordem, será oportunamente removido. Na retomada do curso democrático do país, como deve ser. Este é Bolsonaro: Um homem doente do coração, o que lhe afeta a mente, preparado para o combate na guerra, onde falhou, também despreparado para a Política, que menospreza, dissimulando-se de pregador da liberdade. É como se um comandante espartano desclassificado por Leônidas para os 300 Imortais das Termópilas, descesse ao Pireu, em Atenas, para dar lições à Péricles. Ou como se eu, que nada entendo de Física, me metesse a falar de fractais... Ele inventa uma fórmula mágica de obediência às “quatro linhas da Constituição”, que jamais leu, até persuasiva, esquecendo-se que esta é um instrumento sagrado do Pacto Social com um conteúdo uno e indissolúvel que se fundamenta no “Amai-vos uns aos outros”. Ele só ama a si próprio e sua ínclita, embora desengonçada, família. Outro militar e Presidente, o General Dutra, de 1946 a 1950, era um homem igualmente conservador, nem deixou saudades, mas era um homem verdadeiramente honesto porque sempre recorria ao que denominava “Cartinha”, a Constituição, em seus atos. Jamais protagonizou óperas bufas ou ameaças aos outros Poderes da República, embora tenha sido responsável, no curso da Guerra Fria, a cassar o registro do Partido Comunista, que continuou a funcionar, não obstante, na ilegalidade. Bolsonaro não é o primeiro político dissimulador. Aliás, dialeticamente simulador e dissimulador. Finge ser o político que não é, dissimulando-se no que parece ser: um político. Segue o Manual dos Ditadores, cuja primeira regra é precisamente fazer-se de vítima salvadora de inimigos imaginários identificados com o Mal, devorando à sua volta aqueles que se aproximam para ajudá-lo, garantindo, sempre, a primazia do trono. Chega ao ponto de devorá-los e trazê-los de volta á vida, quando lhe convém, como fez com Sérgio Moro. Mas perdeu a eleição, mesmo usando todos os meios espúrios com recursos do Estado para ganhar, deixando um rombo de mais de R$ 200 bilhões nas contas públicas. Dinheiro de helicóptero jogado a rodo sem qualificação adequada dos beneficiários ou distribuído às cegas pelo Orçamento Secreto, nem acompanhamento das políticas correspondentes. Um escândalo calculado como 600 vezes maior do que o Mensalão e 30 vezes maior do que o Petrolão. Mas se jacta de cara lavada de não ter tido corrupção em seu Governo. E o Ricardo Sales, Ministro do Meio Ambiente, aquele da “boiada” passando por cima das queimadas da Amazônia, saiu por que? E o Milton Ribeiro, da Educação, que mancomunado com os pastores do Orçamento daquela pasta mandava colocar sua foto nas Bíblias compradas com dinheiro público? Oressa ! , diria Guimarães Rosa, se estivesse vivo....

Acabou!, diz Bolsonaro aos Ministros. Mas à Nação, pouco antes, deixou o registro de que deixa como legado ao Brasil uma Direita forte e organizada. Errado. A Direita, no Brasil, desde o Descobrimento, sempre foi forte e dominante na vida nacional, sobretudo nas altas esferas. Aqui e acolá foi sobressaltada pela insurgência revoltosa de negros escravos refugiados nos quilombos ou presentes em Insurreições como a dos Alfaiates e dos Malês, na Bahia, de caboclos revoltados no Cabanagem do Pará, por fanáticos de Antonio Conselheiro, por jacobinos na Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, que acabariam reverberando sua proclamação rebelde na Revolução de 1930 comandada pelo Governador do Estado Getúlio Vargas. Governos democráticos mais à esquerda, que jamais se confundiram com revoluções socialistas duraram muito pouco e sempre foram golpeados com ferocidade: Vargas, de 51 a 54, PT, de 2002 a 2014. Durante o longo período colonial, durante o Império, na maior parte dos anos da República dominou a Casa Grande, expressão simbólica das classes dominantes e predominantes no universo do Estado. Mas tem razão Bolsonaro: Ele transformou em ideologia política institucionalizada os Anos de Chumbo da ditadura militar, naquela época, 1969/74, sob a égide do Ato Institucional no. 5, operada nos porões do próprio Poder de Exceção, por celerados capatazes. Agora ela está sob o sol, iluminada por supostos 58 milhões de votos, refestelando-se como namoradeiras às janelas da vizinhança à espreita de novo assalto. Seus líderes continuarão se reunindo internacionalmente, obedecendo fielmente a Cartilha do guru Steve Bannon na tentativa de solapar instituições democráticas, demolir Políticas de Estado compensatórias à lei naturalizada do Mercado, como propunha Karl Schmitt, jurista de Hitler que inspirou a Escola da Liberdade de Genebra e disseminar o ódio e o recurso às armas como regra de convivência. Entre o Pacto e sua administração política, que desprezam, preconizam a política asséptica da administração como negação do conflito. Este legado, sim, Bolsonaro pode se jactar de ter deixado embora sobre ele, agora, se lancem as hienas de ocasião disputando-lhe a carniça. Não é ele, como Trump, um homem igualmente vil, mas poderoso, que pontifica sobre um dos dois maiores partidos americanos, o Republicano, em busca da reeleição. É um aventureiro agora destronado que tentará cultivar o imenso caudal de seguidores sob a cobiça de outros neobolsonaristas em ascensão. O próprio caudal conservador, engrossado pelas bondades eleitorais de última hora, voltará a seu leito tradicional, sejam ricos senhores do engenho partidário, sejam ilustres acadêmicos fascinados pelo neoliberalismo, sejam ingênuos crentes assombrados com a perspectiva da perseguição de Lula às suas modestas Igrejas, sejam as pudicas mães preocupadas com o banheiro unissex. Verão que o mundo real não se confunde com o imaginário mitificado pelo proselitismo fascistóide e seguirão novos – embora não tão novos assim – rumos. Rumos, enfim, que outras linhas do pensamento conservador, à direita, que sempre existiram e existirão, se lhes ofereçam.

Mas será que Acabou mesmo?

Pessoalmente, acho que sim. A extrema direita acordou no Brasil, é verdade, e Bolsonaro contribuiu decisivamente para isso. Mas voltará, como a extrema esquerda, da qual, inclusive importou métodos, para a margem do rio, de onde continuará vociferando. Como alternativa para o Brasil, perdeu-se nos destemperos de Bolsonaro. Ficará como amarga lembrança e será lembrada como lição aos pósteros que dirão: “-Eu sei o que vocês fizeram ao Brasil nos anos bolsonarianos”...

 

ANEXO

 

A cientista política Camila Rocha indica livros que elucidam a expansão do extremismo de direita nos contextos políticos do Brasil e dos Estados Unidos

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Até agora muita tinta já foi gasta para tentar explicar a ascensão de políticos de extrema direita. Parte expressiva da literatura sobre o tema, ao concentrar seu olhar apenas nas instituições político-partidárias, argumenta que tais fenômenos seriam frutos de uma espécie de pane do sistema: populismos gestados em meio a máquinas de desinformação que vingaram em meio a processos eleitorais disruptivos. Outra parte apela para explicações exógenas, como guerras híbridas, revoluções coloridas e manipulação de massas, ou procura ainda apontar uma “fascistização” de parte expressiva da população, que teria passado a se mobilizar exclusivamente por discursos de ódio e ignorância.

No entanto, ainda são raros os esforços no sentido de compreender em profundidade a extrema direita sem recorrer a noções concebidas para explicar realidades de outros tempos e contextos, ou teorizações abstratas e carentes de empiria cuidadosamente reunida. Diante disso, apresento aqui cinco livros que, a partir de disciplinas e olhares díspares, procuram compreender de forma profunda e crítica a emergência da extrema direita nos Estados Unidos e no Brasil, esforço este que, muitas vezes, também se entrelaça com a compreensão crítica de seus antagonistas e da própria institucionalidade democrática contra a qual a extrema direita se insurge.

Strangers in Their Own Land: Anger and Mourning on the American Right

Arlie Russell Hochschild (New Press, 2018)

Neste livro, a autora, uma acadêmica experiente e reconhecida em sua área de atuação, a sociologia das emoções, relata em detalhes uma etnografia realizada durante anos a fio no estado da Louisiana, nos Estados Unidos, junto a apoiadores do movimento Tea Party. Professora da Universidade de Berkeley, Hochschild tem como missão escutar ativamente o que dizem as pessoas do movimento e traduzir motivações e anseios naquilo que chama de “deep stories”, histórias emocionais profundas que permeiam as percepções e escolhas políticas das pessoas.

Kill All Normies: Online Culture Wars from 4chan and Tumblr to Trump and the Alt-Right

Angela Nagle (Zero Books, 2017)

Em “Kill All Normies”, Angela Nagle, escritora de esquerda de 37 anos, investiga as origens dos discursos da chamada “alt-right” nos Estados Unidos examinando conteúdos que trafegavam em fóruns digitais como 4chan, à direita, e Tumblr, à esquerda. Nagle procura compreender como foi possível que discursos de direita se investissem de uma tônica irreverente, transgressora e disruptiva, paralelamente à emergência de uma subcultura que passou a utilizar termos como “gatilho” (trigger) e “espaço seguro” (safe space), apontando como tais dinâmicas online acompanhavam tensões que permeavam boa parte dos campi universitários do país.

Guerra pela eternidade: O retorno do Tradicionalismo e a ascensão da direita populista

Benjamin Teitelbaum (Trad. Cynthia Costa, Unicamp, 2021)

O etnógrafo e professor de etnomusicologia da Universidade do Colorado acompanhou de perto os movimentos de um dos principais intelectuais tradicionalistas, o norte-americano Steve Bannon, que atuou como estrategista-chefe da Casa Branca no início do governo Trump. A partir de Bannon, Teitelbaum acaba se deparando com outros dois defensores do tradicionalismo, o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho e o cientista político russo Aleksandr Dugin, e procura apontar como cada um dos três intelectuais se filia de forma peculiar a essa corrente filosófica e espiritualista antimoderna que, até pouco tempo atrás, circulava apenas em circuitos alternativos.

Eles em nós: Retórica e antagonismo político no Brasil no século 21

Idelber Avelar (Record, 2021)

Especialista em teoria literária e professor da Universidade de Tulane, nos Estados Unidos, o brasileiro Idelber Avelar procura combinar neste livro uma análise política do período recente com base em uma refinada análise de discurso que abrange momentos-chave da história política brasileira. Crítico do que chama de literatura petista e parapetista, Avelar procura compreender como, a partir de uma série de operações discursivas que foram sendo realizadas ao longo dos anos no cenário social e político brasileiro, se deu a emergência do bolsonarismo.

Solução de dois Estados

Michel Laub (Companhia das Letras, 2020)

Neste livro de ficção, o premiado escritor porto-alegrense Michel Laub expõe de forma visceral e violenta os ressentimentos familiares de um casal de irmãos que conta suas histórias de vida a uma documentarista alemã traumatizada pela morte violenta do marido. Neste romance, a história política recente do Brasil, do Plano Collor à ascensão da extrema direita, aparece entrelaçada às memórias afetivas das personagens que narram, a partir de suas próprias perspectivas, episódios de ódio, mágoa e barbárie que os marcaram.

Camila Rocha nasceu em São Paulo em 1984. É cientista política e em 2019 concluiu seu doutorado na USP (Universidade de São Paulo) sobre a emergência da nova direita brasileira. Recebeu os prêmios de melhor tese de doutorado da Associação Brasileira de Ciência Política e Tese Destaque USP. Em agosto de 2021, lançou pela editora Todavia o livro “Menos Marx, mais Mises: O liberalismo e a nova direita no Brasil”, e publicou, pela editora Springer, em conjunto com os sociólogos Esther Solano e Jonas Medeiros, o livro “The Bolsonaro Paradox - The Public Sphere and Right-Wing Counterpublicity in Contemporary Brazil”. Atualmente trabalha como assessora parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo e coordena pesquisas qualitativas sobre comportamento político.

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 O EXÉRCITO DE UM HOMEM SÓ


Paulo Timm – Comunicador
Torres RS – Dia 1º. Novembro 2022.


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Tá na hora do Já ir já ir embora – Recorde de acessos nas redes
https://www.youtube.com/watch?v=gilUNUWcCc0
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A derrota de Bolsonaro por cerca de 2 milhões votos, se salva o país de um salto ao abismo do autoritarismo, o lança num enigmático futuro. Alguns lembram, inclusive, uma espécie de reedição da eleição de Tancredo Neves em 1985, depois de 21 anos de ditadura militar. Naquela época, porém, o regime sobrevivia por inércia institucional. Poucos redutos atreviam-se a defendê-la. Estava estigmatizado. Os últimos suspiros saudosistas, restritos à segmentos militares ligados à repressão ou inteligência, que haviam provocado atos terroristas em várias cidades do país, inclusive aqui no RS, em Porto Alegre, nos quais se insere o atentado frustrado ao RIO CENTRO, acabaram na tentativa de golpe do Ministro do Exército em outubro de 1977. Em 1979 o Presidente Figueiredo assina a primeira Anistia: ampla, geral e irrestrita mas recíproca, contrariando a Doutrina de Direitos Humanos que fez da tortura crime imprescritível. A eleição de Governadores em 1982, dentre eles vários de Oposição, como no Rio, Brizola, SP, Franco Montoro e Minas, Tancredo, soterraria as últimas tentativas de convalidar a ditadura. Uma voz solitária e até ridicularizada, entretanto, de um jovem político, Jair Bolsonaro, ex militar, começava a reverberar, da sua tribuna como vereador no Rio de Janeiro, a partir de 1988, a defesa do regime 64/85 e seus principais algozes, os torturadores, inclusive o famigerado Cel. USTRA. E continuaria com essa catilina por 27 anos. Era sempre repudiado, contudo, por militares mais duros e saudosistas de alta patente, por sua péssima passagem pela caserna, da qual foi convidado a se retirar depois de submetido a processo por atos terroristas de caráter corporativo. Mudanças de ventos na geopolítica mundial, afetada de um lado pela crise do globalismo e financismo sob hegemonia do dólar sem lastro e, de outro, pela emergência da China, levaram-no a se encontrar com uma vertente oriunda do Gabinete do General Frota ( aquele que tentou um golpe contra o Presidente Geisel para impedir seu projeto de redemocratização) , no qual se destaca o General Heleno, hoje Ministro Chefe do SNI, às vésperas das eleições de 2018. Para estes, que passam a sintonizar com uma nova Doutrina de Segurança Nacional da Escola Superior de Guerra baseada numa adequação da Guerra Fria à Guerra Híbrida, tratava-se de uma candidatura capaz de proceder a um revival militarista. Bolsonaro, teve, então, relativo êxito junto à estas altas patentes do Exército, particularmente na fase final da Lavajato, quando estes viram, aí, a possibilidade de estigmatizar a esquerda e , eventualmente, tirar da cena seu principal líder, Lula, que acabou preso em processo comandado por Sergio Moro. Neste período, os militares já vinham se incompatibilizando com a redemocratização em virtude da instalação da Comissão da Verdade com apoio da então Presidente Dilma Roussef e que trouxe à tona crime e criminosos do regime. Com o desgaste dos políticos tradicionais, decorrente de seu envolvimento em processos da Lavajato, abriu-se o espaço que viria a ser ocupado por Bolsonaro, já com apoio daquilo que um coronel reformado do Exército, Marcelo Pimentel Jorge, denomina Partido Militar (https://www.youtube.com/watch?v=5J12yY43ygY). Consagra-se, então, mesmo sem Partido estruturado e sem maiores vínculos com o stablishment político partidário, mas graças à competente e onerosa manipulação das Redes Sociais, Presidente, em 2018. Aí soma o apoio de novas lideranças parlamentares francamente reacionárias e predispostas ao reerguimento moral do período militar, num claro revisionismo da historiografia já consagrada, com base em consignas como PATRIA, FAMILIA E LIBERDADE, típicas do movimento fascista italiano da década de 1920, com atualizações do extremismo de direita em escala internacional articuladas por seus filhos junto ao astrólogo Olavo de Carvalho e do americano Steve Bannon, ativista do renascimento da extrema direita em escala mundial. Instalado no Governo, Bolsonaro dá início, então, ao seu projeto de Poder pessoal , fundado numa base militar ampliada pela cooptação de Polícias Militares estaduais e controle da Polícia Federal e PRF e PGR, mas extensivo à várias agências do Poder Executivo, projetando-se cada vez mais sobre o Legislativo, onde conseguiu fazer, com apoio do “Centrão”, os Presidentes das duas Casas, além da indicação de vários juízes. Conta nisso, também, com a elite neopentecostal com a qual concerta uma agenda de costumes retrógrados e negacionistas de inspiração “criacionista”. Seu método é sempre o clássico do Manual dos Ditadores: usar e abusar de eventuais oportunistas para logo deles se desfazer aproveitando-se do espólio. Assim fez com Bebiano, Presidente do PSL, que lhe ofereceu a sigla, fê-lo com o próprio Olavo de Carvalho, com Sérgio Moro, com vários generais que dele se aproximaram. Servem-lhe, sempre, os que se dobram à máxima do “um manda, outro obedece”, como confessou expressamente o General Pazzuelo quando Ministro da Saúde. Ao longo de quase quatro anos fez um governo pífio, no qual relevam suas atitudes compassivas e grosseiras durante a pandemia, a demolição de todo o aparato institucional de promoção da cultura, meio ambiente e educação, sob a alegação de combate ao “marxismo cultural” aí predominante e a desorganização da economia nacional, para não falar da transformação do Brasil em pária internacional. Sua derrota, agora, em 2022, frustra não só seu projeto pessoal de Poder autoritário mas de um grupo francamente reacionário da sociedade brasileira, com base neste referido Partido Militar, lideranças neopentecostais, algumas corporações de Mídia e políticos de extrema direita que estavam prontos para moldar o Brasil num modelo autoritário de governo inspirado numa síntese do regime 64/85 com nuances fascistóides. Frustra também a Internacional da Extrema Direita que via na sua permanência no poder um contraponto ao aprofundamento da democracia na América Latina. Bolsonaro, hoje isolado em Brasília, com poucos à sua volta, agora aposta na baderna dos caminhoneiros nas estradas como última tentativa de evitar a retomada do curso democrático. Vive-se, pois, sim, um momento similar aos anos 85, com a diferença de que o autoritarismo decadente daquela época substitui-se por um movimento de tipo fascista com lideranças políticas e razoável apoio popular e com projeções sobre a vida política dos próximos anos. É menos perigoso porque exclui a ação militar concertada pelo retrocesso, mas mais difícil porque mais complexo. Abre-se para inúmeras possibilidades. O “chefe”, entretanto, neste momento, sofreu uma derrota eleitoral, está sendo abandonado pela sua ala político parlamentar e alta cúpula militar e parece isolado na sua torre. Melhor faria se percebesse que “a casa caiu” e procurasse um caminho de sobrevivência política menos radical. Certamente não o fará e acabará mal. Isso tudo, porém, visto em retrospectiva, sobreleva a responsabilidade de Lula no encaminhamento desta transição de forma a permitir um tempo de decantação das forças tanto de esquerda, que comanda, como de direita, de forma a poder isolar cada vez mais, em quatro anos, o extremismo de inspiração fascista. Vai encontrar um país politicamente dividido pelo ódio disseminado por Bolsonaro e um Estado em frangalhos (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63096483). Tarefa difícil. Não impossível porque, desta vez, a História já entregou reflexões e experiências sobre tudo isso. 


 


EDITORIAL – Cultural FM –Torres RS – BOM DIA, TORRES- Dia 31 out2022.


Lula venceu, ganhou a Democracia.


Na mais acirrada disputa presidencial de todos os tempos, Lula, PT, foi declarado, no início da noite de ontem, 30 de outubro, vencedor, tendo recebido os cumprimentos dos Chefes dos Poderes da República, Presidente do Supremo, do Senado e da Câmara dos Deputados, além dos Presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, E. Macron. Uma multidão impressionante o saudou na capital paulista até de madrugada. Em todo o país houve júbilo, sem incidentes O concorrente, atual Presidente, foi dormir cedo. Derrotado. Seu sonho de grandeza autoritária, no qual arrastou a alta cúpula militar, sempre reticente quanto à superação crítica do regime de 64/85, ingênuos evangélicos e grande parte da classe média intoxicada pelo medo às mudanças, esboroou-se temporariamente. Espera-se, doravante, que o conservadorismo reflua para o leito da coerência democrática de forma e permitir a reconstrução da unidade nacional. O golpismo, enfim, volta para as páginas da História e abre caminho para o aprofundamento da democracia, pela qual tanto lutaram Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro e Leonel Brizola há 40 anos, revividos em personalidades atuais como Simone Tebet, Marina Silva e G. Boulos. Lula ganhou em nome deles consagrando a importância de eleições diretas à Presidência da República como o melhor sendeiro de nossos destinos. Ele ganhou, porque encarnou e conduziu com competência a criação de um amplo arco de alianças, do PSOL ao MDB, passando por inúmeras siglas intermediárias, que acabou se impondo majoritariamente ao extremismo de direita. Esta grande Frente Democrática enterrou as expectativas da Internacional de Extrema Direita, herdeira do nazi-fascismo, de fazer do Brasil sua sede. Ele próprio, Lula, em seu primeiro pronunciamento, escrito, após a vitória, fez questão de reiterar: “Não foi o PT que ganhou, não foram os Partidos, foi a democracia e a liberdade que ganharam”. Uma vitória não apenas contra Bolsonaro, mas contra uma espúrio acasalamento do oportunismo do que há de pior na Política Nacional - políticos do Centrão, líderes do financismo evangélico neopentecostal mais o saudosismo militarista – com a máquina governamental a serviço deles. Mancomundados, estes pulhas deixam para trás um rombo de 200 bilhões de reais consumidos pelo Orçamento Secreto e Emendas Parlamentares, além da disseminação de bondades eleitorais desenfreadas sem qualquer projeto de seletividade e acompanhamento. Ainda tentarão algum contragolpe, mas sem qualquer sustentação institucional. A “vontade”, como impulso autoritário no contato direto com as massas, com a qual contavam para contrariar a Lei, passou para o coração dos eleitores. Persistirão, também, por algum tempo, manifestando sua intolerância pelo peso que conseguiram no Senado, na Câmara dos Deputados e importantes Estados como São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Mas já não terão a cobertura de um Presidente da República “declassé” que, na planície perderá a capacidade de articular seus interesses, fazendo-se sempre de vítima. Logo ele, que foi expulso do Exército por mau militar, que passou 27 anos na CÂMARA DOS DEPUTADOS “comendo gente” e enaltecendo títeres da ditadura, formando uma corporação familiar com ramificações sospechosas, combatendo as instituições seculares em benefício de um milenarismo de ocasião! Em breve o bolsonarismo, ao contrário do trumpismo nos Estados Unidos, ter-se-á esfacelado em diversas lideranças, cada qual no seu puleiro em busca de notoriedade. Bolsonaro já está só e de nada lhe adiantarão os medíocres filhos cujas carreiras políticas e negócios cresceram à sua sombra. Sequer se pronunciou ontem. Continuará sua catilina antidemocrática contra as instituições, contra a Lei, contra a verdade histórica que já condenou suas ideias retrógradas e autoritárias à lixeira das narrativas. Agora é enfrentar o futuro. Um futuro difícil, numa conjuntura internacional cada vez mais complexa, castigada pelos altos preços da energia e perspectiva de recessão em 2023, num contexto nacional povoado de divisões e feridas profundas. Resta a esperança de um povo forte, incansável e amante da liberdade que ontem deu seu recado: quer avançar em direção a um país democraticamente igualitário, digno de reconhecimento internacional. 


Editorial CULTURAL FM – Programa Bom Dia, Torres – 28 out 2022.


EM NOVEMBRO, IV FAROL LITERÁRIO EM TORRES.


Entre os dias 13 e 15 de novembro Torres sediará o IV FAROL LITERÁRIO, dando sequência à iniciativa de Eduardo Jacques e Joaquim Moncks que o criaram em 2017. O Farol Literário é um evento que pretende, além do encontro de escritores com leitores, incentivar as diversas linguagens literárias e culturais, sobretudo àqueles que almejam espaços alternativos de divulgação de suas obras. Na edição desta ano, cujo Patrono será o poeta Carlos Nejar, membro da Academia Brasileira de Letras e homenageada a poeta Ney Azambuja, estão previstas sessões de cinema com alunos do Marcílio Dias em Torres, e algumas escolas do passo, com vistas a fomentar a criatividade literária dos alunos e apresentar a eles os escritores da cidade. No futuro o FAROL, que contará com o apoio da Universidade de Caxias do Sul para motivar a rede de ensino da região para o uso dos livros de autores locais. Uma primeira iniciativa já deu resultados: A Livraria Superlivros contará com uma estante só com livros destes autores.
O Farol Literá vem crescendo sistematicamente a cada edição, apesar do lapso da pandemia e vem contando, cada vez mais, com autores várias cidades do Rio Grande do Sul , pretendendo, nesta edição, configurar-se como uma Festa Literária de caráter turístico-cultural para para todo o Vale do Mampituba.
O IV Farol está sendo organizado pelo Movimento Torres Além Veraneio, uma ação de autores e promotores da Cultura em Torres voltada à maior atenção governamental às Artes, Filosofia e Artesanato, não só como instrumento da formação da cidadania, como de promoção do turismo na cidade ao longo do ano. O encontro é destinado a escritores, apreciadores da arte, e da literatura em especial, bem como o público em geral. Será aberto no dia 13 , 15 horas, no Auditório da Universidade de Caxias do Sul e terá dois principais focos de debates: O Centenário da Semana de Arte Moderna, motivo de livro recente de Luiz Augusto Fischer, Professor da URGS, presente ao evento, e ECONOMIA CRIATIVA, com a participação do Professor Jorge Piqué, defensor da instalação de Distritos Criativos nas cidades. 


 Editorial CULTURAL FM Programa Bom Dia, Torres dia 27 de outubro 2022.


RETA FINAL NA CAMPANHA ELEITORAL:

Alea jacta est


Alea jacta est , do latim, significa, em português, "o dardo foi lançado", mas é traduzido comumente como "a sorte foi lançada". Isso porque a sorte está nos dados, segundo velha dicção. Ao lança-los, o resultado pertence ao acaso e depende da sorte dos apostadores. Esta frase teria sido dita por Júlio César, antes de atravessar o rio Rubicão em sua ofensiva contra a República Romana , em 11 de janeiro de 49 AC. Teve sorte. Derrotou o exército do General Pompeu, fulminou a República e abriu as portas para o a ascensão do Grande Império Romano. Da palavra alea deriva, também, aleatório, ou seja, um acontecimento ou escolha ao acaso, livre de determinações prévias, termo muito usado em pesquisas de opinião. Pois bem, agora, a campanha eleitoral chega ao seu término, dia 30. Os candidatos Lula e Bolsonaro se esforçaram para apresentar suas ideias e o que representam com seus nomes. Jogam os dados. Cabe agora aos 156 milhões de eleitores decidirem o futuro dos próximos quatro anos: haverá privatização do BB, CEF e PETROBRÁS, no sendeiro do neoliberalismo ou os brasileiros preferirão mantê-los como estão, num modelo que privilegia o Estado como promotor da soberania , da cidadania e do desenvolvimento? Persistirá o comando do Orçamento da União por parte do Centrão no Congresso Nacional, tal como vem ocorrendo, inclusive com o tal de Orçamento Secreto ou os gastos do governo voltarão a se constituir no eixo de uma política de desenvolvimento nacional coordenada pelo Poder Executivo? Continuará a política de armamento da população, como defesa pessoal e contra o Estado, como tem proposto Bolsonaro, que elevou o número de CACs para perto de 1 milhão de brasileiros hoje em armas de grande potencial ofensivo,, como ficou claro no ataque de Roberto Jefferson á Policia Federal ou voltaremos ao Estatuto do Desarmamento? Continuará o salário mínimo , remuneração de 120 milhões de brasileiros, estagnado e até, como propõe Paulo Guedes, desindexado de inflação ou voltaremos à política de sua elevação gradual como forma de redução da pobreza dos trabalhadores? Voltará a Política de Defesa da Amazônia e dos Povos Originários, merecendo o reconhecimento internacional pelos esforços do Brasil para o equacionamento da crise climática ou persistiremos no modelo de Ricardo Sales da “boiada” passando, a floresta queimando e os índios exterminados? Aprovaremos a ofensiva do Poder Executivo sobre o Judiciário, responsabilizando-o pela crise que atravessamos ou procuraremos o caminho da autonomia e independência dos Poderes Republicanos? Retornarão os Conselhos Setoriais Consultivos constituidos na forma da Lei como mecanismo de participação da Sociedade Civil na formulação de Políticas Públicas ou continuaremos apostando nas decisões autocráticas do Estado como tem ocorrido nos anos bolsonarianos? Optaremos por alinhamento das Forças Armadas e de Segurança Pública e Civil a Governos de turno, sob o risco de se constituírem em instrumentos de eventuais tiranias, ou insistiremos no modelo da Constituição de 88 na qual elas se constituem em instituições de Estado? Voltaremos, enfim, a acreditar na democracia, como quer 75% da população brasielira, fortalecendo as instituições como garantia da Lei e da Ordem ou nos alinharemos com os que proclamam que a Terra é plana? 


Editorial da CULTURAL FM / Bom Dia Torres – 25 out 2022
O CAC na teoria e na prática.


O episódio do ataque do ex deputado Roberto Jefferson à Polícia Federal no último domingo traz à tona, novamente, a Política de Armamento Nacional, a única bem sucedida do Governo Bolsonaro, eis que pouco se sabe de sua “obra”, aliás mais voltada à desmontagem do que desenvolvimento de instituições públicas. É também uma área em que ele demonstrou estrita fidelidade ao seu discurso como candidato: Liberação da compra de armas para a população em nome da defesa pessoal e da defesa cívica contra o Estado. Ele o fez: Aumentou o número de pessoas autorizadas à compra de armas de 150 mil para perto de 700 mil, número superior ao contingente das Policias Militares, somando em suas mãos 1 milhão de armas, em grande parte modernas, de alto poder ofensivo. São os Caçadores, Atiradores e Colecionadores – C.A.C. - , hoje fiéis seguidores do Líder que os credenciou, o Presidente Bolsonaro. Número absurdo num país em que a caça é proibida, limitada a certas áreas e períodos, os atiradores, muito poucos, reduzidos a alguns atletas e descendentes de alemães no sul do país aficionados dos Clubes de Tiro e pouquíssimos colecionadores, mais voltados à compra de armas antigas. O que aí está sob o título de CACs , hoje, é uma milícia política, intoxicada por um discurso ideológico radical de suposta defesa da liberdade, na verdade caudatária de consignas de ódio que pouco têm a ver com o ideário democrático fundado no princípio da tolerância e respeito ao “outro”. Um detalhe: Não fosse o veto do Ministro Facchin, STF, ao último decreto armamentista de Bolsonaro, o número de armas nas mãos deste segmento saltaria para 43 milhões. Um exército, armado nas vizinhanças de nossas residências e capazes de loucuras como a perpetrada por Roberto Jefferson. Diante disso, é se se perguntar: O que dizem as Forças Armadas? Parece que nada. Hoje estão sob a tutela de superiores alinhados à ideologia do Presidente, cuja reeleição seria, aparentemente, uma garantia contra o banheiro unissex, a perseguição às Igrejas Cristãs, o empoderamento das mulheres e a disseminação de cultos diabólicos. Oressa! Tudo intoxicação ideológica, como afirma o Ex Ministro do STF, Joaquim Barbosa, responsável pelo Mensalão em 2006, a propósito do processo a que os evangélicos vêm sendo submetidos.
No caso de Roberto Jefferson, a Lei determina que seu arsenal de CAC deveria ter sido desativado. Mas o Glorioso Exército Brasileiro estava preocupado com as urnas eletrônicas...
Os CACs se somam ao enaltecimento por pastores evangélicos radicais em recente Conferência Global, como afirma Carlos Russo Jr. , do Espaço Literário Marcel Proust, da construção de um Estado Teocrático no Brasil, espécie de Estado Islâmico que acabaria com a laicidade republicana decretada em 1890 como uma das primeiras medidas do Presidente Deodoro da Fonseca.
“A dita Conferência Global 22, que reúne bispos e pastores pops em Brasília, institui-se como “Profeta do Senhor” ao anunciar um país refundado em valores “ditos cristãos”, a partir de 30 de outubro!
Perfilados na trincheira bolsonarista e com o lema "Deus, Pátria, Família e Liberdade", os autodenominados profetas de deus bradam contra progressistas, ideologia de gênero e degradação dos lares, males que associam ao petismo e às instituições democráticas.
Abertamente seus anseios são por uma DITADURA TEOCRÁTICO- MILICIANA, onde possam enriquecer ainda mais e espraiarem ainda mais seus dóceis rebanhos!
Por isto se faz urgente que apendamos com A PRIMEIRA DITADURA TEOCRÁTICO- MILICIANA, que por vinte e cinco anos sufocou e destruiu a cidade que era a mais democrática e liberal de toda a Europa: Genebra.
Convidamos à leitura em: https://proust.net.br/a-ditadura-teocratico-miliciana-sonho-do-evangelismo-monetario-licoes-da-historia-para-sua-derrota/”

Tudo muito preocupante. Ameaçador à democracia defendida por 75% dos brasileiros. Perigoso.
Desabafa um observador desolado: Rá, rá, rá, tá tudo dominado... 


 

EDITORIAL CULTURAL FM /Bom Dia Torres – A REVOLUÇÃO ELETRÔNICA NAS CAMPANHAS - Dia 24 outubro 2022.


Chegamos à ultima semana das eleições com duas características: Pequena diferença entre Lula e Bolsonaro, pouco superior, a favor de Lula, à margem de erro das pesquisas, e uma disputa acirrada entre os concorrentes pelos 6% que ainda estão de indecisos. O ataque de Jefferson a policiais deverá estar no centro da propaganda gratuita na semana. Preocupado, Bolsonaro, a princípio cuidadoso com o aliado, tratou, depois de sua prisão, assistida incompreensivelmente pelo Ministro da Justiça por determinação do Presidente da República, livrou-se de Jefferson acusando-o de bandido. Preferiu ficar do lado dos policiais. Jefferson, idoso e mal de saúde, deverá apodrecer isolado na prisão.
Por trás do confronto LULA X BOLSONARO está se travando, porém, uma disputa de formadores de Opinião entre já velhas Mídias , TV, principalmente, Globo em especial, com as REDES. Este operam como os mísseis contemporâneos: Cirurgicamente. Mapeiam multialvos e os atacam com diferentes mensagens, o que exige não só imensa capacidade técnica, altamente onerosa, como tempo de planejamento, hoje articuladas internacionalmente sob o sob a égide da extrema direita. Aliás, Bolsonaro e o filho Carlos terão que se manifestar junto ao TSE sobre o Gabinete do Ódio supostamente instalado no Palácio do Planalto e fonte do disparo de fake News o que, em tese, poderia levar, até, à cassação da chapa presidencial Bolsonaro. Essas técnicas e procedimentos vêm de longe:

Esta verdadeira revolução nos processos de formação da Opinião Pública começou no BREXIT, continuando com a eleição de TRUMP nos EEUU em 2016 e Bolsonaro em 2018, agora reeditada com grande eficiência e alcance. As velhas campanhas eleitorais, inclusive a própria próprias propagandas gratuitas na TV cedem terreno para as detonações de mensagens nas Redes, sem que o Tribunal Superior Eleitoral consiga contê-las. Sem estrutura adequada para este controle acaba improvisando ações que vão da identificação de fake News, isto é, notícias falsas, passando pela proibição de divulgação de matérias descontextualizadas, até a tentativa de detectar uma suposta desordem informacional nas Redes. A maior parte, porém, da guerra de informações está sendo travada pelo Whats app, fora do alcance do TSE, demonstrando o fracasso do Poder Público em garantir uma livre e saneada circulação de ideias junto á Opinião Pública. De resto, preocupa a intervenção do Estado à liberdade de opinião e informação sem uma devida regulamentação que assegure a presença da Sociedade Civil neste processo.
Segundo pesquisa do NetLab, da UFRJ, em uma amostra de 95 links, foram identificadas 37 publicações (38,95%) classificadas como desinformação por checadores de fatos.

O ex-presidente Lula terá 340 comerciais de televisão a mais do que Jair Bolsonaro na reta final da campanha, após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que condenou a campanha do presidente a conceder 184 direitos de resposta para o petista.
Como registramos, a ministra Maria Bucchianeri entendeu que a campanha de Bolsonaro veiculou fatos sobre Lula “sabidamente inverídicos por descontextualização”. Ela mencionou propagandas que associavam o ex-presidente ao crime organizado, ao afirmar que o petista io mais votado em presídios.
Em contrapartida, a campanha bolsonarista conseguiu apenas 14 comerciais após os petistas veicularem propaganda com “grave descontextualização aviltante a imagem do candidato à reeleição Jair Messias Bolsonaro.”
Por essa razão, das 225 inserções que Bolsonaro teria na televisão na reta final da campanha, ele ficou com apenas 55 inserções. Já Lula terá direito a 395 propagandas às vésperas do segundo turno.
Após decisão do TSE, Lula terá 340 comerciais a mais que Bolsonaro - Redação O Antagonista - 20.10.22 13:27
Dos 225 comerciais que Bolsonaro teria na televisão na reta final da campanha, ele ficou com apenas 55. Já Lula terá direito a 395 propaganda


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Notícias do Pacto pela Democracia - [ERRATA] N. 213| 20 de outubro de 2022
Enviamos a edição de hoje (20) da newsletter do Pacto pela Democracia sem os links das referências do bloco sobre as medidas contra a desinformação que estão sendo promovidas pelo Tribunal Superior Eleitoral e pela sociedade civil durante o segundo turno eleitoral. Dada a relevância e novos desdobramentos sobre o tema, reenviamos o boletim desta quinta-feira em formato de edição especial com foco nas notícias falsas e nas ações para combatê-las nestas eleições.
Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovaram na manhã de hoje (20) uma resolução para proibir a propaganda eleitoral paga no período de 48h antes e 24h após o segundo turno. Na mesma reunião, o tribunal também aprovou uma resolução para dar mais agilidade ao processo de retirada do ar de fake news.
Nesta quarta-feira (19) o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, recebeu representantes das plataformas de redes sociais e afirmou que a atuação contra a desinformação no segundo turno está desastrosa. No mesmo dia, o tribunal determinou que o grupo Jovem Pan conceda direito de resposta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em razão de declarações consideradas distorcidas. Na terça-feira (18) o corregedor geral eleitoral, Ministro Benedito Alves, intimou o vereador Carlos Bolsonaro a se manifestar sobre o uso político eleitoral de seus perfis nas redes sociais e determinou que o YouTube desmonetizasse quatro canais que disseminavam notícias falsas. Essa análise compila os acontecimentos e ações por parte do TSE nos últimos dias.
Em entrevista, o diretor do ITS Rio, Carlos Affonso Souza, trata de como conteúdos que misturam informações reais e falsas e fora do contexto explodiram durante o segundo turno eleitoral. A pesquisadora Letícia Cesarino tratou sobre as estratégias do "populismo digital", ou a nova modalidade de disseminação de mensagens populistas através de uma guerra nas redes sociais. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) lançaram uma cartilha com 23 impactos das fakes news e da desinformação sobre as políticas públicas.

 


“UM PAÍS SE FAZ COM HOMENS E LIVROS”; não com homens em armas!

Paulo Timm – Publ. A FOLHA, Torres RS – Dia 21/28 outubro 2022.


Aproximando-se a suposta Feira do Livro em Torres, pois não é propriamente Feira, anunciado o IV FAROL LITERÁRIO DE TORRES e I FESTA LITERÁRIA DO VALE DO MAMPITUBA, de 13 a 15 de novembro próximo, ocorre-me trazer à tona textos de dois bons escritores da cidade: Solange Carlos Borges e Jorge Saes. Diz a letra de uma velha canção de Noel Rosa, na qual afirma o valor ético e estético do morro que, “em Mangueira, quando morre um Poeta, todos choram”. Poeta não é aquele que faz versos, mas aquele que vive como Poeta e ainda faz versos, escreve crônicas, romances e letras de música, debruça-se sobre a Arte e para ela vive, encantando e inquietando coevos e pósteros. Torres deveria conhecer mais seus comoventes “malditos”. (No último dia 20, alás, foi nosso dia: O DIA NACIONAL DO POETA). Ei-los:
Solange Carlos Borges :MOMENTOS
Um marasmo toma conta de meu corpo e dos meus sentimentos. Meu cérebro não consegue lutar e vencer o que esses tempos estranhos fazem com o Planeta, com pandemias e guerras. Pandemias e guerras sempre existiram. Sou parte desse Universo e tudo o que acontece atinge a todos. Muito mais ainda aos de extrema sensibilidade. Meu caso, embora não pareça. Minha aparência não mostra o que tenho por dentro. Uma palavra, um gesto, um descuido, um humano deitado na calçada, mães com crianças no colo pedindo esmola, são motivos para o desconforto e a descrença que tudo pode mudar nesse mundo onde o poder e a fortuna são prioridades.
Nessa manhã de estranha primavera, uma chuva fina cai e, daqui da janela, vejo a cortina feita de gotinhas finas molhar as árvores que ainda vivem na minha quadra. Eram mais, restam poucas. Uma delas está com os dias contados. Assim como eu e outros velhos que ainda restam e habitam aqui na minha quadra. Amém.

Jorge Saes : SINESTESIA.
Num pequeno gesto, num gosto, cheiro, odor, perfume, uma flor: a transposição.
Um música, uma dança, um olhar, tudo pode nos reconduzir para algum lugar, para um momento, um passado, mas muito presente no aqui e no agora.
Alphonsus de Guimaraens, disse assim:
"Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma
Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce...
Oh sonora audição colorida do aroma!"
Tudo é muito sinestésico.
O sinestésico pode ouvir o gosto de um amanhecer e estar lá, presente, sentado na areia da praia encontrando-se, ainda, sob lençóis.
Transporta-se, sem hiatos, entre dois mundos:
O mundo real e o mundo ideal, o que elege para viver "lúdicos" momentos, acreditando estar lá, muito vivo e presente.
Quais desconhecidas sinapses em nossos neurônios fazem cooptar esta descarga de memórias e recordações com extrema fidelidade de cores, aromas, sons, ambiência e sentimentos?
No livro "Em Busca do Tempo Perdido", Marcel Proust, utiliza imagens idênticas quando seu herói, na degustação de um simples bolinho mergulhado em uma xícara de chá, faz renascer a cidade dos seus sonhos, ou então, em seu outro dizer:
"para abrir os olhos e fixar o caleidoscópio da escuridão e saborear, graça a um lampejo momentâneo de consciência, o sono em que estavam mergulhados os móveis, o quarto..."
...
Uma amiga, esposa e um grande amigo, ao ouvir a música Hojas Secas, e ver o vídeo onde dançarinos faziam evoluções, que postei no Facebook, telefona-me para agradecer e relatar ter conseguido transportar-se à Cidade de Jaguarão-RS., no Teatro Esperança, em tenra idade, quando lá se apresentava compondo um corpo de balé, ao som desta melodia, enquanto folhas secas de árvores eram derramadas sobre os dançarinos envolvidos pelo som que violinos faziam chorar em harmônicas notas musicais.
Viu, ouviu, sentiu, reviveu.
Seus pés, em posição, executaram demi-plié, arabesque, passé e rodopiou, sem tempo nem espaço, no compasso de um coração e de uma saudade.
Sinestesia: "relação que se verifica espontaneamente (e que varia de acordo com os indivíduos) entre sensações de caráter diverso mas intimamente ligadas na aparência (p.ex., determinado ruído ou som pode evocar uma imagem particular, um cheiro pode evocar uma certa cor etc.

 


 

Editorial– Cultural FM Dia 20 de outubro de 2022 – BOM DIA, TORRES!

O terremoto eleitoral de 2022.


Vivo eleições nacionais desde 1950 quando Getúlio Vargas venceu a disputa para a Presidência contra o Brigadeiro Eduardo Gomes e retornou ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então capital do país. Até soube, pelos livros, das distantes eleições de 1945, recém nascido que fora naquela cidade, sobreano, onde meu pai, militar, fazia curso para ascensão na carreira. Já meninote, em Santa Maria, em 1950, guardo na memória, ainda que vagamente, um comício de Getúlio na Praça Saldanha Marinho e, mais viva nestas profundezas do tempo, a correria de meninada na cata – Pasmem! - de cédulas de um pila lançadas por um aviãozinho a serviço da candidatura Ademar de Barros, um rico político paulista cujo lema era “Desta vez vamos!”. Foi várias vezes candidato, nunca conseguiu...Naquela época a disputa já era tensa entre esquerda x direita. O Partido Trabalhista Brasileiro – PTB – , criado por Vargas, à esquerda, era uma espécie de estuário para onde confluíam nacionalistas, reformistas, social democratas e até comunistas, pois estes eram proibidos de se organizar. A profundidade do confronto pode ser percebida nas palavras de um brilhante líder da direita, Jornalista Carlos Lacerda, que bradava: “ O Senhor Getúlio não deve ser candidato, se for candidato não deve ser eleito, se for eleito, não deve tomar posse, se tomar posse não pode governar”. Repetiria o refrão em 1955, quando o candidato à esquerda foi Juscelino Kubitscheck. Nas duas eleições, sempre com o veto dos militares, os vencedores ganharam as eleições, tomaram posse e governaram, embora Vargas, mercê das pressões, tenha se suicidado antes do fim do mandato. Em 1955 – e aí minha memória já é mais nítida - , novamente, o embate tinha caráter ideológico claro: direita x esquerda, mas o candidato, desta vez, era mais moderado, filiado a um Partido tipo MDB, denominado Partido Social Democrata- PSD -, de grande penetração no interior, mas apoiado pelo PTB que indicou seu vice, o ex Ministro do Trabalho de Vargas, que havia aumentado o salário mínimo em 100% um ano antes, garantindo-lhe grande popularidade nas grandes cidades. O Brasil naquele tempo tinha menos de 60 milhões de habitantes, a imensa maioria ainda no campo. As cidades ainda guardavam o clima de algumas décadas atrás, com forte presença da classe média, cujo protagonismo se estendeu até os anos 1970. Deste ano até o ano 2000 saltamos, saltamos de 90 milhões para 190 milhões, fruto de uma explosão demográfica inusitada que esvaziou o campo e inundou as cidades transformando-os no espectro míseero-metropolitano que só se agravaria nas duas últimas décadas. Mas em 1955 ainda era um suspiro progressista que animava candidaturas que prometiam democracia e desenvolvimentismo industrial. Já em 1960, porém, veio o primeiro aviso de que elas começavam a mudar sua fisionomia e comportamento político ao incorporarem o barracão do coronelismo rural para seu cotidiano urbano. Houve eleições gerais de novo e, desta vez a direita, tendo aprendido a lição, no que seria definido por um dos mais lúcidos de seus líderes na época, pertencente à União Democrática Nacional – UDN - , como um porre cívico, elegeu Jânio Quadros. Mas, paradoxalmente, como a eleição para vice era separada da de Presidente, o mesmo Jango, vice de JK, pelo PTB, elege-se para Vice. Tensão e colapso à vista que veio à tona no dia 15 de agosto de 1961, aos sete meses do governo, quando Janio renunciou e os militares impediram sua posse, acusado de estar mancomunado com comunistas...Salvou-o e salvou a democracia a Campanha da Legalidade liderada pelo Governador Leonel Brizola num dos momentos mais dramáticos da vida nacional. Os militares eram confrontados por um político. Tensão e ameaça de guerra civil da qual participei, crendo-me adulto pelo só fato de vestir uma farda do Exército e portar um fuzil na guarda de um canhão anti-aéreo na Redenção. Felizmente, não precisei dar nenhum tiro. Não chegamos nem a Itararé, quando, em 1930, houve um confronto branco entre as forças revolucionárias de Vargas e as forças legais. Jango toma posse num acordo mediado por Tancredo Neves sob regime parlamentarista. Pretendia-se neutralizá-lo, Mas tudo desmoronaria antes do fim do seu mandato: o golpe militar de 31 de março de 1964.
Tensões, crise e desafios, portanto, nos acompanham desde 1930. Os militares, mais uma vez, desafiam o Poder Civil ao imiscuir-se no processo eleitoral do lado de Bolsonaro e chegam ao cúmulo de falar em risco de “inconsistência” se liberarem o que dizem ter sido uma avaliação das urnas eletrônicas. Agora, porém, a sociedade brasileira é mais complexa e grande parte de suas instituições civis, como Imprensa, ONGs, Associações Religioosas como CNBB, além da Academia, já não aceitam passivamente as insinuações golpistas. Mas, dada a própria complexidade do país, há fatores novos de sustentação destas posições, dentre elas o reacionarismo das denominações evangélicas, a dispersão do universo do trabalho com a uberização, a dissolução dos laços que interligavam trabalhadores urbanos em sindicatos, bairros operários, a nova ideologia do CADA UM POR SI , DEUS POR TODOS, típica de modernidade líquida. Não há risco de guerra civil, pois as Forças Armadas são , como gostam de dizer: Unidas e Coesas. Mas temem-se movimentos tectônicos da sociedade capazes de produzir vítimas.

 


Editorial – O DEBATE BANDTV – Cultural FM – Dia 17 outubro
Análises
Quem ganhou? Colunistas avaliam embates entre Lula e Bolsonaro
• Veja comentários sobre o debate em VÍDEOS

 


Pastor evangélico diz que fiéis estão migrando para Lula após fala de cunho pedófilo de Bolsonaro


"Pastor, você tinha razão, ele não é de Deus. Agora vou votar em Lula", admitiram fiéis ao pastor Paulo Marcelo, escolhido pelo PT para intermediar diálogo entre Lula e os cristãos

Leia mais em 247

 

Youtube remove entrevista com fala de cunho pedófilo de Jair Bolsonaro

https://www.brasil247.com/regionais/brasilia/bolsonaro-escala-michelle-e-damares-para-apagar-incendio-apos-fala-pedofila?utm_source=mailerlite&utm_medium=email&utm_campaign=as_principais_noticias_desta_noite_no_brasil_247&utm_term=2022-10-16
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Faltam 13 dias para as eleições do segundo turno. Acirra-se a campanha com denúncias de fake News nas redes, levando o TSE a determinar o corte de várias delas, bem mais do lado de Bolsonaro do que do lado de Lula. Neste campo, há até um certo constrangimento pela ação deletéria do influencer Janones, já ameaçado também pelo Presidente da Câmara de ser submetido, por isso, ao Conselho de Ética daquela Casa. Ele, entretanto, rebate dizendo que há que lutar com as armas que estão postas no cenário da guerra de narrativas.
As pesquisas das semana passada confirmam a estabilidade que é uma das características destas eleições: Lula em torno de cinco pontos à frente de Bolsonaro. Lula mantém vantagem significativa no Nordeste, empata com o oponente no Norte e perde no Sul , Sudeste e C.Oeste. Nestes, o centro nevrálgico das decisões, pelo número de eleitores – 43%, é o Sudeste, especialmente Minas Gerais, único lugar onde Lula venceu no primeiro turno. Junto com SPaulo e Rio, os Governadores eleitos, bolsonarista, se esforçam para aumentar a dianteira de Bolsonaro, compensando o Nordeste. Aparentemente, isso não vem dando resultado. Lula mantém razoável vantagem.
Ontem, os candidatos debateram na BANDEIRANTES. Três rounds. No primeiro, Lula atacou com a pandemia e constrangeu Bolsonaro, que entrou desconcertado no debate, afetado pela campanha que o acusa de pedofilia ao comentar, em encontro com jovens menores venezuelanas, que “pintou um clima”. Lula evitou explorar o assunto, trazido à tona, em tom de vitimização, pelo próprio Bolso. No segundo embate, mais equilibrado, houve, segundo analistas, empate técnico em termos de “domínio de bola e gols” dos contendores. No terceiro, Bolsonaro mais centrado, atacou Lula com o tema corrupção, assunto sempre vulnerável ao petista. Ao final, porém, a avaliação feita pela ATLAS, deu vitória a LULA:
Pesquisa qualitativa Atlasintel entre eleitores que não votaram em nenhum dos dois no primeiro turno. Lula venceu o debate da Band com 52,6 % Bolsonaro 31,6% não souberam responder 15,8%. Ele teria influenciado mais os indecisos pela postura mais de estadista tocando tema de interesse nacional enquanto Bolsonaro insistiu na catilinária da extrema direita sobre costumes. Ressalte-se, no entanto, o caráter, embora tenso do debate, que teve seu momento culminante na aproximação física de Bolsonaro sobre Lula, chegando a lhe tocar o ombro, atitude por este civilizadamente repudiada, civilizado. Tudo indica que terá ajudado os indecisos, última reserva de votos a ser disputada, visto a firme determinação dos eleitores quanto a cada um dos concorrentes. Tal convicção, aliás, foi confirmada em outra Pesquisa com os eleitores de cada um deles que indagou sobre a razão da escolha: Em ambos os casos, em torno de 80% afirmam que por reconhecer, em Lula e em Bolsonaro, o melhor candidato. O voto “contra”, enfim, é francamente minoritário, embora maior por parte dos que votarão em Lula contra Bolsonaro, provavelmente em função da adesão de Tebet e pedetistas. Isso demonstra, aliás, que não é a rejeição que está determinando o voto nesta eleição, mas a ESCOLHA propriamente dita do eleitor, demonstrando, talvez, que Bolsonaro tenha ultrapassado o mero caráter anti-petista que o identificara em 2018 para se converter no novo líder da direita no país, soterrando, portanto as lideranças do PSDB e do próprio NOVO, cujo nome mais conhecido, Amoedo, aliás, já declarou voto em Lula. Bom para o Bolsonaro, ruim para o sistema político que perde “centralidade” e se alia às correntes extremistas de direita que despontam no mundo inteiro: Turquia, França, Itália, Estados Unidos com Trump, Hungira , Suécia e para aguns, o próprio Putin, visto com bons olhos por todos os citados. Daí a preocupação da Igreja Católica, expressa por D.Odilo, Arc. SP sobre o risco do fascismo no Brasil.
Dom Odilo Scherer posta reflexão sobre brigas políticas, sofre ataques e alerta para 'ascensão do fascismo'- https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/10/16/dom-odilo-scherer-posta-reflexao-sobre-brigas-politicas-sofre-ataques-e-alerta-para-ascensao-do-fascismo.ghtml


O QUE É A DEMOCRACIA?
Paulo Timm – Publ. A FOLHA, Torres RS – 13/20 outubro 22

Por que votamos em Hitler (Alemanha, 1932) – EL PAÍS
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/06/opinion/1538852257_174248.html


A poucos dias das eleições do segundo turno que deverá decidir sobre o Presidente da República, estratégicas no regime democrático, vale indagar: Afinal, o que é a democracia? Lincoln tinha uma fórmula simples: “A democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo.” Será mesmo?
Importante lembrar que essa ideia de chamar o povo para participar de decisões que concernem a interesses públicos, tal como ir ou não à guerra, aumentar ou não impostos, construir ou não um aqueduto, vai acontecer, justamente na Grécia Antiga, pulverizada em Cidades Estado, com relativa autonomia e já reguladas pela Lei. O termo Política deriva, precisamente, da palavra grega polis, cuja tradução é cidade. Para eles a cidade era objeto de tal veneração que exigia a virtude da participação de todos para sua adequada administração. Verdade que escravos, estrangeiros e mulheres não participavam deste processo, mas aí reside a primeira resposta à indagação sobre o que é a democracia: Um ideal universal. Trata-se de uma maneira secular das Nações escolherem seus dirigentes em substituição â tradição que se inspirava no sangue azul de intermediários divinos como gestores da coisa pública. A democracia é laica e não admite recursos de ordem religiosa em sua consecução. Neste processo, há um longo itinerário para a transformação do ideal em instrumento eficaz de gestão. Na Antiguidade, o grande filósofo Platão, discípulo de Sócrates, debruçou-se sobre este desafio a partir do conceito de Justiça num livro clássico, “A República”. Nele trata da tirania, da oligarquia, da democracia, sobre a qual aponta tantos riscos, dentre eles o uso da retórica sofista por demagogos, que acaba optando pela utopia dos governantes filósofos. Estes teriam o conhecimento e o desprendimento indispensáveis na promoção da Justiça. Os tempos, porém, acabariam preferindo o voto direito, secreto e universal como o melhor dos caminhos. .
Em termos ideais, a democracia exige, em primeiro, lugar, uma Nação organizada com respeito à Lei, como o instrumento através do qual se substitui o direito da força pela força do Direito cristalizado em instituições e guarnecido pelo Estado em sua elegantíssima trindade autônoma e independente em cada um de seus poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, este como guardião da Lei. Tal distinção e divisão de Poderes são indispensáveis para a limitação da esfera da soberania absoluta de qualquer deles, tal como a rotatividade periódica dos eleitos. A Lei Maior é a Constituição.
Em segundo lugar, a democracia exige, para seu aperfeiçoamento que todos os alcançados pela ação do Estado participem, sem constrangimentos, do processo de organização para escolha de seus dirigentes e no qual os candidatos, desde que cumpram os requisitos da cidadania, obedeçam, na sua concorrência, a mais perfeita equidade. Aqui cumpre decisivo papel a consagração da Doutrina dos Direitos Humanos como todo unitário e indissolúvel de direitos individuais, políticos, sociais e culturais indispensável à consolidação da Sociedade Civil em sua relação dialética com o Estado.
Em terceiro lugar, para seu aperfeiçoamento, a democracia exige um sistema perfeito de comunicação social entre todos os membros da sociedade, para o qual tanto os eleitores, polo subjetivo da opinião pública, tenham todas as condições para absorver e avaliar as propostas, quanto os emissores das mensagens, sobretudo os meios de comunicação, respeitem todo o espectro ideológico da sociedade. Um elemento novo na formação de opinião pública é o advento das Redes Sociais, as quais veem se somando crescentemente aos tradicionais meios de comunicação de massa, jornais, rádios e TVs, a partir de plataformas individuais da Internet. Se estas redes democratizaram a produção e circulação de ideias estas acabaram universalizando o reino da opinião pessoal. Com isso, a aldeia tecnológica global transformou-se numa projeção escatológica da Cidadezinha Qualquer de Drummond: O Reino do senso comum. Como diz a agora Senadora eleita pelo DF, Damares Alves: “Publico o que ouço nas conversas de rua”. Não por acaso, disseminou-se a ideia de que a Terra é plana, chegando, inclusive, isso, gerado a expressão “terraplanismo” como sinônimo de vulgaridade. No Brasil, os ditos influencers, muitos deles jovens de pouca formação e que palpitam sobre complexos problemas chegam a ter milhões de seguidores. Como contrabalançar este processo com recursos do bom senso e do senso crítico? É verdade que as livrarias também estão lotadas com muita literatura de baixa qualidade mas a diferença é que as redes a disseminam com maior rapidez a alcance.
Outro fator que vem se somando à crise das democracias é o sucesso nas urnas das celebridades, sejam elas do big-business, dos esportes, dos palcos e passarelas ou até dos meios de comunicação. No Rio Grande do Sul tivemos dois Senadores, já sem mandatos, sem qualquer ativismo na vida pública, eleitos pelo só fato de terem aparecido durante anos na telinha da RBS. Ora, tudo isso são distorções que dificultam o avanço da democracia. Sem falar, claro, no fato de que candidatos ricos, com capacidade de despejar recursos próprios nas eleições, acabam tendo maior chance de sucesso do que aqueles sem dinheiro.. Nas últimas décadas, enfim, de forte concentração de renda no mundo, globalização da economia com decadência de países e regiões industriais inteiras, precarização do trabalho mesmo em economias centrais, os obstáculos ao ideal democrático vão crescendo de tal forma que grande parte dos eleitores se desencantam com a democracia e acabam optando por opções autoritárias, nas quais tanto podem despontar o fascismo, quanto, de uma hora para outra. irrupções revolucionárias tais como as “Primaveras”. Sobreviverá, então, neste contexto de adversidades, o ideal democrático? Ou os carismáticos ditadores lhe tomarão as rédeas apostando numa relação direta com as massas ensandecidas? Ou os carismáticos ditadores, como Hitler, lhe tomarão as rédeas apostando numa relação direta com as massas ensandecidas?

 


 Paulo Tim: Editorial – CULTURAL FM dia 5 de outubro: “Direita, volver!”
Extrema Direita :Centrão - PP 58 + bolsonaristas (PL/76 + Republicanos /44+Novo/8 +PTB/4 – PSC/8)= 182
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Centristas Conservadores : / UNIÃO BR/51 = / PODEMOS 11/ MDB 42/ PSDB 24 / CIDADANIA 07 / PSD 46//SOLIDARIEDADE/ 8 -PATRIOTA/6 – PROS /4 – AVANTE/6 - PATRIOTAS/5 = 236
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Centro Esquerda : PT/ 42 +PCb/8 +PV/4 - PSOL/8 + REDE/2 PSB/ 14 – PDT/ 17 = 95

TOTAL – 513 deputados federais

Fechadas as urnas, declarados os vencedores, abundam, agora, as avaliações do processo eleitoral cuja primeira fase encerrou-se no…
[14:29, 05/10/2022] Paulo Tim: OLHA O QUADRO NO INÍCIO é uma espécie de epígrafe. Talvez o jeito de destacar seja colocar assim:
[14:29, 05/10/2022] Paulo Tim: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
[14:30, 05/10/2022] Paulo Tim: Extrema Direita :Centrão - PP 58 + bolsonaristas (PL/76 + Republicanos /44+Novo/8 +PTB/4 – PSC/8)= 182
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Centristas Conservadores : / UNIÃO BR/51 = / PODEMOS 11/ MDB 42/ PSDB 24 / CIDADANIA 07 / PSD 46//SOLIDARIEDADE/ 8 -PATRIOTA/6 – PROS /4 – AVANTE/6 - PATRIOTAS/5 = 236
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Centro Esquerda : PT/ 42 +PCb/8 +PV/4 - PSOL/8 + REDE/2 PSB/ 14 – PDT/ 17 = 95

TOTAL – 513 deputados federais


 

EDITORIAL CULTURAL FM – DIA 4 OUTUBRO
CULTURA, FORMAÇÃO E EXPOSIÇÃO DA ARTE TORRENSE
Coluna de Fausto Jr - Jornal A FOLHA - Torres - RS - Brasil

3 de outubro de 2022
POR FAUSTO JÚNIOR
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A audiência pública sobre a situação da Cultura em Torres – promovida pela Câmara dos Vereadores nesta semana – mostrou o lado de vários ATORES de cultura da cidade. Eles querem que a cidade dê espaço (subsidiado ou gratuito) para que a arte local tenha fôlego de caminhar para poder mostrar seu trabalho, assim como (e principalmente) para exercitar as artes, para que artistas bons apareçam e consequentemente possam mostrar e vender seu trabalho para sustento – e em nome da cidade, o que é um ciclo virtuoso de ação.
A arte é um dos setores que mais têm capacidade de ajudar um local a definir sua identidade, ter seu conceito com suas diferenças, se destacar e até se vender para fora (TURISMO) por conta desta diferenciação cultural. O artesanato, a música, a gastronomia, o legado histórico, dentre outras formas diversas de arte, podem ser a marca de uma cidade, de um estado ou país.
No turismo isto se chama de Turismo Cultural. Em Salvador da Bahia, por exemplo, as pessoas saem de lá com as fitinhas de Nosso Senhor do Bom Fim, com instrumentos utilizados na Capoeira, com sandálias e sacolas de couro cru. E lá não deixam de comer um Acarajé, um Abará, um Vatapá, além de sentir o apimentado forte que os locais utilizam nestas iguarias. Além do carnaval de rua atrás do Trio Elétrico…
Se falarem em Salvador em todo o mundo, as pessoas vão ligar a cidade diretamente a estas coisas, muito provavelmente.
Trabalhar o Turismo Cultural em Torres seria uma forma de acionar as forças artísticas locais para que se qualifiquem, a ponto de criarem diferenciais competitivos reais para serem “consumidos” pelos turistas. Se houver qualidade, pessoas vão vir para Torres para, dentre outros quesitos que já são diferenciais turísticos (como a natureza, a infraestrutura urbana e a boa estrutura viária), também para apreciar mostras de artesanato, mostras de músicos locais, pratos típicos locais – como já é a Casquinha de Siri e etc. E isto pode fomentar as coisas dos dois lados: as pessoas turistanto aqui, fomentando que os moradores se especializem mais ainda em suas artes prestigiadas pelos visitantes. E os moradores se especializando, por sua vez, fomentam a vinda de mais turistas na busca do consumo da Cultura Viva local.

CULTURA ENSINADA, LOCALIZADA, DIFERENCIADA
Uma forma de fomentar a Cultura de algum lugar é colocar as especificidades da cultura local no ENSINO dos alunos, tanto no 1º grau, mas principalmente no segundo grau. Proporcionar aula de violão, piano, flauta e outros instrumentos para quem se interessa por isso já nas escolas seria uma forma dos alunos verificarem se levam jeito ou não para estas arte, se motivarem. Isto seria interessante também em artesanato, em teatro (dramaturgia) e etc. E utilizar coisas já feitas na cidade como exemplos poderia fomentar mais ainda que as artes e os costumes locais possam se multiplicar mais, ajudando a fortalecer a identidade própria em Torres.
Cadeiras e bolsas de palhas daqui, entalhes de madeira para aproveitar a rusticidade que a vida à beira mar sugere, fomentar aulas de música (incluindo o reggae, que também é uma batida característica de locais tropicais no mundo), fomentar a elaboração de pratos com alimentos de produção local, como casquinha de siri, rosca e tapioca com a mandioca local, sorvetes de açaí daqui e etc. Inclusive, fabricar mais sorvetes (no verão) em Torres poderia funcionar como funcionou a fabricação de chocolates (no inverno) em Gramado. Cerveja local, produtos derivados do açúcar (cachaça, rapadura, melado, puxa- puxa, pé de moleque e etc.) também poderiam ser avaliados como plataforma para a arte da culinária local.
A prefeitura poderia subsidiar a formação de escolas deste tipo de arte aos moradores junto ao SENAC, ao SEBRAE, ou outros. Um projeto do tipo já está sendo impulsionado pela municipalidade, inclusive. Mas um Centro de Cultura de Torres – com teatro e espaço para mostras e para oficinas de arte – seria o começo de tudo isto.
Um Mercado Público – para que produtores e artesãos locais mostrassem e vendessem suas produções – também poderia servir como um marco, como o que existe em Salvador da Bahia, por exemplo. Uma ideia da coluna.
Banheiros públicos no inverno
O vereador de Torres Silvano Borja Indicou para que a prefeitura tome providências no sentido de colocar um banheiros públicos, na Praia Grande, em frente ao Dunas Hotel.
O vereador defende que se trata de um local muito frequentado diariamente por quem costuma ver o mar e tomar chimarrão. E que, além destes, há também aquelas pessoas que fazem caminhada no calçadão que tem ali um ponto de apoio. O Contêiner/banheiro sugerido, para o vereador dará uma qualidade a mais neste local de recreação e descontração da cidade.
Pode ser… Mas por que não ficar na Praça da Prainha, como de costume ?
SANSÕES FORTES… ESTE É O CAMINHO
O vereador Cláudio Freitas, por sua vez, formalizou pedido de providências para que sejam colocadas pedras ou contenção no “Caminho da Santinha” para que os carros e motos não passem no Calçadão da Praia da Cal, local que dá acesso a Grutinha do Morro do Farol. É que neste final de semana filmaram uma SUV passeando no caminho e insistindo em continuar.
Acho que deve haver SINALIZAÇÃO, com comunicação de multa e sanção aos motoristas que infringirem a lei. Atualmente podem-se verificar as placas dos veículos e utilizar filmagens de câmeras para provas. Colocar pedras e obstáculos atrapalha os pedestres e ciclistas, além de depreciar a vista dos caminhos à beira mar.

 


EDITORIAL CULTURAL FM = Impressões sobre os resultados inspiradas numa nota do Professor FGV Guilherme Casarões – CULTURAL FM – Dia 3 outubro
1. Institutos de pesquisa terão que se reinventar. A divergência dos resultados, sobretudo estaduais, mostram uma dificuldade enorme de capturar a preferência do eleitor, sobretudo do chamado bolsonarismo envergonhado. Grande ausência nas urnas, que poderá ter sido causada pelas longas filas, mas baixos índices de voto nulo e em branco, acusando maior vontade dos eleitores presentes em participar do processo de escolhas.
2. O bolsonarismo é muito forte, tem raízes históricas e sociológicas profundas no autoritarismo brasileiro e não apenas nos evangélicos, com os quais, aliás, a esquerda não soube dialogar. Vale reler:
Raízes do atual governo - Por LUIZ WERNECK VIANNA* - 28/10/202
https://aterraeredonda.com.br/raizes-do-atual-governo/?doing_wp_cron=1635696874.6578669548034667968750
Paulo Brondi, Promotor de Goiás, faz um resumo do que é o 'bolsonarismo'
https://www.ilheusinforme.com.br/2021/12/promotor-de-goias-faz-um-resumo-do-que.html
Promotor de Goiás faz um resumo perfeito do que é o 'bolsonarismo' Promotor quebra o silêncio no Ministério Público e faz um resumo direto e cirúrgico sobre aqueles que hoje ocupam o poder central no Brasil. Algumas pessoas consideram que ele pode sofrer represálias promotor paulo brondi bolsonaro Um texto publicado por Paulo Brondi, promotor do Ministério Público de Goiás, viralizou na internet nesta quinta-feira (5).
O Jair que há em nós. Por Ivann Lago - 3 de dezembro de 2020
https://racismoambiental.net.br/2020/12/03/o-jair-que-ha-em-nos-por-ivann-lago/?fbclid=IwAR0gMLvZ7mHPM48az1PHCDa53tr534tDkFxNrL6ZbvL7w_r67qjkFk-zoYg
" O Brasil levará décadas para compreender o que aconteceu naquele nebuloso ano de 2018, quando seus eleitores escolheram, para presidir o país, Jair Bolsonaro. Capitão do Exército expulso da corporação por organização de ato terrorista; deputado de sete mandatos conhecido não pelos dois projetos de lei que conseguiu aprovar em 28 anos, mas pelas maquinações do submundo que incluem denúncias de “rachadinha”, contratação de parentes e envolvimento com milícias; ganhador do troféu de campeão nacional da escatologia, da falta de educação e das ofensas de todos os matizes de preconceito que se pode listar.
Embora seu discurso seja de negação da “velha política”, Bolsonaro, na verdade, representa não sua negação, mas o que há de pior nela. Ele é a materialização do lado mais nefasto, mais autoritário e mais inescrupuloso do sistema político brasileiro. Mas – e esse é o ponto que quero discutir hoje – ele está longe de ser algo surgido do nada ou brotado do chão pisoteado pela negação da política, alimentada nos anos que antecederam as eleições.
Pelo contrário, como pesquisador das relações entre cultura e comportamento político, estou cada vez mais convencido de que Bolsonaro é uma expressão bastante fiel do brasileiro médio, um retrato do modo de pensar o mundo, a sociedade e a política que caracteriza o típico cidadão do nosso país.
Quando me refiro ao “brasileiro médio”, obviamente não estou tratando da imagem romantizada pela mídia e pelo imaginário popular, do brasileiro receptivo, criativo, solidário, divertido e “malandro”. Refiro-me à sua versão mais obscura e, infelizmente, mais realista segundo o que minhas pesquisas e minha experiência têm demonstrado.
No “mundo real” o brasileiro é preconceituoso, violento, analfabeto (nas letras, na política, na ciência... em quase tudo). É racista, machista, autoritário, interesseiro, moralista, cínico, fofoqueiro, desonesto.
Os avanços civilizatórios que o mundo viveu, especialmente a partir da segunda metade do século XX, inevitavelmente chegaram ao país. Se materializaram em legislações, em políticas públicas (de inclusão, de combate ao racismo e ao machismo, de criminalização do preconceito), em diretrizes educacionais para escolas e universidades. Mas, quando se trata de valores arraigados, é preciso muito mais para mudar padrões culturais de comportamento.
O machismo foi tornado crime, o que lhe reduz as manifestações públicas e abertas. Mas ele sobrevive no imaginário da população, no cotidiano da vida privada, nas relações afetivas e nos ambientes de trabalho, nas redes sociais, nos grupos de whatsapp, nas piadas diárias, nos comentários entre os amigos “de confiança”, nos pequenos grupos onde há certa garantia de que ninguém irá denunciá-lo.
O mesmo ocorre com o racismo, com o preconceito em relação aos pobres, aos nordestinos, aos homossexuais. Proibido de se manifestar, ele sobrevive internalizado, reprimido não por convicção decorrente de mudança cultural, mas por medo do flagrante que pode levar a punição. É por isso que o politicamente correto, por aqui, nunca foi expressão de conscientização, mas algo mal visto por “tolher a naturalidade do cotidiano”.
Se houve avanços – e eles são, sim, reais – nas relações de gênero, na inclusão de negros e homossexuais, foi menos por superação cultural do preconceito do que pela pressão exercida pelos instrumentos jurídicos e policiais.
Mas, como sempre ocorre quando um sentimento humano é reprimido, ele é armazenado de algum modo. Ele se acumula, infla e, um dia, encontrará um modo de extravasar. (...)
Foi algo parecido que aconteceu com o “brasileiro médio”, com todos os seus preconceitos reprimidos e, a duras penas, escondidos, que viu em um candidato a Presidência da República essa possibilidade de extravasamento. Eis que ele tinha a possibilidade de escolher, como seu representante e líder máximo do país, alguém que podia ser e dizer tudo o que ele também pensa, mas que não pode expressar por ser um “cidadão comum”.
Agora esse “cidadão comum” tem voz. Ele de fato se sente representado pelo Presidente que ofende as mulheres, os homossexuais, os índios, os nordestinos. Ele tem a sensação de estar pessoalmente no poder quando vê o líder máximo da nação usar palavreado vulgar, frases mal formuladas, palavrões e ofensas para atacar quem pensa diferente. Ele se sente importante quando seu “mito” enaltece a ignorância, a falta de conhecimento, o senso comum e a violência verbal para difamar os cientistas, os professores, os artistas, os intelectuais, pois eles representam uma forma de ver o mundo que sua própria ignorância não permite compreender.
Esse cidadão se vê empoderado quando as lideranças políticas que ele elegeu negam os problemas ambientais, pois eles são anunciados por cientistas que ele próprio vê como inúteis e contrários às suas crenças religiosas. Sente um prazer profundo quando seu governante maior faz acusações moralistas contra desafetos, e quando prega a morte de “bandidos” e a destruição de todos os opositores.
Ao assistir o show de horrores diário produzido pelo “mito”, esse cidadão não é tocado pela aversão, pela vergonha alheia ou pela rejeição do que vê. Ao contrário, ele sente aflorar em si mesmo o Jair que vive dentro de cada um, que fala exatamente aquilo que ele próprio gostaria de dizer, que extravasa sua versão reprimida e escondida no submundo do seu eu mais profundo e mais verdadeiro.
O “brasileiro médio” não entende patavinas do sistema democrático e de como ele funciona, da independência e autonomia entre os poderes, da necessidade de isonomia do judiciário, da importância dos partidos políticos e do debate de ideias e projetos que é responsabilidade do Congresso Nacional. É essa ignorância política que lhe faz ter orgasmos quando o Presidente incentiva ataques ao Parlamento e ao STF, instâncias vistas pelo “cidadão comum” como lentas, burocráticas, corrompidas e desnecessárias. Destruí-las, portanto, em sua visão, não é ameaçar todo o sistema democrático, mas condição necessária para fazê-lo funcionar.
Esse brasileiro não vai pra rua para defender um governante lunático e medíocre; ele vai gritar para que sua própria mediocridade seja reconhecida e valorizada, e para sentir-se acolhido por outros lunáticos e medíocres que formam um exército de fantoches cuja força dá sustentação ao governo que o representa.
O “brasileiro médio” gosta de hierarquia, ama a autoridade e a família patriarcal, condena a homossexualidade, vê mulheres, negros e índios como inferiores e menos capazes, tem nojo de pobre, embora seja incapaz de perceber que é tão pobre quanto os que condena. Vê a pobreza e o desemprego dos outros como falta de fibra moral, mas percebe a própria miséria e falta de dinheiro como culpa dos outros e falta de oportunidade. Exige do governo benefícios de toda ordem que a lei lhe assegura, mas acha absurdo quando outros, principalmente mais pobres, têm o mesmo benefício.
Poucas vezes na nossa história o povo brasileiro esteve tão bem representado por seus governantes. Por isso não basta perguntar como é possível que um Presidente da República consiga ser tão indigno do cargo e ainda assim manter o apoio incondicional de um terço da população. A questão a ser respondida é: como milhões de brasileiros mantêm vivos padrões tão altos de mediocridade, intolerância, preconceito e falta de senso crítico ao ponto de sentirem-se representados por tal governo? "
(Ivan Lago, Professor e Doutor em Sociologia Política)
3.Das Assembleias ao Senado, teremos legislaturas ainda mais conservadoras que em 2018. A militância bolsonarista estará bastante energizada depois dos resultados. Políticos eleitos ajudarão o presidente nessa reta final, reforçando, de quebra, a narrativa de fraude em caso de derrota no segundo turno. Será uma disputa acirrada e potencialmente violenta.
4. Mesmo eleito, Lula terá capacidade de governar será muito estreita. Diante de Legislativo e governadores de oposição, discussões de reforma fiscal e tributária serão obstruídas. Aumenta a chance da aprovação da emenda semipresidencialista na calada da noite.
5. Uma onda bolsonarista nas próximas semanas facilita a vida do presidente e ajuda a desmobilizar os eleitores não-convictos de Lula - lembrando que estimular a abstenção segue sendo a arma de Bolsonaro no segundo turno.
6. Houve vencedores e perdedores , ontem. Lula é o maior ganhador. Chegou aos 48% praticamente sozinho, aos 76 anos e depois dos desgastes provocados pela Lavajato, malgrado os apoios de notáveis e da vice de Alkmin. Tebet foi também uma vitoriosa que poderá se credenciar para um novo voo presidencial em 2026. Ciro e o PDT foram os maiores perdedores. Tiraram a chance do Lula vencer em primeiro turno e colocaram o país em risco. Garcia e Leite foram atropelados em SP e RS. O PSDB foi outro perdedor. Esfarelou-se graças aos descaminhos da direção nacional frente ao pleito. A bancada tucana encolhe ainda mais. Já se fala em fusão MDB e PSDB, como, também, outras fusões á esquerda e à direita.
7. Petista ganhou em 3.378 cidades, e Bolsonaro, em 2.192. Lula tem maior vantagem em berço do Bolsa Família; Bolsonaro, na mesma cidade de 2018


 O SONORO GRITO DA CULTURA EM TORRES Paulo Timm – Publ. A FOLHA 30 setembro 22 Na semana, dia 27 passado (set/2022) , em Audiência Pública na Câmara de Vereadores, convocada pelo Presidente da Comissão de Cultura e Esportes, Ver. Moisés Trisch/ PT, cerca de 20 entidades representativas dos produtores e promotores da cultura em Torres, lotaram o Auditório Ruy Rubem Ruschel, para denunciar o abandono da cultura na atual administração e deram o que, no dizer sensibilizado do Vereador Gimi, presente ao ato, o seu “Grito Cultural”. Querem a convocação da Conferência de Cultura, a qual deverá eleger um Conselho Municipal de Política Cultural, na forma da Lei Federal, a aplicação de recursos do Fundo de Cultura sonegados nos últimos anos e a aprovação de um Plano de Cultura de Torres. Há tempos o segmento cultural da cidade vem se ressentindo da falta de atenção da Administração Municipal. O caldo entornou no dia em que, reunidos para um abraço simbólico ao Museu, foram repelidos com inusitada truculência. Como resultado, acumularam-se tensões que acabaram levando à saída da competente Diretora de Cultura, Adriana Sperandir. Não há diálogo da Prefeitura com os poetas da cidade. Ruim para os poetas, pior para as autoridades que mal desconfiam do poder da maldição dos cantos órficos... Tudo decorre, talvez, de uma incompreensão do papel da cultura na atual etapa do desenvolvimento da humanidade. Houve o tempo da caça, houve o tempo de agricultura, houve o tempo de indústria. Hoje é o tempo da Sociedade do Conhecimento, na qual os valores simbólicos cumprem cumprem decisivo papel. Inteligência, civilidade e democracia...Não por acaso já planejamos colonizar a Lua e Marte e o avião é o mais importante produto de exportação no mercado global; tem maior densidade tecnológica do que qualquer outro. A EMBRAER, uma empresa relativamente pequena diante da PETROBRÁS e VALE DO RIO DOCE, igualmente exportadoras, mas de commodities, é a quinta empresa com maior valor em exportações na nossa pauta. E para produzir aviões são necessários muitos e complexos serviços e, principalmente, engenheiros e executivos qualificados. Por isso, as modernas cidades são centros educacionais de excelência. A trama se condensa com o conjunto de atividades que fazem do setor terciário, serviços, o mais importante, hoje, tanto na geração de empregos, como para a riqueza das nações. Cultura e turismo, aí, ocupam papel estratégico, somando-se ao que se denomina , agora, Era da ECONOMIA CRIATIVA, tema sobre o qual nos dedicamos, eu, Debora Fernandes e minha esposa, Solange Fernandes, com vistas à montar uma coletânea de textos ilustrativos desta etapa, que distribuímos por ocasião da citada Audiência desta semana. Paris, enfim, é a mais visitada cidade do mundo, não porque tenha praias, sol, neve ou montanhas, mas porque tem História. Barcelona, considerada capital do século, igualmente. Cultura e Turismo se associam, contemporaneamente, à teia de modernas cidades que se projetam como centros do mundo. Quando pequenas, como acontece em muitas cidades europeias e até da vizinha Argentina, procuram tirar alguma vantagem neste processo em benefício de seus residentes. Aqui em Torres, nossas elites ainda não compreenderam isso. Não compreenderam que “Torres tem História”, título, aliás, da coletânea de artigos de Ruy Rubem Ruschel que deveria ser leitura de cabeceira de todo torrense, dentre os quais alguns dedicados ao tema Artes, Cultura e Turismo em Torres. Continuam apostando no passado das belezas naturais da cidade, sempre à espera de bons verões, amontoando muralhas de concreto. Se esquecem da necessidade de complementar o calendário turístico com respeito ao patrimônio cultural. Isso potenciaria a infraestrutura já montada para os veraneios e favoreceria enormemente a qualidade de vida na cidade. Tem cabimento não termos uma Casa Municipal de Cultural? Sintomaticamente, ao final da Audiência Pública da Câmara de Vereadores, jovens de todas as idades, cores e inspirações, ao som de ilusórios atabaques, saíram esperançosos, cantando: “Quem sabe faz a hora não espera acontecer!” Quem viver, verá. Torres fez História no dia desta Audiência em cuja tribuna se escutaram pungentes depoimentos, dentre os quais de três líderes comunitárias negras. Vidas negras importam...Poetas, também... Ao Exmo. O Sr. Carlos Alberto Matos de Souza, Prefeito Municipal de Torres/RS E-mail: chefegabinete@torres.rs.gov.br Cc O Sr. José Mauri Rodrigues Secretário da Cultura e do Esporte de Torres/RS E-mail: cultura@torres.rs.gov.br / administrativo-smce@torres.rs.gov Cc O Sr. Rafael da Silveira Elias Presidente da Câmara Municipal de Torres/RS E-mail: câmara@camaratorres.rs.gov.br Cc. Exmo. O Sr. Márcio Roberto Silva de Carvalho Promotor de Justiça de Torres/RS – Ministério Público Estadual/RS E-mail: mptorres@mprs.mp.br Cc. O Sr. Efreu Quintana Presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Torres/RS - COMPHAC E-mail: comphactorres@gmail.com CARTA ABERTA COLETIVOS de CULTURAS INTEGRADAS de TORRES Na qualidade de representantes de Coletivos de Culturas Integradas do Município de Torres/RS, composto por artistas, artesãos, produtores culturais, escritores, historiadores e demais defensoras e defensores do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural que designa o conjunto de bens tangíveis e intangíveis na construção de pertencimento das identidades locais enquanto processos contínuos de formação e transformação das relações e suas experiências sociais, em assembleia ocorrida no último dia 27 de maio, por unanimidade, decidiu-se manifestar por intermédio desta Carta Aberta. Considerando os Artigos 215° e 216° da Constituição Federal de 1988, que garantem o pleno exercício de direitos e acesso à cultura a todos os cidadãos brasileiros; Considerando os Artigos 166°, 172°, 174°, 176° e 177° da Lei Orgânica do Município de Torres, onde o Município deve estimular o desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da cultura em toda sua amplitude, regulando a composição e funcionamento do Conselho Municipal de Cultura, entre outros auxílios. Considerando os Artigos 37° e 39° do Plano Diretor de Torres, que versam sobre proteção de Patrimônio Histórico Material e de incentivo de espaços culturais, como os Artigos 28° e 29° sobre Áreas de Interesse Paisagístico, Histórico-Cultural e Turístico e que definem à Zona Histórica do Município; Considerando a Lei Municipal nº 5014/2018, que dispõe sobre o Sistema Municipal da Cultura do Município de Torres, criando o Conselho Municipal de Política Cultural e o Fundo Municipal de Cultura, bem como adesão do Município de Torres junto ao acordo federativo do Sistema Nacional de Cultura - SNC (Portaria Federal, nº 621/2020); Considerando o aumento gradativo da participação de trabalhadoras e trabalhadores da Cultura de/em Torres, que movimentam a dimensão simbólica, cidadã e econômica da cadeia como fator de garantia ao desenvolvimento local e regional; Considerando a necessidade emergencial devido aos efeitos econômicos e sociais causados pela Pandemia de Covid-19; Considerando o descontentamento da comunidade cultural de Torres com o afastamento das últimas duas Diretoras de Cultura, justamente em momentos em que as mesmas iniciavam um profícuo e promissor trabalho de aproximação da gestão e diálogo com as trabalhadoras e os trabalhadores da Cultura; Considerando o desconforto pela maneira abrupta como aconteceu o fechamento do Museu Histórico, Antropológico, Arqueológico e Oceanográfico de Torres, prejudicando a programação do Cineclube Torres em homenagem à Semana dos Museus, como também à Exposição alusiva ao aniversário da cidade, ação que, portanto, contrariando a sua finalidade de existência com a preservação, divulgação e promoção do Patrimônio Histórico, Cultural e Científico do Município de Torres (Lei nº 1.515/73 e Lei nº 2.371/88). Ademais, é importante lembrar a destruição sistemática da memória material e imaterial da cidade, sem que nenhuma ação protetiva das instâncias municipais seja percebida pela comunidade. Diante do exposto, reafirmando a necessidade de ações conjuntas alinhadas com as Políticas Públicas de Cultura, propomos: Ao Executivo e Legislativo Municipal - Solicitamos com urgência uma audiência com o Sr. Prefeito Municipal, e membros do poder executivo para tratar de ações que permitam alinhamento com as legislações supracitadas ao Setor Cultural de Torres, incluindo, ainda, representantes da Comissão de Educação, Esporte e Cultura - CEEC; - Solicitamos que seja convocada uma Audiência Pública para debater sobre as demandas necessárias da Cultura de Torres, com a presença do Prefeito e outros membros dos poderes executivo, legislativo e judiciário, incluindo a sociedade civil organizada, para que sejam debatidas, além das demandas aqui apresentadas, outras quais forem necessárias para a elucidação de esclarecimentos apresentados, a exemplo da continuidade dos trabalhos sobre o andamento do Plano Municipal de Cultura, entre outros assuntos, como o Fundo Municipal de Cultura. Em caso do executivo não convocar a Audiência Pública, solicitamos ao Poder Legislativo de Torres, que a convoque, garantindo o pleno acesso ao debate entre o Poder Público e a Sociedade Civil, em acordo com Marcos Legais da Cultura de Torres; - Solicitamos, em regime de urgência, a análise da Lei Municipal nº 5.014/2018, especificamente, em seu Art. 8º. § 1º, que alterou a forma de escolha dos representantes do Conselho Municipal de Cultura, à revelia do caráter democrático previsto no Art. 1º, na citada lei, e que, consecutivamente, está em desacordo com o Sistema Nacional de Cultura. Ademais, em não considerar os assentos de segmentos representativos da sociedade civil e que são reconhecidos como parte ativa do Setor Cultural Torrense. Portanto, levando-nos a posicionar-se, enfaticamente, a favor da escolha dos representantes da sociedade civil por meio de eleições diretas envolvendo processos participativos com a Comunidade Cultural Torrense; - Solicitamos a todos os vereadores que tomem conhecimento e analisem a Lei Municipal nº 5.014/2018, que dispõe sobre o Sistema da Cultura do Município de Torres, cria o Conselho Municipal de Política Cultural e o Fundo Municipal de Cultura, pois a supracitada Lei não está sendo cumprida, principalmente no que tange o Fundo Municipal de Cultura, a obrigatoriedade de um Plano Municipal de Cultura e a forma como é constituído o Conselho Municipal de Política Cultural; - Solicitamos maior transparência, no sentido do estabelecimento de compromisso público com um cronograma das obras e previsão de data referente a reabertura do Museu, com plenas condições de uso para usufruto da comunidade cultural e da sociedade em geral, dando seguimento aos compromissos agendados e ao acolhimento de novos projetos. Neste sentido, ressaltamos a evidente necessidade de um espaço físico adequado para manifestação das expressões culturais enquanto real “Casa da Terra”, recebendo exposições continuadas, apresentações artísticas de música, dança, teatro, como palestras e oficinas educativas em diálogo com demais atividades que dão sentido os desafios de um Museu enquanto janelas abertas à diversidade das expressões; À Sociedade Civil - Conclamamos a todas as trabalhadoras e a todos os trabalhadores da Área Cultural de Torres para conhecerem melhor os seus direitos, enquanto cidadãs e cidadãos, reconhecendo-se como parte de uma cadeia econômica, criativa e sustentável. Portanto, que deve estar engajada junto com o Sistema Municipal de Cultura, participando das tomadas de decisão e nos processos de gestão compartilhada, como proposto na própria Lei, acessando recursos e fomentos que devem ser garantidos pelo Fundo Municipal de Cultura; - A todas as cidadãs e a todos os cidadãos que usufruem enquanto espectadoras/es, como também, defensoras/es do Patrimônio Cultural – sejam eles materiais e/ou imateriais -, que estejam engajados aos Movimentos Culturais de Torres na defesa de garantia e direitos, sobretudo para maior fruição da Cultura Local. Acreditamos que somente com a mobilização de interesse público e com o respeito à diversidade cultural que poderemos modificar o quadro de esvaziamento e engessamento em que se encontra a nossa Política Cultural. Se a responsabilidade é do Poder Público, a participação precisa ser da Sociedade. Sendo o que tínhamos para apresentar no momento, subscrevemo-nos cordialmente: Associação dos Artesãos de Torres - TorresArt Coletivo Amigos do Centro Histórico de Torres Coletivo Bazar das Artes Coletivo Cultural GT de Cultura de Torres Coletivo Cultural Café com Poesia Coletivo Cultural e de Mídia Independente - Goles de Resistência Coletivo Mc's ZooRS de Torres Ponto de Cultura Centro de Estudos Históricos de Torres e Região Ponto de Cultura Cineclube Torres Ponto de Cultura (auto declarado) Centro Cultural Ecos de Angola Movimento Torres Além Veraneio Associação Onda Verde Preservando o Meio Ambiente Rádio Comunitária Cultural FM Casa Juçara Coletivo Alicerce Torres/RS, 3 de junho de 202


EDITORIAL dia 28 setembro 22 Daqui a poucos dias, eleições. O Brasil celebrará a festa solene da democracia que consiste na consulta popular através do voto direto e secreto na urna, urna eletrônica, que representou um avanço não só tecnológico de procedimento eleitoral, mas também político, vez que eliminou a fraude das contagens fraudulentas. Diante da urna, à qual V. deverá comparecer sem adereços propagandísticos de seus candidatos preferidos, V. tem o direito de indicá-los, escrevendo o número dos mesmos que será conferido pela urna para posterior CONFIRMAÇÃO, ou de votar nulo ou, ainda, em branco. Aqui, uma explanação sobre a diferença entre uma e outra destas duas opções: Qual é a diferença entre o voto em branco e o voto nulo? | Funciona Assim | G1 (globo.com) Estas opções não serão consideradas no cômputo dos votos válidos. Sobre estes, caso algum dos presidenciáveis alcançar metade mais um dos votos, será considerado vencedor e o pleito encerrado. Caso contrário, os dois mais votados, provavelmente Lula e Bolsonaro, irão para o segundo turno. Eles, aliás, demonstraram grande estabilidade na liderança das preferências eleitorais, concentrando cerca de 80% das mesmas, o que deixou pouco espaço aos concorrentes. Destes, Simone Tebet, do MDB, corre o risco de entrar em terceiro lugar e é considerada uma estrela em ascensão com projeções sobre 2026, já com mais votos do que o próprio Ulysses Guimarães em 89, enquanto Ciro Gomes, do PDT, mercê de seu estilo messiânico, ao qual não faltou uma tentativa de Mensagem á Nação, pode enterrar sua persistente carreira, desta vez levando de roldão o sétimo partido ao qual se filiou, o PDT. Está perdendo o apoio da própria família no Ceará e não terá seu candidato do PDT ao Governo daquele Estado no segundo turno. Um fiasco! Sobre as possiblidades de Lula sair vencedor, já emergem análises sobre em que consistirá seu governo. Há , aqui, duas vertentes: Uma exige que Lula afirme uma linha de ruptura com o neoliberalismo reinantes desde Temer. Outra, mais realista, admite que a Oposição será muito forte e que isso dificilmente ocorrerá. O próprio Lula parece indicar esta alternativa quando se coloca no centro de uma coalização de adversos contra antagônicos: Um governo de transição como resultado do imenso apoio que vem recebendo de personalidades alheias ao programa do PT mas alarmadas com os ataques de Bolsonaro, com apoio do Partido Militar. que alimenta com seu militarismo latente, à democracia. Ontem mesmo, em encontro com empresários adiantou: Não manterá o Teto de Gastos, imposto pela PEC 95 e implantará uma Reforma Tributária, com provável cobrança de Imposto de Renda sobre dividendos aos portadores de ações, maior progressão neste imposto, unificação de alguns impostos com vistas á incidência sobre consumo e não produção. Também defenderá o Meio Ambiente, notadamente Amazônia, com reconstituição dos mecanismos legais e institucionais de controle e as populações indígenas. Estes são objeto, hoje, de um Podcast da Globo: São cerca de 300 povos originários, que hoje somam mais de 1,1 milhão de pessoas. Finalmente, não abrirá mão da Política Social em benefício dos mais pobres, os quais, aliás, em sua grande maioria, seja social, os 120 milhões que ganham até um mínimo, ou regional, o Nordeste, região mais pobre do país, terão lhe assegurado a vitória. Após manter distância, Lula encontra 'PIB' e é recebido com aplausos Entre os empresários presentes no evento estav


CIRO: Uma pedra no meio do caminho Paulo Timm – Publicado A FOLHA, Torres RS, setembro, 16/23 / 2022 Ciro diz que identitárismos são baboseiras https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/09/05/ciro-gomes-diz-que-pautasidentitarias-sao-baboseiras-da-esquerda.htm * As últimas pesquisas eleitorais estão confirmando as grandes marcas das eleições de 2022 - Polarização das preferências do eleitorado entre Lula, pela esquerda, e Bolsonaro, pela direita, aliás, extrema direita, os quais concentram cerca de 75% das preferências espontâneas dos eleitores; - Estabilidade na disputa, ponteada por Lula com franca dianteira dos dois candidatos acima mencionados sobre os demais concorrentes; - Relativo equilíbrio técnico de Lula e Bolsonaro em todas as regiões do país, alterado a favor de Bolsonaro nesta última semana no Sul e Sudeste, salvo o Nordeste, que dispõe de 27 % do eleitorado nacional. onde o ex presidente Lula leva enorme vantagem, à razão de 60% contra 30% de Bolsonaro, assegurando ao ex presidente dianteira em nível nacional - Dificuldade de Lula para transferir votos favoráveis à sua candidatura aos seus parceiros para vários e importantes Governos, como Alexandre Kalil, ex Prefeito de Belo Horizonte, Marcelo Freixo, no Rio de Janeiro, Jerônimo Rodrigues na Bahia e Edegar Pretto no Rio Grande do Sul, assinalando futuras dificuldades para ele caso venha ser o vencedor. - Clima de tensão ao longo de todo o processo eleitoral, com ameaças persistentes de ruptura institucional estimuladas pelo Presidente Bolsonaro na sua crítica obstinada às instituições, à esquerda e às urnas eletrônicas, cujo lance mais violento foi o assassinato gratuito de um militante do PT em Foz do Iguaçu; - Uso indiscriminado do Poder Político pelo candidato Presidente da República, tanto no atropelo de princípios de isenção no curso do processo eleitoral, chegando ao cúmulo de mudanças na Constituição para instituição de favores sob a alegação de estado de calamidade, além do uso abusivo da máquina governamental em benefício próprio. Dentro destes marcos tudo indica, também, que deveremos ter um segundo turno para a Presidência da República, eis que, dois candidatos “marginais” com baixos índices, menos de dois dígitos, Ciro Gomes, PDT, e Simone Tebet, MDB, mercê de sua performance em debates nacionais, têm conseguido elevar homeopaticamente tais indicadores, frustrando a viabilidade da vitória de Lula no primeiro turno. Lula precisaria de apenas um quarto dos votos de Ciro e Tebet para evitar 2º turno, daí vindo a recorrer, sob protesto dos dois, à tese do voto útil. 0s três, enfim, se situam no círculo das opções democráticas contra a extrema direita. Aí se trata, de uma espécie de colchão d´água: Quando um sobe, o outro desce, ou, pelo menos, deixa de crescer com base numa reversão de votos dos indecisos. Como o Ciro Gomes é o que tem mais crescido, batendo tanto em Lula quanto em Bolsonaro - insinuando até a fragilidade da sua saúde -, ele vem sendo visto com dois olhares: Para os bolsonarista, este crescimento é bom, porque impede a vitória de Lula no primeiro turno. Da parte da campanha lulista, a leitura é outra: Começam a perceber o jogo de Ciro como fogo amigo extremamente perigoso e começam de detoná-lo como aliado do inimigo. A verdade é que Ciro, com esta errática campanha, sem qualquer chance de vitória a estas alturas dos acontecimentos está desconcertando não só o PT e aliados em torno de Lula, mas os próprios pedetistas de raiz, os brizolistas. Afinal, esta não é hora de marcar posição, mas de impedir a reeleição de um elo importante da cadeia da extrema direita mundial, algo muito diferente de 1989, 1994 e 2006. Naqueles pleitos a democracia não estava em risco. Alguns brizolistas – e até mesmos alguns ciristas – já se dão conta desta situação e começam a abandonar seu insensato barco, perguntando: “Afinal, o que deseja Ciro, além da vingança, mesmo justa?” Justa? Isso remonta às origens religiosas da “Guerra Justa” que destruiu povos e nações. A Direção Nacional do PDT, aliás, que sempre desfrutou das benesses do Ministério do Trabalho na Era Lula Petista continua sustentando e reverberando Ciro Gomes, desconhecendo o risco de jogar o trabalhismo, de gloriosas realizações históricas no país, na valhacouto dos insensatos. Pertinho do PTB de Roberto Jefferson..


O ESTADO DO GLOBO Paulo Timm - Pub. A FOLHA, Torres RS dia 23/30 setembro 22 Nos Estados Unidos, há uma tradição já ritual no discurso presidencial sobre o Estado da Nação, feito no início de cada ano. Nele, o Presidente apresenta a situação geral do país e suas ideias e projetos para melhorá-lo. No Reino Unidos há algo semelhante quando um emissário de Sua Mejestade bate à porta do Poder Legislativo em sinal de respeito ao Poder que condensa, com maior legitimidade, o princípio da representação da cidadania na consecução do Pacto No Brasil, temos algo parecido, mas pouco solene e de baixo impacto, com as Mensagens Presidenciais levadas ao Legislativo no início de cada legislatura. Lembro disso a propósito da Assembleia Geral das Nações Unidas realizada anualmente, sempre aberta por um representante do Brasil, normalmente o Presidente, neste ano, com discurso eleitoral de Jair Bolsonaro. Mas vale ressaltar o forte discurso do Secretário Geral da ONU, Antônio Guterres neste ano, uma espécie de Mensagem sobre o Estado do globo terrestre. Coincidiu com pronunciamento do Presidente da Rússia, no qual este eleva o tom, convoca 300 mil reservistas e ameaça fazer uso de armas nucleares na defesa de sua Nação, supostamente ameaçada pelo apoio do Ocidente à Ucrânia. Gutierres adverte com severidade para os perigos contemporâneos: o mundo está em uma situação de perigo e paralisado pelas divisões geopolíticas. Com efeito, o teatro de operações da Guerra parece cada vez menos importante para o Presidente Putim, que se regozija de ter instaurado, com o conflito, uma mudança na ordem internacional. Henri Kissinger, em seu último livro confirma isso: Considera um erro a guerra que acelerou o distanciamento da China do Ocidente. Hoje ela é considerada sua inimiga sistêmica. Para Gutierres, enfim, a falta de consenso global está debilitando o trabalho do Conselho de Segurança, a lei internacional, a cooperação global e a fé das pessoas nas instituições. Pedindo por coalizão, ele apresentou três prioridades para os debates: a instauração e manutenção da paz, a ação climática e a participação feminina nos lugares de liderança e a atenção aos mais vulneráveis, incluindo migrantes e refugiados. “O secretário-geral da ONU citou as diversas situações de conflito e as catástrofes climáticas que aconteceram no último ano. Sobre a questão do clima, ele pediu que os países tenham metas mais ambiciosas, especialmente as nações mais desenvolvidas, do G20, responsáveis por grande parte das emissões de gases de efeito estufa. Às vésperas da COP27, que acontece no Egito este ano, ele destacou três soluções que os Estados deveriam focar: investimento em energia renovável, adaptação aos choques climáticos e a resposta às perdas e danos causados pelos desastres. (...)O chefe da ONU também falou sobre a importância dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como um caminho de resgate para superar os principais desafios. Guterres lembrou que mesmo metas fundamentais, como acabar com a fome e garantir o acesso à educação, foram revertidas nos últimos anos, bem como os avanços na igualdade de gênero. Por isso, o secretário-geral das Nações Unidas também pediu um estímulo para que os ODS sejam atingidos. Ele aponta quatro componentes do estímulo: a participação de bancos de desenvolvimento multilateral no financiamento dos objetivos, alívio às dívidas, aumento da liquidez e o empoderamento de fundos especializados. Ao concluir seu discurso com um chamado de esperança, Guterres afirma que a ONU apoia todos os atores que trabalham para um momento melhor, como os ativistas climáticos, os jovens, mulheres e meninas que lutam por seus direitos, cientistas que permitiram o alívio da pandemia de COVID-19 e trabalhadores humanitários. O líder da ONU encerrou pedindo que os participantes trabalhem em “soluções comuns para desafios comuns”, baseados em boa vontade, confiança e direitos humanos. “Vamos trabalhar de forma única, em coalizão com o mundo


23 SETEMBRO - Editorial BOM DIA, TORRES RS– O RISCO DA VIOLÊNCIA Chefe da segurança da campanha de Lula pede à PF abertura de inquérito para investigar empresário que fez tiro ao alvo com foto do petista. Ao lado da esposa, o sócio de um clube de tiro postou, em uma rede social, vídeo em que faz vários disparos contra uma imagem do candidato petista.. Reta final: campanha de Lula se reúne com Moraes para pedir segurança contra violência política Grupo pediu criação de canal de denúncias para registro de atentados, especialmente na última semana A atual campanha eleitoral tem algumas características: estabilidade nas preferências eleitorais, polarizadas , aliás, em dois candidatos num número superior a 75%, e violência, decorrente, sobretudo da radicalização dos aloprados bolsonaristas, na qual o assassinato de um petista em sua festa de aniversário em Foz do Iguaçu foi lamentável incidente. Embora o pleito se divida entre esquerda e direita, sua particularidade histórica, eis que desde de 1950 tal divisão sempre se fez presente, quando Vargas disputou com Eduardo Gomes, ou quando JK disputou com Juarez Távora ou quando Lott disputou com Janio Quadros e , mais recentemente, quando o próprio Lula foi o adversário de Collor, em 89, de FHC em 94 e 98, é a presença na direita de uma proposta extremada, radical, representada, precisamente por Bolsonaro. Ele, desde a eleição passada ocupou o espaço da direita dita democrática e adotou, num tom assertivo, um discurso francamente regressista em termos de costumes e discriminação ás minorias, com destaque à desmontagem de políticas de defesa dos povos indígenas, das mulheres e mesmo jovens, diante do corte de recursos para educação, e confronto com a cultura e seus promotores e intérpretes. Neste sentido, o candidato Presidente identifica seus opositores como INIMIGOS da Pátria, da Família, do cristianismo e os expõe à sanha dos seguidores fanatizados. Vários casos de ataques á cultos afro brasileiros têm sido verificados nestes últimos tres anos. De resto, Bolsonaro aposta na relação direta dele com as massas, no velho estilo nazifascista de Hitler e Mussolini no século passados, atacando as instituições republicanas, como a Justiça e os próprios órgãos do Executivo quando não refletem suas meras opiniões sobre incêndios na Amazônia, fome, ou, o que foi o pior dos casos, o COVID. Tanto que demitiu o então Ministro da Saúde que tentava convencê-lo da necessidade de prevenção e vacinas contra o COVID colocando no seu lugar um general omisso e incompetente, mas leal. Tudo isso tem gerado um clima de ódio político no país levando a que , nestes últimos dias da campanha cresça a preocupação com a virulência dos confrontos. Há um temor, inclusive, de que os eleitores, diante de ameaças de violência, não compareçam às urnas. E que explodam, pelo país, cenas de ataques produzidas por fanáticos armados e capazes, pela virulência de convicções e disposição de atitudes criarem situações constrangedoras. Daí porque ontem, dia 22, dirigentes da campanha de Lula tenham comparecido ao TSE para exigir de seu Presidente uma palavra de contenção e garantias de tranquilidade no dia 2 de outubro. Em todas as eleições tal pronunciamento é sempre feito pelo próprio Presidente da República em nome da normalidade do pleito, mas, como esperar isso de Bolsonaro. Teme=se, até, que tenha atitudes inusitadas, ao estilo Trump, de incitação ao medo, senão, até, de constestação do resultado da urnas. Não obstante, é dever de Mídia, proclamar os direitos da cidadania e defender seu direito inalienável de comparecimento no dia das eleições. E que os resultados, garantidos pelo TSE, sejam respeitado


EDITORIAL 10 maio BOM DIA DEMOCRACIA Vai ter golpe? – Debate Conjuntura Política -RED dia 6 maio 22 https://youtu.be/Qc7RMFv_3IY Benedito T. Cesar, P.Timm e Marcia Dias (C.Política/UNIRIO) Xadrez de como será o golpe da urna eletrônica, por Luís Nassif .Se o STF, a PGRv e o MP do DF não agirem a tempo, as cenas serão concretizadas. Será o golpe mais antecipado da história, sem tanque nas ruas Luis Nassifluis.nassif@gmail.com - Publicado em 9 de maio de 2022 - https://jornalggn.com.br/politica/xadrez-de-como-sera-o-golpe-da-urnaeletronica-por-luis-nassif/ MP pede ao TCU investigação de contrato do Exército com empresa israelense, revelado pelo BdF General que questiona o TSE contratou empresa que tem ex-diretor de Bolsonaro como executivo, mostra reportagem Publicado BRASIL DE FATO -https://www.brasildefato.com.br/2022/05/09/mppede-ao-tcu-investigacao-de-contrato-do-exercito-com-empresa-israelenserevelado-pelo-bdf 'Bolsonaro, seus dias estão contados. Não adianta desconfiar de urna. O que você tem é medo de perder as eleições e ser preso', diz Lula em Belo Horizonte G1 DIA 10 maio. Pré-candidato do PT à presidência esteve em evento no Expominas, na tarde desta segunda-feira (9) em BH. Aumenta a temperatura política no país. Inúmeros articulistas destacam o clima claramente golpista que vai associando , cada vez mais, o Presidente Bolsonaro com lideranças militares, os quais se interligam, via General Heleno, Chefe da GSI, ao espírito do então Ministro do Exército, Gen. Silvio Frota, que tentou um golpe contra a abertura política conduzida pelo Presidente Geisel. Heleno era do gabinete de Frota e, inconformado, continuou conspirando contra a democracia reunindo outros militares desgostosos com os rumos do país e que viram na candidatura Bolsonaro, em 2018, uma oportunidade de voltar ao controle do país. O próprio Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, elevou seu tom de advertência contra os que atacam o processo eleitoral, o TSE, as urnas eletrônicas e a democracia. A REDE GLOBO DE COMUNICAÇÕES, igualmente, vem elevando o tom de denúncia do golpismo, evidente desde os pronunciamentos de 1º. Maio. Bom lembrar que se o golpe de 64 teve um caráter civil-militar, no bojo de campanhas envolvendo Políticos, Militares, Mídia e Igreja, como muitos defendem, o futuro golpe, em andamento, se houver, terá um caráter tipicamente MILITARISTA, em articulação com mílicias, bandas fascistas espalhadas por todo país e grupos de assalto" xiitas " fortemente treinados, sem qualquer articulação, nem internacional, nem com s sociedade civil do país. Ninguém sabe quanto tempo durará isso, mas não será o preâmbulo de uma GUERRA CIVIL pelo simples fato de que não há divisão nas FFAA, nem existe na Oposição qualquer grupo de resistência com perfil para tanto. Tratar=se-á,, portanto, de uma NOITE DE SÃO BARTOLOMEU de resultados incertos, mas grande número de vítimas. Quem sobreviver contará.. * Os fascistas não querem vitória eleitoral, mas golpe: nova estética de luta numa época sem retorno (por Tarso Genro) https://sul21.com.br/opiniao/2022/05/os-fascistas-nao-querem-vitoriaeleitoral-mas-golpe-nova-estetica-de-luta-numa-epoca-sem-retorno-por-tarsogenro/ A disputa hoje está situada num tempo em que tudo é urgente, no qual se fundem além do que o supérfluo e o necessário, a mentira e a verdade Os que aceitaram votar num defensor da tortura eventualmente podem ser desculpados pelo primitivismo da sua visão de mundo – fundada na ignorância e no preconceito – que repousava no seu inconsciente. Não podem ser desculpados, todavia, os que tem inteligência para sentir que o cheiro de morte e o magnetismo doentio – que exalam os atuais donos do poder – repetem todos os dias a brutalidades das velhas ações e das velhas ameaças. Teodor Adorno (“Aspectos do novo radicalismo de direita”, Unesp,2020,pg14) escreveu que Jean Amery, “refletindo sobre a experiência dos intelectuais nos campos de concentração” – para reconhecerem o que era o mundo à época – “não exigiam nenhuma análise semântica, nenhuma sintaxe lógica: bastava olhar para a torre de vigilância ou sentir o cheiro de gordura queimada que vinha do crematório.” O debate da graça (indulto ou anistia) concedida ao Deputado Federal Daniel Silveira revela nas redes uma contradição entre – de um lado – o volume do engajamento dos ativistas organizados na defesa das posições extremistas de direita e, de outro, os reflexos limitados do seu “trabalho”, na formação de uma opinião majoritária nas escolhas sobre a eleição presidencial. O exame deste espaço imaterial de fluxos da opinião mostra a existência de dois universos paralelos de luta política. Eles ora se unem, compondo uma totalidade, ora se fragmentam, alterando o equilíbrio entre as forças em confronto. Não são universos estanques e ambas as facções enviam mensagens – de um espaço para o outro – através da fala dos seus líderes ou daquilo que os seus representantes formais ou informais, interpretam como seu pensamento. O primeiro universo – das redes – ainda que de forma instável, tem sido mais fluente para circulação do golpismo, do ódio e do preconceito, e o segundo – o espaço da disputa democrática tradicional – tem sido o mais reflexivo, mais concretamente ligado à vida cotidiana das dificuldades da vida comum, entristecida pelas carências para sobreviver com dignidade. Por dentro deste espaço – ao contrário do que ocorre nas redes, onde se reproduz majoritariamente o ódio à democracia – é que flui de forma mais racional o debate liberal e democrático, voltado para as eleições: o anonimato nas redes impulsiona os esgotos morais escondidos na consciência fascista; os holofotes da política, na luz da democracia liberal, exigem certas mediações civilizadas para que os indivíduos – à luz do Direito – possam ser ouvidos na sociedade civil com certo respeito civilizatório. Deu-se bem, Daniel? Em 23 de abril o professor-pesquisador Emerson Cervi mostrou com dados de monitoramento e análise, que Bolsonaro “ganhou de lavada nos ambientes digitais o embate sobre a punição ao deputado da sua base”. Este anulara a separação entre a voz do esgoto – protegida pelo anonimato – e os universos de combate político na legalidade democrática. Ao atacar diretamente o STF, quando percebeu que as redes poderiam ser mais eficazes se diretamente enfrentassem a mais alta Corte da República à luz do dia, o deputado-réu quis ampliar no espaço público a voz do seu Chefe, já sedento por um golpe miliciano inclusive contra o Exército, se for necessário, para se manter no poder. O próprio Professor Cervi, no entanto, no seu mesmo estudo, relativiza esta vitória “bolsonarista” nas redes, imputando-a ao fato de que os direitistas extremos são mais organizados e preparados, materialmente, para um embate desta natureza. Eles já criaram meios artificiais superiores aos que detém os seus adversáriosinimigos políticos, fazendo um manejo mais organizado dos mecanismos tecnológicos que dispõem para a “guerra”, mas seu alcance é incerto. Fora das redes sociais o resultado na formação da opinião revela que o ritmo frenético das redes não é necessariamente determinante. O cientista político Antônio Lavareda, analisando a última pesquisa do IPESPE (06/05) chama atenção para o fato de que 56% desaprovaram o perdão a Daniel Silveira, contra 29% que estão de acordo. Para 35% dos entrevistados, a medida vai diminuir a chance de voto em Bolsonaro; para 20% vai aumentar e não ocorrerá nenhuma alteração na opinião de 31%. Os resultados permitem observar que as possíveis consequências do gesto, mais prejudica do que favorece o candidato Bolsonaro. Vê-se, diz o articulista, “que embora desperte um debate relevante do ponto de vista judicial e político, seus efeitos não impactam a arena eleitoral”. A conclusão, com a qual concordo, mostra que o controle político das redes não é necessariamente a condição para a vitória, mas apenas uma das condições que podem influenciar o seu desfecho. Atenção, todavia: as redes têm uma conexão imediata e limitada com a luta eleitoral democrática, embora tenham uma importância estratégica para criação das condições para um enfrentamento caótico entre a democracia e o golpismo, este, o meio mais eficaz para subverter o regime liberal-democrático, com a instalação do caos social e político. E mais: isso não é só desejo do “esgoto” fascista, mas uma possibilidade permanente de solução, sempre cortejada pelos mais fortes sujeitos políticos das classes dominantes do país, quando seus interesses e privilégios são minimamente ameaçados. A esquerda precisa compreender que estes dois níveis de disputa – nas redes e no espaço político liberal-democrático tradicional – compõem um só universo, articulado por uma série de vínculos culturais e institucionais, que formam os novos Territórios da política. A disputa hoje está situada num tempo humano em que tudo é urgente, no qual se fundem além do que o supérfluo e o necessário, a mentira e a verdade. A “impressão” da busca pelo novo e a impaciência, perante o trabalho histórico para construir uma vida renovada, não suporta mais as longas narrativas dos ciclos dotados de uma certa paz social. A brilhante estética de luta dos velhos tempos, que conduziram a vitória do discurso político de Lula e lhe elegeram à Presidência, volta brilhantemente depois do seu novo lançamento. E deve permanecer. Mas a guerrilha das redes tem uma outra estética e uma nova linguagem que corresponde aos novos tempos, tanto de dominação do capital como da resistência às suas manifestações mais opressivas. A combinação destas duas formas de linguagem nos seus distintos territórios onde verte a política é o que dá durabilidade, hoje, ao autoritarismo e à emergência ao fascismo. E a sábia combinação, da nossa parte, para a resistência e a ofensiva política nestes mesmos territórios difusos, onde a guerra é semeada pela extrema direita, é o que pode garantir a vitória do povo, no sentido da República e da democracia. (*) Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil. * As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu auto  


Editorial BOM DIA, TORRES - Paulo Timm - Dia 13 setembro 22 - You TUBE ..... XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX STF sob nova direção.... xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx BOM DIA , TORRES. ALÔ VALE SAGRADO DO MAMPITUBA You Tube e Face Book – Cultural FM dia 13 setembro Um programa da CULTURAL FM com o apoio cultural MOVIMENTO TORRES ALÉM VERANEIO, empenhado na construção da CASA MUNICIPAL DE CULTURA DE TORRES Diariamente, 7.30 h com retransmissão às12.30h durante o período eleitoral. Pergunta que não quer calar: Por que candidatos falam tanto em apoio de jovens, mulheres, mais pobres e nada falam sobre um dos segmentos mais vulneráveis e que mais padeceu na pandemia: IDOSOS? DDia 13 de setembro, terça feira, 2022, ano do II CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL Um longo e penoso processo que passa, sim, pelo 7 de setembro de 1822 mas não se restringe a ele. Trata--se de um processo que teve início com os ditos movimentos nativistas, como a Inconfidência Mineira, de 1789, e se estende até hoje como construção de um país politicamente soberano, socialmente integrado e economicamente desenvolvido 


 CARTA DA SABEDORIA Brasil, um país de idosos. Vivos, graças aos avanços da medicina, cuidados sociais e bênçãos divinas.  Aposentados não são nenhum ônus pois contribuíram em idade ativa, com maiores dificuldades e menores salários do que as gerações atuais, para o aumento da produtividade econômica  Revisar o Estatuto do Idoso com vistas à profissionalização dos CONSELHOS MUNICIPAIS DO IDOSO  Obrigatoriedade de criação dos Centros de Convivência do Idoso Pessoas com idade igual ou acima a 60 anos, no Brasil, em pleno gozo da idade da sabedoria, têm aumentado gradativamente no total da população, engordando a pirâmide etária. Havia cerca de 10 milhões em 1990 e, em 2025, chegaremos a 34 milhões, cuja imensa maioria dependerá das mais baixas aposentadorias e pensões do INSS. Dentre eles, muitos acima de 70 anos, dispensados da obrigatoriedade do voto, irão às urnas em outubro próximo. Como nenhum Partido se identifica prioritariamente com os idosos, nós, neste Dia Internacional do Trabalho, preocupados com preconceitos, argumentos errados sobre o envelhecimento e. sobretudo, abandono deste segmento pelos poderes públicos na recente pandemia do COVID, eis que foram os que mais vieram a morrer de COVID, resolvemos trazer a público nossas ideias e reivindicações, na esperança de que alguns dos candidatos em outubro, as escute e assume. A questão do envelhecimento é pouco discutida na sociedade e poderes públicos mas é preciso que venha à tona pois todos estão condenados a este processo de amadurecimento. Ao chegar à idade, as capacidades físicas e mentais se debilitam e não raro abalam a capacidade de trabalho e a autoestima, provocando, até, o isolamento e o afastamento do convívio social. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, quase metade dos idosos do país (48,9%) sofre de mais de uma doença crônica. E uma das mais graves é a depressão, queixa de 9,2%. Esse quantitativo aumenta quando os idosos então internados em asilos ou hospitais. A causa da doença está relacionada a fatores biológicos, sociais, e psicológicos mas os poderes públicos pouca atenção dão a ela. Os sintomas de isolamento, falta de interesse em participar de atividades do dia a dia, tristeza duradoura, acompanhada de desânimo, apatia, não dormir bem, perder apetite, entre outros, são sintomas que não podem ser negligenciados pela sociedade. É obrigação constitucional da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Sem maior capacidade de mobilização na defesa de seus interesses os idosos têm visto seu prestígio junto à sociedade baixar a níveis alarmantes, enquanto suas dificuldades se multiplicam. A cada Reforma Previdenciária se renovam as acusações de que os inativos se constituem num ônus para a sociedade e se renovam medidas legais de confisco de suas aposentadorias e pensões com vistas à equilibrar orçamentos públicos da União, Estado e Municípios à título de Contribuições Previdenciárias, já cobradas dos servidores públicos e prometidas aos do setor público. Esquecem-se de que os idosos de hoje foram os ativos de ontem e anteontem e que foram eles, sob condições mais difíceis de trabalho e remuneração, que contribuíram para que melhorassem os níveis de produtividade e renda da economia como um todo. Alguns audaciosos, inclusive, se propõem a substituir a aposentadoria como um direito social público por uma opção de investimento privado, sempre sujeita às inevitáveis oscilações e quebras do mercado. Nos Estados Unidos, a crise de 2008 acabou com inúmeros Fundos de Pensão e seus beneficiários empobrecidos vivem hoje às custas de Vales Refeição oferecidos pelas Prefeituras e Clubes de Serviço. No Chile este modelo privatista reduziu à fome as aposentadorias e pensões à ponto de insuflar uma revolta popular que redundou na convocação de uma Assembleia Constituinte, ainda em curso naquele país. Não é muito diferente na Europa. Diante disso é imperioso que se informe à sociedade, sobretudo os mais jovens em idade ativa, sobre a inelutabilidade do compromisso ético intergeneracional, no qual os filhos são responsáveis pelos país da mesma forma que os país são por eles responsáveis quando nascem. Os trabalhadores ativos, portanto, têm uma obrigação ética com aqueles que os precederam e devem contribuir para seu bem estar. A questão previdenciária é, antes que tudo, uma questão política e não uma questão estatística. Outra questão que ficou evidente na pandemia foi o abandono dos idosos à sua própria sorte, cabendo-lhes, na medida das suas possibilidades ir à cata de um apoio médico. Mesmo sabendo da incidência e maior gravidade da doença sobre idosos, os poderes públicos não os trataram com atenção especial. Os Conselho Nacional do Idoso e respectivos Conselhos Municipais do Idoso simplesmente sumiram, quando mais eram necessários. Isso nos induz a exigir uma imediata revisão do ESTATUO DO IDOSO com o objetivo de profissionalizar os membros dos Conselhos Municipais do Idoso, à semelhança do Conselho Tutelar criado pelo ECAD, de forma a que venham a melhor conhecer e assistir o idoso em seus respectivos municípios. Mas o idoso não precisa apenas de cuidados médicos e respeito previdenciário. Urge atendê-los em suas reivindicações sociais, obrigando a cada Municípios que disponha de um Centros de Vivência e Acolhimento, devidamente instrumentalizados com equipamentos e pessoal qualificado para a devida atenção aos idosos. Muitos municípios já dispõem destes centros mas urge disseminá-los pelo país. Torres, RS - 26 julho 2022 – DIA DOS AVÓS Assinam Luiz Fernando Sanzi Paulo Tim


Dia da Liberdade de Cultos - Data: 7 de janeiro

Segundo o artigo 5º da Constituição de 1988, “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
E a Carta Magna acrescenta: “Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa, convicção filosófica ou política”.
Por sugestão do escritor baiano Jorge Amado, então deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro de São Paulo, a liberdade religiosa já havia sido assegurada pela Constituição de 1946.
Mas a primeira lei sobre o tema é de 7 de janeiro de 1890, daí a comemoração nesta data. Trata-se de um decreto assinado pelo presidente Marechal Deodoro da Fonseca.
No Brasil, a liberdade de culto e o respeito às diversas religiões são fundamentais para um convívio social pacífico, ao mesmo tempo em que enriquecem nossa cultura.
DECRETO Nº 119-A, DE 7 DE JANEIRO DE 1890
Prohibe a intervenção da autoridade federal e dos Estados federados em materia religiosa, consagra a plena liberdade de cultos, extingue o padroado e estabelece outras providências.
O Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisório da Republica dos Estados Unidos do Brazil, constituido pelo Exercito e Armada, em nome da Nação, decreta:

Art. 1º E' prohibido á autoridade federal, assim como à dos Estados federados, expedir leis, regulamentos, ou actos administrativos, estabelecendo alguma religião, ou vedando-a, e crear differenças entre os habitantes do paiz, ou nos serviços sustentados à custa do orçamento, por motivo de crenças, ou opiniões philosophicas ou religiosas.

Art. 2º A todas as confissões religiosas pertence por igual a faculdade de exercerem o seu culto, regerem-se segundo a sua fé e não serem contrariadas nos actos particulares ou publicos, que interessem o exercicio deste decreto.

Art. 3º A liberdade aqui instituida abrange não só os individuos nos actos individuaes, sinão tambem as igrejas, associações e institutos em que se acharem agremiados; cabendo a todos o pleno direito de se constituirem e viverem collectivamente, segundo o seu credo e a sua disciplina, sem intervenção do poder publico.

Art. 4º Fica extincto o padroado com todas as suas intituições, recursos e prerogativas.

Art. 5º A todas as igrejas e confissões religiosas se reconhece a personalidade juridica, para adquirirem bens e os administrarem, sob os limites postos pelas leis concernentes à propriedade de mão-morta, mantendo-se a cada uma o dominio de seu haveres actuaes, bem como dos seus edificios de culto.

Art. 6º O Governo Fedeeral continúa a prover á congrua, sustentação dos actuaes serventuarios do culto catholico e subvencionará por um anno as cadeiras dos seminarios; ficando livre a cada Estado o arbitrio de manter os futuros ministros desse ou de outro culto, sem contravenção do disposto nos artigos antecedentes.

Art. 7º Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões do Governo Provisório, 7 de janeiro de 1890, 2º da Republica.
Manoel Deodoro da Fonseca. - Aristides da Silveira Lobo. - Ruy Barbosa. - Benjamin Constant Botelho de Magalhães. - Eduardo Wandenkolk. - M. Ferraz de Campos Salles. - Demetrio Nunes Ribeiro. - Q. Bocayuva.

Este texto não substitui o original publicado no Coleção de Leis do Brasil de 1890


 Perspectivas para 2020


Paulo Timm – A FOLHA, 03/Janeiro 2019


Findo os festejos, hora de dar uma olhada e ver o que realmente nos espera no ano já em curso. A grande pergunta: Sobreviveremos? A grande maioria, sim, mas muitos ficarão pelo caminho, vítimas do mero envelhecimento, que no Japão já chega a 88 anos de expectativa de vida, outros, principalmente no Brasil, vítimas de homicídios, acidentes de carro e balas perdidas. Estes somarão 120 mil. Nada promissor. Pior do que a morte, porém, são os suplícios da pobreza dos 100 milhões de brasileiros que ganham até um salário mínimo, agora de R$ 1.039,00, que traz consigo duas grandes chagas: a diminuição de até 20 anos na esperança de vida neste segmento e as condiçõe sub-humanas deste menor tempo de vida em meio ao desemprego, baixas ofertas de serviços públicos como lazer e cultura, levando os milhares jovens aos pancadões e violência suburbana. Triste! Diante disso todos se indagam se este ano será melhor. E aqui, muitas divisões.
Para setores alinhados ao Governo Federal o ano de 2020 anuncia-se como bem melhor do que os cinco anteriores. Divulgam, até, bons indicadores nas vendas de fim ano, nem todos dignos de confiança. Mas confiam que a economia crescerá acima de 2%, que a inflação permanecerá baixa, confirmando um baixo nível de juros e que reorientará os investidores para aplicações mais produtivas, seja na Bolsa de Valores, seja em Fundos Imobiliários que poderão alavancar a construção civil, seja em participações em novos negócios. Advertem, porém, que não haverá grande impacto no emprego pois as empresas já se adaptaram às novas exigências da concorrência através de superiores patamares tecnológicos. Além disso contam com os bons reflexos de uma safra recorde de 243 milhões de toneladas de grãos, das quais em torno de 124 milhões de toneladas de soja, nível superior ao americano, sobre o comércio exterior e sobre o mercado interno. Além disso, contam com uma nova realidade fiscal do Tesouro da União, não tanto em razão da Reforma da Previdência aprovada em 2019, cujos reflexos, aliás pífios, só serão percebidos daqui a dois ou três anos, mas de duas contribuições extraordinárias: 50 bilhões de reais oriundos das privatizações e outro tanto do petróleo do pré-sal. Isso daria uma certa folga no Orçamento da União, por primeira vez depois de muitos anos, para a realização do sonho do Presidente Bolsonaro: Mais investimentos em Políticas Sociais de forma a capturar o apoio dos céticos eleitores com menor nível de renda, sobretudo no Nordeste. Já cogitam, ainda, lançar mão de parte excedente das divisas em dólares, de elevado custo em juros, para o reforço deste novo populismo de corte autoritário, vez que sem mediação de organizações populares.
Contra esta versão, alinha-se a Oposição, fortemente inclinada à tese da tendência ao estancamento da economia sob o comando liberal, vez que onerada pela contração do poder de consumo da classe trabalhadora, cada vez mais orientada à “uberização” de seu modo de sobrevência: troca de empregos estáveis por bicos precários que vão da venda de balas e salgadinhos nos pontos de ônibus à difícil vida como “auto-empreendedores”. Denunciam, inclusive, a grosseira manipulação dos dados sobre as vendas de Natal, evidenciando-o como parte de uma campanha destinada a influenciar as expectativas do mercado. Não acredita, também, a Oposição, na orientação social dos novos investimentos oriundos das privatizações e pré-sal ao não reconhecer qualquer vocação do Governo Bolsonaro para o atendimento das necessidades sociais da população mais carente. Demonstram, inclusive, os cortes nos Orçamentos da Educação e Saúde como indicadores da “perversidade” inata dos neoliberais. Esquecem-se, talvez, que está havendo uma troca de investimentos institucionais para um provável aumento em investimentos ocasionais...
Vale lembrar que esta polarização ideológica sobre fundamentos e perspectivas da economia brasileiras também ocorreu na década de 1960, logo depois do golpe de 64, quando ascendeu ao comando da matriz governamental o ex Ministro Roberto Campos, com forte inclinação liberal e que também conduziu ao achatamento salarial paralelo à mudanças importantes na esfera econômica: criação do Banco Central e Banco Nacional da Habitação, este sustentando por um novo instituto nas relações de trabalho, em substituição `a anterior “estabilidade” aos 10 anos no emprego, o FGTS, fortemente repelido em seus primeiros anos de aplicação. Levantando clamores contra seus excessos liberais dentro do próprio regime, Campos cai e em seu lugar emerge o novo Czar da Economia, Delfim Neto, um pragmático, obtendo surpreendentes resultados positivos, logo nomeados como “Milagre Brasileiro”, em 1968. Isso, na época, surpreendeu a Oposição que, mercê de seu pessimismo quanto às potencialidades do capitalismo brasileiro, atirara-se ao confronto armado com o regime, vindo a isolar-se crescentemente do processo político. Em 1970, no auge dos Anos de Chumbo, vitorioso, o Presidente Médici, regozijava-se pelos “feitos da Revolução de 64”.
Tudo de novo...?


Marcas e marcos do ano 2019

Na década de 1980 um livro fez muito sucesso nos Estados Unidos, vindo a liderar as vendas por dois anos seguidos e publicado em outros 57 países: “Megatendências”. Em seguida, o autor, John Naisbit, publicou sequências deste volume com “Megatendências 2000”, “Megatendências na Asia” e “Paradoxo Global”, todas com grande repercussão. Hoje, visto em retrospectiva, vemos que Naisbit era uma espécie de profeta. Viu tudo. Ou quase tudo o que viria a ocorrer. Sua fórmula, entretanto, nada tinha de mística. Ele próprio costumava dizer que bastava ver o que já estava acontecendo. Eis, recapitulando, as 10 maiores mudanças advertidas em “Megatrends”:
1. De uma sociedade Industrial para uma sociedade de informação;2. Da sociedade do Poder para a sociedade High tech-high touch; 3. Da economia local para uma economia mundial; 4. Do curto para o longo prazo – A grande questão: em que negócio você está envolvido?; 5. Da centralização para a descentralização, onde estruturas centralizadoras estão morrendo; 6. Da Ajuda institucional para a
auto-ajuda; 7. Da democracia representativa para a democracia participativa
8. Da Hierarquia para o Network/Redes; 9. Do Norte para o Sul; 10. Múltiplas opções.
Naisbit, além das previsões, gostava, também, de chamar a atenção para palavras, expressões e objetos em curso, em cada período de tempo, mostrando, numa espécie de mostra etnográfica, o mapa de usos e costumes reinante. Costumava, inclusive, com sua esposa, fazer uma espécie de exposição deste mapa ao final de cada ano. Aí me ocorreu alinhar, neste final de 2019, alguns nomes, temas e conceitos que se incorporaram ao nosso cotidiano aqui no Brasil. Não se trata, claro, de fazer uma enciclopédia deste cotidiano, mas de registrar, alguns tópicos à posteridade, sobretudo no campo político. Ei-los:
Pós verdade – Uma era em que a opinião ou versão de cada um, mesmo tratando-se do Presidente da República, se sobrepôe aos fatos e até mesmo consolidadas teses científicas.
Terraplanistas – Seita de pessoas convictas de que a Terra é plana e não esférica.
Excludente de ilicitude – Medida proposta pelo Presidente Bolsonaro com o objetivo de excluir agentes da Segurança Pública de qualquer ação judicial em decorrência de seus excessos, mesmo em caso de óbitos.
Crédito de Carbono – Instituto criado no âmbito das Conferências Internacionais sobre o Clima, decorrentes da ECO-92, que consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável, que permite à empresas e países que cumprirem a contento suas metas de redução de emissão de gás carbônico, negociarem seus saldos.
Greta Thunburg – jovem adolescente sueca que se notabilizou na defesa do Meio Ambiente no Mundo e que adotou o apelido “Pirralha”, com o qual o Presidente Bolsonaro a caracterizou.
Olavistas – Membros do Governo Bolsonaro que se proclamam leais seguidores dos ensinamentos do Sr. Olavo de Carvalho, um intelectual brasileiro auto-didata, ultra conservador, residente
Bolsonarês – Estilo de linguagem própria do Presidente Bolsonaro e outros membros do alto escalão da República e objeto de publicação como Glossário na Revista Veja - https://veja.abril.com.br/politica/glossario-de-bolsonares-para-entender-o-novo-governo/, a saber:
“Marxismo cultural - A influência que ativistas políticos e teóricos de esquerda exercem em diversas áreas da produção cultural, como música, teatro, cinema, mídia e a própria educação, a fim de disseminar conceitos políticos comunistas e socialistas. Para o presidente, representa o enfraquecimento de valores morais nacionais e a promoção da ideologia de gênero.
Doutrinação - Na lógica bolsonarista, é a imposição, por parte de professores, de valores morais e políticos vinculados à esquerda aos estudantes.
Viés ideológico - Além de um mecanismo de “doutrinação”, é a opção de abordagem de qualquer questão a partir apenas da ótica de esquerda.
Escola Sem Partido - É um movimento e um projeto de lei homônimos que pretendem coibir a discussão de questões morais, políticas e sexuais em sala de aula, como forma de evitar a suposta doutrinação dos estudantes por professores. Em discursos, a expressão também é utilizada para definir de forma genérica o sistema educacional onde não estejam presentes, em especial, as ideias políticas de esquerda e a ideologia de gênero.
Ideologia de gênero - Apelido dado à teoria que estabelece sexo biológico e gênero como sendo coisas independentes, permitindo que um indivíduo biologicamente homem possa ter uma expressão de gênero feminina, se identificando socialmente como mulher, por exemplo. Também está relacionada ao papel social de homens e mulheres e contra a discussão em sala de aula sobre a desigualdade de oportunidades entre gêneros na sociedade.

Humanos direitos - variante do “cidadão de bem”, define para quem devem ser garantidos os direitos humanos básicos.
Terrorismo - Além dos significados comuns, essa expressão também é usada para definir as invasões a propriedades privadas organizadas por movimentos sociais, que, acredita o governo, devem ser tipificadas desta forma.
Talkei - Para o fim de todos os assuntos, o presidente eleito complementa as ideias com “talkei”. É uma expressão para certificar que a pessoa com quem ele fala está entendendo e, também, para ele conseguir completar a linha de raciocínio sem conseguir se perder, talkei?

Fake News - Termo em inglês que significa “notícias falsas”. Na retórica do presidente, foi expandido para reportagens com as quais ele discorda, independentemente da sua veracidade.

Politicamente correto - É a defesa, criticada pelo presidente, de que expressões, brincadeiras e outras manifestações jocosas dirigidas a setores vulneráveis da sociedade e minorias devem ser coibidas. Para o presidente, trata-se de vitimismo e de restrição à liberdade de expressão.

Vitimismo e mimimi - A crença de que militantes de grupos minoritários buscam publicizar qualquer manifestação contrária aos seus interesses como forma de pressionar a classe política e a sociedade civil a aprovarem projetos de lei que lhes garantam o que considera privilégios.”
Como diria Machado de Assis: “ Vá o feito!” Vai-se o ano.


 


Paulo Timm – A FOLHA, 03/Janeiro 2020


Findo os festejos, hora de dar uma olhada e ver o que realmente nos espera no ano já em curso. A grande pergunta: Sobreviveremos? A grande maioria, sim, mas muitos ficarão pelo caminho, vítimas do mero envelhecimento, que no Japão já chega a 88 anos de expectativa de vida, outros, principalmente no Brasil, vítimas de homicídios, acidentes de carro e balas perdidas. Estes somarão 120 mil. Nada promissor. Pior do que a morte, porém, são os suplícios da pobreza dos 100 milhões de brasileiros que ganham até um salário mínimo, agora de R$ 1.039,00, que traz consigo duas grandes chagas: a diminuição de até 20 anos na esperança de vida neste segmento e as condiçõe sub-humanas deste menor tempo de vida em meio ao desemprego, baixas ofertas de serviços públicos como lazer e cultura, levando os milhares jovens aos pancadões e violência suburbana. Triste! Diante disso todos se indagam se este ano será melhor. E aqui, muitas divisões.
Para setores alinhados ao Governo Federal o ano de 2020 anuncia-se como bem melhor do que os cinco anteriores. Divulgam, até, bons indicadores nas vendas de fim ano, nem todos dignos de confiança. Mas confiam que a economia crescerá acima de 2%, que a inflação permanecerá baixa, confirmando um baixo nível de juros e que reorientará os investidores para aplicações mais produtivas, seja na Bolsa de Valores, seja em Fundos Imobiliários que poderão alavancar a construção civil, seja em participações em novos negócios. Advertem, porém, que não haverá grande impacto no emprego pois as empresas já se adaptaram às novas exigências da concorrência através de superiores patamares tecnológicos. Além disso contam com os bons reflexos de uma safra recorde de 243 milhões de toneladas de grãos, das quais em torno de 124 milhões de toneladas de soja, nível superior ao americano, sobre o comércio exterior e sobre o mercado interno. Além disso, contam com uma nova realidade fiscal do Tesouro da União, não tanto em razão da Reforma da Previdência aprovada em 2019, cujos reflexos, aliás pífios, só serão percebidos daqui a dois ou três anos, mas de duas contribuições extraordinárias: 50 bilhões de reais oriundos das privatizações e outro tanto do petróleo do pré-sal. Isso daria uma certa folga no Orçamento da União, por primeira vez depois de muitos anos, para a realização do sonho do Presidente Bolsonaro: Mais investimentos em Políticas Sociais de forma a capturar o apoio dos céticos eleitores com menor nível de renda, sobretudo no Nordeste. Já cogitam, ainda, lançar mão de parte excedente das divisas em dólares, de elevado custo em juros, para o reforço deste novo populismo de corte autoritário, vez que sem mediação de organizações populares.
Contra esta versão, alinha-se a Oposição, fortemente inclinada à tese da tendência ao estancamento da economia sob o comando liberal, vez que onerada pela contração do poder de consumo da classe trabalhadora, cada vez mais orientada à “uberização” de seu modo de sobrevência: troca de empregos estáveis por bicos precários que vão da venda de balas e salgadinhos nos pontos de ônibus à difícil vida como “auto-empreendedores”. Denunciam, inclusive, a grosseira manipulação dos dados sobre as vendas de Natal, evidenciando-o como parte de uma campanha destinada a influenciar as expectativas do mercado. Não acredita, também, a Oposição, na orientação social dos novos investimentos oriundos das privatizações e pré-sal ao não reconhecer qualquer vocação do Governo Bolsonaro para o atendimento das necessidades sociais da população mais carente. Demonstram, inclusive, os cortes nos Orçamentos da Educação e Saúde como indicadores da “perversidade” inata dos neoliberais. Esquecem-se, talvez, que está havendo uma troca de investimentos institucionais para um provável aumento em investimentos ocasionais...
Vale lembrar que esta polarização ideológica sobre fundamentos e perspectivas da economia brasileiras também ocorreu na década de 1960, logo depois do golpe de 64, quando ascendeu ao comando da matriz governamental o ex Ministro Roberto Campos, com forte inclinação liberal e que também conduziu ao achatamento salarial paralelo à mudanças importantes na esfera econômica: criação do Banco Central e Banco Nacional da Habitação, este sustentando por um novo instituto nas relações de trabalho, em substituição `a anterior “estabilidade” aos 10 anos no emprego, o FGTS, fortemente repelido em seus primeiros anos de aplicação. Levantando clamores contra seus excessos liberais dentro do próprio regime, Campos cai e em seu lugar emerge o novo Czar da Economia, Delfim Neto, um pragmático, obtendo surpreendentes resultados positivos, logo nomeados como “Milagre Brasileiro”, em 1968. Isso, na época, surpreendeu a Oposição que, mercê de seu pessimismo quanto às potencialidades do capitalismo brasileiro, atirara-se ao confronto armado com o regime, vindo a isolar-se crescentemente do processo político. Em 1970, no auge dos Anos de Chumbo, vitorioso, o Presidente Médici, regozijava-se pelos “feitos da Revolução de 64”.
Tudo de novo...?


Marcas e marcos do ano 2019

Na década de 1980 um livro fez muito sucesso nos Estados Unidos, vindo a liderar as vendas por dois anos seguidos e publicado em outros 57 países: “Megatendências”. Em seguida, o autor, John Naisbit, publicou sequências deste volume com “Megatendências 2000”, “Megatendências na Asia” e “Paradoxo Global”, todas com grande repercussão. Hoje, visto em retrospectiva, vemos que Naisbit era uma espécie de profeta. Viu tudo. Ou quase tudo o que viria a ocorrer. Sua fórmula, entretanto, nada tinha de mística. Ele próprio costumava dizer que bastava ver o que já estava acontecendo. Eis, recapitulando, as 10 maiores mudanças advertidas em “Megatrends”:
1. De uma sociedade Industrial para uma sociedade de informação;2. Da sociedade do Poder para a sociedade High tech-high touch; 3. Da economia local para uma economia mundial; 4. Do curto para o longo prazo – A grande questão: em que negócio você está envolvido?; 5. Da centralização para a descentralização, onde estruturas centralizadoras estão morrendo; 6. Da Ajuda institucional para a
auto-ajuda; 7. Da democracia representativa para a democracia participativa
8. Da Hierarquia para o Network/Redes; 9. Do Norte para o Sul; 10. Múltiplas opções.
Naisbit, além das previsões, gostava, também, de chamar a atenção para palavras, expressões e objetos em curso, em cada período de tempo, mostrando, numa espécie de mostra etnográfica, o mapa de usos e costumes reinante. Costumava, inclusive, com sua esposa, fazer uma espécie de exposição deste mapa ao final de cada ano. Aí me ocorreu alinhar, neste final de 2019, alguns nomes, temas e conceitos que se incorporaram ao nosso cotidiano aqui no Brasil. Não se trata, claro, de fazer uma enciclopédia deste cotidiano, mas de registrar, alguns tópicos à posteridade, sobretudo no campo político. Ei-los:
Pós verdade – Uma era em que a opinião ou versão de cada um, mesmo tratando-se do Presidente da República, se sobrepôe aos fatos e até mesmo consolidadas teses científicas.
Terraplanistas – Seita de pessoas convictas de que a Terra é plana e não esférica.
Excludente de ilicitude – Medida proposta pelo Presidente Bolsonaro com o objetivo de excluir agentes da Segurança Pública de qualquer ação judicial em decorrência de seus excessos, mesmo em caso de óbitos.
Crédito de Carbono – Instituto criado no âmbito das Conferências Internacionais sobre o Clima, decorrentes da ECO-92, que consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável, que permite à empresas e países que cumprirem a contento suas metas de redução de emissão de gás carbônico, negociarem seus saldos.
Greta Thunburg – jovem adolescente sueca que se notabilizou na defesa do Meio Ambiente no Mundo e que adotou o apelido “Pirralha”, com o qual o Presidente Bolsonaro a caracterizou.
Olavistas – Membros do Governo Bolsonaro que se proclamam leais seguidores dos ensinamentos do Sr. Olavo de Carvalho, um intelectual brasileiro auto-didata, ultra conservador, residente
Bolsonarês – Estilo de linguagem própria do Presidente Bolsonaro e outros membros do alto escalão da República e objeto de publicação como Glossário na Revista Veja - https://veja.abril.com.br/politica/glossario-de-bolsonares-para-entender-o-novo-governo/, a saber:
“Marxismo cultural - A influência que ativistas políticos e teóricos de esquerda exercem em diversas áreas da produção cultural, como música, teatro, cinema, mídia e a própria educação, a fim de disseminar conceitos políticos comunistas e socialistas. Para o presidente, representa o enfraquecimento de valores morais nacionais e a promoção da ideologia de gênero.
Doutrinação - Na lógica bolsonarista, é a imposição, por parte de professores, de valores morais e políticos vinculados à esquerda aos estudantes.
Viés ideológico - Além de um mecanismo de “doutrinação”, é a opção de abordagem de qualquer questão a partir apenas da ótica de esquerda.
Escola Sem Partido - É um movimento e um projeto de lei homônimos que pretendem coibir a discussão de questões morais, políticas e sexuais em sala de aula, como forma de evitar a suposta doutrinação dos estudantes por professores. Em discursos, a expressão também é utilizada para definir de forma genérica o sistema educacional onde não estejam presentes, em especial, as ideias políticas de esquerda e a ideologia de gênero.
Ideologia de gênero - Apelido dado à teoria que estabelece sexo biológico e gênero como sendo coisas independentes, permitindo que um indivíduo biologicamente homem possa ter uma expressão de gênero feminina, se identificando socialmente como mulher, por exemplo. Também está relacionada ao papel social de homens e mulheres e contra a discussão em sala de aula sobre a desigualdade de oportunidades entre gêneros na sociedade.

Humanos direitos - variante do “cidadão de bem”, define para quem devem ser garantidos os direitos humanos básicos.
Terrorismo - Além dos significados comuns, essa expressão também é usada para definir as invasões a propriedades privadas organizadas por movimentos sociais, que, acredita o governo, devem ser tipificadas desta forma.
Talkei - Para o fim de todos os assuntos, o presidente eleito complementa as ideias com “talkei”. É uma expressão para certificar que a pessoa com quem ele fala está entendendo e, também, para ele conseguir completar a linha de raciocínio sem conseguir se perder, talkei?

Fake News - Termo em inglês que significa “notícias falsas”. Na retórica do presidente, foi expandido para reportagens com as quais ele discorda, independentemente da sua veracidade.

Politicamente correto - É a defesa, criticada pelo presidente, de que expressões, brincadeiras e outras manifestações jocosas dirigidas a setores vulneráveis da sociedade e minorias devem ser coibidas. Para o presidente, trata-se de vitimismo e de restrição à liberdade de expressão.

Vitimismo e mimimi - A crença de que militantes de grupos minoritários buscam publicizar qualquer manifestação contrária aos seus interesses como forma de pressionar a classe política e a sociedade civil a aprovarem projetos de lei que lhes garantam o que considera privilégios.”
Como diria Machado de Assis: “ Vá o feito!” Vai-se o ano.


DIREITOS HUMANOS, CLIMA E SUSTENTABILIDADE

Paulo Timm

 

A recente intervenção da Polícia Militar em um baile funk em Paraisópolis, São Paulo, que resultou na morte, já classificada como assassinato pela Promotoria daquele Estado, de nove jovens, traz à tona a questão dos Direitos Humanos, ultimamente desgastada em razão da truculência reinante no país. Com mais razão, impõe-se o tema devido a celebração, em 10 deste mês, do Dia Internacional dos Direitos Humanos, assim configurado pela ONU, em 1968, como marco da data, no ano de 1948, da aprovação da Declaração dos Direitos Humanos, cuja primeira versão data da Revolução Francesa. Aliás, você já a leu alguma vez?

Duas conferências internacionais , em 1968, em Teerã, e em 1993, em Viena , deram impulsos significativos à questão dos Direitos Humanos. O primeiro, conceitual, que assegurou um nível de adesão à defesa dos direitos humanos por quase 200 países; o segundo, institucional , garantindo a criação do ALTO COMISSARIADO dos direitos humanos na ONU e apontando para a criação do TRIBUNAL INTERNACIONAL DE CRIMES CONTRA A HUMANIDADE , hoje em pleno funcionamento em Roma, como um verdadeiro Poder Judiciário Internacional, cujo o projeto básico foi resultado de uma Conferência Internacional, em junho de 1998 , em Roma. Rigorosamente, qualquer pessoa, atingida em seus direitos fundamentais, pode recorrer a este Tribunal em busca de justiça. Já estão em curso, inclusive, com o Tribunal de Roma , diversos processos sobre áreas objeto de ações capituladas como crimes contra a humanidade . Com isto, direitos humanos deixou de ser uma bandeira de abnegados e passou a se constituir numa verdadeira Agenda para o século XXI , à qual se inclina a comunidade internacional . Três princípios consagram o avanço conceitual no campo dos Direitos Humanos: 1 - indivisibilidade dos direitos civis , políticos, econômicos , sociais e culturais; 2 - universalidade na sua observância ; 3 - indissociabilidade entre democracia , desenvolvimento e defesa dos direitos humanos . Rigorosamente, pois, não se pode, senão para fins pedagógicos ou de reconstituição de seu processo histórico, separar os direitos humanos em suas dimensões civis, políticas e sociais. Contemporaneamente, eles constituem um todo indivisível. Tampouco se pode limitar sua observância, que se impõe, hoje, em escala universal, embora não se deva admitir que algum país se imponha como seu Juiz Supremo. Não se pode dissociar, também, o respeito aos direitos humanos do Estado de Direito democrático e do Desenvolvimento.

Claro que a conquista deste patamar dos Direitos Humanos, a um tempo teórico, a um tempo político e a um tempo jurídico, não se deu sem outros avanços na Teoria do Estado e do próprio trânsito de um liberalismo de princípios, do começo da Era Moderna, para um “liberalismo social-democrático”, ao qual aderiram variados espectros ideológicos do Ocidente, ao longo do século XX. Na prática, foi o tema dos “direitos humanos” que provocou um deslocamento da velha direita para à esquerda, enquanto a esquerda “enragé”, do começo do século, se deslocava para o centro. E, exatamente por isto, as diferenças ideológicas, tão acentuadas foram como que se diluindo com o tempo, vindo, lamentavelmente, a abrir espaço para o ressurgimento do fascismo.. Exagero ou não, a defesa dos direitos humanos opera como um fator de correção aos excessos do radicalismo nas pugnas políticas contemporâneas. Importante passo para a compreensão do deslocamento da ênfase do Pacto Fundamental da Sociedade do Estado para o Indivíduo e da importância do individualismo como categoria fundamental dos “direitos humanos” foi a contribuição de Norberto Bobbio, em seu clássico “ A Era dos Direitos”, de 1992. Ele demonstra como o Estado Moderno, ao contrário da era de T.Hobbes, autor do LeviAtã no século XVII, sobrevive graças ao que chama “revolução coperniquiana” que fez com que , mais do que “deveres” frente ao Estado, os indivíduos detenham “direitos”. “A concepção individualista custou a abrir caminho, já que foi geralmente considerada fomentadora de desunião, de discórdia, de ruptura da ordem constituída. Em Hobbes, surpreende o contraste entre o ponto de partida individualista e a persistente figuração do Estado como um corpo ampliado, um “homem artificial”, no qual o soberano é a alma, os magistrados são as articulações, as penas e os prêmios são os nervos, etc. A concepção orgânica é tão persistente que, ainda nas vésperas da Revolução Francesa, que proclama os direitos do indivíduo diante do Estado, Edmundo Burke escreve: ‘ Os indivíduos passam como sombras, mas o Estado é fixo e estável’. Estado e sociedade, enfim, doravante, deverão empenhar-se na reorganização de seus sistemas político, econômico e cultural , com vistas ao fortalecimento do processo de legitimação, de um crescimento cada vez mais eqüitativo e uma autonomia cada vez mais tolerante, fundada na educação para o decidir , fazer, conviver e ser.

As repercussões de atitudes de respeito ao outro ocorrem nos campos político, social, cultural e econômico. É interessante observar que o prólogo da Declaração Universal dos Diretos Humanos articula a imperiosa necessidade de livrar o ser humano do medo, ou da opressão, e da miséria. Ou seja, quando se fala em pleno respeito aos direitos de cada um e de todo ser humano, eliminar o medo é crucial para garantir que não se pratica a violência como forma de defesa contra alguém que se teme, porque nem se sabe quem é. O sentido de educar para a tolerância/respeito e de praticá-los está também aí: conhecer o outro, todos os outros, que vivem de forma distinta daquela que conhecemos. Apenas o conhecimento pode levar à superação do medo que gera preconceito e discriminação.

Este novo “Sistema de Segurança Humana”, em escala mundial, é a consequência natural da democracia como valor universal, fundado ontologicamente na liberdade. É verdade que o século XX foi palco de algumas ilusões totalitárias como o fascismo , o socialismo-real(stalinismo) e alguns regimes fundamentalistas islâmicos. É verdade, também, que entramos no século XXI sob a ameaça de poderosos instrumentos de controle da opinião pública que acabam respaldando o retorno à cena política de fantasmas da exceção. A América Latina foi, também, palco de sangrentas ditaduras militares nas décadas de 60 e 70. Lamentavelmente, o autoritarismo ainda é uma tentação que se converte, não raro, em realidade, às vezes duradoura, sempre à espreita. Mas, irremediavelmente, transitória. .Daí porque Hayeck , liberal insuspeito, assinalar : “Ao governo que pode ser desconstituído, chamo democracia”

Claro que a bandeira dos Direitos Humanos não é uma panacéia para todos os males do século atual.. Ressalte-se que a questão dos direitos humanos está associada aos próprios requisitos do desenvolvimento sustentável, este conceito abrangente que hoje, consagrada pela Eco-92, no Rio de Janeiro, procura um novo caminho para a humanidade sobre três requisitos: 1 – Eficiência econômica; 2 – Equidade; 3 – Reciclagem dos recursos naturais A eficiência só será alcançada através do uso de tecnologias propiciadas pela ciência e tecnologia; a renovação dos recursos naturais só será possível através de uma nova consciência sobre o reaproveitamento de tudo o que é usado no processo industrial; e a equidade, através da capacidade redistributiva do desenvolvimento assegurar uma sociedade mais justa. E nessa equidade reside a garantia de que os direitos humanos serão respeitados em todo seu espectro de indivisibilidade , indissolubilidade e abrangência dos seus elementos civis, políticos e sócio-econômicos constitutivos. O conceito de sustentabilidade é, pois, precisamente , o elo que faltava à cadeia conceitual da articulação indissolúvel entre direitos civis, políticos e sociais. Hoje, em Madri reúne-se nova Conferência Internacional sobre clima que reavaliará as metas do Acordo de Paris há alguns anos. Dela está fora os Estados Unidos e teme-se que fracassemos nos esforços de impedir a emissão de gases estufa que poderão desencadear a escalada da elevação da temperatura média do planeta. Aí, ninguém escapará. E os esforços na defesa dos Direitos Humanos terão sido em vão.

 


O dia que fiquei invisível 

Paulo Timm - Publicado A FOLHA, Torres RS, 21 dez 2019

Síntese de um depoimento arrasador de Silvia Castillejos, publicado em EL DIA, México, 2002. Importante reflexão nestes dias de Natal e que remetem à advertência do grande escritor W.Faulkner, em 10 de dezembro de1950, quando falou, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura: -“Eu me recuso a aceitar o fim do homem”. Eu acrescentaria: - Nem o fim, nem sua invisibilidade - seja por idade, condição social ou cor da pele - que não é, senão, o prenúncio do fim pela substituição dos valores pelos algoritmos.

“.Não sei que dia é hoje. Nesta casa não há calendários e, na minha memória, as datas estão todas emaranhadas. (...) . Todas as casas antigas foram desaparecendo. E eu, eu também fui me apagando, sem que ninguém se desse conta.

Primeiro me trocaram de quarto (...). Depois me passaram para outro menor ainda, acompanhada de uma das minhas bisnetas. Agora ocupo o quartinho das bugigangas, que fica no quintal. (...)

Faz muito tempo que eu tinha intenção de escrever, mas passei semanas procurando uma caneta e, quando encontrava, eu mesma voltava a esquecer onde a tinha posto. Na minha idade as coisas se perdem facilmente: claro que é uma doença delas, das coisas, porque eu tenho certeza de que as tenho; são elas que sempre desaparecem.

Numa outra tarde, notei que a minha voz também tinha desaparecido. Quando eu falo com os meus netos ou com os meus filhos, eles não me respondem. Todos conversam sem me olhar, como se eu não estivesse com eles, escutando atenta o que eles dizem. Às vezes tento participar da conversa, certa de que vou dizer algo em que nenhum deles tinha pensado, e de que os meus conselhos vão ser bem úteis para eles. Mas eles não me ouvem, não me olham, não me respondem. Então, cheia de tristeza, eu me retiro para o meu quarto (.... )Outro dia, eu disse a eles que, quando morresse, aí sim todos iam sentir a minha falta. O neto menor respondeu: “Ah, mas a senhora ainda está viva, vovó?”. Eles acharam tanta graça que não paravam de rir (...).

Quando meu genro ficou doente, achei que era uma oportunidade para ser útil a ele. Levei um chá especial que eu mesma preparei. Coloquei-o na mesinha e me sentei para esperar que ele o tomasse, mas ele continuou vendo televisão e nenhum movimento me indicou que ele tinha sequer notado a minha presença. O chá foi esfriando (...) e, junto com ele, o meu coração.

Numa sexta-feira, as crianças se alvoroçaram e vieram me dizer que no dia seguinte íamos todos passar um dia no campo. Fiquei muito contente! Fazia tanto tempo que eu não saía, menos ainda para passear!

No sábado, fui a primeira a me levantar. Quis arrumar as minhas coisas com calma. Nós, velhos, demoramos muito para fazer qualquer coisa; então eu me adiantei para não atrasá-los. Eles entravam e saíam da casa correndo e levavam bolsas e brinquedos para o carro. Eu já estava pronta e, muito alegre, fiquei na sala esperando.

Quando arrancaram e o carro desapareceu, numa nuvem de barulho, eu entendi que não tinha sido convidada. (...)

Vivo com a minha família e fico mais velha a cada dia, mas, coisa curiosa, não faço mais aniversário. Ninguém se lembra. Todos estão ocupados. Eu os entendo. Eles sim fazem coisas importantes. Eles riem, gritam, sonham, choram, se abraçam, se beijam. Eu nem sei mais como é o gosto de um beijo. Antes, os pequeninos me davam beijinhos e era um gosto enorme tê-los nos braços, como se fossem meus! Eu sentia a ternura da sua pele e a doçura da sua respiração bem perto de mim! A vida nova me invadia como um alento e até me dava vontade de cantar cantigas de berço que eu nem imaginava que ainda me lembrasse.

Mas, um dia, a minha neta Margarita, que acabava de ter seu bebê, disse que não era bom que os velhos beijassem os bebês por motivos de saúde. Eu não me aproximei mais, para não lhes passar algo ruim com as minhas imprudências. Tenho muito medo de contagiá-los!

Eu dou a todos eles a minha bênção e o meu perdão, porque, afinal, que culpa eles têm, coitados, de eu ter ficado invisível? (...)”


MARCAS DO NOSSO TEMPO

 

https://veja.abril.com.br/politica/glossario-de-bolsonares-para-entender-o-novo-governo/

 

Na década de 1980 um livro fez muito sucesso nos Estados Unidos, vindo a liderar as vendas por dois anos seguidos e publicado em outros 57 países: “Megatendências”. Em seguida, o autor, John Naisbit, publicou sequências deste volume com “Megatendências 2000”, “Megatendências na Asia” e “Paradoxo Global”, todas com grande repercussão. Hoje, visto em retrospectiva, vemos que Naisbit era uma espécie de profeta. Viu tudo. Ou quase tudo o que viria a ocorrer. Sua fórmula, entretanto, nada tinha de mística. Ele próprio costumava dizer que bastava ver o que já estava acontecendo.
Naisbit, além das previsões, gostava, também, de chamar a atenção para palavras, expressões e objetos em curso, em cada período de tempo, mostrando, numa espécie de mostra etnográfica, o mapa de usos e costumes reinante. Costumava, inclusive, com sua esposa, fazer uma espécie de exposição deste mapa ao final de cada ano. Aí me ocorreu alinhar, neste final de 2019, alguns nomes, temas e conceitos que se incorporaram ao nosso cotidiano aqui no Brasil. Não se trata, claro, de fazer uma enciclopédia deste cotidiano, mas de registrar, alguns tópicos à posteridade, sobretudo no campo político. Ei-los:
Pós verdade – Uma era em que a opinião ou versão de cada um, mesmo tratando-se do Presidente da República, se sobrepôe aos fatos e até mesmo consolidadas teses científicas.
Terraplanistas – Seita de pessoas convictas de que a Terra é plana e não esférica.
Excludente de ilicitude – Medida proposta pelo Presidente Bolsonaro com o objetivo de excluir agentes da Segurança Pública de qualquer ação judicial em decorrência de seus excessos, mesmo em caso de óbitos.
Crédito de Carbono – Instituto criado no âmbito das Conferências Internacionais sobre o Clima, decorrentes da ECO-92, que consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável, que permite à empresas e países que cumprirem a contento suas metas de redução de emissão de gás carbônico, negociarem seus saldos.
Greta Thunburg – jovem adolescente sueca que se notabilizou na defesa do Meio Ambiente no Mundo e que adotou o apelido “Pirralha”, com o qual o Presidente Bolsonaro a caracterizou.
Olavistas – Membros do Governo Bolsonaro que se proclamam leais seguidores dos ensinamentos do Sr. Olavo de Carvalho, um intelectual brasileiro auto-didata, ultra conservador, residente
Bolsonarês – Estilo de linguagem própria do Presidente Bolsonaro e outros membros do alto escalão da República e objeto de publicação como Glossário na Revista Veja - https://veja.abril.com.br/politica/glossario-de-bolsonares-para-entender-o-novo-governo/, a saber:
“Marxismo cultural - A influência que ativistas políticos e teóricos de esquerda exercem em diversas áreas da produção cultural, como música, teatro, cinema, mídia e a própria educação, a fim de disseminar conceitos políticos comunistas e socialistas. Para o presidente, representa o enfraquecimento de valores morais nacionais e a promoção da ideologia de gênero.
Doutrinação - Na lógica bolsonarista, é a imposição, por parte de professores, de valores morais e políticos vinculados à esquerda aos estudantes.
Viés ideológico - Além de um mecanismo de “doutrinação”, é a opção de abordagem de qualquer questão a partir apenas da ótica de esquerda.
Escola Sem Partido - É um movimento e um projeto de lei homônimos que pretendem coibir a discussão de questões morais, políticas e sexuais em sala de aula, como forma de evitar a suposta doutrinação dos estudantes por professores. Em discursos, a expressão também é utilizada para definir de forma genérica o sistema educacional onde não estejam presentes, em especial, as ideias políticas de esquerda e a ideologia de gênero.
Ideologia de gênero - Apelido dado à teoria que estabelece sexo biológico e gênero como sendo coisas independentes, permitindo que um indivíduo biologicamente homem possa ter uma expressão de gênero feminina, se identificando socialmente como mulher, por exemplo. Também está relacionada ao papel social de homens e mulheres e contra a discussão em sala de aula sobre a desigualdade de oportunidades entre gêneros na sociedade.

Humanos direitos - variante do “cidadão de bem”, define para quem devem ser garantidos os direitos humanos básicos.
Terrorismo - Além dos significados comuns, essa expressão também é usada para definir as invasões a propriedades privadas organizadas por movimentos sociais, que, acredita o governo, devem ser tipificadas desta forma.
Talkei - Para o fim de todos os assuntos, o presidente eleito complementa as ideias com “talkei”. É uma expressão para certificar que a pessoa com quem ele fala está entendendo e, também, para ele conseguir completar a linha de raciocínio sem conseguir se perder, talkei?

Fake News - Termo em inglês que significa “notícias falsas”. Na retórica do presidente, foi expandido para reportagens com as quais ele discorda, independentemente da sua veracidade.

Politicamente correto - É a defesa, criticada pelo presidente, de que expressões, brincadeiras e outras manifestações jocosas dirigidas a setores vulneráveis da sociedade e minorias devem ser coibidas. Para o presidente, trata-se de vitimismo e de restrição à liberdade de expressão.

Vitimismo e mimimi - A crença de que militantes de grupos minoritários buscam publicizar qualquer manifestação contrária aos seus interesses como forma de pressionar a classe política e a sociedade civil a aprovarem projetos de lei que lhes garantam o que considera privilégios.”
Como diria Machado de Assis: “ Vá o feito!” Vai-se o ano.

 


 

TRABALHADORES COM GANHOS ATÉ UM SALÁRIO MÍNIMO

Paulo Timm – 75 anos, aposentado, Economista

Acabo de ver e ouvir na GLOBONEWS – 22 DEZEMBRO 14.45h – notícia atribuída ao IBGE, como resultado da última PNAD, que 30% dos trabalhadores brasileiros ganham até um salário mínimo.

A notícia está mal editada. Talvez se refira a trabalhadores com Carteira assinada.  Basta verificar outros posts ao longo dos últimos anos do próprio IBGE, nos quais baseio-me sempre, para afirmar que 100 milhões de brasileiros, em torno de 50% de um total de 210 milhões, sendo 100 milhões ativos,  ganham até 1 Salário Mínimo, a saber:

50 milhões com ganho de 1 S.M. , sendo metade em Carteira o e metade como aposentados e  pensionistas

40 milhões ganham metade do Salário Mínimo, com trabalhos eventuais

10 milhões ganham em torno de zero, ou menos do que R$100 reais mês, constituindo-se no segmento da pobreza absoluta do país

Nos cinco últimos anos, com a recessão e forte desemprego verificou-se uma variação neste último segmento, da miséria, tendo subido de 8 milhões para 13 milhões, em detrimento do segundo segmento, que teria diminuído proporcionalmente. Mas fica o registro estrutural dos que menos ganham neste país e cuja massa salarial gira em torno de R$ 600 bilhões. E eles gastam tudo o que ganham, alimentando com impostos sobre o consumo os cofres dos Governos Federal e Estaduais.  Metade do que ganham com juros os cerca de 200 mil rentistas que aplicam seu vultoso  “capital” , na ordem de R$ 10 trilhões, metade aplicado em Títulos do Governo e a outra no crédito ao setor privado – empresas e famílias. Estes, ao contrário dos trabalhadores de menor nível de renda, ganham o que gastam, ou seja, nos “investimentos”, sobretudo financeiros, que fazem, muitos dos quais isentos de impostos.  Neste cômputo não está o dinheiro aplicado na Bolsa de Valores.

E não adianta estudar e fazer Faculdade, pois só 11%  destes 100 milhões de trabalhadores conseguem ganhar mais depois de concluir o curso.

Como resultado da persistência na pobreza, morando em subúrbios distantes de seus locais de trabalho, sem condições de saneamento, lazer a acesso à cultura, sujeitos à violência de todo o tipo, nas malhas do narco-tráfico e das milícias, vivendo em média 20 anos menos que os segmentos sociais de mais alta renda e o pior:os filhos destes trabalhadores pagam o preço maior: 43% delas, vive na pobreza.

Como não indignar-se?

Fica o registro das publicações recentes.

Em tempo: A Terra é redonda...O mundo gira, os dias se sucedem, e todos nós rodamos...

Salário Mínimo

É direito de todo trabalhador urbano ou rural o salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. A contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo empregador a todo trabalhador é o salário mínimo, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época, as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte.

Clique para abrir artigos sobre S.M.:

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/297548/salario-minimo

 

O Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2019, estudo da Fundação Abrinq, revelou que 47,8% das crianças de 0 a 14 anos vivem em situação de pobreza. ... Dessas 26,8 milhões de pessoas, 9,4 milhões são crianças e adolescentes em situação de extrema pobreza e 10,6 milhões em situação de pobreza.23 de mai. de 2019

https://emais.estadao.com.br/blogs/bruna-ribeiro/478-de-criancas-de-0-a-14-anos-vivem-em-situacao-de-pobreza-no-brasil-aponta-estudo/

 

Metade dos trabalhadores brasileiros tem renda menor que o salário mínimo, aponta IBGE - 30.XI-2017

http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/574194-metade-dos-trabalhadores-brasileiros-tem-renda-menor-que-o-salario-minimo-aponta-ibge

Mais da metade dos trabalhadores brasileiros têm renda menor que um salário mínimo - 16/10/2019 - 

https://oglobo.globo.com/economia/mais-da-metade-dos-trabalhadores-brasileiros-tem-renda-menor-que-um-salario-minimo-24020453

 

Metade dos brasileiros vive com apenas R$ 413 por mês, mostra IBGE

https://noticias.r7.com/economia/metade-dos-brasileiros-vive-com-apenas-r-413-por-mes-mostra-ibge-16102019

 

 

"42% dos autônomos ganham menos de um salário mínimo por mês"

https://www.gazetadopovo.com.br/economia/breves/42-dos-autonomos-ganham-menos-de-um-salario-minimo-por-mes/

 

 

Viver com 413 reais ao mês, a realidade de metade do Brasil

Desemprego alto e aumento da informalidade faz com que 104 milhões de brasileiros tenham de viver com o equivalente a meio salário mínimo. Número de ambulantes na rua saltou mais de 500% entre 2015 e 2018

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/30/economia/1572454880_959970.html


Dos trabalhadores que cursaram faculdade, 11% ganham até um salário-mínimo

https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/economia/2019/10/707303-dos-trabalhadores-que-cursaram-faculdade-11-ganham-ate-um-salario-minimo.html

                                                          

47,8% de crianças de 0 a 14 anos vivem em situação de pobreza no Brasil, aponta estudo

https://emais.estadao.com.br/blogs/bruna-ribeiro/478-de-criancas-de-0-a-14-anos-vivem-em-situacao-de-pobreza-no-brasil-aponta-estudo/

Brasil tem 5,2 milhões de crianças na extrema pobreza e 18,2 milhões na pobreza

https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/12/09/brasil-tem-52-milhoes-de-criancas-na-extrema-pobreza-e-182-milhoes-na-pobreza.ghtml

 

No Brasil, a cada três crianças, uma vive em extrema pobreza

 03/10/2019

https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/vidaurbana/2019/10/no-brasil-a-cada-tres-criancas-uma-vive-em-extrema-pobreza.html

 

Brasil alcança recorde de 13,5 milhões de miseráveis, aponta IBGE

https://veja.abril.com.br/economia/brasil-alcanca-recorde-de-135-milhoes-de-miseraveis-aponta-ibge/

 

Crise jogou 9 milhões na pobreza. Só um milhão já saiu

https://dcomercio.com.br/categoria/brasil/crise-jogou-9-milhoes-na-pobreza-so-um-milhao-ja-saiu

                                                                xxx

Redução da Pobreza e Mercado de Trabalho

                          Histórico do salário mínimo no Brasil:

                                           https://www.portalbrasil.net/salariominimo.htm

            O salário mínimo surgiu no Brasil em meados da década de 30. A Lei nº 185 de janeiro de 1936 e o Decreto-Lei nº 399 de abril de 1938 regulamentaram a instituição do salário mínimo, e o Decreto-Lei nº 2162 de 1º de maio de 1940 fixou os valores do salário mínimo, que passaram a vigorar a partir do mesmo ano. O país foi dividido em 22 regiões (os 20 estados existente na época, mais o território do Acre e o Distrito Federal) e todas as regiões que correspondiam a estados foram divididas ainda em sub-região, num total de 50 sub-regiões. Para cada sub-região fixou-se um valor para o salário mínimo, num total de 14 valores distintos para todo o Brasil. A relação entre o maior e o menor valor em 1940 era de 2,67.

            Esta primeira tabela do salário mínimo tinha um prazo de vigência de três anos, e em julho de 1943 foi dado um primeiro reajuste seguido de um outro em dezembro do mesmo ano. Estes aumentos, além de recompor o poder de compra do salário mínimo, reduziram a razão entre o maior e o menor valor para 2,24, já que foram diferenciados, com maiores índices para os menores valores. Após esses aumentos, o salário mínimo passou mais de oito anos sem ser reajustado, sofrendo uma queda real da ordem de 65%, considerando-se a inflação medida pelo IPC da FIPE.

            Em dezembro de 1951, o Presidente Getúlio Vargas assinou um Decreto-Lei reajustando os valores do salário mínimo, dando início a um período em que reajustes mais freqüentes garantiram a manutenção, e até alguma elevação, do poder de compra do salário mínimo. Da data deste reajuste até outubro de 1961, quando ocorreu o primeiro reajuste do Governo de João Goulart, houve um total de seis reajustes. Neste período, além de os reajustes terem ocorrido em intervalos cada vez menores (o último, de apenas 12 meses), ampliou-se bastante o número de valores distintos para o salário mínimo entre as diversas regiões. Deve-se ressaltar que nos dois primeiros reajustes deste período o aumento do maior salário mínimo foi muito superior ao do menor, com a razão entre eles atingindo 4,33 em julho de 1954, seu maior valor histórico.

 

S A L Á R I O      M Í N I M O

"A instituição de pisos salariais pelos Estados está assegurada pela 
lei complementar nº 103/00. Assim, os estados têm legitimidade para legislar dentro de seus limites geográficos e a população residente tem que obedecer ao piso regional (exceção feita aos aposentados e pensionistas do INSS que seguem legislação federal)." Abaixo seguem os pisos salariais estaduais e as respectivas legislações, por ano de vigência.

Estado do Paraná: 2007 - 2008 - 2009 - 2010 - 2011 2012 2013 2014 2015 -

 2016 2017 - 2018 - 2019


Estado do Rio de Janeiro: 
2002/2006 - 2007 - 2008 2009 - 2010 - 2011 - 2012 2013 -

 2014 2015 - 2016 2017 - 2018 - 2019


Estado do Rio Grande do Sul: 2006 2007 - 2008 - 2009 - 2010 - 2011 2012 2013 2014 2015 - 

2016 - 2017 2018 2019


Estado de São Paulo: 2007 - 2008 - 2009 - 2010 - 2011 2012 2013 2014 2015 -

 2016 

2017 2018 2019
Estado de Santa Catarina ==> 2015 - 2016 - 2017 2018 2019

Salário mínimo Brasileiro (Legislação, datas e valores) => CLIQUE AQUI
Empregados domésticos (cálculo da contribuição previdenciária) ==> 
CLIQUE AQUI
Lei complementar nº 103/2000 (texto e considerações fundamentais) ==> CLIQUE AQUI

 

 

Salário Mínimo Brasileiro:
 

VIGÊNCIA

FUNDAMENTO LEGAL

VALOR

04/07/40

DL 2.162/40

240 mil réis

01/01/43

DL 5.670/43

Cr$300,00

01/12/43

DL 5.977/43

Cr$380,00

01/01/52

D 30.342/51

Cr$1.200,00

04/07/54

D 35.450/54

Cr$2.400,00

01/08/56

D 39.604/56

Cr$3.800,00

01/01/59

D 45.106-A/58

Cr$6.000,00

18/10/60

D 49.119-A/60

Cr$9.600,00

16/10/61

D 51.336/61

Cr$13.440,00

01/01/63

D 51.631/62

Cr$21.000,00

24/02/64

D 53.578/64

Cr$42.000,00

01/02/65

D 55.803/65

CR$66.000,00

01/03/66

D 57.900/66

Cr$84.000,00

01/03/67

D 60.231/67

NCr$105,00

26/03/68

D 62.461/68

NCr$129,60

01/05/69

D 64.442/69

NCr$156,00

01/05/70

D 66.523/70

NCr$187.20

01/05/71

D 68.576/71

Cr$225,60

01/05/72

D 70.465/72

Cr$268,80

01/05/73

D 72.148/73

Cr$312,00

01/05/74

D 73.995/74

Cr$376,80

01/12/74

Lei 6.147/74

Cr$415,20

01/05/75

D 75.679/75

Cr$532,80

01/05/76

D 77.510/76

Cr$768,00

01/05/77

D 79.610/77

Cr$1.106,40

01/05/78

D 81.615/78

Cr$1.560,00

01/05/79

D 84.135/79

Cr$2.268,00

01/11/79

D 84.135/79

Cr$2.932,80

01/05/80

D 84.674/80

Cr$4.149,60

01/11/80

D 85.310/80

Cr$5.788,80

01/05/81

D 85.950/81

Cr$8.464,80

01/11/81

D 86.514/81

Cr$11.928,00

01/05/82

D 87.139/82

Cr$16.608,00

01/11/82

D 87.743/82

Cr$23.568,00

01/05/83

D 88.267/83

Cr$34.776,00

01/11/83

D 88.930/83

Cr$57.120,00

01/05/84

D 89.589/84

Cr$97.176,00

01/11/84

D 90.301/84

Cr$166.560,00

01/05/85

D 91.213/85

Cr$333.120,00

01/11/85

D 91.861/85

Cr$600.000,00

01/03/86

DL 2.284/86

Cz$804,00

01/01/87

Portaria 3.019/87 

Cz$964,80

01/03/87

D 94.062/87

Czr1.368,00

01/05/87

Portaria 3.149/87

Cz$1.641,60

01/06/87

Portaria 3.175/87

Cz$1.969,92

10/08/87

DL 2.351/87

Cz$1.970,00

01/09/87

D 94.815/87

Cz$2.400,00

01/10/87

D 94.989/87

Cz$2.640,00

01/11/87

D 95.092/87

Cz$3.000,00

01/12/87

D 95.307/87

Cz$3.600,00

01/01/88

D 95.479/87

Cz$4.500,00

01/02/88

D 95.686/88

Cz$5.280,00

01/03/88

D 95.758/88

Cz$6.240,00

01/04/88

D 95.884/88

Cz$7.260,00

01/05/88

D 95.987/88

Cz$8.712,00

01/06/88

D 96.107/88

Cz$10.368,00

01/07/88

D 96.235/88

Cz$12.444,00

01/08/88

D 96.442/88

Cz$15.552,00

01/09/88

D 96.625/88

Cz$18.960,00

01/10/88

D 96.857/88

Cz$23.700,00

01/11/88

D 97.024/88

Cz$30.800,00

01/12/88

D 97.151/88

Cz$40.425,00

01/01/89

D 97.385/88

NCz$63,90

01/05/89

D 97.696/89

NCz$81,40

01/06/89

Lei 7.789/89

NCz$120,00

03/07/89

D 97.915/89

NCz$149,80

01/08/89

D 98.003/89

NCz$192,88

01/09/89

D 98.108/89

NCz$249,48

01/10/89

D 98.211/89

NCz$381,73

01/11/89

D 98.346/89

NCz$557,31

01/12/89

D 98.456/89

NCz$788,12

01/01/90

D 98.783/89

NCz$1.283,95

01/02/90

D 98.900/90

NCz$2.004,37

01/03/90

D 98.985/90

NCz$3.674,06

01/04/90

Portaria 191-A/90

Cr$3.674,06

01/05/90

Portaria 289/90

Cr$3.674,06

01/06/90

Portaria 308/90

Cr$3.857,66

01/07/90

Portaria 415/90

Cr$4.904,76

01/08/90

Portaria 429/90 e 3.557/90

Cr$5.203,46

01/09/90

Portaria 512/90

Cr$6.056,31

01/10/90

Portaria 561/90

Cr$6.425,14

01/11/90

Portaria 631/90

Cr$8.329,55

01/12/90

Portaria 729/90

Cr$8.836,82

01/01/91

Portaria 854/90

Cr$12.325,60

01/02/91

MP 295/91 (Lei 8.178/91)

Cr$15.895,46

01/03/91

Lei 8.178/91

Cr$17.000,00

01/09/91

Lei 8.222/91

Cr$42.000,00

01/01/92

Lei 8.222/91 e Port. 42/92 - MEFP

Cr$96.037,33

01/05/92

Lei 8.419/92

Cr$230.000,00

01/09/92

Lei 8.419/92 e Port. 601/92 - MEFP

Cr$522.186,94

01/01/93

Lei 8.542/92

Cr$1.250.700,00

01/03/93

Port. Interministerial 04/93

Cr$1.709.400,00

01/05/93

Port. Interministerial 07/93

Cr$3.303.300,00

01/07/93

Port. Interministerial 11/93

Cr$4.639.800,00

01/08/93

Port. Interministerial 12/93

CR$5.534,00

01/09/93

Port. Interministerial 14/94

CR$9.606,00

01/10/93

Port. Interministerial 15/93

CR$12.024,00

01/11/93

Port. Interministerial 17/93

CR$15.021,00

01/12/93

Port. Interministerial 19/93

CR$18.760,00

01/01/94

Port. Interministerial 20/93

CR$32.882,00

01/02/94

Port. Interministerial 02/94

CR$42.829,00

01/03/94

Port. Interministerial 04/94

URV 64,79 = R$64,79

01/07/94

MP 566/94

R$64,79

01/09/94

MP 637/94

R$70,00

01/05/95

Lei 9.032/95

R$100,00

01/05/96

 

R$112,00

01/05/97

                

R$120,00

01/05/98

                

R$130,00

01/05/99

                

R$136,00

03/04/00

MP 2019 de 23/03/00 e 2019-1 de 20/04/00 Convertidas na Lei nº 9971, de 18/05/2000.

R$151,00

01/04/01

                    

R$180,00

01/04/02

Medida Provisória n° 35
publicada no D.O.U. em 28.03.2002

R$ 200,00

01/04/03

Lei n° 10.699,
de 09.07.2003
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R$ 240,00

01/05/04

Lei n° 10.888, 
de 24.06.2004
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R$ 260,00

01/05/05

Lei nº 11.164,
de 18.08.2005
Clique aqui

R$ 300,00

01/04/2006

Lei nº 11.321,
de 07.07.2006
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Leia matéria aqui

R$ 350,00

01/04/2007

Lei nº 11.498,
de 28.06.2007
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R$ 380,00

01/03/2008

Lei nº 11.709,
de 19.06.2008
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R$ 415,00

01/02/2009

Lei nº 11.944,
de 28.05.2009
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R$ 465,00

01/01/2010

Lei nº 12.255,
de 15.06.2010
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R$ 510,00

01/01/2011

Medida Provisória nº 516,
de 30.12.2010

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R$ 540,00

01/03/2011

Lei nº 12.382,
de 25.02.2011
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"Leia texto acima desta Tabela"

R$ 545,00

01/01/2012

Decreto nº 7.655,
de 23.12.2011
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R$ 622,00


01/01/2013
 

Decreto nº 7.872,
de 26.12.2012
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R$ 678,00

01/01/2014

Decreto nº 8.166,
de 23.12.2013
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R$ 724,00

01/01/2015

Decreto nº 8.381,
de 29.12.2014
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R$ 788,00

01/01/2016

Decreto nº 8.618,
de 29.12.2015
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R$ 880,00


01/01/2017

 

Decreto nº 8.948,
de 29.12.2016
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R$ 937,00

01/01/2018

Decreto nº 9.255,
de 29.12.2017
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R$ 954,00

01/01/2019

Decreto nº 9.661
de 01.01.2019
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R$ 998,00

 

 

 

 


 A POESIA COMO PEDRA DE TOQUE DO TURISMO

Paulo Timm – Publicado em A FOLHA, Torres 15 novembro 2019. 

 

Neste feriadão, começando no dia 15, com direito a um Sarau lítero-musical no Quintal da Dindinha, no Passo, neste mesmo dia, realiza-se o III FAROL LITERÁRIO DE TORRES. A iniciativa dos poetas Joaquim Moncks e Eduardo Jaques, há três anos, com o apoio da Academia de Letras de Cruz Altas – ALPAS 21, vai ganhando corpo e deverá receber, neste ano, escritores de várias partes do Brasil. Já produziu como resultado o Movimento Torres Além Veraneio, que hoje organiza o evento, sob a coordenação de Débora Fernandes - e que nos brindará com um revival de crônicas clássicas sobre Torres - e duas Casas do Poeta, a de Torres, sob a Presidência do Niltinho e a do Vale do Mampituba, que também já tem sua sede no Passo. O sonho é reeditar no sul algo parecido ao que fez Parati, uma histórica praia do Rio de Janeiro, que transformou uma Feira do Livro provinciana num evento literário de repercussões internacionais. Não custa sonhar. E quando muitos sonham o mesmo sonho as nuvens começam a chover..Vai daí a pergunta: Por que “literatura” numa cidade predestinada ao “veraneio” ? Vamos lá: A literatura não é apenas uma arte ou forma de comunicação. É um elo que interliga vários momentos civilizatórios: Cosmologia, Tecnologia, Economia e Sociedade. O homem falou, depois escreveu, depois imprimiu, depois, hoje, conectou-se on line. Da horda primitiva à aldeia global, marcada pela inteligência, cada vez mais artificial em sociedades do conhecimento: “Homo Deus”,. A cada passo, cada vez mais estreitos no tempo, gigantescos saltos no espaço. Tocando as estrelas das quais somos feitos. Quantos milênios entre a fala e a escrita, entre o fogo e a tecla mágica? Quantos séculos entre as tábuas cuneiformes dos mesopotâmios e a imprensa de Guetmberg? Quanto tempo entre estes e os meios de comunicação de massa do rádio e da TV? Quantas décadas entre esta era e a INTERNET? Quantos anos entre esta e as Redes Sociais? O tempo não para, mas encurta...Em toda esta longa trajetória, sempre o registro. Em prosa, oral e escrita, e em “poiesis”, onde esta apontava não só para o jogo de palavras, mas para o jogo da vida, no sentido de fazer e transformar. O conhecimento, desde os clássicos, só se justificava quando destinado a um fim específico. A Poesia de Homero também. Ela era a Bíblia dos gregos, que apontava no exemplo dos “heróis” o caminho da virtude: “Proferir palavras e fazer obras”. E do heroísm os fundamentos da Ética como ramo da Filosofia e conduto da fraternidade universal Aqui estamos, nós, pois, Poetas, apontando caminhos para uma nova etapa do turismo em nossa região. Já não se trata de desfrutar as dádivas da natureza, nem de se indagar se o “veraneio vai ser bom ou ruim”, mas de construir novos destinos. Agora pela inteligência. O turismo, a grande indústria contemporânea se alimenta basicamente de cultura, não de praias ensolaradas, ainda que estas ainda cumpram importante papel. Paris, entretanto, não tem praias, mas, pela sua história e cultura é o maior polo turístico do mundo. São, agora, as Feiras (Geeks e de Produtos), os Parques Temáticos – como Disneylândia, ou Beto Carrero -, Congressos Profissionais, Encontros de Negócios, Espetáculos (Rockn in Rio, Festival de Cinema de Gramado) que enchem hotéis, bares e restaurantes, oferecendo oportunidades inusitadas de emprego e renda. Neste III Farol, por exemplo, estamos homenageando o grande historiador de Torres, Ruy R. Ruschel, para evidenciar que temos, sim, muita História, além dos veraneios, e destacando a importância de valorizarmos não só nossa cidade, mas toda a nossa região, de forma a capacitá-la melhor na captura, via Rota do Sol, do imenso fluxo turístico que hoje demanda Gramado. Conectando mais as cidades do Vale do Mampituba e do Geoparque, projetando seus patrimônios culturais, além dos físicos, interligando suas vidas, estaremos criando algo inédito e muito forte: um verdadeiro espírito regional nos ares deste grande Rio, que descendo a serra desemboca majestoso aqui em Torres e Passo de Torres. A Poesia, enfim, não só faz versos, cria versões e muda realidades.


BOLSONARO E GLOBO AUTO CONTENÇÃO COMO SINAL DE MATURIDADE

Paulo Timm – Pub. A FOLHA Torres RS -- Publicado01 novembro e revisado em 03 de novembro.

A flecha lançada, a pedra atirada e a palavra proferida não têm volta. Direção única... Se a flecha for envenada, a pedra for pontiaguda e a retórica, furiosa , muito pior. Alguém já disse, até, que há três coisas que falecem a melhor das razões: a falsa premissa, o excesso de argumentos e a falta de jeito, na qual se insere a ira, sempre carregada de impropérios ofensivos.

O assunto vem à baila à propósito da explosão pública do Presidente Bolsonaro, no ultimo dia 27, ao saber, alta madrugada, no Oriente Médio, que seu nome havia sido divulgado pela Rede Globo como implicado no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Um vazamento da investigação policial sobre o assunto, que deveria estar protegido por segredo de Justiça, dava conta que o Porteiro do Condomínio, onde reside o Presidente Bolsonaro, o indicara, por reconhecimento de sua voz, de ter autorizado um dos assassinos de Marielle e Anderson a entrar no referido Condomínio, de onde sairia minutos depois, acompanhado de outro comparsa – ambos já presos –, para cometer o bárbaro crime. A matéria da Globo indicava a contradição do depoimento do porteiro visto que, na data, o então deputado Bolsonaro se encontrava em Brasília. O Presidente ficou chocado e explodiu em impropérios contra a Rede Globo advertindo-a sobre os riscos de não renovar sua concessão em 2022. Um horror. Logo depois, a referida Rede emitia Nota de Esclarecimento lamentando não conseguir o Presidente entender o papel da emissora na divulgação de notícias precisas de interesse público. Um dia antes, aliás, a emissora condenara, repercutindo diversas críticas ao Presidente, inclusive do Ministro Celso de Mello, do STF, a publicação de um vídeo, de péssimo gosto, no qual um leão, denominado patriótico, era acossado por um bando de hienas famintas, todas identificadas com instituições respeitáveis do País, inclusive o próprio Supremo. Bolsonaro, ao perceber o grotesco do vídeo o retirou do ar, desculpando-se, apenas, com o Supremo. Mas ficaram os registros: do vídeo, das escusas do Presidente, do vazamento do depoimento do porteiro e, pior de todas, do surto presidencial, inenarrável.

Não vale entrar a fundo no mérito da questão, embora, com as informações posteriores fique evidente que, ou a Globo cometeu uma baita barrigada, que deve custar o emprego do responsável, ou a Direção sabia o que estava fazendo e tinha “outras intenções” ao divulgar a matéria. Barrigada, no jargão jornalística, é uma mancada: notícia divulgada sem a devida checagem e avaliação de conveniência. “Outras intenções” diz respeito à oportunidade de trazer à público uma notícia. Essa última questão foi muito bem tratada num clássico do bang-bang , “O homem que matou o facínora”, quando um jovem jornalista, depois de muitos anos descobre que um homem, cuja carreira na cidade o torna influente político depois de matar em duelo um famoso bandido, na verdade não o matara. Outro, escondido, o havia feito para poupá-lo. No fundo, sempre, uma história

de amor... Faceiro com a revelação, contada em “rápidas pinceladas”, o jornalista corre ao Editor, que a rejeita com a seguinte desculpa: -“No Velho Oeste, entre a verdade e a lenda, ficamos com a lenda”.

Jornais experientes, como o Jornal Nacional, da Rede Globo, sabem o que publicam, mas o tiro , desta vez, talvez saia pela culatra, como a facada durante as eleições. Bolsonaro prova que é “perseguido”, embora tudo ainda esteja muito nebuloso como se vê nesta matéria da UOL – https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/11/02/marielle-peritos-do-rj-apontam-falha-em-laudodo-mp-que-contrapos-porteiro.htm?fbclid=IwAR2QCabn_dTzQnENxIJ41PylYeXFS6bH-PCREHM4c-RydBqXUYsjTqMJ2TI .

Lamentavelmente, porém, nada o desculpa pela falta de civilidade com que reage às adversidades. Civilidade é o conjunto de formalidades, palavras e atos, não sujeitos à Lei , que os cidadãos adotam na sua convivência como animais sociais, tais como boas maneiras, cortesia, polidez e palavras limpas. Um Presidente da República ainda está sujeito às servidões do cargo público que ocupa, exigindo-lhe redobrada urbanidade. A isso tudo se dá o nome de auto-contenção, sinal de maturidade frente aos limites físicos, legais e convencionais da vida. Mas Bolsonaro é um homem de confronto, bruto, não gosta nem de boas maneiras, nem muito menos de perder. Estranha que tenha sido um bom esportista na juventude. Mas isso explica porque não foi longe na carreira militar. Militares são brutos em combate, não em casa. Meu velho pai, por exemplo, militar de carreira, jamais falou um palavrão junto à família e era, por todos, tido como um gentleman, o que, modestamente, tento copiar-lhe

 


A CONSTITUIÇÃO É A ALMA DO ESTADO REPUBLICANO

Paulo Timm – Publicado A FOLHA, Torres RS -08 nov 2019

Nos turbulentos dias que correm no Brasil , abundantes ou tópicas mudanças na Constituição contribuem para deixar o clima politico ainda mais tenso. Refiro-me, particularmente, aos três Projetos de Emenda à Constituição – PECs - de iniciativa do Poder Executo, com as digitais do já denominado “PEC MAN”, Ministro Paulo Guedes, que reorganizam o Setor Público no país (à sua imagem) e à controvertida discussão no Supremo Tribunal Federal – STF -, que deverá decidir sobre em qual instância da Justiça se considerará alguém “culpado”. Esta última questão reveste-se de maior melindre porque poderá tirar da cadeia, onde cumpre sentença da Lavajato, homologada pelo Tribunal Federal da 4ª. Região, o ex-presidente Lula da Silva. Ambos os assuntos, altamente controvertidos, propostos nestas reavaliações da Constituição de 1988, tendem a ser mais tratados em função de preferências ideológicas do que pelos argumentos que os sustentam. Com efeito, são temas controvertidos. Devo dizer, sem rodeios, que também sou suspeito para apreciá-los, pois tenho posição de princípio de que Lula não deveria estar preso e de que mercados devam ser regulados pelo Estado. Não obstante, quero aqui advertir não para posições ideológicas, mas para conceitos.

Comecemos pelo mais fácil: O Supremo deveria entender que todo sentenciado pode ser considerado culpado e preso antes da apreciação em última instância, isto é, o Supremo? Apelo à Constituição que frisa, explicitamente, que só será considerado culpado quem tiver sentença transitada em julgado, cláusulas que se refletem na legislação infra-constitucional:

v Constituição - Artigo 5º - Inciso LIV:

- “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

v Constituição – Artigo 5º - Inciso LVII:

- Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

v Código Penal – Artigo 283:

- Ninguém pode ser preso, exceto em flagrante ou se houver sentença condenatória transitada em julgado.

 

Para mim, ponto final. Acate-se a Constituição, ou, se não gostar desta dicção, encaminhe-se uma mudança em seu texto. Pode ser difícil, mas não

é impossível alterar a Carta Magna. Sei que há muitos argumentos que justificam uma condenação em segunda instância, alguns deles superficiais, como a que diz que só os ricos teriam meios para se defender em tribunais superiores. Extenso relatório da Defensoria Pública, que é a Justiça ao alcance dos mais pobres revela uma intensa atividade da mesma, com índices de sucesso maiores a dos advogados dos ricos, em suas demandas junto a tribunais superiores. Outro argumento afirma que cruéis assassinos seriam postos em liberdade com o entendimento constitucional ao pé da letra. Quem o afirma, porém, esquece de dizer que a Justiça teria, nestes casos, outros institutos legais para os manterem na prisão. Na verdade, a grande defesa da prisão em segunda instância tem mais a ver com uma questão circunstancial: a defesa da Lavajato como instrumento de purificação da Política Nacional (missão impossível) e, porque não dizer, do destino do Presidente Lula no curto prazo. É uma resposta à consigna do “Lula Livre”.

Quantos às três PECs de Paulo Guedes, ainda que desidratadas, deverão ser aprovadas, sem maiores debates com a Sociedade Civil, graças à ampla tendência liberal dos parlamentares no Congresso Nacional, grande parte dos quais, aliás, estigmatizados pela opinião pública. Contra o PEC MAN, , se colocarão, em bloco, os 150 deputados de Oposição na Câmara e alguns poucos senadores. Mas, também aqui, o julgamento do mérito estará substituído pelo da preferência ideológica. A esquerda até poderia apoiar um ou outro ponto, como a transferência dos R$ 400 bilhões em dez anos a Estados e Municípios à título de reforço do Pacto Federativo, mas dificilmente acalentará a “mão que afaga”, por temor ao escarro que lhe acompanha...

Isso tudo nos deveria remeter mais profundamente à discussão sobre o que é o Estado e o que representa uma Constituição. Mas a essas alturas da polarização isso soa à Cântico dos Cânticos. Vale registrar, entretanto, que o Estado não é um mecanismo, como o mercado. Além de suas razões técnicas, ele se reveste de uma transcendência, que outrora era encarnada pelos Príncipes. O grande teórico do Estrado Moderno, Tomaz Hobbes, deu-lhe, a propósito o nome bíblico de Leviatã , demandando-lhe uma função mais nobre do que a da mera razão estatal ou eficácia política. “Sua ambição é de outra ordem, é a que institui a eternidade no instante, a legitimidade na palavra, a força na justiça”, numa reedição que Santo Agostinha já pressentia lá no século IV DC. E se o Estado Republicano é o espírito de um corpo social, a Constituição é a sua alma. Se o Absolutismo se nutria da origem divina dos soberanos para justificar-se como elo de ligação entre o sagrado e o profano a República, hoje, colocou na Constituição o selo sagrado do novo Pacto pelo Estado de Direito Democrático . Não se mexe na

Constituição como quem troca de roupa de baixo. Exige maior circunspecção e respeito. Como diz Cesar Cantu:

“Ao longo dos tempo, a transgressão ao Estado de Direito tem sito a porta aberta para as grandes tragédias humanitárias (contemporâneas)”.

Devagar com o andor, quando o santo se faz em barro...

 


ECONOMIA NA ORDEM DO DIA

Paulo Timm – Publicado A FOLHA, Torres RS – 18 OCT Na vida temos muitas paixões e algumas razões Uma das minhas paixões foi a Política, como expressão do livre arbítrio coletivo, bem distante da politicagem do toma-lá-dá-cá. Se temos, cada um de nós, a capacidade, ainda que sob certas circunstâncias, de moldar nossas vidas, por que não teríamos a possibilidade de moldar também estas próprias circunstâncias através da Política? Sonho meu...Sonho meu!!! Mas dentre as razões da minha vida, a formação como Economista, deu-me o chão da minha existência. Foi através dela que cumpri minha vocação acadêmica e profissional. Curiosamente, a Política me tentava, enquanto a Economia me alimentava. E não por acaso. Ambas exigem uma grande dose de arte, mas enquanto a Política se espicha para o canto da sereia , a Economia se cinge ao Reino da Necessidade. É a própria definição de Economia que a situa como o estudo de recursos escassos para a satisfação de necessidades ilimitadas. E por falar nisso, o que dizem os economistas sobre o andamento do mundo? E o que dizem sobre os rumos da Economia no Brasil? A economia mundial, para os que se detêm a analisá-la, inspira cuidados. Houve tempo, entre o final da II Guerra – 1945- e final da década de 1970, que tudo ia muito bem: Altas taxas de crescimento, redistribuição dos aumentos de produtividade para os salários dos trabalhadores, reanimando as sociedades de produção e consumo de massas, baixa inflação e contas públicas relativamente sob controle. Foi a Era do Welfare State, sociedades de bem-estar sem grandes conflitos sociais internos. Mas a década de 1970 trouxe muitos desarranjos, começando pela elevação do preço do petróleo de US$ 2,5 dólares o barril para US$ 30, com duas más consequências : 1. Geração de uma massa de dólares em mãos de países produtores de petróleo sem capacidade de gastá-los produtivamente, gerando uma explosão de bancos encarregados de emprestá-los em escala global; 2. Endividamento em espiral de países importadores de petróleo, submetidos a sucessivas crises, dentre os quais o Brasil que acabou recorrendo à Moratória no Governo Sarney. Esses desarranjos projetaram novos líderes mundiais com novas consignas - mais conservadoras - e que viriam restaurar o império do que se denominou neoliberalismo, Ronald Reagan nos USA e Margareth Tatcher, no Reino Unidos. Para eles, o Governo não poderia mais ser a solução, pois era o principal problema das economias, submetidas, crescentemente, à três pressões: acirrada concorrência, benefícios sociais crescentes e interesses financeiros. Tratava-se, pois, de privatizar, desregular e privatizar tudo. Desde então, a economia mundial vive de espasmos, ora de crise, como em 2008, ora de curta euforia, sendo de se ressaltar que nos momentos de maior euforia os ricos ficam cada vez mais ricos e os trabalhadores perdem poder aquisitivo, enfraquecendo os mercados consumidores e aprofundando a crise. Esse será o cenário, também, segundo o Fundo Monetário Internacional, para o próximo ano, que prevê um crescimento do PIB mundial de apenas 3%, mercê da disputa comercial entre os gigantes Estados Unidos e China. Para o Brasil, a projeção de crescimento não chega a 1%, ridícula, levando a perda ainda maior da nossa renda per capita já muito baixa. Enquanto isso, sabe-se que, no Brasil, os últimos anos foram trágicos. Pesquisa PNAD do IBGE, divulgada nesta semana ,confirma que, em 2018, os 30% mais pobres ficaram ainda mais pobres e o 1% mais rico, ficou mais rico. Ou seja, a crise penaliza os mais vulneráveis. E a esperança de que estes seriam beneficiados pelos recursos do petróleo, anunciada quando da descoberta do Pré Sal, esfumou-se. Os R$123 bilhões que entrarão no Tesouro nas próximas semana, dita “Cessão Onerosa”, em vez de se destinarem ao Ministério da Educação, já foram pulverizados para cobrir rombos da União, Estados e Municípios, além, claro, de uma “mãozinha” para Emendas Parlamentares... Grosso modo, no Brasil, com isso, reafirmamos uma elite de cerca de 200mil famílias que detém a maior parte dos grandes negócios, das propriedades e dos ativas financeiros em funções, este na ordem de R$10 trilhões, que, aplicados à uma taxa imaginariamente baixa de 10% ao ano lhes garante um rendimento anual R$ 1 trilhão, cerca de 15% do valor do PIB. Metade destes rendimentos é oriunda dos Títulos do Governo, corroendo a capacidade fiscal do Estado para novos investimentos, em benefício dos rentistas. Enquanto isso, a vigorosa classe média nacional, algo em torno de 50 milhões de pessoas, encolhe, abrindo mão dos Plano de Saúde e das escolas caras para seus filhos. E a grande massa de trabalhadores, cerca de 100 milhões, fica sob o teto do salário mínimo, dos quais 35 milhões com uma renda mensal de meio salário, sendo que uns 15 milhões sob a miséria de apenas R$ 90,00 por mês. Diante deste cenário, me penitencio de não ter falado dos filmes que vi na semana e no encanto de ter passado o fim de semana em Brasília com meus filhos. Teria sido mais animador. Mas a Economia é estúpida, mas é a Economia...


GLOBONEWS  PAINEL DISCUTE CENÁRIO  NACIONAL

Paulo  Timm –Publicado A FOLHA, 25 OCT

 

Já falei aqui sobre as importantes mudanças na TV brasileira. Falo, claro, da TV por assinatura, eis que há muito tempo já não assisto os canais abertos. Novelas, nem pensar...Meus fins de semana distribuem-se, além dos livros, filmes, inclusive às  sextas de noite no Quintal da Dindinha, no Passo , ao longo da excelente programação do CANAL CURTA e do CANAL ARTE 1. Verdadeiras dádivas culturais. Sou obrigado, também, a registrar minha satisfação com a temporada da jornalista Renata Loprete no Globonews Painel, aos sábados à  noite. Tarefa  difícil a dela, substituir o experiente  Willian Waack como âncora do Programa, mas tem se saído, jornalisticamente, melhor do que ele. Seleciona os temas com maior diversidade de interesses, convida analistas de distintas opiniões, não interfere com opiniões próprias  sobre os temas debatidos, os quais procura articular, apenas, para melhor desenvolvimento dos temas. Neste último sábado o assunto foi o Cenário Político Nacional, para o qual convidou Marcos Nobre, da UNICAMP e Presidente do CEBRAP/SP, Brasílio Sallum, Sociólogo, Professor da USB e Ricardo  Penteado, advogado, consultor em Direitos Políticos - https://globosatplay.globo.com/globonews/v/8019264?fbclid=IwAR2EOS9rOtrliTaKVkLpM4Hc0rSx4lXnan6W-pd2rScZrwulIF21CoiZXJw

O que dizem, enfim, os especialistas em Análise Política, um campo até há pouco dominado não por acadêmicos, mas por políticos profissionais. Ninguém mais, hoje, os escuta. Políticos profissionais são, com raríssimas  exceções,  extremamente despreparados. Isso ficou evidente no famoso debate na Rede ABC, dos Estados Unidos,  entre Gore Vidal, pelos democratas, e W. Buckley, pelos republicanos, nos anos 1960, quando passou a ter mais importância do que as aparições dos próprios Presidenciáveis - https://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/tv/intelectuais-lutam-como-pugilistas-em-serie-de-debates-bhoa7aaucf1546jejcoxetd0f/. Este não é, pois,  um caso apenas brasileiro. Dissemina-se pelo mundo inteiro e é um dos fracassos do regime partidário para o provimento da  função  pública. Não por acaso, o livro “O declínio  do homem público”, de Richard Sennet, tornou-se um  best seller mundial.   No Brasil, entretanto, o despreparo reflete a própria natureza do mundo político, pouco atrativo para muitos profissionais de escol. E quando os outsiders, como Jair Bolsonaro, avesso ao stablishment e ao universo político-partidário,  se lança, com êxito, à Política, “hackeando” Partidos para se candidatar e arrastando, até, muitos neófitos ao processo eleitoral, a título de “renovação”, o resultado tampouco é satisfatório. Pesquisas, aliás, já demonstram que 63% dos eleitores brasileiros consideram Jair Bolsonaro despreparado para  a função de Presidente.

Mas vamos ao debate:

A questão central assinalada por Nobre e Sallum se relaciona  com o que estava dizendo: O Presidente Bolsonaro se elegeu praticamente sozinho, na crista de um sentimento nacional anti-política oficial. Não organizou um  Partido, articulado a algum tipo de ideologia. Não fez lideranças intermediárias, à exceção dos três  filhos. Não chegou a formular e apresentar, nem na candidatura, um Projeto para o Brasil.  Anexou, na campanha o Economista  Paulo Guedes que lhe ofereceu um prato liberal,  ao gosto dos investidores  internacionais e do grande empresariado nacional. Fê-lo, como disse, seu Posto Ipiranga, reconhecendo que nada entende de Economia. Paulo Guedes lhe empresta o menu liberal das Reformas, começando pela Previdência, nada mais.  Ainda assim, dita Reforma,  caminhou mais graças ao Congresso do que graças ao Poder Executivo. É o Congresso , também, que avança sobre outros  itens como Reforma Administrativa e Tributária, assinalando, segundo Sallum, uma proeminência na História Republicana do Brasil. Bolsonaro nada oferece a não ser uma ofensiva contra o próprio Estado (seu), quando ataca IBGE, INPE, etc. , contra a Sociedade Civil, ao ofender o Presidente da OAB, contra seu próprio Partido, o PSL e não raro contra o Congresso, que acusa de praticante da “velha  política”.  Em razão  disso, o único projeto do Presidente é sua reeleição em 2022, para a qual conta com um terço dos eleitores, confiando ser a melhor opção no campo da direita, enquanto, como observa Nobre, a Oposição conforma-se com seus nichos já conquistados.


 

AS  MULTIDÕES  ENFURECIDAS

Paulo Timm  -  Pub. A  FOLHA , Torres  oct25

Passei toda a semana caprichando num artigo sobre o debate entre vários analistas, levado a efeito no  dia 19 p.p. , num dos  melhores  Programas da TV por assinatura: Globo News Painel. Ali compareceram Marcos Nobre, Cientista Político da  UNICAMP,  Brasilio  Sallum, Sociólogo, Professor da US e Ricardo Penteado , advogado, especialista em Direitos Políticos. Conclusão deles sobre o cenário nacional: O Presidente Bolsonaro não governa, nem  tem  projetos para o Brasil, joga tudo na sua própria reeleição em 2022.E tem cacife para isso nos 30% que  apoiam  seu estilo belicoso e anti-sistema. Quem teria tamanha margem de preferência? Os dias, porém, correm rápido no mundo e me vejo  na  contingência de trocar de assunto.

Vamos às multitudinárias   convulsões que sacodem diversas lugares no mundo: A mais persistente, a dos “Coletes Amarelos”, em Paris, que não dá trégua ao Presidente Macron. Mais recentemente, foi a vez da revolta dos moradores de Hong Kong,  contra as tentativas de tergiversação do princípio “Um País, dois sistemas”, que embasou a devolução daquela ilha, dominada há 150 anos pela Inglaterra, aos chineses. Mas nas duas últimas semanas o rastilho do descontentamento social com governantes chegou a Quito , no Equador, a Beirute, no Líbano, Barcelona e diversas cidades do Chile. Outras explosões, não de rua, mas de votos, surpreenderam, contrariando as previsões: A eleição de Donald  Trump para Presidente dos Estados Unidos, a vitória do BREXIT no Reino Unido,  que decidiu pelo seu divórcio com a União Europeia e , não menos significativa, a vitória de Jair Bolsonaro como Presidente do Brasil no ano passado, sem maiores recursos do que as redes sociais, para muitos usada abusivamente, sem Partido, salvo o nanico PSL que lhe abrigou, e praticamente sem equipe. Daí  a pergunta, que tem duas respostas básicas, uma à direita, outra à esquerda, numa clara demonstração de que a ideologia não morreu nem morrerá tão cedo.

Para a direita, que se manifestou através de dois pronunciamentos complementares sobre o caso chileno, tudo é obra de “poderosos inimigos que promovem a guerra”, como afirmou o Presidente Sebastian Piñera no primeiro dia da convulsão chilena. O desabafo daquele Presidente foi melhor identificado pelo General Heleno, Ministro Chefe da “Informação” de Bolsonaro: Foram os “esquerdistas”. Esta interpretação, entretanto, mesmo que fosse verdadeira para o Chile, não explicaria os  casos de Hong Kong e Barcelona. Os manifestantes de Hong Kong são “ocidentalistas”, carregam bandeiras americanas em suas manifestações e clamam por liberdade e democracia contra o comunista Império Chinês. Tampouco explica o caso de Barcelona, que  reúne todas as tendências ideológicas da Catalunha pela independência de seu território. 

A esquerda tem uma visão também parcial, que não explica os casos acima citados. Vê, nas manifestações o resultado das políticas neoliberais sob hegemonia financeira das últimas décadas, as quais trouxeram baixas taxas de crescimento, sobretudo na América Latina, desemprego em massa e perdas substanciais de salários e garantias sociais dos trabalhadores. Veja-se a conclusão de Aldo Fornaziere, Cientista Político, em artigo recente:

“Com elites políticas e econômicas criminosas, com privilégios públicos inaceitáveis, os países da América Latina perderam a mão para o futuro. Desigualdade, desemprego, pobreza, violência, alta criminalidade, tráfico de drogas, populações inteiras sem direitos e sem assistência, a vida degradada nas periferias das cidades são marcas que vão se acentuando nestas terras desalentadas e desesperançadas.” – (A desigualdade e a rebelião das multidões -  www.desenvolvimentistas.com.br )

 

Entre as explicações à direita ou à esquerda, a verdade é que ninguém consegue explicar muito o descolamento das grandes massas urbanas, em processo de reorganização de  seus regimes de trabalho e redesenho das cidades, das instituições públicas que até há pouco faziam mediações entre demandas sociais e possibilidades de atendimento,seja pelo Estado Providencial, seja pelas empresas. Ninguém, por mais razões que dê às explosões sociais, consegue prever onde e  quando elas acontecerão. Reduzido ao anonimato das grandes aglomerações resta ao cidadão, no curso da luta pela vida, num ritmo de apatia a tudo que corre à sua volta, a comunicação de suas frustrações pelas redes sociais, as quais, sob certas circunstâncias, não excluída a manipulação da opinião pública por grandes corporações de gestão de dados da BIG DATA, explodem em desespero espontaneísta. Isso , aliás, aconteceu no Brasil, em junho de 2013. Acabou condicionando os acontecimentos que se seguiram.

E para não dizer que não falei de flores, duas sugestões para o fim de semana: Ver o filme “Coringa”, que está passando em Torres e espiar na NETFLIX o documentário “Democracia Vigiada”. Não se trata de flores perfumadas. Você vai ficar até  sem dormir à noite, mas, talvez ,isso o mantenha de olhos mais abertos para a obviedade invisível das ocultas forças que atuam no mundo.

 


CRISE NO CASAMENTO DE BOLSONARO COM PSL Paulo Timm Você sabe o que significa PSL, o Partido que elegeu o Presidente Bolsonaro em 2018 e fez a maior bancada de deputados na Câmara Federal? Aprenda: PSL é o acrônimo (sigla) do Partido Social Liberal, um partido político alinhado ao social-liberalismo, atualmente liberal apenas no âmbito econômico, defendendo o conservadorismo nos costumes. Era um Partido nanico até 2018, tendo apenas um deputado eleito no pleito de 2014, sem qualquer relevo político ou ideológico. Assim como o PSL existem perto de 30 Partidos, quase todos com um ou outro eleito. É o festival pluripartidário que caracteriza nossas “liberdades públicas”.. Com o bolsonarismo a bordo, o PSL virou subitamente um transatlântico e começa a viver as dores do crescimento exagerado. Há conflitos dentro da bancada de deputados, visto haver sido eleita à sombra da campanha do Presidente Bolsonaro, sem maior identidade ideológica interna, daí a recente expulsão do deputado Alexandre Frota. Há conflitos no interior do Partido, entre membros de sua Direção Nacional, hoje sob a Presidência do Deputado Luciano Bivar, e respectivas Direções Regionais, sobretudo do Rio de Janeiro e São Paulo, onde atuam filhos de Bolsonaro, além da presença incômoda da Deputada Estadual Janaína Paschoal, que promete ser, na próxima eleição, “candidata avulsa” , sem Partido, algo sub judiceno Supremo. E, agora, explodiu a crise entre a Direção Nacional e o próprio Presidente Bolsonaro. Na quarta feira,, à saída do Palácio da Alvorada, em Brasília, ao ser saudado entusiasticamente por um fã, com VIVAS AO PSL!, Bolsonaro lhe respondeu: - “Esquece o PSL!”!!! A declaração correu à imprensa e a crise já não pode ser escamoteada. Muito “diz-que-disse”, conjecturas, reuniões, até um MANIFESTO assinado por 15 deputados federais encabeçado por Flávio Bolsonaro em apoio ao pai, até que, um dia depois, tudo se esclareceu, na palavra do próprio Presidente da República: -“Não há nenhuma crise. É briga de marido e mulher...” Vá o feito. Fica o assunto à reflexão dos analistas e cronistas políticos. O que está, realmente, acontecendo nas relações entre o Presidente e sua mais leal bancada no Congresso? Aqui, duas questões: Uma de princípio, outra de interesses. A questão de princípio diz respeito aos Partidos Políticos no mundo inteiro (ocidental). Eles foram criados, no colapso nas monarquias absolutistas, como o mecanismo que vertebraria a vida republicana – ou de monarquias constitucionais, como o Reino Unido. Neles se formariam os líderes que conduziriam os destinos de seus respectivos povos, de acordo com o que o tempo demonstraria como suas inclinações ideológicas, mais à direita, mais à esquerda, ou ao centro. Tanto quanto requisito para candidaturas, os Partidos deveriam operar como escolas de formação de dirigentes públicos e de destilação daqueles que demonstrassem virtudes pessoais para o exercício destas nobres funções. Lembremo-nos que nas velhas monarquias os Príncipes eram educados com muito rigor para suas futuras incumbências. Aristóteles, por exemplo, lá na Antiga Macedônia fora convocado como tutor de Alexandre , o Grande, ensinando-lhe todas exigências de um bom heleno. Nos Modernos Estados Nacionais esperava-se dos Partidos que cumprissem esta função a contento. Não só não cumpriram, com raras exceções, como, de resto, foram superados, ao longo do século XX, por outras formas de organização da Sociedade Civil que os superaram, como, por exemplo, os Sindicatos e outras formas de organização social, como as ONGs de defesa ambiental, de promoção de direitos de minorias ou de fomento à determinadas causas. Além disso, a Política é um dos Reinos da Arte e não da Razão, sendo um lugar em que o talento se revela através do que se convenciona denominar carisma, marca dos deuses. Como, pois, compatibilizar uma organização burocrática, que é o Partido, com a eclosão de líderes que sozinhos são maiores do que o Partido? A pergunta faz sentido. No Brasil, três Presidentes elegeram-se com base na sua imagem pessoal: Jânio Quadros, pelo inexpressivo PTN, em 1960, Fernando Collor, em 1989, pelo não menos expressivo PRB e, agora Bolsonaro, pelo PSL. Ora, nem esses Partidos capitalizaram estruturas sólidas para a aceitação destes candidatos, nem detêm a capacidade de sobreviverem sem eles. Daqui a alguns anos ninguém mais saberá, no Brasil, o que foi o PSL, como não sabe do PTN e do PRN. Mas sobre este pano de fundo há interesses. Os Partidos , no Brasil recebem dinheiro vivo do Governo. Há, anualmente, um festim de perto de R$ 1 bilhão, distribuído às Direções Nacionais, de acordo com o número de deputados que elegeram na Câmara dos Deputados. O PSL, por exemplo, receberá, neste ano R$ 70 milhões e terá recebido nos quatro anos 2019-2022 a bagatela de R$ 700 milhões. Dinheirinho que nem o Deputado Bivar, um abnegado defensor das causas públicas, nem seus correligionários querem abrir mão. Além desses recursos do Fundo Partidário Nacional, os Partidos recebem, a cada ano eleitoral, uma verba para o financiamento – público – de suas campanhas. Na última este valor ficou em torno de R$ 1,5 bilhão mas há indícios de que, em 2020, este valor salte para R$ 3,5 bilhões. Ou seja, nesta briga de marido e mulher, há uma clara disputa que, longe de temperamentos ou falta de afinidades afetivas, aponta para o seguinte: Quem, enfim, vai controlar esse dinheiro...? E daí a expressão que ganha hoje as ruas: BRASIL, O PAÍS DOS PEQUENOS PARTIDOS E GRANDES NEGÓCIOS. 

 


----O DIA DO RIO GRANDE DO SUL -

                             Paulo Timm Publicado em A FOLHA, Torres,20 set 2019

Impossível passar o 20 de setembro sem tocar em temas riograndenses. Há muito o que se falar sobre a Revolução Farroupilha, hoje estigmatizada por grande parte da inteligência crítica do Rio Grande, à luz não só do episódio de Porongos, denunciado por Tao Golin e Juremir Machado, quando os Lanceiros Negros foram traídos da promessa de alforria, mas pelo caráter inter-oligárquico dos contendores. Os desdobramentos desta controvérsia atravessam os tempo e se traduzem numa rejeição da dita inteligência gaúcha ao tradicionalismo cultivado pelos CTGs. Acham que há excesso de conservadorismo no movimento que tenta eternizar clivagens sociais hierárquicas e discriminatórias de gênero e até de orientação sexual . Tudo condenável, sob o olhar do "politicamente correto".  Adicionam, também, a crítica de que o Rio Grande não não se reduz em sua formação social, ao gaúcho, muito menos o gaúcho estilizado pelos CTGs. Com efeito, o Rio Grande tem nos povos pré-colombianos seu maior ancestral, na presença de guaranis no Planalto, gês no Litoral e Minuanos e Charruas na campanha. Sobre eles sobrepôs-se, a partir de meados do século XVII a colonização portuguesa, que entrou por terra, vinda de Laguna até se encontrar no que viria a ser Porto Alegre, no século XVIII, com o flanco marítimo procedente do Presídio de Rio Grande. Cristovam Pereira de Abreu, o "inventor" do Rio Grande costuraria estas duas bandas articulando-as pelos caminhos das tropas (marítimo e serrano) ao centro do Brasil. No século XIX chegam os alemães a partir de 1824 e os italianos, depois de 1870, abrindo caminho sobre as áreas relativamente despovoadas de Serra Geral, até as barrancas do Rio Uruguai, a eles somando-se outras correntes de migrantes europeus que acabariam alterando substancialmente a imagem do gaúcho primitivo. Para a crítica ao Tradicionalismo, portanto, não é justo identificar o povo riograndense como este gaúcho original. O mais forte argumento , porém, contra o Tradicionalismo provém da denúncia da redução de seu principal leitmotiv na Revolução Farroupilha, mais das vezes confundida, pelo uso do lenço vermelho, com os ideias liberais dos federalistas de 1893/95 ou maragatos de 1923/25, cujo epicentro eram - não por acaso - os "infames" estancieiros das "Perversas Famílias" oligárquicas da campanha. Segundo alguns deles, o tradicionalismo deveria centrar-se, sim, no espírito republicano de 1835 que se reproduziria radicalizado 50 anos depois entre os estudantes gaúchos na Escola de Direito de São Paulo, Julio de Castilhos como baluarte deste processo, dando origem ao inédito e peculiar PARTIDO REPUBLICANO RIOGRANDENSE (RADICAL), a mais forte voz do republicanismo na República Velha. Tão forte, que desde a Presidência instável de Floriano Peixoto é chamado a sustentar pelas armas o regime recém instalado, vindo a consagrar-se vitorioso no confronto com a Revolta da Armada recolhida na então Ilha do Desterro, em Santa Catarina, e, depois do feito, não isento de grande crueldade, denominada Florianópolis. Ou seja, a se tomar a Revolução Farroupilha como um marco significativo da História Riograndense, melhor fazê-lo na louvação do brado republicano daquela Guerra - perdida ! - do que propriamente pelo feitos de seus combatentes. Isso, porém, é História.E nunca esquecendo: a data da Proclamação da República Riograndense, que corou este brado, não foi 20 de setembro de 1835, mas 11 de setembro de 1936

 

HÁ 89 ANOS, UM 3 DE OUTUBRO MUDARIA  O BRASIL

 

Paulo Timm- Publicado A FOLHA, Torres – dia 3 outubro 2019

“E o Gigante da América Latina? Como ele conseguiu ser o país que mais cresceu no mundo no momento histórico em que o mundo mais cresceu na história. Fomos os campeões de desenvolvimento mundial entre 1930 e 1980. Isso é um mérito incrível para um país que não tem uma Ideologia Nacional e nem heróis nacionais reconhecidos como existem em outros países.
Será que não temos? Será que nunca tivemos?

Tivemos. Nossa Ideologia Nacional foi o generoso positivismo rio-grandense que se popularizou por meio do Varguismo.”

( Felipe Quintas, Gustavo Galvão e Pedro Augusto Pinho in Preparando o Estado para a Soberania: Heróis e Ideologia nacional - Publicado em 14/08/2019 no jornal Monitor Mercantil, RJ, pag. 2, Opinião)

 

Entre tesouras de ventos  abespinhados que empurram chuvas  de granizo pelos campos e os primeiros sóis da primavera que banham  peles amaciadas pelo inverno, entramos em outubro. Um mês sóbrio. Equilibrado, mesmo com o descompasso das intempéries.  Jamais imagino que o apocalipse  possa  nos  colher num mês de outubro. É como as quartas feiras. Cheio de lembranças e promessas. A natureza do lado de cá do Equador, mesmo na hipótese de que a Terra seja plana , agradece.

Escrevo esta coluna justo no dia 03 de outubro e, de relance, relembro as eleições gerais que costumavam a acontecer neste dia. Ainda hoje ficam elas escaladas para o primeiro domingo depois desta data. Era eu menino, estudante  do Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre e já me via envolvido em campanhas  eleitorais. A politização republicana precoce,  audaciosa  -e , às vezes, radical- , era uma característica daquele educandário, numa espécie de tributo a quem lhe conferia o nome.. Culpa disso foi meu grande amigo João Alberto Pratini de Morais, também  aluno do Julinho, cujo pai, Dr. Adail Morais, era um político estadual consagrado e eterno candidato. Lá ia eu, convocado, a colar cartazes e distribuir santinhos do circunspecto Dr. Adail, da facção juscelinista do velho PSD, então dividido no Rio Grande pela defecção dos mais  conservadores que se iludiriam com Jânio Quadros. Corria a década de 1950 e, na verdade, as novas gerações já pouco  falavam na Revolução de 1930 e sequer sabiam que o dia das eleições, 03  de outubro, fora  escolhido precisamente para celebrá-la como o  umbral do Brasil Moderno. Mas eu, sempre curioso com a História, logo aprendi: Na  madrugada de 03 de outubro de 1930, o Governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas, que havia concorrido à Presidência numa  chapa contrária à da Velha República  do Café com Leite, alusão ao eixo dominante de São Paulo e Minas Gerais durante os anos 1889-1930, com as forças políticas rio-grandenses pacificadas e sólido apoio da jovem oficialidade do Exército, coloca-se à frente da briosa Brigada Militar, domina, com pouquíssimas  baixas, as forças leais ao Governo Federal em Porto Alegre e ruma para a  tomada do Poder no Rio de Janeiro. Lá se consagraria como o estadista do século no Brasil. Desde o fim do Império a sociedade brasileira, numa rara empatia entre dissidentes  da  classe  dominante, expoentes da classe média emergente, sobretudo na capital do país, que já beirava o primeiro milhão de habitantes, mas também em São Paulo e algumas capitais, num país de pouco mais de 10 milhões de almas dispersas pelo imenso território rural, e populares, principalmente escravos e negros que lutavam pela Abolição, agitavam-se em defesa de reformas. Não se tratava de um Programa claro de  grandes  transformações. Sabia-se mais o que não se desejava, dentre outros a monarquia sonolenta, a falta de inovações na economia e o corrompido “bico de pena” do  processo  político, do que  se queria. Veio a República  em 1889, trouxe algum alento à  economia e uma pequena mudança de quadros na Política Nacional, mas nada mudou. Na década de 1920, o Presidente Artur  Bernardes, teria que manter seu mandato sob Estado de Sítio para poder governar, tal o nível de agitação, sobretudo nos quartéis. Lembre-se dos “18 do Forte” e da “Coluna Prestes”. Este clima foi adensando e culminou na Crise da Bolsa de 1929, quando a economia do mundo inteiro veio abaixo. Na crista destes acontecimentos, emerge a Revolução de 1930. Vitoriosa, mudou o Brasil. Saímos da condição de  um fazendão oligárquico exportador de café e açúcar, para, ao largo de 50  anos, nos tornarmos uma das dez mais industrializadas e poderosas nações do mundo, graças a uma taxa de  crescimento de 6,5% a.a. Até sonhamos em ser uma Grande Potência.  No ano 2000 chegamos a perto de 200 milhões de brasileiros, um ativo que nos coloca com uma importância  simbólico-cultural, política e econômica estratégica. Claro que não fizemos isso sem traumas ou grandes problemas. Mas fizemos.

                                                   

ERA  DESENVOLVIMENTISTA

Revejo, agora, os vídeos do último Rock in Rio e me regozijo em perceber que estamos no centro da Sociedade do Espetáculo, mas não desconhecidos, nem muito menos relegados. Ver  Elza Soares e Alcione Marron lá brilhando me fez sentir um Brasil  que não se rendeu à globalização e que resiste no samba, não por acaso ancorado na década de 1930, como  medula  da nacionalidade.

 


BEM VINDO SETEMBRO,  MESMO COM OS  VENTOS!

Paulo Timm – Coluna A FOLHA, Torres – 6 de setembro 2019

 

Ufff!! Foi-se o mês do desgosto. Ainda por cima, tem 31 dias... Haja coração! Mas até que, neste ano, que não diria “da graça”, pois   amargado pela crise econômica, senão política, não tivemos grandes surpresas. Verdade que houve a queima da Amazônia e sobre ela uma quizília internacional: O Brasil contra o mundo, a partir da demissão do cientista Presidente do INPE, órgão oficial que divulga os incêndios na Amazônia e cujo vértice  consistiu no confronto, com pitadas de péssimo gosto,  do Presidente Bolsonaro com vários líderes da Europa. O assunto não morreu, até porque está em discussão no grupo de países do G7, os mais desenvolvidos do mundo, mas amainou desde que o próprio Governo decidiu agir no combate aos incêndios com as Forças Armadas e Força de Segurança Nacional. No rastro disso tudo, a certeza de que os focos criminosos não foram de responsabilidade de nenhuma ONG ou alma penada, mas de grileiros e madeireiros interessados em vender áreas desmatados para o pastoreio.

Setembro nos oferece outro clima. As chuvas, inevitáveis, irrigam os campos e arejam as vielas urbanas. “A erva (dos nossos) campos é muito boa, por ser a terra muito temperada no inverno, e no verão lavada de bons ares frescos e sadios". Os ventos sopram fortes e limpam um pouco o ar ainda frio. Trazem, como lembrava Barbosa Lessa, em seu “Rodeio dos Ventos”, que integra o Projeto do III Farol Literário de Torres 2019, distintos presságios, quando não flagelos sobre a Terra e o Homem:

“Pois tão aprazível habitação foi lentamente se modificando a partir da chegada dos soldados com seus arcabuzes e dos colonos com seus Machados de pedra. Começara a soprar um vento novo, chamado CARPINTEIRO, vindo do Sudoeste, que ia castigando a relva até fazer lá em pó, bombardeava de grãos de areia as construções dos brancos e ia remoendo os caibros, as portas, a janelas, e, dentro da casa, os bancos, três, baús. Soprando hora a hora, dia a dia, mês a mês, ano a fio o CARPINTEIRO transformou o varzedo em areal.”. (...) E os ventos ultrapassavam Rio Grande, cruzaram o canal, entraram pela povoação do Norte e, com os nomes de NORDESTÃO e SIRIRI, em rumos alternadamente opostos, foram destruindo as pastagens de Mostarda, Quintão e Cidreira, formando dunas e as carregando ora para cá e ora para lá, soterrando ranchos, invadindo os povoados, e dando àquela outrora aprazível habitação o nome, tão significativo, que ainda hoje tem: Solidão!

E para onde quer que se voltasse o homem branco, eram novos ventos que iam surgindo. Numa região onde os índios tinham vivido sempre luz, sem necessidade de mínimo abrigo, soprava agora, vindo das planícies dos índios minuano, o assobiador MINUANO, por três dias soprando navalhadas de gelo, dos céus escorraçando as nuvens todas para poder reinar sozinho, infligindo o suplício do frio até os ossos, matando de frio aos que não tivessem poncho. E matando, ainda hoje, a qualquer pobre miserável que passe a noite ao relento.

E mais temido ainda que o MINUANO é o VENTO NORTE, bafejando calor,  crispando os nervos, jogando irmão contra irmão, semeando ira, plantando ódio, colhendo conflitos, revoluções, tragédias bárbaras como as degolas do Rio Negro e do Boi Preto. VENTO NORTE, o Vento da Morte.”

 

Rio Grande,    SETEMBRO  E O VENTO...

Setembro amarelo - mês da prevenção do suicídio

“Falar é a melhor solução”

Ao sentir-se só e deprimido ligue  188 – CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA


BOLSONARO DECIFRADO

Paulo Timm – Publicado em A FOLHA, Torres RS 23 agosto.

Charges do Bouço no mundo inteiro : Brasil ridicularizado https://www.facebook.com/btcesar/videos/2441188055927903/?t=19

 

 

“Método da loucura derrotará Bolsonaro

A quem fala Bolsonaro? Aposta em manter unida a sua tropa nas redes sociais e antevê, no outro extremo, a radicalização do discurso das”

Reinaldo Azevedo - 9 de agosto de 2019 FSPhttps://blogdacidadania.com.br/2019/08/bolsonaro-nunca-pretendeu-governar-efetivamente-o-pais/

 

 

O holocausto brasileiro

"As pessoas vão morrendo aos poucos nas filas de hospitais sem remédios; a floresta amazônica, derrubada pelo exército

de moto-serras, arde em chamas para dar lugar a pastos; os empregos e os direitos trabalhistas são dizimados; a educação pública agoniza junto com a aposentadoria dos idosos", Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia, em referência ao governo Jair Bolsonaro

 

*

Desde sua eleição, em 2018, uma pergunta domina o noticiário político: - Afinal, que diabos há na cabeça de Bolsonaro? Editoriais da grande Mídia se sucedem em indagações e perplexidades. As primeiras tentativas a indificavam com ideias de um outsider, ao estilo dos “Cinco Estrelas” na Itália: “Contra tudo e contra todos”, exímio no manejo de uma novilíngua de ocasião:

 

NOVILÍNGUA DA DIREITA BRASILEIRA

 

PATRIOTA. Aquele que apoia a privatização ou a venda de empresas estatais e de riquezas naturais para grupos estrangeiros.

 

CIDADÃO DE BEM. Homem branco, hétero e de classe média que defende o porte de armas e a sonegação de impostos.

 

ESTUDANTE. Jovem maconheiro facilmente influenciável por ideias de esquerda.

 

PROFESSOR. Doutrinador comunista que promove greves e surubas em horário de trabalho.

 

UNIVERSIDADE PÚBLICA. Local de balbúrdia onde as pessoas andam nuas, consomem drogas e se deixam manipular por doutrinadores de esquerda.

 

CIENTISTA. Pessoa que recebe dinheiro público para promover pesquisas sem importância que não geram retorno financeiro.

 

EMPRESÁRIO. Único profissional responsável pelo desenvolvimento do país, apesar de massacrado pelos impostos do Estado e tolhido pelos direitos trabalhistas.

 

POBRE. Pessoa que não se esforçou o bastante; vagabundo; procrastinador.

 

FEMINISTA. Mulher que não gosta de homem e não depila as axilas.

 

INDÍGENA. Pessoa que ocupa grandes porções de terra sem pagar impostos, sem trabalhar e sem gerar receita ao Estado. Diz-se também do brasileiro que se aproveita de sua aparência física para requisitar o direito a territórios que, por direito, deveriam pertencer ao agronegócio.

 

IMIGRANTE. Pessoa estrangeira de má índole, proveniente de países do Terceiro Mundo, que vem ao Brasil para tirar o emprego de brasileiros e estuprar as mulheres (OBS: Não se enquadram nessa classificação imigrantes de pele clara e olhos azuis provenientes de países europeus como Itália e Alemanha).

 

MOVIMENTO NEGRO. Organização formada por pessoas (de cor) ressentidas que se dedicam a promover o racismo reverso na sociedade; grupo de pessoas (de cor) que não se colocam em seu devido lugar.

 

NORDESTINO. Brasileiro nascido ou residente na região nordeste do país e dotado de pouca inteligência, bem como de pouca inclinação ao trabalho. Não obstante, apresenta tendências esquerdistas na política.

 

DITADURA MILITAR. Suposto período histórico que teria vigorado no Brasil de 1964 a 1985. O mito da ditadura foi inventado por professores de esquerda com o objetivo de desqualificar o governo de militares abnegados e honestos que livraram o Brasil do comunismo.

 

DEMOCRACIA. Regime de governo corrupto que só beneficia a classe política em detrimento da família, da tradição e da propriedade.

 

DIREITOS HUMANOS. Organização de esquerda criada para defender criminosos e vagabundos de toda sorte.

 

DESEMPREGO. Opção de quem não gosta de trabalhar ou não possui a competência e a qualificação exigidas pelo mercado.

 

MANIFESTAÇÃO POLÍTICA. O mesmo que baderna (OBS: A exceção fica por conta das manifestações de classe média que pedem intervenção militar, feitas geralmente aos domingos e compostas por famílias vestidas em camisas amarelas e portando bandeirinhas do Brasil como prova inequívoca de seu patriotismo).

 

VENEZUELA. O inferno na Terra. Uma espécie de Cuba com petróleo. Uma Coreia do Norte com belas candidatas a Miss Universo. República de bananas comandada por uma ditadura sanguinária financiada pela União Soviética e pelas verbas do BNDES durante o regime lulopetista.

 

ESTADOS UNIDOS. País exemplar para onde todos os brasileiros querem se mudar um dia. Terra da liberdade em que as leis funcionam e a segurança impera porque os cidadãos de bem podem andar armados.

 

BRASIL. País desprezível formado majoritariamente por gente pobre, ignorante e preguiçosa. Nação historicamente fadada ao atraso e ao subdesenvolvimento devida a pouca capacidade empreendedora de sua população.

 

BRASILEIRO. Adjetivo pejorativo usado para desqualificar o que quer que seja (um filme, um escritor, um destino turístico etc). Sinônimo de pobreza, falta de caráter e indolência. "Só podia ser brasileiro mesmo".

 

FILÓSOFO. Tipo de pensador inexistente no Brasil, dada a nossa incapacidade de produzir reflexões profundas (OBS: Olavo de Carvalho é uma exceção, podendo ser considerado o único filósofo brasileiro, entre vivos e mortos).

 

ARTE. Suposta atividade criativa humana que só interessa a uma pequena elite intelectual de esquerdistas pernósticos.

 

ARTISTA. Indivíduo que se dedica à vadiagem, usando a arte como justificativa para sua condição de sanguessuga do dinheiro público.

 

CULTURA POPULAR. Arte de pouca ou nenhuma qualidade e importância; coisa de pobre.

 

MUSEU. Local geralmente público e entulhado de velharias inúteis que não interessam a ninguém.

 

POLITICAMENTE CORRETO. Designa a conduta criada pela patrulha de esquerda para coagir e constranger pessoas espontâneas que falam o que todo mundo pensa mas não têm coragem de verbalizar.

 

EDUCAÇÃO SEXUAL. Disciplina escolar criada por professores esquerdistas para ensinar pornografia às crianças, minando assim os valores da família cristã. Tal disciplina estava contida no famigerado kit gay (que o educador Paulo Freire escreveu a pedido do ministro Fernando Haddad durante o governo Lula e que vinha sendo distribuído nas escolas brasileiras).

 

TRABALHO ESCRAVO. Lenda urbana inventada pela esquerda com o intuito de prejudicar a imagem de empresários sérios e honestos; todo tipo de trabalho que um esquerdista se recusa a fazer.

 

SINDICATO. Grupelho de pessoas desocupadas que usa os trabalhadores como massa de manobra para beneficiar eleitoralmente os partidos de esquerda.

 

IMPRENSA. Designação coletiva dos veículos de comunicação controlados pela União Soviética e dominados pela ideologia marxista-leninista de seus funcionários.

 

FUNCIONÁRIO PÚBLICO. Pessoa ociosa sustentada pelo dinheiro dos nossos impostos para jogar paciência ou tomar cafezinho em repartições públicas decrépitas e sem muita utilidade.

 

PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT). Organização criminosa criada exclusivamente para dilapidar os cofres públicos e instaurar o socialismo no Brasil.

 

SOCIALISMO. O mesmo que comunismo.

 

COMUNISMO. Regime totalitário de esquerda implantado no Brasil em 2003 e que vigorou até 2016. Historiadores monarquistas sustentam, no entanto, que o comunismo teria sido implantado em 1889, com a Proclamação da República.

 

ESQUERDISTA. O mesmo que petista.

 

PETISTA. O mesmo que comunista.

 

COMUNISTA. Pessoa que não trabalha ou que vive exclusivamente de cargos públicos e boquinhas; indivíduo pervertido que defende a educação sexual para crianças, a ditadura gay e o aborto; ateu de esquerda que se dedica a difamar a Bíblia e a destruir os valores da família cristã.

 

A seguir, as análises tomaram o rumo ideológico e procuraram identificar as ideias do novo Presidente do Brasil ao fascismo: “Um político de extrema direita” ou “ameaça ao planeta”, como afirmou Eliane Brum no Jornal “El País”, já em outubro do ano passado:

“El candidato ultraderechista del partido PSL a la presidencia de Brasil, Jair Bolsonaro 11 de octubre de 2018, https://elpais.com/elpais/2018/10/16/opinion/1539703285_985671.html?id_externo_rsoc=FB_CC&fbclid=IwAR1Ws6Sh48n37pM4VUfQp6o6-DUFBZSPSWjJ7T6FKjeoLdt0eDnFFtE1dwg

 

No mês passado, o diagnóstico mudou de rumo, na palavra do Prof. Miguel Reali Jr., um dos autores do pedido de Impeachment de Dilma Roussef, junto com Janaína Paschoal:- “Não se trata, no caso Bolsonaro, de Impeachment mas de intervenção por caso de insanidade mental”. Um irado foi mais longe e bradou em artigo divulgado na Internet: “É um cão raivoso!” – Wanderley Diniz FB 20 agosto. . Ricado Kotcho, jornalista, sempre comedido, sentncia neste título: “Holocausto brasileiro!:

“Na semana em que o capitão presidente condecorou o coronel torturador-mor Brilhante Ustra com o título de “herói nacional”, ameaçou jornalistas e deu uma declaração escatológica sobre a preservação do meio ambiente, fomos informados de que o desmatamento na Amazônia aumentou 277,9% em julho de deste ano, em comparação com o mesmo mês de 2018, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).”

Para estes cronistas, citados, o prognóstico é unânime e explícito nas palavras de Milton Rondó:

“Sem qualquer princípio ético ou moral, Bolsonaro nos levará ao abismo”

 

Como não bastasse a frase do Presidente da França, Emanuel Macron, sobre os incêndios na Amazônia – e que será levada à próxima reunião do G7, repercute no mundo inteiro às portas das Embaixadas brasileiras:

“Nossa casa está em chamas”.

Mais recentemente, porém, especialistas, sobretudo franceses, começam a identificá-lo com maior acuidade e chegam a algumas conclusões interessantes. - "Bolsonaro é incapaz de construir discurso coerente" : http://br.rfi.fr/brasil/20190815-bolsonaro-incapaz-construir-discurso-coerente-especialistas-franceses-analisam.

Trata-se de um tipo particular de populista autoritário, avesso às convenções e servidões do Poder, sem qualquer pudor às inconveniências verbais, muitas vezes escatológicas, nem pejo de civilidade diplomática, como no caso em que esnobou uma alta autoridade francesa, preferindo ir cortar o cabelo, ou quando desqualificou as recentes eleições na Argentina, chamando os vencedores ligados ao peronismo de “bandidos de esquerda” . Nestes casos, como afirma um dos mais competentes comentaristas do país, o Cientista Político Marco Aurélio Nogueira – “Impropérios internacionais” : https://politica.estadao.com.br/blogs/marco-aurelio-nogueira/improperios-internacionais/?fbclid=IwAR3p5x3kHLPc2Uam2d2a0pt38tOgFkp4bGqSns-75qGZ0YXWG0mKkskTsvE-:

“(Bolsonardo) mostra inédita grosseria antidiplomática e completa ignorância em temas e posturas de política externa”.

A ele, se o ouvisse, o Presidente responderia: - “Não tô nem aí! Tá´oquei?? Associado, às vezes a figuras igualmente autoritárias, como Trump, Salvini, na Itália, ou Putin, na Rússia, Bolsonaro é o mais debochado e violento, às vezes, cruel mesmo, quando se referiu à morte do pai do Presidente da OAB.

 

Mas o que dizem os especialistas sobre a cabeça de Bolsonaro? Para muitos deles, as táticas discursivas de Bolsonaro não são inovadoras e não se destinam a convencer mas a seduzir, no melhor estilo retórico que sempre dispensa argumentos. Site do G1-Globo, em 18 de agosto passado, enumera em 58 lamentáveis frases, por exemplo, a verborréa agressiva de Bolsonaro - a 55 alvos desde a posse https://oglobo.globo.com/brasil/site-do-globo-reune-em-ambiente-especial-todos-os-insultos-de-jair-bolsonaro-1-23885106?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar&fbclid=IwAR1xBClXfxllg4V1G7N88M0FR5WWQmag4AEs4OuiWuSpJlWwV91R9dRbEV4 -

"A maneira como um discurso será recebido por uma audiência não depende apenas de seu caráter verídico ou tangível, mas sobretudo da capacidade do orador de captar a atenção da audiência", diz Birgitta Dresp. Pior, torna-se gradualmente aceitável e faz seguidores.

Outro, autor, Patrick Charaudeau, aponta quatro pontos da dicção populista:

O primeiro é o recurso da vitimização. Há sempre um bode expiatório, que pode ser interior ou exterior, no caso Bolsonaro a esquerda, os “russos”, as ONGs, ou a China. A segunda questão é a diabolização deste culpado.. Na Europa, ora são os imigrantes muçulmanos, ora a própria União Europeia. No Brasil, “culpado” é o PT. "O terceiro ponto é o apelo ao povo, mas geralmente trata-se da “Boa Sociedade”, associada ao "cidadão de bem". Por fim, nesse contexto, nasce a figura do "homem providencial", que salvará o "cidadão de bem" dos "inimigos".

Simplex. Eis o homem, sem rodeios, nem também, claro ,Políticas Públicas nem Programa de Governo que o justiquem e legitimem, mas sedutor. Caminha para maior soma de poderes pessoais à despeito das instituições, da Constituição ou das perplexas Oposições. Para seus seguidores, em torno de 30% do eleitorado, ainda é “o mito”. Uma fração ainda insuficiente para animar projetos mais ambiciosos de Bolsonaro mas suficiente para mantê-lo numa posição de “melhor” opção eleitoral à direita, já se insinuando à reeleição em 2022. Não obstante, insuficiente, mesmo à visível debilidade das instituições, para animá-lo a projetos mais “ambiciosos”, tal como adverte Marcos Nobre, no site da Revista Época:

"O que o impede de consumar desde já seu projeto de destruição da democracia não são pessoas nem instituições. O que ainda segura Bolsonaro é o fato de que ele não conseguiu ainda ampliar o apoio que tem, limitado até o momento a cerca de um terço do eleitorado. Ou seja, quem ainda segura Bolsonaro é a maioria da população brasileira, e não instituições políticas ou indivíduos com capacidades especiais para lidar com bestas feras"

Se tudo isso, enfim, dará ou não certo para o Brasil, o tempo, senhor da verdade o dirá. Para a ONU, segundo relatório de 24 de junho passado, já é um fracasso:

Bolsonaro é listado como “fracasso” em relatório da ONU https://www.cartacapital.com.br/carta-capital/Bolsonaro+%C3%A9+listado+como+fracasso+em+relat%C3%B3rio+da+ONU?fbclid=IwAR08zlm0Df3x1N_eIGmdkSVwVpUge3jQh3WoMlmnh9Dj0H03ogR30ahaJug


 


PORTUGAL É A BOLA DA VEZ DA DIREITA

                                                                   Paulo Timm – 15 de agosto

Em 1848, um filósofo alemão, Karl Marx, notabilizou-se ao lançar um Manifesto dizendo que um fantasma rondava a Europa: O comunismo. Com efeito, naquele remoto ano, no calor das grandes mudanças sociais introduzidas pela Revolução Industrial, as cidades cresciam descontroladamente trazendo no seu bojo grandes massas de miseráveis, sujeitas à penosas jornadas de trabalho, sem quaisquer cuidados trabalhistas, induzindo-as à sucessivas rebeliões. Precisamente em 1848, diversas cidades do continente foram varridas por insurreiçoes que acabariam desembocando na Revoluçao Russa de 1917, inaugurando um novo sistema de organização sócio-econômica na civilização. A China contemporânea é o  mais novo e poderoso expoente deste processo e se prepara para reeditar a antiga Guerra Fria entre USA x URSS, que dominou o cenário internacional de 1947 até 1991, num novo confronto que poderá se limitar à luta pela hegemonia tecnológica ou descambar para o extermínio da vida no planeta sob o holocausto nuclear.

Da tensão entre o capitalismo liberal e a ameaça revolucionária nestes últimos 150 anos emergiu, entretanto, com epicentro na Europa Ocidental, uma forte corrente de caráter centro-reformista que mudaria não só as feições, mas o caráter mesmo das sociedades ocidentais. Um certo John Maynard Keynes, economista, e Max Weber, sociólogo, foram os maiores teóricos desta virada.  Transitamos de um liberalismo doutrinário para a construção de uma democracia social, coroada por um conjunto concêntrico de direitos – civis, políticos, sociais e ambientais – que conformam nossas modernas sociedades de bem estar. Os trabalhadores melhoraram sensivelmente sua qualidade de vida, as mulheres e diversas minorias étnicas se incorporaram ao mercado e à cidadania, as garantias sociais do Estado se ampliaram dando um novo conteúdo ao liberalismo. Não obstante, tensões sociais, acrescidas pela agendas identitárias, senão das nacionalidades, intensificadas nas últimas três décadas por crises financeiras, transformações tecnológicas  e guerras civis em várias regiões do mundo, intensificando correntes migratórias para o centro do sistema, reavivam o confronto ideológico trazendo à tona política novos confrontos.

É neste contexto que crescem na Europa e mesmo na América, correntes de extrema direita que pareciam ter sido asfixiadas com a derrota do nazi-fascismo na II Grande Guerra. Na Unão Europeia, apenasPortugal, Irlanda, Luxemburgo e Malta são os únicos países ainda  imunes à extrema-direita em seus parlamentos. Mas em outros, Partidos considerados de extrema-direita governam sozinhos na Polónia, Hungria e República Checa e em coligação em Itália, Áustria, Finlândia, Letónia, Eslováquia e Bulgária. Além disso, na Dinamarca, o Partido do Povo Dinamarquês dá apoio pontual ao partido do Governo – embora batido nas eleições destes dias:https://www.lavanguardia.com/internacional/20190605/462701798923/resultados-elecciones-dinamarca-bloque-izquierda-socialdemocratas.html?fbclid=IwAR2npoe0jbfDITC_H2TpPezGL2lqPBveImEU9B0-HilzGcnn-gEgCYLXtxQ -  e, em França, o partido de Marine Le Pen ganha terreno. Nas eleições de maio passado, para o Parlamento Europeu, a extrema direita também cresceu.  “Os partidos sob a denominação de extrema-direita são muito heterogéneos, incluindo populistas, nacionalistas, ultraconservadores e até neonazis, e cresceram nos países da UE a partir da combinação da crise económica, as migrações, o descrédito na política e a desconfiança nas instituições”. Sua proclamação é a do retorno aos mercados livres e desregulados, sob o regime de Estado Mínimo Soberano (“América First”, “Brasil em primeiro lugar”), com eliminação de garantias sociais e constitucionais e descrédito cético aos organismos internacionais (ONU – União Europeia)  Acreditam, com isso, voltar às origens inspiradoras do dinamismo original do capitalismo, numa tentativa de “renaturalização” da História.

Portugal neste vasto processo europeu é um pequeno país, com pouca capacidade de indução de rumos mas que tem a particularidade, como ocorreu com o Brasil na década de 80, de impulsionar sua democracia sob  o empuxe da redemocratização do 25 de abril de 1974.  Talvez, graças a isso, tenha subsistido a forte presença da esquerda no seu cenário político, composta por um tradicional e ortodoxo Partido Comunista, com alguma presença no movimento sindical, uma Nova Esquerda similar ao PODEMOS de Espanha e PSOL no Brasil, mais atrativa aos jovens e um vigoroso Partido Socialista, hoje à frente do Governo, denominado “Geringonça” e que foi capaz de dar algum fôlego à desfalecida economia do país. Por isso, Portugal é a bola da vez da extrema direita europeia que aqui reuniu-se sábado passado, sob vigilância do Estado e das forças progressistas, as quais lançaram à Nação um Manifesto de advertência aos riscos da restauração do fascismo no país. Teme-se, por aqui, que os intensos movimentos grevistas, já acentuados no ano passado, recrudesçam e coloquem a Geringonça em risco, dela retirando o apoio de setores mais à esquerda. Neste momento, uma greve dos motoristas de transportes de produtos perigosos mobiliza Governo e Sociedade, colocando sob nova ótica o processo eleitoral previsto para setembro. Pesquisas já demonstram que 27,5% do eleitorado, sobretudo do centro-direita, estaria disposto a votar por uma alternativa de extrema direita que poderia vir a surpreender a Nação. As motivações são as de sempre: denúncias de corrupção governamental, ineficiência dos serviços públicos e perdas salarias. Todos, pois, estão atentos, para não dizer preocupados: O fantasma do fascismo que já assentou-se em vários países europeus ronda, agora, novamente, Portugal”.

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Ja de regresso

 Paulo Timm - Publicado A FOLHA 08 agosto

Últimos dias em Portugal, depois de uma larga volta pelo norte, desde Valpaços, passando pelo Porto, uma pequena “paragem, como dizem por aqui, em Aveiro, a obrigatória visita à Coimbra, o êxtase diante do Castelo de Ordem de Cristo, em Tomar, cidade fundada em 1160 e onde se iniciaram as tratativas de Templários e Judeus para os Descobrimentos, agora em Covilhã, sede de uma nova e já reconhecida Universidade, a Universidade da Beira Interior.  Aqui tivemos hoje, sob o patrocínio da Biblioteca Municipal, um portentoso Palácio que poderia abrigar o Governo do Rio Grande do Sul mas que é dedicados aos livros e leitura, um encontro com Poetas locais. Joaquim Moncks, que me acompanha neste périplo abriu os trabalhos com uma bela exposição sobre “O lugar da Poesia e sua atualidade no mundo de hoje”. Agradou imensamente o pequeno grupo reunido às pressas aqui na cidade e finalizou o evento com uma interpretação de “Tabacaria”, de Fernando Pessoa e “Minha Pátria”, de Vincicius de Moraes. Homenageou, assim, primeiro Portugal, em seguida o Brasil. Amanhã rumamos para Lisboa, onde, com várias reuniões com editores e escritores, encerramos nossas “férias”.

Por falar em férias, esta é a “saison”, como preferem os franceses. Verão. Na Europa inteira todo mundo sai a passear. O Mediterrâneo ainda é o destino preferido: praia, sol, mar, muito colorido. Mas muitos ainda preferem Paris, a cidade mais visitada por turistas no mundo. Nem sol, nem praia, nem mar. Só História e muita cultura, comprovando a tese de que o bom turismo é o turismo em busca de ideias e não só paisagens. (Quando conseguiremos fazer com que nossas autoridades e empresários locais comprendam isso?) Outros, porém, saem pelos caminhos mais pitorescos do continente satisfazendo curiosidades: Croácia, Polônia, Grécia, Portugal. Este, então, quase já não dá conta de tanta gente chegando e saindo. Na Europa inteira, são quase 500 milhões de pessoas entrecruzando-se por todos os lados. As praças ficam coalhadas de mesas de cafés e restaurantes, em meio as quais passam jovens com mochilas e não poucos artistas com sua arte. Sociedade de massas. Não de segmentos privilegiados. Tudo com cara de classe média trabalhadora. Ontem subimos, eu e Moncks no elevador com um jovem uniformizado como vigilante e o Poeta ficou surpreso, perguntando-me, quando ele desceu no terceiro andar: - Será que ele mora aqui?. Mora, respondi~lhe. A classe média aqui,  que consitui o grosso da populaçaõ, mesmo sendo uma das mais pobres da Europa, tem acesso à sociedade de consumo, inclusive boas moradias. Ganham entre 800 e 1.100 euros, o que equivale à uma média de  R$ 5.000,00. Um casal: R$ 10.000,00. Vivem apertados, mas dignamente, ainda que pensando o ano inteiro nas férias. No Brasil, a classe média é um mero segmento, embora grande, em torno de 50 milhões de pessoas, que cresceu de cima pra baixo, tendo absorvido, neste processo um estilo e percepções mais próprias da Casa Grande do que da Senzala. Não explode em termos quantitativos, sempre barrada pelas “contingências” históricas. E parece que vai continuar assim. Não entendo como, numa economia que é um décimo da brasileira, sem qualquer sofisticação tenológica e industrial, seja possível pagar salários mais altos do que no Brasil...

Buenas, aguarda-nos, agora, nova reunião. Vamos à Belmonte, de onde proveio Pedro Alvares Cabral. Ainda se vê o Castelo, em ruínas da família. Conto na volta como foi...

 

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III Farol Literário de Torres será realizado em novembro

 

Paulo Timm – Portugal, 30 de julho 2019

 

Uma primeira reunião preparatória  do III Farol Literário de Torres, realizada há dois meses,  definiu a data  de 14 a 16 de novembro para o evento e e aprovou pauta básica: Homenagem ao historiador R.R. Ruschel no 20º. Aniversário de sua morte, chamar a atenção das autoridades para o II Centenário Independência do Brasil/2022, Fortalecimento do Vale “Sagrado” do Mampituba, Polo de Cinema de Torres, a ser submetida neste mês de  agosto aos membros  do MOVIMENTO TORRES ALÉM VERANEIO que o impulsiona. Estiveram presentes Inaudi Goulart Ferrari e Rose Ferrari, José Nilton  TeixeiraPaulo TimmJoaquim MoncksMarcia Munari TeixeiraLauro LagoDébora FernandesFlor Carvalho (foto).

Outra reunião da Comissão Organizadora, com a presença do terapeuta e poeta Eduardo Jacques, criador do Farol Literário em 2017, do poeta José Nilton Teixeira, Presidente da Casa do Poeta de Torres e eu próprio, como Coordenador da Casa do Poeta do Vale do Mampituba,   realizou-se na Prefeitura Municipal de Torres com o Secretário  de Turismo, Cultura e Esporte, Fernando Neri, e técnicos da Pasta. A Prefeitura, por primeira vez,  sinalizou apoio mais enfático ao evento que deve ocorrer na Casa da Terra, sugerindo a presença do Comitê Gestor do Geoparque nas discussões sobre a valorização cultural e turística do Vale do Mampituba. A ideia foi prontamente aceita pelos coordenadores que pretendem, até, realizar, concomitantemente um Encontro dos Prefeitos deste vale, com vistas à Proclamação do Vale Sagrado do Mampituba, como primeiro passo para maior desenvolvimento da área.

https://torres.rs.gov.br/wp-content/uploads/2019/07/III-Farol-1171x878.jpg


Foto: José N. Teixeira, Paulo Timm, E. Jaques, Fernando Neri e Assessora Cultura

 

A Programação do III Farol Literário de Torres deverá ser aberta no dia 14 de novembro, à noite, com a apresentação do 13º. Poesia na Escola, tradicional concurso de Poesia levado a efeito por Roseli e Inaudi Ferrari junto à rede escolar dos municípios de Torres e Passo de Torres. Na ocasião deverá haver a distribuição do livreto Poesia de Bolso editado pela CASA DO POETA DE TORRES, com o apoio da F.M.Cultural , com os poemas vencedores do Poesia na Escola do ano passado. Neste dia está sendo convidada Rita StannIntervenção cultural – La intrusa, Baseado no texto de Eduardo Galeano,   quando os jurados se reúnem para selecionar  os poemas vencedores.

O segundo dia do III Farol Literário contemplará um possível Encontro de Prefeitos e Secretários da Cultura do Vale do Mampituba, iniciando-se  pela Apreciação do Projeto de Valorização Cultural e Turística do VALE MÍSTICO DO MAMPITUBA e  subscrição dos Programas Culturais do RS e SC (Carta de Garopaba), com apresentação de   audio-visual sobre o GEOPARQUE CAMINHOS DOS CÂNIOS. Isso posto, à tarde, haverá encontro com os escritores presentes ao evento, seguido de várias opções: 1. Palco Aberto aos inscritos para recitação de seus poemas sob a coordenadção  de Rejane Vargas, de Grupo Café com Poesia e duas Oficinas de Escrita, com Milton Saldanha e Rozelia Rasia.O dia se encerrará com  um Sarau na Casa da Dindinha, no Passo.

O terceiro dia, sábado, ainda está indefinido mas deverá contemplar uma Mesa Redonda sobre o teme “O homem, este enigma” e um debate sobre Ativismo Cultural sob a coordenação de Vera Barroso e Ana Clara Maciel, criadoras do Projeto RAIZES

Domingo, dia 17, estará aberto para passeio turístico sob a responsabilidade de Geraldo Medeiros.

 

O Farol Literário vai, assim, se consolidando como um importante evento cultural da cidade para o qual todos estão convidados.

 


Colunas autores de Torres e Passo de Torres publicadas em A FOLHA, Torres RSJUNHO e JULHO

 

A COR DA DÚVIDA

Paulo Timm – Publicado em A FOLHA , 5 julho 2019

Li, certa feita, acho que foi na Clarice Lispector, grande romancista brasileira do século XX, que os dias da semana tinham cores, até odores. As segundas eram acinzentadas, terças começavam a ganhar a cor do mar e acavam se confundindo com o céu, as quartas eram amarelas, as quintas, douradas e as sextas, da cor do happy hour, mas sempre tendendo para as espumas flutuantes do chopp... Sábados seriam vermelhos de paixão e domingos da cor da compaixão. Porque hoje é sábado e domingo é família. Escrevo esta crônica às quintas e sempre as sinto como uma dádiva da semana. Que maior regalia do que ser lido, ainda que preso na ansiedade de saber se gostaram ? Sofrimento do poeta: ser vítima do leitor. Sem o leitor, sem o observador, sem o sujeito que fala, nada existe. Só tagarelice ou bilhetes de amor. “No princípio era o verbo”...

Fico pensando no que falar nestes dias gelados de julho. A temperatura do mundo aproxima-se daquela da Guerra Fria, que nos manteve suspensos sob o risco nuclear de 1947 até 1991, quando um dos polos do confronto URSS x Ocidente, desabou. Tudo, então, naquele começo de década parecia róseo, para cujo cenário encaminhavam-se vermelhos e azuis. A ideia do socialismo definhava a olhos vistos sublinhada pela mão forte de La Tatcher e El Regonomics. Os Estados Unidos, no vértice do momento histórico pontificava como grande vencedor e prometia uma globalização glamurosa. Mas daí, quase de repente, embora mediados por anos, vieram os novos desafios: Atentado às Torres Gêmeas de Nova York em 2001, Crise Financeira Mundial em 2008, Guerras no Golfo, Ataques ao Afeganistão, Líbia, Iraque, Guerra Civil na Síria, Crise dos Refugiados no Mediterrâneo. Sobre este pano de fundo, emergiu um novo concorrente, com imenso poder econômico, militar e tecnológico: A China, já dominante no mercado mundial. Imediatamente, o Ocidente, Estados Unidos à frente, abandona a retórica dos anos 90 e reorganiza seus espaços de influência e dominação para uma reedição do clima de guerra. Trump, eleito Presidente há três anos é só a cara visível desta mudança. Seu estilo ganha corpo e relevo internacionais. Uma nova geopolítica do mundo vai se desenhando, na reconcentração de governos, recursos estratégicos, mercados e áreas de influência. De um lado o Ocidente, sob maior controle americano; do outro um eixo ideologicamente diversificado mas unido pelo sentimento de defesa nacional, colando “coisas” tão variadas como China comercial, Rússia nacionalista, Irã xiita, Síria despedaçada e Turquia “erdoganizada”. Entenda-se...

Reflexo disso na América Latina, Brasil incluso, é a polarização que reflete os miasmas ideológicos do século passado. Desaparecem neste redemoinho as forças centristas que, durante um tempo, tergiversavam sobre a Guerra Fria com vistas à mudanças nas suas estruturas coloniais. Os tempos são outros e outras as tendências e lideranças. Pouco espaço para variantes nacionais como

peronismo, aprismo, social-trabalhismo, até tucanagens, que impulsionaram a universalização de direitos de par com a industrialização.

Aqui entre nós esta polarização não dá trégua. A direita, no Poder, “endireita-se” mais ainda sob o comando de um Presidente, ex militar, que decide festejar a data nacional dos Estados Unidos ao lado de Trump , enquanto demoniza tudo o que, mesmo de longe, se assemelhe à ideias esquerdistas, inclusive velhos liberais como o ex-Governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, em franco retiro da vida pública. Bolsonaro, enfim, aposta na sua transformação em única alternativa das forças conservadoras, certo de que, contando com seus mais sólidos apoiadores, ditos “autoritários” e “evangélicos” desalojará qualquer outro pretendente à Presidência em 2022, seja ele o tucano João Dória, já em campanha, seja o democrata Rodrigo Maia, Presidente da Câmara, na “campana” da oportunidade, ou qualquer outro aventureiro, tipo Meirelles que se aventure. A esquerda, de sua parte, ainda fortemente dominada pelo PT com seu séquito de Sindicatos e ONGs, aposta na “reversão” ao status quo ante, ou seja, na “re-virada” ao 2016, cujo gatilho seria a libertação de Lula. Reveste esta expectativa, aliás justa, embora difícil, com a mobilização contra a Reforma da Previdência, vendo nos seus impasses sinais de revitalização da força perdida.

Enquanto isso, segue a vida. Difícil para todos os brasileiros, 63 milhões dos quais pendurados na SERASA enquanto grande parte dos pequenos e médios empresários lutam contra a recessão. Ninguém compra. Porque ninguém tem dinheiro. Ninguém investe, porque a confiança nos mercados ainda é baixa. Talvez Bolsonaro tenha errado ao apostar no Ministro Paulo Guedes que jogou tudo na Reforma da Previdência, que agora chafurda no Congresso, à luz das suas consequências negativas para vários segmentos. Pior, o Governo prometeu uma Nova Previdência mais redistribuida mas consolidou privilégios de militares, talvez policiais e grande parte do Legislativo. Aliviou apenas 0,5% na Contribuição Previdenciária – caiu de 8% para 7,5% - dos celetistas, o que, para 50 milhões de brasileiros que ganham Salário Minimo, representa a economia ínfima de R$5,00 ao mês. Piada.

Enfim, vivemos um mundo difícil não só de ser vivido, mas de ser compreendido. Ninguém sabe direito onde está a verdade. A grande maioria, silenciosa, soa na dúvida. Qual mesmo a sua cor...?

 

 

Vou insistir;

O Presidente Bolso errou ao entregar a economia para o POSTO IPIRANGA, de alto teor ideológico neoliberal. Este apostou TUDO NA BALA DE PRATA DA REFORMA DA PREVIDENCIA. Não deu certo. A economia vai de mal a pior à falta de Políticas concretas de retomada do crescimento. Explica-se: Ele é um teórico cheio de ideias e nenhuma experiência na gestão pública da economia. Um Roberto Campos piorado, o qual, aliás, também capitularia em meados de 1966 abrindo caminho no regime autoritário para Delfim Neto. Bolsonaro vai pagar o preço deste erro em perda de popularidade. É o pior Presidente em começo de mandato e já começou a ser vaiado em público, além de denunciado como traidor por uma poderosa facção de seus apoiadores, os policiais. E

quanto mais tardar em substituir o POSTO IPIRANGA por um outro “concorrente” com maior senso prático, mais se enterrará sob negras nuvens...A tal REFORMA PREVIDÊNCIA não passou de uma cortina de fumaça que não trará nenhum benefício no curto e médio prazo. O grande problema fiscal, que é o pagamento de juros da Dívida da União, já perto do valor do PIB, na ordem de R$ 6 trilhões, à razão proxi de 8% a.a. para uma inflação de 3,5%, já consome cinco vezes o valor anual a ser , oportunamente, a partir de 2020, cinco vezes superior ao "economizado" por dita Reforma. Ou seja: R$ 100 bi (economia anual relativa ao trilhão em 10 anos) x R$ 500 bi (juros).

Deu xabu...Getúlio Vargas, lá nos anos 50, além de ter excelências no Ministério da Fazenda - ele próprio foi titular deste Ministério no Governo W.Luiz - , sempre teve, a seu lado, como contraponto, uma vigorosa assessoria econômica com Jesus Soares Pereira e Rômulo de Almeida. JK , idem. João Goulart, também, lembrando-se que a seu lado esteve como Ministro nosso saudoso Celso Furtado. FHC preferiu fazer a redistribuição de Poder não com assessores palacianos, onde pontificava, aliás, seu amigo José Serra, mas com fortes "personalidades" conflitantes, Malan na Fazenda, outro, que variou, no BANCO CENTRAL. Lula também errou ao dispensar o contraditório "econômico", às vezes ocupado informalmente por Dilma Roussef, junto ao Palácio. E, agora, o "analfabeto" Bolsonaro entrega a chave do cofre para um neófito.

É esperar e ver...

Ilustração - A "pizza" dos gastos da União, segundo DIVIDA CIDADÃ, com o registro adicional de que os gastos com PREVIDENCIA aí registrados não são líquidos, mas brutos, ou seja, não consideram que tais gastos são compensados com a Receita Previdenciária, além de outras fontes constitucionais para a Seguridade Social.

DEMOCRACIA SEMPRE FRÁGIL E FUGIDIA

Paulo Timm – A Folha, Torres – 29 de junho

Sou pouco criativo para títulos. A de cima, hoje, recolho de um artigo sobre as origens e perspectivas da democracia no mundo. Gostei de ambos, título e conteúdo e os aproveito nesta reflexão sobre o andamento da democracia entre nós.

Muitos são pessimistas com o Brasi. Eu, ao contrário, sou candidamente otimista. “Cândido, o otimista”, aliás, é o nome de um famoso romance de Voltaire, baluarte do Iluminismo. Mazzaropi, pioneiro do cinema brasileiro e ator, fez uma paródia caipira excelente desta obra com o nome de “Candinho”. Poucos se deram conta, na época da importância deste filme. Mas, nós, aqui nesta foz do Vale Sagrado do Mampituba, tivemos oportunidade de celebrar o último dia .., DIA DO CINEMA NACIONAL, vendo e comentando este filme lá nas quintas de ENCONTRO DE GERAÇÕES, no Quintal da Dindinha. Todos adoraram. Tudo isso pra dizer que sou “candidamente” de bom humor com o que foi e o que será...Acho que um país que saiu ,em 1900, de uma lavoura escravista de café, arranhando o litoral com de 13 milhões de almas, grande parte penadas nos grotões sertanejos, para, em cem anos, chegar a 200 milhões, em torno de um Estado, bem ou mal, muito mais organizado do que a maioria dos demais membros da ONU, com uma economia e mercados vertebrados graças a 60 anos de crescimento ininterrupto na ordem de 6,5% a.a. , cumpriu um grande feito. Os pessimistas dirão: Mas 100 milhões vivem em condições sub-humanas na periferia das metrópoles! Há 24 milhões de desempregados e no desalento! A concentração da propriedade, da renda e do prestígio é brutal! Nunca tivemos democracia, a não ser esporadicamente, na regra geral dos regimes autoritários! Temos 13 milhões de analfabetos e um pouco mais, apenas, de brasileiros com nível superior, sendo que a maioria é analfabeto funcional! A corrupção graça! O Brasil, enfim – e gritam - _ NÃO DEU CERTO.

Ora, tudo o que os pessimistas alegam não deixa de ser verdade. Mas é meia verdade. A indagação correta deve ser: - E como tivemos tal crescimento demogrático? Como montamos uma economia industrial que exporta aviões – EMBRAER – e um agronegócio que alimenta o mundo em grãos e proteína animal? E uma vigorosa agricultura familiar que alimenta as cidades com produtos de boa qualidade e preço baixo? Então respondo Porque soubemos aproveitar as brechas de um sistema extremamente regressista, oriundo do regime colonial e persistente no Império para avançar alguns passos institucionais que permitiram as transformações. Rigorosamente, sempre repito, fomos a CHINA do século XX. Ao longo dos anos 1930 até há pouco, criamos sistemas educacionais de longo alcance, que já conseguiu suprir todas as demandas do ensino fundamental, embora carente de qualidade. Montamos um sistema de atentimento universal de saúde, através do SUS que é um modelo para muitos países ditos desenvolvidos, que ainda vêem seus concidadãos chegarem a verdadeiros ataque de nervos às portas de Hospitais por não terem dinheiro para internar seus doentes. O sistema financeiro público consolidado no Banco do Brasi, CER e BNDES é simplesmente invejável e capaz de orientar tecnicamente as autoridades econômicas sobre o andamento das conjunturas no campo e na cidade. Depois da Constituição de 1988 ainda conseguimos estender aos menos favorecidos da sociedade os estímulos de ações afirmativas com cotas raciais e sociais nas Universidades e no Serviço Público, Bolsa Família, apoio à Agricultura Familiar, acesso à casa própria e vários outras políticas compensatórias às desigualdades gritantes.

É claro que não completamos as tarefas da construção da cidadania e de reorganização do Estado, ainda reticente à democratização interna com a eliminação de castas privilegiadas no seu interior, mas caminhamos muito e precisamos seguir o curso que deu certo, evitando inovações que, em nome de uma suposta “modernidade” acabam nos levando para o século XIX, com a desmontagem de direitos sociais em nome de uma suposta eficácia dos mercados. Eficiência, sempre bom que se diga, é uma categora de meios, não de fins. Na crise do regime escravocrata muitos também alegavam sobre a necessidade de consertar as insuficiência do sistema e insistiam na tese do destino inevitável do Brasil como exportador de café. Foi necessário fixar novos horizontes, como a substituição do moribundo regime imperial e, depois, a mudança da Velha República, ambas com o inevitável recurso às armas precisamente pela debilidade das instituições democratizantes no interior do Estado, para abrir caminhos. Hoje, estamos diante de novos desafios, no sentido de reforçar as instituições existentes já consagradas pela nova realidade social do país, sedenta de inclusão social. Temos um amplo pertecimento da população ao eleitorado nacional, temos liberdade de opinião e organização, que se traduz pela existência de 32 Partidos no Congresso, representando isso um viés inédito de ruptura das velhas oligarquias familiares, temos sólidas ONGs operando em vários campos na defesa do meio ambiente, de populações vulneráveis, temos o acesso garantido às Redes Sociais. Falta, apenas nos mobilizarmos para as mudanças requeridas pelo nosso tempo. Sem atropelos, sem medo às ameaças e retrocessos, mas com firmeza de propósitos.

Como diz Renato Janine Ribeiro, em recento post no FACE : Temos que reunir força política para as mudanças. Tem razão. Mas reunir dentro da democracia, para a democracia, ainda que frágil e fugidia, mas avançando sempre rumo a um ideal, como quem persegue o arco-íris. Afinal, para isso servem as utopias (Galeano): Para nos iluminar o caminho.

 

 

AÍ VINDES OUTRAS VEZ INQUIETAS SOMBRAS

Horacio Luna

O título acima é de uma passagem de Capitu, de Machado de Assis. O eterno assombro das trevas sobre as luzes aparentemente visíveis. Sóis e luas, se sucedendo.Sobrepondo-se. Quando se menos espera, fatos novos, novas interpretações, narrativas distintas. Isso ocorre, agora, com a conjuntura nacional. De uma hora para outra, o paladino da guerra contra a corrupção, ex-Juiz Sérgio Moro, atual Ministro da Justiça, é bombardeado pela divulgação de seus diálogos, não confirmados por ele, com membros da Força Tarefa da Lava Jato, visivelmente comprometedores de sua imparcialidade. O assunto explodiu na Imprensa e nas Redes Sociais depois que a INTERCEPT liberou ao público fragmentos da interceptação de seus telefonemas em 2017. Prometem mais. E o Ministro teve que se explicar nesta Semana junto ao Senado, devendo voltar, nesta próxima à Câmara. Constrangimento. Óbvio.

De que acusam o ex- Juiz Moro? De haver atuado no Comando da Lava Jato com tendenciosidade, mais inclinada a prejudicar a esquerda e, notadamente o ex-Presidente Lula. Os advogados e defensores de Lula, aliás, sempre o denunciaram como tendencioso, tendo, até arguido isso junto à instâncias superiores. Mas não havia provas. Só argumentos e indícios. Agora dizem: - Está aí a prova! Sua interferência junto à Força Tarefa, da qual, como Magistrado não fazia parte, mudando procuradores, indicando testemunhas, poupando figurões, como ex Presidente FHC, supostos aliados do “trabalho” de limpeza do convés político do país.

A eles, o ex Juiz – bem como os membros da Força Tarefa -, alega duas coisas: Não reconhece as dicções publicadas pela INTERCEPT e os acusa, ademais, como criminosos por haverem hackeado sua privacidade. Estes argumentos alimentam as forças governamentais hoje sob o comando, ainda que desconjuntado, do Presidente Bolsonaro que acrescentam: - Moro é um Patrimônio da luta contra a corrupção no Brasil. Quem o acusa está defendendo a bandidagem.

Sobre este pano de fundo, cada mais desportivo, em que a camiseta das duas forças polarizadas substitui o curso mais fundo das argumentações, capazes de construir alternativas, Moro compareceu ao Senado. Saiu-se bem, segundo a maior parte dos analistas. Em nenhum momento foi colocado nas cordas com o risco de sair daquele Plenário demitido do cargo que ocupa. Até se deu ao luxo de desdenhar: - Não tenho apego ao cargo. Se for provado que cometi irregularidade, saio do Ministério. Na verdade, saiu-se bem politicamente, demonstrando tranquilidade no enfrentamento com a Oposição e inequívoco domínio dos assuntos sobre os quais discorre. Afinal, passou quatro anos à fretne da Lavajat e, bem ou mal, tem uma formação, senão como intelectual, ao gosto do bovarismo brasileiro, de boa formação profissional. Já os Senadores, muitos dos quais sequer haviam lido os relatórios da INTERCEPT não demonstraram competência para encurrará-lo. Os governistas, aliás, nada fizeram senão repetir as alegações oficiais de criminalização dos hackers. Nenhuma palavra de censura à eventuais deslizes éticos do Juiz. O Senador Alvaro Dias, chegou ao cúmulo de enaltecer “os novos métodos de combate à corrupção”, sem enumerá-los e nominá-los. Com isso equiparou-se ao Presidente Duterte, nas Filipinas, que se elegeu e governa, também, com “novos métodos” de combate ao narco-tráfico: assassinatos em massa...

Resta-nos diante desta grande confusão indagar: Será que não existe a verdade?

Ela até pode existir. Mas não é de fácil apreensão, sobretudo no campo da vida social e política.

Os antigos, antes da Filosofia, se comportavam com parcimônia diante da dita realidade. Diziam que em tudo no mundo há o justo e o injusto e ambos são igualmente justificáveis. Mas aí chegaram, no tempo do Grande Péricles, em Atenas, no século V AC Sócrates, Platão e Aristóteles

e começaram a afirmar que a verdade existe sim e se revela nela própria desde que sejamos capazes de compreender as suas leis internas. Aí nasceu a Ciência, primeiro as exatas, depois as humanas. E fomos criando a ideia de que é possível recolher a verdade dos fatos e processos sociais em curso. Não tem dado certo. A discórdia subsiste no campo da Política dando espaço, cada vez mais, à ideia de um velho Filósofo contemporâneo, que recém completou 90 anos, Jurgen Habermas, de que a saída não é perseguir verdades, mas consensos. Certos ou errados, uma vez definidos como um curso por ampla maioria da Sociedade, eles podem criar uma perspectiva de paz e progresso mais estável. Isso, porém, é fácil de dizer, mas muito difícil de fazer. Preferimos as paixões e por elas vivemos e até morremos. Às vezes, matamos.

Antes, pois, que se conheça a verdade total da Lavajato no Brasil e seu papel na História recente do Brasil, muito sofrimento correrá por baixo da ponte, levando consigo oportunidades perdidas, senão, lá pelas tantas, até o grande sonho de uma grande nação multicultural, democrática e com um brillante porvenir...

ESTILO BOLSONARO: “Tò nem aí!”

Horácio Luna -

Há uns 15 anos, tempo em que a INTERNET engatinhava e o FACE nem existia, eu escutava muito, aqui nas nossas rádios, uma canção com este refrão: - Tô nem aí!Tô nem aí... Confesso que não me lembro quem são autor e intérprete, uma moça, mas guardei o mote. Hoje, tentando encontrar uma definição para o estilo do nosso Presidente da República, ele me veio de relance. Bolsonaro não é fascista, não é neoliberal, não é fanático. Ele é do gênero:- “Tô nem aí!”. Nesta semana, sofreu revezes contundentes em várias frentes: O Supremo vetou sua decisão de acabar com os Conselhos Consultivos, tão ao gosto, sobretudo, na Era Petista; O Senado torpedeou sua tentativa de armar o cidadão; a Câmara, através do Relator da Emenda Constitucional da Reforma da Previdência, soterrou, dentre outros pontos, o otimismo do Ministro Paulo Guedes de mudar o sistema público de Previdência Social para um Sistema Privado de Garantias contra o futuro. Como se não bastasse, a pérola do seu Ministério, o ex juiz Moro, foi “vítima” de poderoso ataque às suas conversas pouco republicanas com membros da Força Tarefa da Lava Jato, denunciando conluio da Justiça com o Ministério Público com sentido político. Um verdadeiro dilúvio, portanto, contra o Governo recém empossado e que tem como Oposição apenas 150 gatos pingados na Câmara. Bolsonaro, porém, impávido, embora não propriamente sereno, pois estampa à luz do dia as alegadas noites de insônia e ranger de dentes, segue seu curso. Quem lhe toma as dores, às vezes, apesar de que, desta vez calado, é o filho Carlos – o Carlucho, ou Pitbull – que desanca nas redes supostos e ameaçadores inimigos de seu pai, geralmente sentados na sala ao lado. A tudo isso, Bolsonaro, segue em frente – ou em círculos - : - Tõ nem aí...Tô nem aí....!

Analistas, entretanto, preferem os modelos interpretativos mais sofisticados sobre o estilo do Presidente.

Para seus defensores, ele é um mito, sem se darem conta de que mito, como diz Rollo May : "é um modo de dar sentido a um mundo sem sentido”. Mostram, a propósiteo sua grande capacidade de falar não só com seu público – evangélicos, autoritários e sanitaristas da vida pública -, mas com o povão mesmo. Com efeito, ele não tem o perfil do trabalhador de macacão ou do retirante nordestino, como o Lula, mas tem o jeitão da classe média-média, que frequenta os quiosques das praias e botequns dos subúrbios, que

joga pelada aos sábados nos “Veludos” da vida, que conta e ri de piadas do papagaio e do português, que está com ficha suja no SERASA. Daí ele recolhe estas ideias esdrúxulas de que tem acabar com os pardais do trânsito, dar um fim na farra das cotas raciais e “privilégios” de quilombolas e populações indígenas.- “Somos todos brasileiros, reitera. Ninguém pode ter privilégios”. À socapa, no entanto, diz que são os empresários do agrobusiness e das cidades que devem dar as cartas sobre os rumos do país – tanto que os indica como Ministros - e não titubeia em fazer continência à bandeira americana, aquele paraíso ao qual esta pequena burguesia sonha ir viver algum dia. Contradição? Sim, mas estas contradições, em forma de “achismo”, avessas às instituições responsáveis, às pesquisas e ao bom senso povoam todo o ideário do ambiente que ele , Bolsonaro, cultua.

Já os mais críticos a Bolsonaro o identificam como expressão tropical do Presidente Trump, considerado o arauto do Faktóides News, tipo de governança bombástica, sem muita consistência interna. Alegam e contam as mentiras – ou pós-verdades – do nosso Presidente, já tendo chegado em cinco meses e meio a perto de 200... A força-tarefa de “Aos Fatos “demonstra que nas dez primeiras semanas de mandato ele teria , em média, uma “informação equivocada” por dia. Mas apontam também seu estilo altaneiro, pouco afeito à coordenação dos Ministros, que ficam à base do cada um por si , Eu por todos... Aí se soma sua relação difícil com os parlamentares, a quem sistematicamente identifica com a Velha Política, deixando-os como responsáveis pelos destinos dos projetos que para envia ao Congresso Nacional. E se regozija, pois sabe que a sua turma vai dizer: - “São os políticos corruptos que não deixam o Homem governar”. Quero dizer com tudo isso: Enganam-se os que pensam que Bolsonaro é idiota e que está isolado...

Enfim, a esquerda, insiste: Bolsonaro é fascista! Talvez seja. Na verdade, o dito nazi-fascismo foi uma expressão totalitária da direita contra o avanço da esquerda no pós I Guerra Mundial, com característica e data marcada. Parecem-se.Hoje a contenção da esquerda no mundo ocidental tem outros métodos e outras práticas, inscritas no que se tem denominado de Guerra Híbrida, na qual se extingue o espaço da guerra como continuação da Política por outros meios e se promove um novo Estado de Direito com base no alguns chamam de Lawfare, uma visão pouco garantista de direitos nesta Nova Era de artefatos eletrônicos. Vamos ter que viver ainda alguns anos para verificar com mais precisão do que se trata o momento que estamos vivendo. Até lá, é aguentar o tranco. Mas devagar, Presidente, que o santo é de barro, do mesmo barro com que o Criador fez a nossa espécie.

ESTILO BOLSONARO: “Tò nem aí!”

Horácio Luna -

Há uns 15 anos, tempo em que a INTERNET engatinhava e o FACE nem existia, eu escutava muito, aqui nas nossas rádios, uma canção com este refrão: - Tô nem aí!Tô nem aí... Confesso que não me lembro quem são autor e intérprete, uma moça, mas guardei o mote. Hoje, tentando encontrar uma definição para o estilo do nosso Presidente da República, ele me veio de relance. Bolsonaro não é fascista, não é neoliberal, não é fanático. Ele é do gênero:- “Tô nem aí!”. Nesta semana, sofreu revezes contundentes em várias frentes: O Supremo vetou sua decisão de acabar com os Conselhos Consultivos,

tão ao gosto, sobretudo, na Era Petista; O Senado torpedeou sua tentativa de armar o cidadão; a Câmara, através do Relator da Emenda Constitucional da Reforma da Previdência, soterrou, dentre outros pontos, o otimismo do Ministro Paulo Guedes de mudar o sistema público de Previdência Social para um Sistema Privado de Garantias contra o futuro. Como se não bastasse, a pérola do seu Ministério, o ex juiz Moro, foi “vítima” de poderoso ataque às suas conversas pouco republicanas com membros da Força Tarefa da Lava Jato, denunciando conluio da Justiça com o Ministério Público com sentido político. Um verdadeiro dilúvio, portanto, contra o Governo recém empossado e que tem como Oposição apenas 150 gatos pingados na Câmara. Bolsonaro, porém, impávido, embora não propriamente sereno, pois estampa à luz do dia as alegadas noites de insônia e ranger de dentes, segue seu curso. Quem lhe toma as dores, às vezes, apesar de que, desta vez calado, é o filho Carlos – o Carlucho, ou Pitbull – que desanca nas redes supostos e ameaçadores inimigos de seu pai, geralmente sentados na sala ao lado. A tudo isso, Bolsonaro, segue em frente – ou em círculos - : - Tõ nem aí...Tô nem aí....!

Analistas, entretanto, preferem os modelos interpretativos mais sofisticados sobre o estilo do Presidente.

Para seus defensores, ele é um mito, sem se darem conta de que mito, como diz Rollo May : "é um modo de dar sentido a um mundo sem sentido”. Mostram, a propósiteo sua grande capacidade de falar não só com seu público – evangélicos, autoritários e sanitaristas da vida pública -, mas com o povão mesmo. Com efeito, ele não tem o perfil do trabalhador de macacão ou do retirante nordestino, como o Lula, mas tem o jeitão da classe média-média, que frequenta os quiosques das praias e botequns dos subúrbios, que joga pelada aos sábados nos “Veludos” da vida, que conta e ri de piadas do papagaio e do português, que está com ficha suja no SERASA. Daí ele recolhe estas ideias esdrúxulas de que tem acabar com os pardais do trânsito, dar um fim na farra das cotas raciais e “privilégios” de quilombolas e populações indígenas.- “Somos todos brasileiros, reitera. Ninguém pode ter privilégios”. À socapa, no entanto, diz que são os empresários do agrobusiness e das cidades que devem dar as cartas sobre os rumos do país – tanto que os indica como Ministros - e não titubeia em fazer continência à bandeira americana, aquele paraíso ao qual esta pequena burguesia sonha ir viver algum dia. Contradição? Sim, mas estas contradições, em forma de “achismo”, avessas às instituições responsáveis, às pesquisas e ao bom senso povoam todo o ideário do ambiente que ele , Bolsonaro, cultua.

Já os mais críticos a Bolsonaro o identificam como expressão tropical do Presidente Trump, considerado o arauto do Faktóides News, tipo de governança bombástica, sem muita consistência interna. Alegam e contam as mentiras – ou pós-verdades – do nosso Presidente, já tendo chegado em cinco meses e meio a perto de 200... A força-tarefa de “Aos Fatos “demonstra que nas dez primeiras semanas de mandato ele teria , em média, uma “informação equivocada” por dia. Mas apontam também seu estilo altaneiro, pouco afeito à coordenação dos Ministros, que ficam à base do cada um por si , Eu por todos... Aí se soma sua relação difícil com os parlamentares, a quem sistematicamente identifica com a Velha Política, deixando-os como responsáveis pelos destinos dos projetos que para envia ao Congresso Nacional. E se regozija, pois sabe que a sua turma vai dizer: - “São os políticos corruptos que não deixam o Homem governar”. Quero dizer com tudo isso: Enganam-se os que pensam que Bolsonaro é idiota e que está isolado...

Enfim, a esquerda, insiste: Bolsonaro é fascista! Talvez seja. Na verdade, o dito nazi-fascismo foi uma expressão totalitária da direita contra o avanço da esquerda no pós I Guerra Mundial, com característica e data marcada. Parecem-se.Hoje a contenção da esquerda no mundo ocidental tem outros métodos e outras práticas, inscritas no que se tem denominado de Guerra Híbrida, na qual se extingue o espaço da guerra como continuação da Política por outros meios e se promove um novo Estado de Direito com base no alguns chamam de Lawfare, uma visão pouco garantista de direitos nesta Nova Era de artefatos eletrônicos. Vamos ter que viver ainda alguns anos para verificar com mais precisão do que se trata o momento que estamos vivendo. Até lá, é aguentar o tranco. Mas devagar, Presidente, que o santo é de barro, do mesmo barro com que o Criador fez a nossa espécie.

NUVENS NEGRAS SOBRE SOBRE O AMBIENTE

Paulo Timm – ex-secretário do Meio Ambiente do Distrito Federal -

 

Nesta semana, com epicantro no dia 5, considerado o Dia Mundial do Meio Ambiente pela ONU, fervilharam no país inteiro cerimônias, palestras, entrevistas e até festejos, como aqui no Passo de Torres, onde não faltou a apresentação de um grupo de dança açoriana, todas celebrando a vida no planeta. A data foi insituida pela ONU como lembrança a um dos primeiros foruns internacionais dedicado ao tema e que teria seu grande congraçamento na famosa RIO-92, realizada no Rio de Janeiro, com a presença de perto de 200 líderes mundiais. Ali demarcou-se o fim do produtivismo sem peias, calcado na falsa ideia da inesgotabilidade dos recursos naturais, apesar de suas grandes conquistas, dentre elas a expansão em um século – 1900/2000 – de uma população global de 1,2 para 7 bilhões de pessoas no mundo. Desde então, o Brasil vinha ocupando um papel protagônico na defesa do desenvolvimento com sustentabilidade, ou seja, um padrão de crescimento que cuidasse não só de elevar a produção mas o fizesse com base no tripé eficiência econômica, justiça social e cuidados ambientais. Temos uma legislação ambiental primorosa, montamos em todos os níveis da administração pública vigorosa estrutura instucional de controle, desenvolvemos consideravelmente os recursos humanos para o tratamento da matéria, vimos se organizarem no país inúmeras ONGs de defesa do meio ambiente, criamos uma consciência nova e moderna sobre o meio ambiente no país. Por isso mesmo, as celebrações da Semana do Meio Ambiente no Brasil, tenham, neste ano, ficado cercadas de preocupações. Sobre elas pairou um clima tenso de preocupações, pois o novo Governo Bolsonaro voltou aos anos da soberania do produtivismo, estigmatizando todo o avanço que havíamos conquistado em termos de sustentabilidade até agora. Nisso aliás, ele tem sido coerente, pois foi exatamente isso que prometeu durante a campanha: Enquadrar “ambientalismo” em nome do “desenvolvimento”, onde não faltam algumas pérolas no sentido de apontar a luta ambiental como uma conspiração chinesa...

A reação, entretanto, tem sido muito forte. André Trigueiro, comentarista da Rede Globo publicou o que considera como pauta do desmonte de Bolsonaro da Política Ambiental, a saber - :.

1. Enfraquecimento do Ministério do Meio Ambiente

2. Revisão de todas 334 Unidades de Conservação

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciou a revisão de todas as Unidades de Conservação do país, desde o Parque Nacional de Itatiaia (criado em 1934) até o Refúgio da Vida Silvestre da Ararinha Azul (criado em 2018).

3. Fim das Reservas Legais Projeto de Lei do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) defende o fim das Reservas Legais – área protegida que não pode ser desmatada em propriedades rurais – alegando o "direito constitucional de propriedade".

4. Freio na fiscalização

De janeiro a maio, o número de multas aplicadas pelo Ibama por desmatamento ilegal foi o mais baixo em 11 anos. A queda foi de 34%.

5. Ibama anuncia onde fiscais vão reprimir os crimes ambientais

6. 'Cancún brasileira numa Estação Ecológica'

7. Afastamento do fiscal que multou Bolsonaro

Três meses depois da posse do presidente, o chefe do Centro de Operações Aéreas da Diretoria de Proteção Ambiental do Ibama, José Augusto Morelli, foi afastado do cargo.

8. Presidente do ICMBio se demite depois de ameaça do Ministro Salles

9. Salles nomeia policiais de SP em lugar de especialistas em biodiversidade

10. Desmantelamento da Política Climática

Quando o assunto é aquecimento global – a maior crise ambiental deste século com inúmeros impactos sobre o Brasil –, Salles costuma classificar o tema como "acadêmico" e "não prioritário".

11. Fundo Amazônia pode desaparecer

Ricardo Salles causou enorme constrangimento aos financiadores do Fundo Amazônia (Noruega e Alemanha contribuem com 95% dos recursos, que somam mais de R$ 3 bilhões) ao convocar uma entrevista coletiva para criticar o modelo de gestão do projeto.

12. Sinal verde para a exploração de petróleo em Abrolhos

13. Menos verde com o novo Código Florestal O governo já anunciou que vai ressuscitar a MP 867 (aprovada na Câmara e "enterrada" pelo Senado na semana passada) que muda as regras do Código Florestal. Só falta decidir se o fará mediante uma nova Medida Provisória ou Projeto de Lei

14. A indignação de 8 ex-ministros do Meio Ambiente

15. TCU enquadra Ricardo Salles, Ministro do Meio Ambiente

O Tribunal de Contas da União abriu na semana passada um processo para investigar a política ambiental do governo https://g1.globo.com/natureza/blog/andre-trigueiro/post/2019/06/03/15-pontos-para-entender-os-rumos-da-desastrosa-politica-ambiental-no-governo-bolsonaro.ghtml

 

A indignação de 8 ex-ministros do Meio Ambiente, citada, veio através de reunião e nota de titulares da pasta nos últimos governos, igualmente preocupados com o desmantelamento da Política Ambiental. "Estamos diante de um risco real de aumento descontrolado do desmatamento na Amazônia. Os frequentes sinais contraditórios no combate ao crime ambiental podem transmitir a ideia de que o desmatamento é essencial para o sucesso da agropecuária no Brasil. A ciência e a própria historia recente do País demonstram cabalmente que isso é uma falácia e um erro que custará muito caro a todos nós", diz a nota.

Concelebremos, pois, a vida nesta Semana do Meio Ambiente , , mas reflitamos um pouco, também sobre as negras nuvens que se abatem sobre as conquistas ambientais que já dávamos, até, como se fossem cláusulas pétreas do nosso desenvovimento, sobretudo depois do anúncio de que cresceu desmesuradamente o desmatamento da Amazônia nos últimos meses

PACTO ENTRE OS TRÊS PODRES? Oressa...

 

Horacio Luna – Cronista Politico. Publicado em 30 maio

O mês de maio ficou pra trás. Deixou como rastro da conjuntura duas grantes manifestações de rua: Dias 15 e 30 , contra o Governo; dia 26, a favor - https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/05/26/manifestacoes-a-favor-de-bolsonaro-x-protestos-contra-cortes-na-educacao.ghtml. Ambas de certo vulto envolvendo centenas de milhares ao relento em cerca de 150 cidades do país. Militantes de um e outro lado medem o tamanho de cada uma delas, num campeonato meio juvenil: - O meu é maior! Bobagem. O que importa é ressaltar que há um governo legítimo, eleito por 58 milhões de votos, há cinco meses em funções, e há uma oposição, que fez 47 milhõesde votos à qual se associam outros tantos insatisfeitos com gregos e troianos. O Governo tem que governar para todos e não só para seus eleitores. E há o fato, fartamente sabido, que o Presidente eleito o fez com um discurso anti-stablishment, à margem do sistema político tradicional – Congresso Nacional, Partidos Políticos, Aparatos de Estado, Imprensa, Sociedade Civil organizada. Não obstante, com um Partido novo e pequeno, com 10% de assentos no Parlamento, sem ideologia definida e lideranças consolidas, é com este “sistema” que ele tem que trabalhar. Faz parte do jogo republicano, ao qual se adaptaram as monarquias constitucionais modernas. Soberano, neste sistema, é o povo, cidadão, eleitor. A cabeça do Poder é uma mera circunstância, condenada a ceder lugar, nas próximas eleições a outra pessoa que poderá, aliás, ter outra inspiração ideológica. O Presidente é como o Poeta, vale pelos seus versos, jamais pela sua própria pessoa.

Conta-se, sobre as origens da República , na sua instauração em 1776, nos Estados Unidos, num tempo ainda dominado por Monarcas Absolutistas no mundo, que faziam e desfaziam nos seus tronos, que os Pais da Pátria daquele país tinham duas coisas em mente: Queriam, de uma parte, uma figura central no Governo, sim, mas por tempo determinado, rotativo, afim

de que não criasse raizes que inevitavelmente o levariam ao abuso do Poder; de outro lado, cuidaram que, mesmo neste período em que detivesse o poder central, este ficasse limitado por um complexo controle de freios e contrapesos, começando pelo Legislativo, representante de todos os eleitores e culminando pelo arbítrio final do Judiciário. Disso, portanto, se trata a República Democrática: Ninguém tem Poder total e absouto. Há uma teia institucional, consubstanciada no sistema de Leis vigentes e corpos públicos e privados que lhe vertebram.

O Presidente Bolsonaro, entretanto, não deve ter no seu currículo as leituras sobre o que é o Poder ao qual ele foi guindado: República e Democracia . Continua impulsionado pelo ímpeto da reinvenção do Brasil com base no seu plano de campanha. Não compreende a intrincada matriz que o condiciona. Quer porque quer e fulmina, via redes sociais, todos aqueles que, mesmo do seu próprio Governo ou Partido, entende como obstáculos à sua soberana vontade. Isso tem uma nome: Pré-política. Daí as críticas destemperadas a Ministros, IBGE, UNIVERSIDADES, ENEM, FIOCRUZ, IBAMA etc.

Nesta semana, por exemplo, houve por bem convidar – ou convocar – o Presidente do Supremo e os Presidentes da Câmara e Senado para firmarem um Pacto pelas Reformas no Brasil. Caiu mal. Os três Poderes, na forma da Constituição – e da Doutrina – são compulsoriamente independente e harmoniosos. Pacto – ou trégua – se faz com inimigos e adversários. Ora, muitos perceberam que sequer o Vice Mourão pousou na foto do Dia do Pacto. Sinal de que só foram chamados os “mui amigos”. Ora, com amigos se faz festa, não pactos. Estes são concertações com quem pensa e age diferente da gente para a consecução de grandes tarefas como defesa contra invasão estangeira, catástrofe irrecorrível, crise aguda, nunca para consecução de programas governametais. Maior erro, entretanto, foi a presença do Presidente, sempre trapalhão, do Supremo ao feito, pois, como chege do Judiciário não lhe cabe defesa de ações executivas contra as quais poderão advir reclamações de insatisfeitos as quais deverão ser julgadas com um mínimo de netrualidade política. Presciamento por isso, até os juízes protestaram através de várias notas- . Tudo errado. Mas ainda há tempo. Vejamos o que nos reserva o mês de junho...

Área de anexos

● molhes não vão terminar? Já está chegando o verão...

 

 

Rua Beira Rio, 970 - Centro - Passo de Torres - SC, 88980000 Passo de Torres

·

O espaço cultural Quintal da Dindinha é um coletivo cultural de iniciativa privada que desenvolve atividades múltiplas na arte, na literatura, no artesanato, na dança, no patrimônio histórico, na gastronomia, em práticas em prol do meio ambiente, da valorização do ser humano, respeito com os outros animais, etc.

A ideia

Em 2018, eu, Jaime Batista, minha esposa Tanise Wandrey Cardoso e meu filho Tales Wandrey Cardoso Batista retornamos de Florianópolis, onde moramos de fevereiro de 2016 a setembro de 2018. Voltamos para Passo de Torres em nossa casa. A casa estava alugada anteriormente para um restaurante (Kazu) e em julho de 2018 o inquilino nos devolveu o imóvel. Em setembro voltamos a ocupá-la na parte de cima. A parte de baixo nós colocamos para alugar, porém queríamos algo diferente, não somente um espaço gastronômico. Quando surgiu a ideia de usar o espaço para atividades culturais. Na busca de parceiros firmamos um acordo em representar a Passo de fibra, que é um grupo de artesãs que produzem trançagem com fibra de taboa e butiazeiro. Também no artesanato convidamos os o artesão Cunha e Pezão para exporem suas peças. Logo depois fechamos parceria com os professores de violão, vocal, contrabaixo, entre outros instrumentos, os amigos Rossano Duary e Celso Jardim. E no começo de janeiro encontramos o professor Luiz Felipe Kunz, que já há muito tempo toca o projeto Elsa Engel, que tem como objetivo ensinar gratuitamente pessoas de diversos perfis. As aulas iniciaram dia 16 de janeiro de 2019 com 10 alunos e contam com dois pianos elétricos e sete teclados. Propomos também parceria com a fotógrafa Taís Abel, com Ondina e Tufony para atividades circenses, com o músico Buba, com as artistas plásticas Nil e Renata Reis, com o artista plástico Jorge Herrmann, com a Professora de mosaico Flávia Chaves e seu esposo Nirley Ribeiro, que também é músico. Além dos parceiros que já estão dentro dessas ideias, nós, do Quintal da Dindinha estamos buscando novas ideias para poder desenvolver no nosso espaço cultural.

O público alvo

O espaço Cultural Quintal da Dindinha promove aulas de música, de artes plásticas, de outros setores da arte, além de promover feiras, vernissage, saraus, recitais, atividades da literatura, xadrez, patrimônio histórico.

 

Jaime Batista – Historiador

 

CRONICA DA CIDADE – A FOLHA, Jornal Torres RS

OUTONO

Fabio Marenco

Passo de Torres tem surpreendido toda a região onde está inserida nesta estremadura do sul catarinense. De uma desdenhada vila de pescadores até a construção da ponte de concreto que a transformou num verdadeiro bairo de Torres, a cidade cresceu, se multiplicou, passando de 4.000 para cerca de 12 mil atuais e promete ir muito longe. Não lhe faltam espaço para a ampliação urbana, nem oportunidades de investimento produtivo, nem disposição de sua gente. As autoridades municipais, aqui, não correm o risco que correm Torres, cada vez menor e em vias de perder o acesso à BR 101 no dia em que a Vila São João alcançar sua autonomia. Tudo indica que o Passo, em breve, se fará ainda mais presente nestas paragens. Além disso, detém uma faixa de perto de 15 km de balneários bastante procurados e, mais recentemente vem despertando uma especial vocação como área boêmia. Os Saraus do dia 15 ,no Quintal da Dindinha continuam surpreendendo muita gente pela alegria contagiante, típica de grupos ligados à cultura e underground sempre, com momentos poéticos encantadores. Dois outros pontos divertidos da cidade são os bailes vespertinos dos sábados no Mirante das Águas, na Beira Rio, inaugurado pela Professora Ledir Bristot, há alguns anos, e os encontros dançantes da terceira idade no Centro de Convivência, reconstruído depois de um temporal que quase o leva abaixo.

Falando em Ledir Bristot, prestamos-lhe homenagem nesta fase de sua vida em que os contratempos de saúde a retiram de um convívio mais efetivo conosco. Enquanto esteve ativa desenvolveu muitas atividades entre nós, dentre as quais a iniciativa de criar a Casa do Poeta de Passo de Torres, com a edição da I Antologia de Poetas, sob o título “Vozes do Mar”.

Aledir Bristot nasceu no primaveril 20 de setembro de 1942, em São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul. Formou-se em Letras Indoeuropeias pela UNISINOS, em São Leopolodo, vindo, depois a graduar-se em História pela Faculdade Portoalegrense. Fez Mestrado em Linguística e Letras na PUCRS complementando a formação acadêmica com o Doutorado na Universidade de São Paulo. Em 1989 veio para o Passo de Torres, lecionando na Escola Estadual Ildo Meneghetti. Deu o primeiro passo, em companhia do Poeta Joaquim Moncks para a montagem da Casa do Poeta de Torres, daí resultando a citada Antologia. Dela, o oportuno poema “Outono”, que se abre, justamente neste equinócio de 20 de março, a estação dourada:

OUTONO

Aledir Bristot

Nem frio, nem calor

Apenas vontade

de encontrar um grande amor.

 

O verão agoniza

e insiste em ficar,

mas o tempo não pára,

é preciso andar, andar muito,

pois a vida continua.

 

Estação das frutas, néctar da vida,

estação do vento morno,

carinho, aconchego e paz,

marcas definitivas

do tempo que se refaz.

 

Lindos tapetes no chão

formados por folhas caídas,

colorindo a natureza

lugar definido

por onde hei de passar.

 

Parte inferior do formulário

 

 

 

CRONICA DA CIDADE

No dia dos namorados todos se comovem

Paulo Timm – Publicado em A FOLHA jun 2019

 

Cidade pequena é assim: As pequenas coisas é que importam. Viram até Poesia. O Rio Mampibuba é o mais belo rio do mundo/ Porque é o rio que passa pela minha aldeia. Quando cantamos a nossa aldeia, louvamos o mundo...Ele berra e até se mata na Síria e no Iemen, dizem até que morreiram 100 milhões nas grandes guerras do século passado; planejam para breve uma viagem tripulada à Marte, Estados Unidos e China se bicam; Bolsonaro desafia o Congresso Nacional, Movimentos massivos de rua e até uma Greve Geral, ocorrida no dia 14 com relativa paralização de serviços essenciais, mas aqui, o que nos interessa mesmo, são as fichas no Posto de Saúde, o alagamento das ruas, as vagas prometidas no CEI Mundo Feliz. Sobretudo aquela pergunta engasgada na gargante nos dias de temporal: O pessoal já voltou do mar...? Época de eleições é diferente Todo mundo diz que odeia Política mas não perde a oportunidade de votar por um vereador amigo ou um Prefeito novo. No dia-a-dia, porém, o que importa são os aniversários em casa, a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, o Dia

de Finados e, por que não dizer, dias especiais, como o 12 de junho, Dia dos Namorados. Aí todo mundo se derrete. Renovação de promessas de altar, jantarzinho romântico com um gole de vinho tinto, bilhetinhos de amor, uma rosa, um poema, sussurros. Amor não se define, sente-se...

Hoje de manhã cedo presencei uma destas cenas de amor romântico explícito. Justo na hora em que Tanise Wandrey, minha colega de bancada na Rádio Passo de Torres, colocava no ar, em homenagem aos namorados, “Eu sei que vou te amar”, do Poetinha Vinicius, seu marido, Jaime adentra o estudio acompanhando a cança na flauta. Ao final, beijos, rosas vermelhas e os dois amantes levemente corados. O amor é lindo!

Nem o Prefeito Jonas se furtou à data e cedo se fez de Poeta postando nas Redes, com uma bela foto beijando sua linda esposa, com votos de feliz dia dos namorados para ambos e o indefectível:

TE AMO DEMAIS...

 

Namorar é escolher morar no outro

Namorar é ter parceria nas loucuras.

É somar sorrisos nos dias difíceis.

É não desistir de dar o melhor para o outro.

Porque se namorar é o resultado de que é impossível

ser feliz sozinho.

Que sejam feitos os devidos arranjos no coração!

Namorar é amor sem peso.

Namorar é escolher morar no outro.

É amor e lar.

É um dia de cada vez

até o próximo dia.

 

Outros são mais cautelosos e avisam aos navegantes de primeira viagem sobre as agruras da vida a dois. Recolho, por exemplo, um desses depoimentos:

 

” A realidade, na comunhão de duas vidas, pode se apresentar, no entanto distante do ideal desejado. Eterna, mesmo, deverá ser a paciência. Mas só paciência seria insuficiente, não estivesse presente um cadinho de tolerância, uma pitada de dedicação, e um montão de valorização da criatura, todos os dias. Quem pensar o amor como um mundo de rosas sem espinhos, um rosto sem rugas e sem cabelos brancos, um corpo sadio e sem a inexorável e marcante barriguinha que a idade revela, restar-se-á frustrado, inevitavelmente. Frustrado, a procura do mito.” – (JAS-FB)

Anoitece. Amanhã será outro dia. Vida que segue.

 

RECADO DO QUINTAL DA DINDINHA NO DIA DOS NAMORADOS

MENSAGEM DAS FLORES

 

Poucos sabem o que dizem as flores. Antigamente era comum o uso das flores como mensagens de sentimentos. Hoje esta linguagem estáesquecida e quase ninguém sabe o real significado delas. Por isso é bom lembrar;

 

Amor Perfeito : “Penso apenas em Você”.

 

Azaléia-Rosa-Claro: “Estou feliz porque Você me ama”.

 

Begônia : “ Podemos ser amigos”.

 

Camélia: “Sinto-me orgulhoso com seu amor”.

 

Cravo: “Amo Você com ardor”.

 

Cravina: “Sou seu escravo”.

 

Crisântemo : “Não acredito mais em Você”.

 

Dente-de-leão: “Meu coração está cheio de alegria”.

 

Erva Cidreira: “ Tenha pena de fazer sofrer o meu amor”

 

Gardênia Branca: “Fugindo de mim Você me faz sofrer”.

 

Hortência: “Posso ter esperança?”

 

Jasmim: “ Imploro que Você me ame”.

 

Lírio: “ Meus sentimentos são puros”.

 

Madressilva: “ Apesar de tudo, amo Você.”

 

Mimosa: “Fique tranqüilo. Ninguém sabe de nosso amor”

 

Miosótis: “Não se esqueça de mim”.

 

Orquídea: “ O meu amor é puro”

 

Petúnia: “ Uma carta de amor foi interceptada”.

 

Rosa branca: “ Meu amor é triste”

 

Rosa vermelha: Meu amor é ardente.:

 

Violeta: “ Ninguém deve saber do nosso amor”.

 


QUADRIL, QUADRILHAS, QUADRINHAS

P.Timm – A FOLHA 03-10 MAIO

Eis o significado de quadril:

“A articulação do quadril é a articulação entre o fêmur e o acetábulo da pelve, e sua principal função é suportar o peso, equilibrar o corpo em posturas estáticas (de pé) e dinâmicas (caminhando ou correndo), proteger o sistema reprodutor e a parte inferior do sistema digestivo."

Interessante: Um quadril, qualquer quadril, por definição suporta um peso. Noto, aliás, que lhe falta ao Presidente Bolsonaro, com já quatro meses de exercício, este quadril que “lhe suporte o peso”, seja nas posturas majestáticas do trono, seja nos posts eletrônicos nas redes sociais. No Governo, ora briga com a PETROBRÁS, por causa do preço do diesel, ora com o IBGE, por causa da Pesquisa de Emprego, ora com o Secretário da Receita, que quer cobrar impostos das Igrejas. No ventrículo das Redes, fala em falsete o filho caçula e daí manda brasa pra todo lado, aliás, lado amigo. Haja “Mourão” para segurar a parada...Mourão de peso...

Vejamos quadrilha, que, apesar da mesma raiz, nada tem a vez com quadril, e tem até múltiplos significados, ainda segundo o Dr. Google:

Quadrilha – não confundir com quadrinhas de gosto popular ou trova - pode referir-se a: · Quadrilha (crime) - bando de ladrões, criminosos ou bandidos de uma forma geral · Quadrilha (dança) - uma dança de origem inglesa e presente nas festas juninas · Quadrilha (tauromaquia) um grupo de cavalaria · Quadrilheiros - polícia chefiada por um quadrilheiro

Será mesmo que os dois vocábulos nada têm a ver mesmo, um com outro? Coincidências?

 

E ainda poderíamos acrescentar ao vocábulo quadrilha, o título de um simpático poema do Poeta Maior (Drummond):

Quadrilha

“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”

 

Ora, ora. Aqui, então, a evocação à conjuntura nacional é ainda mais acentuada e ficaria mais ou menos assim:

Bebbiano amava o Capitão que amava os três patetas

que amavam Olavo de Carvalho, que amava dois Ministros

que odiavam o Gilmar Mendes que namorava com Mourão

que nunca amou nenhum deles porque aguarda os acontecimentos.

Bebbiano foi pra casa

Olavo ficou nos States

Rodrigo, que nem estava na estória, teve que segurar a Previdência

Daí a Damares entrou pela porta dos fundos e tentou pôr ordem na casa

“Menino que é menino veste azul!”

Ninguém gostou. Todo mundo reclamou.

Mas em uníssono oraram:

“A Terra é Plana. Ou crê ou morre! Deus acima de todos..”.

 


IDEOLOGIA E IRRACIONALIDADE

CHEGARAM... A IDEOLOGIA OS SUSTENTA E A IRRACIONALIDADE A ALIMENTA. ENQUANTO OS ILUMINISTAS REIVINDICAM O RETORNO À RAZÃO.

O Brasil à beira de um novo tipo de ESTADO HIERÁRQUICO. Não católico. Irracional. Muito eclético, como era de se esperar,misturando Velho Testamento (fé) com Neoliberalismo (mercado) e autoritarismo militar (ordem e progresso). Intolerante e violento, alimentado por pura ideologia e avesso aos ditames da Razão, daCiência, do consenso democrático, das instituições, até das exigentes servidões do Poder com um mínimo de respeito ao decoro público, com forte acento supremacista branco e abertopreconceito contra populações mais pobres e vultneráveis. Temo. Chegaram lá. A terra é plana...O nazismo era de esquerda. A mudança climática é uma conspiração chinesa.

 


RASIL, LAICO E REPUBLICANO

Com efeito. E quem tergiversar sobre esta matéria está transgredindo a Lei. de 1990 , e a Contituição. DURA LEX SED LEX. Per tutti quanti...

 

Ministro M. Aurelio – STF – se pronuncia https://oglobo.globo.com/brasil/o-estado-laico-diz-marco-aurelio-sobre-bolsonaro-cogitar-escolher-evangelico-para-stf-23709699?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar&fbclid=IwAR0fJU3tjwH10_A8wlTFEPqNH9dTHoLKLwv4oVZj0BiRMPo2e6gWVaKOWFM

 

Para todos. Presidência da República

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/D119-A.htm

 

DECRETO Nº 119-A, DE 7 DE JANEIRO DE 1890.

 

Revogado pelo Decreto nº 11, de 1991

(Revigorado pelo Decreto nº 4.496 de 2002)

 

Prohibe a intervenção da autoridade federal e dos Estados federados em materia religiosa, consagra a plena liberdade de cultos, extingue o padroado e estabelece outras providencias.

 

O Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisorio da Republica dos Estados Unidos do Brasil, constituido pelo Exercito e Armada, em nome da Nação,

 

DECRETA:

 

Art. 1º E' prohibido á autoridade federal, assim como á dos Estados federados, expedir leis, regulamentos, ou actos administrativos, estabelecendo alguma religião, ou vedando-a, e crear differenças entre os habitantes do paiz, ou nos serviços sustentados á custa do orçamento, por motivo de crenças, ou opiniões philosophicas ou religiosas.

 

Art. 2º a todas as confissões religiosas pertence por igual a faculdade de exercerem o seu culto, regerem-se segundo a sua fé e não serem contrariadas nos actos particulares ou publicos, que interessem o exercicio deste decreto.

 

Art. 3º A liberdade aqui instituida abrange não só os individuos nos actos individuaes, sinão tabem as igrejas, associações e institutos em que se acharem agremiados; cabendo a todos o pleno direito de se constituirem e viverem collectivamente, segundo o seu credo e a sua disciplina, sem intervenção do poder publico.

 

Art. 4º Fica extincto o padroado com todas as suas instituições, recursos e prerogativas.

 

Art. 5º A todas as igrejas e confissões religiosas se reconhece a personalidade juridica, para adquirirem bens e os administrarem, sob os limites postos pelas leis concernentes á propriedade de mão-morta, mantendo-se a cada uma o dominio de seus haveres actuaes, bem como dos seus edificios de culto.

 

Art. 6º O Governo Federal continúa a prover á congrua, sustentação dos actuaes serventuarios do culto catholico e subvencionará por anno as cadeiras dos seminarios; ficando livre a cada Estado o arbitrio de manter os futuros ministros desse ou de outro culto, sem contravenção do disposto nos artigos antecedentes.

 

Art. 7º Revogam-se as disposições em contrario.

 

Sala das sessões do Governo Provisorio, 7 de janeiro de 1890, 2° da Republica.

 

Manoel Deodoro da Fonseca.

Aristides da Silveira Lobo.

Ruy Barbosa.

Benjamin Constant Botelho de Magalhães.

Eduardo Wandenkolk. - M. Ferraz de Campos Salles.

Demetrio Nunes Ribeiro.

Q. Bocayuva.

 

Este texto não substitui o original publicado no CLBR, de 1890


DEPOIS DE UM VERÃO GLORIOSO, O INVERNO DA NOSSA DESESPERANÇA

Horácio Luna, Colunista Politico – Torres RS . Publicado A FOLHA, 17/24 maio Crisostomo de Souza - FB 14 de maio às 18:09 ·

FILOSOFIA. Nossa atividade reveladora de mundo e atribuidora de significado não é a linguagem, é a prática - social, sim, histórica, mas sempre também material, sensível, corpórea, encorpada. Melhor dizendo, é nossa atividade de tomar e fazer coisas, de produzir materialmente o mundo humano - poiesis. De criá-lo. E é isso que constitui uma forma de vida.

 

Impeachment de Bolsonaro entra na pauta da velha mídia

Publicado em 17/05/2019 - https://www.esmaelmorais.com.br/2019/05/impeachment-de-bolsonaro-entra-na-pauta-da-velha-midia/

O jornalista Reinaldo Azevedo, da Folha e da Bandnews, foi mais claro ao dizer que o impeachment definitivamente entrou no radar da sociedade brasileira. “Se o presidente Jair Bolsonaro continuar a ouvir apenas a horda de malucos que o cerca, não conclui o seu mandato”, começa o texto do articulista que emenda: “O cargo lhe serve apenas para se vingar de seus inimigos ideológicos ou do fiscal do Ibama que um dia o multou.”

Editoriais do Estadão, Folha e Globo sinalizam para uma blitzkrieg (guerra-relâmpago) para derrubar o governo de Jair Bolsonaro que se isola rapidamente das ruas e do Congresso Nacional

 

O longo título acima tem raízes na literatura mundial: Shakespeare e John Steinbeck. Mas, para nós, trata-se de mera alegoria aos tempos difíceis que se anunciam depois do “despertar” das eleições presidenciais de 2018 e posse do Presidente Bolsonaro no primeiro dia deste ano. Disse despertar entre as aspas, de propósito: Despertar de que ou d´o quê? Quem acorda, enfim, estava embalado em algum tipo de sono, foi sacudido e se deparou com o mundo real. Mas o que é efetivamente o real? Será possível vê-lo sem os óculos da narrativas? Um grande poeta inglês do início do século XX, Oscar Wilde, na esteira de um conterrâneo seu de três séculos antes – F.Bacon,1561/1626 , autor de “Os ídolos da razão”– desconfiava disso e dizia que nascemos, todos, irremediavelmente “velhos”, presas de uma geografia e uma história. Acrescentava, porém, que podíamos rejuvenescer pelo exercício da cultura crítica. Freud, reconhecidamente pessimista quanto à natureza humana, não foi muito longe disso em “O mal estar da civilização”. Mais recentemente, outro autor, Y.Harari – “Sapiens” - , voltou a dizer que somos, todos, vítimas da ficção das linguagens – as narrativas. Quando abrimos os olhos, portanto, o que vemos como realidade, primitivamente, são as coisas pelos seus nomes, a normalidade

pelos seus usos e costumes, as instituições pelo seu lugar. Aí os poetas se rebelam e trocam os nomes pelas metáforas, os filósofos trocam os ideias vigentes por novos conceitos e os ideólogos os usos, costumes e instituições por novas roupagens, onde pululam sensações estéticas e pulsações éticas capazes de alimentar emoções e eternas esperanças, entre elas algumas ilusões. Ah! Ilusões. “Dura um segundo uma ilusão e dura uma eternidade uma saudade”. Delas e com elas vivemos.

Eis-nos, pois, às vésperas de um inverno, chuvoso. Lacrimal...

Ficarão saudades?

Quem sabe? A verdade é que a conjuntura nacional que se seguiu ao novo Governo pouco promete.

A economia rasteja sujeita à subsequentes previsões quanto ao PIB deste e do próximo ano. As vendas do Dia das Mães, por exemplo, foram decepcionantes. Os 13 milhões de desempregados, além de outro tanto de “desalentados”, terão que esperar nas longas filas até o ano de 2021. Consequência disso: Sem vendas, a cobrança de impostos que alimentam os cofres da União, Estados e Municípois desaba cada vez mais, agravando a dita crise fiscal. O Governo Bolsonaro culpa os governos passados, sempre na ladainha que todos conhecemos da “herança maldita”. Seu avatar Paulo Guedes, o Tchutchuca, vai ao Congresso e diz, em tom de ameaça com o fim de aprovar a Reforma da Previdência, que o Brasil está no fundo do poço. Pior é que está mesmo. Com ou sem a tal Reforma. Eis os números que assustam os “despertos” para a desesperança: O rombo do Tesouro da União é de cerca de R$ 200 bilhões anuais, sem contar o pagamento dos juros (8% ao ano) sobre uma Dívida Pública de R$ 6 trilhões, o que dá, em média, um “gasto” de R$ 480 bilhões – embolsado por cerca de 200 mil famílias milionárias deste imenso país. Rombo: R$ 680 bi. Pergunta: De que adiantará a “economia” de apenas R$ 100 bi diante desse desastre, que eleva em 1 trilhão de reais nossa dívida a cada dois anos? Nada. Mas o Governo tem a “ilusão” -e a vende ao distinto público eleitor - de que, magicamente, isso despertará investimentos em cascata que nos redimirão da recessão e abrirão um Paraíso de onde jorrarão lei e mel para todos...

Em meio a isso tudo, duas fraturas: Uma, política, com dois lados a que ficou reduzida: No Governo, uma frágil base parlamentar, na qual os aliados do Governo vivem batendo cabeça um com o outro expondo a incapacidade de Governo, como já vimos outrora, com Jânio Quadros, em 1961, com Collor, em 1992 e com Dilma Roussef , em 2016, apontando para inevitável crise; na Oposição, minoritária no Congresso, as ruas retomam a iniciativa, colocando 1 milhão de manifestantes no dia 15 passado e prometendo novas mobilizações e greves ainda neste mês http://g1.globo.com/globo-news/jornal-globo-news/videos/v/numero-de-manifestantes-na-avenida-paulista-chega-a-1-milhao-afirma-pm/4036683/?fbclid=IwAR3pMuiq90-KOgpeIypbo22qi9EON162e1dzxSB7jRKICHnhSPGqqtWBev8 . Balbúrdia...? Ou crise?

Como se não bastasse, advêm uma crise moral no coração do Governo, sua família: O filho, Senador Flavio Bolsonaro, junto com mais 80 suspeitos, caem

nas malhas da implacável Procuradoria do Rio de Janeiro, que já colocou nas grades dois Governadores, diversos deputados, inúmeros membros do Tribunal de Contas do Estado e outras altas autoridades. Acusação: Lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito- https://epoca.globo.com/guilherme-amado/mp-do-rio-de-janeiro-mira-cheques-de-queiroz-para-michelle-bolsonaro-23668794?fbclid=IwAR1Dt2jizNIlmodIEJTBlpXp-v1s5l8CvdH56t11JB9_AhkkwPSFIqu5wSA .

Enfim: O inverno se anuncia. De ilusões desfeitas e graves desesperanças quanto ao futuro do Brasil.

Tempo de se pensar seriamente em “Pasárgada”..


PACTO ENTRE OS TRÊS PODERES? Oressa...

Íntegra de artigo publicado em A FOLHA, Torres – 31 maio 2019

Horácio Luna

 

 

 

“Para início de conversa “pacto” é sinônimo de: acordo, combinação, contrato, convenção, convénio, negócio, tratado. A sua origem está no latim: “pactum, pacisci”, “fazer um trato, um acordo.”

Josias de Souza

Horacio Luna – Cronista Politico.

O mês de maio ficou pra trás. Deixou como rastro da conjuntura duas grantes manifestações de rua: Dias 15 e 30 , contra o Governo; dia 26, a favor - https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/05/26/manifestacoes-a-favor-de-bolsonaro-x-protestos-contra-cortes-na-educacao.ghtml. Ambas de certo vulto envolvendo centenas de milhares ao relento em cerca de 150 cidades do país. Militantes de um e outro lado medem o tamanho de cada uma delas, num campeonato meio juvenil: - O meu é maior! Bobagem. O que importa é ressaltar que há

um governo legítimo, eleito por 58 milhões de votos, há cinco meses em funções, e há uma oposição, que fez 47 milhõesde votos à qual se associam outros tantos insatisfeitos com gregos e troianos. O Governo tem que governar para todos e não só para seus eleitores. E há o fato, fartamente sabido, que o Presidente eleito o fez com um discurso anti-stablishment, à margem do sistema político tradicional – Congresso Nacional, Partidos Políticos, Aparatos de Estado, Imprensa, Sociedade Civil organizada. Não obstante, com um Partido novo e pequeno, com 10% de assentos no Parlamento, sem ideologia definida e lideranças consolidas, é com este “sistema” que ele tem que trabalhar. Faz parte do jogo republicano, ao qual se adaptaram as monarquias constitucionais modernas. Soberano, neste sistema, é o povo, cidadão, eleitor. A cabeça do Poder é uma mera circunstância, condenada a ceder lugar, nas próximas eleições a outra pessoa que poderá, aliás, ter outra inspiração ideológica. O Presidente é como o Poeta, vale pelos seus versos, jamais pela sua própria pessoa.

Conta-se, sobre as origens da República , na sua instauração em 1776, nos Estados Unidos, num tempo ainda dominado por Monarcas Absolutistas no mundo, que faziam e desfaziam nos seus tronos, que os Pais da Pátria daquele país tinham duas coisas em mente: Queriam, de uma parte, uma figura central no Governo, sim, mas por tempo determinado, rotativo, afim de que não criasse raizes que inevitavelmente o levariam ao abuso do Poder; de outro lado, cuidaram que, mesmo neste período em que detivesse o poder central, este ficasse limitado por um complexo controle de freios e contrapesos, começando pelo Legislativo, representante de todos os eleitores e culminando pelo arbítrio final do Judiciário. Disso, portanto, se trata a República Democrática: Ninguém tem Poder total e absouto. Há uma teia institucional, consubstanciada no sistema de Leis vigentes e corpos públicos e privados que lhe vertebram.

O Presidente Bolsonaro, entretanto, não deve ter no seu currículo as leituras sobre o que é o Poder ao qual ele foi guindado: República e Democracia . Continua impulsionado pelo ímpeto da reinvenção do Brasil com base no seu plano de campanha. Não compreende a intrincada matriz que o condiciona. Quer porque quer e fulmina, via redes sociais, todos aqueles que, mesmo do seu próprio Governo ou Partido, entende como obstáculos à sua soberana vontade. Isso tem uma nome: Pré-política. Daí as críticas destemperadas a Ministros, IBGE, UNIVERSIDADES, ENEM, FIOCRUZ, IBAMA etc.- https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/261969/tentativa-de-desqualificar-fiocruz-e-algo-assustad.htm?fbclid=IwAR0GaXBscJBDdH15k96cPfLmY98CFhZdYu1IZKMtU99P271RtGPb_XDHDfs

Agora consta que proibiu órgãos federais a terem seus próprios sites, sinal de que vê ameaças por todos os lados - https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/395065/Bolsonaro-pro%C3%ADbe-institui%C3%A7%C3%B5es-federais-de-terem-seus-pr%C3%B3prios-sites.htm?fbclid=IwAR21MK-Su-4xybfNdzHuTCLujsbpjD0U1k_y3BBwWlmqV4-DSZ5V2ukYSVQ#.XPAb0XqUCs8.facebook

Nesta semana, por exemplo, houve por bem convidar – ou convocar – o Presidente do Supremo e os Presidentes da Câmara e Senado para firmarem um Pacto pelas Reformas no Brasil. Caiu mal. Os três Poderes, na forma da Constituição – e da Doutrina – são compulsoriamente independente e harmoniosos. Pacto – ou trégua – se faz com inimigos e adversários. Ora, muitos perceberam que sequer o Vice Mourão pousou na foto do Dia do Pacto. Sinal de que só foram chamados os “mui amigos”. Ora, com amigos se faz festa, não pactos. Estes são concertações com quem pensa e age diferente da gente para a consecução de grandes tarefas como defesa contra invasão estangeira, catástrofe irrecorrível, crise aguda, nunca para consecução de programas governametais. Maior erro, entretanto, foi a presença do Presidente, sempre trapalhão, do Supremo ao feito, pois, como chege do Judiciário não lhe cabe defesa de ações executivas contra as quais poderão advir reclamações de insatisfeitos as quais deverão ser julgadas com um mínimo de netrualidade política. Presciamento por isso, até os juízes protestaram através de várias notas- https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2019/05/29/juizes-federais-reagem-a-toffoli-e-dizem-que-pacto-e-para-atores-politicos.htm?fbclid=IwAR2XR6A-hu7xtD_BPGL_JasLvS6pFF3PYxVNhP7WgiCvG_7rTXtGvS5KsSI . Tudo errado. Mas ainda há tempo. Vejamos o que nos reserva o mês de junho...


EDUCAÇÃO EM NÚMEROS

Paulo Timm – Especial A FOLHA, Torres RS 10 maio

 

Dentre os recentes anúncios surpreendentes do novo Governo Bolsonaro, dentre os quais a mudança da Embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, introduzindo-nos gratuitamente no mais agudo e persistente conflito mundial, sobrevém, agora, o corte de 30% no Orçamento das Universidades e Institutos Federais, que no caso da Bahia chegou a 58%. Uma temeridade. Justificado, à luz do “Doutor” A.Weintraub, Ministro da Educação, em nome dos mais pobres que precisam de ensino básico e não de faculdades. Com efeito, há no pais 42 milhões de jovens no ensino fundamental, com o agravante da grande evasão escolar quando estes chegam à adolescência e vão engrossar o contingente dos ném-néns – nem escola, nem trabalho - contra cerca de 1,2 milhão nas Universidades e 600 mil nos Institutos Federais. O Brasil precisa mesmo fortalecer a base da pirâmide educacional, não só com mais vagas desde a educação infantil, como nas camadas imediatamente superiores, sobretudo no ensino médio, onde está, atualmente, o nó górdio de nosso sistema. Simultaneamente, necessita, urgentemente, melhorar a qualidade do ensino fundamental, promovendo maior capacidade de nossos meninos e meninas para ler, expressar-se, entender que a Terra não é plana (!) e fazer contas. Lamentavelmente, porém, o corte do Orçamento do MEC não produzirá o efeito prometido e, ainda por cima, comprometerá a finalidade última das Universidades Públicas como instrumento de inserção social e pesquisa científica. Por último, mas não menos importante, o dito corte já expôs as deficiências do atual Ministro, que se diz Doutor sem sê-lo, com o agravante de péssimo currículo escolar quando estudante, colocando-se no centro de um levante estudantil de proporções inimagináveis. Lembremo-nos de 1968...

Vejamos:

O Governo alega que não está fazendo cortes, apenas contingenciamento. Mente. Volnei Piccolotto compartilhou um link no grupo Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito.

1 h ·

Bolsonaro e o ministro da Educação Weintraub tentam enganar.

CONTINGENCIAMENTO também inclui os cortes orçamentários. Veja a definição de contingenciamento usada pelo próprio Governo Federal:

“O contingenciamento consiste no RETARDAMENTO ou, ainda, na INEXECUÇÃO de parte da programação de despesa prevista na Lei Orçamentária em função da insuficiência de receitas.” Inexecução é deixar de realizar o gasto ou o investimento, é cortar o orçamento.

O que é contingenciamento?

22/05/2015 20h35, última modificação: 22/05/2015 20h35

O contingenciamento consiste no retardamento ou, ainda, na inexecução de parte da programação de despesa prevista na Lei Orçamentária em função da insuficiência de receitas. Normalmente, no início de cada ano, o Governo Federal emite um Decreto limitando os valores autorizados na LOA, relativos às despesas discricionárias ou não legalmente obrigatórias (investimentos e custeio em geral). O Decreto de Contingenciamento apresenta como anexos limites orçamentários para a movimentação e o empenho de despesas, bem como limites financeiros que impedem pagamento de despesas empenhadas e inscritas em restos a pagar, inclusive de anos anteriores. O poder regulamentar do Decreto de Contingenciamento obedece ao disposto nos artigos 8º e 9º da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

PLANEJAMENTO.GOV.BR

 

A educação infra-universitária, a propósito, é de responsabilidade dos municípios e não da União, que aporta a elas apenas 15% dos gastos finais através de Programas como o repasse automático do FUNDEB e transferências negociadas para transporte e merenda escolares, oferta de livros didáticos e cursos para professores. Este percentual, aliás, sofreu um corte ainda maior do que o das Universidades: 40%. Não é verdade, portanto, que o MEC tirará das Universidades e dará “aos mais pobres que mais precisam”. Conversa.

De outra parte, 60% das matrículas em Universidades Federais e Institutos já são ocupadas por alunos das classes mais pobres da população – classes D e E - https://educacao.uol.com.br/noticias/2019/05/17/maioria-dos-alunos-das-federais-e-negra-e-de-baixa-renda-dizem-reitores.htm?fbclid=IwAR1CbQ4ddt8tFuz-NpWpfJYNX1HNr5MMWhszmrKROoG0YToD6V4UWIr_v_E - , graças aos programas de cotas raciais inaugurado na Era FHC, no ano 2000, e ampliado na Era petista.

Cotas raciais https://brasilescola.uol.com.br/educacao/sistema-cotas-racial.htm

O sistema de cotas raciais no Brasil não beneficia apenas os negros. Nas instituições públicas da Região Norte, por exemplo, é comum a reserva de vagas ou empregos para indígenas e seus descendentes.

As cotas raciais são um modelo de ação afirmativa implantado em alguns países para amenizar desigualdades sociais, econômicas e educacionais entre raças. A primeira vez que essa medida foi tomada data de 1960, nos Estados Unidos, para diminuir a desigualdade socioeconômica entre brancos e negros.

No Brasil, as cotas raciais ganharam visibilidade a partir dos anos 2000, quando universidades e órgãos públicos começaram a adotar tal medida em vestibulares e concursos. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foi a primeira instituição de ensino no Brasil a adotar o sistema de cotas raciais, em 2003, por meio de uma lei estadual aprovada em 2001. Já a Universidade de Brasília (UnB) foi a primeira federal a adotar as cotas, em junho de 2004.

De lá para cá o número de universidades que possuem ação afirmativa baseada em raças só aumentou e hoje já representa a maioria das universidades federais.

O sistema de cotas raciais no Brasil não beneficia apenas os negros. Nas instituições públicas da Região Norte, por exemplo, é comum a reserva de vagas ou empregos para indígenas e seus descendentes. Algumas universidades também destinam parte de suas vagas para candidatos pardos.

Independente do tipo de cota racial, para ser beneficiada a pessoa precisa assinar um termo autodeclarando sua raça e, às vezes, passar por uma entrevista. A subjetividade dessa entrevista é um dos pontos que mais geram discussão em relação às cotas raciais. Em 2007, gêmeos idênticos foram considerados de raças diferentes ao passarem por uma entrevista na UnB. Um pôde concorrer pelo sistema de cotas raciais, o outro não. Após repercussão do caso na mídia, a UnB voltou atrás e considerou os dois irmãos como sendo negros.

O assunto é bastante polêmico e nada indica que um dia deixará de ser. O Brasil tem atualmente a segunda maior população negra do mundo (atrás apenas da Nigéria) e é inegável que o país tem uma dívida histórica com negros e indígenas. Por outro lado, as cotas raciais já prejudicaram várias pessoas que perderam vagas ou empregos para concorrentes com menor pontuação ou qualificação.

Veja abaixo alguns textos que aprofundam mais esse assunto:

Cotas em vestibulares https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/cotas/ Argumentos a favor das cotas raciais https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/cotas/pros.htm Argumentos contra as cotas raciais https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/cotas/contras.htm

Por Adriano Lesme - Equipe Brasil Escola

LESME, Adriano. "Cotas raciais"; Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/educacao/sistema-cotas-racial.htm>. Acesso em 17 de maio de 2019.

 

A Universidade pública e gratuita já cumpre, portanto, um papel na inserção dos mais pobres, de caráter enormemente redistributivo. De resto, grande parte das pesquisas acadêmicas ocorrem em áreas de grande interesse social como o desenvolvimento de vacinas contra grandes endemias, tais como dengue-zica, HIV e doença de chagas e outros reagentes para verificação de inúmeras enfermidades, para não falar dos Institutos de Matemárica, Química e Física que colocam o Brasil ao lado de grandes países desenvolvidos – https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/geral/2019/05/estudantes-da-ufrgs-criam-pagina-para-divulgar-producao-cientifica-o-que-se-faz-na-federal/?fbclid=IwAR1wJ--VXA6RSMP4MMETEjWG10eevNrfxTDbVKYuxTJ9JY2bKYWoyk5EVbQ

 

Um dado, finalmente, sobre o Orçamento das Universidades, que parece ser desconhecido do Ministro do MEC é que mais de 80% dos gastos correspondem a salários de professores e funcionários, ativos e inativos, sobre os quais os Reitores não detém qualquer controle. São definidos na Lei Orçamentária da União de acordo com negociações travadas com as categorias respectivas. Como a folha salarial é inflexível, o corte recairá sobre Investimentos, já quase zerados, e outras atividades fins como Extensão e Pesquisa


 

BRASIL: CORDIAL OU VIOLENTO?

Paulo Timm – A FOLHA, 15/22 janeiro

 

“Com professores armados tragédia (Suzano)seria minimizada” Sen. Maj Olimpio – PSL - https://exame.abril.com.br/brasil/com-professores-armados-tragedia-seria-minimizada-diz-major-olimpio/?fbclid=IwAR0iXJqmXy_ZIlOpWWVxtg6vCJS5MSmQXEmvWO1SKDJ8U54GySFrRMF2nk4

“Os dois atiradores do massacre de hoje fazem parte de toda uma cultura submersa da internet, que esbarra na superfície em páginas de memes, mas que sobrevive mesmo nos imageboards conhecidos como "chans". No mar de lama e esgoto destes fóruns, garotos e homens que se autointitulam machistas e direitistas assumidos fazem postagens bizarras sobre racismo, homofobia e principalmente sobre ódio contra as mulheres, a quem culpam por não lhes darem chance de perder a virgindade. Daí o título de "incels" –involuntary celibatarian (celibatários involuntários).”

Guilherme Peace in Atiradores eram INCELS DE CHAN – FB – 16 MARÇO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por muitos anos, nos acostumamos com a ideia de que os brasileiros são cordiais e que os estrangeiros nos adoram quando aqui chegam . Tudo isso teria se consolidado na década de 30 do século passado quando dois autores , já clássicos, teriam “adoçado” a cruel vivência nos trópicos: Gilberto Freire, com “Casa Grande & Senzala”, e Sergio Buarque de Hollanda, com “Raízes do Brasil”. Foi um período de ruptura com as ideias racistas, com epicentro na Europa, que tendiam a nos desqualificar enquanto povo e quanto às perspectivas de desenvolvimento e estes autores nos requalificavam aos olhos do mundo. Ultimamente, porém, o aprofundamento da democracia-

entre-nós, como a ela sempre se referia o Professor Florestan Fernandes, guru da sociologia da Universidade de São Paulo, os olhares sobre nossa realidade ficaram mais agudos e levaram à uma percepção de que a cordialidade não passa de um mito. Isso porque a democratização levou não apenas a uma grande extensão do voto, sobretudo depois de 1988, levando a confrontos ideológicos , como pela emergência à cidadania de segmentos sociais vulneráveis, como negros, mulheres, índios e trabalhadores rurais, em suas novas representações. Os embates, adormecidos no Império e contidos como “questão de polícia” na República Velha, foram se acentuando ao longo do século XX e explodiram no início deste século Acresça-se a isso, aliás, o grande crescimento da população brasileira, de pouco mais de 30 milhões em 1930, data da virada varguista, hoje superior a 200 bilhões, concentrada em 80% nas Regiões Metropolitanas em volta das capitais. Adensamento urbano, grandes contingentes à margem do mercado, destacando-se o fato de que 50 milhões ganham até meio salário mínimo, amadurecimento político das grandes massas sobre seus direitos, tudo isso contribui sociologicamente para a criação de um ambiente distindo do pacato Brasil das grandes fazendas de cana e café. O Brasil mudou para uma realidade mais competitiva, incapaz de incorporar os novos contingentes urbanos e acabou cevando no seu interior janelas de sobrevivência na contravenção. Desta ao crime, intensificado com o crescimento do narco-tráfico das 3 últimas décadas, cujas ramificações guerreiam pelo controle dos pontos de venda da droga, com a qual dão origem ao enriquecimento de quadrilhas, com capacidade cada vez maior de corromper as frágeis malhas do Estado. Na base, o controle destas quadrilhas sobre as populações mais pobres dos subúrbios metropolitanos. Violência.

Este o diagnóstica das mudanças que nos retiraram de uma sociedade agrária para uma sociedade urbano industrial nos últimos 90 anos, com inevitáveis rupturas da vida e seguranças sociais. Mas daí, como explicar o assassinato de Marielle Franco, intercalada por um corolário de 60 mil homicídios ao ano, com mortes de agentes policiais e bandidos em sucessivos confrontos, e outro tanto de mortes no tránsito, além do assassinato de centenas de lideranças camponeses e indígenas e mulheres, até chegar ao massacre de ontem, perpetrado por dois jovens, em Suzano, São Paulo, levando à mais de dez óbitos? Difícil explicar. De um lado, emergem as ações do novo governo, afirmando a necessidade de apertar a legislação anti-crime, paralela `a flexibilização da posse e porte de arma como mecanismo de defesa pessoal. Ontem mesmo, um Senador, Líder do Partido do Governo sentenciou: - Se os professores estivessem armados o resultado seria outro. Contra esta visão levantou-se o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, dizendo que isso seria uma barbárie e que temos que enfrentar o problema da violência em suas raízes. Este é a posição, também, da maioria das Igrejas, dos nucleos de defesa dos direitos humanos e várias lideranças tanto de direita quanto de esquerda. Mas fica a pergunta: - Como? Outros há, enfim, como o Vice Presidente Mourão, que apontam as novas tecnologias e o acesso indiscriminados aos jogos virtuais, extremamente violentes, como um estímulo à estes acessos de ira e assalto armado à inocentes. O assunto é, como todos os demais ligados à sociedade, amplo, complexo e controvertido. Por isso mesmo o diálogo talvez seja o melhor caminho. Em todo o caso, é bom lembrar que se parecíamos cordiais, isso sempre foi apenas uma máscara da violência brutal da sociedade escravocrata que aninhamos por quase quatro séculos, como assinalou, neste depoimento Charles Darwin em sua passagem pelo Brasil no século XIX:

“ – Perto do Rio de Janeiro, minha vizinha da frente era uma velha senhora que tinha umas tarraxas com as quais esmagava os dedos de suas escravas. Em uma casa onde estiva antes, um jovem criado mulato era, todos os dias e a todo momento, insultado, golpeado e perseguido com um furor capaz de desencorajar o mais feroz dos animais. (...) E essas coisas são feitas por homens que afirmam amar ao próximo como a si mesmos, que acreditam em Deus, e que rezam para que sua vontade seja feita na terra. O sangue ferve em nossas veias e nosso coração bate mais forte e pensar que nós, ingleses, e nossos descendentes americanos, com seu jactancioso grito em favor da liberdade, fomos e somos culpados por esse hediondo crime.”

 


 

TORRES E SUA HISTÓRIA

Paulo Timm – Especial A FOLHA, Torres fev-mar 2019

 

“Todos os anos são milhares as pessoas que visitam as Furnas. Pode-se afirmar que hoje, juntamente com a Guarita, aqueles paredões de rocha representam a paisagem mais famosa do Sul do Brasil.”

Ruy Ruben Ruschel in “Na torres das furnas há 90 anos” – Torres tem Historia, EST Ed. POA_2004 pg. 48

“Em 1930 (Balbino Luiz de Freitas) montou um museu arqueológico em casa.(...) O antropólogo argentino Antonio Serrano, diretor do Museu de Entre-Rios, visitou-o em 1936 e dedicou um livro ao assunto. Em outubro de 1937, o acervo foi adquirido pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro (que incendiou no início de 2018), onde a “Coleção Balbino Freitas ainda é conservada (?), com mais de mil peças”.

Ruy Ruben Ruschel in “Balbino Luiz de Freitas” – Torres tem Historia, EST Ed. POA_2004 pg. 682

 

 

Torres tem sido pródiga em registros, crônicas, poemas e análises históricas. Fruto, primordialmente, de dois acidentes geográficos: a foz de um rio e as inusitadas projeções basálticas, ambas juntas, num costão de mar aberto sem qualquer reentrância. Não tinha como passar despercebidas por exploradores da banda do Atlântico sul do Novo Continente. Na verdade, não apenas Torres foi digna de registro, como também Passo de Torres, as quais só apareceriam como aglomerações colonizadoras mais tarde, mas a própria foz do Mampituba foi notada por estes navegadores que lhe deram diversos nomes, desde “El Farolon”, em , 1527, dado por Sebastião Caboto. Ambas cidades, Torres e Passo, aliás, no passado, já pertenceram ao Rio Grande do Sul, como este de Santa Catarina. Coisas da Política...Um istmo, a propósito, apertado entre o mar e o braço morto criado pela mudança da foz do Rio ,na construção dos molhes mais ao sul da saída original, antes pertencente ao Rio Grande, agora está incorporado ao município catarinense com o nome de Pasárgada. Seus moradores são legítimos “cataúchos”.

Ruy Ruschel (1926-1999) foi, contudo, o grande historiador de Torres. Filho adotivo da terra, neto do famoso José Antonio Picoral, o da Pousada, iniciou sua vida universitária como Professor de Geografia e História em Porto Alegre vindo, posteriormente, a formar-se em Direto e a ocupar um cargo na Magistratura estadual, com posto em Torres. Aqui participou de uma era dourada da cidade quando, no sopro dos veraneios aristocráticos que deixariam marca indelével na paisagem urbana da cidade, além de raízes na cultura e na vida institucional da cidade com a forte presença na SAPT, fluiam amores e pretenciosos rumores.

Desta época, entre os anos 1960 e 1980, era possível vê-lo, apesar de sua preferência pelo recolhimento, em animados colóquios, com José Paulo Bisol, Senador pelo Rio Grande e candidato a Vice Presidente na Chapa de Lula em 1989, hoje residindo em Osório, Francisco Raupp e outros personagens de proa que por aqui passavam. Deixou-nos a obra mater “Torres tem História” – EST Ed./POA_2004 -, um alentado volume, com 671 artigos reunidos por Nilza Huyer Ely , publicados basicamente no Jornal A Gazeta, de Torres, mas também no Jornal de Torres, Revista Torres News e Correio do Povo. Hoje, a tradição dos estudos históricos prossegue com outros pesquisadores e escritores, como Jaime Batista, catarinense, Bento Barcelos, auto-didata notável que converteu em dois livros os “causos” interessantes aqui vividos por personagens populares e que teriam se perdido tivessem permanecido na oralidade e, por último, mas não menos importante, Nelson Adams, jornalista, editor de A GAZETA por mais de 20 anos, onde publicou as crônicas de Ruy Ruschel, hoje convertido em historiador regional , com vários livros escritos nos quais corrige alguns equívocos consagrados. Autores bissextos, ainda entre nós, como Maria Helena M. Lima e Silva, autora de obra ímpar – “Moradores da Rua Julio de Castilhos” -, com quem ontem tive enorme prazer de rememorar passagens memoráveis da cidade e Roberto Venturella, autor de “A História do Farol de Torres”, também devem ser lembrados. De passagem, fala-nos Ruschel (pg 841) de Guido Muri, com suas “Remembranças de Torres”.

O próprio Ruschel cuidou de pesquisar os escritores de Torres ao longo de sua História, sem descuidar de falar sobre os povos indígenas que aqui viviam antes da chegada dos europeus.

Tirando os registros topográficos ancestrais, Ruschel assinala como primeira obra digna de atenção um livro de Theodor Bishoff na Alemanha, em 1927, sobre os sambaquis, tema objeto de livros posteriores do argentino Antonio Serrano e Arno Kern e um trabalho denominado “Sitios arqueológicos de Torres”, de 1966, seguida por dois relatórios de Edgar Roquette Pinto (1884-1954) médico legista, professor, escritor, antropólogo, etnólogo e ensaísta brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras e considerado o pai da radiodifusão no Brasil pela criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com o intuito de difundir a educação por este meio, por volta de 1923. Digno de nota é o “Compêndio Noticioso do Continente do Rio Grande” de Francisco João Roscio, publicado em 1781 em Lisboa.

 

Isso posto, evidencia Ruschel como pioneiros: Dante de Laytano, com várias monografias, primeira delas “Geografia do Município de Torres”, de 1935, sua própria obra “As torres do litoral gaúcho”, Alfredo Gomes de Jacques, com “Mar perdido”, destacando o primeiro conto relacionado à Torres, e Jovita Esquina, ainda entre nós com seu magistral “Torres Minha Paixão”, de 1979. Na sequência seguiram-se “São Domingos das Torres”, dele próprio em coautoria com sua mãe Dalila, de 1984, “Torres eu te amo”, de Garcia Rosa e “Do alto da Torres”, de Francisco Raupp, todas com crônicas de até 30 anos antes. Outras

crônicas, espalhadas ao longo daquele tempo, em jornais como “Jornal do Dia” e “A Nação”, além do “Correio do Povo”, cuja página de Cidades foi muito preenchida com temas torrenses, as quais a CASA DO POETA DE TORRES hoje procura juntar em nova antologia: Dante de Laytano, em 1931, Mário Kras Borges, Mário Luiz de Freitas e Francisco Raupp, nas décadas seguintes, bem como Renato Costa, Patrícia Bins e Heloísa Dias de Mello, na década de 60, Fernando Sampaio, em 1970, José Andraes Chaieb, 1971, Coelho de Souza, 1972 e Martha Dreher, 1976. Lembra, ainda, Ruy Rushel, em sua crônica “Torres na Imprensa da Capital”, de 29 de março de 1986, incluída na coletânea citada (pg51) as reportagens de Arquimedes Fortini, Valter Galvani e Mário Gardelin na “Folha da Tarde”, de Porto Alegre, na década de 60. Vale lembrar um feito histórico de grande importância cultural: Em 1927 José (Zequinha Picoral, afeito ao cinema, rodou um documentário, perdido num incêndio – “Torres” – de grande impacto nos Cines Guarany e Carlos Gomes, em Porto Alegre e que projetado em Berlim inspirou uma crônica, até hoje não recuperada, e um tango, composto por Richard Schonian intitulado “Serenata Torrense”, transmitido pela Rádio Gaúcha em 1933.

A CASA DO POETA DE TORRES, situada na mesma casa e livraria do saudoso João Barcelos, outra incansável pesquisador das origens da cidade, encabeçada por seu irmão Bento Barcelos, Eduardo Jacques, José Nilton Teixeira, Maria de Lourdes Cardoso, Solange Borges, Joaquim Moncks e este modesto escrevinhador da Província, está empenhada em juntar todas estas peças em seu acervo, aberto ao público, de forma a preservar e valorizar autores e obras sobre Torres e sua região. Roga aos que dispõem de alguma delas - ou bem outros livros para eventual intercâmbio - que visitem sua sede, que está aberta diariamente, à tarde, à Rua Francisco Teixeira, n. 15, perto do Nacional.

Dobram, assim, os sinos roucos da aldeia em memória aos que se dedicaram a evocá-la em suas obras.